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ENSINO DE GRAMATICA NUMA PERSPECTIVA TEXTUAL INTERATIVA Luiz Carlos Travaglia INTRODUGAO Neste artigo objetivamos discutir algumas questées ligadas ao ensino de gramatica em aulas de Lingua Materna, especificamente ao ensino de Portugués para falantes dessa lingua, face aos objetivos que julgamos pertinentes para se dar aulas de uma lingua aos falantes nativos da mesma. Para este fim, adotamos posigées e/ou discutimos questées relacionadas aos seguintes aspectos: a) os objetivos de ensino de Lingua Materna; b) a concepgao de linguagem; c) a concepgao de gramatica; d) tipos de ensino de lingua. A seguir, com base nos pressupostos assumidos, intentamos propor e exemplificar uma forma de ensino de gramatica que nos pa- rece pertinente, dentro do quadro referencia! proposto, para desen- volver um ensino de gramatica que realmente permita a consecugao de objetivos que se propde dentro de uma visao interativa da lingua. 2 - Objetivo do ensino de Lingua Materna Ao dar aula de uma lingua para falantes nativos desta lingua é sempre preciso, como em qualquer situagdo de ensino, perguntar: “Para que se da aulas de uma lingua para falantes da mesma?" ou, transferindo para o nosso caso especifico, "Para que se da aulas de Portugués a falantes nativos de Portugués? N&o vamos levantar aqui as diferentes possibilidades de resposta a esta questdo, vamos tao somente dizer a que achamos mais pertinente e produtiva para o ensino de Portugués. 108 O ensino de Lingua Materna parece n&o se justificar por nenhuma outra raz&o que nao seja o objetivo de desenvolver a com- peténcia comunicativa dos falantes, isto é, a capacidade de o falante empregar adequadamente a lingua nas diversas situagdes de comu- nicacao. Portanto este desenvolvimento deve ser entendido como a progressiva capacidade de realizar a adequacgao do ato verbal as situagdes de comunicagdo (Cf. FONSECA e FONSECA - 1977:82). O que @ necessario para a consecugao desse objetivo? Evidentemente propiciar 0 contato do aluno com a maior variedade possivel de situagées através de um trabalho de andlise e producao de enunciados ligados aos varios tipos de situagées de enunciagao. Em outras palavras como propd6em FONSECA e FONSECA (1977:84) é preciso realizar a “abertura da aula a pluralidade dos discursos, Unica forma, além disso, de realizar a tao falada abertura da escola a vida, a integracgao da escola a comunidade". Ora, se tais enunciados sao frutos de situagées de comunicagao, sao naturalmente, textos, isto é, vai-se propiciar o contato € o trabalho do aluno com textos utilizados em situagées de interagao comunicativa as mais variadas possiveis. Portanto, se a comunicagao acontece sempre através de textos, pode-se dizer que, se 0 objetivo de ensino de lingua materna € desenvolver a competéncia comunicativa, isto corresponde entdo a desenvolver a capacidade de produzir e compreender textos nas mais diversas situagdes de comunicagao. : Dai se deduz a importancia para o ensino de uma teoria que trata especificamente do texto e 0 vé como espaco intersubjetivo resultado da interacdo entre sujeitos da linguagem que atuam em uma situagao de comunicagao para atingir determinados objetivos, para a consecu¢ao de uma intengao através do estabelecimento de efeitos de sentido pela mobilizag&o de recursos lingtiisticos que, em seu conjunto, constituem textos. E isto que tem dado a Linguistica Textual um papel especial dentre as disciplinas lingiiisticas no que respeita a fornecer subsidios para o ensino de lingua. 109 Devido a importancia do texto para o nosso objetivo de ensino, mais adiante apresentamos o que se entende por texto e discurso. 3 - Concepgées de linguagem A resposta ao para que se ensina lingua materna a falantes nativos envolve, segundo GERALDI (1985:42) tanto uma “concepgao de linguagem" quanto uma postura relativamente a educagao. Normalmente tem-se levantado trés_possibilidades distintas de conceber a linguagem. A primeira concepgao vé a linguagem como expressao do pensamento. Para esta concepcao as pessoas nao se expressam bem porque nao pensam. Como registra NEDER (1992:35 e ss.), seguindo BAKHTIN (1986), a expresso se constrdi no interior da mente, sendo sua exteriorizagéo apenas uma tradugado. A enunciagao é um ato monoldgico, individual, que nado é afetado pelo outro nem pelas circunstancias que constituem a situagdo social onde a enunciagao acontece. As leis da criac&o lingllistica sdo essencialmente as leis da psicologia individual e da capacidade do homem organizar de maneira logica seu pensamento dependera a exteriorizagao do mesmo através de uma linguagem articulada e organizada. Presume-se que ha regras a serem seguidas para a organizagaéo ldgica do pensamento e, conseqiientemente da linguagem. Sao elas que se constituem nas normas gramaticais do falar e escrever "bem" que aparecem consubstanciadas normalmente nos chamados estudos lingiisticos tradicionais que resultam no que se tem chamado de gramatica normativa ou tradicional. A segunda concepgao vé a linguagem como instrumento de comunicagao, como meio objetivo para a comunicagao. Nesta concep¢ao a lingua é vista como um codigo, ou seja, como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem, informagées de um emissor a um receptor. Esse codigo deve, portanto, ser dominado pelos falantes para que a comunicagao possa ser efetivada. Como 0 uso do cédigo

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