IVEDO
AS ELITES
DE ‘COR,
PREFACIO
pe PROF. CH
(Catombia. Un
Exemplar Ny 986
63537
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
sko PAULO
pasta:_2.
comas:_F aPREFACIO
A Bahia, velha-e histrica cidade brasileira,
ainda preserva muito de suas antigas tradicées.
‘Suas igrejas, suas ruas estreitas, suas casas de
estilo colonial, o aspeto dos seus mercados, a in-
dumentdria das “bahianas” vendedoras de déces
ou acarajés, a hospitalidade com que acothe a fa-
milia bahiana, 0 ar simpdtico e as maneiras finas
de sua gente na rua e outros’aspetos dessa bela
cidade iém atraido numerosos escritores tanto na-
cionais como estrangeiros. Jornalistas a tém des-
crito, historiadores estudam-na hd muito ¢ antro-
pologistas, interessados especialmente pela persis-
téncia de padrées culturais africanos, a escolheram
como centro para as suas pesquisas. Entre o9
iltimos, Nina Rodrigues, Artur Ramos, Edison
Carneiro, Ruth Landis, Melville J. Herskovits, Ro-
ger Bastide, Donald Pierson e outros estudaram
os “candomblés” da Bahia e a contribuigéo do ne-
gro & vida bahiana,
Eniretarito, um dos aspetos mais interessantes
dessa cidade & a composicéo multi-racial da sua
populacdo ¢ o fato de que, num meio tradicional,
individuos de diversas racas ¢ de variegados tipos
fisicos vivem essencialmente em harmonia, sem
muttas das discérdias e frustracées que caracteri-
zam as relacées inter-raciais em outras partes do
mundo, Parece até que o ideal brasileiro de de-
mocracia racial em nenhuma parle se realiza como8 THALES DE AZEVEDO
ali. Por conseguinte, é de surpreender que an-
tropologistas e sociélogos pouca atengdéo tenham
prestado a éste assunto. Que tratem desse lado da
vida bahiana pelos modernos métodos das ciéncias
sociais, existem apenas o excelente livro de Donald
Pierson, Brancos ¢ pretos na Bahia, ¢ alguns arli-
gos esparsos de Franklin Frazier e outros.
Sabemos, em suma, muito mais sobre o ritual
do “candomblé” do que sobre os padres de re=
lacées inter-raciais na Bahia. Apesar do exotismo
edo colorido que aquele apresenta, parece-me nao
haver divida de que 0 conhecimento dos atuais
padrées de relacées inter-raciais é de maior. ini-
portancia para a sociedade bahiana ¢ de mais in-
lerésse para o mundo-em geral. O estudo de Thales
de Azevedo vem justamente contribuir para ésse
campo de estudos téo importante e relativamente
desconhecido.
A Bahia, pela sua importancia como centro
de estudos, tem produzido grande ritmero de es-
tudiosos no campo da antropologia. Thales de
Azevedo, Professor de Antropologia na Faculdade
de Filosofia da Universidade da Bahia, mantém c
tradicdo de Nina Rodrigues, de Artur Ramos e
outros que ndo esperaram por pesquisadores do
estrangeiro ou de outras partes do Brasil para in=
vestigar e analizar a sociedade bahiana, Eles estu-
dram a sua prépria sociedade com objetividadé
cientifica e competéncia, Neste livro, 0 Autor uti-
lizou-se de inquéritos pessoais, de dados biogrdfi-
cos ¢ material estatistico e, como participante da
sociedade local, nos deu um excelente estudo sobre
a dindmica da ascengéo social das pesséas de cor
~
AS ELITES DE COR 9
num centro urbano ‘como é a cidade em apreco.
Além disto, ajuntou perspectiva histdrica aos seus
conhecimentos de antropologia social moderna co-
mo jd demonstrara em seu trabatho anterior,
Povoamento da Cidade do Salvador, obra que leve
tao béa aceitagéo.
O quadro que Thales de Azevedo pinton sobre
as relacées inter-raciais ¢ a sua andlise do proces
so de mobilidade social da parte da populacdo da
Bahia denominada “de. cor”, é essencialmente
otimista, Como Donald Pierson, éle chega é con-
clusdo de que a sociedade bahiana é uma socie~
dade multi-racial de classes e ndo de castas; de
que existem, relativamente falando, relacées pa-
cificas entre os individuos descendentes de vérios
estoques raciais; de que néo existem barreiras
intransponiveis que impecam a ascenséo social de
individuos por causa de sua cér; e, finalmente, de
que as facilidades para a ascensdo das pesséas de
cér de uma classe para outra mais elevada estao
aumentando. Como Donald Pierson, concorda em
que existem preconeeitos e diseriminagées basea-
dos na cor ¢ traz a isto uma contribuicdo inteira-
mente nova com os dados que colheu na sua pes-
quisa de campo. Nas biografias dos individuos
de cér, que analisou, ¢ nas atitudes reveladas em
muitas das entrevistas realizadas, encontraram-se
manifestacdes que indicam frustracées ¢ diseri-
minagdo. Essas manifestacées aparecem, porém,
em forma branda, principalmente se comparadas
ds existentes noutras partes do: mundo. Mas, mes
mo na Bahia ndo deivam de eaistir numerosas
desvantagens para o individuo de cér interessado