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EEMTI HERMINO BARROSO – REDAÇÃO – Prof.

ª Germana
Nome: ______________________________________________________. Nº ____. Série/Turma: ___.

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua
portuguesa sobre o tema "As causas da crise habitacional brasileira", apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.

Texto 1
Gasto excessivo com aluguel pressiona déficit habitacional no Brasil
04/05/2018 21h46 – Anaïs Fernandes
Mais de 3 milhões de famílias brasileiras comprometiam valor superior a 30% do seu orçamento com aluguel da
moradia em 2015, alta de quase 80% em relação a 2007, início da série histórica da Fundação João Pinheiro.
Em 2007, cerca de 1,7 milhão de famílias estava nessa situação, chamada de ônus excessivo com aluguel, que
considera moradores de áreas urbanas com renda familiar de até três salários-mínimos.
O alto custo do aluguel é um dos principais fatores elencados por movimentos de sem-teto para invasões de
prédios, às vezes em condições precárias, como as do que desabou na última semana no Centro de São Paulo.
A Fundação João Pinheiro é responsável pelo cálculo oficial do deficit habitacional no Brasil, a partir de
microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).
O deficit mede a deficiência no estoque de moradias, englobando, além dos casos de ônus excessivo com
aluguel, casas que precisam ser trocadas porque estão em estado precário e as novas unidades que deveriam existir
para evitar coabitação familiar e adensamento excessivo de moradores em imóveis alugados.
Em 2007, ele era de 10,4%, somando 5,8 milhões de domicílios, sendo que 42% do déficit era composto pela
coabitação familiar e 30% pelo ônus excessivo com aluguel.
O porcentual da coabitação familiar caiu para 30% em 2015 – último ano com dados já calculados oficialmente.
O ônus excessivo com aluguel, por outro lado, passou a representar metade do déficit habitacional no País.
Segundo Luiza Souza, pesquisadora da fundação, além do custo da moradia ter aumentado no período, a crise
no Brasil levou à corrosão do poder de compra dos moradores e apertou as finanças do lar.
“O problema econômico fez que o aluguel ganhasse um peso grande nos últimos tempos, principalmente nas
regiões metropolitanas, onde o custo da moradia é alto”, diz.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o ônus excessivo com aluguel representava 58% do deficit
habitacional da região em 2015.
Para Ana Castelo, coordenadora de Estudos da Construção Civil da FGV Ibre, a questão está ligada também à
dificuldade de se construir habitação de interesse social nos grandes centros urbanos.
“O Programa Minha Casa, Minha Vida foi lançado em 2009 e desde então vemos a clara tendência de redução
na habitação precária, categoria que inclui tanto imóveis em zona urbana quanto rural. Isso não acontece para o
ônus com aluguel, o que se deve muito ao preço e à disponibilidade da terra nas grandes cidades.”
Precária
Em 2007, quase 1,3 milhão de famílias no Brasil moravam em uma habitação considerada precária, montante
que foi para 942,6 mil em 2015.
O custo do financiamento imobiliário também é um inibidor para a saída do aluguel. Novos indicadores da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que, em 2015, uma família de renda média precisaria
de 14 anos para comprar um imóvel de 70 m² e comprometeria 37% da renda.
O deficit habitacional brasileiro relativo subiu ligeiramente em 2015, para 9,3%, ante 9% em 2014 e 2013,
atingindo 6,35 milhões de domicílios. E especialistas estimam que pode ter havido novo aumento nos últimos dois
anos.
“Em 2016, o setor da construção estava no auge da sua crise e foi uma época ruim em termos de contratação dos
programas sociais. Existe um contexto apontando que o mais provável é que o déficit tenha aumentado”, diz
Castelo.
Para Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, o combate ao déficit habitacional requer uma visão de política
pública ampla. “Construímos nossas cidades a partir de parâmetros equivocados. A exploração da cidade se dá em
cima de política econômica somente. Mas existe toda uma infraestrutura que caracteriza a habitação, como escolas,
hospitais, lazer e uma política de mobilidade também.”
Segundo Pirondi, a solução do déficit passa pela ocupação de espaços já existentes em zonas centrais urbanas.
“Em São Paulo, são mais de 400 mil m² vazios no Centro expandido, com toda a infraestrutura, só que não
usamos.”
A pesquisa da fundação aponta que havia mais de 7,9 milhões de domicílios vagos no Brasil com potencial de
serem ocupados ou em reforma, mas, segundo a fundação, é possível que muitas dessas moradias não sejam
adequadas ao perfil do consumidor de baixa renda que realmente precisa ser atendido.
O déficit habitacional da região metropolitana de São Paulo passou de 9,7% em 2007 para 8,9% em 2015,
equivalendo a 643,2 mil domicílios
Em termos absolutos, o maior problema é exatamente o ônus excessivo com aluguel: 373,1 mil famílias
comprometiam mais de 30% da renda com locação em 2015.
O número de moradias precárias caiu 46% desde 2007, de 51,6 mil para 27,9 mil domicílios. O adensamento
excessivo em imóvel alugado (média superior a três moradores por dormitório), por outro lado, subiu 4,8% e agora
representa a situação de 90,5 mil lares.
A região Norte registrou o maior déficit habitacional do país (12,6%, representando 645,5 mil moradias),
puxado pelo déficit de 15,3% na região metropolitana de Belém.
O estado com maior déficit relativo (20%) é o Maranhão, onde cerca de 241,3 mil moradias foram consideradas
precárias (rústicas ou improvisadas).

Texto 2
O déficit habitacional no Brasil tem crescido nos últimos anos

Texto 3
O número de famílias brasileiras que comprometem mais de um terço de sua renda com aluguel
praticamente dobrou

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/gasto-excessivo-com-aluguel-pressiona-deficit-habitacional-no-brasil.shtml>.

Texto 4
Habitação
O tema habitação investigado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD tem por objetivo
produzir informações sobre as condições de moradia da população, em termos de saneamento básico e outras
características habitacionais, e, também, sobre a posse de um conjunto de bens duráveis importantes para a saúde, o
acesso à informação e o nível da qualidade de vida das pessoas. Os indicadores produzidos anualmente sobre este
tema permitem acompanhar a evolução das condições habitacionais da população. Em 2004, a pesquisa também foi
implantada nas áreas rurais de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, alcançando a cobertura
completa do território nacional.
No período de 2004 a 2014, no total de domicílios particulares permanentes, constatou-se crescimento gradual
no percentual dos domicílios alugados (de 15,4%, em 2004, para 18,5%, em 2014), enquanto o dos domicílios
próprios apresentou, em 2014, o mesmo percentual de 2004, 73,7%.
Em 2014, somente 0,3% dos domicílios do País ainda não dispunham de iluminação elétrica e este percentual
estava em 3,2%, em 2004. O atendimento pelo serviço de coleta lixo domiciliar continuou mantendo tendência de
crescimento, partindo de 84,6% dos domicílios, em 2004 e alcançando 89,8%, em 2014.
De 2013 para 2014, houve ligeira elevação no percentual de domicílios atendidos por rede geral de
abastecimento (de 85,0% para 85,4%). Este percentual era de 82,1%, em 2004. No caso da parcela dos domicílios
com esgotamento sanitário adequado (rede geral ou fossa séptica) houve uma expansão de 2013 para 2014 (de
76,2% para 76,8%), que decorreu da diminuição do percentual de domicílios com fossa séptica, uma vez que o
percentual daqueles atendidos por rede geral de esgoto, que estava em 47,9%, em 2004, manteve trajetória de
crescimento até 2013 (58,2%), tendo registrado em 2014, queda para 57,6%.
O serviço de telefonia continuou em expansão, alcançando 93,5% dos domicílios, em 2014. A tendência de
crescimento do atendimento por esse serviço deveu-se à expansão da linha celular móvel. De 2004 para 2014, no
total de domicílios com telefone, os que tinham somente a linha móvel cresceu de 25,2% para 60,3% e os que
tinham ambas as linhas (fixo e celular) baixou de 47,9% para 37,2%, enquanto a parcela dos domicílios somente
com telefone fixo caiu de 26,9% para 2,5%.
Os percentuais de domicílios com rádio e com DVD tiveram redução, de 2013 para 2014. Desde 2008, quando
se começou a pesquisar a existência de DVD nos domicílios, a presença deste bem durável apresentava incremento
a cada ano. A partir de 2013 foi registrada a primeira queda (de 76,0% em 2012 para 72,1% em 2013), seguida por
outra queda em 2014, totalizando 68,0% dos domicílios com o aparelho. No caso do rádio, este desde 2009 já vinha
perdendo participação (estando presente em 72,1% dos domicílios em 2014). O percentual de domicílios com
televisão, que vinha continuamente crescendo, praticamente não apresentou alteração de 2013 para 2014 (97,1%)
Máquina de lavar roupa (58,7%) e geladeira (97,6%) foram bens que ano a ano estiveram mais presentes nos
domicílios. Cabe destacar que o percentual de domicílios com microcomputador foi o que apresentou a tendência
mais acelerada de crescimento, no período de 2004 a 2013, registrando pequena queda em 2014, de 48,9% para
48,5% dos domicílios. Em 2004, havia microcomputador em 16,3% dos domicílios.
Disponível em: <https://brasilemsintese.ibge.gov.br/habitacao.html>. Acesso em: 25/10/2018.

Texto 5
Entrevista
Sem mobilização social e política não é possível resolver os problemas habitacionais da cidade
Essa é a opinião de João Sette Whitaker, para quem "é necessário promover a diversidade social para dar vida à cidade".
Juliana Bertolucci
É natural que as grandes cidades tenham problemas com moradia. Quando o crescimento populacional é intenso
e acelerado e o desenvolvimento não é planejado, essas questões se agravam ainda mais. "No Brasil, o déficit
habitacional está ligado à própria dinâmica histórica de estruturação socialmente desigual da nossa sociedade e das
nossas cidades", acredita João Sette Whitaker, que é economista, professor Doutor em Urbanismo pela FAU-USP e
pesquisador do LabHab - Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAU-USP.
O professor é coordenador, pelo LabHab do Plano de Ação Habitacional e Urbano - Bairro Legal (Saiba mais
sobre o programa, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Habitação no distrito de Jardim Ângela) e membro do
Conselho Municipal de Políticas Urbanas, representando as Universidades. Para ele "São Paulo se diferencia das
outras cidades do País essencialmente por seu tamanho e pela dimensão que essa pobreza alcançou", disse em
entrevista ao portal Prefeitura.SP. Leia abaixo.
.SP - Fale um pouco sobre a questão da habitação inserida no contexto de uma metrópole.
J.S.W - No Brasil, o déficit habitacional está ligado à própria dinâmica histórica de estruturação desigual da nossa
sociedade e das nossas cidades. A urbanização brasileira se deu no bojo de uma industrialização baseada em baixos
salários, que se beneficiava de uma abundante mão-de-obra barata. Nos países centrais europeus, a estruturação do
Estado do Bem-Estar Social, base para a industrialização do pósguerra, pressupunha uma sociedade em que a classe
trabalhadora fosse capaz de consumir. Por isso lhe era garantido um patamar mínimo de remuneração, o que incluía
o direito à moradia, resultando nos gigantescos programas habitacionais europeus do pós-guerra.
Aqui, ao contrário, não interessava ao Estado – como representante das classes dominantes – oferecer à massa de
mão-de-obra, infraestrutura urbana nem habitação, pois isso elevaria o custo de reprodução da classe trabalhadora.
A vinda para o Brasil, a partir da década de 50, das empresas multinacionais, representou uma associação entre as
"modernas" burguesias nacionais e os interesses de expansão industrial do capitalismo internacional, que buscava
estabelecer no nosso país uma base de produção justamente beneficiada pela farta oferta de mão-de-obra barata.
Aos interesses das empresas multinacionais se casava o das nossas elites, que puderam assegurar uma rápida
industrialização, porém desigual socialmente e tecnologicamente obsoleta (pois se transferiam para cá indústrias já
velhas para os padrões do norte) que gerou inclusive as bases para o "milagre brasileiro". Então, da década de 60
em diante, assistimos a uma rápida expansão industrial, mas que paradoxalmente concentrou cada vez mais a renda
e acentuou a exclusão urbana e a proliferação das periferias pobres. Chico e Oliveira, em seu recente texto "O
Ornitorrinco", lembra como o incentivo à autoconstrução (através da pouca presença do Estado, que deixou a
cidade periférica crescer sem controle algum) foi uma fórmula capaz de assegurar uma morada mínima para a
classe trabalhadora a custos baixíssimos, sem elevar portanto o custo da mão-de-obra.
Assim, as grandes metrópoles industriais da periferia do capitalismo, hoje se ressentem de anos e anos de uma
urbanização pela qual a exclusão socioespacial era uma condição do seu crescimento. Seja Mombay ou Dehli
(ìndia), Cidade do México ou São Paulo, todas essas (e muitas outras) cidades apresentam cerca de 50% de sua
população vivendo em condições indignas na informalidade urbana (em favelas, loteamentos clandestinos, ou
cortiços), e cerca de 20% em favelas. Cidades como Recife têm, infelizmente, quase metade da sua população em
favelas.
[...]

..SP- Quais ações são precisas para solucioná-los? Qual o papel da administração pública nessas soluções? E
da sociedade civil?
J.S.W. - Evidentemente, a única e verdadeira forma de solução para a desigualdade urbana é uma política macro-
econômica nacional que redistribua efetivamente a renda, que gere empregos e salários dignos. Sem isso, nunca o
país resolverá sua grave situação social. Porém, enquanto isso, há muito o que se fazer. O grande desafio, inclusive
cultural, é reverter a tendência de contínua periferização da cidade. Enquanto o centro perde sua população (1,3
%/ano), as periferias crescem cerca de 5% no mesmo período. Só que a cidade já atingiu seus limites, e sua
periferia invade áreas ambientalmente sensíveis, sendo extremamente oneroso urbanizar favelas e levar infra-
estrutura para as regiões distantes. Deve-se portanto promover uma maciça oferta de habitações de interesse social
não só na área central mas também nos bairros do anel intermediário, de classe média e alta, pois há glebas vazias,
geralmente paradas por motivos especulativos.
O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, criou instrumentos que possibilitam ao Poder Público fazer cumprir a
função social da propriedade urbana: dar um uso a terrenos que se beneficiam de infra-estrutura urbana porém estão
abandonados. As ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social são um ótimo exemplo, e foram criadas pelo Plano
Diretor , assim como as Zonas Especiais de Interesse Urbano, que a Sehab criou nas favelas de Heliópolis e
Paraisópolis, e que são as maiores da cidade. Entretanto, a cultura das classes dominantes no Brasil ainda é
extremamente excludente. Os ricos não aceitam conviver com pobres e por isso a cidade se segmenta. Isso é
inerente ao capitalismo, porém aqui a situação é mais extrema. Na cidade capitalista, mais ricos e mais pobres
trabalham juntos, normalmente uns para os outros, e todos têm o direito de morar perto de seus trabalhos. Por isso,
bairros de classe média e alta, assim como o centro, devem aceitar a presença de moradias dignas para a população
de menor renda.
Infelizmente, por pressão desses setores, assim como do próprio mercado imobiliário, que só consegue entender
conjuntos habitacionais como "desvalorização", e não como instrumentos para a construção de uma cidade mais
justa, mais humana e mais saudável, foram criadas menos ZEIS e bairros do anel intermediário do que São Paulo
necessitaria. Criaram-se ZEIS em favelas, que poderão ser urbanizadas. Mas há grandes terrenos que deveriam
virar ZEIS para que se promova a diversidade social urbana. A cidade precisa, nas revisões futuras do Plano
Diretor, se encher de ZEIS nesses bairros, para reverter a periferização. Não se pode falar apenas em soluções
paliativas. Para mudar a cidade estruturalmente, a sociedade toda deve aceitar que as mudanças e as políticas para a
população mais pobre devem ser maciças.
Na França, por exemplo, há alguns anos isso já foi notado. Uma lei de 2000, chamada "lei da Solidariedade
Urbana", obriga todo município a ter 20% de suas casas (todas as moradias do município) destinadas à habitação
social, a não obediência implica em pesada multa. E o governo desistiu de construir enormes conjuntos na periferia
(como a Cidade de Deus), como era feito no passado. Atualmente constroem pequenos conjuntos habitacionais,
"prédinhos" de 50 apartamentos, dispersos e inseridos nos bairros de classe média e alta.
A prefeitura, através do Programa Morar no Centro, da SEHAB, vem promovendo, nesse sentido, uma
importantíssima política de reabilitação de edifícios na área central para habitação de interesse social. Renovar o
centro não envolve apenas as obras de embelezamento, como o pórtico da Praça Patriarca, mas oferecer à
população mais pobre, que vive em cortiços pela falta de oferta de moradias condizentes com sua capacidade de
pagamento, oportunidade de moradia digna a um custo aceitável. Os movimentos populares já conseguiram
reabilitar alguns prédios, com o financiamento da CEF (Caixa Econômica Federal), e a Sehab vem intensificando
sua ação nesse sentido. Há projetos em de construção integrada de moradias para as pessoas com baixo, médio e
alto poder aquisitivo; além de comércio (shoppigs, etc.), e tudo ao mesmo tempo, promovendo a diversidade social
que dá vida à cidade.
Quanto à periferia, embora deva ser promovida a reversão do seu constante crescimento, a ação do Poder Público
deve ser intensa nessas regiões para melhorá-las. A rigor, deveria ser só lá. A possibilidade mais utópica seria a de
que, ao longo do tempo, investimentos maciços na periferia, associados à obras de transporte público de massa,
permitiriam que a cidade se tornasse mais fluída, menos concentrada economicamente nas áreas da região sudoeste.
Isso traria mais qualidade de vida. Entretanto, na periferia, não adianta oferecer um equipamento isolado, um posto
de saúde, por exemplo, em uma região em que tudo falta, pois esse posto sozinho não será capaz de reverter o
quadro social de extrema tensão, e em pouco tempo estará - salvo algumas exceções - abandonado e degradado.
Deve-se promover uma ação pública conjunta, integrada e intensa, que possa oferecer, junto com o posto de saúde,
escolas, áreas de esporte, praça, parque, saneamento, transporte, etc. Essa integração setorial das políticas públicas
deve ser resultado de uma postura de governo, e deve integrar as diferentes secretarias e níveis de governo. Sem
uma verdadeira mobilização social e política, um verdadeiro mutirão governamental que envolva obrigatoriamente
a participação popular (para que todas as melhorias sejam assumidas corresponsavelmente pela sociedade
organizada, que poderá cobrar e manter suas conquistas independentemente das diferentes gestões), e que esteja
acima dos interesses político-partidários e eleitorais, não conseguiremos resolver o quadro dramático das periferias.
.SP - Como você vê a questão das áreas de ocupação irregular na cidade?
J.S.W. - A prefeitura vem promovendo, através do RESOLO, um intenso programa de regularização fundiária.
Além disso, a Sehab media conflitos em áreas ocupadas, evitando a reintegração de posse violenta. Esse é o
caminho. É importante lembrar o que poucos lembram: em casos de terrenos e edifícios ocupados, a ilegalidade da
situação não pesa tanto para os que ocupam (que, a rigor, fazem valer seus direitos), mas muito mais nos que
deixaram suas propriedades desocupadas e abandonadas. No caso de São Bernardo, do terreno da Volkswagen, a
mídia nunca falou que os proprietários do terreno estavam também em situação de ilegalidade, já que,
contradizendo o estatuto da Cidade, não faziam cumprir a função social da propriedade. Eram maus proprietários
urbanos. Além disso, a polêmica em torno da propriedade do terreno trouxe à tona o fato de que a propriedade
urbana, no Brasil, é resultante da ação hegemônica das elites.
.SP - Como a habitação influencia nas questões sociais, culturais, políticas e econômicas?
J.S.W. - A habitação, ou melhor, o habitat, que é todo o ambiente construído e as dinâmicas sociais que giram em
torno da moradia, são a base para a vida digna e o pleno exercício da cidadania. O Brasil só poderá ser uma
verdadeira nação quando, em qualquer bairro das nossas cidades, os moradores estiverem vivendo em paz e
segurança em uma casa digna, bem construída, segura, com saneamento, coleta de lixo, escola e trabalho próximos,
atividades de lazer e cultura, etc. A habitação só pode ser entendida nesse sentido amplo, senão cairemos sempre no
erro de achar que um conjunto habitacional-dormitório, que isola seus moradores de tudo, é habitação.
Aliás, vale destacar que a aqruitetura brasileira tem uma forte dívida social a pagar. Se ela se faz presenta e festiva
nas áreas mais favorecidas, nos modernos prédios "inteligentes" das "ilhas de primeiro-mundo", ela nunca se
apresentou para pensar e resolver efetivamente a metade da cidade que vive em casas autoconstruídas, onde os
arquitetos, salvo exceções de profissionais que se dedicam à moradia de baixa renda, pouco aparecem. É isso que
devemos reverter, em um futuro próximo.
Disponível em: <http://labhab.fau.usp.br/biblioteca/textos/ferreira_entrevista450anos.pdf>. Acesso em: 25/10/2018.

Texto 6
Há 6 milhões de famílias sem casa no Brasil? Veja os dados e entenda.
Em 16/05/2018 - por Luiza Petroll Rodrigues e Carlos Góes
O que é uma “família sem casa”?
Normalmente, quando pensamos em “6 milhões de famílias sem casa”, a imagem que vem à nossa cabeça é a de
6 milhões de famílias em situação de rua, o que, felizmente, não é verdade. Segundo as estimativas mais recentes,
disponíveis em um Texto para Discussão do IPEA, há 101 mil pessoas em situação de rua no país. É um número
preocupante. [...]
De onde saiu o número de “6 milhões de famílias sem casa”?
[...] A Fundação João Pinheiro tem um conceito bem abrangente de défice habitacional (que, portanto, não
foca na população em situação de rua). O estudo inclui como parte défice habitacional qualquer pessoa que se
encaixa em pelo menos uma das seguintes características: domicílios improvisados; domicílios rústicos; domicílios
em cômodos; domicílios com ônus excessivo de aluguel; domicílios adensados; domicílios em coabitação.
Alguns desses conceitos acima fazem sentido. “Domicílios improvisados”, por exemplo, são coisas como
barracas de lonas ou pessoas morando debaixo de viadutos. Poucos discutiriam que isso deve contar para o défice
habitacional.
A partir daí as coisas se tornam mais subjetivas. “Domicílios rústicos” são aqueles que têm formas de
construção não-convencionais (paredes que não são de alvenaria, teto de palha, chão de terra batida, etc.). Essas
construções são comuns no interior do Maranhão, por exemplo.
Outro conceito bem problemático é o de “ônus excessivo de aluguel”. Se uma família com renda de até 3300
reais gasta mais de 30% de sua renda com aluguel, isso conta para o défice habitacional.
O penúltimo critério é o de “adensamento excessivo”: se há em média mais de três pessoas por dormitório, isso
conta para o défice habitacional. Imagine um casal que mora num apartamento de um quarto com duas crianças.
Certamente isso denota recursos limitados. Significa défice habitacional?
Mas o critério mais problemático é o de “coabitação”: quando há mais de um núcleo familiar vivendo no mesmo
domicílio.
Qual deveria ser a prioridade para atuação do governo?
Há dois grupos distintos, tanto em circunstâncias quanto em soluções propostas, que devem ser objeto de
políticas públicas: pessoas em situação de rua e pessoas em habitações precárias.
Para os cerca de 101 mil brasileiros em situação de rua, a simples oferta passiva de políticas públicas pode não
ser suficiente para que as pessoas vejam sua situação melhorada. Por exemplo, mesmo estando disponíveis serviços
gratuitos no Sistema Único de Saúde, há subutilização destes por essa população – porque “profissionais de saúde
têm pouca experiência para acolher pessoas em situação de rua e atender as suas necessidades”.
Doar uma casa a cada uma dessas pessoas não necessariamente impediria seu retorno à rua, por motivos
diversos e complexos, dentre os quais se incluem questões de saúde mental e vício em drogas. Portanto, para estes
é necessária uma estratégia mais ampla e customizada para cada município, que envolva não somente a política
habitacional, mas também atenção à saúde e apoio comunitário.
O outro grupo que deveria ser prioritário na formulação da política pública são aqueles que habitam as
habitações precárias (942 mil domicílios dos 6,35 milhões estimados pela Fundação João Pinheiro). Tais domicílios
representam riscos à saúde e à vida de seus moradores, pelo risco de desabamento, falta de higiene sanitária, dentre
outros.
Dado que a maior parte da necessidade de habitação mencionada acima se concentra em famílias com renda
familiar inferior a 2 salários mínimos, e muitas dessas famílias têm renda muito variável entre os meses, uma
solução de mercado é bastante difícil nesse caso – ou seja, existe a necessidade de uma atuação por meio de política
pública. Como os recursos públicos são escassos, é preciso definir os critérios de défice habitacional de forma mais
restrita, de modo a dar prioridade àquelas famílias mais expostas ao risco.
Ao fazer isso, o governo pode focalizar seus subsídios naqueles que realmente precisam. Hoje, o governo
subsidia o crédito habitacional de famílias de renda média. Por exemplo, as faixas superiores do Minha Casa
Minha Vida são destinadas a famílias com renda superior a R$ 2.600 – ou seja, excluem quase todos os domicílios
que estão entre os 40% mais pobres – e existem ainda vantagens tributárias na troca de imóveis que são
disponíveis mesmo a famílias ricas. Ao eliminar esse tipo de subsídio, seriam liberados recursos para resolver
primeiro o problema das famílias mais expostas ao risco, que, embora representem apenas 2% famílias brasileiras,
são uma parcela muito vulnerável.
Conclusão: resumo [...]
Não há 6 milhões de famílias sem casa no Brasil. Existem 101 mil pessoas em situação de rua e 942 mil
domicílios precários que colocam em risco a integridade física de seus habitantes. Há importantes avanços a serem
feitos nas políticas públicas habitacionais. Para tanto, contudo, é essencial focalizar os recursos escassos naqueles
indivíduos mais expostos ao risco. Para as pessoas em situação de rua, é necessária uma abordagem mais ampla,
que envolva não somente a política habitacional, mas também atenção à saúde e apoio comunitário. Os habitantes
de domicílios precários poderiam ser melhor atendidos pelo governo federal pela realocação de subsídios que hoje
financiam os com renda relativamente maior para esse grupo prioritário. [...]
Disponível em: <http://mercadopopular.org/2018/05/ha-6-milhoes-de-familias-sem-casa-no-brasil-veja-os-dados-e-entenda/>.

Outras fontes de pesquisa:


 http://redacaonotadez.com.br/blog/tema-de-redacao-crise-habitacional-no-brasil/
 https://projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/o-problema-do-deficit-habitacional-no-brasil
 https://www.imaginie.com.br/enem/tema-de-redacao/deficit-habitacional-no-brasil
 https://www.b9.com.br/90439/mamilos-146-crise-habitacional/
 https://www.gazetaonline.com.br/opiniao/colunas/tarcisio_bahia/2018/05/crise-habitacional-nao-se-resolvera-
sem-mobilizacao-institucional-1014132191.html
 http://observatoriodasmetropoles.net.br/wp/desafios-da-habitacao-realidade-da-moradia-no-brasil/

Não se esqueça de fazer o seu projeto de texto!


1. Apresentação do tema e da tese 4. Propostas de intervenção para as
TEMA + TESE: PONTO DE VISTA A SER DEFENDIDO SOBRE ESSE problemáticas desenvolvidas e
TEMA conclusão do texto
2. Desenvolvimento do argumento 1 em defesa da tese o FRASE CONCLUSIVA
o TÓPICO FRASAL: APRESENTAÇÃO DA IDEIA A SER o SOLUÇÃO 1:
DESENVOLVIDA NO PARÁGRAFO (1 período)  AÇÃO
o DESENVOLVIMENTO DO TÓPICO FRASAL: DESENVOLVIMENTO  AGENTE
DA IDEIA APRESENTADA NO TÓPICO FRASAL = ARGUMENTO 1 +  MEIO/MODO
REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL QUE COMPROVE ESSE  FINALIDADE
ARGUMENTO (2 a 3 períodos)  DETALHAMENTO (DA AÇÃO OU
o CONCLUSÃO DO PARÁGRAFO: CONCLUSÃO DA IDEIA DO MEIO/MODO)
APRESENTADA NO PARÁGRAFO (1 período) o SOLUÇÃO 2:
 AÇÃO
3. Desenvolvimento do argumento 2 em defesa da tese  AGENTE
o TÓPICO FRASAL: APRESENTAÇÃO DA IDEIA A SER OU
DESENVOLVIDA NO PARÁGRAFO (1 período)  AÇÃO
o DESENVOLVIMENTO DO TÓPICO FRASAL: DESENVOLVIMENTO  AGENTE
DA IDEIA APRESENTADA NO TÓPICO FRASAL = ARGUMENTO 2 +  EFEITO
REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL QUE COMPROVE ESSE OU
ARGUMENTO (2 a 3 períodos)  AÇÃO
o CONCLUSÃO DO PARÁGRAFO: CONCLUSÃO DA IDEIA  EFEITO
APRESENTADA NO PARÁGRAFO (1 período) o FRASE DE RETOMADA DO
REPERTÓRIO SOCIOCULTURAL

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