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AMIUNGA E 0 GADO ALOGICA DA CRIACAO CAMPONESA 1 Ens Econ. Sodais, Aracaju, V.1, N? 1, p41 ~ 66,Jul./Dezt 987 A MIUNGA E O GADO: A LOGICA DA CRIACAO CAMPONESA * Ellen F. Woortmann ** C presente artige constitui uma reflexao sobre o significado da criacao animal para a Zeproducdo econémica e social do campesinato de Sergipe. Como veremos, ha uma intima rela: Go entre a criacio ca multiplicidade de pequenos negécios, através dos quais o camponés cons, titui um “fundo de reserva” a ser transformado em terra, Mediada por um conjunto de peque- Ex lransacées, muitas delas permeadas por relagdes néo-econdmnlcas, como as de parentesco, assegura-se ao individuo e ao grupo sua reproduedo como Sifiantes. A primeira parte consta da anslise de dados censitdrios onde se destaca a amplitude do fendmeno no dmbito estadual. Apesar das limitagées inerentes a esses dados, cles nes dan tn Significado quantitativo para as observacées de campo qualitativas, Uma abordagem quantitativa, contudo, néo possibilitaria a apreensdo do que chama- Bios 2 “evolucdo ¢felica da cria¢do”, enquanto um ciclo de “acumulacao”, quese dé pela passa: Sm de animais de pequeno porte e menor valor parao gado, do qual depende em larga medida SrrProducia da produeso. Finalmente, a condigo carnponesa atual é o produto de um proces © histérico de subordinacao 3 grande propriedade, e de conflito com a pecudria, Uma Hae di. Brensées desse conflito é dada pelas continuas pressdes no sentido de restringir as possibilida: es derealizagao de uma criagdo camponesa. “Ee artigo, om ousra versa. é parte de wn livro sobre o campesineto sergipano, em co-autoria com Klaas Woortmann, em fase final de redacdo. ™ Professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Brastta Sz O sitio camponés constitui um sistema complexo cujas distintas partes, recursos, espagos e atividades (1) formam um todo articulado. A criagdo representa parte impor- tante desse sistema e, portanto, néio pode ser pensada isoladamente da atividade agricola ‘ou do “negécio”, No pode ser pensada tampouco,sem referéncia ao arrendamento, tra- tado por nds em outro trabalho (Woortmann, 1981). O Ambito deste artigo ndo permite, porém, explorar todas essas dimensées, razfio pela qual remetemos o leitor Aqueles ou- tros trabalhos citados. Os dados quantitativos que se seguem nos fornecem algumas indicac6es relativas A criagdo no estado de Sergipe. De um total de 995.662 cabegas de gado bovino registradas em Sergipe pelo Censo Agropecuétio de 1980, 108.192 localizavam-se nos pequenos estabelecimentos, com menos de 10 hectares. Nos estabelecimentos com até 50 hectares, localizavam-se 348.470 cabecas. Se admitirmos que o limite de 50 hectares corresponde ao limite maxi- mo da categoria sitiantes fortes, teremos que 35% do rebanho bovino total do estado en- contra-se localizado em sitios. N&o sdo contudo todos os estabelecimentos que possuem gado. Apenas 25% dos estabelecimentos com até 10 hectares contavam com gado em 1980. Em contraste, 84% dos estabelecimentos com entre 10 e 50 hectares possuiam gado, confirmando nossas ‘observagSes de que 0 sitiante forte € um pequeno criador, ainda que também pratique a lavoura. No entanto, o gado € também importante para o pequeno sitiante, como surge- rem os dados relativos aos sitios de Moita Bonita, onde predomina a Javoura de malhada que supée uma articulagdo entre agricultura e criagao. Os dados censitdrios aqui utilizados referem-se ao total do estado ¢ ac total da categoria “estabelecimentos™. Esta Ultima inclui tanto terras pr6prias como terras arren- dadas ou tomadas em parceria, ¢ ndo é possfvel desagregar aquela categoria de forma a isolar terras préprias (categoria censitéria mais préxima da categoria regional sitio) por grupos de rea e relaciond-las com a presenga de gado. Tampouco é possivel a desagre- I - A organizagdo do sitio enquanto um sistema de espagos articulados foi analisada em Woortmann (1983). 4 Ens, Econ. Sociats, Aracaju, V.1, N° 1, p.41 - 06, Jul./Dez.1987

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