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CAPITULO 15 409 A Glicélise e o Catabolismo das Hexoses A peglicose € 0 principal combustivel da maioria des organis- ‘mos ocupa uma posigao central no metabolisino, Fla € reati= vamente rica em energia poten dix de carbono € gua ocorre com uma variagae da energia Livre padsdo de ~2.840ki/mol. Por meio do armazenamento da elicose como um polimeto de massa molecularalta,a cétula pode acumular grandes quantidades de unidades de hexose, enquan: to mantém uma osmolaridade citosolica relativamente baixa. (Quando as demandas eneryéticas aumentam subitamente a gli cose pode ser liberada rapidamente desses polimeres de arma, zenamento intracelulares e ser empregada para produsie ATP de imaneira aerabica ou anaerdbica, A glicose nao ¢ apenas um excelente combustivel,¢ também 4 sua oxidagao completa até tum precursoradenirivelmente vers, capar desuprit uma vasta gama de intermetlidrios metabsiices que s20 08 materiais pri= inirios necessrios para as reagdes biossinteticas, A partir da gli= cose, 2 Facherichia coli pode obter 0 exqueletos carbonicos para cada unm dos seus eminoicidos, nucleotideos, cocnzimas, &cidos sgranos ¢ outros intermediaries metabslicos necessirios para o sou crescimento e multiplicagto. Um estudo completo dos nu- rerosos cestinos metabolicos da glicose abrangeria centenas, ‘cu mesmo milhares, de transformagoes quimicas. Nos vegerais superiores e nos animais, a glicose tem srés destinos principals: pode ser armazenada (como umn polissacarideo ou come aca ese), ser oxidaca a compostos de trés dtomos de carbono (pie ruvate), por meio da glicélise, ou ser oxidada a pentoses, por meio das pentoses fostate (fostogliconato) (Fig. 15-1) | (Glcoginio, amid, scaroue | + [aex] feof Ribove Sosa Figura 15-1 ~ Ms vias principas de utliaagao da glicose nas celulas ‘dos vegetais superiores e des anima's.Embcra aio jam o> uncos lectin posted tose ses 10 las a0, areata Ca cols, a mas sigrifcativas er termes da quantidade de acoso que fu tives dels, xs aia Yn Este capitulo comega coma descrigo das reagies individuals ‘que constituem a via glcolitica das enzimas que as catalisam, Logo apés, consideraremos a fermentagao da glicose, ou sea, a operagio da via glicolitica em condigacs anacrSbicas. As fortes de umidades de glicose paras glicéise sto muitase diferentes, ¢ a seguir descveveremos as vias que trazem dtomos de carbone para a glicolise,a partir de hexoses outras que nae a glicose & a partir de dissacarideos ¢ polissacarideos, Como todas as vias ‘metabolicas, a licélise esth sob rigida regulagdo. Discutiremos ‘ principios gerais da regulacto metabilica ¢, entdo, ilustrare mos esses prinefpios com a via glicolitca, Este capitulo conclu ‘com ume breve descrici de duas outras vias catabélicas que se iniciam com a glicose: uma levando 48 pentoses. Glicélise Na glicdlise (do grego glykys, que significa “doce e Isis, que significa quebea"), uma molécula deglicose¢ degracada em uma série de reagoes catasadas por enzimas para iberar duas molé- culas do composto piruvsto, contendo cada uma delss 1rés¢0- mos decarbono, Durante as reaghesseqdencias da glcdlise, parte cla energia livre liberada da glicose € conservada na forma de ATP ede NADH. A glicélise foi a primeira via metabslica a se lucidada e é provavel que, atualmente,seja@ mais bem entendi- da, Desde a descoberta de Eduard Buchner (em 1897) da fer mentagdo que ocorre em extfatos de células rompides de leve dura até o reconhecimento claro por Fritz Lipmann e Herman Kalclar (em 1841) do papal metabolico dos compostos de sta enengia como o ATP, as reagoes da glicolise em exteatos de leve- dura e de musculo foram 0 centro da pesquisa bioguimica. O desenvolvimento dos métodas de puriicagao de enzimas, a des- coberta eo reconhecimento da importéncia de caenzimas coma ‘0 NAD ea descoberta do papel metabslico polivalente do ATP e dde outros compostos fosforlados vierar, todos, de estudos s0- bre a glicdise. Atualmente, as enzimas da glicdlise de muitos ‘organismos jf foram cuidadosamente purificadas ¢ estudadas. Fitz Upmann (1898-1986) Herman Kalckar (1908-1991) a0 A gliclise & uma via central quase universal do catabolismo icose a via através da qual, na maioria das células, ocorre luxe de carbono. Em certos tecidos e tipos celulares de ‘mamiferos (eriteScitos, medula renal, cérebro ¢ esperma, por ‘exemplo),a glicose, por meio daglicdise, 6a nica fonte de ener- gia metabolica, Alguns tecidos vegetais questo modificados para (© armazenamento de amido, como os tuberculos da batate, © alguns vegetais adaptados para crescer em areas regularmente inundadas pela gua (agrizo, por exemplo) derivama maior parte cde sua energia dagliclise; muitos tipos de miceorganismos anac- robicos sto inteiramente dependentes da glicdise, Fermentacio é urn termo geral que denota a degradacio anaerdbica da glicose ou de outros nutrientes orginicos em vi Flos produtas (caracteristicos para os diferentes organisms) para obter energia conservada na forma de ATP.A quebra anaerdbica a glicose &, provavelmente, 0 mais antigo mecanismo biolégi co para oblencio de energia a partir de moléculas orginicas combustiveis, ji que os organismes vivos apareceram primei- ro em ume atrmosfera destitulds de axigénio, No curso da evo- lucao, essa sequiéncia de reacoes foi completamente conserva. «da as enzimas glicolticas dos animais vertebrados so muito semelhantes na seqaéncia de aminodeidos e na estruturatridi mensional as enzimas homdlogas na levedura e no espinafre, © processo da glicélise difere de uma espécie para outra ape nas em detalhes da sua regulasao e no destino metab6lico sub- seqiiente do piruvato formado. Os principias termodinamicos e 1s tipos de mecanisinos reguladores na glicdlise si0 encontra. ddos em todas as vias do metabolisme celular. Um estado da gli clive pode servir como modela para muitos aspectos das vias ‘que setae discutidas neste live, Antes de estudarmas cada passo da via em detalhe, vamos cxaminar a glicdlise como um tod. Uma visdo geral: a glicélise possui duas fases A glicose tem seis dtomos de cachono e sua divisio em duas rmoléculas de piravato, cada uma com trésétamos de carbono, ‘corre em uma eqincia de 10 passes, os cinco primeiros cons. tituem a fase prepasasira (Fig, 15-24). Nesss reagoes, a glicose ¢ inicialmente fesforilada no grupo hidroxila em C6 (passo @).A O-gicose-6-osiao assim formada € convertida em O- frutose-€-fosato (paseo (), a qual ¢ novamente fosforitada, dessa vez em C-1, para libetar D-frutose-1,6-ifstato (passo @).O ATP é o doslor de fsfato nas das fosforilac des, Como todos os derivados dos agticares que ocortera ta va licoltica sie 0s isbmeros D, omitizemos a designagao 0, exceto quando desejamos enfatizar sua estereoguimica “Asepuir. a frutose-1,6-bifosiato équcbrada para liverar das smoléeulas com tréscatbonos. a diidroxiacetona fosato eo gli- ceraldeido-3-fosfato (passo (@); ease € 0 passo em que ocorte a “Iysis” que dé o nome ao processo. A diidroxiacetona fosfato & isomerizeda em uma segunda molécula de gliceraldefdo-3-fos- {ato (paso), € com iso termina « primeira fase da gli, Note que duas moiécules de ATP precisam ser ivestdas para ativar, ow inciar, a molécula de glcose para a sua quebra em ‘das partes com tres carbonos; haveré, depois, um retomo por sixvo para esse investimento. Resummindo: na fase preparat 4a plicolse, a energia do ATP ¢ inestida, aumentanco 0 con- teiido de energia livre dos inteemediérios, eas cadcas carboni- ces de todas as hexoses metabolizadas sto convertdas em um produto comum, 0 glceraldetdo-3-fosfate, © ganho energtico prov da jase de pagarnent da gio se (Fig. 15-20). Cada moléeula de glceraldeido--fosito € ox dada ¢ fosforlada por fosatoinoyinico (nao peta ATP) para formar 1.3-bifesoglcerato (paso @). A liberacdo de energa ‘corte quando as duas moléculis de 1.-hifosfogliceato 0 convertidas em duas moléculas de piewvato (passas @) a@).A rnaior parte dessa encega &conservada pela fsforilagio acopl- da de quatro moléculas de ADP para ATP. © prodito liguida Silo duas moléculas de ATP por molécula de glicose empregada, tuma vez que dues moléculas de ATP foram investidas a fase preparatéria da glchlse. A energia também é conservada na fase de pagamento ne formagio de duas moléculas de NADH por rmolécula de glicose Nas reagBes seqienciais da lilise rs pos ce transfor mages quimicas sto porticularmente natives (1) rompimen- to do esqueeto carbénico da glcose para prodizcpiruvatos (2) fesforlaglo de ADP para ATP pelos compostos de fsfato de alta energia formades durante a gliclise,e (3) a transferéncia dle um fon hidreto com seus létions para @ NAD*,formando NADH. O destino do produto, o piruvata, depende do tipo de célula€ das citcunstancias metabslicas, Destinos do piruvato. A excecio de interessantes variagdes encontradas entre as bactérias,o piruvato formado pela glicsli= se pode tomar trés rotas catabélicas alternativas, Nos organis- -mos aerbbicos, ou tecides sob condigies aerwbicas, a gliclise ‘constitu’ apenas o primeizo estégio da degradacio completa da slicose Fig. 15-3). 0 piruvato ¢ oxidado, com perda da seu gri= po carboxila como COs para liberar o grape acetla da acetl- coenzima A,a qual € entao totalmente exidada a CO; pelo cilo do acido citrico (Cepitulo 16). Os elétronsoriginados dessa oxi- 4ajoes so passados para 0 0, por meio de uma cadeia de trans Portadores na mitocdndria, formando HO. A energia libecads nas reagées de transieréncia de elétrons permite a sintese de ATP ‘nas mitocéndrias (Capitulo 19), A segunda rota para 0 metabolismo do piruvato € sa reduc ‘oa lactato através da charac via da fermentasio do acide lict- co. Quando o tecido muscular esquelétion em contracio vigoros funciona em condigées de hipéxia — baixa pressio parcial dei _génio —,0 NADH nio pode ser reoxidado a NAD, este &neces- strio como receptor de elétrons para que o piruvato continue aser ‘oxidado, NessascondigSes,o piruvate ¢ reduzido a lactate por re ‘epcio cos eletrons do NADH e conseatienteregencragio do NAD" necessario para que 0 thixo glicottico prossiga. Certos tips dete idos e de células (retina, cérebro, eritrécitos) convertem a gic «em lactato, mesmo sob condigses uerobicas.O lactato (a forma ds. sociada do dcido lictico) ¢ também o produto da plicéise sob con- dligoes anaerbicas em alguns microrganismos (Fig. 15-3). A terceira grande rota do metabolismo do pirwvato leva ee ‘etanol. Ei alguns tecidos vegetas eer certos invertebrados, pro: tistas¢ microrganismos como aleveduta da fabricagdo da cerveja © piruvato € convertido anacrobicamente em ctanol € CO; um processo chamado de fermentagio alcodlca, fermentagdo do ea- rol ou, simplesmente, fermentagio do alcool (Fig, 15-3). Embora o interesse principal deste capitulo soja o catabo: lismo, nao pedemos deixar de lembrar que 0 piruvato tem ou- tros destinos, embora anabélicos. Ele pode, por exemplo, for necer 0 esqueleto carbonico para sintese do aminoscido aleni- nna. Voltaremos a essas reagdes anabélicas do piruvato em capttulos posteriores. au Fosfvenolpiruvato (2) ee Piruvato (2) w a pep Posi de ese eee cldede fon | ®@ Frutose- mom, On Zo we /sape +s Frei ® Certs Persea fits w he degen Gleenkeldesfatuo (2) @-o-aieauee’ " = ps, sesseiar ian: 2. Stake per hermes ole * formate cad Se ATP on Laatigenet® — ooeged” ee ADP ty OD Coane | ‘Fedo geeat ° a @ a ester (2) ied ay @lyaxe é Figura 15-2 - At duat fates da glicolise. Fara cada moléca de glcose que passa pela fase propsratoia (a), 530 {erradas Cues molécas de glceraldelde--fosfato amas passam pea fase de pagamente tb. O pirwaio €0 produto ‘mal da segunda fase. Para cara molecua do glcose retabolzaca $30 consurridas cas molécias de ATP ra ase prepa- tetviae quatro dessas moseculas Bo produzidas na fase de pagamento, cando um resultado iqude ce dias maéevlas ce ATP pate cada mol&ca de gicose converte em pruvato, © nfimeso ao lado de cade paso de eaca0 coresponde rnumeragao dada na dscusss0 apresentaea no text, Lembre-se de que cada grups festat,represantato aqui como ® ‘em das corgasnegativas (PO!

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