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ESPECIAL – COMER OU NÃO COMER CARNE?

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COMER OU NÃO
Uma abordagem ética e doutrinária.
O espírita deve se tornar vegetariano?

Qual deveria ser a relação entre os animais e o homem?

Dra. Irvênia Di Santis Prada

N ossa alimentação exige


o sacrifício dos animais?
Em “Missionários
carne nutre a carne, pois do con-
trário o homem perece. A lei de
conservação impõe ao homem o
– “Sim: a privação dos prazeres
inúteis, porque liberta o homem
da matéria e eleva sua alma.
da Luz”– cap. 4. “Vam- dever de conservar as suas ener- Então, se podemos conservar
pirismo”, André Luiz gias e a sua saúde, para poder as nossas energias e a nossa saú-
oferece-nos maravilhosa lição, cumprir a lei do trabalho. Ele de, privando-nos voluntariamen-
abrindo o nosso entendimento a deve alimentar-se, portanto, se- te do consumo de carne, isso não
respeito do assunto. É Alexandre, gundo a sua organização”. é meritório? Se está ao nosso al-
seu instrutor no momento, quem De fato, a alimentação huma- cance poupar a vida e o sofrimen-
esclarece: “... a nossa inteligência, na não pode prescindir de pro- to de outros seres vivos, porque
tão fértil na descoberta de como- teínas, ácidos graxos essenciais não fazê-lo?
didade e conforto, teria recursos (elementos encontrados em óle-
de encontrar novos elementos e os e gorduras), açúcares, vitami- Inferiores e superiores
meios de incentivar os suprimen- nas e minerais. Temos a errônea André Luiz, em Missionários
tos protéicos ao organismo, sem noção de que só a carne é rica da Luz - cap. 4 “Vampirismo”
recorrer às indústrias da morte”. em proteínas. expõe sua estranheza à infeliz
Acho essa lição maravilhosa Mas, elas também podem ser condição de “muita gente na ter-
porque ela nos impulsiona, nos encontradas em outras fontes ra que vive à mercê de vampiros
motiva a conquistar mais um pas- como ovos e leite, de origem invisíveis”. Indaga ele, então: - “E
so, em nossa caminhada evoluti- animal, além de uma infinidade a proteção das esferas mais altas?
va. Somos advertidos de que nos- de vegetais. E o amparo das entidades
sa inteligência já tem recursos de Uma dieta variada em itens angélicas, a amorosa defesa de
buscar o suprimento protéico de vegetais (frutas, verduras, grãos) nossos superiores?”
que necessitamos, em outras fon- já atende bastante nossas neces- A resposta de Alexandre, o
tes que não mediante o sacrifício sidades. Se somarmos a isso a instrutor, não tarda: - “André,
da vida dos animais. Não preci- ingestão de alguns produtos de meu caro ... Em todos os setores
samos mais nos acomodar à an- origem animal (leite, seus deriva- da Criação, Deus, nosso Pai, colo-
tiga noção de que a nossa saúde dos e ovos), então as exigências cou os superiores e os inferiores
não se manteria sem o consumo de nosso corpo, em termos de para o trabalho de evolução, atra-
de carne. No próprio Livro dos aporte nutricional, estarão com- vés da colaboração e do amor, da
Espíritos, 723 encontramos a pletamente satisfeitas. administração e da obediência...
questão: – “A alimentação ani- É o próprio Livro dos Espíritos, no capítulo da indiferença para
mal, para o homem, é contrária à 720 – a que nos leva nessa dire- com a sorte dos animais, da qual
lei natural?” Na resposta, lemos: ção: - “Há privações voluntárias participamos no quadro das ativi-
– “Na vossa constituição física, a que sejam meritórias?” Resposta: dades humanas, nenhum de nós

Revista Cristã de Espiritismo ·6


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COMER CARNE?

Matamos esses pobres seres que nos pedem roteiros de progresso e valores educativos somente para agradarmos ao nosso exigente paladar.

poderia, em sã consciência, atirar volentes e sábios, cujas instruções recursos protéicos, extermináva-
a primeira pedra. Os seres inferi- mais simples são para nós difíceis mos frangos e carneiros, leitões e
ores e necessitados do Planeta de suportar, pela nossa lastimável cabritos incontáveis. Sugávamos
não nos encaram como superiores condição de infratores da lei de os tecidos musculares, roíamos os
generosos e inteligentes, mas auxílios mútuos?” ossos. Não contentes em matar os
como verdugos cruéis. Vale a pena revermos esse tre- pobres seres que nos pediam ro-
Se não protegemos e nem cho em que Alexandre fala a teiros de progresso e valores edu-
educamos aqueles que o Pai nos André Luiz: “– Porque tamanha cativos, para melhor atenderem à
confiou, como germes frágeis de estranheza? – perguntou o cuida- Obra do Pai, dilatávamos os re-
racionalidade nos pesados vasos doso orientador – e nós outros, quintes da exploração milenária
do instinto; se abusamos larga- quando nas esferas da carne? e infligiamos a muitos deles de-
mente de sua incapacidade de Nossas mesas não se mantinham terminadas moléstias para que
defesa e conservação, como exi- à custa das vísceras dos touros e nos servissem ao paladar, com a
gir o amparo de superiores bene- das aves? A pretexto de buscar máxima eficiência. O suíno co-

7 · Revista Cristã de Espiritismo


ESPECIAL – COMER OU NÃO COMER CARNE?
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mum era localizado por nós, em endividados para com Deus e a


regime de ceva, e o pobre animal, Natureza, devemos prosseguir no
muita vez à custa de resíduos, trabalho educativo, acordando os
devia criar para nosso uso certas companheiros encarnados, mais
reservas de gordura, até que se experientes e esclarecidos, para a
prostrasse, de todo, ao peso de nova era em que os homens culti-
banhas doentias e abundantes. varão o solo da Terra por amor e
Colocávamos gansos nas engor- utilizar-se-ão dos animais, com es-
dadeiras para que hipertrofias- pírito de respeito, educação e en-
sem o fígado, de modo a obter- tendimento...
mos pastas substanciosas desti- Semelhante realização é de
nadas a quitutes que ficaram fa- importância essencial na vida hu-
mosos, despreocupados das faltas mana, porque, sem amor para com
cometidas com a suposta vanta- os nossos inferiores, não podemos
gem de enriquecer os valores cu- aguardar a proteção dos superio-
linários. Em nada nos doía o qua- res; sem respeito para com os ou-
dro comovente das vacas-mães, tros, não devemos esperar o res-
em direção ao matadouro, para peito alheio. Se temos sido vampi-
que nossas panelas transpirassem ros insaciáveis dos seres frágeis
agradavelmente”. que nos cercam, entre as formas
Aí fica a sugestão do inspirado terrenas, abusando de nosso po-
mentor Alexandre para que pen- der racional ante a fraqueza da
semos no assunto: “Abandonando inteligência deles, não é demais
as faixas de nosso primitivismo, que, por força da animalidade que
devemos acordar a própria consci- conserva desveladamente, venha
ência para a responsabilidade co- a cair a maioria das criaturas em
letiva. A missão do superior é a de situações enfermiças pelo proteína mas, de outros elemen-
amparar o inferior e educá-lo. E os vampirismo das entidades que tos importantes em nossa nutri-
nossos abusos para com a Nature- lhes são afins, na esfera invisível”. ção. Portanto, recorrer aos cha-
za estão cristalizados em todos os mados produtos de origem ani-
países, há muitos séculos. Não po- Os Recursos do Estábulo mal, como é o caso do leite e de
demos renovar os sistemas econô- E se optarmos por buscar os seus derivados, seria perfeitamen-
micos dos povos, dum momento recursos protéicos de nossa ali- te válido. Entretanto, vem a contra-
para outro, nem substituir os hábi- mentação, poupando a vida dos parte - “o estábulo, como o lar, será
tos arraigados e viciosos de ali- animais, é o próprio Alexandre também sagrado”.
mentação imprópria, de maneira quem aconselha: - ...o aumento Certamente ainda teremos de
repentina. Refletem eles, igual- dos laticínios, para enriqueci- evoluir muito, para conseguir esse
mente, nossos erros multimilená- mento da alimentação, constitui nível de entendimento e de liber-
rios. Mas, na qualidade de filhos elevada tarefa ...” E completa tação de nosso egocentrismo e
com uma assertiva sobre a qual egolatria. Tomara chegue mesmo
venho pensando muito e cujo real esse dia, porque hoje, como já dis-
significado de tão grande, sinto se alguém, muito sofrimento dos
talvez não tenha ainda condições animais ainda acompanha o nos-
de apreender: – “... porque tem- so copo de leite. Infelizmente, em
pos virão, para a humanidade ter- nosso meio, para que as criações
restre, em que o estábulo, como o de gado leiteiro sejam economica-
lar, será também sagrado”. Não é mente viáveis, a maioria dos be-
fácil entender o que Alexandre zerros machos são descartados,
está nos dizendo. Vejamos! Cons- sendo encaminhados para os ma-
titui elevada tarefa o aumento da tadouros; os que permanecem (a
produção de laticínios, para enri- maioria fêmeas) são imediata-
quecimento da alimentação hu- mente, após o parto, separadas de
mana. De fato, o leite, os queijos, suas mães, entre berros de ambas
o creme de leite, a nata, etc., são as partes; as vacas matrizes (vacas
fontes riquíssimas não apenas de parideiras) são submetidas a in-

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te, de ovos galados (fecundados)


é orientada para o setor de repro-
dução das aves.
Quem sabe, aos poucos, va-
mos aprendendo a respeitar
aqueles que nos ajudam a nos
mantermos vivos e saudáveis.
Nesse sentido é que aceito a cita-
ção de Erasto, no Livro dos Mé-
diuns 2a - XXII.236: “Deus pôs os
animais ao vosso lado como auxi-
liares para vos alimentarem, para
vos vestirem e vos ajudarem...”
Entendo que os animais po-
dem nos auxiliar em nossa ali-
mentação, não com o sacrifício de
suas vidas (aliás, isso não consta
do texto de Erasto) mas, com os
produtos que possam nos ceder,
como o leite e os ovos. Também
podem nos auxiliar em nossas
vestimentas, sem que lhes arran-
quemos a pele mas, por exemplo,
valendo-nos de sua lã, mediante
Leite, queijos, o creme de leite, a nata e as frutas são fontes riquíssima de proteínas.
tosquia adequada. Em uma cami-
seta com a figura de um filhote de
tenso processo de seleção genéti- clusive da região dos olhos. E raposa li a sugestiva frase: “Su
ca, para que se transformem em para que produzam tudo o que madre tien abrigo de piei? De la
verdadeiras máquinas produtoras possam e mais um pouco, no final mia, lo arrancaron”. De fato eles
de leite, mal podendo se movi- do período de postura são subme- podem nos auxiliar de muitas ma-
mentar com seus enormes úberes. tidas à chamada “muda forçada”, neiras. Que o digam muitos ido-
Quem duvidar, é só dar um pulo ou seja, mediante restrição ali- sos e solitários cuja única compa-
nesses concursos de produção lei- mentar, provoca-se a queda de nhia, sempre fiel e amiga, é a de
teira e conferir o que andam fa- suas penas e severo emagreci- seu cão ou gato.
zendo com as pobres vacas! mento. Em seguida a esse Após toda essa reflexão, per-
Há pouco tempo, ao comentar estresse, são submetidas nova- gunto novamente ao lei-
esses fatos, tive a feliz notícia de mente a alimentação normal, do tor: comer ou não
que um veterinário de Minas que resulta uma postura de me- comer carne?
Gerais está conseguindo viabili- lhor índice.
zar uma criação de gado leiteiro, Nessas criações
de maneira humanitária, como se alternativas a
diz, com razoável obtenção de lu- que me referi, as
cros. Seja benvindo! aves são criadas
Também quanto à obtenção naturalmente,
de ovos das galinhas, já começam soltas, à vonta-
a existir meios alternativos de cri- de, ciscando,
ação das aves, que não o de fica- comendo e bo-
rem confinadas e apertadas em tando ovos....
restritas gaiolas nas quais não Felizmente.
conseguem dar sequer um passo! Parte desses
Além disso, sofrem a famosa ovos é apro-
“debicagem”, isto é, corte de par- veitada para
te de seu bico por lâmina incan- consumo na
descente, do que resulta em pro- alimentação hu-
cesso inflamatório com edema in- mana, e outra par-

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