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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ANDRESSA DE OLIVEIRA

TRAÇADO DE RAIOS SÍSMICOS EM MEIOS


HETEROGÊNEOS

Curitiba
2018
ANDRESSA DE OLIVEIRA

TRAÇADO DE RAIOS SÍSMICOS EM MEIOS


HETEROGÊNEOS

Monografia apresentada à coordenação


do curso de Matemática Industrial,
da Universidade Federal do Paraná,
como parte dos requisitos para obter
aprovação na disciplina de projeto de
Matemática Industrial.
Orientador:
Prof. Dr. Saulo Pomponet Oliveira

Curitiba
2018
Resumo

No contexto de geofı́sica de exploração, os algoritmos de traçados dos raios sı́smicos são


métodos frequentemente utilizados na inversão e tomografia sı́smica, pois são métodos
de baixo custo computacional em relação a outros métodos numéricos para solução da
equação da onda. A teoria assintótica do raio é um método de aproximação da equação da
onda em altas frequências, que será considerada neste trabalho para o caso particular para
meios heterogêneos isotrópicos. A equação da onda é convertida do domı́nio do tempo
para o domı́nio da frequência através da Transformada de Fourier. Considerando apenas
os termos de alta frequência na equação da onda obtém-se duas equações denominadas
equação iconal, que representa o tempo de trânsito do raio, e a equação do transporte, que
representa a variação da amplitude espacial. A equação iconal é uma equação diferencial
parcial (EDP) não linear de primeira ordem. Para encontrar as soluções será aplicado o
método das Caracterı́sticas, que consiste em transformar uma EDP em um sistema de
equações diferenciais ordinárias chamado de sistema caraterı́stico. Esse sistema pode ser
utilizado para determinar a trajetória do raio e tempo de trânsito. A equação iconal pode ser
representada como um sistema hamiltoniano H(xi , pi ) = 0. Foram realizados experimentos
numéricos nos quais os sistemas hamiltonianos foram discretizados através da expansão
de Taylor de primeira ordem, implementada computacionalmente pelo pacote OCTAVE.

Palavras-chave: Teoria Assintótica do Raio; Equação da Onda; Traçado do Raio.


Abstract

In the context of exploration geophysics, seismic ray tracing algorithms are frequently used
in seismic inversion and tomography, due to their lower computational cost with respect to
other numerical methods for solution of the wave equation. The asymptotic ray theory is a
method of approximation of the wave equation in high frequencies, which will be considered
in this work for the particular case for heterogeneous isotropic media. The time-domain wave
equation is converted from time domain to frequency domain through the Fourier Transform.
Considering only the high-frequency terms in the wave equation we obtain two equations,
namely the eikonal equation, which represents the travel time of a ray, and the transport
equation, which represents the variation of the spatial amplitude. The eikonal equation is a
first order nonlinear partial differential equation (PDE), which can be solved with the method
of Characteristics. This method transforms a PDE into a system of ordinary differential
equations called the characteristic system. This system can be used to determine the ray
trajectory and transit time. The eikonal equation can be represented as a Hamiltonian sys-
tem H(xi , pi ) = 0. Numerical experiments are carried out based on the discretization of the
Halmitonian systems by a fisrt-order Taylor expansion, which is implemented computatio-
nally in the software OCTAVE.

Keywords: Asymptotic Ray Theory, Wave Equation, Ray tracing.


Índice

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i
Abstract . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ii

1 Introdução 5

2 Teoria Assintótica do Raio 6


1 Equação de Helmholtz para meios homogêneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2 Equação da Onda para meios heterogêneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
3 Equação Iconal e Equação de Transporte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

3 Discretização da Equação Iconal 12


1 Método das Caracterı́sticas e Sistema Hamitoniano para Equação Iconal . . . . . 12
2 Método de expansão de Taylor para o problema de traçado de raio . . . . . . . . 16

4 Experimentos Numéricos 19
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Referências Bibliográficas 24

iii
Lista de Figuras

4.1 Traçado do raio para o caso n=0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


4.2 Traçado do raio para o caso n=1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.3 Traçado do raio para o caso n=2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4
Capı́tulo 1

Introdução

Durante anos a Teoria do raio tem sido aplicada em diversos problemas por ser de
simples aplicação. Várias abordagens para o traçado de raio existem, as mais relevantes
são teoria do raio geométrico e a teoria assintótica do raio, mas a abordagem desse trabalho
será voltada teoria assintótica do raio.
A teoria de traçados de raios foi extensivamente estudada nas décadas de 1970 e
1980. Uma coletânea destes trabalhos é aparesentada no livro de Červený (2001).
Dentre os trabalhos neste perı́odo, Langan et al. (1985) desenvolvem métodos de
traçado de raios em meios acústicos heterogêneos para resolver dois tipos de problemas:
problema de valor inicial e problema de valor de contorno. O desenvolvimento desse método
com traçado de raios através dos modelos de velocidade discretizadas é usado no método
da inversão sı́smica. O método provou ser importante para modelagem de problemas mais
avançados.
Existem diversos trabalhos que aplicam a Teoria Assintótica de Raios a meios
elásticos isotrópicos e anisotrópicos. Um dos estudos pioneiros nesta área foi desenvol-
vido por Karal e Keller (1959). Červený e Hron (1980) em seu estudo referente ao traçado
de raios utilizou apenas três equações não lineares de primeira ordem, sendo que alguns
trabalhos feito na área podem apresentar até oito equações diferenciais (HUBRAL, 1979).
O sistema utilizado para traçado do raio são obtidos através da equação iconal escritas
nas coordenadas centralizadas nos raios, por ser tratar de uma derivação simples e direta.
Essa teoria é aplicada para o caso de interfaces curvas não homogêneas. Um panorama
do traçado de raios em meios elaśticos e aplicações em imageamento sı́smico podem ser
encontrados na tese de Cunha (2005).

5
Capı́tulo 2

Teoria Assintótica do Raio

1 Equação de Helmholtz para meios homogêneos


O ponto de partida para obtenção das equações utilizadas na teoria do raio é a
equação da onda para meios acústicos no domı́nio da frequência, também conhecida como
Equação de Helmholtz e é definida por

ω
∇2 p + k 2 p = −ρf, k= . (2.1)
c

Nesta equação, p representa a pressão acústica, ρ a densidade (constante), k o


número de onda dado pela frequência angular ω dividida pela velocidade acústica c = ρκ−1/2
(κ é o módulo de compressibilidade), e f o termo de fonte.
Se f = 0, a equação (2.1) se reduz a

∇2 p + k 2 p = 0, (2.2)

que possui a solução trivial p = 0. Vamos buscar soluções não-triviais da equação (2.1) na
forma de ondas planas, ou seja,

p(~x, t) = P e−iω(t−T (~x)) (2.3)

Seja um escalar P ∈ C e seja T dada pela função linear homogênea

3
X
T (~x) = p i xi . (2.4)
i=1

Iremos considerar que pi ∈ R, para onda plana homogênea mesmo que P que seja
complexo. Vamos deduzir a seguinte condição de existência de soluções não-triviais:

6
3
X 1
p2j = . (2.5)
j=1
c2

Inserindo a equação (2.3) em (2.2) obteremos a seguinte expressão:

∇2 (P e−iω(t−T (~x)) ) + k 2 (P e−iω(t−T (~x)) ) = 0.

Aplicando a definição do Laplaciano, encontramos

3  
X d d −iω(t−T (~
Pe x))
= −k 2 P e−iω(t−T (~x))
j=1
dx j dx j

3
X d
(P iωpj e−iω(t−T (~x)) ) = −k 2 P e−iω(t−T (~x))
j=1
dx j

3
X
−P ω 2 p2j e−iω(t−T (~x)) = −k 2 P e−iω(t−T (~x))
j=1
3
X
ω 2 p2j = k 2
j=1

Como k = ω/c,
3
X 1
p2j = .
j=1
c2

Červený (2001) denomina p~ = (p1 , p2 , p3 ) o vetor de vagarosidade. Como vimos


acima, seu comprimento é k~p k = 1/c. Se consideramos o vetor normalizado N ~ = p~/k~p k,
temos
N~
p~ = , (2.6)
c
A superfı́cie formada pelo conjunto de pontos ~x tais que t = T (~x) representa a
localização de todos os pontos da onda (2.3) com amplitude P no instante t. Esta superfı́cie
também conhecida como frente de onda.
Verificamos a seguir que o vetor de vagarosidade é perpendicular à frente de onda.
Como
X3
t = T (~x) = p i xi ,
i=1

obtemos a seguinte expressão:

p1 x1 + p2 x2 + p3 x3 − t = 0,

7
chamaremos d=-t, logo a expressão ficará:

p1 x1 + p2 x2 + p3 x3 + d = 0,

que corresponde à equação geral do plano com vetor normal (p1 , p2 , p3 ). Se p1 6= 0

t t
−t = −p1 = −p1 − p2 0 − p3 0
p1 p1
 
t
p 1 x1 − + p2 (x2 − 0)t + p3 (x3 − 0) = 0
p1
 
t
(p1 , p2 , p3 ) x1 − , x2 − 0, x3 − 0 = 0
p1
p~ · (~x − x~0 ) = 0

sendo que ~x0 = (t/p1 , 0, 0), o que mostra que o vetor (~p) é perpendicular a qualquer vetor do
plano com origem em ~x0 , dado que p1 6= 0. A demonstração para p2 6= 0 e p3 6= 0 é análoga.

2 Equação da Onda para meios heterogêneos


A equação da onda em meios acústicos com o campo de velocidades heterogêneo
é dada por:
1
∇2 p = 2 p̈. (2.7)
c (~x)
Para encontrar as soluções da equação da onda plana transiente para meios hete-
rogêneos, isto é, se a velocidade acústica depende da posição ~x (c = c(~x)), vamos usar a
transformada de Fourier no domı́nio da frequência.

Definição. Transformada de Fourier de uma função f (t) é definida e representada como:


Z ∞
fˆ(ω) = f (t)e−iωt dt

e através da Transformada Inversa de Fourier conseguimos recuperar a f a partir fˆ:


Z ∞
1
f (t) = fˆ(ω)eiωt dω.
2π ∞

Embora a definição acima seja mais comum, iremos adotar a definição que está
no livro de Červený (2001), em que o sinal do termo da exponencial é trocado. Assim, a

8
transformada de Fourier definida é representada por:
Z ∞
fˆ(ω) = f (t)eiωt dt (2.8)
−∞

e Z ∞
1
f (t) = fˆ(ω)e−iωt dω
2π −∞

Aplicando a tranformada (2.8) a ambos os lados de (2.7), obtemos a seguinte


equação de Helmholtz:
 2
2ˆ ω
∇ f (ω) + fˆ(ω) = 0
c(x)
Piedrahita (2002) sugere a busca de uma solução na forma:

p(~x, ω) = P (~x)e−iωT (~x) fˆ(ω). (2.9)

A equação (2.9) é conhecida como expressão Anzatz onde P = P (~x), denominada


a amplitude da onda, é uma função de valores complexos e T (x) é o tempo de trânsito da
onda na posição ~x. Piedrahita (2002), sugere reescrever a expressão (2.9) para o domı́nio
do tempo, obtendo a seguinte equação:

p(~x, t) = P (~x)F (t − T (~x)). (2.10)

em que F (ξ) é a extensão analı́tica de f (t), definida da seguinte forma:

F (ξ) = f (ξ) + ig(ξ)


g(ξ) = H (f (ξ)), (2.11)

sendo que Z ∞
1 f (σ)
H (f (ξ)) = PV dσ
π ∞ σ−ξ
é a Transformanda de Hilbert de f (P V denota o valor principal de Cauchy). Observamos
que a solução dada pela expressão (2.3) é um caso especial da onda plana transiente
(2.10). De fato, se f (ξ) = cos(ωξ) então g(ξ) = −sen(ωξ), logo:

F (ξ) = f (ξ) + ig(ξ)


= cos(ωξ) − isen(ωξ)
= e−iωξ

e portanto:
p(~x, t) = P (~x)e−iω(t−T (~x)) . (2.12)

9
Como, em geral, podemos ter soluções P F (t − T (~x)) com parte real e imaginária,
tomamos p(~x, t) como sendo apenas a parte real:

p(~x, t) = Re{P F (t − T (~x))}, (2.13)

ou seja,
1
p(~x, t) = P F (t − T (~x)) + P ∗ F ∗ (t − T (~x)), (2.14)
2
sendo o asterisco denotado como a função do conjugado complexo. Note que qualquer
combinação linear da solução das partes reais e complexas (2.3) é também solução da
equação da onda acústica, de modo que p(~x, t) em (2.14) é de fato uma solução.

3 Equação Iconal e Equação de Transporte


Através da solução da equação da onda em meios acústicos com campo de velo-
cidades heterogêneos iremos deduzir a equação iconal e a equação de transporte. Dada
a solução na forma (2.12), iremos considerar a frente de onda t = T (~x) não necessaria-
mente na forma (2.4), ou seja a frente de onda pode ser uma superfı́cie curva. Tomando as
derivadas parciais para (2.12) temos :

∂ ∂ ∂
p= P (~x)e−iω(t−T (~x)) + P (~x)iωe−iω(t−T (~x)) T (~x) ∀i ∈ {1, 2, 3}.
∂xi ∂xi ∂xi

Denotando P (~x) = P e T (~x) = T então

∇p = ∇P · e−iω(t−T (~x)) + P iωe−iω(t−T (~x)) · ∇T,

usando a identidade vetorial ∇ · a~b = ~b · ∇a + a · div(~b) temos:

∇2 p = div(∇p)
∂ −iω(t−T (~x)) ∂
= ∇P e + e−iω(t−T (~x)) div(∇P ) + ∇T P iωe−iω(t−T (~x)) + P iωe−iω(t−T (~x))
∂xi ∂xi
= {∇2 P + iω∇ · ∇T + iωP ∇2 T + iω(∇P + iωP ∇T ) · ∇T }e−iω(t−T (~x)) . (2.15)

Inserindo a equação (2.15) na Equação de Helmholtz (2.2) temos:

2 2 −iω(t−T (~
x)) ω 2 −iω(t−T (~x))
{∇ P + iω∇ · ∇T + iωP ∇ T + iω(∇P + iωP ∇T ) · ∇T }e + 2 Pe =0
c
 
1
−ω P (∇T ) − 2 + iω[2∇P · ∇T + P ∇2 T ] + ∇2 P = 0
2 2
(2.16)
c
Como estamos interessados nas soluções para altas frequências (ω  0) então o

10
termo que não depende ω é desprezı́vel e portanto temos:

1
k∇T k2 = (2.17)
c2

2∇P · ∇T + P ∇2 T = 0 (2.18)

Essas equações são muito importantes para o Método do raio. A equação (2.17) é de-
nominada equação iconal e representa o tempo de trânsito da onda e a equação (2.18) é
denominada Equação de Transporte e representa a variação da amplitude espacial. Con-
forme verificado em Červený (2001), as equações (2.17)-(2.18) também são obtidas a partir
de soluções da forma geral (2.10).

11
Capı́tulo 3

Discretização da Equação Iconal

1 Método das Caracterı́sticas e Sistema Hamitoniano para


Equação Iconal
Neste trabalho será somente estudada a equação iconal. A equação iconal (2.17)
para propagação de ondas em meios heterogêneos isotrópicos é dada por:

1
k∇T k2 = , (3.1)
V ~
2 (x)

e pode ser representada em coordenadas cartesianas:

3
X 1 ∂T
pi pi = 2 (x
, onde pi = (3.2)
i=0
V i) ∂xi

sendo T = T (~x) o tempo de trânsito e pi as componentes do vetor de vagarosidade. A


equação (3.1) é uma equação diferencial parcial (EDP) não linear de primeira ordem para
T (~x). Para obter suas soluções utilizaremos o método das caracterı́sticas, que consiste
em transformar uma EDP em um sistema de equações diferenciais ordinárias (EDOs) que
a princı́pio são mais fácéis de se resolver. Vamos representar a equação (3.1) na forma
geral:
H(~x, p~) = 0 ~x ∈ R3 , p~ = p~(~x). (3.3)

Assumindo que existe solução para (3.3) então dado ~x ∈ R3 vamos procurar uma
curva γ de ~x em x~0 ∈ Ω (superfı́cie que se conhece a solução) de modo que a informação
contida em x~0 ∈ R3 seja transmitida em ~x.
Considere a curva parametrizada γ como sendo:

~x = ~x(u), (3.4)

12
u é algum parâmetro ao longo da trajetória, denotando a equação (3.3) como sendo:

Ĥ(u) = H(~x(u), p~(~x(u))) = 0. (3.5)

Existem infinitas curvas que passam por ~x e x~0 , por exemplo retas e arcos de circun-
ferências, porém estamos procurando pelo método da caracterı́stica uma curva γ em espe-
cial tal que Ĥ seja constante ao longo da curva. Para que isto ocorra teremos que impor a
derivada em relação a u de Ĥ seja igual a zero, ou seja,

3 3
d X ∂H dxi X ∂H d
Ĥ(u) = + pi (xi (u)) = 0. (3.6)
du i=1
∂xi du i=1
∂pi du

Se a curva parametrizada ~x(u) procurada é tal que:

dpi ∂H
=− (1 ≤ i ≤ 3), (3.7)
du ∂xi

então
3 3 3  
d X ∂H dxi X ∂H ∂H X ∂H dxi ∂H
Ĥ(u) = − = − . (3.8)
du i=1
∂x i du i=1
∂p i ∂x i i=1
∂xi du ∂pi

Portanto, para que a derivada em relação a u de Ĥ seja igual a zero, é suficiente


que o termo entre parênteses em (3.8) se anule, ou seja,

dxi ∂H
= (1 ≤ i ≤ 3). (3.9)
du ∂pi

Segundo Cerveny (2001), o tempo de trânsito T pode ser calculado em termos do


parâmetro u a partir da regra da cadeia:

3 3
dT X ∂T dxk X ∂H
= = pk (3.10)
du k=1
∂x k du
k=1
∂pk

Reunindo as equações (3.9), (3.7) e (3.10) obtém-se o sistema de equações diferenciais


ordinárias de (3.3) 
dxi ∂H
=


du ∂pi





 dxi
 ∂H
= i = 1, 2, 3. (3.11)
 du ∂pi
3



 dT X ∂H
 du = pk ,


∂pk

k=1

que é usado para determinar a trajetória dos raios e o tempo de trânsito ao longo das curvas
caracterı́sticas que foram definidos como raios da equação iconal. Esse sistema é também

13
chamado como sistema de equações de traçado de raio ou sistema de equações do raio.
O sistema de equações de traçado do raio pode ser interpretado como sendo um sistema
hamiltoniano na mecânica clássica.
Seja H(~x, p~) = 0 uma função Hamiltoniana pertencente R6 , as componentes ~x e p~
são coordenadas canônicas independentes. Conforme visto no método das caracterı́sticas,
iremos assumir que existe solução para função hamiltoniana, então as curvas paramétricas
em γ que procuramos para cada uma das componentes é ~x = ~x(u) e p~ = p~(u) pertencentes
a γ. Se a derivada com relação u da função hamiltoniana é igual a zero, obtemos o sistema
de equações canônicas de Hamilton (3.11), também chamadas de curvas caracterı́sticas
em R6 . A equação (3.2) pode ser escrita de várias formas, mas para aplicar o sistema
(3.11) iremos usar a forma geral do Hamiltoniana

3
! n2 
1 X 1 
H(~x, p~) = pi pi − , (3.12)
n i=1
V n (~x)

em que cada fator n ∈ R resulta em parametrizações diferentes. Aplicando (3.11) em (3.12)


temos as seguintes expressões gerais:
 ! n2 −1
3  
dxi dpi 1 ∂ 1

 X
(3.13)


 = pk pk pi , = n
, i = 1, 2, 3
 du
 du n ∂xi V (~x)
k=1
3
! n2
dT 1

 X


 = pk pk = n (~
,
 du
 V x)
k=1

identificando as caracterı́sticas como sendo os raios então o sistema (3.13) corresponde ao


sistema do traçado de raios para diferentes valores de n e consequentemente para diferen-
tes parâmetros u ao longo do raio. Agora iremos analisar como se comporta o traçado do
raio para valores particulares de n.
A equação (3.12), possui uma indeterminação para n = 0, devido a isto teremos
que aplicar a regra L’ Hospital para n → 0. Podemos reescrever a equação geral (3.12)
como: !n/2
3
X
V n (~x) p i pi −1
i=0
H(~x, p~) = ; (3.14)
nV n (~x)

14
pela Regra de L’ Hospital temos:

3
! n2 
d  n X
V (~x) pi pi − 1
dn i=0
lim H(~x, p~) = lim
n→0 n→0 d
(nV n (~x))
dn
3
! n2 3
! n2 3
!
X X 1 X
V n (~x)lnV (~x) pi pi + V n (~x) pi p i ln p i pi − 0
i=0 i=0
2 i=0
= lim
n→0 V n (~x) + nV n (~x)lnV (~x)
3
! 3
!
1 X 1 X
= lnV (~x) + ln pi pi = ln V 2 (~x) pi pi ,
2 i=0
2 i=0

e portanto temos que:



3
! n2 
3
!
1 X 1 1 X
H(~x, p~) =  pi pi − n  = ln V 2 (~x) pi p i . (3.15)
n i=1
V (~x) 2 i=0

dT
Agora podemos obter as equações para o traçado do raio para n = 0. Como du
= 1,
podemos tomar u = T e portanto o sistema do traçado do raio fica:
 !−1
3

 dx i
X
= pk pk pi , i = 1, 2, 3 (3.16)


dT

k=1

 dp i ∂
=− lnV (~x).


dT ∂xi

Se n = 1, então dTdu
1
= V (~
x)
. Neste caso o parâmetro u ao longo do raio é igual o
comprimento do arco s, u = s, devido a magnitude da velocidade em tempo de trânsito. O
sistema de traçado de raio é dado por:
 !− 21
3  
dxi dpi ∂ 1

 X
= pk pk pi , = , i = 1, 2, 3 (3.17)



ds k=1
ds ∂xi V (~x)
dT 1


= .



ds V (~x)

O traçado de raio mais simples é obtido quando n = 2. O parâmetro u, representado por σ


neste caso, não tem uma interpretação fı́sica ou geométrica. O sistema de equações neste

15
caso é   
 dxi dpi 1 ∂ 1

 = pi , = , i = 1, 2, 3 (3.18)
dσ dσ 2 ∂xi V 2 (~x)

 dT 1
 dσ = V 2 (~x) .

O próximo passo é resolver o problema de traçado de raio através do método numérico que
iremos ver na próxima seção.

2 Método de expansão de Taylor para o problema de traçado


de raio
Para resolver o problema de traçado de raio em meio um heterogêneo isotrópico
bidimensional (~x = (x, z)), iremos usar o método de aproximação de expansão da série de
Taylor. Iremos tratar três casos:
O primeiro caso para n = 0 do traçado do raio (3.16) levando em consideração
(3.2), será denotado da seguinte forma:
 !−1
3
d~
x (T )

 X
= pk pk p~(T ) = V 2 (x, z)~p(T ), (3.19)



dT k=1
d~
p (T )




 ~
= −∇lnV (x, z),
dT

~x(T ) é e o vetor posição das curvas que representa a trajetória, do raio em T ; ~x(T ) é o
vetor tangente a trajetória do raio em T denominado vetor de vagarosidade; V (x, z) é a
velocidade de propagação da onda no ponto (x, z) e T faz o papel do parâmetro do raio.
O segundo caso para n = 1, onde a parâmetro u = s do traçado do raio (3.17)
também será levado em consideração (3.2) e será denotado por:

 2
!− 12

 d~x(s) X
= pk pk p~(s) = V (x, z)~p(s), (3.20)


ds

k=1
 
d~p(s) 1


~
 ds = ∇ V (x, z) ,


~x(s) é o vetor posição do comprimento do arco das curvas medido ao longo da trajetória
do raio em s; p~(s) é o vetor tangente a trajetória do raio em s denominado o vetor de
vagarosidade; V (x, z) é a velocidade de propagação da onda no ponto (x, z) e o parâmetro
do raio Z t
s= V dt
0

16
pode ser interpretado fisicamente como o comprimento de arco, sendo t o tempo medido
ao longo da trajetória.
O terceiro caso é quando n = 2 que é o caso mais simples do traçado do raio (3.18)
que será denotado desta forma:

d~x(σ)
= p~(σ) (3.21)




 
d~p(σ) 1~ 1
= ∇ ,


V 2 (x, z)

dσ 2

~x(σ) é o vetor posição das curvas que representa a trajetória do raio em σ; p~(σ) é o vetor tan-
gente a trajetória do raio em σ denominado o vetor de vagarosidade; V (x, z) é a velocidade
de propagação da onda no ponto (x, z) e σ o parâmetro do raio. O parâmetro
Z t
σ= V 2 dt
0

não possui interpretação fı́sica. Novamente, t é o tempo medido ao longo da trajetória.


Aplicando a expansão da série Taylor de primeira ordem nos sistemas de equações
(3.19), (3.20) e (3.21), podemos aproximar os sistemas da seguinte forma:
Caso n = 0 
d~x(T )
~x(T + ∆T ) = ~x(T ) + ∆T = ~x(T ) + V 2 (x, z)~p(T )∆T, (3.22)


dT
d~p(T ) ~
∆T = p~(T ) − ∇lnV

 p~(T + ∆T ) = p~(T ) +
 (x, z)∆T.
dT

Caso n = 1 
d~x(s)
~x(s + ∆s) = ~x(s) + ∆s = ~x(s) + V (x, z)~p(s)∆s, (3.23)


ds  
d~p(s) ~ 1
 p~(s + ∆s) = p~(s) + ∆s = p~(s) + ∇ ∆s.


ds V (x, z)

Caso n = 2

d~x(σ)
~x(σ + ∆σ) = ~x(σ) + ∆σ = ~x(σ) + p~(σ)∆σ, (3.24)


dσ  
d~
p (σ) 1 ~ 1
 p~(σ + ∆σ) = p~(σ) + ∆σ = p~(σ) + ∇ ∆σ,


dσ 2 V 2 (x, z)

sendo ∆T ,∆s e ∆σ, é variação dos parâmetros, ou seja, ∆T = T − T0 , ∆s = s − s0 e


∆σ = σ − σ0 . As equações (3.22) (3.23) e (3.24) são usadas para calcular numericamente
cada passo da trajetória do raio. equações.
O tempo de trânsito ao longo da trajetória para equações (3.22), (3.23) e (3.24) é

17
dado por

dT dT
= = 1, para o caso de n=0,
du dT
dT dT 1
= = , para o caso de n=1 e
du ds V (x, z)
dT dT 1
= = 2 , para o caso de n=2,
du dσ V (x, z)

sendo calculadas numericamente a partir do momento que o raio sai de uma fonte S até
um dado ponto (xn+1 , zn+1 ) (há casos em que o ponto final é um receptor localizado em um
poço, em profundidade). O cálculo é obtido pela equação
n
X 1 ~ ~ i k2 ,
T (xn+1 , zn+a1 ) = kXi+1 − X
V
i=0 i

onde Vi é a velocidade pelo qual o raio passa no ponto Xi = (xi , zi ).

18
Capı́tulo 4

Experimentos Numéricos

Foram criados três algoritmos para traçado do raio implementado pelo pacote gra-
tuito OCTAVE, visando a comparação dos traçados de raio em um meio isotrópico hete-
rogêneos para o campo de velocidades bidimensional.
Para obter o traçado de raio precisamos que o campo de velocidade seja suave e
para isso usamos um polinômio de grau 3 dado por:

V (x, z) = C00 + C10 x + C01 z + C20 x2 + C11 xz + C02 z 2 + C30 x3 + C21 x2 z + C12 xz 2 + C03 z 3 ,

onde as dimensões do problema serão 32, 0 Km no eixo horizontal x e 4, 0 Km de profundi-


dade z, cujas velocidades estão entre 1, 0 Km/s e 6, 0 Km/s (AZEVEDO et al., 2016).
O experimento foi para os casos do traçado de raio (3.16) (3.17) e (3.18), contendo
~ 0 , z0 ) colocada na posição central da superfı́cie, com x0 = 16.0 Km e z0 = 0.0
uma fonte S(x
Km. Os parâmetros (T ), (s) e (σ) são iniciados em zero, com incremento do parâmetro
do raio em 0.015625 Km2 /s. O número de passos se inicia em 0 com número máximo de
passos de 6000. A direção inicial do raio é dada pelo ângulo θ e está é obtida pelo valor
em π radianos divido pelo números de raios (N R) que são 50 raios, ou seja, θ = π/N R. O
vetor de vagarosidade p~ = (p1 , p2 ), sendo as componentes de p~ dadas por:

p1 = k~pk2 cos(θ), (4.1)


p2 = k~pk2 cos(θ), (4.2)

em que a magnitude do vetor de vagarosidade é dada por k~pk = 1/V (x0 , z0 ).


A partir das condições iniciais podemos resolver o problema de traçado raio para
os três casos (3.16), (3.17) e (3.18). Os cálculos foram obtidos para cada um dos casos
através de:

19
Caso para n = 0

(
~x(∆T ) = ~x(0) + V 2 (x, z)~p(0)∆T, (4.3)
~
p~(∆T ) = p~(0) − ∇lnV (x, z)∆T ;

Caso para n = 1


~x(∆s) = ~x(0) + V (x, z)~p(0)∆s,

 
~ 1
 p~(∆s) = p~(0) + ∇
 ∆s; (4.4)
V (x, z)s=0

Caso para n = 2


~x(∆σ) = ~x(0) + P~ (0)∆σ,
 (4.5)
 
1 ~ 1
 p~(∆σ) = p~(0) + ∇
 ∆σ,
2 V 2 (x, z) σ=0

Os cálculos dos traçados de raios de todos o casos deverão ser efetuados em cada
iteração até atingir o número máximo dos passos. Foram gerados os seguintes traçados de
raios para três casos tratados no algoritmo feito em OCTAVE conforme as figuras a seguir:

Figura 4.1: Traçado do raio para o caso n=0

Observamos que o traçado do raio para o caso de n = 0, representado pela figura


(4.1), há uma quantidade maior de raios na posição da fonte x = 16.0 Km até x = 24.0 Km.
A medida que a velocidade aumenta podemos observar que o raios se tornam assimétricos,

20
~
isso ocorre devido ao termo ∇lnV (x, z) do vetor de vagarosidade e o campo de velocida-
des ser heterogêneo. A medida que a velocidade é baixa os raios tendem a chegar mais
rápido a fronteira do domı́nio e quando a velocidade é muito alta o raio tende a demorar a
chegar ao domı́nio da froteira. Podemos identificar que isso ocorre para raio que atingiu o
dominio em x = 2.0 Km. Referente ao tempo processamento do algoritmo teve o tempo de
4 segundos.

Figura 4.2: Traçado do raio para o caso n=1

Já o traçado de raio para o caso n = 1 representada pela figura (4.2), possui
também assimetrias dos raios isso também ocorre devido o termo do vetor de vagarosidade
~ 1 . O tempo de processamento do algoritmo teve pouca diferença em relação ao
ser ∇ V (x,z)
tempo do algoritmo para o traçado de raio para o caso n = 0, seu processamento foi de 6
segundos.
Agora os raios obtidos para n = 2 é o caso mais simples do traçado do raio, repre-
sentado pela figura (4.3), podemos verificar que os raios apresenta maior simetria que os
casos das figuras (4.1) e (4.2), a não ser por uma pequena assimetria quando o raio chega
ao domı́nio da fronteira em x = 6.0 Km e x = 24.0 Km, isso ocorre pelo fato do termo vetor
vagarosidade ser ∇ ~ 2 1 . Já para o caso mais simples do traçado do raio o processamento
V (x,z)
do algoritmo levou o dobro tempo dos outros dois casos que foi 15 segundos.

21
Figura 4.3: Traçado do raio para o caso n=2

Observação: foi possı́vel ajustar os incrementos ∆T , ∆s, ∆σ de modo que as


figuras 4.1-4.3 fiquem mais semelhantes umas às outras.

22
Conclusão

Em todos os casos concluı́mos que quando a velocidade é muito baixa os raios


tende a ser simétricos, mas a medida que a velocidade vai aumentando os raio tornam
assimétricos, isso por dependem do termo do vetor de vagarosidade de cada caso que foi
tratado neste trabalho.
Podemos então concluir que o traçado de raio para o caso n = 2 que é o mais sim-
ples, apresentou ser o melhor em vista aos outros casos de traçados do raios, embora tenha
um tempo de processamento maior. Esta diferença provavelmente se deve à diferença en-
tre os parâmetros de raio em cada caso, nas quais cada incremento de parâmetro leva a
um incremento diferente da trajetória do raio. Os raios tiveram um comportamento quase
simétrico para um campo de velocidades heterogêneo bidimensional, mesmo com o tempo
de processamento do algoritmo sendo o dobro dos demais casos. O método do traçado do
raio em vista de outros métodos como por exemplo o método diferenças finitas é o melhor
por ser de baixo custo computacional devido as soluções serem buscada ponto a ponto
através raio.
O objetivo desse trabalho foi estudar a teoria e realizar a implementação do traçado
de raios para os três casos, baseado na teoria assintótica do raio, analisando a trajetória
dos raios em um campo de velocidades heterogêneos. Para trabalhos futuros pretendemos
implementar o traçado do raio usando o método numérico de Runge-Kutta e também o
tempo de trânsito para criação do sismograma.

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Referências Bibliográficas

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quasi-monte carlo methods for seismic inversion. In: SBGF. VII Simpósio Brasileiro de
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PIEDRAHITA, C. Generalização do Método de Continuação no Traçamento de Raios


Utilizando o Conceito dos Autômatos Finitos. Tese (Doutorado) — Universidade Estadual
de Campinas - Departamento Matemática Aplicada, Campinas/SP, 2002.

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