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Categorias da (critica da} Economia Politica Jé sabemos que a Economia Politica estuida as relagies socinis que o homens estabelocem na prague dos bens que asseguram a manutengioe teproducio da vida social — e, pois, que o objeto da Economia Politica histérico, E 6a analise histérica do seu objeto quea Economia Politica extrai as categorias cam as quais o trata, categorias que devem ser compreendidas num dupio sentido: ontologice ¢ reflexive (ou intelectivo). Elassaoontolégicns na medida em que tem existéncia real, histérico-cor- # elas si0 formas, modos de existéncia do ser social, que funcionam € ‘peram efetivamente na vida em sociedade, independentemente do conhe- Cimento que tenham 0s homens «seu respeito. Quando, através da teflexio, do pensamento racional, da andlise teérica, os homens tomam eon: | reproduze-las, o:seu dinamésmo e nas suas relagies, atra- os conavituais, entio elas aparecem come prodiito do pensamen- dy a forma de Categorias reflexions. -exemplo banal pode clarificar esse ponto. O leitor sabe lidar com @ ) expresso imediata de uma categoria da Economia Politica, o tutor: realiza com ele varias operagies, compra, veride, nio é enga- ‘pis Wocas, revela-se euidadoso com seu orcamento pessoal, pede vempréstimosé até talvez taca algum investimento;entretanto, selhe NOS queconectasse 0 dinhelro com o valar, que nos dissesse quaisas ngGes econdmicas, esclarecesse suas relaghes com 6 trabalho e a pro- le ou narrasse comoele se constituin historieamente ete., comcerteza or se sentiria embaracado, Olwerve-se- 0 seu desconhecimento tesrico impede que manipule adequadamente o dinheiro — uma das expressiies tas do valor —nem, por outro lado, impede que este prossiga desem- indo at suas funges na vida social, Numa palavra, aquilo que o di- expressa, 0 valor, como categoria onloligica, existe e opera objetive- na vida do leitor e na vida da nossa sociedade, incependentemente mento: rigorose (reflexive) que se tenha acerea dele. £ a que se ‘com 0 conjunto das categorias econdmicas: seu desconhecimento te6- iynio impede que, na pratica sacial, os homens estabelegam edesenvolvam es econdmicas Pois bem: neste capitulo, trataremos de explicitar algumas (@é necess- frisar: apenas algunas) categortas basieas da Economia Politica e da sua ritica € de faze' niferéncias historicas indispensdveis para avancar na nossa imentagso. Actonge dos priximos capitulas, como o leitor tera oportt- dade de verifieats muitas outras categorias sere levadas em conta. ancl ‘delos, conseguindo aprender a sua estrutura fundamental (a sua : ‘ esséncia) a Partir da visibilidade imediata que apresentam (a sua apnizincia)! — quando, .1. A comunidade primitiva e 0 excedente econémi |.Nodimbitoda Economia Politica, como emaquakquee tesa tio te na apres um pode portale avanga, pa va toda cia seria supe se» fomma de manifesiocaoc a esatneia das coats 27 yxletato sea opasincia das coins (ua forma obscrvt-as minuciosaspente para const las —¢ ‘veld imitesdaexperiincs xadoxal qua Tera gre a0 rae da Sole que a dgua sch 2 probes documento tiene da sérapo, para aleangars ex ine sem im elistamte (Mar 1268 2, dese manufestar mactrassea sun essércia, basta ‘Sebiprove-srquetseo nine yerdade:matsnidacacomctinentsentfe ‘que lid com as prance [a] Foi ha cerca de uns quarenta mil anos — culminando uma evolugio de nilhares de anos — que os primeitos grupos propriamente humanos surgi forma pr dos pines atmserte Mam Avels As verdackes Gntiicas-cerdo sempre paradoxals algo pela xpenténcia de tadorox as, qualsomenteeaptaa apurénciaengarindatadas cos (Marx, 19825158), ‘am sobre a Terra, Habitando dreas diversas, esses grupos distintos graus de evoltcao social, no entanto, é possivel afirmar que p ‘mais de trinta mil anos viveram em estigios prévios ao que genetica sedenomina civilizacao, cujoaparecimento inicial deu-se as margens do! edo Eufratese na india ena China. ‘© regime social em que viviam esses grupos humanos pode ser d ‘nado como 0 da comuiidade primitica: os abrigos éram extremamente tos @ alimentagio obtinha-se através da coleta de vegetais e da caca eventual imperava 0 nemadismo, Com a produgio de instrumentos menos grosseiro que machadas de pedra e, depois, cada vex mais aperieicoados (0 arco ¢ a. flecha, redes de pesca, canoas-e remos), assim como os primeitos rudimente de agricultura, aqueles grupos foram, poucoa pouca, amenizando a condica de pemuiria geral em que decortia a sua existéncia. Essa pencria devia-se ab {ato de tais grupos consumirem imediatamente 0 pouico qué podiam obter ‘bom 0s seus esforgos —ndo conseguiam mais que sobrevivera duras penag,: Asatividades de seus membros eram comuns (a coleta, a caga,a pesca), seus. resultados eram partilhados por todos e nao havia propriedade privada de nenhum bem. Nesse “comunismo primitivo”, em que imperavam a igualda- dde resultante da caréncia generalizada e a tistribuicdo praticamente equitae iva do pouco que se produzia,-a diferenciaggo social era minima; nao mais que uma repartigav de atividacies entre homens (cagadiores}¢ mulheres (que coletavam e preparavam os alimentos), A comunidade primitiva perdurou por mais de trinta mil anos. Gtadualmente, porém, gestaram-se no seu interior os elementos que respon- deriam por sua dlissolucio, Entre esses elementas, dois sao particularmente importantes: domesticarao de aninais ¢ 6 surginentovda ngricultunn. As com nidades que avangaram ness diregio logo se dist inguiram das outras, de- ddicando-se ao pastoreic-e ao cultive de terras, com a que deixaram 0 noma- dismo e passaram a vincular-se a:um territério (ou seja, tomaram-se seden- Manas). Esse processo — que, segundo as informagées antropolégicas, consoliclourse entre 5.500 @ 2.000 antes de Cristo — acarretou significativas transformagdes na relacio dessas comunidades com a naturéea: aperfeicoa- dos os instrumentos de trabalho, inclusive com 0 uso de metais e a desco- berta de suas tigas, os homens comecaram a controlar o tempo (as estaces do ano, « intervalo entre semeadura e colheita) ¢.algumas forcas naturais (a inrigacia). No interior das comunidades, as tarelas agricolas (0 pastoreio, « tive) diferenciaram- se dag velas que instauraram oartesanate (a fabricagso lutensilios de cerdmica ¢ de metal, rodas e veiculos rudimentares ¢ dos i . A principal transformagao, porém, residiu ne fate de, nessas comuni= ‘5 resultados da agio do homem sobre a natureza permitirem uma cdo de bens que ultrapassava as nécessidades imediatas da sobrevi- dos seus memibros. Os progressos no proceso de trabalho (as habili- adquiridas pelos homens, @ aperfeignamento dos seus instrumentos, i i c te necessériog & manus ivo: dele provinham mais bens que es imecliatament mai Jo lo grupo. Numa palavra, estava surgindo 0 excedente econdmico: a ie i para cobrir suas ne- ‘eessidades imediatas, O excedente econdmico — que alguns economistas designam simplesmente comocrcadente—, “na definigio maisbreve possivel, 4 diferenga entre 0 que a sociedade prosiuz e os custos dessa produgdo. © volume do excedente € um indice de produtividade ¢ riqueza [..]" (Baran e Sweezy, 1974, p. 19). surgimento do excedente econdmico, que assinala 9 aumento da produtividade do trabalho, opera uma verdads revolugio na vida das ‘comunidades primitivas: com ele, nao $6 a peniria que as earacterizava comesa a ser reduzida, mas, sobretuide, aparece na histéria 2 possibilidade de wea muter os produtes do trabalho. Dois efeitos loge se farao sentir. Deum Jado, junta com uma maior divisdo na distribuigéo de trabalho (0 artesa~ nate avanga ¢ se°torna relativamente mais especializado}, produzem-se hens que, naa'sendo utilizados no autoconsumo da comunidade, desti- ‘nam-se a troca com outras comunidades — esta nas srendoria e, com ela, as primeicas formas de troca (comércio). De outro, a possibilidade: da acumulagéo abre a alternative de explotar o trabalho humane; posta a exploragio, a comunidade divide-se, antagonicamente, entre aqueles que produzem o conjunto dos bens (os produtores divetos)e aqueles que se apro- priam dos bens excedentes (os aproprindores do fruto-do trabalho dos pro dutores diretos). ‘Quando essa pussibilidade(deacumulagio) ealternativa (de exploragao} se tomam efetivas. a comunidade primitiva — com a propriedade ea apro- priagao coletivas que the eram inerentes — entra em dissolusao, sendo ‘substituida pelo escravismi, 2.2. Forgas produtivas, relacdes de producdo e modos de producio. O surgimento do excedente econdimico sinalizow historicamente um ‘enorme desenvolvimentodo processo de trabalho, gracas aoquall a producao. cle bens ultrapassou as necessidades imediatas da comunidade. ‘Ota, a producio de bens, qualquer que seja ela, realiza-se através de Processo de trabalho, que envolve os seguintes elementos: a} os meios de trabalho — tude aquito de que se vale © hoenem para tras bathar (instrumentos,ferramentas, instalagGes etc), bem como a terra, que & um meio universal de trabalho: bys objetos da tratalio — tudo aquilo (matérias naturais brutas ou mas) terias natucais jé modificadas pela acao do trabalho) sabre que incide o tra- balho humano; ¢) a forge de frabaifio — trata-se'da energia humana que, no process de trabalho, ¢ utilizada para, valendo-se dos meios de trabalho, transformar ag objelos de trabalho em bens titeis& satisfacdo de necessidades? . © conjunte desses elementos designa-se por forgas produtivas: Se a producdo depende da existéncia dos meios e dos: abjetos de trabalho — que. Constituem os mrrios de produpdo —, €a intervengao da forea de trabalho que 4 Viabiliza, De fato, a forca de trabalho (vale dizer: acapacidade dos homens operarem os meins de produce) ¢ a mars preciosa das forcas produtivas: afinal, sio os homens que, através do aciimulo de geragdes, aperfvigoam e inventam instrumentos de trabalho, descobrem novos abjetos de trabalho, adquirem habilidades ¢ conhécimentos, Na forga de trabalho, o cariter his- térico das forgas produtivas revela-se de maneira privilegiada: o erescimten:_ toda produtividade do trabalho (isto 6, @ abencao de tne prixduto maior com & oipregocda mesma magnitude de trabalho) depenede da forga de trabalho, cla sua capacidade para mobilizar pericia e conhecimentes (quanto mais verdadeicos, Tigor0s0s e cientificos, mais eficientes).* 2A fordle ral nega uma niempregads n;peaccisde labia, nSodevesexcomdundida ‘ome tatvlo eorliande, que Ee prestutosa aplcaciid force tral), - 23.Gestngue decontevimentodispontvel nia socessdeaplian potecal das fargaspeedt- "as nace que, pos media de rence, pode ser liad na produc ho materi! —pes ee, ‘quandosunge.aciéncia pode ser considurda una for prosatina ints, w observar que ele surge vineulade a reparticio do trabalho, Antes do aparecimentodo excedente econdmico,na comunidad primitiva enciarim-se as atividades de homens e mulheres — a divisdo sexual 6 forma da reparticio do trabalho; posteriormente, di | trabalho entre o artesanato ¢ as ocupacées agricolas, num proceso que, uito mais tarde, desembocaria na divisdo entre cidade e campo ena gran- Je clivagem entre atividades manuais ¢ atividades intelectuais. Com efeito, ‘vmedida que se desenvolve a capacidade produtiva da sociedade (e, com o volume do excedente),¢3ta divide as vcupagbes necessdrias 4 produgio bens entre seus membros — instaurando a divisda social do “que avanca tanto mais rapidamente quanto mais os bens produidas, dei- “xando 0 limite do autoconsumo das comunidades, destinam-sea troca.Cabe _pssinalar que essa divisio reparte 0 trabalho em especialidades (a olaria, a Jabricacéo de armas etc.), mas nao reparte cada especialidade em operagies Jimitadas (o-oleiro-controla todasas fases da produgao deuma antora); esta {iltima repartigso-s6 ocorrers muito ulteriormente ea ela nos referiremos no momento oportuno (Capitulo 4, item 4.5), Retomemos as foreas produtivas: elas nao operam num vaicuo—operam, no marco de determinadas celagies j# que, como vimos no Capitulo 1, 0. trabalho & porsua propria condigao, um pracesso social, ainda quando tea izado individualmente: as forgas produtivas operam dentro de relaghes: “determinadas entre os homens e 2 natureza ¢ entre os préprios homens, Realmente, as fércas produtivas inserem-se em relagdes de carsiter téenicn e: felacdes de cardter social, estreitamente vinculadas e que constituent as fe lagdes de produgio. ‘As relagies técnieas de produgio dependem das caracteristicas téenicas do, processo de trabalho (o grau de especializacao do trabalho, as tecnologias empregadasete,)¢ dizem respeito av controle ou dominio que os produtores diretos t2m sobre os meinsde trabalho-e sobre o pracesso de trabalho em que ‘estio envalvidos, Maselas se subordinam as relacies socicis de predupdo, que as especifica histovicamente # que sio determinadas pelo fegimr de proprie= dade dos meios de producio fundamentais. Se a prvpriedade dos mies de pro itugdo fundaynentais ¢ coleriva (como na comunidade primitiva), tais relagies sio de cooperacao ¢ ajuda miitua, porque os produtes do trabalho sto des frutados coletivamentee nenhum membrodo grupo humano se apropriado

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