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(Os movimentos ondulatérios aparecem em quase todos os ramos da Fisica. As ondas so facilmente ohservadas na superficie da égua tocada por um corpo. As andas sonoras e as ondas luminosas so essenciais para a percepgao humana do ambiente, uma vez que os homens séo dotados de receptores (os alhos e os ouvidos) capazes de detecté-las. No sécuio XIX. aprendeu-se como gerar @ usar as on: das de rédio. A semelhanga das descrigbes fisica e matemética desses diferentes tipos de ondas indica que 0 movimento ondulatério & um dos temas unificadores da Fisica. ‘Neste capitulo ¢ no seguinte, serdo desenvolvidas descrigdes verbais e mateméticas das ondas. O exemplo das ondas mecsnicas serd empregado, em parte, pelo fato de as leis da Mecénica jé terem sido desenvolvidas neste texto, Ao longo do texto serdo geradas as leis que governam outros tipos de ondas (huminasas e eletromagnéticas, por exemplo). Para simplificar, o estudo seré concentrado nas ondas hharménicas (ou seja, aquelas que podem ser representadas por fungdes seno e co-seno), mas as principios desenvolividos se aplicam gualmente as ondas com formas mais complexes, 18-1 ONDAS MECANICAS As ondas so uma parte comum e essencial do ambiente huma- no. As ondas sonoras, as ondas luminosas, as ondas na dgua outros tipos de ondas esto em toda parte e podemos controls las para conduzir informagdes ou transportar energia de um lo- cal para outro. Emprega-se uma descrigdo matemstica similar para todos os tipos de onda. Podemos, portanto, aprender muito sobre ondas em geral através do estudo minucioso de um tipo de onda. Neste capftulo sero consideradas apenas as ondas mecénicas que in- cluem ondas sonoras e ondas aquéticas. Escolheu-se, em parti- cular, um tipo de onda mecanica — a oscilagio de uma corda tensa como aquela podemos encontrar em um violdo. ‘AS ondas mecéinicas se propagam através de um meio elésti- co, Elas podem ser originadas por uma perturbagdo inicial em tum ponto do meio. Devido as propriedades elésticas do meio, a perturbacdo se propaga através dele. No nivel microscépico, as forgas entre os étomos so respon- séveis pela propagacio das ondas mecdinicas. Cada étomo exer- ce uma forga sobre os étomos proximos ¢ € através desta forca que © movimento do tomo é transmitido para os étomos vizi- hos. As particulas do meio, no entanto, nao experimentam ne- ‘nhum deslocamento final na direc3o da onda — & medida que a ‘onda passa, as particulas simplesmente se movem pequenas dis- tncias para trds e para frente em tomno de suas posigbes de equi- brio. Por exemplo, uma folha flutuando em um lago pode oscilar para cima e para baixo quando uma onda passa, mas volta em seguida a uma posigdo muito proxima da sua posigdo original. ‘Uma onda sonora pode viajar pelo ar, mas nfo hé nenhum des- locamento resultante das moléculas de ar na diregdo em que a onda se movimenta. A onda pode transportar energia e quanti- dade de movimento de um local para outro sem que haja deslo- camento de particulas materiais. Como observou Leonardo da Vinci a respeito das ondas aqusticas no século XV: “Freqlente~ ‘mente ocorre que a onda abandona o local onde € criada, enquanto a égua nao; como aquelas criadas pelo vento em um campo de cereais, onde se véem as ondas correndo através do campo en- ‘quanto os gros permanecem no lugar.” 18-2 TIPOS DE ONDAS Ao listar ondas aquéticas, ondas lurninosas e ondas sonoras como exemplos de movimento ondulatério, estamos classificando as ondas de acordo com suas propriedades fisicas grosseiras. AS ondas podem ser classificadas de outras formas. 1, Diregiio de movimento das particulas. As ondas mecfini- cas podem ser classificadas de acordo com a relagao entre as diregdes de propagayio da onda e do movimento das particu- Jas do meio em que ela se move. Se o movimento das particu- Jas € perpendicular a diregao de propagacao da onda, trata-se de uma onda transversal. Por exemplo, quando faz-se a extre- midade de uma mola tensa oscilar para frente e para trés, surge uma onda transversal na mola, a perturbacdo move-se ao lon- 0 da mola, mas as particulas vibram em Angulos retos com a regio de propagagao da perturbacao (Fig. 18-1a). As ondas uminosas, apesar de ndo serem ondas mecdnicas, so ondas transversais também, Se, no entanto, 0 movimento das particulas na onda mecdni- ca ocorre para a frente e para trés ao longo da diregdo de propa- 118 Cartreto Dezoro _gagilo, entdo a onda é longitudinal. Por exemplo, quando faz-se ‘a extremidade de uma mola tensa oscilar para frente e para tris, ‘surge uma onda longitudinal ao longo da mola, as espiras vibram para frente e para tris, paralelamente a diregio em que a perturba (20 percorre ao longo sla mola (Fig. 18-1) Asondas sonoras em um gs sio ondas longitudinais. Elas serio discutidas em maio- res detalhes no Cap. 19, Algumas ondas nao sio puramente longitudinais nem pura mente transversais, Por exemplo, em ondas na superficie da égua, 5 pauivulas de agua miovemrse (any pata Trewe e pata tas qua to para cima e para baixo, formando trajet6rias elipticas & medi- dda que as ondas se deslocam. 2. Nuimero de dimensdes. As ondas também podem ser clas- sificadas como se propagando em uma, duas ou trés dimensdes. ‘As ondas se deslocando ao longo da mola da Fig. 18.1 slo unidi- ‘mensionais. As ondas de superficies ou costelas na égua, causa das pela queda de um graveto em um remanso, s0 ondas bidi- mensionais (Fig. 18-2). As ondas sonoras € as ondas luminosas trafegando radialmente para fora de uma pequena fonte, So ondas tridimensionais 3. Periodicidade. As ondas podem ser classificadas, ainda, de acordo com a forma com a qual as particulas do meio se movem no tempo. Por exemplo, pode-se produzir um pulso viajando 20 longo de uma cords tensa puxando-se uma vez sua extremidade (puxio). Cada particula permanece em repouso até que o pulso alcance, neste ponto ela se move durante um breve instante € volta a0 repouso. Se continuarmos a puxar e soltar a extremida~ de da corda (Fig. 18-La), produzimos um trem de ondas viajan- do a0 longo da corda. Se o movimento de puxar e soltar for pe- riddico, serd produzido um trem de ondas periédico. Neste caso, cada particula da corda ter um movimento periédico. O caso or Elemento de mola tipico Elemento de corda tipico Fig. 18-1. (e)Enviando ums onda transversal aplongo de uma corda. Cada clerento da corda vibra em éngulos rewos com a diego de px dda onda. (b} Enviando uma onda longitudin mento da nt oom a divego de propagagio da onda c) Enviando um pulso transversal simpies ao longo da cord, especial mais simples de onda peridica ¢ a onda harmOnica, em ‘que cada particula € submetida a um movimento harménico sim- ples, 4. Perfil da frente de onda. Imagine uma pedra largada em uum lago parado. Do ponto em que a pedra toca a égua partem ‘ondas circulares (Fig. 18-2). Todos os pontos de uma mesma fonda tém o mesmo estado de movimento. Esses pontos defi nem uma superficie chamada frente de onda. Se o meio € de ‘massa especifica uniforme, a diregao de movimento das ondas € petpeulivutar & fi de onda indicando a diregao do movimento das ondas € cha- mada raio. As frentes de onda podem ser de diferentes perfis ou formas. Uma fonte pontual na superficie da dgua produz ‘ondas bidimensionais com frentes de onda circulares e raios que se irradiam para fora do ponto de perturbagao (como na Fig. 18-2), Por outro lado, uma vara muito longa largada horizon talmente na 4gua produziré (préximo ao seu centro) perturba- es que Se propagam como linhas retas nas quais os raios S80 linhas paralelas. De modo andlogo, para o caso tridimensional, a onda sera plana quando todas as perturbagdes se propagarem ‘em uma mesma direedo. Em um dado instante, as condigdes sio as mesmas em qualquer ponto de qualquer plano perpendicu: lara direcdo de propagagao. Neste caso, as frentes de onda se~ rao planas ¢ os raios serdo linhas retas (Fig. 18-34). A analogia tridimensional das ondas circulares so as ondas esféricas. Neste ‘caso, a perturbagdo se propaga para fora em todas as diregdes & partir de uma fonte pontual de ondas. As frentes de onda sio esféricas ¢ 0s raios sao linhas radiais partindo da fonte pontual para todas as diregdes (Fig, 18-36). Longe da fonte pontual, as frentes de onda tgm uma curvatura muito pequena e, respeitan- do-se uma regiao limitada, podem ser consideradas planas. Hi, naturalmente, muitos outros tipos possiveis de perfis de frente de onda, me Ue Guus, Unia lint noratial as freates Fig. 18-2. Ondas na superficie de um lago. As costelas ctculazes repre sentam frentes de onda, Os raios, que sdo petpendicuares a frente de ond, ndicam a diego do movimento das ondas 19 Movaexro OxpuLaTORO Fig. 18-3, a) Uma onda plana. Os planos represen: tam frentes de onda espagadas de um comprimen- 10 de anda, © as setas ropresontam os raios.(b) Uma onda esiérica, As rentesde onda, espagadas dde um comprimento de onda, sdo superticias es- {éricas, e 08 raios estdo em dizogbes radiais, 18-3 PROPAGACAO DE ONDAS Considere como exemplo de onda mecinica a forma de onda transversal que Viaja ao longo de uma corda tensa. Vamos assu- ‘mir que temos uma corda “ideal”, em que a perturbacdo, seja um pulso ou um trem de ondas, mantém a forma a medida que se desloca. Para que isto ocorra, perdas por atrito e outros meios de dissipacdo de energia devem ser muito pequenos, de forma a poderem ser desprezados. A perturbagdo permanece no plano xy e se propaga na diregao x. ‘A Fig, 18-4a mostra uma forma de onda arbitréria em ¢ = 0, pode-se considerar este caso como uma imagem instantanea do pulso propagando-se ao longo da corda conforme a Fig. 18-Ic. CConsideremos que o pulso se destoca no sentido positivo da di- recdo x, com velocidade v. Em um instante seguinte r, 0 pulso ‘moveu-se por uma distancia vr, conforme mostrado na Fig. 18- 4b. Observe que a forma da onda é a mesma que em f = 0, assim como seré nos instantes seguintes. Accoordenada y indica o deslocamento transversal de um ponto particular na corda. Essa coordenada depende tanto da posicao.x quanto do tempo 1. Pode-se indicar esta dependéncia das duas varidveis como y(x, 1). @ o Fig. 18-4. (a) Um pulso transversal mostrado em uma imagem instant nea.em ¢ = 0.0 ponto P representa um loval particular na fase do pulso e nfo um ponte particular do meio a corda, por exarnplo).(b} Em um instan: tet posterior, o pulso se moveu de uma distancia vt no sentido positive de x O ponto Pra fase, também, moveu-se de uma distancia vt. 0 pico do ppulso define a origem do eixo de coordenada x’ Pode-se representar a forma da onda da Fig. 18-4a como 34 0) = f0), (18-1) onde f€ a fungio que descreve o perfil da onda, A mesma fun- io fterd que descrever a forma da onda em qualquer instante de tempo r, uma vez que admitiu-se que esta forma nao mudaria com © deslocamento da onda, Adotando-se um sistema de eixos que se desloca com o pulso e cuja origem € 0’, pode-se descrever a forma da onda em relagao a este sistema através da funcdo f(x’), conforme a Fig. 18-4. A relacdo entre as coordenadas x nos dois sistemas de eixos € x’ = x ~ vt, como pode ser visto na Fig. 18- 4b. Logo, em um tempo f, a onda ser descrita por ye) = fla") = fle — v9). (18-2) Isto é, a fungao flx ~ v1) tem o mesmo perfil referente ao ponto x= vt no tempo t que a fungi fix), referente ao ponto x = Ono tempo 1 = 0. Para se descrever a onda completamente, & necessirio espe- cificar a fungao f. No caso das ondas harmonicas, que serdo ana- lisadas posteriormente, a fungdo f€ do tipo seno ou co-seno. O conjunto das Eqs. 18-1 e 18-2 indica que é possivel trans- formar uma funco de perfil de onda, em uma funedo de onda em propagagdo na diregao x, sentido positivo, substituindo-se simplesmente a quantidade x ~ vt por x quando ela aparece em fix). Por exemplo, se fix) = 7, entdo fix = vt) = (x — vi). Além disso, uma onda propagando-se no sentido positivo da direca0 + deve depender dex e de r exclusivamente segundo a fungo x — vt, entdo 2° — (vf)? ndo representa esta onda em propaga- sao. Seguindo-se 0 movimento de uma parte determinada (ou fuse) da onda, como 0 do ponto P da forma de onda da Fig. 18-4, © admitindo-se que a forma da onda nao se modifica durante a propagacao, entao a coordenada y de P, ym nao pode variar. Observa-se, da Eq. 18-2, que a tinica maneira para que isso ocorra € fazer com que a coordenada x de P. x», aumente de valor & medida que o tempo t aumenta, de tal modo que a quantidade %p~ vi permanega constante, Deste modo, a quantidade x~ vt terd valores iguais quando calculada no ponto P da Fig. 18-4h & no ponto P da Fig. 18-4a. Esta condigdo permanece valida para qualquer local na forma da onda e para todos os instantes de tem- po t. Entao, para o movimento de qualquer fase da onda em par- ticular, deve-se obter constante. (18-3)

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