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Monografia de TCC – Química – Bacharelado – UFSJ - 2018
RESUMO
A Fenetilamina é a molécula base para a sua própria classe de compostos e faz parte das Novas
Substâncias Psicoativas (NSP). São chamadas de Fenetilaminas substituídas, todas as
substâncias que possuem uma estrutura que deriva da 2-feniletilamina, de modo que esse grupo
inclui diversas substâncias. Neste trabalho abordou-se a Catina e a Catinona, a Anfetamina e as
suas substâncias análogas, assim como a Efedrina, Pseudoefedrina e o MDMA. Essas
substâncias possuem ação estimulante no Sistema Nervoso Central (SNC), e são amplamente
conhecidas por seu uso como Droga de Abuso, como pôde se citar as Catinonas Sintéticas, a
Metanfetamina e o MDMA. Outra questão que foi levantada no decorrer das pesquisas e da
realização do trabalho foi sobre as principais sínteses químicas das substâncias de interesse, onde
foram encontradas reações que consistiam em reduções de precursores, reações com a formação
de intermediários, como no caso da síntese da Anfetamina que tem como intermediário uma imina,
assim como reações de biocatálise. Os efeitos toxicológicos resultantes do uso abusivo dessas
substâncias também foram discutidos, onde de acordo com cada substância observou-se
manifestações clínicas em diferentes graus de intensidade, afetando na maioria das vezes o
sistema neurológico, cardiovascular e em alguns casos, o sistema gastrointestinal do usuário.
Contatou-se também que a maioria das substâncias estudas possuem algum uso medicinal sendo
ele já aprovado ou não, como é o caso da Anfetamina, amplamente utilizada no tratamento do
Transtorno de Défit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e da Efedrina e Pseudoefedrina que são
associados a descongestionantes indicados para o alivio de gripes e alergias. Quanto as
substâncias que não possuem seu uso aprovado, como por exemplo a Catina e o MDMA, diversos
estudos veem sendo realizados para determinar uma dosagem que venha a maximizar,
respectivamente, os seu efeitos no combate a obesidade, e no tratamento de danos psicológicos
e emocionais graves, em função aos seus efeitos toxicológicos. De maneira geral, o presente
trabalho consistiu na apresentação uma série de informações sobre a síntese, e as propriedades
de algumas dessas substâncias, sejam elas mais voltadas para o uso recreacional e abusivo, ou
para o uso medicinal.
NOTA: Embora não se discuta com aprofundamento a questão da legislação, a maioria destas
substâncias são proibidas ou são controladas sob prescrição médica. Esse trabalho não faz alusão
a nenhuma droga e não incentiva o uso das substâncias abordadas por meios recreacionais.
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Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
2. OBJETIVOS ................................................................................................................ 7
3. FENETILAMINA .......................................................................................................... 7
3.5.4. MDMA......................................................................................................28
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1. INTRODUÇÃO
Segundo a definição adotada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC/ONU), as Novas Substâncias Psicoativas (NSP) correspondem a moléculas projetadas,
na maioria das vezes, para fins ilícitos.[1] Devido à dificuldade em se padronizar, catalogar e
estudar suas diversas rotas de síntese, as quais levam a produtos com uma gama enorme de
alterações em suas estruturas químicas, há pouca legislação sobre as NSP. Sendo assim, essas
substâncias são pouco controladas internacionalmente tanto pela Convenção de Substâncias
Psicotrópicas quanto pela Convenção Única de Entorpecentes.[1]
As NSP, também conhecidas como “Designer Drugs”, Drogas Lícitas ou Drogas Legais, são
análogas estruturais ou funcionais de substâncias controladas, das quais derivam ou mimetizam
os seus efeitos.[1] Como a maioria destas substâncias não são classificadas como ilegais, e os
métodos de detecção para as drogas padrões não acusam resultado, essas substâncias vêm
sendo muito difundidas e comercializadas.
Seja sob o nome de “spice”, fertilizantes, sais de banho ou ambientadores, essas substâncias
são conhecidas e facilmente comercializadas pela internet. As NSP se tornaram um fenômeno
global, pois, segundo relatórios da UNODC, mais de 100 países reportaram o aparecimento de
pelo menos uma delas. Somente no período de 2008 a 2015 em que o Escritório começou a
monitorar as NSP, foram reportadas a identificação de 644 novas substâncias, sendo que esse
número vem aumentando frequentemente.[2]
Entre os anos de 2007 e 2015, segundo relatórios da Polícia Federal, a classe de NSP mais
apreendida no Brasil foi a das Fenetilaminas, que também são conhecidas como PEA (proveniente
do nome em inglês phenethylamine). Estas substâncias, que se apresentam na maioria das vezes
como cristais incolores, são comercializadas na forma de um pó ou em comprimidos. Elas
possuem ação psicoativa e efeitos estimulantes no sistema nervoso central (SNC). Dentre essa
classe de substâncias, podemos destacar as Fenetilaminas substituídas, como por exemplo a
Catina e as Catinonas, a Efedrina, o MDMA (Ecstasy), a Anfetamina e a Metanfetamina, as quais
serão abordadas a seguir neste trabalho.
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2. OBJETIVOS
Objetivos gerais:
Buscar atualizações e pesquisas emergentes sobre as substâncias que fazem parte da classe
das Fenetilaminas, atentando-se às substâncias previamente escolhidas (Catina, Catinonas,
Efedrina, Pseudoefedrina, Anfetamina, Metanfetamina e MDMA (Ecstasy))
Objetivos específicos:
3. FENETILAMINA
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Com uma massa molecular de 121,15 g/mol e se apresentando como cristais incolores, ou um
pó de coloração branca (Figura 2), possui alta solubilidade em água e no plasma, apresentando
baixa solubilidade em lipídios.
A Fenetilamina pode ser encontrada em algas, dentre elas algas marinhas de coloração
marrom, como por exemplo a Desmarestia aculeata e Desmarestia viridis (Figura 3A e 3B), algas
vermelhas como a Gelidium crinale e a Cystoclonium purpureum (Figura 3C e 3D) entre diversas
outras espécies.[3]
Figura 3. Espécies de Algas que contém Fenetilamina. (A) Desmarestia aculeata, (B)
Desmarestia viridis, (C) Gelidium crinale, (D) Cystoclonium purpureum. Fontes: Aphotomarine, ano
desconhecido; Biodiversidad Virtual, 2014; Discover Life, 2008.
Pode ser encontrada também em diversas plantas da família Leguminosae (da qual fazem
parte os feijões, ervilhas e vagens) e assim como em fungos e bactérias, onde a Fenetilamina se
apresenta como um produto de descarboxilação da fenilalanina mediante a catálise da enzima
tirosina descarboxilase.[4]
Outras aminas, incluindo a Fenetilamina, podem ser encontradas nos alimentos como
resultado de dois processos diferentes: na atividade metabólica de fungos e bactérias, ou no
processamento térmico de alimentos. O chocolate, por exemplo, é um alimento que, além de
conter muitos antioxidantes, possui também a Fenetilamina, que não é produzida por bactérias,
mas sim durante o processamento térmico e fermentação do cacau. As Fenetilaminas sintetizadas
por fungos e bactérias, por sua vez, podem ser encontradas em diversos produtos alimentícios
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industriais, atuando como uma espécie de indicador de frescura e de qualidade, dos quais como
exemplo pode se citar o Nattö (alimento tradicional japonês feito de soja fermentada) [5] e os ovos
comerciais.
Outro Método de síntese, foi proposto em 1955 por J. C. Robinson e R. H. Snyder, onde a
Fenetilamina é produzida a partir da redução de um cianeto em uma amina. Especificamente, o
cianeto de benzila é misturado com o catalisador de níquel-Raney (sólido composto por grãos
muito finos de uma liga de níquel-alumínio) em uma bomba calorimétrica, onde se formam aminas
secundárias, e estas são reduzidas em aminas primárias pela adição de amônia. Essa reação
(Figura 6) ocorre a uma pressão de 13,9 Mpa e a uma temperatura de 130 °C.[4]
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A Fenetilamina pode ser considerada como membro do grupo conhecido como aminas-
traço ou aminas residuais, uma vez que as aminas desse grupo são encontradas em
concentrações muito mais baixas do que as aminas biogênicas nos meios intra e extracelulares.[4]
Estas aminas são formadas por uma parte alifática, a amina, e por uma parte aromática que pode
ser um catecol ou indol, fazendo que, de acordo com a sua estrutura, essas aminas biogênicas
sejam classificadas em indolaminas ou em catecolaminas, onde as aminas biogênicas mais
conhecidas dessa subclasse estão representadas na Figura 7, e são elas a Dopamina
(responsável pela sensação de prazer e recompensa), Serotonina (responsável pela regulação do
humor, sono e do apetite), Epinefrina, ou Adrenalina, (relacionada a excitação e age como um
mecanismo de defesa do organismo preparando-o para situações de stress, medo, perigo e outras
emoções fortes) e Norepinefrina, ou Noradrenalina, (responsável por mobilizar o cérebro e o corpo
para a ação, como por exemplo na resposta de luta ou fuga).
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as Efedrinas, supressores de apetites, como as Catinas, assim como outras drogas recreacionais,
como por exemplo as Catinonas, Ecstasy e Metanfetaminas. Todas essas substâncias citadas
serão o objeto de estudo desse trabalho a partir de agora.
Tanto a Catina como a Catinona (Figura 10), são drogas psicoativas da classe das
Fenetilaminas substituídas. De acordo com a Figura 9, essas duas substâncias possuem um grupo
metila na posição Rα, e na posição Rβ, localizada na cadeia lateral, a Catina possui uma hidroxila,
e a Catinona uma carbonila.
Ambas as substâncias são encontradas naturalmente na Planta Khat (Catha edulis) (Figura
11), ou Qat como também é conhecida na região do Oeste da África e na Península Arábica, onde
essa planta é muito difundida e cultivada. A Catha edulis é um arbusto da família Celastraceae
que pode chegar até aos 5 metros de altura e se caracteriza por suas folhas ovais e levemente
serrilhadas.[6]
Figura 11. Galhos e Folhas da Khat (Catha edulis). Adaptado de NILESH, 2015.
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pode passar por duas rotas, uma via β-oxidativa que produz benzoil-CoA, ou uma via não-
oxidativa, rota, que produz ácido benzoico.
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Um dos desafios que se encontra na síntese química das Catinonas está relacionado em
se evitar a formação de uma mistura racêmica de (S)-(˗)-Catinona e (S)-(+)-Catinona que se obtém
como produto final, pois este último possui atividade biológica limitada.
Um exemplo de síntese que tem como resultado uma mistura racêmica de Catinona, é a
rota sintética que utiliza a propiofenona como intermediário. Essa substância pode ser obtida a
partir de uma reação de acilação de Friedel-Crafts entre o ácido propanóico e benzeno, e a
Catinona racêmica pode ser finalmente obtida por meio de uma reação de bromação da
propiofenona, seguida por uma reação de substituição com amônia, de acordo com a Figura 13 a
seguir.
O O
O
Br NH3
Br2 NH2
AcOH ROH
Propiofenona Catinona
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para diversos fins, tanto medicinais, quanto recreacionais (droga de abuso), como é o caso a
Mefedrona (R1 = Me, R2 = R3 = R4 = R5 = H).
Nos países onde a Khat é nativa, a mastigação de folhas e brotos frescos é um hábito
social e tradicional, especialmente no Iêmen e na Etiópia, onde cerca de 5 a 10 milhões de pessoas
fazem o uso dessa planta diariamente. O material seco, isto é, suas folhas, também pode ser
fumado, conferindo efeitos de redução do apetite e um estado de euforia e estimulação que é
comparável ao conferido ao se beber uma xícara de café forte.
Os efeitos resultantes do uso da planta foram inicialmente atribuídos a Catina, que foi a
primeira substância a ser isolada das folhas da Catha edulis em estado seco, e mais tarde
constatou-se a existência da Catinona em quantidades variáveis a partir das folhas frescas da
Khat, sendo a Catinona o agente mais ativo e mais importante presente na planta. Entretanto, a
Catinona é uma molécula instável na presença de oxigênio e que se decompõe em poucos dias
após a colheita em um produto químico bem mais estável, porém com uma atividade bem menor,
a Catina.[9]
Apesar do uso da Khat se restringir majoritariamente aos países onde essa planta é nativa,
os seus efeitos psicoativos provenientes da presença da Catinona são amplamente explorados e
reproduzidos em laboratórios. As Catinonas sintéticas, são conhecidas por “Miau-Miau”, “Sais de
Banho”, “Bloom”, “Cloud 9”, entre outros nomes, e vem se espalhando em diferentes partes do
mundo, principalmente na Europa, na América do Norte e na Austrália.
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Ao se mastigar as folhas da Khat ou fazer uso das catinonas sintéticas, a Catinona e/ou a
Catina são absorvidas através das mucosas da boca e do revestimento do estômago. A Catina e
a Catinona atuam diretamente na receptação de Epinefrina e de Norepinefrina, fazendo com que
o corpo recicle mais lentamente esses neurotransmissores resultando em vigília e insônia.[9]
Essas duas substâncias também podem agir como indutores diretos da liberação de
monoaminas na fenda sináptica, onde os efeitos produzidos pelas Catinonas sintéticas são
semelhantes aos originados pela ingestão da Catha edulis, entre eles, aumento de energia e
excitação, aumento da autoestima e libido, aumento da sensação se segurança e capacidade de
concentração e comunicação.[9]
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Analisando uma outra vertente, a Catha edulis também possui fins medicinais, dotada além
da Catinona também possui alcaloides, cálcio, fibra, proteínas, taninos e óleos essenciais,
tornando assim essa planta um forte agente analgésico e antialérgico, e ao ser consumida com
moderação, a Khat pode trazer diversos benefícios a saúde. Como comparação tem se que os
efeitos da infusão ou chá de folhas secas de Khat se assemelham bastante aos de um café bem
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forte, reduzindo assim a fadiga e o cansaço. Acredita-se também que as folhas frescas de Khat
tenham um efeito afrodisíaco e, por isso, alguns homens as misturam, em pouca quantidade, em
seu café para aumentar sua potência sexual. Também é frequentemente utilizada como um
remédio popular para doenças respiratórias, como asma e tosse e para acalmar sintomas e
desordens de estômago e intestinos.
Diferentes países da África e Ásia têm usos variados para a Catha edulis, e devido a esses
diversos usos e costumes, a Universidade do Nairobi realizou um estudo sob o comando de
Josphat K. Kiunga sobre a forma de utilização da Khat nos condados de Meru e Embu no Quênia,
onde se constatou 13 diferentes usos para a planta, de acordo com a Tabela 3.[10]
Devido ao efeito supressor de apetite das Catinona diversas pesquisas veem sendo
realizadas de modo a constatar se a Khat e até mesmo se a Catina podem ser utilizadas como
medicamento para combater a obesidade, onde esses medicamentos agem modulando a
liberação e a absorção de monoaminas, principalmente no cérebro, onde os neurotransmissores
de Dopamina e Serotonina desempenham um papel importante na regulação da ingestão de
alimentos e energia no corpo.[11]
Partindo desse ponto um estudo foi realizado e chefiado por Hans Hauner, Ljiljan Hastreite
e colaboradores afim de se averiguar a eficácia e a segurança do uso de Catinas no tratamento
da Obesidade. O trabalho publicado pela revista Obesity Facts no ano de 2017, consistia no
tratamento de 241 pessoas com obesidade utilizando diferentes quantidades de Cloridrato de
Catina por 24 semanas a fim de se determinar uma dose ideal para se obter os maiores resultados,
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De certo modo, assim como diversas substituições podem ser realizadas na estrutura base
da Fenetilamina, essas substituições também podem ocorrer no esqueleto da Anfetamina, fazendo
com que ela seja uma molécula base para um subgrupo das Fenetilaminas substituídas, grupo
esse chamado de Análogos de Anfetamina ou Anfetaminas substituídas, onde essas substituições
podem ocorrer em qualquer lugar da molécula com exceção do agrupamento metila.
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Diversas rotas de síntese para a Anfetamina foram desenvolvidas desde que a sua
primeira preparação foi realizada em meados de 1887 pelo químico romeno Lazăr Edeleanu que
nomeou a droga de fenilisopropilamina.[12]
As rotas sintéticas mais comuns, utilizadas tanto legalmente como ilegalmente utilizam a
fenilacetona como material de partida. A Figura 19 a seguir consiste na reação entre a fenilacetona
e a formamida (reação de Leukart), seguida pela redução pelo ácido fórmico, produzindo a N-
formilanfetamina, que posteriormente é hidrolisada utilizando ácido clorídrico.[13]
H O
O NH O H
4
O O N O N O
+ O H
H2N H H H
NH2 H
HCl N O
- H3O H
Anfetamina N-Formilanfetamina
Uma outra reação envolvendo a fenilacetona pode ser observada na Figura 20, onde a
reação em questão consiste na síntese de uma imina intermediária a partir da reação da
fenilacetona com amônia, e posteriormente a sua redução em uma amina primária utilizando
hidrogênio sob um catalisador de paládio ou hidreto de alumínio e lítio.[13]
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dos efeitos adversos. O uso recreativo da Anfetamina envolve doses muito maiores em
comparação ao uso terapêutico da mesma, acarretando em um risco maior de se observar efeitos
colaterais graves, e dependendo da continuidade, essas reações adversas podem afetar
negativamente a saúde de uma pessoa, como pode ser observado pela Tabela 4, onde estão
apresentados os principais efeitos colaterais do uso abusivo de Anfetamina ao longo do tempo.
Tabela 4. Efeitos colaterais a curto e a longo prazo do uso abusivo da Anfetamina. Adaptado de
Amphetamines.com.[14]
Efeitos Colaterais Efeitos Colaterais
Aumento da temperatura corporal; Psicose tóxica que mimetiza a
Falha do sistema cardiovascular; esquizofrenia;
Paranoia; Distúrbios fisiológicos;
Hostilidade ou agitação; Distúrbios comportamentais;
Frequência cardíaca irregular; Problemas respiratórios;
Pulsação aumentada; Mudanças de humor;
Aumento da pressão arterial; Instabilidade mental;
Diminuição do apetite; Desnutrição devido a reduções extremas
Curto Prazo Boca seca ou desidratação; Longo do apetite;
Pupilas dilatadas; Prazo Doença mental que pode ou não ser
Maior capacidade de falar; tratável;
Náuseas e vomito; Perda de coordenação;
Alterações no comportamento Apodrecimento dos dentes;
Sexual; Úlceras;
Espasmos; Fraqueza;
Sentimentos aumentados de poder, Convulsões;
grandeza ou grande competência. Coma;
Morte.
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Um dos principais medicamentos que contém sais de Anfetamina e/ou uma mistura de
análogos é o Adderall® (Figura 23), que é utilizado no tratamento do TDAH, principalmente nos
Estados Unidos. O Adderall® é um produto controlado, devido ao seu potencial de causar
dependência (devido à presença de Anfetaminas), e a sua venda é realizada somente sob
prescrição médica.
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A Efedrina (Figura 24) corresponde a mais uma substância psicoativa que está relacionada
ao grupo das Fenetilaminas substituídas devido as suas substituições nas posições RN, Rα e Rβ
no esqueleto da Fenetilamina. Por consequência, a Efedrina é uma Anfetamina substituída e um
análogo estrutural da Metanfetamina diferenciando apenas pela presença do grupo hidroxila (OH).
Como pode se observar por meio da estrutura anterior, a molécula possuiu dois centros
quirais, exibindo assim isomerismo óptico. A Efedrina dá origem a quatro estereoisômeros de
acordo com a Figura 25 a seguir, onde por convenção os enantiômeros (1R, 2S) e (1S, 2R) são
denominados Efedrina, enquanto os que enantiômeros (1R, 2R) e (1S, 2S) de Pseudoefedrina.[17]
A Pseudoefedrina, assim como a Efedrina, são substâncias com ação estimulante no SNC
e que possuem diversas aplicações, sendo elas legais, como um constuinte de um medicamento
por exemplo, ou ilegais, como é o caso da sua utilização como droga de abuso.
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A molécula produzida a partir de uma das vias é então submetida a uma condensação
produzindo a 1-fenil-1,2-propanodiona, que posteriormente forma a Catinona depois de passar por
uma reação de transaminação. A Catinona por sua vez sofre uma redução para produzir a Catina
e a norefredrina. Nesse ponto, as duas rotas biossintética se diferem, uma vez que ocorre uma
N-metilação dos produtos anteriores produzido os alcaloides N-metilados (1S, 2S)-Pseudoefedrina
e (1R, 2S)-Efedrina, como pode ser observado pela Figura 26 a seguir.
Figura 26. Rota Biossíntetica da Efedrina e Pseudoefedrina em plantas do gênero Ephedra. [18]
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O OH OH
O
H OH piruvato 1) CH3NH2
+ descarboxilase (R)
O 2) H2, Pt HN
O
Tanto a Efedrina como a Pseudoefedrina são aminas simpaticomiméticas que têm ação
direta e indireta nos receptores α e β adrenérgicos, mas seu uso recreacional está relacionado
com a capacidade que essas substâncias possuem de atravessar a barreira hematoencefálica
estimulando o SNC. Essas substâncias estimulam indiretamente a liberação de noradrenalina,
Dopamina e Serotonina, sendo essa última em um menor grau.[20]
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O uso prolongado e sem moderação dessas duas substâncias pode levar a dependência,
a tolerância, e em casos mais graves até mesmo a overdose que é caracterizada por danos
cardiovasculares severos. No caso do tratamento com medicamentos à base de Efedrina,
Pseudoefedrina ou seus sais, o que é recomendado é diminuir a dosagem gradativamente e se
observar a gravidade dos sintomas de abstinência que podem ir desde uma maior sensação de
agitação e irritabilidade até paranoias, convulsões e tremores.
Mesmo a Pseudoefedrina possuindo uma atividade mais acentuada que a Efedrina, ambas
as substâncias são utilizadas em medicamentos indicados para combater os sintomas da
congestão e inflamação das membranas nasais, sendo assim associados a descongestionantes
utilizados para aliviar os sintomas de resfriados e alergias. A Efedrina é muito utilizada em casos
de asma devido aos seus efeitos no alívio da falta de ar e sensação de aperto no peito. A
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Diversos medicamentos à base dessas substâncias ou dos seus sais então disponíveis
comercialmente como é o caso do Rhinamide® e Rhino-Sulfuryl® que contém Efedrina, e
Rhinadvil®, Actifed®, Dolihurme® que contém Pseudoefedrina, entre outros.[21]
3.5.4. MDMA
O MDMA é amplamente utilizado como droga recreacional devido aos seus efeitos
euforizantes e levemente alucinógenos e, segundo a UNODC, o uso dessa substância como
medicamento não é regularizada atualmente, embora o MDMA tenha sido utilizado no
aconselhamento psiquiátrico no passado.
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Atualmente sabe-se que a maioria das rotas de síntese do MDMA partem de precursores,
entre eles estão o safrol, isosafrol, piperonal e o PMK (3,4-metilenodioxifenil-2-propanona).[22]
Ambos os precursores estão representados pela figura 30 a seguir, onde o safrol é o principal
material de partida, e os outros três precursores podem ser sintetizados a partir dele.
Figura 30. Estrutura dos principais precursores das sínteses químicas de MDMA.
O MDMA foi sintetizado a primeira vez em 1912 pelo químico Anton Köllisch sob a
patente da Merck que só foi registrada dois anos mais tarde. Na patente original uma mistura
racêmica de MDMA é produzida a partir do Safrol que é reagido com ácido bromídrico para
formar o Bromossafrol que, posteriormente, é convertido em MDMA usando metilamina. As
reações da patente da Merck, podem ser melhores observadas na Figura 31 a seguir.
O safrol, devido ao seu potencial uso como reagente de partida para a síntese de
diversos compostos análogos á Anfetamina, é uma substância controlada em diversos países,
inclusive no Brasil. Como um método alternativo, e visando burlar os métodos de controle,
diversas das sínteses ilegais têm utilizado o PMK como precursor na síntese de MDMA.[22]
O PMK pode ser sintetizado a partir do safrol de diversas formas, entre elas destacam-
se a isomerização do safrol em isosafrol por meio de uma base forte, e posteriormente a sua
oxidação com peróxido de hidrogênio, como pode ser visto pela Figura 32 (Rota A) e a
conversão direta do safrol em PMK através da Reação de Wacker (Figura 32, Rota B), que
utiliza benzoquinona e o cloreto de paládio como catalisador.[22] Sintetizado o PMK, este
intermediário sofre uma aminação redutiva e dá origem a uma mistura racêmica de MDMA.
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O MDMA é uma substância com potencial moderado para causar vício e dependência,
o que não o deixa de tornar essa substância perigosa. Casos de overdoses fatais de MDMA
são raros e estão associados a diversos fatores entre eles pode se citar a pureza da droga
consumida, no qual geralmente o usuário ao consumir ecstasy por exemplo, faz uso de uma
combinação variada de drogas e frequentemente substâncias tóxicas. Outro fator é a
necessidade que os usuários sentem de usar outras drogas para ajudar a lidar com as dores
físicas e mentais que aparecem depois que os efeitos do MDMA passam.
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Atualmente sabe-se que o MDMA não tem nenhum uso medicinal aprovado, no
entanto, devido aos seus efeitos de estimulação, de aumento da confiança e empatia, assim
como seus efeitos que reduzem o medo, ele foi utilizado para o aconselhamento psiquiátrico.
O MDMA veem sendo alvo de pesquisas para tratar danos psicológicos e emocionais
graves, principalmente o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O TEPT é uma
doença mental comum associada a altos níveis de autoflagelação, suicídio consumado e
comorbilidade, incluindo depressão, ansiedade e abuso de substâncias.[24] Um dos desafios
no tratamento desse transtorno está relacionado a sobrecarga que os pacientes tem com as
lembranças negativas de seus traumas, fazendo com que eles não consigam se envolver na
terapia. Há um alto nível de abandono no tratamento do TEPT e muitos pacientes tentam
suicídio ou partem para a automedicação com drogas ilícitas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É certo que as NSP apresentam um risco devido ao fato das suas propriedades não
serem totalmente conhecidas, e como a cada dia que passa mais sínteses e mais moléculas
diferentes vem surgindo, é importante conscientizar o máximo de pessoas sobre a toxicidade
e os efeitos adversos que essas substâncias podem desencadear. A Fenetilamina que está
presente no nosso cotidiano, inclusive nos alimentos, é uma molécula pouco conhecida, assim
como sua classe de compostos, as Fenetilaminas substituídas, que vão muito além das sete
substâncias aqui abordadas.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[2] UNODC. Global Smart Update - Post-UNGASS 2016: NSP tendencias, desafíos y
recomendaciones – volume 16. Disponível em:
<https://www.unodc.org/documents/scientific/Global_SMART_Update_2016_Vol-16_Sp.pdf> Acesso
em: 04 abr. 2018
[3] GÜVEN, C. K.; PERCOT, A.; SEZIK, E. Alkaloids in Marine Algae. Marine Drugs. vol. 8, n.2, p. 269–
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