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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0079632-43.2012.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTES: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA E ARAILDES RODRIGUES SANTANA
RECORRIDOS: OS MESMOS
JUIZ PROLATOR: JOÃO BATISTA ALCÂNTARA FILHO
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSOS INOMINADOS SIMULTÂNEOS.. SERVIÇO DE


ENERGIA ELÉTRICA. REGISTRO DE CONSUMO ACIMA DO
USUAL. AUSÊNCIA DE PROVA, A CARGO DA FORNECEDORA,
DA REGULARIDADE NA MEDIÇÃO. SUSPENSÃO INDEVIDA
DOS SERVIÇOS POR LONGO PERÍODO. SENTENÇA QUE
CANCELOU A DÍVIDA IMPUTADA, ORDENANDO O
REFATURAMENTO COM BASE EM MÉDIA DE CONSUMO
ANTERIOR, FIRMANDO AINDA CONDENAÇÃO PELOS DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR
RECONHECIDAMENTE MÓDICO. NÃO PROVIMENTO DO
RECURSO DA CONCESSIONÁRIA. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO DA CONSUMIDORA PARA MAJORAR O QUANTUM
DA INDENIZAÇÃO, RESPEITANDO-SE, ASSIM, OS PRINCÍPIOS
DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Requerida, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, pretende a reforma da sentença lançada nos autos que, ante a
ausência de prova da regularidade da medição do consumo, a seu cargo, cancelou a dívida
total imputada à Autora, ARAILDES RODRIGUES SANTANA, determinando o
refaturamento da fatura discutida com base na média de consumo dos doze meses anteriores,
condenando-a, ainda, ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$
1.000,00 (hum mil reais), face à suspensão indevida dos serviços. Ao passo que, pretende a
parte autora a majoração do quantum indenizatório.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Não assiste razão à Requerida, senão vejamos:

Discutindo-se a prestação defeituosa de serviço, cabia à Requerida superar


a responsabilidade civil objetiva consagrada no art. 14, caput, do CDC, que impõe ao
fornecedor o ônus de provar causa legal excludente (§ 3º do art. 14), algo que ela não se
1
desincumbiu, já que não comprovou a regularidade dos registros do consumo de energia no
período discutido, que gerou as faturas questionadas pela parte consumidora, por se
encontrarem muito acima do usual.

Com isso, reputando-se inválida a medição do consumo no período


precisado, por ausência de prova da regularidade, mostra-se correta a ordem de
refaturamento do mês informado com base na média histórica de consumo da parte autora.

De igual modo, mostra-se incensurável a condenação da Requerida ao


pagamento de indenização pelos danos morais sofridos pela parte autora.

Encontrando previsão no sistema geral de proteção ao consumidor inserto


no art. 6º, inciso VI, do CDC, com recepção no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, e
repercussão no art. 186, do Código Civil, o dano eminentemente moral, sem consequência
patrimonial, não há como ser provado, nem se investiga a respeito do animus do ofensor.
Consistindo em lesão de bem personalíssimo, de caráter subjetivo, satisfaz-se a ordem
jurídica com a demonstração do fato que o ensejou. Ele existe simplesmente pela conduta
ofensiva, sendo dela presumido, tornando prescindível a demonstração do prejuízo concreto.

Com isso, uma vez constatada a conduta lesiva e definida objetivamente


pelo julgador, pela experiência comum, a repercussão negativa na esfera do lesado, surge a
obrigação de reparar o dano moral.

Na situação em análise, a parte autora não precisava fazer prova da


ocorrência efetiva dos danos morais decorrentes do evento informado. Os danos dessa
natureza se presumem pela suspensão indevida de serviço público essencial por longo
período, não havendo como negar que, em razão dos fatos, ela sofreu angústia, desconforto e
transtornos, tendo a esfera íntima agredida ante a atividade ilícita da Requerida.

Na situação em exame, entendo que o valor arbitrado no primeiro grau se


mostrou módico ante as circunstâncias dos fatos, distanciando-se em demasia dos valores
arbitrados por esta Turma Recursal em casos da espécie.

Com isso, atendendo às peculiaridades do caso e a míngua de outros dados


tangíveis que pudessem auxiliar na justa quantificação, entendo que emerge a quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais), como o valor próximo do justo, o qual se mostra capaz de
compensar, indiretamente e na medida dos fatos apurados, os sofrimentos e desgastes
emocionais advindos à Autora e trazer a punição suficiente ao agente causador.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e


NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto pela Requerida, COELBA –
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA, condenando-a ao
pagamento das custas processuais, excetuadas aquelas relacionadas ao recurso interposto
pela parte autora, e honorários advocatícios que arbitro em 20% (vinte por cento) sobre o
valor da condenação pecuniária imposta, e CONHECER e DAR PROVIMENTO
PARCIAL ao recurso interposto pela Autora, ARAILDES RODRIGUES SANTANA,
para, confirmando todos os demais termos da sentença hostilizada, reformá-la apenas na
disposição pertinente ao valor da indenização pelos danos morais observados, ora majorada
para a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com correção monetária a partir da prolação
da sentença, momento que se deu a condenação, e juros, incidentes a partir da citação,

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seguindo entendimento da jurisprudência1, o qual sofreu abalo pelo julgamento do REsp
903258, por não ter efeito vinculante, não tendo o voto da Ministra Maria Isabel Gallotti
pacificado o assunto nem mesmo na ocasião do julgamento pela 4ª Turma do STJ, onde o
Ministro Luis Felipe Salomão votou divergente.

Como a Autora logrou êxito em parte do recurso, deixo de condená-la ao


pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, seguindo a melhor exegese do
art. 55, caput, da Lei 9.099/95, que conduz ao entendimento de que sua segunda parte só tem
aplicação ao recorrente, integralmente vencido, não sendo possível, no particular, o emprego
das regras contidas do CPC.

Salvador, Sala das Sessões, 26 de maio de 2015.

Tâmara Libório Dias Teixeira de Freitas Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0079632-43.2012.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTES: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA E ARAILDES RODRIGUES SANTANA
RECORRIDOS: OS MESMOS
JUIZ PROLATOR: JOÃO BATISTA ALCÂNTARA FILHO
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSOS INOMINADOS SIMULTÂNEOS.. SERVIÇO DE


ENERGIA ELÉTRICA. REGISTRO DE CONSUMO ACIMA DO
USUAL. AUSÊNCIA DE PROVA, A CARGO DA FORNECEDORA,
DA REGULARIDADE NA MEDIÇÃO. SUSPENSÃO INDEVIDA
DOS SERVIÇOS POR LONGO PERÍODO. SENTENÇA QUE
CANCELOU A DÍVIDA IMPUTADA, ORDENANDO O

– RESONSABILIDADE CIVIL – ATO ILÍCITO – DANO MORAL – INDENIZAÇÃO MANTIDA – JUROS MORATÓRIOS
– INCIDÊNCIA DESDE A CITAÇÃO INICIAL – CORREÇÃO MONETÁRIA – DEVIDA DESDE A CONDENAÇÃO – RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO – DECISÃO UNÂNIME – 1) Configurada a responsabilidade da apelante pelo dano moral sofrido pelos
autores, justo é o direito a indenização. Valor fixado dentro dos princípios da eqüidade, da proporcionalidade e razoabilidade, quando então
foi sopesada a capacidade econômica do responsável, a culpa do agente e a extensão danosa. 2) Nos termos do art. 405 do Código Civil, os
juros moratórios devem incidir a partir do momento da citação inicial. 3) O marco inicial da fluência da correção monetária é a data da
decisão condenatória. Jurisprudência do STJ. (TJPE – AC 119429-6 – Rel. Des. Jovaldo Nunes Gomes – DJPE 19.01.2008)
– PROCESSUAL CIVIL – CDC – DANOS MORAIS – INSCRIÇÃO – SERASA – PRÉVIA COMUNICAÇÃO AO
DEVEDOR – ART. 43, § 2º, DO CDC – CORREÇÃO MONETÁRIA – TERMO INICIAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO –
1. É indevida a negativação, pelo banco de dados cadastrais, na ausência de prévia e expressa notificação do consumidor, tal qual
determina o § 2º, artigo 43, do CDC, ainda que a captação das informações ocorra junto ao cartório de protesto. 2. O dano moral, ao
contrário do material, não reclama prova específica do prejuízo, vez que este decorre do próprio fato. Exige-se apenas a demonstração do
ato/fato gerador dos sentimentos que o ensejam. 3. A verba indenizatória deve ser fixada em montante suficiente a inibir o malefício,
levando-se em conta a moderação e prudência do juiz, segundo o critério de razoabilidade, para evitar o enriquecimento sem causa e a
ruína do réu, em observância, ainda, às situações das partes, pressupostos in casu observados pela decisão monocrática na fixação do
quantum debeatur. 4. Nos casos de indenização por danos morais, a jurisprudência é pacífica no sentido de que a correção monetária deve
incidir a partir da sentença e os juros de mora a partir da citação. 5. Recurso parcialmente provido. (TJDFT – APC 20060110132340 – 4ª
T.Cív. – Rel. Des. Sandoval Oliveira – DJU 07.12.2006 – p. 185)
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REFATURAMENTO COM BASE EM MÉDIA DE CONSUMO
ANTERIOR, FIRMANDO AINDA CONDENAÇÃO PELOS DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR
RECONHECIDAMENTE MÓDICO. NÃO PROVIMENTO DO
RECURSO DA CONCESSIONÁRIA. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO DA CONSUMIDORA PARA MAJORAR O QUANTUM
DA INDENIZAÇÃO, RESPEITANDO-SE, ASSIM, OS PRINCÍPIOS
DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA
decidiu, à unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso
interposto pela Requerida, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, condenando-a ao pagamento das custas processuais, excetuadas
aquelas relacionadas ao recurso interposto pela parte autora, e honorários advocatícios que
arbitro em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação pecuniária imposta, e
CONHECER e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso interposto pela Autora,
ARAILDES RODRIGUES SANTANA, para, confirmando todos os demais termos da
sentença hostilizada, reformá-la apenas na disposição pertinente ao valor da
indenização pelos danos morais observados, ora majorada para a quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais), com correção monetária a partir da prolação da sentença,
momento que se deu a condenação, e juros, incidentes a partir da citação, seguindo
entendimento da jurisprudência2, o qual sofreu abalo pelo julgamento do REsp 903258,
por não ter efeito vinculante, não tendo o voto da Ministra Maria Isabel Gallotti
pacificado o assunto nem mesmo na ocasião do julgamento pela 4ª Turma do STJ, onde
o Ministro Luis Felipe Salomão votou divergente. Como a Autora logrou êxito em parte
do recurso, deixo de condená-la ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios, seguindo a melhor exegese do art. 55, caput, da Lei 9.099/95, que conduz
ao entendimento de que sua segunda parte só tem aplicação ao recorrente,
integralmente vencido, não sendo possível, no particular, o emprego das regras contidas
do CPC.

Salvador, Sala das Sessões, 26 de maio de 2015.

– RESONSABILIDADE CIVIL – ATO ILÍCITO – DANO MORAL – INDENIZAÇÃO MANTIDA – JUROS MORATÓRIOS
– INCIDÊNCIA DESDE A CITAÇÃO INICIAL – CORREÇÃO MONETÁRIA – DEVIDA DESDE A CONDENAÇÃO – RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO – DECISÃO UNÂNIME – 1) Configurada a responsabilidade da apelante pelo dano moral sofrido pelos
autores, justo é o direito a indenização. Valor fixado dentro dos princípios da eqüidade, da proporcionalidade e razoabilidade, quando então
foi sopesada a capacidade econômica do responsável, a culpa do agente e a extensão danosa. 2) Nos termos do art. 405 do Código Civil, os
juros moratórios devem incidir a partir do momento da citação inicial. 3) O marco inicial da fluência da correção monetária é a data da
decisão condenatória. Jurisprudência do STJ. (TJPE – AC 119429-6 – Rel. Des. Jovaldo Nunes Gomes – DJPE 19.01.2008)
– PROCESSUAL CIVIL – CDC – DANOS MORAIS – INSCRIÇÃO – SERASA – PRÉVIA COMUNICAÇÃO AO
DEVEDOR – ART. 43, § 2º, DO CDC – CORREÇÃO MONETÁRIA – TERMO INICIAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO –
1. É indevida a negativação, pelo banco de dados cadastrais, na ausência de prévia e expressa notificação do consumidor, tal qual
determina o § 2º, artigo 43, do CDC, ainda que a captação das informações ocorra junto ao cartório de protesto. 2. O dano moral, ao
contrário do material, não reclama prova específica do prejuízo, vez que este decorre do próprio fato. Exige-se apenas a demonstração do
ato/fato gerador dos sentimentos que o ensejam. 3. A verba indenizatória deve ser fixada em montante suficiente a inibir o malefício,
levando-se em conta a moderação e prudência do juiz, segundo o critério de razoabilidade, para evitar o enriquecimento sem causa e a
ruína do réu, em observância, ainda, às situações das partes, pressupostos in casu observados pela decisão monocrática na fixação do
quantum debeatur. 4. Nos casos de indenização por danos morais, a jurisprudência é pacífica no sentido de que a correção monetária deve
incidir a partir da sentença e os juros de mora a partir da citação. 5. Recurso parcialmente provido. (TJDFT – APC 20060110132340 – 4ª
T.Cív. – Rel. Des. Sandoval Oliveira – DJU 07.12.2006 – p. 185)
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JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS
Presidente

JUIZ TAMARA LIBORIO DIAS TEIXEIRA DE FREITAS SILVA


Relator

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