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—R MOK EI Croquis: Rafael Moneo, 1990-1994, n. 64, 1994, RAFAEL MONEO ... Em toda minha experiéncia como arquiteto, nado lembro de ter dedicado maior aten- cao a algum projeto em especial, em detrimento de outros. Nao tive “projetos favoritos”, nem projetos que conclui com relutancia. Tenho a impressao de que enfrentei todos os projetos com semelhante am- bicao e dediquei a cada um deles o mesmo empenho. Talvez isso tenha a ver com uma atitude diante da obra em si, atitude essa cuja intengao nao é tanto Propor uma linguagem ou um método de trabalho, mas sobretudo desenvolver ideias que resolvam os Problemas especificos de cada projeto. Eu nao quero cair no ridiculo do equivoco linguistico, sensagao ; lar algumas que muitas vezes temos a0 contemp! “va de arquiteturas recentes, destruidas pela a identificar paradigmas, esquecendo dos verdade! OY RAFAEL MONEO problemas. Interessa-me mais alcancar a solidez Jip, guisticae conceitual, dar ao projeto urna Capacidary, de sobrevivéncia... ALEJANDRO ZAERA-POLO Em algurnas oportunidades wing destacou a importancia do “cliente” no desenvolvirnert,, de um projeto. De que modo articula a influéncia dele em suc obra? RM Isso tem a ver com a solidez da obra a que me re. feria, comas possibilidades de ela sobreviver. O cliente proporciona a ancoragem da obra na sociedade. E ele, seja uma pessoa ou uma institui¢ao, que vai enraizar a obra na sociedade, que vai dar sentido a determinado lugar... Ter um bom cliente nos da a sensacao de que a obra é desejada, de que, apds sua conclusao, sera amparada e protegida por um amplo setor da socie- dade. De certo modo, é 0 cliente que garante a durabi- lidade da obra, seu éxito e sua permanéncia. Por outro lado, o cliente e sua influéncia me in” teressam como o fator que retira a obra do contexto restrito da elite dos arquitetos, ao qual algumas obras as vezes ficam presas. Interesso-me cada vez mais por projetos capazes de se vincular a um vasto espe tro social; projetos que nao s4o autossuficientes, que ndidos~ ece um as uma prep= nid? nao sao feitos exclusivamente para os ente Um arquiteto como Steven Holl, que me par Projetista delicado e sutil, oferece em suas obi: espécie de montagem, quase cinematografica, rada, por assim dizer, para o consumo do ente 9 em arquitetura. Sua pesquisa esta muito voltada 4 2 50-51 consumidor de arquitetura - alguém que a consome como consumiria vinho ou drogas. Em minha opiniao, a arquitetura nao deve ser feita apenas para connaisseurs. Parece-me que parte = do que acabo de dizer sobre a obra de Steven Holl também ocorre com os bares de Barcelona, feitos para gente educada na frui¢ao da arquitetura. Tam- bém nao acho que temos de ir para um extremo e tornar a arquitetura algo evidente. Digamos que ela se presta a receber um olhar atento, mas nao deve impor ansiosamente sua presenga. AZ Se para vocé o cliente 6 um elemento importante de contextualiza¢ao social do projeto, qual é sua atitude em relagGo ao contexto material? De que modo articula as relacées entre o projeto e seu contexto? RM Obviamente 0 contexto arquitet6nico é um fator decisivo para um projeto. Mas eu gostaria de insistir aqui que nao entendo o projeto como algo que com- pleta ou que é mera continuacao do presente. O que realmente gera um projeto é uma ideia que opera sobre ©contexto, social ou material, de modo especifico, mas que nao é uma simples consequéncia do existente. Para mim, essa ideia primeira, a definicao de uma estratégia adequada, é crucial para a consisténcia de um projeto. E muito importante que uma arquitetura esteja bem orientada desde o inicio, no sentido de dispor a organ 2a¢a0 do edificio da maneira mais oportuna, mais ao Para resolver o problema colocado por ele. Estabelecer, Por exemplo, o tipo de relagao que vai manter com O ————

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