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ACÓRDÃO
Documento: 1754767 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/10/2018 Página 3 de 6
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DOMINGOS SAVIO DRESCH DA SILVEIRA
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : NATIV - INDUSTRIA BRASILEIRA DE PESCADOS AMAZONICOS S.A -
EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV FOODS LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV COMERCIO E DISTRIBUICAO DE ALIMENTOS IMPORTACAO E
EXPORTACAO LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
ADVOGADOS : OTTO WILLY GÜBEL JÚNIOR - SP172947
CAMILA DE CASSIA FACIO SERRANO - SP329487
RECORRIDO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI
ADVOGADO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI (EM CAUSA PRÓPRIA) - MT010925B
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
O presente feito foi retirado de pauta por indicação do Sr. Ministro Relator.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.722.866 - MT (2018/0027251-0)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : NATIV - INDUSTRIA BRASILEIRA DE PESCADOS AMAZONICOS S.A
- EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV FOODS LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV COMERCIO E DISTRIBUICAO DE ALIMENTOS
IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA - EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL
ADVOGADOS : OTTO WILLY GÜBEL JÚNIOR - SP172947
CAMILA DE CASSIA FACIO SERRANO - SP329487
RECORRIDO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI
ADVOGADO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI (EM CAUSA PRÓPRIA) - MT010925B
RELATÓRIO
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Superior Tribunal de Justiça
do CPC/15.
(fls. 313-321)
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.722.866 - MT (2018/0027251-0)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE : NATIV - INDUSTRIA BRASILEIRA DE PESCADOS AMAZONICOS S.A
- EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV FOODS LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV COMERCIO E DISTRIBUICAO DE ALIMENTOS
IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA - EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL
ADVOGADOS : OTTO WILLY GÜBEL JÚNIOR - SP172947
CAMILA DE CASSIA FACIO SERRANO - SP329487
RECORRIDO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI
ADVOGADO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI (EM CAUSA PRÓPRIA) - MT010925B
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SISTEMA
RECURSAL. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. HONORÁRIOS DO
ADMINISTRADOR JUDICIAL E RENOVAÇÃO BENEFÍCIO PRODEIC.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CABIMENTO. ART. 1.015, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CPC/15. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. POSSIBILIDADE.
1. O Código de Processo Civil, na qualidade de lei geral, é, ainda que de
forma subsidiária, a norma a espelhar o processo e o procedimento no
direito pátrio, sendo normativo suplementar aos demais institutos do
ordenamento. O novel diploma, aliás, é categórico em afirmar que
"permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos
regulados em outras leis, às quais se aplicará supletivamente este
Código" (art. 1.046, § 2°).
2. A Lei de Recuperação e Falência previu sistema recursal próprio,
prevendo, para diversas situações específicas, o recurso adequado a
desafiar o correspondente ato judicial. Estabeleceu, ainda, em seu art.
189, que, "no que couber", haverá aplicação supletiva da lei adjetiva geral.
3. Com relação aos recursos, por sua característica estritamente
processual, assim como pela ausência de vedação específica na Lei n°
11.101/2005, deve incidir o novo diploma processual, seja para
suprimento, seja para complementação e disciplinamento de lacunas e
omissões, desde que, por óbvio, não conflite com a lei especial. Deveras,
verifica-se que a lei especial não se ocupou de situações que, por sua
natureza e relevância, devam ser passíveis de contradita por meio de
recurso.
4. O rol taxativo do art. 1.015 do CPC/2015 não afasta a incidência das
hipóteses previstas na LREF, pois o próprio inciso XIII estabelece o
cabimento do agravo de instrumento nos "outros casos expressamente
referidos em lei". Havendo disposição expressa da Lei de Recuperação de
Empresas e Falência, essa prevalecerá sobre o numerus clausus do
dispositivo do CPC, de modo que a aplicação desse Código será apenas
para suprimento de lacunas e omissões. Por outro lado, se o provimento
judicial, no âmbito falimentar/recuperacional, enquadrar-se em uma das
hipóteses do rol do diploma processual, será também possível o manejo
do agravo de instrumento.
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Superior Tribunal de Justiça
5. Nas decisões interlocutórias sem previsão específica de recurso,
incidirá o parágrafo único do art. 1.015 do CPC/2015, justamente porque,
em razão das características próprias do processo falimentar e
recuperacional, haverá tipificação com a ratio do dispositivo - falta de
interesse/utilidade de revisão da decisão apenas no momento do
julgamento da apelação -, permitindo a impugnação imediata dos
provimentos judiciais.
6. Assim como se dá nos procedimentos previstos no parágrafo único do
art. 1.015 do CPC/2015, as decisões de maior relevância na recuperação
judicial e na falência são tomadas antes da sentença propriamente dita,
que, via de regra, se limita a reconhecer fatos e atos processuais
firmados anteriormente. Consequentemente, aguardar a análise pelo
Tribunal, apenas em sede de apelação, equivaleria à irrecorribilidade
prática da interlocutória, devendo incidir a interpretação extensiva do
dispositivo em comento.
7. Além disso, a natureza também processual (de execução coletiva e
negocial) da LREF justifica a interpretação do parágrafo único do art.
1.015 no CPC (ou dos incisos do caput do art. 1.015) no sentido de
estender a interposição do recurso de agravo de instrumento às decisões
que envolvam matérias dos regimes falimentar e recuperatório.
8. Na hipótese, o magistrado de piso indeferiu os pleitos das
recuperandas quanto à renovação do benefício fiscal (PRODEIC) e
determinou que elas efetuassem o imediato depósito de 40% dos
honorários do administrador judicial, sob pena de convolação da
recuperação em falência. Portanto, tal decisão desafia o recurso de
agravo de instrumento, na forma do artigo 203, §2°, do CPC.
9. Recurso especial provido.
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VOTO
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natureza e relevância, devam ser passíveis de contradita por meio de recurso, como sói, por
exemplo, a sentença que encerra a recuperação judicial, não podendo tal provimento ser tido
como irrecorrível apenas pela falta de previsão específica.
5. Diante dessa premissa, resta definir o regime jurídico do agravo de
instrumento diante do microssistema da Lei n° 11.101/05.
É sabido que, ao contrário do Código Buzaid, que possibilitava a interposição do
agravo de instrumento contra toda e qualquer interlocutória, o novo diploma definiu que tal
recurso só se mostra cabível contra as decisões expressamente apontadas pelo legislador.
Realmente, "com a postergação da impugnação das questões decididas no
curso do processo para as razões de apelação ou para suas contrarrazões e com a previsão
de rol taxativo das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento, o legislador procurou a
um só tempo prestigiar a estruturação do procedimento comum a partir da oralidade (que
exige, na maior medida possível, irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias),
preservar os poderes de condução do processo do juiz de primeiro grau e simplificar o
desenvolvimento do procedimento comum" (MARINONI, Luiz Guilherme. Novo código de
processo civil comentado. São Paulo: RT, 2015, p. 946).
Apesar da taxatividade, o STJ vem reconhecendo a possibilidade de
interpretação extensiva ou analógica das hipóteses dispostas no rol do agravo de
instrumento.
À guisa de exemplo:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO IMEDIATA DAS
NORMAS PROCESSUAIS. TEMPUS REGIT ACTUM. RECURSO CABÍVEL.
ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 1 DO STJ. EXCEÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA COM FUNDAMENTO NO CPC/1973. DECISÃO SOB A
ÉGIDE DO CPC/2015. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO
PELA CORTE DE ORIGEM. DIREITO PROCESSUAL ADQUIRIDO.
RECURSO CABÍVEL. NORMA PROCESSUAL DE REGÊNCIA. MARCO DE
DEFINIÇÃO. PUBLICAÇÃO DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO
CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA OU
EXTENSIVA DO INCISO III DO ART. 1.015 DO CPC/2015.
1. É pacífico nesta Corte Superior o entendimento de que as normas de
caráter processual têm aplicação imediata aos processos em curso, não
podendo ser aplicadas retroativamente (tempus regit actum), tendo o
princípio sido positivado no art. 14 do novo CPC, devendo-se respeitar, não
obstante, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
2. No que toca ao recurso cabível e à forma de sua interposição, o STJ
consolidou o entendimento de que, em regra, a lei regente é aquela vigente
à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente
tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento
jurisdicional que pretende combater. Enunciado Administrativo n. 1 do STJ.
3. No presente caso, os recorrentes opuseram exceção de incompetência
com fundamento no Código revogado, tendo o incidente sido resolvido, de
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forma contrária à pretensão dos autores, já sob a égide do novo Código de
Processo Civil, em seguida interposto agravo de instrumento não conhecido
pelo Tribunal a quo.
4. A publicação da decisão interlocutória que dirimir a exceptio será o marco
de definição da norma processual de regência do recurso a ser interposto,
evitando-se, assim, qualquer tipo de tumulto processual.
5. Apesar de não previsto expressamente no rol do art. 1.015 do
CPC/2015, a decisão interlocutória relacionada à definição de
competência continua desafiando recurso de agravo de
instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da
norma contida no inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que ambas
possuem a mesma ratio -, qual seja, afastar o juízo incompetente
para a causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a
demanda.
6. Recurso Especial provido.
(REsp 1679909/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 14/11/2017, DJe 01/02/2018)
_______________
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE
INDEFERIU PEDIDO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AOS
EMBARGOS À EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. ART. 1.015, X, DO CPC/2015.
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. ISONOMIA ENTRE AS PARTES.
PARALELISMO COM O ART. 1.015, I, DO CPC/2015. NATUREZA DE
TUTELA PROVISÓRIA.
1. A questão objeto da controvérsia é eminentemente jurídica e cinge-se à
verificação da possibilidade de interpor Agravo de Instrumento contra
decisões que não concedem efeito suspensivo aos Embargos à Execução.
2. Na hipótese dos autos, a Corte Regional entendeu que não é impugnável
por meio de Agravo de Instrumento a decisão que deixou de atribuir efeito
suspensivo aos Embargos à Execução, pois o rol do art. 1.015 do Código de
Processo Civil de 2015 é taxativo.
3. Em uma interpretação literal e isolada do art. 1.015, X, do CPC, nota-se
que o legislador previu ser cabível o Agravo de Instrumento contra as
decisões interlocutórias que concederem, modificarem ou revogarem o
efeito suspensivo aos Embargos à Execução, deixando dúvidas sobre qual
seria o meio de impugnação adequado para atacar o decisum que indefere
o pedido de efeito suspensivo aos Embargos à Execução.
4. A situação dos autos reclama a utilização de interpretação
extensiva do art. 1.015, X, do CPC/2015.
5. Em que pese o entendimento do Sodalício a quo de que o rol do
citado art. da nova lei processual é taxativo, não sendo, portanto,
possível a interposição de Agravo de Instrumento, nada obsta a
utilização da interpretação extensiva.
6. "As hipóteses de agravo de instrumento estão previstas em rol
taxativo. A taxatividade não é, porém, incompatível com a
interpretação extensiva. Embora taxativas as hipóteses de decisões
agraváveis, é possível interpretação extensiva de cada um dos seus
tipos". (Curso de Direito Processual Civil, vol. 3. Fredie Didie Jr.
e Leonardo Carneiro da Cunha. ed. JusPodivm, 13ª edição, p. 209).
7. De acordo com lição apresentada por Luis Guilherme Aidar Bondioli, "o
embargante que não tem a execução contra si paralisada fica exposto aos
danos próprios da continuidade das atividades executivas, o que reforça o
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cabimento do agravo de instrumento no caso". (Comentários ao Código de
Processo Civil, vol. XX. Luis Guilherme Aidar Bondioli. ed. Saraiva, p. 126).
8. Ademais, o pedido de concessão de efeito suspensivo aos Embargos à
Execução poderia perfeitamente ser subsumido ao que preconiza o inciso I
do art. 1.015 do CPC/2015, por ter natureza de tutela provisória de
urgência. Dessa forma, por paralelismo com o referido inciso do art. 1015
do CPC/2015, qualquer deliberação sobre efeito suspensivo dos Embargos
à Execução é agravável.
9. Dessa forma, deve ser dada interpretação extensiva ao comando contido
no inciso X do art. 1.015 do CPC/2015, para que se reconheça a
possibilidade de interposição de Agravo de Instrumento nos casos de
decisão que indefere o pedido de efeito suspensivo aos Embargos à
Execução.
10. Recurso Especial provido.
(REsp 1694667/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 05/12/2017, DJe 18/12/2017)
Aliás, tal controvérsia foi afetada ao rito dos recursos repetitivos (CPC, art.
1.036), no ProAfR no REsp n° 1.696.396/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe
28/2/2018, tese ainda em julgamento.
No entanto, penso que o resultado do referido julgado em repetitivo - seja qual
for - não afetará o caso ora em julgamento, já que o objeto da pretensão em comento é
justamente definir se os ditames do CPC/2015, de forma supletiva, poderão ser aplicáveis, e
em que extensão, ao sistema recursal da recuperação judicial.
Ademais, como sabido, "a afetação de determinado recurso ao rito dos
repetitivos, nos termos do art. 543-C do CPC, não implica a suspensão ou o sobrestamento
das demais ações já em curso no Superior Tribunal de Justiça, mas, apenas, as em trâmite
nas instâncias ordinárias" (AgRg na Rcl n° 27.689/MG, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Segunda
Seção, julgado em 11/11/2015, DJe de 16/11/2015).
6. Nessa ordem de ideias, diante da previsão expressa na LREF e da
especialidade do CPC em relação à matéria, a regulamentação do Código Processual, como
dito, a meu juízo, deve ter ampla incidência no microssistema recuperacional e falimentar.
6.1. É que o rol taxativo do art. 1.015, por si só, não afasta a incidência das
hipóteses previstas na LREF, pois o próprio inciso XIII estabelece o cabimento do agravo de
instrumento nos "outros casos expressamente referidos em lei".
Com efeito, havendo disposição expressa da Lei de Recuperação de Empresas
e Falência, essa prevalece sobre o numerus clausus do artigo 1.015 do CPC, de modo que a
aplicação deste será apenas no suprimento de lacunas e omissões.
Por outro lado, se o provimento judicial no âmbito falimentar/recuperacional se
enquadrar em uma das hipóteses do rol do CPC - por exemplo, tutela provisória -, será
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também, por óbvio, possível o manejo do agravo de instrumento.
6.2. No entanto - e aqui reside a principal controvérsia dos autos -, há
determinadas decisões judiciais tomadas no curso da recuperação judicial e da falência que,
apesar de não haver previsão de impugnação pela lei de regência nem enquadramento no rol
taxativo do CPC, ainda assim, penso que serão passíveis de irresignação por intermédio do
agravo.
Deveras, nas interlocutórias sem previsão específica de recurso, incidirá o
parágrafo único do art. 1.015 do CPC/2015, justamente porque, em razão das características
próprias do processo falimentar e recuperacional, haverá tipificação com a ratio do dispositivo
- qual seja, falta de interesse/utilidade de revisão da decisão apenas no momento do
julgamento da apelação -, permitindo a impugnação imediata dos provimentos judiciais.
Com efeito, o referido normativo prevê:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias
que versarem sobre:
[...]
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de
sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.
8. Por fim, convém assinalar que o fato de a LREF não regulamentar o sistema
recursal, como é de curial sabença, atrai a ampla incidência das disposições do CPC, no que
não for incompatível com o sistema da Lei n° 11.101/05, inclusive no que toca a unificação
dos prazos recursais em 15 dias, mantendo-se o interregno de 5 dias apenas para os
aclaratórios.
Quanto ao ponto, destaca a doutrina especializada que:
Especificamente quanto aos requisitos extrínsecos de
admissibilidade dos recursos civis, têm plena incidência as regras
processuais sobre a regularidade formal dos vários recursos
cabíveis, razão pela qual a parte sempre deverá, na petição de
interposição, declinar as razões de sua inconformidade e formular o
pedido de nova decisão. O preparo deverá ser comprovado no ato
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da interposição (art. 511 do CPC). A tempestividade, por evidente, é
aferida pela apresentação do recurso dentro do prazo fixado na lei
processual para cada espécie recursal (já que a LRF não fixa prazo
especial), contado da intimação das partes (arts. 242 e 506 do CPC).
[...]
Quanto aos requisitos intrínsecos de admissibilidade dos recursos civis, vale
observar que a Lei 11.101/2005 possui várias regras atributivas de
legitimidade para recorrer (art. 499 do CPC) ao falido, nos processo de
falência e noutros em que a massa seja parte ou interessada (art. 103,
parágrafo único, da LRF); também ao sócio do falido é reconhecida
legitimidade para recorrer, como na impugnação de crédito (art. 8° da LRF)
e em todas as situações em que possa ser diretamente atingido (arts. 81 e
82 da LRF).
[...]
Em todos os casos, aplicam-se subsidiariamente as regras gerais do Código
de Processo Civil sobre os efeitos ordinários dos recursos civis (art. 520 do
CPC) e a possibilidade excepcional de agregação de efeitos suspensivo
(arts. 527, inc. III, e 558 do CPC).
(ADAMEK, Marcelo Vieira von. In: Comentários à lei de recuperação de
empresas e falência. Coord. Francisco Satiro de Souza Junior e Antônio
Sérgio A. de Moraes Pitombo. São Paulo: RT, 2007, pp. 585-593)
Documento: 1754767 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/10/2018 Página 24 de 6
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO BUZZI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. SOLANGE MENDES DE SOUZA
Secretária
Dra. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : NATIV - INDUSTRIA BRASILEIRA DE PESCADOS AMAZONICOS S.A -
EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV FOODS LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
RECORRENTE : NATIV COMERCIO E DISTRIBUICAO DE ALIMENTOS IMPORTACAO E
EXPORTACAO LTDA - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
ADVOGADOS : OTTO WILLY GÜBEL JÚNIOR - SP172947
CAMILA DE CASSIA FACIO SERRANO - SP329487
RECORRIDO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI
ADVOGADO : MAURO DA SILVA ANDRIESKI (EM CAUSA PRÓPRIA) - MT010925B
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Marco Buzzi (Presidente) e Lázaro Guimarães
(Desembargador convocado do TRF 5ª Região) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
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