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TRATADO ›
DAS

cQREs
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à.
-"TRA TADO 'Ep
DAS

QUE CONSTA DE TRES' PARTES .

ANALYTIOA, sYNTHETICA,
HERMENEUTICAz
OFFERECIDO
Aos AMADORES DAS SclENcIAs NATURAEs, E A os
DILEcTANTEs, E ARTISTAS, QUE cOMEçAõ '
A OccUPAnÍsE EM TODO o GENEBO
DE TRABALHO COLORIDO:

POR

DIOGO DE CARVALwÊMPAYO,

cAvALHÉIRO DA oRDEM DE MALTA.

`MALTA
Na Officina Typographica de S. A. E. /
Impreffor Fr. Joaõ Mallia
MCCLXXXVII.
Com licença dos Superiores.
- Hujus ením ígnorantía quam plurímos, labore non exí
guo, fed inani tamem, exercuit ~ NEWT. 011:. par. [ceu/ui.
SNT. _prz'rn`
vPREFAcho h

E STE breve Tratado naõ he outra coulã


mais, que huma clara expofiçaô das min
has ideas, a refpeito das Cores, na mefma
ordem, com que ellas fe me prefentáraô . Il
luminando alguns., planos, me apercebi dos di
verfos effeitos, que refultavaô da mixtura de
differentes Cores. Fiz experiencias mais me
thodicas, e me pareceo, que fobre os feus re
fultados, fe poderiaõ efiabelecer alguns Prin
cipios. Efies Principios, nafcidos da experien;
cia, os achei conformes ás analogias da Na
tureza; e aílim os tive por verdadeiros.
No fazer as mencionadas experiencias vi,
que com pouquiílimas Cores, fe poderiaô for

mar todas as precií'as, para imitar a Nature


za. Ordenei algumas Taboas, que logo me fer..
viraô
.vII
r R E F A c ç A õ.

viraô para os meus curiofos intertenimentos;


os quaes Dor efie methodo, me ficáraõ muito
mais faceis.
Tum a mayor fãtisFaçaô de que os ver
dadeiros Amadores das Sciencias Naturaes achem I
os minhas hypotheíis bem fundadas: e efpero que
em huma (ciencia puramente natural naõ exi
giráõ demonfiraçoens geometricas, comentando
fe da experiencia, e de bem fundadas analo

gias, que faõ a verdadeira prova defia forte


de Conhecimentos.
Os DILECTANTES, .e Artifias que começaö a
occupar-fe em todo o genero de trabalho colo
rido, àcharaô o modo de formar, com poucos ele
mentos,l huma infinidade de Cores, que ja
mais feraö repugnantes, e que fempre fe con
cervaraö, quanto ao brilhante, na mefma pro-›
porçaõ, com que fe empregáraô , fem que
humas fiquem permanentes, e as outras fujei
tas ás alteraçoens do tempo.
_c_.

rnnràcçàô; vu;
SB defie breve Tradado refultar alguma
luz á quella parte da Phifica, que fe verfa
fobre as Cores,- e fe elle puder contribuir pa
ra guiar o trabalho dos Dileâantes, e ArtiPcasl

que começaô a occuparfe da fua combinaçaô: eu


darei por bem empregados os poucos dias que'l

paflèi em compollo; e a nimgueml pezará deter


facrificado os. päucos momentos, que faõ ne»
ceflarios para o ler..

ARGUMENTO
VII!

ARGUMENTo
DA

¡NTRoDUcÇAô .1
Rimaríar, e fêcundaria: qualidade: dos cor;

'pas §§ 1 , z.
Todas a: producçoens da Natureza ƒãõ efleítos
da mera eombinaçaõ de princípios mais fimplez § 35
A verdadeira natureza dos corpos, iflo /ze do:
ƒêu: primitivos principios, he abƒblutamente def
conlzecida I§ 4.

Igualmente he defãonhecida a natureza das

fila: fecundaria: qualidades § 5.


Opiniaõ de Ariflotelei` fbbre a: Cores § 7.
_. Dos Carte/[anos § 8.
›- De Newton § 9.
Divi/àã do pre/ente Tratado § Io.
Explicaçaõ das Taboai` § 1;.

e ARGUJ
¡IX

ARGUMENTO
DA

PRIMEIRA PARTE,
QUE coNTEM A ANALYsrs DAs cones.
O mageƒioƒõ eƒjreãaculo do Univerfi), entre Izuma
infinita variedade de Cores, no: preďnta [eis
mais claras,e diflinõam quaesƒèjaã eflas Cores §r4.
Modo de a: preparar para fazer a: expg
riencias, e para fc ďrvir dellas 15, 16.
A Cor Negra provem da míxtura das Cores
primitivas,e das que immediatamente della: fe de..
rivaõ § 17.
A Cor Branca nafãe da extrema divifizõ das
mefma: Core: § 19. .,
0 Negro he Izuma cor pq/z'tiva § zo.
0 Branca he iguálmente huma C'or pofitiva
§ zr.
0 Vermel/zo, e Verde faõ as duas Cores primí-4
¡ivas § 24. \ B
ÍA Cor Azul naõ be primitiva, ma: fim de;
tirada. do Vermelho § 28.
A Cor Amarella naõ he primitiva, ma: firm
Herívada do Verde § ¡_o.

ARGUMENTO
DA
SEGUNDA PARTE,
QUE COMTEM A SYNTHESLS ms Coxas.

sEcçAõ' PRIMEIRA.
- Am- receb'ermo.: a finfizçaõ- das. Ceres, he ne-.
ceflãrio, que1 concorraõ mg_ _cou/21:, a luz, o.:
corpo:` illuminados,e a orgaõ fènfbrio § 35.
0' orgaõfinfõrio da: vlfla mida, contribua 'pant
a‹ formaçaõ. das: Coreyl § 37.. I
A farmaga'õ* da.: Cores; _naõí depende só" da
diýerfà' comum” do:: corpo: § 4o..
Ás, Cores; primitiva!, e as. 4que della: fè :Ie-
rivaõgdependem- para” feV maniƒèflarem, e da luzSl

e da contextura. dos. corpos4 § 4;..


XI

Analogia' das Cores originadas com 'o fogo


.eleãrico § 44.
A Luz, pelo reflexo, tranfmitea imagam dos
corpos; e pela reflexo, e refracçaõ, os faz ver de
a'ijƒèrentes Cores §47.i
As duas Cores primitivas [è manifiƒlaõ pe
la descompofiçaõ , que a .luz padece, urtando os
corpos naturaes § 48,
A :Hier/idade das'Cores' rafulta da dl crente
combinaçaõ das duas' primitivas, e' das' que imme
diatamente della: je derivaõr, nafi'ida das. diverfas .
rcƒracg'oens, comque a luz je modifica, urtando a
fizperficie dos corpos § 48. ~›
Os phenometzos' do Pri/'ma faõ os mefmos que
K

os do Iris 49.
SECÇAO SEGUNDA.

A Natureza, para colorir todo o Univerƒb,


fe fervio unicamente de duas Cores _`,- mas a Arte
/

para imitar as fitas admiraveis obras, necqfiza

de [è firrvir de feis § St.


Para mudar a.: Cores, ď devem mudar ae
fizperficies § 52.
Modo de ƒbrmar zada a fbrte de Cores § 55.

ARGUMENTO
DA

TERCEIRA PARTE
E EsTA HERMENEUTICA.

Ivifizõ de toda: as C'orei` § 68. `


Vocabulario da: Cores , que contem a ex

Pzicaçaö das Cores mais` conhecidas, _/èguna'o o:


principios defle Tratado; indicando ao mefino tem
po a fimilhança, que ellaâ` tem com a: Core; da:

Taboar A, B, C, D, ou com a: feis Cores gene

ríeas da Tab. XIV. n. r. 2.. g. 4. 5.Y 6.

NOTAS, E ILLUsTRAçOENs.

EX
XIII

EXPLICAQAÕ
DE

ALGUMAS PALAVRAS DE onrcl-:M GREGA, QUE sE AcuAõ


NESTE TRATADO.

Nalyƒi: palavra Grega AVOÚWO'IÇ, que fí


gmfica reƒõluçaõ, ou descompoƒíçaõ de al
guma coa/Zz para ac/zar o: _/èm' elementar.
Synthe/ís zwfiêälg, compofigaõ.
Hermeneutica de Ele/¡VEUW iuterpretar, er
plicar.
Analagía AWÀOYÍOM proporcaõ, rafaõ ji
mil/zante..
P/zyfica de ÇDUÓ'IÇ, a natureza..
P/zenomerio de (Pxfl/OMOCI z apparecer, maní.
fe/lar-đ `. Phenomeno quer dizer eoufa , que ap
. parece, e fã fa; vi/ivel.
Theoria ('95pr › contemplaçaã, medítaçaõ
de ncoufa.: filperiores, e de dificil comprehengaõ»

Col
XIV:

Collecçaö' de principios, que ƒbrmaõ o tratado de


qualquer Difiiplina. Ella palavra vem do verba
980!,0560 , que fignifica confiderar, `contemplar.
.vatfiflfif Tffoaw'g' › MMM, opiniaõ ,
condiçaõ com que ƒè difeorre .
Homogeneo de OlínyEWlÇ, do mefino1 genero,

e qualidade.
Heterogerzeo de ETEPOYSWIÇ › de diverƒb ge

nero.
,ProblemaI npOfiÂWW, propojigaõ, queflaõ ,
duvida I

Atmoƒphera de ATFLOÇ, vapor, Ie de wafpíls


eƒphera: quer dijèr huma 'efiihera de vapores

TRATADO
(__-w “ø-'w -
.vw-.fi v 'vv-'_ l r_¬. úvrv¬¬m\ v _
I

TRATADO
l) A S

CORES

mTRoDUcçAõ'.
ODOS os corpos naturaes, de que íè' INTRODUÇ»
çAõ.
T com-poem o .Globo da Terra, e que lhe
efiaõ inherentes, alem das primarias qualidades ,.
que conüituem a fua eflëncía, e os fãzemâ uteis,
Íàõ dotados de outrasv qualidades: fecundarias',
que prehenchendo tambem efie- melino fim, os:
iäzem ao meímo tempoagradaveis"l .
9 z. AS primarias. qualidadesl dos corpos' (ao
a figura, a grandezne contextura das; (nas par.
tes confiituentes, e outras. As fecundáriás: po
rem confiffem no- fom',` no golfo, Doch'ei'ro, `
na Cor &c'. Aquellas- chamaô'l-lë primarias,.por
que dellas: fe- compoem- al eflënci'az de todos:
os: corposâ: elias: fe dizem fecundarias', por
qpe faô.I acçidentes` feparaveis dos. mefinos:
* N O_T A 'R.
CUB»
2 'rnA'rAno DAs coxas;

Ixrnonvc- corpos * . Mas, de todas elias qualidades, eu


çAõ.
naõ fallarei que da differente organizaçaô ou
contextura dos corpos , e' da fua Cor; por fe
rem as outras alheas do prezente afTumpto.
§ g. TODAS as producçoens da Natureza,
que fazem o objeão da contemplaçaô do ho
mem, fiiö hum puro effeito da mera combi
naçaô de principios fimplicimmos, que a mef
ma Natureza, por meyo de huma (erie de con
catenadas operaçoens, variou ao infinito. Para
achar efles principios, o procefTo mais natural
feria huma exaãta, e rigorof'a analyfis. Mas he
baflante elle metliodo, para defcobrir os ori
ginarios, e' primitivos principios? ._- Parece que
naõ he baftante; mas he fem duvida hum ca
minho fcguro, para fazer maravilhozas defco
bertas, e para levar, de hum certo modo, as
Sciencias, e Artes a fua perfeiçaô.
§ 4. A ANALYSIS de todos osI corpos, que

compoem o imperio da Natureza, os reduz to


dos a quatro elementos; e he quanto baila,
para fer de fumma utilidade á efpecie humana.
Mas fegue-fe por iffo, que efies quatro ele
* N o T A n.
mentos

_ `.›_-‹J
f TRATADO DAS CORES'` 3
mentos fejaõ os primeiros, e fimplez principios Ixraonuc
çAõ.
dos corpos organizados? _. Póde fer que o Ar
naõ feia que hum fogo condenfado; e que a A
goa feia muito bem hum ar mais dení'o. A
Terra he, fem duvida, hum compolto de~
agoa cryflallizada, que forma a parte vitrea; e
de defpojos de corpos organifados, que for
maõ a parte acida, e alkalina: de cuja re
cíproca mixtura refulta todo o reino mine
ral * .Mas aquelle fogo, onde vai terminar ella
analyfis , he elle compoflo de partes homogene
as, ou as fuas coní'tituentes partes faô ellas de
differente natureza? ~ Queltoens delle genero
naõ làõ da repartiçaô do homem: ellas depen
dem de principios defconhecidos, e taõ dillantes
dos limites dos nofl'os conhecimentos, que o occu.
par-fe dellas , feria perder inutilmente o tempo_
§ 5. A INEVITAVEL difiiculdade, que fe
encontra, em defcobrir a natureza dos primiti
vos principios dos corpos, he tambem commua
aos feus accidentes, ou fejaô fecundarias quali
dades. A obfervaçaõ dos homens mais refle
xivos tem defcoberto na Natureza dous íons,
* Nom m.
C hum
4 TRATADO DAS CORES;

INTRODUC- hum dos quaes he: extremamente grave , eo


çAõ.
outro nimiamente- agudo: de cuia replica e
combinaçiõ Dafcem os fons elementares de to
das as. linguas; e fe compoem toda a forte
de canto, e armonia. Mas conheceraõ os anti
gos, e modernosI cultivadores da MuíicaY a na
tureza deñes fons, ou pode'raô iamai's fuieitallos
a huma exacta proporçaõ, ou arithemetica, ou
geometrica? -- Naô chegáraõ ia mais a elle
ponto: e as efcholas de Pitagoras, e Ariltoxe
nes " naõ faraó eternamente outra coufa mais,
que difputar fohre a preferencia da theoria
ou da pratica, fem paflar alem da mera obfer
vaçaô de poucos phenomenos, donde í'ed tem

deduzido os principios, que formaõ a arte


mufical.
§ 6. SB ifio chcede a ref'peito dos fone, naõ
he mais intelligivel a naturezay da outra fecun
daria qualidade dos corpos, que coníifie na
admiravel variedade das Cores. Os Philofophos
de todos os tempos, os Hi Roriadores Naturaes,
os Poetas, e os Artiflas, fe tem reflexiva, e
attentamente occupzdo delle intereflãntiflimo ob.
* N o T A iv. _
¡e&o;
\
'mA'rA DO DAS comzs; Sõ.

ieêco; ja |para `explicar a natureza das Cores, ' IN'rnonUcë


çAõ.
e claflificallas na fua Ordem natural; ia para
fe fervir dellas, com mayor vantagem, na pra
tica dos trabalhos coloridos : fem que ache
gora, de tantas indagaçoens reunidas, tenha
refultado huma theoria fundada, que poflà Fa
tisfazer o el'pirito do Philofopho, Ou fervir de
guia ao Artifia: e em lugar de explicar o ad
miravel íyílema da Natureza, naõ fizeraõ Ou
tra coufa mais que confundillo, e perturballo;
í'ervindo-f'e de theorias complicadas para expli
car phenomenos' fimplez', donde naõ podiaõ
nafcer que confuíiflimos refultados.
§ 7. ARISTOTELES afiirmouzQue as Cores
eraõ propriedades Ou qualidades dos corpos, e
que exiltiaõ nelles fem dependencia da luz.
Ella fua opiniaõ naõ da provou de forma al
guma; nem o podia fazer, achando-fe ella con
traria a todas as experiencias *.
§ 8. OS CARTESIANOS diziaõ: Que naõ
havia Cores primitivas, attribuindo todas as
Cores fó ás differentes modificaçoens, que a
luz recebe pelo reflexo, e pela refracçaõ; fem
* NOTA v.
Cz fe
1 TRATADO DAS CORES."

INTRODUC' fe lembrarem do famozo principio do Poeta


çsõ.
Epicureo: Que do nada naõ pode refultar cou
l'a alguma; e que allim, fe nem os corpos, nem
a luz tem Cor, por mais combinaçoens que fe
façaõ, naõ póde dellas refultar Cor alguma *.
§ 9. OS PHILOSOPHOS naturaes feguiaõ
ou huma ou outra dellas duas opinioens, quanz
do o immortal Newton publicou a fegunda
parte da l'ua Optica , com hum novo l'yliema
fobre as Cores . O Peripateticilino, e a mal fim
dada hypothefis de Cartelio cederaõ immedia
tamente ao brilhante l'yltema de Newton, que
foi logo abraçado de muitos ,- e que, a pel'ar
de grandes contradiçoens, palTa de hum l'eculo,
que he implicitamente l'eguido de todo o mun
do. Se alguma coulã me fez vacillar fobre a
concludencia dos Principios, em que l'e ellabelec'e
elle Tratado, foi o ver que alguns delles fe
oppunhaõ a parte das finco Propoliçoens, em
que Newton fundou a lua doutrina fobres as
Cores. Mas as repetidas experiencias, as exa
âas obl'ervaçoens, e as naturaes analogias em
que fe fundaõ elies Principios, me fi-zeraõ an
* N o 'r A w.4
tepfot'
TRATADO DAS CORES.: 7
tepor aförça da evidencia, talvez a mais plau Influeonueâ`
çAõ.
fivel de todas as opinioens. E fem afpirar ao pro
felytil'mo, farei, em lugar competente, huma
fuccinta comparaçaô das Propofiçoens de New-v
ton com os mencionados Principios; ficando
fempre a cadahum a inteira liberdade de feguir o
que lhe parecer mais bem fundado *.
§ lo. SEM deixar de ter a mayor confi
deraç'iõ pela refpeitavel memoria dos celebres
Auâores de taô diverfas opinioens, eu puz
de parte toda a preoccupaçaõ da auâorida~
de, e tomei fomente a pura Natureza por
guia do meu trabalho, no compor o prefente
Tratado . Elle naõ fe verfa fobre a intima na'
tureza das Cores, a qual fempre nos` fera
* defconhecida; mas fim fobre as fuas fenfiveís
propriedades, em quanto elias podem fer de
algum ufo, ou nas Sciencias Naturaes, ou nos
trabalhos coloridos. Analyfando as principaes
Cores, que nos offerece o variado, e mara
vilhozo quadro do Univerfo, naõ fó achei as
Cores originarias, e primitivas, quea Nature
za combinou _de- mil modos difl'erentes, para
.' NOTA vm
O
8 TRATADO DAS CORIS.

¡Nrnonuc- o colorir; mas tambem achei quaes í'aõ as Co


çAõ.
res elementares, preparadas pela Natureza, ou
pela Arte, das quaes lc devem fervir os Arti
ílas nos feus trabalhos imitativos. A expoliçaõ
do proceflo, que fegui para achar elle: reful
tados, confiituirá a Parte Analytica.
§ u. COMBINANDO as Cores elementa
res * preparadas pela Natureza, ou pela Arte,
achei todas as graduaçoens das Cores compo
fias, relativas a cadahuma dellas; e as clamfiquei
na Ordem mais natural, e intelligivel. A expo
íiçaõ delle proceffo formará a Parte Syntheti
ca; a .qual por mayor clareza devidi em duas
Secçoens. A primeira expora O modo, com
que a Natureza, por meyo de huma combina
çaô admiravel das duas Cores primitivas, for..
mou todas as que .vemos nos corpos naturaes.
A fegunda indicará o methodo com que, só
com as duas Cores primitivas, e quatro outras
que fe derivaõ immediatamente dellas, fe po
dem imitar todas as Cores naturaes.
§ tz. A PARTE ``Hermeneutica conterá hum
pequeno 'Vocabulario `com a explicaçaõ das
'9' vam-sr: A N O 'r A xxm.
Cores
'rm-ramo nas contas; 9
Cores mais conhecidas, fegundo os Principios Iurnonucg
çaõ.
delte Tratado.
§ rg. E finalmente as Taboas illuminadas ,
que fe iuntaõ, dilucidaraõ comV as proprias Co
res, a theoria que vou dar por el'crito: e os
l'eus ulos, e applicàçoens le exporaõ nos rel'pez
éüvos lugares * .

* non vm.
ldllll'leúlL hrnll 'š
,

'__
TRATADO
DAS

coREs
PARTE PRIMEIRA,
QUE CONTÉM A ANALYSIS DAS CORES.

C ONTEMPLANDO O mageltofo efpeâaculo PARTE f


do Univerfo, nos prefentaõ os corpos
-naturaes huma maravilhoza, e quafi incom
prehenlivel variedade, e mixtura de differentes
Cores *. Entre elias porem fe ydellinguem po
fitivamente feis, afaber: O Negro, O Verme
lho, o Azul, o Verde, oAmarello eo Bran
co, com as quaes, todas as outras Cores deixaõ
entrever alguma aflinidade. Eu fiz abflracçaô
(le-todas elias, tomando fomente aquellas feis
mais politivas, claras, e dil'tinãtas por Objeéto da
minha analyfis, a que procedi no feguinte modo_
§ 15. DEIXANDO a Cor branca, como def
necefiaria, fegundo O generoI 'das minhas expe

f' N o T A rx. _
D riencias
IZ TRATADO DAS CORES;

PARTE L riencias, dillolvi em cinco conchas as feguintes


Cores: Tinta da China, Carmim, Azul de Prullia ,
Verde-deliilado e Gomma-gutta, e levando-as to
das ao mefmo gráo de força, formei as cinco Co
res, que com a Branca geralmente dominaõ no
quadro do Univerl'o.Puz em cada huma das conchas
hum pincel fino; tomei outro, e huma palheta
de marfim; e com elie limplez apparato procedi
ás experiencias .
§ 16. Mart l'obre a palheta, com os rel'pe
âivos pinceis, huma gotta de cadahuma das reflFeri
das tintas, e mixturando-as docemente, fui obl'er.
vando, que pallavaõ por degráos infenliveis a Co
res mui differentes; e quando as mixturei bem to
das, vi fobre a palheta huma Cor muito el'cura, ti
rando quali nada para Vermelho Tab. I. n.° r. o. I

§ t7. REPETI elia experiencia l'ó com as


ultimas quatro Cores, fem mixturar a Tinta da
China; e da lua uniaõ me rel'ultou huma Cor
neutra, muito elcura, e da mel'ma el'pecie do
Nankim, que naõ he muito carregado Tab'
I. n.° z.
§ 18. Esfra phenomeno me fez lembrar, que
* Nora x.
aliim
Agp/-WMM ...f-.m 1
¬- ‹ I
-__-M .H V__._.-_‹ -f . . n ~

TRATADO DAS CORES; fe


al'fim como a Cor negra era o refultado da PARTE r.
uniáö das quatro Cores, devia naturalmente da
divilaõ das mefmas Cores , refilltar a' Cor branca.
§ 19. Sam excluir a` Cor negra, formeiA al
Tab. lV. , que me deu quatro Cores mixtas
n.° r. 2. 3. 4. , em que dominava o Vermelho;
quatro outras n.° 5. 6. 8. ro. em que domi
nava o` Verde; e duas n.° 7. 9. çujas, e faltas'
de energia. Exclui as do n.° 7. 9., como pal:
fivas, e com .as outras f.›rmei a Tab. XIV. e
tirando refiiltados de refultados, achei, á oi
tava combinaçaõ , a Cor branca, que procurava,
taõ clara como o mel'mo papel, em que faziav
a prova . Por `meyo deflas duas experiencias,
achei os dous Principios feguintes.
PRIMEIRO rnmcimo.
§ zo. O NEGRO he huma Cor pofitiva, na
qual o Vermelho, o Azul, o Verde, e o Ama
rello fe achzzô intimamente unidos,e em quan
tidades quali iguaes.
sacuNDo PRINCIPIO.
§ zr. O BRANco he huma Cor igualmen-l
te pofitiva, onde o Vermelho,o Azul,o VVer
de, e o Amarello fe achaö extremamente di
D z v1
.t4 TRATADO DAS CORES.

PARTE L vididos, athe o ponto de fe fazerem invifiveis * 1


§ zz. No contemplar a Tab. VI. obí'ervei,
que da recíproca mixtura dis finco Cores, de
que fe compoem, refultava do n.° r. z. 4. ,
huma Cor mixta, onde reynava o Vermelho;
do n.° 5. 6. 8. ro. refultavaõ Cores, em que
predominava o Verde; do n.° 7. 9. refultavaô
Cores pardas ou çujas; e que finalmente do n.°
g. onde o Vermelho, e Verde fe achaõ com
binados em differentes proporçoens, refultava
a mefma Cor elcura, Ou a mefma efpeciu
de negro, que tinha refultado da mixtura do
Vermelho, Azul,Verde,e Arnsrello Tab. l. n. z. ** .
§ 2;. ESTE phenomeno me fez ver, que
as quatro Cores Tab. I. n.° z. , e as duas Tab.
VI. n.° 3,e ainda as das Tab. VIII. X. XII, no
meíino numero, ímportavaõ a mefma couñi;ifio
he, que o V ermelho, e Verde combinados em cer
tas proporçoens, valem> tanto como o Vermelho,
o Azul, o Verde, e o Amarello; ou que no
Vermelho, e Verde fe contem as outras duas
Cores. E reflectindo em que nas Tab. II, IIl.
IV. V. VlI. IX. XI, nas quaes em difierentes
*NOTAXL *'*NOTAXIL
pro
TRATADO DAS CORES. XS

proporçoens, le achaõ combinadas as linco Cores, PARTE r.


fe del'cobrem l'empre quatro nufneros, em que
domina o Vermelho, e l'aõ, o n.° r. z. 3. 4.
e outros quatro em que domina o Verde, a
faber, o n.° 5.. 6. 8. ro. e que o Azul, e Ama
rello cedem fempre ao Vermelho, e Verde; e
quando le combinaõ com o Negro , em diver
làs proporçoens, ou fe confilndem inteiramente
com elle, ou recebem huma fombra, que as
efcurece l'enlivelmente, fem que jamais pro
duzaõ huma terceira Cor: elta refiexaõ, digo,
me fufcitou outro Principio.
TERCEIRO PRINcrrio.
§ 24. O VERMELHO, e Verde l'aõ as Cores
primitivas, e dominantes na Natureza: eo Azul,
c Amarello naõ faõ que puras modificaçoens
delias- duas.
§ 25. Fiz todas as combinaçoens polliveis
do Vermelho, e Verde, e naõ pude achar hum
Azul, e Amarello igual ao de que me fervia
nas experiencias. Interrompias por algum tempo,
e fui elludar no grande livro da Natureza * ›
onde l'o podia achar a rel'oluçaõ delles problemas.
* x o TA sun..
e

16 TRATADO' DAS COR ES;

PARTE lá § 26. lšis'rnl validl'limo imperio, nos l'eus dif


ferentes- reynos, me prefen tou duas analogias,
que adiantáraõ a minha indagaçaõ. Vi que no
rtyno animal, dominava a Cor vermelha . O
fangue dos animses, ea carne emlque elle fe
acha efpalhado, me confirmáraõV em que o Ver'
melho he huma Cor uaiverlal, e primitiva. Vi
igualmente que, o 'Verde coloria todo o reyno
vegetal, o que me convenceo tambem, de que
0 Verde era huma Cor primitiva, e univerfal .
§ 27. OccoRaEu-ME, que a carne dos ani
maes quando he contundida, ou pa lia a ma
geraçaõ , pall`a tambem da Cor vermelha .á azul.
Lembrou-me logo, que a melina tinta azul
das minhas experiencias, que era Azul de Pruf
fia, fe fazia de fangue de boi, ou de qual
qua' outro animal. Poucos dias antes eu tin
ha reiterado as obl'ervaçoens de M. de Buffm,
acerca da l'ombra da luz do Sol, tinëta com
a Cor da Aurora, e achei, que a fombra de
huma palheta de marfim, de duas pollegadas
lde largo, fobre hum papel branco, era fem
pre azul, pondo a palhfta, pouco mais ou
menos , a hum pé de diliancia do papel; e
che
TRATADO DAS CORESÀ ,17

chegando-a quafi ao papel, achei entaõ fem- PARTE 1


'pre efcura a Vl'ua fombra ; o que naõ podia
refultar fenaõ da refracçaõ da luz vermeth,
do foi, que coloria a fombrd de azul. Elia
vobfervaçaõ me produfio o Principio feguinte * -
_ QUARTO rRmcImo.
§ 2.8. A COR azul naõ he primitiva , mas
fim gerada pelas modificaçoens, que recebe a
Cor vermelha pela refracçaõ da luz, ou mixtu‹
ra de outras fubfiancias.
§ 29. Frz a mefma cl'peculaçaõ com a Cor
verde, e achei, que todos os vegetaes , no
`eliado da fua perfeiçaõ, nos prefentaõ univer
íâlmente efia agradavel Cor; mas que geral
mente todos os vegetaes, com (las fuas folhas,
fruâos, fementes ôcc. na fua decadencia'z paf.
faõ da Cor verde á amarella . Occorreu-me
tambem, que a Cor amarella das minhas expe
riencias, era a gomma de huma arvore; e lcon
fequentemente naõ vinha a (er que hum Ver
de degenerado. Ella reflexaõ me deu outro
Principio N.

*ROTA xxv. i* NOTA xv.


QUIN
:8 TRATADO DAS CORES.`

PARTE l. QUINTO rRINcIPiO.


§ go. A COR amarella naõ he Originaria, Ou
primitiva; mas lim fecundaria, e derivada da
Verde * .
§ gi. F11. muitas Outras experiencias, com;
binando em diflerentes proporçoens, todas as
fincO.Cores; e de todas elias combinaçoens
naõ refultou coufa alguma, que podelTe for
mar principios, ou deltruir os que ficaõ efia‹
belecidos. As combinaçoens de cinco, Ou qua
tro Cores, tomando quatro ou tres por pri
meiro termo, e combinando-as em proporçaõ
de š, me deraõ refultados quafi íimilhantes;
iPto he, huma Cor el'cura, algumas vezes in
fenfivelmente alfeâtada de Vermelho, Ou Verde;
e por iíI`o as regeitei todas . A combinaçaõ
de tres Cores, tomando duas por primeiro ter
mo, e comparando-as com a Outra, me deu
as Cores que conftaõ da Tab. II, e III. A
Tab. IIII, e feg'uintes me deraõ huma grande
variedade de Cores, todas baftantemente for
tes, e capazes de ferem empregadas como Co
res locaes.
í* NOTA xvx.
§ sz.
'rmmno nas cones. '19A
§ 32. Em inutil pallàr adiante; por que iá PARTE I.
na Tab. XI., que he feita em proporçaõ de
š-H os rel'ultados laö quali iguaes ao primeiro
termo dos antecedentes :e a Tab. XII. he qua- _
fi igual ás Tab. VI. e VIII. E fe fe fizellem ou
tras Taboas em proporçaõ de I-_/_-- e lg parte, em
humas feriaõ os refultados quali iguaes a os e
lementos; e nas outras coincidiriaõ os reliilta
dos com os da Tab. IllI.; pelo que era inutil
o palfar adiante. E como dellas ultimas expe.
riencias nada mais refultava, que a compoliçaõ
de diverfas Cores, eu vi bem que a minha
analylis degeneráva em fynthelis, e que confe
quentemente era tempo de pallar á Segunda
Parte.
f-'f --`
-__ 'w ..-gr
m,v‹W__;_‹-_¬v-w-u.¬ a" x .

TRATADO
DAS

CORES
PARTE sEGUNDA,`
QUE CONTÉM A SYNTHESIS DAS CORES.

OMO nePta Segunda Parte Ie trata da com- PARTE u.


poiiçaõ das Cores, e efia Ou he feita pe
la Natureza, Ou pela Arte; pede o methodö
que ella feia dividida em duas 'Secçoens . Na
primeira fe exporá O mechanifmo, de que fe fer
ve a Natureza, vpara com duas Cores unicas ,
Ornar taõ diverfamente O feu vaPto imperio. Na
fegunda porem fe aflignará O modo, com que
a Arte deve combinar elias duas Cores, com
quatro outras, para imitar todas as Cores naturaes.

sEcÇAõ PRIMEIRA,
QUE CONTÉM A SYNTHESIS NATURAL DAS CORESÂ

§ 34. ASSIM como O reyno animal, c.: st-:cçAõ li


E 2
22 TRATADO DAS CORES.

man n. vegetal nos prefentaõ as duas Cores primitivas,


secçaõ l.
e dominantes, allim tambem o reyno mineral,
que he principalmente compollo da quelles dous,
nos offerece huma infinita variedade de Cores,
com que fe achaõ embellecidas todas as obras
da Natureza. E para conhecermos o modo, com
que ella formou ella admiravel variedade de
Cores, confideremos os meyos, que devem ne.
cellãriamente concorrer para recebermos as fuas
fenlaçoens.
§ 3;. O SENTIDO da villa, allim como he
0 mais el'piritual * dos finco, pelos quaes rece
bemos todas as imprel'foens das caulas externas,
he tambem o que depende demais circunllancias,
para fe formarem as fuas fenl'açoens . A luz, os
corpos naturaes, e o orgaõ fenl'orio da villa, faõ
de abl'oluta necellidade, para l'e cooperar elle
fim: e he em todos .elles meyos, ou em parte
delles, que devemos procurar a formaçao das
Cores; para o que eu palfo a confiderallos em
particular .
§ 36. HE INDUBITAVEL , que as qualidades
fecundarias dos corpos conlillem em certos ac
* N o 'r A xvu. _
`
elf
TRATADO DAs coxas. 23
`eidentes, que inherem a os mel'mos corpos. E PARTE II
sEcçAõ r.
, leo orgaõ fenforio recebe a l'enlaçiõ das qua
lidades primarias dos corpos, que indubitavel
mente exiliem fóra delle; da melina forte re
cebe a impreflaõ das fuas fecundarias qualida
des, que tambem exiliem fóra delle com os
corpos que as lullem . Nelie concludente ra
ciocinio fe ellabelece o feguinte Principio.
sExTo rRrNcrrro.
§ 37. O ORoAõ fenforio da villa nada con..
tribue para a formaçaõ das Cores; as quaes fendo
qualidades fecundarias dos corpos , exillem com
elles, fóra de nós mel'mos.
§ 33. NAõ contribuindo allim o orgaö fen
forio nada mais para a formaçao das Cores,
do que huma camara obl'cura, onde os objectos
fe reprefentaõ já coloridos; ponhamos de parte
ella divifaõ, e palI'emos a examinar os pheno
menos, que os corpos naturaes nos prefentaõ
a refpeito das mel'mas Cores.
§ 39. SE tomamos hum papel branco, e fa
zemos fobre elle as experiencias da luz do Sol
afi'eâada da Cor da Aurora, achamos que o
mel'mo papel, quafi no melino inliante, nos
pre
14 TRATADO DAS CORES.`

PA RTE II. prefenta quatro Cores difl'erentes. Antes da ex-'


sECçAõ I.
_p/eriencia, e vendo O papel fem fer ao Sol
elle nos prefenta a l`ua Cor branca e natural.
Expondo O melino papel ao Sol, O vemos tin-V
&o de huma efpecie de Cor de roza. Fazen
do cahir fobre elle a fombra de huma palheta
de marfim, ou de qualquer outro corpo femel
hante, nas circunl'cancias do § 27, entaõ nos faz
ver ou huma Cor de Azul claro, Ou hum Branco
mais el'curo que a lua propria Cor. E reful
tando elIes diverlbs phenomenos da mefma luz,
do mefmo papel, e de huma Obfervaçaõ feita
em hum momento, fem que na fuperficie do
papel polI`a ter acontecido alguma alteraçaõ, fe
gue-fe Outro Principio.
sEPTIMO PRINCIPIO.
§y 4o. A DIVERSIDADE das Cores naõ rel'ulta

l'ó da difi`erente contextura dos corpos naturaes;


. pois que l'obre huma l'uperficie homogenea vemos,
- ao mefino tempo, diverfas Cores.
§ 41. CONSIDEREMOS agora os phenomenos
da luz, Os quaes necelTariamente nos haõ de
dar toda a clareza, que ainda falta a ella in¬
dagaçaõ.
§ 42. SE aluz fe propaga por continuaçaõ, ou
'mambo nas cones; 25
por contiguidade, illo he, l`e ella conlille em PARTE n.
rayos, que partem em linha direita dos cor sECçAõ I.

pos lucidos athe os obieélos illuminados'; ou


fe conlille fomente em huma continuaçaõ de
urtos das molleculas ethereas, caulada pela ro
taçaõ do Sol, ou vivo movimento, que exille
em todos os corpos lucidos: he huma quellaõ
que eu deixo a decidir aos partidillas de Euler,
e de Newton *-;e qual quer que feia a liiaJ
decifaõ, naõ offenderá nada elle fyllema. A luz
terá lëmpre a qualidade de nos`fazer vifiveis
os corpos, e de afieâar-l'e de mil modos dif
ferentes, pelo reflexo, e refracçaõ, que fofre
urtando contra os melinos corpos. E como a
luz he huma fubllancia clara, refraccivel e re
flexivel, onde relidem as Cores primitivas;
mas que naõ as manifella, nem as combina e
varia fenaô por meyo do reflexo e refracçõ,
com que fe modifica, urtando os corpos na
turaes: e elle refiexo e refracçaõ devem fer
diverl'os feg'undo a dilferente contextura dos
corpos, a qual naõ he mais homogenea em efpe.
cies diverlas; fegue-fe outro Principio. t
" N o 'r A xvm.
ä. 4;
26 TRATADO DAS CORES.

PARTE Il. OITAvO rRINchIO.


SECçAõ r.
§ 4;. As Comes originarias e primitivas, e
as que dellas nafcem e fe compoem, necelli
taõ para l'e manifeliar e compor, e da luz, e
da diverfa contextura dos corpos, que as re
fringem, e reflectem.
§ 44. A NATUREZA da luz, e das Cores fe
raõ fempre taõ del'conhecidas, como a natu
reza do efpirito, e da materia; mas as pro
priedades da luz, e das Cores, nós as pode
mos conhecer de hum certo modo. A luz he
huma fubliancia l'ubtilillima, em que refidem
as duas Cores primitivas, como no puro ether
relide o fogo eleârico . O fogo eleEtrico naõ
fe manifell'l, fem que fe perca o equilibrio, ou
fe' defcomponhaõ as molleculas, ou fejaõ pe'
quenas partes do ether' que o contem: per
dido o equilibrio, por mil caulas diverlàs, o
fogo fe faz vilivel, por outros tantos modos
differentes .. .
§ 4;. O Foco do rayo, a que nenhum corpo
natural póde refifier , he õ mel'mo fogo, que
nos gabinetes de phyfica fe faz fahir impu
' NOTA xxx.
08°.

`\J
"_l

TRATADO DAS CORES.` 2.]l

nemente da ponta dos noffos dedos ,- e que, PMTE H


em huma bella noute, illumina pacificamente o sEcçAõ l'
horizonte. O fogo , que faz jogar as batarias
de hum navio de tres pontes, he O mel'mo,
com que Os artilheiros fumaõ fenl'ualmente O
tabaco. O íncendio de huma cal'a nafce do
mel'mo fogo, que nutria l'eu dono, e O aquen
tava. O Etna, e hum graõ de polvora naõ
dilferem que nas grandezas . Os horrorozos phe
nomenos dos Vulcanos * , e hum agradavel fo
go de artificio, naõ diferem lenaõ nas quan
tidades. Balla de exemplos: e deixo tambem de
trazer outra fimilhante analogia tirada dos do
us l'ons, de que l'e compõem todas as lingoas,
toda a forte de canto, e harmonia, por fer in
teiramente l'uperfluo.
§ 46. A RESPEITO das Cores vemos na Nata.
reza O mel'mo mechanil'mo. Os rayos da luz
illuminaõ os corpos naturaes, e pela Oppoliçaõ
que encontraõ urtando os mefmos corpos, fe dell.
compõem em tantos modos diverl'os, quanto
he dilI'erente a fua l'uperficie; e entaõ fe mani
fellaõ as duas Cores primitivas, Ou puras, Ou com.`
É N _O T A xx.
bi¬
28 TRATADO DAS CORES.

PARTE n. binadas de mil modos diferentes; e quanto


secçaõ r. mais heterogeneos faõ os corpos, que a luz en
contra, tanto mais irregular he a refracçaõ, e
tanto mais compolla he a Cor que della refulta.
§ 47. A Luz alfeãlada de huma refi'acçaõ re
cebe fempre huma Cor,mais ou menos fenlivel,
a qual conl'erva l'em alteraçaõ alguma, athe no
vamente fe delcompor, com o encontro, de ou
tros corpos. A lux do Sol, por exemplo, chega
á lilperficie da atmol'phera da Terra, (em re
Ceber talvez alteraçaõ alguma; mas apenas en
tra na atmofphera do noflõÇlobo começa a re
fringir-fe e a del'compor-l'e, e nos manifella huma
Cor azul com alguma mixtura de Verde, que
he a Cor do Ceo. Se a mel'ma luz, ao nalcer
do Sol, encontra os vapores, que ordinaria
mente cobrem o horizonte, fe del'compoem no
vamente, e nos faz ver huma Cor, que participa
do Amarello e Vermelho, que he a Cor da_,.
Aurora. Ella Cor fe coul'erva, athe que a luz
toque a luperficie da Terra, onde no mar, e
grandes maças de agoa, l'e defcompoem como
na atmofphera, em huma Cor azul, mais ou me
nus verde, _fegundo o movimento ou altura da
agoa
TRATADO DAS CORES. 29
agoa: e cahindo l'obre a fuperficie fecca de nol' PARTE n.
l`o Globo, entaô fe defcompoein em tantos mo sEÇçAõ x.
dos diferentes, quantas faõ as diverfas organi
íaçoens dos corpos naturaes; da mel'ma forte que
encontrando fobre o horizonte nuvens de dif
ferentes configuraçoens, no las faz ver diverfa
mente coloridas . Donde refulta o ultimo, e fun
damental Principio 'L .
Nono rRrNcrmo.
§ 48. As DUAS Cores primitivas, que reli
dem na luz, fe manifeliaõ pela delcompofi
çaõ, que a melina luz padece urtando os cor
pos naturaes: e todas as outras Cores, de qual
quer genero que fejaõ, refultaõ da diferente
combinaça'õ das duas primitivas, nafcida das
diverfiâs refracçoens, com que a luz fe modi
fica, tocando a liipercficie dos corpos.
§. 49. COM ESTES fimplez, e naturaes princi
pios, fundados todos fobre exaâtas obl'ervaço
eus, naturaes analogias, e repetidas experiencias,
fe explic aõ todos os phenomenos das Cores r
O Pril'ma, O Iris, o pelcoço da Pomba, a cau
da do Pavaõ ** ôzc., faõ phenomenos identiccs,
'É ROTA xxx. e* u o T A xxn.
F a que
30 TRATADO DAS CORES.

PARTE II. que refultaõ da mera descompoliçaõ da luz,


secçAõ I.
nal'cida da dilferente contextura das partes, de
que l'e compoem a quelles corpos.
§ go. ATREQUI a Synthelis da Natureza .
Pallemos agora a ver como a Arte com as duas
Cores primitivas, e quatro outras que dellas
immediatamente fe derivaõ, póde formar to
das as Cores necelI`arias para, em qualquer
genero de trabalho colorido, fe imitarem as de
coraçoens do Univerfo.

sEcçAõ sEcUNDA,

QUE CONTÉM A SYNTHESIS ARTIFICIAL

DAS CORES.

§ gr. A SABIA Natureza l'ó com as duas


Cores primitivas, que relidem na luz, e l'e va
riaõ ao infinito, por meyo de huma prodígio
za combinaçaõ, nos faz ver todos os corpos
de differentes el'pecies, coloridos diverlamente.
A Arte porem, menos poderol'a que a Nature
za, tem necellidade, para imitar as fuas ad
miraveis obras , de quatro Outras Cores , nal'ci
das
TRATADO DAS CORES-` 3!
das immediatamente da quellas duas; illo he PARTE n.
do Azul, que vem do Vermelho; e do Ama sEcçAõ u.

relo, que fe produs do Verde; do Negro, que


-conlille na foma do Vermelho, e Azul, do Ver
de, e Amarelo; e do Branco, que fe manife
lla pela divilaõ dellas mefmas Cores: de for
te que a Natureza executa, em hum inllrumento
de duas cordas, toda a harmonia das Cores, que a
Arte fó póde executar em hum de feis.
§ 52. A FORMAçAõ das Cores conlille em hum
filnplez, e puro mechanifmo . Mudar a fuper
ficie dos corpos, ou alteralla, he o meme
que mudar, ou alterar a Cor dos mel'mos cor.
pos. Mudada a contextura, muda-le a refracçaõ,
e muda-fe a Cor.
§ 5;. Os Couros ou tem a mefma contextu
ra, em toda a fua mafsa, ou l'ó na l'ua l'u
perficie. Hum cubo de marmore branco, par.
tido em pedaços , mollrará fempre a Cor Ibran~
ca; mas hum pedaço de páo branco tingido
de vermelho, fe o fendermos, nos prezentará
interiormente a l'ua Cor branca, e natural; e
a alteraçaõ, que fe tinha feito na fua fuper.
ficie, applicando-lhea Cor vermelha, fazia que
toda
32 TRATADO DAS CORES.

PARTE n. toda a malsa apparecel'se delta Cor, fendo re


secçAõ 11. almente branca. .
§ 54. A ARTE de Colorir naõ fe verlã lenaõ
a refpeito das Cores fuperficiaes ; e he o modo
de achar toda a forte de Cores, ou de mu
dar toda a forte de fuperficies, que faz a ma
teria della fecçaô.
§ 5;. O MEcRAursMo das Cores l'e contem
'da Toboa I. athe XIII. das quaes a explica
çaô he a feguinte.
§ 56. TODAS as ditas Taboas contem duas
fortes de numeros, hum Romano, no angulo
direito fuperior, que marca a Taboa; e ou
tro Arabico fobre os círculos coloridos , que
indica ,a figura; de forte que toda avez que
fe achar, por exemplo, IIII. l. quer dizer Taboa
quarta n.° r. , que he o mel'mo que dizer, .que
.de partes iguaes de Vermelho, e Azul refulta
huma el'pecie vde Cor de purpura.

§ 57. TODAS as figuras conllaõ de duas par


tes, antecedente, e confequente; a par te an
tecedente faõ os elementos,de que _fe formaõ
as Cores; e a confequente he .a Cor, que re
fulta dos antecedentes: por exemplo Tab. IIII- n'
r.
TRATADO DAS CORES. 33'
I. o antecedente he o Vermelho, e Azul, e PARTE II
O confequente he a Cor de purpura, que nal'ce SEC'EAO u'
delles: e allim em todas as mais.
§ 58. O CONSEQUENTE he l'empre hum, mas
os antecedentes podem fer de dous athe feis. A
Tab. IIII. mollra antecedentes de dous; a Ta
boa II. III. mollra antecedentes de tres; e a
I. de quatro e de cinco. Nas pinturas a oleo,
onde a Cor branca fe combina com todas as
Outras Cores, pode o antecedente fer de feis.
§ 59. Os ANTEcEnaiv-ras, ou lê combinaõ em
parte s iguaes, ou em diflerentes proporçoens'. A
Tab. I. II. III. IIII. Ofierell'em antecedentes com
binados em partes ig'uaes; e as outras athe XII.
Os mollraõ combinados em differentes propor
çoens. As Tab. V. Vl. mollraõ Os antecedeu
tes combinados emproporçaõ de š; a VII. VIII.
emproporçiõ de-š; a IX. X. em .proporçaõ- de
à; XI. XII. em proporçiõ deš .
§ 6o. A '['AIIOA4 XIII. lãz ver, que, na com
binaçaõ das duas Cores primitivas, e dominan
tes, Vermelho, e Verde, com as outras quatro,
em partes iguaes, Os relultados l`.iõV fempre all
feãlalos da Cor vermelha, e verde; mas que
a
34 TmTAno nas cones.

man u. a vermelha he mais forte que a verde: por..


sncçiõ u. que nos relultados numeros r. z. z. 4. 5. 6. 7,
que provem de antecedentes, em que a Cor
vermelha fe combina com o Azul, Verde,`Ama
rela, e Negro, domina fempre a Cor vermelha.
Porem nos numeros 8. 9. io. n. Tz. 1;. 14.,
que provem de antecedentes em que a Cor ver
de fe compara com o Vermelho, Azul, Ama
rela , e Negro , há dous refultados em que
domina a Cor vermelha, e íãõ os 8. 12.; e
fomente cinco em que domina o Verde; donde
fe ve que das duas Cores primitivas, e domi
nantes, a mais poderolã he a vermelha.
§ 61. NESTA mefma Taboa l`e vem Cores de
cinco el'pecies, ou graos diferentes. O numero T.
vem da combinaçaõ dos l'eus refpeãlivos ante
cedentes Vermelho, e Azul; e o n.° z.vem do
Vermelho, e Verde combinados em partes iguaes;
O n.° 5. vem da combinaçaõ do n.° T. z. tambem
em partes iguaes: e o n.° 7. procede da com
binaçaõ do n.° 5. 6. na mefma proporçaõ, e af--`
fim em todos os mais.
§ 62. A TAB. XIV. he feita á imitaçaõ da
` Tab. XIII., e fe póde chamar a Taboa da fom
ma,
TRATADO DAS CORES. 39
ma, e divifaô das Cores; porque as feis C0 PARTE n.
st-:c'çAõ n.
res n.° r. z. 3. 4. 5. 6. unidas em partes iguaes,
produl'em a Cor efcura, ou negra n.° 7. E
divididas elias feis Cores, por meyo de repe~
tidas combinaçoens, athe O oitavo grao, tomando
os confequentes, ou refultados do primeiro grao,
por antecedentes ou elementos do 'fegundo‹, e
procedendo della mefma forte athe o oitavo.,
entaõ fe vem as ditas feis Cores refolvidas na
Cor clara ou branca n.° 4;.
§ 6 3. As Tab. A, B, C, D lãõ como hum in
dex de todas as outras. A letra A, por exemà
plo, indica a Tab. A. Os numeros Romanos de
lia Taboa indicaô as Taboas notadas com os
numeros Romanos: eo numero Arabico indica
as figuras das refpeãivas Taboas.
§ 64. ISTO fuppollo, eil`aqui o mo'do, com
que vfe podem formar, com a mayor facilida.
de, todas as Cores, que prefentaõ as Taboas
A, B, C, D.
§ 6 g. PREPARADAS as Cores elementares, como
fica dito § rg. , fe queremos imitar huma Cor
natural, que feia limilhante à Cor verde Ta
boa A. IIII. 8. procuramoè a Tab. IIlI. n.° 89.
- 9
36 TRATADO DAs coREs;

PARTI: II. e acharemos, naõ fó a Cor verde procurada,


secçAõ II. mas que ella l`e forma de partes iguaes- de Ver.
de, e Amarello. Se quil'ermos imitar a Cor de
violeta, ou purpura Tab. A. IIII. I. procura‹
remos a Tab. IIII. n.° I. onde acharemos a Cor
defejada, e que ella fe compoem de partes
iguaes de Vermelho,e Azul: e para achar a com
poliçiõ de todas as mais Cores, de que fe com
poem as Tab. A, B, C, D, fe procederá da
mefma forte .
§ 66. POR elle methodo, l'ó com os exem
plos , que le vem nas Taboas, fe formaõ cento
e vinte Cores, capazes de l'e empregarem co
mo Cores locaes, e fuceptiveis de trez graos
de força, illo he, de efcuro, meya tinta, e claro,
o que fiz trezentas, e l'ellenta meyas tintas di
verlâs. E para formar muitas Outras, fe pro
cederá da mel'ma forte, ordenando Taboas á
imitaçaõ das que fe prefentaõ; tomando por
antecedentes cinco, ou feis Cores efpecificas,
illo he, das de que fecompoem as Tab. A, B, C,
D, O que produfirá huma infinita variedade de
Cores, que todas fe compoem das duas primi
tivas Vermelho, e Verde; e das quatro;l que
€¬
I
TRATADO DAS CORES; 37!
dellas immediatamente fe derivaõ, i. e. Azul, PARTE n.
Amarelo, Negro, e Branco * . secçAõ ut.

§ 67. TAL he a Synthelis artificial das Cores,


que tanto defanima os Dileclantes, e que por
tantos annos embaraça os Artillas; a qual por
elle methodo fe comprehende, e fe executa em
ypoucas horas . Pallemos a Terceira Parte.

l* N o T A xxm.
G z. TRAQl
- `_-4"_¡
TRATADO

CORES
PARTE TERCEIRA ;
E ESTA HÍIZRMENEIITICA.V

' STA TERCEIRA parte comprehende, em


hum breve Vocabulario, a explicaçaõ das
Cores mais conhecidas; indicando, a oA mefino
tempo, a. limilhança, que algumas dellas tem com
as Cores das Taboas A, B, C, D, de forte que,_.
para formata idea de algumas dellas Cores,e
para as compor todas, naõ he necellaria outra
coulâ, que procurar no Vocabulario o nome della`
Cor; e a hi mel'mo fe acharaô~ citadas as Tas
boas, que prehencheraõ` elles dous' fins.
§` 6.9. Querendo-fe làber, por exemplo, qual
he al Cor- de purpuraf, e como fe compoem,
Procure-fe no Vocabulario a palavra purpura,
onde re achará citada a szóa A. IIII. 1. das
quaes a. primeiraI mollrare'v a. Cor, e a. fegunda.
enz
4o TRATADO V DAS CORES.

PARTE III. enlinará o modo de a compor. E as Cores,


que naõ l'e acharem nas Taboas A, B, C, D, fe
indicaráõ fomente os feus elementos, para que fe
polfaõ compor com a meme facilidade.
t § 7o. PARA fe entenderem as explicaçoens
do Vocabulario, convirá muito ter prefentes as
prenoçoens feguintes. '
§ 71. As Coxas, como fica dito, l'aõ huma
propriedade da luz, que por hum admiravel
mechanime da Natureza, l'e manifellaõ, em
tantos modos dilferentes, quanto faõ diverlàs
as configuraçoens dos corpos naturaes, illumi
nados` pela luz. Ellas faõ de duas fortes, ou
genericas, ou efpecificas.
§ 72. As CORES genericas faõ tambem de
duas fortes, ou genericas primitivas, ou gene
ricas derivadas.
§ 7;. As GENERTcAs primitivas l'aõ duas, a
l'aber, o Vermelho, e o Verde; e fe manifellaõ
pelo mefmo mechanilino , que todas as outras.
§ 74. As GENEnIcAs derivadas faõ quatro,
a faber, o Azul, que nafce do Vermelho; o
Amarelo, que fe forma do Verde; o Negro,
que relulta da uniaõ do Vermelho, e Verde;
_eo
TRATADO DAS CORES. 41
eo Branco, que provem da diviíâõ deflas duas PARTE III

Cores. § 22. Tab. XIV.


§ 7;. Coxas efpecificas íãô as que fe for
maõ da mixtura das genericas . A Cor de pur
pura he huma Cor efpecifica, que nafce da
mixtura das duas Cores genericas Vermelho,
e Azul.
§ 76. DA CoMBINAçAõ das feis Cores ge
nericas refultaõ feis efpecies de Cores, como
fe ve na Taboa lIlI. na qual o n.° I. z.
3. 4. formaõ a eíbecíe das Cores vermelhas;
o n.° 5. 6. 8. xo. formâõ a efpecie das Co
res verdes; o n.° 7. forma a efpecie das Cores
azues; o n.° 9. forma a efpecie das Cores ama
rellas: a Cor negra forma a efpecie das Co
res eíëuras; e a branca forma a efpecie das C0-_
res claras. A

§ 77. DA er'rURA defias duas ultimas Co-'


res, em differentes proporçoens, nafce toda a
forte de claro efcuro; e da míxtura defias mei'
mas Cores com as quatro primeiras, e as fuas
efpecies, provem todas as meyas tintas, com que
fe podem modificar todas as referidas Cores.

_vocA¬
n
VocABULARIo
CORES.
rNTRoDUcÇAà

q S Cons, que prel'enta elle Vocabulario,


l'aõ as que geralmente fe empregaõ em to..
do o genero de trabalho colorido. Elias fe pódem
` imitar todas com os elementos da Tab. XIV.
n.° T. z. 3. 4. 5. 6. o que indubitavelmente me
prováraõ repetidas experiencias.

Em huma folha de papel branco ril'quei duas


leries de pequenos círculos, de forte que 'os
círculos de huma das feries conrrelpondellem
exaElamente a os da outra. Colori huma lërie
delle's
defles círculos com as Cores finas da prepa.
raçaõ dos dous Reeves Inglezes, e do Chimico
Francez Antheaume, que faõ as melhores que
fe conhecem; e na outra ferie, nos correl'pon.
dentes círculos, as imitei com os elementos da
Taboa, e numeros anima refi'eridos: de tal forte,
que vendo-fe em julia pofiçaõ os originaes, e
as imitaçoens, naõ fe differençavaõ huns dos
OLII'IOS .

Os Dileítantes poderaô repetir eflas expe


riencias; e fe depois tomarem por originaes as
mais bellas flores, os fruCtos , as folhas das
plantas, as pennas dos paflaros diverfamente co
loridas, pedaços de marmore manchados de dif
ferentes Cores ötc. faraó hum efludo ainda mais
proveitol'o; e l'e convenceraõ, com a mayor evi.
dencia, de que a diverfidade das Cores naõ
refulta, que da mixtura de poucos, e fimplel'.
' fif.
_ _w _'- F-w._.` ..._-__..

45
fifl'nnos elementos, combinados, de mil modos
difi'erentes, ou pela, Natureza, ou pela Arte.

H z .VOCAJ
VOCABULARIO
DAS

CORES,
Qua coN'rBM- A ExrntcAçAõ nAs Comzs MAIS
coNnEcmAs, mnchNno A sIMILnANçA,
QUE ALGUMAS DEL-ms TEM com As ms.
TABoAs A, B, C, D; E 0- Mono com
QUE 'roms sE PÓDEM IMITAR,
com os ELEMENTOS na TAB.
XIIII. N. 1._n.`nx.n11. v..v1..

.A
LvAmnz, Cor el'pecifica do- branco.v G
Alvaiade fe fãz' de- chumbo ,. aflim como
o branco de chumbo; mas he menos fino,
e delicado, que eller e fe forma em pe
quenos paens de huma libra, pouco mais ou
menos. Elle encorpora todas as Cores, com
que fe mixtura..
AMAQ
/f

AM=AN=AZ '/
AMARELLO , Cor generica derivada . O Amarello
he a Cor mais clara depois do Branco, e
naõ he que
Coritem hum Verde
differentes tintas,degenerado. Ella
taes faõ a Com

ma-gutta, a Ocre commua, a Ocre efeura ou


de Ruth, a Terra de Italia, o Amarello de Na
poles, o Maílicote claro, e o Maflicote efcuro,
o Stil de Troyes, o _Stil de Inglaterra, o Ou
ropimenta claro, e Ouropimenta el'curo., e
a Pedra de fel, cujos elementos fe acharaô
a o pe' de cadahuma dellas tintas.

ANIL, Cor ef'pecifica do Azul. O Anil dá hum


Azul muito efcuro fimilhante ao que prefenta
a Tab. C. XI. 7. e fe pócle imitar exaâa
mente, proporcionando as quantidades dos ele
mentos do dito n.° 7.

AZUL, Cor generica. derivada. O Azul naõ he


outra coufa, que huma degradaçaõ do Ver
melho. Eita Cor tem diverfas tintas, a lâ
ber, o Azul de Pruflia, o Ultramarino, o
Ef

LM4o
AZ 49
El'malte, as Cinzas azues, e o Anil. O UI
tramarino fe deve ter, como o Azul elemen
tar, com o qual fe podem imitar todas as
el'pecies della Cor, mixturando mais ou me
nos Negro, ou Branco. Com o Azul de Pruf
fia naõ fe póde bem imitar o Ultramarino, mas
faz-fe huma efpecie de Azul celelle, que fe
lhe avilinha muito; porem todas as outras
tintas della el'pecie fe imitaõ bellamente com
o Azul de Prullia.

Azur. na vPiwssrA, Cor el'pecifica do Azul. O


Azul de Prullia he o mais bello depois do
Ultramarino: eu- o tomei por Cor elemen
tar Tab. XIV. n.° 3. por naõ ter achado do
bom Ultramarino. Com o Ultramarino fei
mita ella Cor, juntando-lhe hum pouco de
IVNegro; mas com o Azul de Prullia fe imi
taõ todas as outras el'pecies de Azul. Para
a Miniatura, e illuminaçiõ, he melhor dif
folvello em vinagre branco dillillado, doque
em agoa; por que ella o efcurece muito,
confervando-lhe a quelle a lua Cor viva , e
na
BR
natural. Deve juntarl'e-lhe, para o uí'o, alguma
gomma, e açucar candi, para o unir melhor.

B
BRANCO, Cor generica derivada . Ella refulta da
divilaõ, ou por dizello afiim, da rarefacçaõ
das duas Cor-es primitivas, e das que fe de
rivaõ immediatamente dellas, como fe ve da
Tab. XIIII. n.° 4;. Ella Cor fe alTocia com
todas as outras, de qual quer genero, ou efpe
cie que fejaõ, para produfir huma grande va
riedade de tintas differentes. Rompendo-fe fo
bre huma palheta o Branco, e o Negro, em
differentes proporçoens, fe forma toda a forte
de Cores cinzentas. Se fe praticar o melino
com as outras quatro Cores elementares, fe
terá com a mayor facilidade, hum grande nu_
mero de tintas, das quaes fe poderaõ el'colher
as melhores para a pratica da pintura . A
Cor branca naõ tem lugar na illuminaçaõ:
porquanto, ainda que le junte em pequena
quantidade com as outras Cores, as encor
pora,
BI-:CA' f!
pora, e lhes faz perder o diaphano, que devem
ter para elle genero de colorido, no qual, fe
pode dizer, que a agoa, e o branco do pa
pel tem lugar da Cor de que fe trata. Alem
dillo o Branco he de diverfas fortes, a íaber,
Branco de chumbo, Alvaiade Cal, e Gelfo,
os quaes fe bufcaraõ nos feus refpeâivos lu.
gates.

Brsrno, Cor efpecífica do Vermelho. 0 B1'


firo fe fàz de ferrugem das chamines; e fe
póde imitar com os elementos da Tab. Ill.
n.° 8.

C
CARMIM, Cor efpecífica do Vermelho. A baf'e
della Cor he a Cochenilha. Eu a tomei por
Cor elementar Tab. XIIII. n.° z.e ella he de
grande ufo na Miniatura, e indefpeníavelmente
neceflària na illuminaçaõ dos planos.

I CA:
,z cAzz-.ct :co
CAI., Cor el'pecifica do Branco. Ella f'e lãz de
marmore calcio-ando, e o leu mayor ul`o he
nas pinturas a frelco. i

CmAnao, Cor el'pecifica do Vermelho. O Ci


nabro ou he natural, ou artelicial; aquelle fe
acha nas minas de ouro, e de prata, e elle
le compoem de azougue, e enxofre.Pare
ce-le muito com a Cor Tab. A. lIIl. z. , e
fe pode imitar com os l'eus elementos.

szAs AzUEs, Cor efpecifica do Azul. Veia


fe Efmalte.

CerAs VERDES, Cor elpecifica do Azul. Cha


maõ-l'e Cinzas verdes, porque desbotiõ em
verde . Veja-le Cinzas Azues.'

CoanNanA, Cor el'pecifica do Vermelho.


A Cochenilha he hum pequeno infeélo def
' fecado,
ES=FE '53
fecado, que fe exporta da America, em
pequenos graos concavos de huma parte, e
convexos da outra. Ella fe emprega para tin‹
gif de efcarlate, e purpura: e ella faz a ba
fe do Carmim, e da Laca compofla.

E
ESMALTE, Cor efpecífica do Azul C. Xl. 6.
O Efmalte he feito de vidro azul, moído
em po fubtiliílimo; e quando he mais gro
ceiro, fe chama Cinzas azues. Ella Cor fe
parece com o Utlramarino, ainda que naõ
(cia taõ lina; ella póde imitar-fe com o A
zul de Prullia, mixturando-lhe hum pouco
de branco de chumbo. '

F
FERRETE DE ESPANHÁ, Cor efpecifica do Ver.
melho . Elle fe tira das minas, em huma ef
pecie de agulhetas pontudas, e rajadas de ne
I z gro,
34 GO=GE
gro, e he entaõ muito el'curo; mas depois
que fe reduz em pó, fe faz de hum Ver
melho como íangue. O que fe tira nas mi
nas de Inglaterra naõ he em agulhetas, nem
taõ duro como o de El'panha. Elle fe pó
de imitar com os elementos da Tab. IIII.
n.° 8.

G
GoMMA-cu'r'm, Cor efpecifica do lAmarello. Ella
Cor fe faz da gomma de huma arvore, que ~
crece na India. Eu a tomei por Cor ele
mentar `Iab. XlIl. n. 5; porque he fufceptivel
de todas as variaçoens da fua efpecie: naõ he
precifo difolvella em agoa de gomma, fendo
ella gommada naturalmente.

Gesso, Cor efp ecifica do Branco. O Cello fe


faz de huma pedra, de medíocre durefa,
calcinada. O Geflb he menos bello que o
Alvaiade; e fe póde imitar com elle, el'cure
cendo-o hum pouco de Amarello, e Negro.
LA :MA=MI

L
LAcA, nome commum a muitas el'pecies de maça,
que fe impregaõ na pintura. Mas o que l'e
chama propriamente Laca he huma materia
gommola, e refinoza que vem da India. Af
lim a Laca he huma Cor el'pecifica do Ver
melho, Tab: C. Xl. r. e fe póde imitar
exatlamente, mixturando-lhe alguma coula de
branco.

M
MAssrcoTE, Cor el'pecifica do Amarello. O
Mallicote fe faz de Alvaiade queimado, e fe
gundo o grao de fogo, que fe lhe da, he
mais ou menos carregado. Elle fe póde imi‹
tar com o elemento Tab. XIIII. n.° 5. jun.1
tando-lhe mais ou menos Branco.

MTNTUM , Cor elpecifica do Vermelho. O Mifi


nium
NE
niu" fe faz de chumbo calcinado. Pareceli'e
muito com a Cor Tab. C. XI. z. e fe imi
rará exaëtamente com os feus elementos, jun- a
tandodhe alguma -coulã Lde Branco de chumbo.

N
Nacm) , Cor generica derivada. Pela experien
cia Tab. I. n.° z. elle fe compoem de par
tes quali iguaes de Vermelho, Azul, Ver
de, e Amarello, ou por melhor dizer, de
partes deliguaes de Vermelho, e Verde; pois
que pelas experiencias Tab. VI. VIII. X. XII.
n.° 3. fe prova com a mayor evidencia, .que
no Vermelho, e Verde fe contem o Azul
e Amarello, O Negro, allim como as outras
Cores genericas, he de muitas fortes; taes
faõ o Negro de fumo, o Negro de pelfego,
o Negro de Alemanha, o Negro de mar
fim, o Negro de oflb, e a Tinta da Chi
na, os quaes fe pódem ver nos feus refpe
fiivos lugares.

le
e f-¬¬f.f4_--f----vmfff_. ¡rf-*a ,¬_v.¬wvwv.__ _¬_

NE 57
Nucno mz ALEMANHA, Cor el'pecifica do Ne
gro. O Negro de Alemanha he huma terra
natural, que dá hum negro azulado, de que
fe Iervem os lmpreffores. Elle fe póde imi
tar com os elementos da Tab. X. n.° 7.

NacRo DE Conrtçâ, Cor el'pecifica do Negro.


Elle fe faz com o carvaõ de Cortiça, e dá
hum Negro mui ligeiro, com hum tom de
azul, que fe avifinha ás Cinzas do Ultrama~
rino; e póde imitar-fe com os elementos
da Tab. VIII. n.° 7.

NEGRO DE FUMO, Cor elpecifica do Negro


Ella fe faz do fumo de termentina; e para.
fer de melhor ul'o, deve calcínar-íe fobre hu
ma lamina de ferro; mas ainda aílim l'e al'
focia mal com as outras Cores, e as de
firoe; de 4forte que he de pouco ul'o na
pintura.
NEGRO DE MARFIN, Cor elpecifica do Ne
gro. Elle fe faz de ralpaduras do marfim,
bu.
58 N E = OU
humedecidas com oleo de linhaça, e quei
madas em hum vazo hermeticamente tapa
do . Elle he o mais hello' Negro, que fe pof,
fa empregar na pintura.

NEGRO nz Osso, Cor el'pecifica do Negro,


Elle fe faz de olliis de animaes', e da mel'
ma forte, que o Negro de marfim. V. Ne:
gro de marfim.

NEGRO na Passaco, Cor el'pecifica do Negro.


Elle fe faz com o carvaõ de caroços de
pelfegos, redufidos a pó fubtil.

O
OuRoPTMaNTA. Cor el'pecifica do Amarello. O
Ouropimenta claro fe avilinha muito á Cor
da Tab. C. XII. z. elle he compollo de ar
'cenico, e enxofre; e fe pode imitar exaãla.
mente com os elementos da Tab. XII. n.°,
z, proporcionando as quantidades.

¬ _ ._ _
OU .':OC:=:PE

OUnonMBNrA ESCURO, Cor el'pecifica do A


marello. Ella he fimilhante á Cor da Tab. VIII.
z. e fe pode bem imitar com os feus elementos.

Ocnn CoMMUA, Cor el'pecifica do Amarello_


Ella he huma terra ferruginol'a, que fe
acha nas minas de chumbo, e de cobre. As
fimilha -fe muito á Cor da Tab. C. XII. z,
e fe póde compor com os feus elementos.

OcRE mz RUTH, ou OcRE Escuna. Cor efpeci


fica do Amarello . Ella fe acha natural, nas _
minas de diverfos metaes; ou fe compoem
da Ocre commua, por meyo da calcinaçaõ.
Parece-fe muito com a Cor da Tab. B. VIII.
z., e fe póde formar com os feus elementos

P
PEDRA na Far., Cor efpecifica .do Amarello;
Ella fe pode compor com os elementos da
K Cor
(o TI :TE
Cor Tab. A. III. 8, tomando por bafe o
Amarello, e mixturando-lhe hum quaii nada
de Negro, e hum pouco mais de Vermelho.

T
Tmn na Cama, Co!I el'pecifica 'do Negra.
Ella Cor, que fe exporta da China, em pe
quenos páos, he a melhor para delTenhar,
e para lavar planos; para o que fe diÍTolve
em agoa pura, fobre huma palheta, ou em
huma concha. Eu a tomei por Cor elemen
tar, Tab. XIIII. n.° r. por que fe aífocia.
com todas as outras Cores .

, TERRA VERDE, Cor el'pecifica do Verde.rEña Cor


parece-fe muito com a daTab. B.V. to, e F: pó
de exactamente imitar com os feus elementos.

TERRAS VERMELHAS, Cores elfpecificas do Ver


melho. Ellas Cores fe formaõ todas com os
elementos da Tab. A. III. 8./
TE :ST 'Gr
TERRA na ITALIA, Cor el'pecifica do Amarello-Y
V. Ocre de ruth.

TERRA DE CoLomA , Cor, efpecifica do Ver


melho. Ella Cor he muito efcttra, e para
a l`ua compoliçaõ fe devem tomar os elemen
tos da Tab. A. Ill. 8. juntando, à mayor
quantidade de Negro, as outras duas Cores.

S
STTL DE INGLATERRA, Cor el'pecilica do Ama
rello. Ella he mais efcura, que o Stil de
Troyes , e pode imitar-fe com os elementos
da Tab. III. n. 8.

STIL DE TRoYEs, Cor el'pecifica do Amarello.


Ella fe compoem de huma terra cretacea,
tiníla com o Amarello de Avinhaõ; e po
de imitar-fe com os elementos da Tab. IlI.
n.° 8. mixturando com o Amarello, muito
pouco Negro, e Vermelho. K z
62. ` VE

» V
VERDE, Cor generica primitiva, e dominante
em todo o reyno vegetal. O mais bello verde,
e que fe pode chamar Verde elementar, he
o Verde diliillado, ou feia Verdete Tab. XIIII.
n.° 4. ,i que he huma el'pecie de ferrugem..

do cobre. A agoa pura naõ o dillolve, he ne


_ce.'l2u'io para ilto fervir-fe de qualquer acido
vegetal.Y O çumo de limaõ azedo, ou ovi
nagre branco diflillado, faõ os melhores, que
fe pódem empregar. Elii Cor tem muitas
tintas differentes , allim como, Verdete, Ver
de montanha, Verde bexiga, Verde azul, Ver~
de-pé de pato, Verde Iris, os quaes fe pó
dem ver nos feus lugares.

Vanuatu. Veia-fe Verde.

VERDEiAzUL , Cor efpecifica do Verde. Elia

Cor he hum mineral, qu.` participa do Vyz.


. .,
,n
VE '6;
e Azul, tirando hum tanto para o el'curo; e
fe póde imitar com os elementos da Tab.
III. n. to. , mixturando pouquillimo Negro.

VERDE BExmA, Cor el'pecifica do Verde. Ella


Cor tira algum tanto para Amarello el'curo,
e fe compoem de produçoens do reyno ve
geral. Ella póde imitar-fe com os elementos
Tab. II. n.° 5. mixturando mui pouco Negra.

VERDE IRts, Cor el'pecifica do Verde . Ella l'e


compoem das fiores de Lírio; e fe póde
imitar com os elementos da Tab. XI. n. 8.

VERDE MONTANHA, Cor el'pecifica do Verde.


Ella fe faz de huma certa area lina, que
fe tira das montanhas de Hungria, e Moldavia.
Ella póde imitar-fe com os elementos da
Tab. XII. n.° 6. mixturando hum pouco de
branco de chumbo.

VER
VE
VERDE-rx Dn PATO, Cor el'pecifica do Verde.
Ella fe póde imitar com os elementos da
Tab. VII. n.° 8.

Vans nr: SA-xoxrA, Cor el'pecifica do Verde.


Ella fe compoem dos elementos do Verde
azul, com o qual fe parece inteiramente. V.
Verde-azul.

VERMELHO, Cor generica primitiva," e domi


nante em todo O reyno animal. Ella tem
hum grande numero de tintas differentes, ta
es faõ, a Laca, Vermelho efcuro , Vermelhaõ,
Out-pimenta, Carmim, e toda a forte de Ter
ras vermelhas; as quaes fe podem ver nos
feus lugares .

_VnnMELnAõ , Cor efpecifica do Vermelho.0


Vermelhaõ Ou he natural, ou artificial . O
artificial fe faz de azougue, e enxofre ; e
pode imitar-fe com os elementos da Tab.
VIII.
VE
f' VIII. n.° z. , mixturando-lhe, para o encor;
porar, hum quafi nada de branco de chumbo.

. VERMELHO EscuRo ou VERMELHO DE Incra;


TERRA , Cor elpecifica do Vermelho . Elle he
huma terra natural, de Cor Vermelha le
onada. Elia Cor he mui terrefie, e fe cha
ma tambem Ocre vermelha. Ella póde imi
tar-fe com os elementos da Tab. IlI. n.°
8. mixturando, de mais, hum pouco de bran
co de chumbo .

NOTAS
Â'

-_d

___-___
. _- .v_.._w.¬¬_.._v~_ . v _* ñ. *_fiv- A

NOTAS
E

ILLUSTRAÇOENs
NOTAS
E

ILLUSTRAÇOENS.

NOTA I.§x.

ch. Eflhy concernig. Hum. Under/Ian,


Lib. z.° Cap. 8.§ 8. e ƒêg.

NOTA 11.92.

LocHE define as qualidades primarias dos cor-~


pos: Qualities thu: confldered in Bodies, are, filch
a: are utterly in/êparable from the Body, in what
Eflate jbever it be; e as fecundarias: Such
Qualities, which in truth are nothing ih the Ob
jeã's them/Elves, but Power: to produce various
Senfations in u: by their primary Qualities. O
que LOCKE chama poderes, eu o chamo acci
dentes, por importar o meme , e naõ neceffitar
de mais exteníãs explicaçoens.
NOTAS l ILLUSTRAÇOENS;

NOTA1m§A
LA' ƒàlidité G* l'arrangement aã'uel de la terre
font l'ouvrage des eaux, des corps organifés Õ'
du lap: de temps. Les végétaux ö' les animaux
ont ƒërtilifé la eroúte fiiperficielle de la terre que
nous cultivons. Les eaux y font` vertue: à plu
jíeurs repri/ès. M. BAUME Chim. expe'r. ô" raiƒI `
T. I. p. 12;. Paris. 177;. Póde ver-fe M.de
Burron, e Lmnus, fobre a formaçaõ. da Terra'P

NOTA1v§a
Ams'roxr-:an pretendia, que os. principios da
Mulica dependeffezn uni:amente do bom ouvido,e
de hum exaflo difcernizncnto.. AVULYETOU: diz elle,
ã' apa;zf/..:;Tc:a ag Evo. et; Te Tm! azozv,
azar a; Tzu. Ezra/orla. T4 'uóv pap :mon
apt/ousa Toc rev.. azxn'ztmrzev Mayen-4 . T4
És lee/out 'Fargo-ousa Tag, rouzzev- Êwstuszg'.
E mais, à baixo z, Tzu Be /rouomsu oxeãov
eorzv cé¡c_j¿~4ç.e`<ouíot rctšzv v, 'rt/g; octoãzoewç;
'f __ ___»fi
'-'W-
,_ .¬

:ro-ras a rmvsmçozns. .7x


¡apl/38a _ L. z. do: Element. Harman. Pr'ra
eonas porem deduzia os mefmos principios
do proporcional diametro, pefo, ou grandeza,
do corpo fonoro . NrcoMAcno , depois de re
ferir as oblervaçoens de Piracoms fobre os fons'
e as diverlas applicaçoens da fua Doutria à diffe
rentes inlirumentos, diz : Kai O'U/“PÕWOV VIU'
prasz sv amam mz arrapaknmov mv ãz'
apzfi/.wu :ldTOÚv/MW . Encherid. Harman. L. r.
Póde ver-fe tambem EUCLIDES' na fua geome
trica Secçaõ a'o Canon, onde` a Doutrina de
Prracoaas fe explica com a mayor clarefa.

NOTA V..§7.

As nnrmrçozus de Aril'roteles. quafi todas


fãõ confill'as; ev a quel nos deixou das Cores,he
verdadeiramente fua.. Elle define' allim as' Cores:
Xpai/.Lot És: sarr'rou' ãzamavouc' eu' awfza'rr
(opta/1.81130' 7!'8p1Ç f o que heA mais. de' preflä a
de'fi'niçaõl da' fuperficie colorida, que da mefma
Cor. El't'eÀ fophiltaz pretendia: perfuadir, que as
Cores eraõ inleparaveis dos corpos, como as
E filas
72 Nous x ILLUs'rnÁçoszs.
fuas primarias qualidades; o que he abfoluta
meme inadmiífivel, por fer contrario à todas
as experiencias.

NOTA VI.§8.

EULER combate, no modo feguinte, a opiniaõ


de Cartefio a refpeito das Cores . Dm` Carter,
der zuar/l dem Mut/z hatte, die Geheimnijď der
Natur zu erforƒšfzen, erklârte die Farben au: ei
ner gewzfl'en Vermifchung de: Lie/1:: und de: Sc/mt
etns. Aber da der Schatten ein bios/èr Mangel
das Licht: ijl, indem er Ēch allenthalben befina'et,
wo das Lic/zt nicht híndurchdringen kann, fb fie
het man wohl, daxf da: Licht mit einem Mangel
de: Lichts vermzfihz, die verchiednen Farben ni'
ch: hervorbringen känne, dia Wir an den Kãrpem
wahmehmen. Brezƒ U3.

NOTA
noTAs z TLLUsTnAçoaus;

NOTA vn.§9.

Dos numeros, que nai prefènte Nota fe acharem

entre ), os que forem precedidos do final


fe referem ao Tratado: e os que tiverem an
tes de _/i hum n. indicaõ es numeros deƒla maf
ma Nota.

COMO a Doutrina de NEWTON l'obre as Co


res he principalmente fundada nas experiencias
do Prifma, e ellas dependem da combinaçaõ
da Luz com Os Corpos naturaes: faz-fe indef
penl'avel, para comparar os Principios, que pre
lënta elle Tratado com as Propoliçoens do Phi
llol'opho Inglez, odizer preventivamente alguma

coulã a refpeito da quellas duas fubllancias, e


dos phenomenos, que relixltaõ da l'ua combina-I
çaõ, por meyo das pril'maticas experiencias.

Da Luz.

a. A Luz conlille em pequenillimas partes deV


74 'NOTAS B ILLUSTRAÇOENS.

materia, que de hum corpo lucido, fâhem em


todas as direcçoens . Segundo o calculo do Dr.
NIEWENnT, em hum fegundo de tempo, fahem
4x8, l660, ooo, ooo, ooo, ooo, ooo, ooo, ooo,
ooo, ooo, ooo, ooo, ooo, ooo partes de Luz de
huma vela accefa; o qual numero contem, ao me.
nos, 6, 337, 242, ooo, ooo vezes, o numero
de grãos de area, que conteria toda a Terra,
fuppondo, que cem grãos de area faõ iguaes à
huma polgada de comprido, e que confequen
temente, cada polgada cubica da Terra conte
ria hum milhaõ dos ditos grãos.

3. SE a Luz he taõ admiravel pela fua fubtí..


leza, naõ o he menos pela fua velocidade. Em
hum fegundo de tempo, ella corre :64 mil
milhas, ou go mil legoas; vindo a fer delta for
te r, 230, ooo vezes mais ligeira que huma bala
de artelharia, que corre .600 pes, em hum
minuto fegundo: o que he innegavelmente cer
to, pelas obi'ervaçoens dos Satellites de Jupiter,
feitas das duas oppollas extremidades do Orbito
da Terra.

Quais-_`
v

NOTAS E ILLUSTRAÇOENS» 75
4. QUANDO as pequenas partes, de que.,
fe compoem a Luz., fallem de hum corpo lu
minofo, como oSol, ou huma vela accefa, fc
propagaõ fempre em linha direita: o que fe
prova evidentemente do confiante fiiâo, que
os corpos lucidos delxaõ de fer vifiveis, pela in
terpoficaõ dos corpos opacos; como as Ellrel
as fixas, pela interpofiçaô da Lua , e dos Pla
netas; e o Sol em todo, .ou em parte, pela
interpoliçaõ da Lua, de Mercurio, e de Venus.

5. Os rayos rla` Luz naõ f'ó fe propagaõ em


linha direita, mas fe encrul'aõ huns pelos outros,
fem que fe confundaô . Se em huma lamina fub..
_til, de qualquer materia opaca, fazemos hum
buraco, que naõ feja mayor, que hum ponto,
e por elle obfervamos de noute os Ceos, ve
mos huma multidaõ de Elirellas, cujos'rayos
de Luz, fem confilíäõ alguma, fe crufaô todos
no buraco, por onde os obí'ervamos: o que
demonllrativamante prova ella alTerçaõ.

6. AQUELLA ley he innalteravel, quando a


Luz paílà por hum meyo de igual denfidade; mas
M quan
76 ROTAS l ILLUSTRAÇOEHSÁ

quando a Luz atraveflà hum meyo, de huma


denfidade dilferente da quella, donde partío,
nefie cafo íè rompe ou quebra, avifinhando-íë
mais, ou. menos, da perpendicular.

7. Os Raros da Luz cahindo obliquamente de


hum meyo mais raro, ou mais diaphano, fo
bre outro mais denfo, ou menos tranfparen'
te, como do Ar fobre o cryfial, fe avífinhaö
da perpendicular, tirada do ponto da inciden
cia, à angulos direitos, fobre a fuperficie do
meyo mais denfo; a qual fe chama fuperficíe
rompente. Se, ao contrario, o rayo paflà de
hum meyo mais denlõ a hum, que o he me
nos, como do crylfal a o Ar', no romper-lê,
fe affafia da perpendicular. A primeira refi'ac.
çaõ, chama-fe refracçaõ â perpendicular; e a fc
gunda, refracçaõ da perpendicular.

8. QUANTO mais oblíquamente os rayos da


Lux cabem fobre qualquer meyo, tanto mayor
he a `refracçac'). Aílím a refracçaô da Luz do
'Sol,a o nal'cer, .ou ao por-fe, he a mayor; por que
ella fere mais obliquamente a filperficie da' atmoíë
l ' ' phera
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS. 71
phera da Terra: e á proporçaõ que o Sol fe eleva
fobre o horifonte , diminue a obliquidade, e
a refracçaõ, athe que no ponto culminante
delle APrro , fe reduzem à nada; como fe prova
pelas Taboas das refracçoens do Sol, da Lua,
e das Efirellas , calculadas pelos melhores Geo
metras. He quanto baila à refpeito da Luz.

Dor Corpos.

9. Sendo a verdadeira efl`encia dos Corpos


abfolutamente defconhecida, naõ fe póde dar
huma julia definiçaõ daquillo,ique fe chama
Corpo. E como agora fe naõ falla dos Corpos,
que relativamente á luz, e a o fentido (da villa,
póde chamar-fe Corpo tudo aquillo, que he
capaz de fer illuminado pela Luz, e viíto com
os nolfos olhos .

xo. Os Couros, aliim conliderados, devem


fer tidos como hum aggregado de minutiliimas
partes de materia, e mefmo divifiveis ao in
finito . Se confideramos, de huma parte, hu
ma efphera de materia folida, que toque com
M z o
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.

o equator as duas Eflrellas Anthares, e Alde


baram; e com os polos, no Norte, o Dragao,
ea Dourada, no Sul: he indubitavel, que, por`
calculo , fe póde reduíir ella immenfa efphe
ra a partes taõ pequenas, como hum gráo de
area . Se , de outra parte, confideramos huma
efphera , que naõ tenha , que meyo pé de dia
metro, he igualmente indubitavel, que o calculo
da primeira efphera fe pode applicar á fegun
da; da mefma forte que a efcala, de huma
carta de navegaçzrõ, mede huma grande par.
te do Oceano; ou, que huma eíphera armilar,
de meyo pé de diametro, reprefenta todo o
fyllema do Mundo. Ora como as partes, 'que
correfpondem á ultima divifaõ da pequena ef
phera, haô de fer a hum grão de area, na`
mefma proporçaõ, em que meyo pé efiá a o día
metro da grande el'phera; o qual he taõ grande,
que fegundo as obfervacoens,e calculos de BRAD
LEY, huma bala de artilheria,a razaõ de 600 pés
por fegundo, de duas legoas por minuto, de
xzo legoas per hora, de 2.880 legoas por dia,
e de r,o$r,zoo legoas por anno, deve ga
íltar z,ooo,ooo,ooo,ooo, de annos para 0 COI'
rer:
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS. 78
rer: l'egue-l'e, que as partes, que correl'pondem
á ultima divilâõ da pequena el'phera, làõ de tal
pequenez, que naõ baila toda a força do enten
dimento humuno, para as comprehender. Mas
eu deixo efizes calculos ablizraâos, aindaqu: exa
âiílimos, para fazer ver athe onde pode che
gar a phyfica divil'aõ da materia.

xr. HUM no de feda, de zoo pés de com


prido, naõ pel'a mais de hum grão: ora, huma
polgada he divifivel em 600 partes vifiveis,
fendo cadahuma dellas da fubtileza de hum ca
bello finiílimo; logo hum fio de feda, que naõ
pela mais que hum gráo, pode phyficamente
dividir-fe em z,59z,ooo vifiveis partes.

12. O oUno he o mais duêtivel e maleavel de


todos os metaes. De hun grão de ouro tem-fe
feito hum fio de Soo pés de comprido, o qual
phylicamente fe podia dividir em partes vi-I
fiveis 3,Goo,ooo.

tz. HUM grão de Anil,ou de Azul de Prul'.


lia, he divifivel, por experiencias incontefia¬
veis ,
NO TAS E ILLUS TRAÇOENS

veis, em 24,788,ooo,ooo partes,todas clara.


mente vifiveis,

14. Sacrmno o calculo de NrawEN-rvr , a


Eolipila refolve, pela aétividade do fogo, hu
ma onça de agoa, em mais de ¡3,365,ooo,
ooo partes. Balla ifio, para dar huma julia idea
da divifibilidade da materia, e para fazer con
hecer , que qualquer corpo fe compoem de mi
nutiflimas partes , que entreii coherem por hu
ma ley da Natureza, ou por hum admiravel,
e occulto mechanifmo, que as theorias mais
reflexivas naõ tem pódido athegora defcobrir.

Da Luz, e do: Corpos, conjiderado: juntamente.

rg. Quan-ro, pois, á materia de que l'e tra.


ta, podem todos os Corpos fer divididos em
lucidos, e opacos . O Sol, as Ellrelhas fixas, a
Luz de huma vela &c. , pertencem a os primei
ros; a Terra, todos os Planetas, e qualquer
producçaõ dos tres reynos da Natureza, per¬
tentem a 'os fegundos.

Os
notas E umsmaçoizus; 8!:

:6. Os Corpos lucidoipodemos conliderallos,


como outros tantos centros de immenl'as elphe
ras de Luz; pois que a propagoõ em todas as
direcçoens. O Sol he igualmente vilivel, das duas
oppollas extremidades,do vall'rllimo Orbito de
Herl'chel; e o fiànal de hum navio he igualmen
te vilto, de todos os que o circundaõ fobre
a linha do horil'onte . A Luz, encontrando na
el'pheral da l'ua actividade hum Corpo opaco , he
por elle refieâida à os` norlfosv olhos,l e excita

em nós a idea delle Corpo, formando-nos a


fua pintura na- retina. E como os Corpos l'aã
viliveis de todas as partes, a Luz deve fer re
fieEtida por elles em todas as direcçoens. Al'
fim os Corpos opacos tambem fe devem ter,
como huns centros de Luz refleétida , que del»
les fe propaga em todas as direcçoens, que os
mefinos Corpos íàõ viliveis..

:7. Mas, dos Corpos lucidos ã' os' opacos,_lia


huma coulideravel difíèrença, a qual confilie, em
que os primeiros naõ tem fombra alguma de
fi mefmos, fendo os centros abl'olutos de ou~
tras tantas efpheras de Luz propria, que d'ellesv
parte
sz NOTAS E ILLUSTRAÇOBNS.

parte ao mefino tempo: em lugar que os l'e


gundos, naõ fendo, que centros parciaes de
huma Luz precaria, a refleâemtfó de huma par
te da fua mafia, proporcionadamente á inciden
cia dos rayos de Luz, que recebem dos Cor
pos lucidos; ficando a outra parte obfcurecida
com a fua propria fombra.

18. TAL na o caí'o de Mercurio, de Ve


nus, e da Lua, na fua oppofiçaõ, ou na fua
conjunçaõ com o Sol. No primeiro cafo, efles`
Planetas nos refleâem a Luz, que recebem
do grande Luminar, e nos deixaõ ver ame--`
tade da fua mafiaV illuminada'. No fegundo cal'o,

porem, interceptando aLuz do Sol, nos pre


fentaö a parte obfcurecida, com a fua propria
ombr a, a qual fe difiingue bem, quanto a Mer
curio, e Venus, quando palII-iõ pelo difco do
Sol; e quanto á Lua, ou poucos dias antes, e
depois da fua coniunçaõ, .du .quando nos ecliplã a
Luz do Sol. Mas baita de preliminares: paflë-`
\
mos ao nofl`o Ponto.

Dos
Nous a' ums'maçoaus. 3?

Dor Pri/mar, e da: Prifmazicas experiencias. I

:9. QUANDO as pequenas partes, de que a


Luz fe compoem (n. 2), cahem fobre qualquer
Corpo opaco, e faõ por elle refleâidas a os
nolfos olhos , naõ l'ó nos excitaõ a idea da fi-f
gira delle Corpo, deffenliaiido-no¬la na retina'
(n._16) ; mas tambem no-la-pintaõ, com huma
quali incomprehenfivel, e harmonica variedaéf
de de belliílimas, e differentes Cores. Mas, del
todas elias, as mais vivas, e refplandecentes faõ,'
as que nos offerecem as experiencias do Prifma.Y

zo. PlusMa, geometricamente fallando , he


hum folido, do qual duas faces oppolias fiiõ
dous planos iguaes, e parallelos, fendo todas`
as outras faces parallelogrammos . Chama~fe
np!f¡¡</‹0¿› Przfma, do verbo Grego npüv, que
íignifica ferrar, ou cortar: e_ effeâivamente o
Prilina he huma figura truncada, que parece o V
fegmento de outro Corpo. Porem, relativamen
te á Luz, e ás Cores, o Prifma he hum in
N firu
NOTAS l ILLUSTRAÇOBNSÃ

flrumento triangular, de grandeza indefinida,


c de huma materia diaphana, pelo quall'e ob
ferva, ou hum Ponto lucido, em hum ambi
ente el'curo; ou hum Ponto efcuro em hum
ambiente lucido.

zr. Es'rns Pril'mas faõ, ordinariamente, fei


tos de cryllal branco; mas como he dificil
0 achallos della materia, ballrantemente gran
des para fe fazerem as experiencias, podem -l'e
os mefmos compor de vidros brancos , lizos,
e delgados, unindthes as junturas com be-`
tume, e enchendo-os de agoa pura, ou co
lorida , fegundo o genero das experiencias, que
fe quil'erem fazer.

zz. Eu os fiz conllruir de todas as figuras,


e com angulos de ro gráos `athe 90, mas
a experiencia me mollrou, que os melh res
Prifmas, para obl'ervar, laõ os triangulares
equilatros. Os de 45 grãos, ainda faõ bons.
Os de angulos menores, naõ moltraõ bem as
Cores: e os que excedem 60 gráos, ainda
que mollzraõ as Cores mui vivas, e fortes›
de
ROTAS B 1LLUSTRAÇOEIIS.

desliguraõ os objeétos, curvando muito todas


as linhas direitas .

2;. Os Pril'mas, com que fiz as minhas ex


periencias, eraõ feitos de vidros brancos, lizos,
e delgados, unidos com betume de cera, c
relina; e da figura, grandeza, e cor feguinte.

Primeiro. EQUILA-rao triangular, de 6 polgadas


de comprido;e os parallelogrammos, de duas
de largo; cheyo de agoa crylialina.
Segundo. DA mefina fig'ura, e grandeza; cheyo
de tintura de Carmim.
Terceiro. DA melina figura, e grandeza; cheyo
de tintura de Azul de Pruília.
Quarto . DA mefma figura, e grandeza; cheyo
de tintura de Verde diliillado.
Quinto. DA mefma Figura e grandeza; cheyo de tin
tura de Açafraõ, que fubllitui á Gomma-Cut
ta, por ella dar huma tintura muito opaca,
que naõ deixava palTar os rayos da Luz.
Sexto. DA mel'ma figura , Ve grandeza; cheyo
de tintura de Nankim.
Sem'ma. Hum parallelipipedo reâangulo, de duas
` N z pol--`
86 NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.

polgadas de bafe , e feis de alto,- chcyo


de agoa pura .
Taes eraõ os Pril'mas com que procedi ás.
feguintes _ experiencias.

ExperienciasI do Prífma, feira: fibre hum Ponte


lucido, circunda'do de hum ambiente efcuro.

24._CoMo, de todos os pontos lucidos, cir-`


cumdados de hum ambiente efcuro, os mais
brilhantes faõ as Ellrellas fixas, he por ella;
que eu principiei as minhas experiencias . Re
gulus, CaPror, a a do Cocheiro, Procyon ,
Cyrius , Rigel, a a de Orion, e Aldebaram, e.
raõ à o mefmo tempo vifiveis, quando eu as
obfervei, pelos feis primeiros Prilinas (n. 2;). O
Prifma acromatico, por elle entendo fempre
o que he cheyo de agoa cryftalina, fazia ver
cadahu'na deltas Ellrellas, como huma piramide
de Luz, da qual a bafe era vermelha, e o
refio verde. Com os Prifmas coloridos, fe al‹
teravaõ alguma coufa elias duas Coä's, fazen
doJe mais, ou menos efcuras; mas naõ fe de
firuiaõ. O Prifma amarello naõ as alterava,
í ,_ __

Noris n utusmaçonus.
mas antes as reforçava mais, que o branco;

25. A LoNcr'rUnE geocentrica de Iupiter era,


neüe tempo, de z S. 24 G. e alguns minu
tos;e a de Marte, de 3 S. e quafi 27 G. con
fequentemente eraô ambos viliveis, com as fo
breditas Ellrellas ; achando-fe o primeiro na
conllellaçaõ de Gemini ; e o l'egundo na de
Cancer. Obfervei pelos mefmos Pril'mas elles
duos Planetas , e me deraõ as mefmas figurasa
e as mefmas Cores , que as Ellrellas fixas.

26. A LUA, no tempo da fua oppoliçaõ, vi


lla pelo Pril'ma acromatico, fe reduz a huma
figura oblonga, que termina mais em ponta,
de huma parte, que da outra; e deixa ver
cinco Cores na ordem l'eguinte: Vermelho, A
marello, Verde, Azul, e Purpura. Exceptuado
o Prilma amarello , todos os outros coloridos',
alterando mais , ou menos elias Cores, as con
fervaõ todas; mas, o Prilina amarello, refbrçando
a Verde, e a Vermelha, defiroe todas as outras.

27. FEITAS elias melinas experiencias fobre


a Luz de huma vela, ou fobre hum pequeno
83 NOTAS B ILLUSTRAÇOENS.

circulo branco, de qualquer materia , pollo


fobre hum fundo elèuro, como hum chapto, ou
qualquer feda, ou pano negro, fe vem os
mel'mos refultados, que nos numeros preceden
tes: e aílim qualquer outra experiencia que l'e
faça, nefle genero, ferá huma pura repetiçaõ
das que ficaõ referidas .

Experiencia: do Pri/'mm feita: ƒbbrel hum Ponta


efcuro, circundado de hum ambiente luciJo.

28. SE, no meyo de huma janella aberta , l'e


fufpende huma pequena efphera, de qual quer
materia opaca, obl'ervando-l'e da parte da fom
bra, a huma proporcionada diflancia, com o
Pril'ma acromatico, entaõ fe ve huma figura
Oblonga, apparentemente diaphana, e colorida,
de baixo em alto, na ordem que fe fegue:
Amarello, Vermelho, Azul el'curo, algum re
flexo de Purpura, e Verde, que laõ, jufiamente,
as mel'mas Cores (n.z`6.~z7.), coma differença,
de fe mol'crarem em huma ordem diveríã . Se
ella experiencia' fe faz _com o Prifma amarello,
€0~

a `>`Lz`d
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.

todas elias Cores fe vreduzem a Vermelho, e


Verde; occupando o Vermelho a parte inferior
da efphera, eo Verde a fuperior: o que he
bem o contrario; do que fuccede nas expe
riencias do Ponto lucido, em hum ambiente
cfcuro.

29. SB, fobre huma folha de papel branco,


pomos hum circulo de feda negra, ou de qual
quer outra coulà da mel'ma Cor, vemos o mell
mo phenomeno (n. 28), que he fempre inal
taravel, em fimilhantes citcumliancias.

Outra: Experiencia: do Pri/'mm

go. SE obfèrvamos, pelo Pril'ma acromatico;


as nuvens, que em differentes formas, cobrem
o Ceo, da parte do horil'onte, à o nafcer, ou
à o põr do Sol, vemos, que as pequenas nu.
vens brancas nos prefentaõ fomente a Cor Ver
melha, e Verde: a primeira, da parte donde
recebem a Luz; e a Verde da parte oppofta.
As nuvens deníãs, e el'curas, nos prefentaõ
da parte donde recebem a Luz, a Cor ama-z
re
il.

90 Nous E rrtusraAçoEus.
rella e vermelha; e .da parte oppolla, as C0.
res azul, e verde; e em certas circunfiancias,
a Cor de Purpura:e quando as nuvens, af
fim coloridas, pallaõ humas pelas outras, le
vadas por'diverfas correntes de ar, entaõ ve
mos, que as l'uas Cores l'e mixturaõ, e formaö`
outras Cores diverl'as. Se giramos o Prilina,
de forte que os rayos da Luz cáhiaõ mais ob
liquamente fobre a l`ua face, que primeiro os
recebia quali perpendiculares, todas aquellas
Cores l'e vaô incorporando humas nas outras,
e finalmente fe reduzem a huma faxa de Cor
mui forte, da qual aznetade he vermelha, e a
Outra parte verde.

gr. No ver huma Cidade illuminada, pela


Luz do Sol, l'uccedc o mefmo. Os profis, dos
edificios illuminados apparecem vermelhos, e
amarellos; e os da parte da fombra, appare
cem azues, e verdes, com algum reflexo de
Purpura: mas girando o Prifma, como na ex-.
periencia (n. go) todas elias Cores, e as que
fe tivelfem compolto da l'ua mixtura, fe re
duzem a duas, Vermelho, e Verde . O mel'
mo
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS N
mo fuecede, fe fazemos naturalmente a obl'er;
‹vaçaõâ com o Pril'ma amarello. Obtemle elle
mel'mo refultado, obfervando da mefina forte,
de dentro de huma camara, as vidraças, as
perfiannas , oua luz, que entra irregularmente
pelas janellas mal fechadas.

^ 32. A LINHA do horizonte, no mar, obl'erva


da com o Prifina acromatico, fe ve fempre
de hum Verde mais, ou menos carregado, fe
gundo os differentes reflexos da Luz, e o e
Íiado da fuperficie da agoa. As ondas moliraõ
fempre a Cor Vermelha, e Verde; e o mefino
fuccede ás velas dos navios, eprincipalmente
das pequenas embarcaçoens,

3;. FAZENDO , de hum .terraço elevado, di


`verfiàs obl'ervaçoens fobre as Cores, vi cafual
mente ao põr do Sol, que as velas de hum
moinho de vento, que me ficava à poente,
pareciaô compollas, ao comprido, de dous pa
nos, hum vermelho, e outro verde, quando
elias eliavaõ horizontalmente fituadas . Quan
do, porem, fe avilinhavaõ da perpendicular,
O com-J
,i won: a uLUs'rmçonxs.

começavaõ elias duas Cores a confundir-fe, de


forte que, iul'tame nte na perpendicular, fe re
folviaõ em huma efpecie de nuvem, ou fom
bra muito el'cura , a qual fe del'vanecia á pro-I
porçaõ, que as velas fe avifinhavaõ utra vez
da linha horizontal; em cuía fituaçaõ recupe
ravaõ as duas primeiras Cores, e na mefma or
dem, fempre inalteravel i. e. o Vermelho na 1
parte inferior, e o Verde na fuperior.

34. TAMBEM outra cal'uàlidade me fez, em


hum dia de veuto frel'co, encontrar com o
Prifma, huma delias bandeiras, que em Malta,
fe cofiumaõ pendurar nas ruas, para indicar as
felias mais folemnes. O vento a movia em
todas as direcçoens;e mui-tas vezes a tinha fu
fpenfa horizontalmente. Vendo-a pelo Pril'ma,
nefia fitnaçaõ, parecia huma larga fita, ame
tade vermelha, e a outra ametade verde, e
quando ondeava irregularmente , entaõ fe viaõ
nafcer delias duas Cores muitas outras, que
defapareciaõ todas, quando a bandeira tornava
' i fituaçaõ horizontal :. e nefie cafo fe redufiaõ
ás duas. de que fe tinbao formado.
Sl.
sem 1 musmqømz 9!
ggl Si, em hum quarto de papel'lirane'o,
colamo's! burn circulo de leda negra, de' tafetãt
'por exempo, *e le, em hum pedaço de tafetá*
della mel'ma Cor, colamos hum circulo de pa;
pel branco, da mefma grandeza do primeiro;
e pomoís elias duas figuras, de forte que os
dous círculos fiquem em julia poliçaõ, hum' ao r
lado do outro, e como comprehendidos eritrê
duas parallelas: obl'ervando-oš, pelo Pril'mt
acromatico, os vemos coloridos com as meta.
mas Cores; mas em huma ordem diametral;
mente oppolla. O circulo branco mollrã, na
fua peripheria fuperior, as Cores vermelha, e'
amarella; e na inferior hum Verde claro, pou
co Azul, e hum quili inperceptivel reflexo dê
Purpura. O circulo negro, porem, molirandõ
elias mel'mas Cores, as faz ver em huma or;
dem toda oppolia, illo he, o Vermelho, e A
mai'ello,I na peripheria inferior,- e as outras
Cores, na fuperior.

36. Tonas as experienciasl feitas com o Prilä


ma, febre h'um rayo de Luz do Sol, introa
dufièd em huma camera elliura, fe redul'em ás
O z expe
nous n ILLUs'mAçonns;
experienciasln. 24. zg. 2.6. 27. ) , ilio he, a ob
fervar hum Ponto lucido, em hum ambiente efcu
ro. Elle rayo de Luz, l'e l'e recebe em hum-cartaõ
branco, forma nelle hum circulo mui claro,
rodeado de hum ambiente el'curo, correfpon
dendo iullamente a oblcuridade da camera à o -
azul efcuro dos Ceos, nas obl'ervaçoens das
Elirellas, e dos Planetas (n. 24. 25.) . Se obler
vamos, pelo Pril'ma acromatico, elie circulo
de Luz, o vemos colorido da mel'ma forte, e
com as mefmas Cores`,\que elle fe pinta no
cartaõ, quando tem paflãdo à o traves do Prif
ma; de l'orte que tanto vale oblervar, pelo
Pril'ma, o rayo de Luz, que fobre o cartaô
he branco, como ver l'obre o cartaõ o rayo
de Luz colorido, depois de ter pallado pelo
Pril'ma.

37. No que rel'peita á figura oblonga, for


mada da incidencia de muitos círculos, na qual
fe pretendem achar as fete Cores chamadas pri
mitivas, deve refieãtir-fe , que ella figura naõ
he que huma. pura illufaõ.` Ella fe compoem
indubitavelmente , de muitos círculos coloridos
com
NOTAS `B Il'.L`US'I`RÀÇOENS.l
-95
com as cinco Cores , que refultaõ da exp erien
cia (n. 26. 27.) , os quaes círculos cahindo huns
fobre os outros, mixturaõ aquelas cinco Cores,
e formaõ quantidade de outras compolias, en..
tre as quaes fe pertendem deliinguir aquellas,
que fe chamaõ primitivas.

38. 'FAN-ro he ifio allim, que, fe applica


mos ao tubo, que intreduz o rayo do Sol, hu
ma lamina fubtil, de qualquer materia opaca,
na qual fe tenhaõ feito cinco, ou feis peque
ninos buracos, que naõ dil'tem huns dos outros
mais de oito pontos, ou huma linha,- e faze
mos paflar el'res rayofinhos de Luz pelo Prif
ma acromatico: entaõ vemos, à huma propor
cionada diflancia, fobre o cartaõ, outras tan.r
tas figuras coloridas, da mefma forte, e na
mel'ma ordem , que fe ve hum fo rayo mayor
de Luz do Sol (n. 36.) . Mas fe afi'allamos,
pouco a pouco, o cartaõ , aquellas figuras fe
avifinhaõ, cadavez mais, humas das outras; at
heque , fiualmente, fe mixturaõ', formando hu-l
ma figura oblonga, comprehendida .entre _duas
parallelas, e circular nas duas extremidades;
equal
Horas x rLLusrxAçonns.
equal figura he abfolutamente fimilhante g i
que forma hum rayo mais forte de Luz ddSoI,
quando fe recebe obliquamente na face de hum
Prilina. Ora as Cores que rel'ultaõ da mixtu
ra dos, cinco ou fete pequenos rayos de Luz,
Iäõ indubitavelmente comportas: logo as que
fe vem na figura oblonga, que refulta de hum
fo rayo de Luz, a qual tamben he compolla
de círculos coloridos, mixturados huns com o;
outros, làõ da mel'ma natureza, e confequen
temente naõ fe podem chamar primitivas;

39. SE obl'ervamos, com o Pril'ma amarello,


todas as experiencias, que na camera elcura;
fe fazem com os rayos do Sol, naõ vemos l'e'
naõ a Cor vermelha, e verde: e le itzemos
as mel'mas experiencias com elle Prifmn, todas
as figuras confervaô as melmas formas, que
lhes dá o Prifma acromatico; mas' naõ mol-`
firaõ fenaõ as Ceres vermelha, e verde-â

4o. Sn em huma camera; em que naõ ein


tre Luz alguma e-rrat-ica, fe faz' entrar hurfl fuba
rayo do Luz do Sol, e tendo pafl'ado
pelo
NOTAS B ILLUSTRAÇOENS. 97
pelo Pril'ma, o recebemos em hum cartaõ bran
co, bem perto do tubà por onde entra, entaõY
naõ vemos, que hum circulo luminolillimo, fem
Cor alguma. Se affaliamos mais o cartaõ, ve
mos elle circulo menos luminol'o, mas colori
do. E l'e finalmente pomos o cartaõ em gran
de dillancia, vemos hum circulo obfcuro fem
Cor alguma.

4x. FonA da camara obfcura, fuccedem os


melm>s phenomenos. Se obl'ervamos o Sol,
pelo Prilma, naõ vemos que hum circulo de
Luz muito clara , fem Cor alguma. Se ob
fervamos da mel'ma forte huma Elirella da pri
meira grandeza, ou hum Planeta , vemos hu
ma figura colorida. Se finalmente olhamos pello
Pril'ma para huma Elirella da fegunda,ou ter
ceira grandeza , naõ vemos que hum circulo
obl'curo, fem Cor alguma. Athequi al expe
riencias do Prifma. i
nous n rarosrmçoxns;

' Princípios, que reƒízltaõ' da: experiencia: Prif


matica: .

42. ToDos os conchecímentos phylicos fe


verfaõ, ou fobre faâos particulares, ou fobre
leys geraes. O conchecimentw dos faâos, pre
cede fempre o dasv leys, as quaes faõ meros
refultados das obfervaçoens , do que ordinaria
mente acontece, em hum grande numero de
cafos particulares; e que depois fervem de nor
ma, para decidir outros cafos da mefma na
tureza. Aflim, das obf'ervaçoens feitas fobre o
movimento projeãil dos Corpos , em linha di
reita, e do univerfal poder da attracçaô, que
os tira della linha, fe formaraô as leys, que
applicadas a os Planetas, fizeraõ conhecer'o
feu curvilineo movimento. Quando as leys ge
raes fervem, para explicar cafos particulares,
chamaõffe entaô Principios.
4;. HE com elle nome, que fe achaô ca
raãerifadas todas as leys phyficas , que refultaô
das experiencias fobre as Cores, e fazem a
m3- v

."

eu __.¬ w`
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS. 99'
materia da Primeira, e Segunda Parte do Tra
tado : e he com elle mel'mo nome, que eu vou
delignar as leys, que refultaõ das experiencias
Prifmaticas, que acabo de referir nella Nota.

PRIMEIRO PRINCIPIO a

44. As Cores fe manifellaõ, e fe formaõä»


por meyo da refracçaõ da Luz.

Efcholio.

4;. Sn. na camara obl'cura , fe faz paflar hum


rayo de Luz, pelo Set. Prilina (n. 23.), nem
a refracçaõ he lenlivel, nem l'e ve Cor algu
ma. Se fe faz pallàr o mefmo rayo de Luz,
por hum angulo de ro grãos, ja he fenlivel a
refracçaõ, e a Cor. Hum angulo de 30 gráos,
refraãe mais a Luz, e dá mais Cor. E fi..
nalmente, hum angulo de 60 gráos, dá huma
grandillima refracçaõ, eas Cores muito vivas.
E como a Luz nal'ce com a refracçaõ, e au
gmenta á proporcaõ, que ella crelce; naõ fe pó
de, de forma alguma, contellar a evidencia
P della
'100 YOTAS I IIJ'JJS'I'RAÇOENS.`

delle Principio, que inteiramente concorda com


os Principios Oitavo, e Nono, do Tratado (§
4;. 48.)

sEcUNno tamento.

46. A Luz, que emana dos Corpos lucidos,


e a que he refleEtida dos opacos, contem as
melinas Cores, e produz os mel'mos phenomenos.

Efcholío .

47. Sn, pelo prim. Pril'ma (n. 2;.) , fe ob


ferva Cyrius, e Jupiter, ve-fe em ambos, a
mefma figura, e a melma Cor ( n. 24. 25.). Ora
a Luz de Cyrius vem immediatamente de hum
Corpo lucido, e a de Jupiter de hum opaco: lo
go elle Principio he de huma abloluta evidencia.

TERCEIRO PRINCIPIO.

48. A ¡NTENsAõ da Luz' he igualmente de.


llruétiva das Cores, como a denfidade da fombra.
r

~ QUAR:
NOTAS I '1LLUSTRAÇOERS' 1.91*

QUARTO YRINC1P101

49. HB com huma Luz mediana, que appa


recem, e fe formaõ as Cores.

Elezozz'o.
go. Es'rE quarto Principio ( n. 49. )lie hum
Corollario do Terceiro ( n. 48. ); e ambos
fe provaõ evidentemente, com as experiencias
(n. 4o. e 41.). A grande intenf'aô da Luz
do Sol faz, ue obfervando-fe elle afiro pelo
Pril'ma, naõ moflre Cor alguma. A debil Luz
de huma Eflrella da fegunda, ou terceira gran
deza, he a caufa, de que ella fe veja pelo
Prifina,fem Cor alguma. Mas a Luz de huma
grande EPrrella, que fe póde reputar mediana
entre o Sol, e huma pequena Eflrella, pre
fenta mui vivas, e brilhantes, as duas Cores
Vermelho, e Verde . Os phenomenos ( n. 41.)
íâõ identicos; pelo que he inutil o recapitulf
lallos .

P a qum
'xo'z NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.

QUINTO PRINCIPIO .

gr. As conns primitivas faõ duas, Verm elho'


o Verde.

' Efcholio.

52. SIMPLEz, e primitivo, l'ó fe pôde cha.


mar aquill I, que naõ he derivado, nem com
pollo. Para conhecer ella qualidade, em qual
quer fubllancia, he necellario defcompolla, e re‹I

_folvella nos feus elementos; que entaõ fe cha


maõ limplez, e primitivos, quando refiliem ás
'analylis mas rigorozas, fem fol'frerem alteraçaõ
alguma. Allim, a refpeito dos corpos, l'ó fe
pódem ter por elementos limplez, e primitivos,
a materia vitrea e calcarea; por que a elias
duas lubliancias fe reduzem todos os corpos
do. nollb Globo, por meyo de hum intenl'o fogo'
que naõ tem mais a força de as defcompor;e
effeãivamente he dellas mefmas duas l'ubllan
cias, que fe formaraõ todos os Corpos, de que
fe compoem a Terra, e que lhe ellaõ in
herentes ( §. 4.)
NOTAS E lLLUSTRAÇOENS. z.,
5;. "PELA mel'ma razaõ, que l'e tem por fim
plez, .e primitivos, ló aquelles elementos dos
Corpos, que refillem á analylis do fogo mais
intenfo; l'e devem ter tambem, por fimplez,
e primitivas, ló aquellas Cores, que refiliem
ás analylis mais fortes, que fobre elias l`e pó
dem praticar. E como as Cores naõ podem
foffrer que duas fortes de analyfis, huma fo
bre os Corpos coloridos, e a outra fobre a
Luz tambem colorida: fegue-fe, que ló l`e devem
ter por Cores primitivas aquellas, que' refiliem á
f "ça dellas analylis, confervando-fe inalteraveis.
Ora o Vermelho, e o Verde, faõ as duas Co
res , que refiílem á força das analylis mais for
tes, e que fe conlervaõ inalteraveis', quando
todas as outras Cores fe del'compoem , e fe de
liroem; como fe prova das experiencias feitas
fibre os Corpos coloridos (§ 16. I7. 19.), e
obfervaçoens (§ _22. 23.):l e igualmente das
experiencias feitas fobre, a Luz colorida (n. 24.
15.28; 29. go. gr. .32. 34. 39.): fegue-fe,
que naõ fe podem ter, phylicamente, por Co
res primitivas, l'enaõ o Vermelho, e Verde; por
ferem os elementos indeliruãtiveis, a que fe re
du
104 NOTAS B ILLUSTRAÇOERS.

duzem todas as outras Cores; e dos quaes as


mefmas fe compoem (n. 34.). Ainda que iflo
bafiaffe, para provar a evidencia defie Princi- I
pio; elle tem ainda a leu favor as duas analo
gias ( §26. 27. 29.), que na prefente ma
teria, faõ da mayor concludeucia.

sino nmcmo.

54. A Con Azul he derivada, e naõ primitiva.

Eƒc/zdlío.

5;. Es-rn Principio he hum corollario do


Quinto( n. gx. ); e a formaçao defia Cor,
confia das experiencias, em que fe funda o Prin
cipio Quarto (§ 28.).

SEPTIMO PRINCÍPIO.

56. A Corv amarella he derivada, e naõ pri


mitiva'.

Eƒcbof
notas x rrtosrnaçonns; ' :os

¡sr/ahaha .

57. ESTE Principio he hum corollario do


quinto (n. SL): e o modo, por que ella Cor
fe forma, fe ve das experiencias, e el'pecula
çoens, em que fe funda o Principio (§ 30.).

OITAVO PRINCÍPIO.

58. O Negro he huma Cor politiva, e E:


forma do Vermelho , e Verde.

Eƒèñolía.

$9._A Evrnmccut delle Principio, le moJ


fira da oblervacaõ ( n. 3;. ). As velas do mo
inho de vento, de que ali fe trata, ellando
horil'ontaes, pareciaõ duas largas faixas, unidas
ao comprido, huma verde na parte fuperior;
e outra vermelha, na inferior. E como elias
duas Cores conl'ervaõ- femprea mel'ma policaõ,
fobre a linha horilõntal, deviaõ- necellâriamen
tc unir-fe, à o palfar pela perpendicular. He
POÍS.
.10€ ` NOTAS E ILLUSTRAÇOBNS.

pois nella pall`agem, e uniaõ, que l'e forma


va fempre a el'pecie de nuvem ou fombra mui
efcura , como fica refferido. Aquela machina ella
va lituada na linha vil'ual ao ponto, em que
o Sol fe punha; as l'uas velas moviaõfe em hum
plano perpendicular à ella linha, e conlequen'
temente eu as obfervava da parte da fombra, e
de hum ponto diametralmente oppollo à aquel
le, donde partia a Luz, ellas eraõ, quadrila-`
teras, e teriaõ zo pés de comprido, l'obre cinco,
ou feis de largo; eraõ da mefma lona de que
fe fazem as velas dos navios ; e me ficavaõ na
dillancia de 250 palfos geometricos. Exponho
todas ellas circunllancias, porque em oblerva
çoens delle genero, a direcçaõ da Luz; a l`ua
força; a grandeza, a figura, a materia dos objffilos,
e a dillancia em que fe obferva, influem mui
to` nos refultados. As obl'ervaçoens feitas fohre
as nuvens em movimento, daõ elle melmo re
fultado; e as experiencias (§ 16. 17. ), feitas
fobre as Cores materiaes, convem inteiramen
te com as da Luz colorida.

NONO

` «-< _`\"‹
'rw-___

nous n ums'maçonus. im

`.NONO PRINCÍPIO.

60. O BRANCO he huma Cor pofitiva, e na


fce da extrema divifaõ das duas'Cores primi
tivas, Vermelho, e Verde.

Efifwlz'o.

6x. As EXPERIÊNCIAS (n. 4o. 41.) moliraô


a evidencia defl: Principio. O Sol, vifio pelo
Prifma, parece hum circulo de Luz mui viva;
mas fem Cor alguma: por que a Cor fe acha
dividida em huma grande mafia de Luz, e por
iiTo he invifivel. O mefmo fuccede na expe~
riencia( n. 4o.), em que o rayo de Luz»
depois de paflar pelo Prifma, fe recebe no
cartaô branco, ao pé do tubo, que o introduz
na camara efcura: e como, nefla diflancia, a
Luz fe acha ainda mui intenfa, e cahe fobre
huma fiiperficie branca, que tambem augmenta
a fua mafia; pela mei'ma razaõ da experiencia
( n. 4:. ) naõ deixa ver cor aiguma . O meiino
fiiccede com as Cores materiaes; como fe prova
Q pela
¡o! sons n ` runsmçons;

pela Taboa XIIII. n. 4;. e ainda mais palpa


velmente , mixturando fobre o porphyro, hum
graõ de Anil, com duas libras de Alvalade,
dividin'do-o o Branco de'tal forte, que nelle
fenaõ dellingue a minima fombra de Azul.
./
62. Drco que o Branco, e o Negro, laõ
Cores politivas, ( n. 58.60.) porque o contra
rio repugna à todas as leys da phylica . Nós
recebemos indubitavelmente a idea dos objeétos
externos, pelo orgaõ fenforeo da villa , me..
diante o refiexo da Luz, a qual, cahindo febre.
os mel'mos objeétos, fe refleâe a os noll'os ol¬
hos, trafendomos comfigo à fua imagem (n.
15.). Ora, l'e a Cor negra naõ foll'e que hu-'
ma privaçaõ da Luz , feguir-fe-hia , que naõ
poderiamos receber a idea, nem de huma co
lumna de marmore negro , nem de qualquer
outro corpo da mefrna Cor: mas a experien
cia molh'a, que ellando em julia poliçaõ duas
ou mais columnas , huma de marmore negro,
c as outras de marmore branco, vermelho õtc'
recebemos taõ claraa idea de humas, como das
outras; logo o negro he huma Cor taõ pofi¬
tiva ,
RGTAS l ILLUSTRAÇOBNSí l"leg
tiva, como qual quer das outras, a que fênaô
difputa ella qualidade; e allim naõ póde con`
fillir na privaçaõ da Luz.

6;. ALEM dillo, huma taboa'de marmore


negro, bem polida, refleóle a Luz taõ exaéla
mente, que em
nellahum
vemos as imagens
élos, como efpelho. Ora, illodos
vnaõobje

de acontecer, fegundo as leys 'da Catoptrica, fe


naõ nos corpos, que refleélem fielmente os
rayos da Luz; logo he imphilol'ophico o dizer,
que a Cor negra confille na abforbencia dos
rayos da luz; quando os Corpos della Cor os
refleálem igualmente, que os coloridos de Branco,
Vermelho &c.De mais he provado (§ 22. n. 23. ),
que a Cor negra fe forma da mixtura do Ver..
melho, e Verde: ora, fe a Cor de Purpura,
que fe forma de Vermelho, e Azul, he hum
Cor politiva; da mefma forte o deve fer a Cor
negra, que fe forma pór huma fimilhante com
binaçaõ. Hum igual raciocinio prova, que O
Branco he tambem huma Cor politiva.

64. O comfuunm ellas duas Cores, huma


Q 2 com
ixo notas n rrr-.usmçozws.
`com a Luz, a outra com a fornbra, deu lu.
gar ás ideas commumente recebidas. He pre
cifo, differençar a Luz, da Cor branca, e a fom
bra, da Cor negra. A Luz faz viliveis os obje
êtos, com as fiias qualidades; e a efcuridade,
produz hum effeito oppollo, illo he, de naõ dei
xar ver coul'a alguma; mas a Luz, e a obfcu
ridade, faô tanto a Cor branca, e negra, co-'
mo a azul, e verde. Ora, nifnguem diria, que elias
ultimas duas Cores equivalem á Luz, ou aelÍ.
curidade; da mefma forte fenaõ póde dizer
illo, das duas primeiras, vermelho, e verde?
fabendo-fe d'e outra forte, o mechanifino da
fua formaçaõ, pelas experiencias (§ r6.. 17. 19-..
az. n. 33.).

6 5. TAEs faô os Principios, que refultaõ das


obl'ervaçoens, feitas fobre as experiencias Prii`
maticas: os quaes fe achaõ inteiramente con
formes, com os queV refultaõ das obfervacoens
feitas, fobre as experiencias dos Corpos colori
dos (§ z-o. zr. 24. 28. go. 3-7. 4o. 4;, 48;);
e que tem ainda em feu favor, as analogias
de Natureza (§ 216. 29.).
. Pim.

`~ ` -VV`I
nous n rrtosmçoaus;

Phenomerzo: da: Cores , explicado: pelo: Prínci


pior, que rejirlraõ da.: experiencia: do Prifma.

66. Sn as leys geraes, quando fervem para


explicar cal'os- particulares, fe chamaõ Princi
eipios (n. 42 ); a explanaçaõ, ou injuncçaõ,
delles Principios, he chamada theoria, ou fylle
ma; e os faãlss que fe devem explicar com
elles chamaoJe phenomenos. Allim os Treze
Principios que prefenta elle Tratado (§. zo
2r. 24. 28. go. 37. 4.o. 4;. 48. n. 44. 46.
48. 49. ) formaõ huma theoria, ou l'yllema de
doutrina, com a qual fe podem explicar todos
os. phenomenosz das Cores.

67. Es'rns phenomenos làõ de duas fortes,


porque ou fe manifellaõ- na Luz colorida, ou
nas fuperficies dos Corpos naturaes. Eu vou
explicar hum- phenomeno de cadahuma dellas
el'pecies , >que fervirá de norma para a intelli
gencia. de todos os outros.

` ~ Dos
HI 'nous e rtws'rnAçonns.
68. Dos phenomenos da Luz colorida, o
mais bello e magellol'o, he fem duvida, o Arco
Celelle, que nos tempos mais antigos fez a
admiraçaõ dos homens, e tem lido cantado, com
o nome de Iris, pelos mais fam'ofos Poetas.
Elle phenomeno, comtudo naõ he outra coufa,
que hum grande, mas identico refultado ,‹ á o
da experiencia ( n. 4o.) feita, com huma Luz
mediana, em huma camara oblcura.

69. O sor., na valla camara do Univerl'o,


tem lugar do rayo da l'ua Luz,em` huma pe..
quena camara. As gotas de agoa, de huma
nuvem desfeita,ou de huma nevoa pouco denla,
faõ o grande Prilma, em que fe refraéle, e mo..
dilica, a Luz do Sol. E a parte do Ceo co
berta de nuvens, que fica oppolla ao Sol, he
o' immenfo cartaõ, 'onde fe mollraõ as Cores;
que faõ mais dillínãlas, ou mais confuzas, e
mais ou menos em numero , fegundo a obli
quidade da Luz do Sol, fobre o grande Prifma
por onde pallã: da mefma forte que na camara
obl'cura, recebendo o rayo da Luz do Sol per
pendicular-mente fobre a face do Prifina, naõ
for
'r ' 'vr-fi-v ¬

BOTAS I ILLUST'RA ÇÓIDIS.l


u;
forma no cartaõ, que quatro ou cinco Cores; e
recebendo-o obliquamente, forma muitas mais.

7o. Quau'ro á curvatura do Arco, ella pro


cede, de que palfando a Lux do Sol por hum
grande angulo, qual he o das gotas de agoa,
que formaõ o Prifma Celelle, fe produz aquela
curva da mel'ma forte, que o angulo de hum
Prifma de 9o gráos, reduz á curvas todas as
linhas direitas ( n. 22.).

7x. Os phenomenos das Cores, que nos pre.


fentaõ as fuperficies dos corpos naturaes, fe
explicaõ da mefma forte. Todos os Corpos faõ
compollos de partes taõ fubtis, como fica pro,
vado (n. xo. u. 12. 1;. 14.). E como naõ
ha Corpo, por mais compaéto que feia, que re~
duzido a minutiflimas partes, fe naõ faça dia-`
phano; fegue-í'e que, a refpeito da Luz , que
he muito mais fubtil, que as minutifiimas par.
tes, de que os Corpos fe compoem, fe devem
reputar diaphanas, e tranfparentes as fuas fuper.
ficies. Ora, como a Luz, no refleãir-fe dos
Corpos, tem ia pafiãdo por elle meyo mais
den-_
.Í ¡4 :tons x izivsrmçonus.
denfo, e menos diaphano , que o ar; regue-fe
que deve ter fofrido huma, ou mais refracçoens
(n. 7. )e que deve necelllrriamente, fazer-nos
ver colorida a imagem dos objeâos (44. 45.) .

72. Naõ pareffa extraordinario, que as fu


perl'icies dos Corpos, e ainda dos mais denl'os,
firvaõ de Pril'rna à os rayos da Luz, para fe
fbrmarem as Cores. Todos os Corpos natu
raes `faõ compollos de dous limplez elementos,
que làõ a materia vitrea, e calcarea, combina
das de mil modos differences (§. 3. ). Se
a todos os Corpos fe faz lofl'rer a analylis
do fogo mais intenl'o, elles l'e reduzem outra
vez a elias duas elementares fullancias, e a
huma grande quantidade de vapor, que exhalaõ
no tempo da operaçaõ. Ora, a materia vitrea,
e calcarea l'aõ indilputavelmente tranfparentes,
ainda a os nol'fos olhos, quando ellaõ reduzi
das a partes de huma certa grandeza: com
muita mayor razaõ o devem fer fempre, a
ref'peito das fubtilillimas partes, .de que a
Luz fe compoem. i

Daqui
___ L

Nous n ttLus'rnA'çonns. ITS.


73. DAQUI fe ve claramente, que a Cor Ver
melha do Rubim, fe forma pela concorrencia
das mel'mas circunllancias, que fazem parecer
vermelha ametade de huma Ellrella ( n. 24.),
ametade das velas de huma embarcaçaõ (n.
32.), ou ametade da peripheria dos círculos
(n. 35.); e que o Verde da Efmeralda,
fe forma pela concorrencia das circumllancias,
que fazem apparecer verde a outra ametade
daqueles objeélos: e allim a refpeito de todas
as mais Cores. Mas qual he o intrinl'eco me
chanifmo , que produz taõ admiraveis efl'eitos,
e para que ferve tanta variedade de Cores:
'ƒquando no Rubim, e na El'meralda, naõ ve
mos que huma mera cryllalilaçaõ; e para as
outras experiencias naõ concorre, que hum pe
daço de vidro', pelo qual obfervamos, ou hum
Ponto lucido em hum ambiente elcuro, ou hum
Ponto el'curo em hum ambiente lucido(n. 20. )¡
e quando os Corpos naturaes nos feriaõ igual-I
mente uteis, fendo, ou naõ, coloridos?~ Ella
he huma daquellas Quelloens, de que eu já fallei
no Tratado ( §. 4. ); e da qual a decilàõ de
pende de conhecimentos fuperiores, e á força
R dos
u 16 nous l qus'rmiçoms;

dos nofl`os fentidos, e mefmo á eflicaz pene;


traçaõ das noflãs intelleãuaes faculdades. Limi
temo-nos prudentemente à os faCtos, e ás ver
dades que a imparcial, e continua obiervaçaõ
fobre elles, nos podem procurar; e deixemos
de eicrutar as caul'as primarias e ultimas, que
fó podem comprehender-l'e, pela illimitada Sa
bedoria de hum SER SUPREMO.

Succíma comparaçaõ' da: Propcƒíçaenr de Newton,


com o: Principios , que prefenta eĒe Tratado.

74. A nou'rnma de Newton fobre as Co-'


res , fe contem nas cinco Propoliçoens feguintes;
que tranfcrevo na lingoa original, em que fo
raõ efcriptas, para evitar qualquer iquivoco, que
poderia recrefcer, ainda da mais fiel traducçaô*

PROPOSl TI0 Í.

Radii: diverď rqfi'angibilibus diva/i competun?


Colares a

rasa
*faizl
nous a ruvsrnaçoms!

PROPOSITIO II.

Radiorum ƒbrmaz, _/z've di/poƒitíones coloríflml


non [um refraã'ione mutabiler.

PROPOSITIO III.
\

Colares albí G* nígrí, cum cinereis five ƒuƒãí: in;


rermediír uniua` cujufgue ƒpeciei, canfiuè mi/lir,
generamur.

rnorosrrro. ' 17.

Primitivi Colares per compo/irionem Colorum ƒibíq'


me: utrinque con nium exhibm' poflimt.

PROPOSII'IO V.

Corpomm naturalíum Colares a genere radiorüfll


derivantur, quo: maxima*l refleãum .

R o` goma
l:18 IOTAS I ILLUS'IRAÇOENS.

QUANTO á rnorosrçAõ 1.

7;. PARA que ella Propoliçaõ foll`e evidente,


feria necellario, que Newton provalfe: Que a
differente refi'angibilidade dos rayos da Luz,
que attraveçaõ o angullo de hum Pril'ma , pro
vem das diverfas Cores delles rayos; ou que
a -diverfa Cor Idos rayos da Luz, faõ a caul'a
da l'ua refiangibilidade : o que elle philofopho
naõ fez certo de lõrma alguma. Elle vio, que
os rayos da Luz, que pallàõ pelo Prifma, fe
refrangem huns mais que os outros;e que a
Cor vermelha ,- nas fuas experiencias, correl'
ponde à os rayos menos refrangiveis, e a Cor
de purpura a os que fe refrangem mais: e de
lla obfervaçaõ concluio; que a os rayos mais
refrangiveis competia a Cor de purpura, è a
os menos refrangiveis a Cor vermelha; ea os
que ficaõ entre elles dous extremos, todas as
outras Cores " .
MAs
Maxime refiagiãiliãus purpum, five violarum Color com
petir, 6* rubor minima refiangibilibu: ,. azqzu mediocribu: vi
ridiras vel pariu: confinium viridis, 6' _virefinri: cara/a' .
Adzoque radii proa: jim: plus: plufgue refiangibik: apzifiuzt
ad
NOTAS B ILLUSTRAÇOENS. 119
76. Mas, como póde huma fimilhante aHè
rçaõ concordar-Ie com a experiencia (n. 35.)
que nos mollra, que aquellas duas Cores taö
oppol'tas, competem á mefma refracçaõ. Aquel'
-les
ellaõidous
entrecirculos faõ da mei'ma
duas parallelas; vendo-osgrandeza,
pelo' Prif'e

ma , naõ l'e póde duvidar, que as refracçoens,


que correfpondem à cadahuma dellas paralle
las, fejaõ as mefmas. Ora, fobre cadahuma
deÍlas parallelas fe ve, ão mel'mot tempo, a
Cor vermelha, e amarella, no circulo branco*
e a verde,l azul, e purpura no circulo negro;

logo naõ fe póde dizer, que a os rayos me


nos refrangiveis compete a Cor vermelha; e
ã os que íõfi'rem mayor refracçaõ, a_ Cor de
purpura; villo que de baixo da mei'ma linha:
_ e da mefma refiangibilidade, vemos ellas duas
Oppoílas Cores.

77. A nrvnnsn ref'rangibilidade da Luz, que


paflã por hum Prifma , procedera, tal vez,
de outra cauiã . O rayo de Luz do Sol,fque
attra
ad ñas ordinr colour ruõrum, flavum, víridem, rurulrum,
ê violaceum genzrøndos una cum. ommóus :0mm furtlfiyiã
gm dibus ã' colaribus intermedíis.
Newt. th. Pan. ll. Seël. I.
'12o NOTAS B lLLUSTRAÇOEN$¢

attraveça hum Prilma, tem fempre dentro delle


a figura de hum fylindro obliquo. Ora ima
ginando , que o lugar, que occupa elle l'ylin
dro, he compollo de milhoens de fubtilillimos
filamentos, alinhados a o comprido, elles devem
fer todos de grandezas differentes; e conl'e
quentemente os rayos da Luz, á o attravcçal
los, haõ-de achar mayor, ou menor relillencia.
Póde fer que ella feja a caul'a, porque, á o fa
hir do Pril'ma, fe refraClem huns mais, que
os outros: fem que illo tenha mais rellaçaõ
com as Cores , que huma bala de artilheria, que
attraveca os dous bordos de huma fragata, e fe
refrange palTando'o primeiro de hum navio.

78. A roxMAçAõ das Cores depende, tal vez,


de outro mechanil'mo. As duas Cores primi.
tivas fe manifellaõ, por meyo da refracçaõ (n.
44. 45.),- mas a formaçaõ das outras Cores
Idepende de mais circunllancias. Da mel'ma ex.
periencia (n. 35.), fe prova ella all`erçaõ-.
Se aquelles dous círculos , l'e obfervaõ, à o
mefmo tempo, de dous pontos oppollos, en
taõ parecem a hum obfervador, azues ou pur-`
pureas
tous l ILLvs'mAçozns: ¡Zf

pureas as Cores, que à o outro obfervador pa.`


recem vermelhas , e amarellas; o que naõ póde
naf'cer das refracçoens , mas fim da oppofiçaõ,
da Cor negra , e branca, combinadas com as
que refultaõ da refracçaõ do Prifma.

QUANTO á moroslçàô n.

79. SE NEWTON pretende perfuadír, nefia


Propofiçaõ, que qualquer Cor,`conciderada na
Luz, ou nos corpos naturaes, depois que he
formada, fe naõ muda com a refracçaô do Prif
ma, nefie cafo nada fe oppoem a os Princi
pios defie Tratado. Mas fe, Newton pretende
I perfuadir, que por
devem reputar iffo que feiame
primitivas,- íâô inalteraveis, fe
entaõ lícito

fazer a feguinte reflexaõ. Se o_bervamos por


hum Prifma duas fuperficies, das-quaes huma feia
vermelha, e a outra de qualquer Cor das que
fe naõ tem por primitivas, taõ inalteravel ve
mos a Cor primitiva como aquella que o naõ
he: e coníëquentemente o dizer, que algumas
das Cores Prifinaticas taõ primitivas, porque fe
naõ mudaõ com a refracçaõ, naõ tem a me:l
nor concludencia.,
[22 .NOTAS 11 rtLusTnAçonNs.

QUANTO a rnorosiçaõ nr.

8o. ESTA Propofiçaõ concorda inteiramente


com os Principios, Primeiro, e Segundo (§
20. 21.); e com o Oitavo, e Nono (n. 58.
60. ),° que faõ _identicos, ainda que dedufidos
de experiencias diverfas. O Negro, e o Bran
co, cont'em todas as Cores; aquelle, intima
mente unidas (§ 20. 22. n. 53. 59.); e elle
extremamente, divididas _(§ 19. 21. n. 60.
61.): donde fe ve, que a diferença dellas
duas Cores, e de todo o claro-efcuro, confi
íle fó nas quantidades das Cores componentes,
a refpeito de huma certa maíla de Luz, Ou
originaria, ou refleãida dos Corpos, com mais
ou menos modificaçoens.

QUANTO á rnorosiçxõ 1111.

81. O stTino della Propoiiçaõ, he dificii


de comprehender, muito mais dizendo Newton,
que as Cores primitivas , faõ Cores í'nnplez.
Como fe póde imaginar, que fendo as Cdres
primi
nous n ums'r mçozns.: i ¡_z:

primitivas , elementos fimplez, como o mefmo


Newton as caraâerifa, ' fe componhaõ das que
lhes ficaõ vifinhas? Parece , que efie philofopho
naõ chegou a formar huma idea clara das Co'
res primitivas,- porqne quando as compara com
o canon armoníco ” ou efcala da Mufica, dei
xa entender, que ellas faõ fete . Quando diz,
que naõ entende por Cores primitivas fó as
cinco Vermelho, Amarello, Verde, Azul e Pur
_pura, mas todas as que fe formaô deita for
te , m deixa em duvida o numero daquellas
‹Cores.' E quando diz, finalmente, que ellas íäô
,fimplez , e elementares, deixa entender, que
fe naõ podem compor de outras Cores.

8:. SERIA precifo (er outro que Newton,


para aclarar as fuas ideas, fc ellas faõ confil
fas. Mas quem refieâir, que o feu fiyfiema
he filndado em huma mera conjeâura, à que deu
lugar a imagem oblonga, que hum rayo de luz do
S Sol,
* Simplices five primitivi Colares. Newton Opt. Par. U.
Scâ. l. Prop. II.
** Partes imaginis , gua.: colares occupanr, proporcionales
:jim c/zordre fic diwfm , u: fingulos gradus in och va rzƒb
nare ƒàciat. Newt. Part. II. Seét. II.
"" .Per colares autem Primitive: nan tanrum quinque prmdi
c'los inulligo , ƒèd é? quoslibet alias çuiõus exibe/:dis aptum
darur aliguod radiorum genus. Newt. Opt. Par. II. Sea. I.
.'1 :4 nous ` n unnsrnsçonns;
Sol, tendo paflàdo pelo Prifma, faz ver na
camara obfcura, fe convenferá facilmente, que
de taes Princípios fe naõ podiaõ deduzir mui
claros refultados . Aquella figura , pelo que
ja fica dito, naõ he a pedra de toqueI para con
checer o metal das Cores primitivas. (n. 37. 38.)

8;. SE, fobre o porphyro, fe mixtura com


agoa, e em certas proporçoens, Carmin, e Ver
de-diflillado, forma-fe a Cor de Purpura. Se
fe junta hum pouco mais de Verde, refulta hu
ma efpecie de Azul, mui fimilhante à o que
faz vero Prifma. Se elle Azul, e Purpura fe
ellendem com o pincel fobre hum papel bran
co, e depois fe tocaõ com hum pincel banha
do em agoa pura, defaparecem eflas duas Co
lres refolvendo-fe em hum vermelho mais eícuroa
que o Carmin. Sequalquer planta, de hum
bello verde, ,deixa de fer regada, a fua Cor
natural fe converte em Amarello; mas acudin
do-lhe, à tempo, com agoa, recupera a'fua Cor
verde , defapparecendo abfolutamente a aznarella .

84. Se a Cor de purpura, e azul fe for-`


maõ,
NOTAS I" ¡LIJJS'I'RAÇOER'S.l
'ng
maõ , e fe deflroem, como fica dito (n.83. )›,
fe a amarella fe faz nal'cer do Verde, e (e
converte outra vez nelle; ( Nora X11. ) como
fe póde crer, que elias tres Cores fejaõ tim-_
plez, e primitivas?

85. As ouTnAs duas efpecies de Azul, e A


marello, que pretendem ver-fe no Prifma, naõ po
dem fer, que meyas tintas das fuas fimilhan
tes; por que feria contrario à o poder, e á
fimplicidade da Natureza, que, para formar as
Cores naturaes , duplicaife os elementos da
,mefma el'pecie; quando a Arte, que 'he mais
compolla e menos poderolä, que a Natureza,
forma todas as Cores de huma efpecie, com
hum fo ~elemento,analogo a eflã mei'ma el'pe
cie, modificado .com o claro-efcuro, e com as
outras Cores (§. 76. 77. )_

86. Excwims , aflim, das .Cores chamadas


primitivas, as duas efpecies de Azul, e Ama
rello, e a Cor de purpura; fegue-fe, que fó
o Vermelho,e Verde, fe pódem ter por Cores
elementares , fimplez, e primitivas .
S z IA
no.6, 'nous n xuus'rmtçoans;
- _87.. IA QUE fallei da comparaçaõ dos inter
vallos dos fons, e das Cores (n. 81.) , naõ
devo omittir, que ella l'e funda em calculos mera
mente hypotheticos. Os intervallos das Cores
prifinaticas naõ fe podem exaãtamente medir, como
o mefmo Newton confeflà ~= ,fervindo-fe ainda da
palavra Grega. ayplfigla, para dár huma julla idea
da diligencia, que inutilmente empregou nella
operaçaõ . E os rapportos geometricos dos fons
intermedios da oitava, tem taõ pouca fimilhança
com os fons. naturaes, como he notorio á tor'
dos os Profi'eflbres da Sciencia da Mufica, e a
todos os Geometras ** (§ 5.) . Donde fe ve a ior
concludencia, de tudo quanto fee tem efcripto ›
nelle concernente..
* Cum zf/iñzze quanta porui diligentia oñƒšrvaflëm, non pro›
frio tanrum [en/à confi/izs , fid _( prapzer fizmmam difliculm
tem pracifi dr'flinguendi confinía Color-um) oliorumv judiciis
fretus imailinis dimenziones jurta inventa deliniavi..
ew. Opt. Part. Hz Sell. Hu
" En qualiré de Géomerre, je crois avoir quelque droít de'
prozefler ici (s'il m'e/l permis de m'erprimer de la forte)
contre cet abus>ridicu`le de la Glomém'e dana la Mufique.` Ie le
puis avec d'autant plus de raiƒõrz , qu'en cette mau'erie les fun
demens des calculsfàn! bypoz/zériques. fic/ou” d unacertain poins,
6' ne peuvem' même être qu'bypor/ietiques . Le rappore de fo
flave comme z à` 9., celui de lá qzeirm comme 2. à 3, celu'i
de la :ierce majeure comme 4‹ à 5, ô'c. ne jan: peurëzre par
Íes vrais rapporfs de la nature; mais seulement des rappart!
approckés.. . - ., M. D'Alembert. Elémen. de Mufic.
Difc. Prelim. pag. xxx. ILRÃOUÍlëau chclbu..dè th.`
la .palavra Temperemene;.

-`...-_¡--_l
BOTAS B II.I.'JJS'I.`RA(,ZOBHS~` 321

QUANTO â enoroslçaõ vá

88. Nas-ra Propofiçaon diz Newton, que as


Cores dos Corpos naturaes provem, de que
huns refleãem huma parte dos rayos da Luz,
que fuppoem diverfamente coloridos, e os ou
tros outra; e que aírrm, o Corpo, que re-.
fleEte osl rayos vermelhos, ap-pareífe vermelho;
e o que refleãe os purpureos , apparell'e de
Cor de purpura. Se Newron tivefl`e provado,
que na Luz exil'eem todas as Cores,I que ve
mos nos Corpos naturaes; e depois fizefl'e
certa a'abfo'rbencia de huns dos feus rayos, e o
reflexo de outros , teria nefie cafo , toda a'
razaõ: Mas Newton naõ prova nenhum delles
antecedentes .

89. NAõ prova o primeiro, porque logo, que'


l'ãz differença de Cores` primitivas à derivadas'
ou compofias ,. naõ- tem lugar ella Doutrina: ev
quanto ã. o_ fegundo ,. pretende' provalh'o a' pa»
fleriore, o que' 'naõ conclue', tendo em com
trario os faflos` de huma abi'ol'utaI evidencia, ía
_lefferidos. (n. 3.5. ).. ,.
izS Nous l uwsTR/içoms.
oo. NAõ fe tenha, por huma refiitaçaõ da
Doutrina de Newton, O que digo a refpeito
de cadahuma das l'uas Propoliçoens; mas lim
por huma re'l'polla -necelTai-ia ás obieoçoens, que
fe poderiaõ fazer contra os Principios, que pre
íènta elle Tratado, apoyadas na recebida theo
ria daquelle incomparavel philol'opho. Eu ia dei
a razaõ, porque me affal'cei da fua brilhante,
e plaulivel *hypot'helifi ( '§.9. ) e me parece,
que fem temeridade, antepuz hum fyliema lim
plez , e natural, à Voutro que o naõ he tanto,
e que fe funda em huma mera conjeãtura* .

91. QUANTO the mais conforme á labia eco


nomia, com que a Natureza procede em todas
as l'uas operaçoens, o eliabelecer fobre reitera
das , e decilivas experiencias, e lbbre convin
centes analogias; que na Luz relidem l'ó duas
Cores
"' Newton cyan: replréplzrfirurs ƒõi: avec óeaucoup deƒoin,
I'rrperimcie, ( falla da experiencia, n. 26'. 9.7. 36'. 37. ) , rrouvzz
que les réfulmrs en éroient rrès-confiants ,' ê' après y avoir 61m
réƒléclzi , il aflàya dele: crpliyurz par 1:: co/ijec'Zures fiu'van
us. Il lui vi/zt en prnfee, que la lumirre pourroit être un fluidc
campon de panier q/'ènmllrmmz dr'fi'è'renres: premiérzmenr,
`par le degré de refrangibiliré ; ƒzcondemenr, par 1a propriéií
-d'ercíter m nous le ƒznrimmt de cerrainls couleurs. En efltt,
m fuppofimt ces deux poi/:ts , il :_fl aifl de rcndrc rui/Õ!!
6,0. r M. Nollet Phyf. Experim. Leç. XVII.
NOTAS B ILLUSTRAÇOBNSÂ NI??
Cores limplez, e primitivas, que l'aõ oVermelbo,
e Verde (§. 24. n. gn); que da fua intima
uniaõ fe forma o Negro ( §. zo. n. 58. );
que da fua extrema divil'aõ nal'ce o Branco (§.
zt. n. 6o. ); que das mel'mis duas Cores lim
plez emana o Azul, e Amarello (§. 23. 30.);
e que em fim dellas l'eis Cores, tomadas como
elementos, fe podem artificialmente formar to
das as que vemos nos Corpos naturaes (n. 5x.
e feg. §. 68. e l'eg. ) : quanto he mais conforme,
digo, á fabia economia da Natureza elle fylte
ma, do que o dizer; que yas Cores compollas,

ou derivadas nal'cem da combinaçaõ de fete ele


mentos, ou de l'ete Cores lilnplez, e que elias
relidem na Luz, com o poder de imprimir à
os feus rayos differentes gráos de refrangíbilidade.

oz. SE era hum dogma conllante , que os


Corpos naturaes procediaõ de quatro elementos
(§. 4 ); e l'e huma analylis mais rigorolà os
reduz a duas unicas fubllancias limplez e pri
mitivas (n. 72. ); como l'e póde crer, fem ler
mais que provado, que as Cores, que naõ
faõ que meros accidentes delles Corpos (§. 2.),
' de.,
ig. ROTAS l ILLUSTRAÇOBNSÃ

dependaõ, 'para a fua formacaõ , de fete dif'.


ferentes elementos?

9;. Os AMADORES das Scientias naturaes, à


quem offereço a parte theoretica delle Trata
do, fe fe acharem perplexos entre a novidade
da Doutrina, que elle›lhe prefenta, e as op
piniones recebidas, e firmadas fobre refpeita
' veis authoridades , e eílipadas com a fancçaõ
de tempo: os exhorto a por de parte toda a
preocupaçaõ da authoridade, e de procurar a
evidencia, que dezejaõ, na mefma Natureza,
por meyo da experiencia, e de huma profim
da meditacaõ fobre os factos, que ella lhes
fuggerir.

N o T A v1n.§. 1;.
Armas de paflàr á Parte Analytica, convirá
muito de ler hum par de vezes os §§. 55.
athe 6;. nos quaes fe explica o uzo das Ta
boas illuminadas, de que fe começa a Íällar lo
go no principio da dita Primeira Parte.

NOTA
Nous x uLUsTnAçost; ` Mal

NOTA IX.§. 14.


Luis DE CAMOENs no feu incomparavel Poema,
os LUSIADAS, defcrevendo a villa da Ilha Namora
da, que Venus prefentou a os feus Heroes, pinta O
mais bello quadro, que fe póde ver fobre aTerra.

1.111. '

Ó O O I Q O O

Para lá logo a proa o mar abria;


Onde a rojla fazia huma encea'a'a
Curva, e quieta, cuja branca area,
` Pinrou de ruivas` conchas Cytherêa .

LIIII.
\

Tres fermofoiI outeiror fè moƒlrm'â'o


Erguia/o: com fiàberba gracioƒa,
Qu: de gramíneo efmalre fe adornavá'o
Na formoja Ilha alegre, e deleitofiz:
Clara: fonte: e líquidas manávaõ
Do cume, que a verdura tem viçofiz;
Por entre pedra: alia: fé diriva ,
A jbnorofiz l_ympha fugitiva .
T Num
71.3.? - ROTAS I ILLUSTRAÇOENS»

LV.

Num valle ameno , que os outeiro ƒende,


Vinhaõ as claras agaas ajuntarƒè,
Ónde huma meƒa fazem, que fe eƒlende
Tão bella, quanto pode imaginarfè: `
Arvoredo gentil fbbre ella pende,
Como que prompto eƒlá para enfeitar-fé,
Vendo-ƒè no cri/lol reƒplandecente ,
Que em fim o eflá pinzãdo propriamente;

LVI.

Mil arvores e/laõ' ao Ceo fizbindo


Com pornos adoriferos, e bellos,
A larangeira tem no fruto lindo
A Cor, que tinha Daphne nos cabellos:
Encaƒlaƒè na chaõ, que ejlá cahindo ,
A cidreira cos peƒos amarellos,
Os ƒermoƒbs limoës, alli cheirando,
Ejlaõ virgineas tetas imitando .

fel:
nous n ¡Ltus'rmçonrsà -Ífišz

LVII.

'Ar arvores` agrefles , que o: outeiros


Tem com frondente coma ennobrecidos,
Álamo: faõ de Alcides, e os loureiros
Do louro Deo: amados, e. queridasI :
Mirto: de Cylheré'a cos pinheiros
De Cybele, por outro amor vencidorg
Eƒla' apontando o agudo cyparl/ö
Para onde he poƒlo o eterno Paraifõ;

LVIII.

Os doem , que da' Pomo'na , allí Natura


Produze diferentes no: fabore: ,'
Sem ter necejfidade de cultura ,
Que ƒèm ella ƒê daõ muito melhores:
Á: cereja: purpureas na pintura,
As amoras, que o nome tem de amores;
O porno , que da patria Per/ia veyo,
Melhor tomando no terreno alheyo.

T z 'Abre
1'! H «sfloTAS E IlLUSTRAÇOBM.

LI'X.

Àbre a Romão, moflrando a rubicunda'


Cor, com que tu Ruby teu preço perder ,
Entre o: braços do ulmeiro e/lâ a j'ucundu
Vide cú: cachos roxas, e outros verdes :
E vá: fe na vafl'a arvore fecunda,
Pera: piramia'air, viver quiâƒerdes,
Enrregaivo: ao' danof, que corV bico!
Em vá: fazem o: paflizro: iniquoâ..

LX.

Pai:- a tapeflbria bella e fina,


Com que [e cobre oA rufiico terreno ,
Fa;r fer a' aleI A'chemeniav menor dina',
Mas o fimbrio valle mais ameno:
Alli a cabeça a flor Cefifia inclina ,
Sobolo tanque lucido, e _(èreno ,
Florece o fil-ho, e neto de Cynirar,
Porquem. tu, Deofi Pafia, inda fiiflnras';
`e

Para
nous n ¡Lnusmaçoa ns.V 115

LXI.

Para julgar clíficr'l coufa ƒbra ,


No Ceo vëa'o , e na terra a: mefmas Core:
Se dava' às flores cor a bella Aurora, c

Ou fe lha daõ a ella as bella:` flores:


Pintando eƒlava alli Zefiro e Flora
As viola: Ja Cor dos amadores,
0 lirio roxo, a [re/ea rafa bella,
Qual reluze nas faces da donzella.

LXII.

'A' candido Cecem elas matuzínas


Lagrimaƒ rociada , e a Manjurona ;'
Vem ď as letras nas flores' Hyacintina's,
Taõ queridas da fil/w| de Latona z
Bem [e enxerga nos pornos e boni/las",
Que competia Cloris com Pomona';
Pois [e as aves no ar cantando vaaö',
Alegre: animae's o chaõ povoão e
¡gö nome VIf. iuUsIRAçoaus.

LXHI.

'Aa longo da agoa o niveo Cia/è canta,


Rcƒponde lhe do ramo Filomella,
Da ƒbmbm a'e fiu: como.:I naõ fe eƒjtanta,
Aãeon n'ugoa criƒlalirza, e bella :
Aqui a fugace Lebre fe levanta
Da cƒpefla mata, ou tímida Gazella,
Alli no bica traz ao caro ninho '
O mantimento o leve paflhrin/zo,
Canto 9.

NOTA x.§.ió.17.

AINDAQUE a Cor, que refulta da mixtura


do Vermelho , Azul, Verde,e Amarelo, com
binados em partes iguaes, ou fomeure da mi
turas dp Vermelho, e Verde, combinados nas
proporcoens das Tab. VI. n. g. VIII. g. X. 3.
XII. 3. naõ feia huma Cor taõ efcura, como o
negro mais carregado, que fe pode formar; naõ
deixa com tudo de fer huma Cor compolla de
claro efcuro , fimilhante à Cor de chumbo, ou
Cor

m ,_ _ _'J-r
NOTAS B ILLUSTRAÇOBNS. l37'.
Cor de cinza, que l'e compoem de Negro ,"
e Branco, l'em que nella domine alguma das
Cores, de que l`e compoem . Illo he quanto ba
ila, para ter lugar o- argumento , que fe forma
fobre ella experiencia,- e para l'er bem fun
dada a inducçaõ que della le tira . O mel'mo
Newton comvinha em que a Cor branca, a Cor'
de cinza, e a Cor negra eraõ a mefma coul'a, e
fó diñ'eriaõ entre fi, em ter huma mais luz
que as outras.

NOTA.XI.§21.

Vem-sn a Tab. XIIII. , e a fua explicaçaõ


§ 6z.

NOTA XII.§.22.

ESTA experiencia prova com toda a eviden;


cia, que as Cores primitivas, e originarias faô
unicamente duas, a faber, o Vermelho, e o Ver
de. Por quanto, fe da mixtura dellas duas Cores
refulta a mel'ma Cor, que provem do Vermelho
Azul, Verde e Amarello (naõ fallo- do Negro,
e.
138 NOTAS E ILLUSTRÂÇOERSM

e Branco, porque elias fó contribuem para o


claro efcuro) l'eguelTe, que o Azul, e o A
marello fe contem no Vermelho, e Verde, pois
que na mixtura dellas quatro Cores , naõ tem
o Azul, e Amarello influencia alguma: o, que
tambem l'e acha comprovado com as mais na.
turaes analogias.

N o T A xm. §. zg.

OPI'rz, fallando do Homem, diz:


Die Welt, da: grosfle Buch, aus deren Than
und lVefen.
Er von dem/Zlben kann auf allen Bl'áttrn lefim.
Vefiw.

N O T A XIIII. 27.

QUANTO mais obliquamente cabem os rayos


da luz l'obre a liiperficie de algum meyo,
tanto mais forte, e mayor he a lira refracçrrõ.
Daqui vem que a Luz de Sol entrando obli
quamente na atmofphera da terra, quando a
quelle lumina'r coincide com o horizonte, padece
v huma
IOTÀS I ILLUS'I'RAÇOIM.
¡3!
huma rei'racçaõ mais fenfivel, que faz ver hu
ma Cor, em que domina o Vermelho, a qual
fe defvanece à proporçaõ, que o So'l fe eleva
(ob-re o horizonte , e fe deminue _a obliquidade
da luz . Por hum fimilhante mechanifmo fe
formaõ todas as mais Cores. A Azul de que
fe trata neíle §. , bem fe vê , que he produfida
da mera refracçaõ da Cor da Aurora .

Homme caraë'teriíã admiravelmente ella de.


cantada Cor nos feguintes verfos .
Hwç uai upouorrên'Àoç an' .Queotvozo Kpousou
flpvufi', :v a'fiavarozm (powç (papo: 113€ [špa
TÔIO'IV. lliad. lív. XIX. v. I.

o Lima aikalino phlogârucado, de que re


compoem o Azul de Pruília, fe prepara com o
fiingue dos animaes;e unindo-fe ou mixturan
do-fe com vetriolo de Marte, produz a Cor a
zul. Naõ Vhe fó no reyno animal, que o ferro
produz elle effeito. O páo do Brafil, que em
agoa natural, larga huma Cor vermelha, me
tendo-o de infiaiaõ em agoa ferrea, dá hu
ma Cor azul, como a de AniL 0 Dr. Snnonr
U fillla
:ao NOTAS ! ILLUS'FRAÇOENS-`

falla munto della experiencia a e eu a fiz al


gumas vezes analylãndo agoas mineraes. A afli
nidade dellas duas Cores, Vermelho, e Azul, l'e
prova ainda,em rafaõ inverlIa, do conllante faãto,
que o Azul dos vegetaes fe muda em Vermelho,
por meyo dos ácidos mineraes, e vegetaes..

NOTA XV.§.29~.

MrtTON, no Li-v.. VII. do Parei/b. Perdido, n os


prelènta todos os Vegetaes,lahindo da- maõ do
CREADOR., ornados da agradavel. Cor deI Ver'
de , que nellesy geralmente domina;

He ƒcarce had fizid , when the bare earth, till there


Defert and ba're, unfighrly , unadom'd,
.Brought_f'orzhfthel tender graffr ,. whofe verdure- clarf
IHer univerjiil face wir/r plea/ànt green,
Then heer of every leaf, that fizdden flourld
0p`ning their various` colour: , and made gay
yHer boƒbm fmelling fweet: and zheƒè [carce blow/z,
Forth. flourish'r thick the cluflríng vine, foth crept
The fmef'ling goúrd, upl flood the cornie reed
Embattell'd in. her field a and the humble shrub,
Ánd
NOTAS- E ILLUSTRAÇOENS. 14:;
Arm' bush with frlzl'a' hair implicit: lafl
Ro/è as in'a'ance the flately trees, and fprea'
Their branches hung with copious fruit; or gemm'a'
Their blofl'bms: with high wooa's the hills were crown'd
H/ith tufts the vallies and each fountain fide,
IVzth borders long the rivers. That eart now
Seem’a' like to heav'n, a feat where Gods might dwell,
Or wander with delight, and love to haunt
Her fizcred shades . . . . .. ..

N o T A XVI. ç. 30.

Os mefmos Vegetaes, no ef’tado da fua deca


dencîa, paffaõ da Cor verde á. amarela. All
fim no-los-pinta o Author do Poema, Les Saí/om,
que naô he menos habi¡ Phyfico, que bom Poeta _

L'Áutomne a de: couleurs qui manquaient a‘ l‘été


Dans ces champs variés, l'or, le pourpre é' l'opale
Sur un fond vert encor brillent par intervalle ,
Et _couvrent la forêt qui borde ces vallons
D'un vafle amphitheatre étendu fizr les monts.
L'arbre de Ceraƒonte au gagan des prairies
Oppofe l'incarnat de fes branches flétries.
- U z Quel
IO'IAS l ILLUSTRAÇOIN$

Quelle: fic/ler couleurr, quels fruit dél'icšettr


Ce: champâ` Õ' ce.›` verger.:l pre'ferztent à vosyeux .'
Vo_yeg, par le: ge'phirs la pommone balancée,
Echapper mollement à l'a branc/ie aflfatfl'è'e
Le poirier , en bulflbrt courbé fõu: jon treYõr ,
Sur le gazon janni rou›ler de: globet d' or,
Et de ces lambris verts attaché': auz treillage
La pêche fucculente entralner le branchage .
ler voild dom:4 ces fruit: qu' ont a'rtnoncé' le: fleufi,
Et que l'été. brúlant múrit par/Es chaleurs !'
leízuom.

O Verde, que geralmente domina em todos


os vegetaes, he inalteravel: e ai'fim o-Amarel
lo, que delle naf'ce, he huma. Cor apparente,
que, com a mayor facilidade , fe converte ou
tra vez em Verde. (' Nota VII. m 83.), As
experiencias de M. MAcQUEn provaõ concluden
temente ella afl'erçaõ. Elle [ë explica defla
forte : L'expériencie prouve que Fa couleur verte
de: plante; a'al'tere `facilšement, Õ* mé'me [e chan.
se en um fauvebrurt . .. . . quoiqueI cette couleur
verte [e change G* diƒiøaroiflè même ainfi tora.
Baum, elle lie/l pourtant point dëtruite pour cela,
' Gt
IoTu l ILLUsTnaçOst. :a
ã' qu'on peut, par [e moyen de: men/inter, j?
parer 5' extraire la partie verte des plante; fê
che: qui n'ont plus la moi-ndre apparence de verd.
Dice. de Chym. V. Fecules de: plantar;l

N O' T A XVII. ;$.

` Hom . Elim-z. «a cru. rnzmdue.


NOTA XVIIL§.42.

15qu Carta :3. , e :14.

NOTA xtx.§.44.
M. :'Asmš' Notre-r, Leƒ. de Plzyƒí empíri
uenr. Lcç. XX. Propoƒit. 2.. fl Leç. XXI.

N O T A XX. § 4:9.

A xamno d'a força do Rayo, nada fe pdd'e


ler mais emphatico, que os feguintes verlloo
de Kzorszocs

30»
144 NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.
So, wenn auf unerfiiegnen Gebirgen ein nafmA
Gewitter
Furchrbar [ich lagert, fi) reisfl fich eine der
nãchzlíc/z eu IVOlken,
Dlit `den melflen Donnem bewaflhet, engflammz
zum Verderbcn,
Einfam hervor. Werm andre den Í/Vigfcl der Ze
der nur fas/en, À

Wim' fie von eínem Himmel zum andem waldichte


Berge,
IVird hoc/zl/zürmerzde meilenlange K'ónígs-ƒlã'dte
-Taufèndmal do/memd entzünderz, und ƒie in
Trz'immem begraben .
O Mefl: Cam. IIIÍ.

- Naô (è pode defcrever mais energicamente 'o


h'orrorofo phenomeno de huma Errupçaõ Vulca
nica, doque o faz OPITZ nos feguintes Veríos.

2. . . Der Nãchtc Miztag macht


Die Wieƒen nie jà fchwarz, warm de: Geflir.
ne: Prac/zt
Im dickm Nebel fleckt, al: dieďr Dampf ficlz
¡eiget ,
' Der,

`-.`_ «_ _r,
ROTAS E ILLUSTRAÇOENS :4;
-Der,wie ein Fichtenbaum, hoch von der Wurgel
ƒleiget
Mit dickert Áeƒlen aus, Jieweil der Afche Laƒl
Sic/t inl die Breite giebt. bald kõmmt ein fiilche:
Krachen ,
Al: warm der Jupiter' mit Donner in die Sachm
.Der ƒchnlden Menfchen fchlägt , dajš` aller Grund
der Welt '
Erzittert, oder auch, im Fall eim ki'ihner Hell,
Der vor die Frzyheit _/leht, und [eine grosď Thatett
Áufgute Sache pflanzt, mit feurigen Granaten
Ergrimmet um fich wirft, und l,ru/imget eine Staa'r,
Die noch an Billigheit der Wafien Zweifel has,
Zu glauben , was ihr dient . Die Hitze bricht zu
fammen
Durch eine rauhe Hahn mit ihren wila'en Flammen,
Wirƒt fehreklicher Ge/lalt des Berger Glieder aus,
Und jaget mit Gefchrey bis' ar: de: Himrneli` Haus
Den flin/ëigten Mora/l, van defli'nfchwarzen Sartle
Der Pech und Schweƒel hält, kein Ort im ganzm
Land .
Sich frey und/icher ¡veis/IE: fpriuget auch ein Fhz-.rf
De: Feuers au: der Kluft, dem alles weichcn musƒ;V
Iadem er [einen Lauƒ in jieben Strõme theilef,
Und
Ions s ums'rmçom
Und dem Geƒfade zu mit heisfem Ran/Tchan eilet,_
Dasf Thai und Húgel brennt; der Acker wird
verhecrt,
Da: Vie/1, fã weiden will, von Flammen ƒêllvj!
vérgehrt,
Die Grãfer Heu guandu, die fikattenrei/acn Wäl
der .
V0m Grande ƒbrtgffifhrt, und dia Phlegrãerfilder
Sind nicht: al: lauter Glut; da: alt Hcrculan
Da: lujligc Cafiell, genannt Oc'lavian,
Viel Flecken :faller Frucht und Dörfir flefin ía
Brand,
Die Was/Er fün'chten fic/l, und fliehen von dem
Lands,
Da: Volk, fa nicht erflickz und gar wird ƒbrt
gefflflff,
Kommt Athemlosf dahcr, beraube! alíer Krafl,
Lahm , nackønd und halb toa't, und fill: mit Wei;
und Zagm
Den ganzen Himmcl an, der gleichfam mit ihm
° klagen, `
Und auch [uh kümmem mwƒ.

NO¬
'NOTAS E ILLUSTRAQRUENS.I
147 _

N o T A xx1.§.47.
As DIVERSAS Cores, que a luz do Sol faz ver
nas nuvens, quando as illumina obliquamente, '
efiando vefinho a o horizonte, fe achaõ bella- -
mente def'cripcas nos feguintes verfos:

Mais leƒfiambres vapeurs qui retardoient l'aurore


S'entr' ouvrenz aux rayorz: a'u Soleil qui les dare;
L'ajlre vié'z'oríeux perce le voile obfcur
Qui nous cachoiz flm a'zz/Êjue G' le celefle agur ;
Il ƒè peint fizr leâ` mers; il enflamme les nueƒ;
Les grouppes varíe': de ces eaux fufjrendues ,
Emporte': par les verm, entaflë': dans les cíeux,
1' formem au haƒard un chao: radieux-.
Les Sai/I Prin.

N O T A XXII. §. 49.

Os POETAS mais famofos fallaraô todos, de


admjravel, e bello phenomeno do Arco Celefie,
nas fuas metricas compofiçoens. HoMBRo lhe
atribue a Cor de ouro:
X Ipw

_.I_____
.___.
¡48 NOTAS l ILLUS TRAÇOENS.

Ipzv B'orpwe xpuoorrrspov ayvêÀsovoav .


mad. liv. XI. 18;.

VExclua lhe atribue mil Cores:


Mile trahit varios adverƒo Sole Colares.
_ Eneid.
MILTON lhe da fó tres Cores: `
. . . . and in the cloud a bow
Con/picuous, with three lzfled Colours gay,
Pari/Í Perd. Liv. XI.
O Pefcoço da Pomba, e a Cauda do Pavaõ,
lâõ bellos objeâos, que igualmente merceraõ de
fer cantados pelos melhores Poetas . LUCRECIO os
pinta noƒeguinte moda:
Pluma Columbarwn quo paãoOin Sole videtur:

Quae fita cervices circum, collum que coronat:


Namque aliás fit uti rubro fit clara Pyrapo:
Interdum quodam _/ènfu fit, uti videatur
Inter caeruleum t'iritleis mifiere fmaragdos.
Cauda que Pavonis, larga cum luce repleta efl,
Con/imili mutat.ratione obter/21 Colares.
Quí,quoniam quoalan gignu'ttur lufninis ic'l'u,
Scilicet iJ fine eo ƒieri non poƒe putandum ejl.
Lib. U. de Rer. Nat.
- Tas
ROTAS B ILLUSTRAÇOENS. 149

TASSO, imitando talvez elle hello originaI,


Pinta os mefmos phenomenos no fcguinte modo :

Cosl pluma talor, che di gentile


Amurofa Colomba il collu cinge,
Mai non fifcorge a fè _/lefl'šz fimile,
Ma in divez/i Colon' al .Sol /i tínge.
Or d'acce/i rubin fèmbra un monile`;
Or di vera'i fmeraldi il lume finge;
Or infieme gli mefce: e variz, e vaga
In cento modi i rigunrdànzi appaga.
Garu/bl. Liberar. Cant. XV. S.

Né *l filperbo pavon :Z vago in moƒlra


Spiegn Ia pompÊ dell'occhíule píume,
Né l'Iride :í bella ina'ora, e inoflra
Il curvo grembo, e rugiajo/'o al lume:
Canto XVI. 24.

N O T A XXIII. §. _66.

Es'rn methodo he applicavel à todo o ge


nero de Pintura, e o ferá me'fino às Manufiâãu.
ras, e Tinturarias de Algudaõ, e Seda õzc.
X z Para
:50 nous 'x ILLusrmçonNs;

Para a Miniatura, e para Lavar Planos, fe pre


paraõ as Cores na forma do §. :5. e de que
fe junta no Vocabulario à refpeito de cada hu
ma dellas Cores: e ao Carmin, fe deve jun
tar alguma gomma, para o unir melho.

Na Pintura a Oleo, à Cola, e a Frefco, fe


devem empregar Cores de mais corpo, e re
lativas a cada hum defles generos.

Na Pintura à Paflel fe pode trabalhar fó com


as feis Cores elementars: mas para compor os
Lapis de differentes Cores, naõ he precifo ou
tra coulä, que fazer feis maças ou bolos das
Cores elementares, e com atas compor, nas
refpeãtivas proporçoens, os Lapis que fe quiferm.

Nas Tinturarias fe devem preparar cinco tin-4


tas elementares em caldeiroens diverfos, e de
pois fazer as mixturas na proporçaõ das Tabo
as. N. B. Deve advertir-fe que o Linho, Algu
daõ ôcc. fejaõ bem exprugados antes de fe lhe
dar a tinta; porque de outra forte as Cores,
fe alterariaõ confideravelmente .
Em
NOTAS E ILLUSTRAÇOENS.
151l
Em todos elles generos fe devem ter pre
fentes as Taboas de combinaçaõ; e deve tam
bem ter-fe o mayor cuidado, em que as Co
res elementares fejaõ do mefmo grao, e força,
para que os refultados conrefpondaõ fempre a
o que fe dezeja.

N. B. Por Cores elementares da Pintura,


fe devem entender fempre o Vermelho, o Azul,
o Verde , o Amarelo, o Negro, e o Branco ,
que íãõ os elementos de todas as Cores ma
teriaes, que fe empregaõ nos trabalhos Colori
dos. E por Cores primitivas, e originarias,íè
devem ter _fómente o Vermelho , e o Verde.
O .

FIM;

COR-;
\\
coRREcÇoENa
l

ESTA ESCRITO . DEVE LERS E.

Pag. 7. §. Io. " Elle linal he de mais.

Pag. lz. §. 15. difolvi em difl'olvi em cinco conhas


cinco con as feguiutes Cores: (Nota
chas as fe XXIII.)
guintcs LO
res:
Pag. 34. §. 60. Amarela, Amarello ,
Pag. 78. n. to. gráo graõ
Pag. 99. n. 45. E como a E como as Cores nafcem,
Luz nal'ce e augmentaõ
e augmenxa
Pag. HO. n. 64. das duaspri das duas primitivas Negro,
meiras Ver e Branco 5
melho , e
Verde :
Pag. ng. n. 73. quando os quando a mayor parte dos
corpos na- , corpos naturaes
turaes
Pag. no. n. 77. os rayos da os fubtiliflimos rayos da luz,
luz,
Pag. :15. n. 84. (Nom XII.) ( Nom XVI. )
Pag. 138. Nota XIII. Blanm Blarrerr:

Pag. 142.. he inalte‹ he indeflrucflivel :


ravel:

No Vocabolario faltaõ as Cores, BRANCO-DE-CHUMBO,


PURPURA , e UlnRAMARlNo.Quamo á primeira deflas Co
res, ella he o mefmo que Alvaiade, V. ALVAIADE . A le
š/unda he huma Cor efpccifica do Vermelho, V. Tah. V.
II. IX. XI. I. A terceira- finalmente, que fe faz de lapis
Iazulí, fe acha difcripta na Cor, AZUL, e AZUL DE PRUS
SIA , onde fe pode ver.
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