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© Beatriz Senoi tlari (Org.) €m busea da mente musical Ens sor o ross copa e misc perp 3 podugio Coordenagao Editorial Marildes Rocio Artigas Santos Projeto grafico, capa € editoragio eletronica Eliane Ribeiro Campos Editoracao de textos corrigidos Rachel Cristina Pavim Revisio Patricia Domingues Ribas Revisio final Beatriz ari € Rodolfo Hari Série Pesquisa, 0. 112 Coordenagao de Processos Técnicos. Sistema de Biblioteca. UFPR, [Em busca da mente musical : ensalos sobre 05 processos cognitivos em musica - da percepgio a produgio / Beatriz Senoi Tlari (organizadora); colaboradores Beatriz Raposo de Medeiros... [et al. ~ Curitiba : Ed, da UFPR, 2006, 454p. ih rers.- (Pesquisa; n. 112) ISBN 8573351403 Inclui bibliografia e notas 1, Masica ~ Aspectos psicolégicos. 2. Percepgio musical. 3. Cognicao (Musica). 1. Tati, Beatriz Senoi. II, Medeiros, Beatriz Raposo de, cD 781.11 ISBN 85-7335-140-3 Ref, 422 Dircitos desta edicao reservados & Editora da UFPR Centro Politécnico — Jardim das Américas Tel./fax (41) 3361-3380 / 3361-3381 Caixa Postal 19.029 81531-980 - Curitiba - Parana — Brasil editora@ufpr.br www.editora.ufpr.br 2006 Fm busca da mente musical’ Daniel Levitin Enquanto caminhava por uma ruazinha desconhecida e nao muito distante do Carnegie Hall, ouvi a buzina de um taxi, som nada incomum em Manhattan. No entanto, a resposta que o seguiu me surpreendeu. O som da buzina nao parecia ter terminado quando ouvi uma voz de autoridade dizer em tom peremptério: "Mi bemol'". Assim que virei a cabega para saber de onde vinha aquela voz, avistei um jovem trajando um smoking e carregando embaixo do brago o que aparentava ser um estojo de violino. Sua companheira, uma mulher com um estojo menor, possivelmente de uma flauta, acrescentou: "(Mi bemol) mas um pouco alto!". Vi quando os dois entraram pela porta dos fundos de um prédio grande, sem me dar conta de que se tratava do "White Hall", a grande sala de concerto do Carnegie Hall. Andando apressadamente em diregao 4 sala de concerto, tive a sorte de conseguir um ingresso para assistir ao espetaculo daquela noite: a obra A Sagragao da Primavera. Eu ja havia tocado a parte do clarone dessa obra quando participei da orquestra de mi- nha escola, ainda durante o ensino médio, mas nunca tinha tido a oportunidade de ouvi-la de um lugar privilegiado, ou seja, de uma posigao onde eu pudesse distinguir algo mais do que a parte que eu préprio estava tocando misturada aos staccatos dos trombones, cujas campanas estavam sempre voltadas, ameagadoramente, para o fun- do do meu cranio. Astigo publicado previamente sob o titulo original de "In search of the musical mind" pelo periddico Cerebrum: The Dana Forum on Brain Science (ISSN 1524- 6205), 2 (4), 31-49, 2000. Publicado no Brasil sob permissao do "Dana Foundation" de Nova lorque, Estados Unidos. —33— Daniel Levitin Uma vez na sala de concerto, ouvi cuidadosamente as con- versas dos espectadores 2 minha volta. "Espero que eles nao to- quem depressa demais. Ouvi a orquestra de Cincinnati tocar esta pec¢a na wltima temporada, e eles exageraram nos tempi!" "Vocé acha que havera um intervalo? Eu nao consigo ver no programa — eles precisam de um intervalo, nao € mesmo?" "Eu amo o primeiro movimento, porque ele realmente me faz lembrar da primavera quando eu era crianga, e deitava entre as flores nos prados." O senhor sentado ao meu lado disse 4 mulher : "Esta nao € mais uma daquelas obras atonais, nao é mesmo?". Um casal de adolescentes coberto por piercings e tatuagens de hena comparava Stravinsky a Metallica, sua banda de rock preferida: "Ouve como ele usa os modos musicais — € muito Goth!". Uma jovem entusiasmada disse: "Eu adoro a parte dos timpanos", e seu companheiro respondeu, “Quais sao os timpanos mesmo?". Em seguida, ele sussurrou em seu ouvido, achando que ninguém estaria ouvindo: "Como vocé conse- gue ouvir um Unico instrumento quando ha muitos tocando ao mes- mo tempo: Sete espectadores e cada um ouviu algo diferente na mes- ma obra musical complexa. Nada surpreendente. Mas mesmo ou- vindo algumas notas musicais simples e isoladas, poucos de nds poderiamos igualar a precisao com que os dois misicos identifica- ram 0 som da buzina do taxi. Alguns anos atras, Roger Shepard, meu orientador no cur- so de graduagao, fez um estudo sobre percep¢ao auditiva nos labo- ratorios Bell em Murray Hill, Nova Jérsei. Roger tocou para seus colegas de trabalho um semitom - 0 menor intervalo encontrado na mttisica ocidental, equivalente a distancia entre duas teclas vizinhas num piano - e descobriu que metade das pessoas nao sabia dizer se ele havia tocado a mesma nota duas vezes, ou se tinha tocado duas notas diferentes. O semitom € o intervalo que inicia a conhecida pe¢a pianistica "Fiir Elise" de Beethoven, que é ouvida com muita freqiiéncia em recitais infantis no mundo ocidenta]. Suas cinco pri- meiras notas formam um padrao repetitivo de um semitom descen- dente que retorna 4 nota inicial. Se metade das pessoas que estaio ouvindo (e presumidamente apreciando) "Fir Elise" nao sao capa- zes de dizer que as cinco notas iniciais nado sao as mesmas, o que elas estao ouvindo? Esta € uma das muitas perguntas que estao sendo investigadas cientificamente nos nossos dias, no campo emergente da percepgao e cogni¢ao musical. Este campo € por natureza —y—

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