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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


Num. Processo : 0003848-55.2014.8.05.0271
Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : GBARBOSA CENCOSUD BRASIL COMERCIAL LTDA
Recorrido(s) : RODOLFO FERREIRA DA COSTA

Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - VALENÇA

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

VOTO-E M E N T A

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS


MORAIS. ALEGAÇÃO DA PARTE AUTORA ACERCA DA EXISTÊNCIA DE CORPO
ESTRANHO EM PRODUTO ALIMENTÍCIO. AUSÊNCIA DE RISCO CONCRETO À
SAÚDE DA PARTE AUTORA. PRODUTO NÃO INGERIDO. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. MEROS ABORRECIMENTOS. EXCLUSÃO. SENTENÇA
REFORMADA.
.Trata-se de recurso inominado interposto por CENCOSUD BRASIL COMERCIAL
LTDA, contra sentença que julgou parcialmente procedente a ação, nestes termos:
“Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE, EM PARTE, O PEDIDO AUTORAL, com fundamento nos
artigos 12 e 13 da Lei 8.078/90. Consequentemente, condeno as rés, solidariamente, a pagarem ao autor a
quantia de R$4.000,00 (quatro mil reais), a título de indenização por danos morais, a ser corrigido na
forma da Súmula 362 do STJ, a contar da data do arbitramento, e juros de mora a contar da citação.”.

1. Alega a parte autora que adquiriu junto às empresas demandadas produto


consistente em uma barra de chocolate, fabricado pela 2ª demandada, e que , ao abri-lo,
teria constatado a presença de “larvas cheias de óvulos”.

2. A recorrente busca a reforma da sentença, suscita preliminar de ilegitimidade


passiva, bem como alega a incompetência absoluta dos juizados para o julgamento da
causa diante da complexidade da prova a ser produzida, e no mérito, aduz que não há
provas acerca do quanto alegado pela parte autora, bem como inexiste nexo de
causalidade entre o dano que alega ter sofrido e a conduta imputada, inexistindo, por
conseguinte, dever de indenizar. Impugna, de igual modo, a existência de danos morais,
diante da ausência de provas acerca da ocorrência de eventuais constrangimentos.
3. No que tange à preliminar de incompetência absoluta dos juizados especiais
para o julgamento da causa, pela complexidade da prova a ser produzida, rejeito-a,
existindo nos autos elementos suficientes para o deslinde da causa, prescindindo da
realização de perícia.

4. Quanto à preliminar de ilegitimidade passiva argüida pela recorrente, rejeito,


tendo em vista que a mesma disponibiliza os produtos alimentícios para venda em seu
estabelecimento, auferindo o lucro da atividade, integrando portanto a cadeia de
fornecimento do mesmo e devendo ser responsabilizada por eventuais danos causados
aos consumidores.

5. No mérito, razão assiste à recorrente. .Em que pese o quanto alegado pela
parte autora, as provas colacionadas aos autos não demonstram a ocorrência de qualquer
prejuízo a ela advindo, pressuposto essencial para a configuração da responsabilidade
civil.Com efeito, a priori, do quanto consta dos autos, não há como aferir, com razoável
margem de segurança, a existência do mencionado corpo estranho aventado pela autora,
apenas com base nas fotos juntadas no evento 01.

6. Ad argumentantum, ainda que se tratasse, efetivamente, de um corpo


estranho, tal fato, por si só, não tem o condão de gerar danos morais, aptos a ensejar a
reparação pretendida. Para que surja o dever de indenizar pelos danos morais, se faz
imprescindível a existência de fato concreto potencialmente danoso aos direitos da
personalidade, o que em absoluto não fora demonstrado e nem provado nos autos.

7. Ademais, a jurisprudência pátria posiciona-se no sentido de que, quando


inexistentes nos autos prova de efetivo prejuízo decorrido à parte autora, quando ausente
a ingestão do mesmo, inexistiu o risco concreto à saúde do consumidor, pelo quê não há
que se falar em dano moral. Nesse sentido:

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. REPARAÇÃO DE


DANOS MORAIS. PRODUTO ALIMENTÍCIO. CORPO
ESTRANHO. INSETOS. INEXISTÊNCIA DE RISCO
CONCRETO À SAÚDE DO CONSUMIDOR. DANO MORAL
NÃO CONFIGURADO. RECURSO DESPROVIDO. SENTENÇA
MANTIDA. (Recurso Cível Nº 71005797097, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luís Francisco
Franco, Julgado em 25/02/2016).

8. A esse respeito, inclusive, se manifesta o Des. Sérgio Cavalieri Filho, abaixo


transcrita: “Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade interfira no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada está fora da órbita do dano moral, pois fazem parte do
nosso dia-a-dia... Se assim não se entender, acabamos por banalizar o dano moral, ensejando
ações judiciais em busca de indenização pelos mais triviais aborrecimentos”.

9. . Em suma, não restou caracterizada significativa ofensa à honra ou esfera


íntima da parte autora capaz de ensejar pagamento de indenização por dano moral, mas
mero contratempo, fato corriqueiro no dia-a-dia de cada um de nós. Posto isto, indefiro-o.

10. ISTO POSTO, voto no sentido de CONHECER DO RECURSO E NEGAR-


LHE PROVIMENTO, para reformar a sentença e julgar improcedentes os pedidos.
Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.

Salvador, Sala das Sessões, 21 de Julho de 2016.


BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE
Juíza Relatora
BELA. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA
Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Num. Processo : 0003848-55.2014.8.05.0271


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : GBARBOSA CENCOSUD BRASIL COMERCIAL LTDA
Recorrido(s) : RODOLFO FERREIRA DA COSTA

Origem : VARA DO SISTEMA DOS JUIZADOS - VALENÇA

Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

ACÓRDÃO

Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e


Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE – Relatora , CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ e
ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA, Presidente, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. de acordo com a ata do julgamento.
Sem custas processuais e honorários advocatícios, pelo êxito da parte no recurso.

Salvador, Sala das Sessões, 21 de Julho de 2016

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
Bela. ISABELA KRUSCHEWSKY PEDREIRA DA SILVA
Juíza Relatora

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