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Paralisia facial periférica Relato de Caso

Recebido em 03/03/2010
Aprovado em 02/07/2010

bilateral e infecão pelo HIV:


relato de caso e revisão de literatura
Bilateral peripheral facial paralysis and HIV infection : case report and
review of the literature

Ana Margarida Bassoli Chirinéa1, Maria Carmela C. Boccalini2, Paula Peixoto Lauretti3, Eduardo Garcia 4, Thiago Ponte Eugênio5,
Andy de Oliveira Vicente6

1) Médica residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA (Médica residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA)
2) Médica otorrinolaringologista. (Médica otorrinolaringologista.)
3) Médica otorrinolaringologista (Médica otorinolaringologista)
4) Médico residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA (Médico residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA)
5) Médico residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA (Médico residente do terceiro ano em otorrinolaringologia pelo Instituto CEMA)
6) Médico doutor em otorrinolaringologia pela Universidade Federal de São Paulo. (Médico otorrinolaringologista responsável pelo departamento de otologia do
Instituto CEMA.)

INSTITUTO CEMA DE OFTALMOLOGIA E OTORRINOLARINGOLOGIA


Correspondência: Rua Paschoal Moreira, 450 - Mooca - CEP: 03182-050 - São Paulo, SP.

Resumo Abstract
A diplegia facial é uma entidade rara e de etiologia variada. The facial diplegia is a rare and variable etiology. Among
Entre as principais causas esta a infecção pelo HIV, que pode the main causes, there is the HIV, which may be responsible
ser responsável pelo aparecimento de alterações neurológi- for the appearance of neurological disorders as first manifes-
cas como primeira manifestação da soroconverção. O diag- tation of soroconversion. The diagnosis of palsy is clinical,
nóstico de Paralisia Facial Periférica (PFP) é clínico, porém, however, to try to define your agent and its topography are
para tentar definir seu agente causador e sua topografia são necessary laboratory and imaging tests. We report a case of
necessários exames laboratoriais, de imagem e sorológicos. bilateral peripheral facial palsy in a patient with HIV likely in
Neste trabalho relatamos um caso de paralisia facial periférica the acute phase.
bilateral em um paciente portador do vírus HIV em provável
fase aguda.

Descritores: Infecção pelo HIV, Paralisia Facial, Alterações Keywords: HIV infection, Facial paralysis, Neurological
neurológicas ­disorders

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Introdução
A diplegia facial é uma entidade rara, acometendo cerca de
1% dos pacientes com paralisia facial.(1) Sua etiologia é variada
podendo ser de causa congênita , familiar, iatrogênica, idiopá-
tica, traumática, sistêmica e infecciosa.(2) As mais freqüentes
são Guillain-Barré, Doença de Lyme , CMV, Lues, Herpes e
tumoral.
A infecção pelo vírus do HIV pode ser responsável pelo apa-
recimento da paralisia facial uni ou bilateral, podendo esta, ser
a primeira manifestação da soroconverção. A primeira paralisia
ocorre cerca de 15 dias após a infecção viral, e o acometimento
contralateral ocorre em até 30 dias da primeira plegia.(1,3) Apro-
ximadamente 70% dos pacientes com sorologia positiva para o
HIV vão desenvolver alguma complicação neurológica durante
o curso da doença. Em 14 a 27% dos casos, a causa é neural
periférica sendo apenas de 1 a 4% central.(1)
O diagnóstico de Paralisia Facial Periférica (PFP) é clínico,
porém, para tentar definir seu agente causador são necessários
exames laboratoriais, de imagem e sorológicos. A ressonância
magnética pode ser útil no diagnóstico topográfico da lesão
neural.
Neste trabalho relatamos um caso de paralisia facial perifé-
Figura 1 – RM com contraste com realce no trajeto bilateral do nervo
rica bilateral em um paciente portador do vírus HIV em provável facial.
fase aguda.

Relato de Caso
M.I.F., 53 anos, masculino, com PFP esquerda há 2 dias
associada a coriza, mialgia e febre baixa. Sem queixas au-
ditivas. Ao exame físico foi possível evidenciar uma paralisia
facial periférica grau IV (House- Brackmann). Otoscopia sem
alterações.
Em 3 dias o paciente evoluiu com PFP bilateral. O exame
audiométrico não evidencio alteração auditiva, porém a imitân-
ciometria demostrou a ausência de reflexo estapediano bilateral.
Os exames laboratoriais mostraram sorologia positiva apenas
para HIV, sugerindo fase aguda devido à contagem da carga
viral e de linfócitos CD4.
Foi solicitada uma RM que demonstrou um realce em todo
o trajeto do nervo facial bilateralmente após a utilização do
contraste paramagnético (Figuras 1, 2, 3 e 4). Foi aventada a
hipótese diagnóstica de PFP secundária à infecção pelo vírus
HIV. O tratamento proposto foi valaciclovir 1500mg/dia e predni-
sona 80mg/dia em dose regressiva. Após o uso das medicações
houve remissão completa da paralisia, no período de 30 dias.

Discussão
Figura 2 – RM com contraste com realce no trajeto bilateral do nervo
A patogênese da PFP ainda é controversa, mas provavel- facial.
memte é multifatorial podendo ocorrer em qualquer fase da
doença, e tendo íntima relação com a evolução da infecção. A infecção pelo HIV é dividida em fase aguda , que é as-
(4)
O HIV tem características neurotrópicas, uma vez que vem sintomática na maioria das vezes, e fase avançada onde são
sendo isolado no tecido nervoso periférico confirmando a hi- encontradas as complições da doença. Na primeira, a PFP é
pótese de uma lesão direta no nervo facial.Também fortalecem a mais freqüente neuropatia dos pares cranianos; na segunda,
esta hipótese a presença de linfócitos pleomórficos, aumento estão presentes alterações neurológicas e dos outros pares
da proteína e anticorpos contra o HIV no LCR.(1) cranianos concomitantemente.

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Figura 3 – RM com contraste com realce no trajeto bilateral do nervo Figura 4 – RM com contraste com realce no trajeto bilateral do nervo
facial. facial.

A contagem de linfócitos e da carga viral nos permite aven- Conclusão


tar sobre a hipótese de um HIV em fase aguda. Os linfócitos A paralisia facial periférica bilateral é uma afecção incomum
normais (1.2 X103 cel/mm3), CD4 baixo (140 cel/mm3 ), CD8 que deve ser abordada de forma criteriosa. A infecção pelo vírus
normal e carga viral alta apontam para um quadro agudo, visto HIV deve ser sempre considerada durante a investigação clínica.
que o único diagnóstico de certeza seria uma sorologia prévia O diagnóstico e o tratamento precoce da PFP e do HIV são
negativa do paciente.(1,5) primordiais para a diminuição das seqüelas funcionais.(6)

Referências

1. Abboud, O; Saliba, I. Isolated Bilateral Facial Paralysis Revealing AIDS: A Unique 4. Kim MS, Yoon HJ, Nam JS et al. Bilateral peripheral facial palsy in patient with
Presentation.The Laryngoscope 2008; 118: 580-584. Human Immunodeficiency Virus (HIV) infection. Yonsei Med J 2006; 47: 745-7.
2. Ramsey LK, Kaseff LG. Role of Magnetic Resonance Imaging in the diagnosis of 5. Ishikawa K, Inoue K, Kitamura K, Ichimura K. Bilateral facial palsy in patient with
bilateral facial paralysis. Am J Otol 1993; 14: 605-609. human immunodeficiency virus infection-a case report. Nippon Jibiinkoka Gakkai
3. Serrano P; Hernandez N; Arroyo JA; de Llobet JM; Domingo P. Bilateral Bell palsy Kaiho 2000; 103: 1281-3.
and acute HIV type 1 infection: report of 2 cases and rewien. Clin Infect Dis 2007; 6. Yeo JC; Trotter MI; Wilson F. Bilateral Facial Nerve palsy associated with HIV sero-
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