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2. Quando se fala das provas da existência de Deus, devemos enfatizar que não se trata
de provas de natureza científicas-experimentais. As provas científicas, no sentido
moderno da palavra, aplicam-se apenas às coisas perceptíveis aos sentidos, uma vez
que somente nestas podem ser aplicados os instrumentos de investigação e verificação,
dos quais as ciências se servem. Querer uma prova científica de Deus significaria
abaixar Deus para o nível dos seres do nosso mundo e, portanto, equivocar-se já
metodologicamente sobre aquilo que Deus é. A ciência deve reconhecer os seus
limites e a sua impotência para alcançar a existência de Deus: ela não pode nem
afirmar nem negar esta existência. No entanto, não se pode concluir que os cientistas
sejam incapazes de encontrar, em seus estudos científicos, razões válidas para admitir
a existência de Deus. Se a ciência, como tal, não pode chegar a Deus, o cientista, que
possui inteligência, cujo objeto não está limitado a coisas sensíveis, pode descobrir no
mundo as razões para afirmar um ser que o supera. Muitos cientistas fizeram e fazem
esta descoberta. Aquele que, com espírito aberto, reflete sobre tudo o que está
envolvido na existência do universo, não pode evitar em se propor o problema da
origem. Instintivamente, quando somos testemunhamos de certos acontecimentos, nos
perguntamos quais seriam as suas causas. Por que não podemos fazer a mesma
pergunta referente ao conjunto de todos os seres e fenômenos que descobrimos no
mundo?
3. Uma hipótese científica, como aquela da expansão do universo, faz com que o
problema apareça mais claramente: se o universo se encontra em contínua expansão,
não deveria voltar no tempo até aquele que poderia ser chamado de "momento inicial",
aquele no qual essa expansão começou? Mas seja qual for a teologia adotada sobre a
origem do universo, essa questão fundamental não pode ser evitada. Este universo em
constante movimento exige a existência de uma causa que, dando-lhe o ser, lhe
comunicou esse movimento e continua alimentando-o. Sem essa causa suprema, o
mundo e cada movimento que existe nele permaneceriam "não explicados" e
“inexplicáveis", e nossa inteligência não poderia ser satisfeita. O espírito humano só
pode receber uma resposta às suas perguntas admitindo um ser que criou o mundo
com todo o seu dinamismo e que continua a sustenta-lo na existência.
6. Finalmente, entre as qualidades deste mundo que empurram para olhar em direção
ao alto, se encontra a beleza. Esta se manifesta nas várias maravilhas da natureza;
traduz-se nas inúmeras obras de arte, literatura, música, pintura, artes plásticas.
Também é apreciada nas condutas morais: existem tantos sentimentos bons, tantos
gestos maravilhosos. O homem é consciente de "receber" toda essa beleza, mesmo
que, com sua ação, contribua para sua manifestação. Ele a descobre e admira
plenamente apenas quando reconhece a sua fonte, a beleza transcendente de Deus.
Em conclusão, uma miríade de indícios impele o homem, que se esforça para entender
o universo em que vive, para orientar o seu olhar para o Criador. A provas da
existência de Deus são múltiplas e convergentes. Elas contribuem para mostrar que a
fé não mortifica a inteligência humana, mas a estimula para a reflexão e permite que
ela compreenda melhor todos os "porquês" que se apresentam na observação da
realidade.