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do por qualquer meio sem dele nto pode ser reprodt alto D5B5e Yuldle, George ‘A conveniéneia da cultura: usos da cultura ea era global / George Yodice; tadusto de Mane-Anne Kremer. - Belo Horizonte: Editors UFMG; 2004 615 pi @tumanias) Incl seferéncas, ‘Titulo original: The expediency of culture: uses of culture in the global ers ISBN: 85-7041-438-2 1. Cultura. 2, Politica cultural 3. Globalizagio — Aspectoe soci ‘Titulo ML. Kremer, Marie-Anne. cpp: 306 DU: 316.7 ‘entral de Controle de Qualidade UFMG. 316.7 Yode B022568 ‘SAOBORJA 46/01/2013 ‘0045164 EDITORAGAO DE TEXTO: Ana Maria de Moraes REVISAO DE TEXTO E NORMALIZAGAO: Maria do Carmo Leite Ribeiro REVISAO DE PROVAS: Maria do Carmo Leite Rubeito, Rubia Santos Santa Fé FORMATAGAO E PRODUGAO GRAFICA: Eduardo Ferreira CAPA: Montagem de Cissio Ribeiro IMAGES DA CAPA: Dealhe de “La nube’/"The cloud” [A nuvem", de Alfredo Jase. {nste2000. Fotografia de George Yédice. EDITORA URMG wunveditrz.uimgbr editom@ulmg.br Georce Yopice TENA MAXIMO CUIDAGO COM ELE PORQUE APOs Wace OUTROS PRECSARAD USO TAMBEM, A CONVENIENCIA DA CULTURA USOS DA CULTURA NA ERA GLOBAL TRrapucao Mari€-ANNE KREMER Belo Horizonte Editora UFMG 2006 AUDUINY CUMIaL MIMHIGa @ UHEICHp IULaL LUM @ auunuiiouayay € 0 investimento transnacionais. Isso nao significa que os efeitos dessa cultura transnacional crescente — evidente nas industrias do entretenimento e na assim chamada sociedade civil global das ONGs — sejam homogeneizados. Diferencas regionais ¢ nacionais, entendidas como campos de forca dife- rentemente estruturados que formam o sentido de qualquer fendmeno — de uma can¢do pop ao ativismo ambiental ¢ anti-racista — sao funcionais para 0 comércio € o ativismo globais. 2 Em recente encontro internacional de especialistas em politica cultural, uma funciondria da UNESCO lamentou 0 fato de que a cultura € invocada para resolver problemas que anteriommente eram da competéncia das Areas econémica e politica, No entanto, ela prosseguia, 0 tinico meio de convencer os lideres governamentais e empresariais de que vale a pena apoiar a atividade cultural € argumentando que ela reduz os conflitos sociais e promove 0 desenvolvimento econémico (Yidice, 2000b: 10). Este livro visa fornecer uma compreensio, além de uma série de ilustracdes, de como a cultura, enquanto recurso, ganhou legitimidade € deslocou ou absorveu outros. conceitos a ela conferidos. Permita-me enfatizar desde ji que nil estou reprisando a critica de Adomo € Horkheimer no que conceme aos bens de consumo e sua instrumentalizagao, Conforme explico no Capitulo I, a cultura como recurso é muito mais do que uma mercadoria; ela € o eixo de uma nova estrutura epistémica na qual a ideologia e aquilo que Foucault denominou sociedade disciplinar (isto €, a imposi¢ao de nommas a instituigoes como a educacional, a médica, a psiquidtrica etc.) sio absorvidas Por uma racionalidade econdmica ou ecol6gica, de tal forma que 0 gerenciamento, a conservagio, 0 acesso, a distribuigao € 0 investimento — em “cultura” e seus resultados — tornam-se prioritarios. A cultura como recurso pode ser comparada & natureza como recurso, especialmente desde que ambas negociem através da moeda da diversidade. Pense em biodiversidade! incluindo © conhecimento tradicional e cientifico que dela se tem, que, segundo a *Convencio da Diversidade Biolégica”, precisa ser rotegida € conservada a fim de “manter (.,.) seu potencial de atender as necessidades e aspiragdes de geracdes presentes € futuras” (“Convengao 5"). Levando em consideragio a propensio da empresa privada em buscar lucros a todo custo, a tendéncia de nagdes desenvolvidas de ter vantagens sobre os paises em desenvolvimento, a legitimidade do conheci- mento cientifico maior do que a do tradicional, a poluicio sempre crescente, ¢ assim por diante, entio a questio principal ais solicita € o gerenciamento de recursos, de conhecimentos, de tecnologias, € 0 risco proveniente desses itens, definido de varias formas. A cultura, para a maioria das pessoas, nfio evoca a mesma vurgéncia no combate a ameaca de morte, embora sefa verdade que muitos lamentam a devastag2o que 0 turismo, 0 fast food [comida rapida} e as industrias de entretenimento global provocam nos estilos de vida tradicionais. Entretanto, mais recentemente, os mesmos administradores de recursos globais “descobriram a cultura”, € referiram-se, pelo menos verbalmente, 2s nogdes de manutengio cultural ¢ investimento cultural. Por um lado, chegou-se ao senso comum que, para preservar a biodiversidade, as tradicdes culturais também precisam ser mantidas. Por outro lado, debate-se — ou até mesmo, acredita-se — que o investimento (sensivel a0 género € raga) em cultura fortalecerd a fibra da sociedade civil, que, por sua vez, serve de hospedeiro ideal para o desenvolvi- mento politico econdmico. Nem sempre € facil fazer com que ambos os aspectos — sociopoliticos ¢ econdmicos — de gerenciamento cultural cheguem a um acordo sem problemas ou contradicées. Considere, por exemplo, que ao aceitar as formas ocidentais, de legislacao a fim de proteger suas tecnologias (por exem a engenharia das variedades de grios) e praticas cultu (por exemplo, as pinturas oniricas dos aborigenes), povos nao ocidentais podem softer transformagdes ainda mais répidas. Se determinada tecnologia ou um certo ritual nao é comu- mente incluida(o) como forma de propriedade protegi apelacio a legislacao ocidental para assegurar que terceiros nao se aproveitem dela quase certamente acarretard na acei- tacao do principio de propriedade. O que acontecera quando formas no ocidentais de conhecimento, tecnologia e priticas culturais forem incorporadas & lei de propriedade intelectual & de direitos autorais? Ser que a venda da cultura “inaliendvel” se tornard algo parecido com a venda de licenga de poluicao nos Estados Unidos, pela qual, companhias que reduzem sua emanagio t6xica podem vender os direitos de emissio de tais poluentes do ar? Cada vez mais, tanto nos recursos culturais quanto nos naturais, gerenciamento € 0 nome do jogo. Enquanto eu abertamente identifico vilées € herdis neste livro, a maioria das situacdes que examino so mais complexas, Alguns leitores dos meus manuscritos se perguntavam se eu nao estaria sendo pessimista a respeito das perspectivas dos movimentos sociais. Um leitor anénimo observou que “con- clusées preventivas tém mais peso do que a politica comunitaria do trabalho cultural”, Estou, certamente, emitindo uma nota de precaugio no que tange a celebracao da agéncia cultural, {0 preponderante no trabalho dos estudos culturais, Mas essa Precaucio nao é resultado de um desejo de ser desmancha- prazeres; ela decorre de uma nogao diferente de agenciamento, Para alguns, os relativamente “sem poder” podem extrair forca de sua cultura para enfrentar a investida violenta dos poderosos. Para outros, 0 contetido da cultura em si é quase irrelevante; ‘© que importa € que ela escora uma politica de mudanga. Ao mesmo tempo que essas perspectivas podem ser bastante atraentes, € também verdade que a expresso cultural em si nao é suficiente. Nesses debates, € bom munir-se de sélido conhecimento acerca das complexas maquinagées envolvidas ‘no exame de uma agenda vista através de uma gama de instancias intermediarias, situadas em diversos niveis, povoadas de outras agendas similares, que se sobrepdem ou se diferenciam. Os Pesquisadores dos estudos culturais muitas vezes enxergam a agéncia cultural de forma mais circunscrita, como se a expresso ou a identidade individual ou grupal em si levasse & mudanga. Mas, como Iris Marion Young aponta: “Nos nos encontramos situados em relagdes de classe, género, raga, nacionalidade, religiao e assim por diante, (dentro de uma ‘dada historia de significados sedimentados e uma paisagem ‘material, interagindo com outros no campo social’) que so fontes tanto de possibilidades de ac4o como de coacio" (2000: 100) Os ativistas negros participantes do Grupo Cultural Afro Reggae, cujo ativismo cultural eu examino no Capitulo V, nao conseguem simplesmente se estabelecer sem negociar com ativistas sociais oficiais, pessoas de destaque da comunidade, representantes da Igreja, jornalistas, advogados, académicos, empresérios, filantropos, induistrias do entretenimento e da misica, grupos de solidariedade internacionais, e represen- tantes de fundagdes. Eles precisam trabalhar, algumas vezes com estratégias diferentes, em varias frentes. E cada um dos militantes com que eles se confrontam em determinada situaca0 5

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