You are on page 1of 5

06/01/2016 bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas | Mar de Histórias

Mar de Histórias
"É a função do poeta: nomear o
inominável, apontar as fraudes, tomar
partido, despertar discussões, dar
forma ao mundo e impedir que
adormeça" (Salman Rushdie)

bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas
Publicado em 07/03/2009

“Porque nos esvaziamos espiritualmente
tentamos nos preencher com
consumismo; podemos não ter amor
suficiente, mas sempre podemos
comprar.”

Em 2006 decidi que queria fazer mestrado em Letras. Sem traquejo acadêmico, depois de quase dez anos fora da
faculdade, me matriculei como aluna especial na UFBA. Comprei cadernos, canetas, agenda… toda a parafernália
estudantil que julgava que iria precisar. Tinha ideia clara sobre o tema que defenderia na minha dissertação, mas
não sabia por onde começar a pesquisa. Tinha certeza de que só havia uma professora no Instituto de Letras que
poderia me orientar. Fiz uma entrevista com ela certa vez para uma reportagem sobre literatura e racismo.

Florentina Souza e Silva, Flora para os alunos, foi uma das primeiras mulheres de “carne e osso” (digo isso,
porque era alguém com quem eu convivia e não que apenas lia nos livros) que de fato admirei. Só não sabia era
que na aula dela iria descobrir uma outra mulher que, apesar da distância geográfica, da barreira da língua e de,
até aquela data eu nunca ter ouvido falar no seu nome, me arrebataria de tal forma que além de admiração, me
transformaria em fã incondicional.

bell hooks entrou na minha vida com uma força arrebatadora. As discussões nas aulas de Flora foram os melhores
debates de que já participei na vida. Ao longo desses anos em que, por vários fatores e descaminhos, acabei
adiando o mestrado, a escritora norte­americana permaneceu como uma das minhas referências. Me admira é
que, apesar da sua importância, ela seja praticamente desconhecida fora do ambiente acadêmico. No Brasil, é
quase impossível encontrar obras traduzidas de bell hooks. Prometi, quando postei minha crítica sobre a
exploração do nu feminino no carnaval de Salvador e usei alguns trechos de obras de bell hooks, que iria contar
quem é ela. Pois bem, cumpro a promessa agora.

QUEM É ESSA MULHER?

https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell­hooks­uma­grande­mulher­em­letras­minusculas/ 1/5
06/01/2016 bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas | Mar de Histórias

bell hooks é o pseudônimo de Gloria Jean Watkins, escritora norte­americana nascida em 25
de setembro de 1952, no Kentucky – EUA. O apelido que ela escolheu para assinar suas obras
é uma homenagem aos sobrenomes da mãe e da avó. O nome é assim mesmo, grafado em
letras minúsculas, isso quem me contou foi Flora. A justificativa, encontrei depois numa frase
da própria bell: “o mais importante em meus livros é a substância e não quem sou eu”. Para
ela, nomes, títulos, nada disso tem tanto valor quanto as ideias. Na infância, estudou em
escolas públicas para negros, pois nos EUA, ainda havia escolas que praticavam segregação
racial. Na adolescência, quando passou para uma escola integrada, viveu a discriminação de
ser minoria numa instituição onde tanto os professores quanto os alunos eram
majoritariamente brancos. De família numerosa, cinco irmãs, um irmão, pertencente ao que
os americanos chamam de classe trabalhadora, bell hooks usou a própria vida, a vizinhança, a
escola, como fontes dos seus primeiros estudos sobre raça, classe e gênero, sempre buscando nesses três
elementos, os fatores da perpetuação dos sistemas de opressão e dominação. Seja de brancos contra negros; de
homens (mesmo negros) contra mulheres; de ricos contra pobres. Observadora sagaz da realidade que a cerca, é
capaz de escrever palavras que doem como um soco no estômago, mas que são ditas com tamanha convicção,
sinceridade e um estilo inconfundível que até agradecemos por apanhar. Soa muito pobre afirmar que bell hooks,
feminista e ativista social assumida, é um exemplo de vida, mas ela é. Basta dizer que já foi premiada com um The
American Book Award, um dos prêmios literários de maior prestígio em seu país, para vocês verem que não estou
falando de qualquer pessoa. Entre as influências da autora, além de Martin Luther King, Malcom X e Eric Fromm,
figuram as teorias de educação defendidas por Paulo Freire. E nem assim, tendo um brasileiro como referência, a
autora é conhecida aqui.

OBRAS DE BELL HOOKS: (títulos sem tradução em português)

And There We Wept: Poems (1978) 
Ain’t I a Woman?: Black Women and Feminism (1981) 
Feminist Theory: From Margin to Center (1984) 
Talking Back: Thinking Feminist, Thinking Black (1989) 
Yearning: Race, Gender, and Cultural Politics (1990) 
Breaking Bread: Insurgent Black Intellectual Life (1991) (em parceria com o intelectual Cornel West) 
Black Looks: Race and Representation (1992) 
Sisters of the Yam: Black Women and Self­recovery (1993) 
Outlaw Culture: Resisting Representations (1994) 
Teaching to Transgress: Education As the Practice of Freedom (1994) 
Art on My Mind: Visual Politics (1995) 
Killing Rage: Ending Racism (1995) 
Bone Black: Memories of Girlhood (1996) 
Reel to Real: Race, Sex, and Class at the Movies (1996) 
Wounds of Passion: A Writing Life (1997) 
Happy to be Nappy (1999)
Remembered Rapture: The Writer at Work (1999) 
All About Love: New Visions (2000) 
Feminism is for Everybody: Passionate Politics (2000) 
Justice: Childhood Love Lessons (2000) 
Where We Stand: Class Matters (2000) 
https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell­hooks­uma­grande­mulher­em­letras­minusculas/ 2/5
06/01/2016 bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas | Mar de Histórias

Salvation: Black People and Love (2001) 
Be Boy Buzz (2002) 
Communion: The Female Search for Love (2002) 
Homemade Love (2002) 
Rock My Soul: Black People and Self­esteem (2003) 
Teaching Community: A Pedagogy of Hope (2003) 
The Will to Change: Men, Masculinity, and Love (2003) 
Skin Again (2004) 
Space (2004) 
We Real Cool: Black Men and Masculinity (2004) 
Soul Sister: Women, Friendship, and Fulfillment (2005) 
Witness (2006)

*Fonte: Wikipedia (apenas para a lista das obras). O restante do conteúdo do post foi feito com base nas leituras
sobre bell hooks da época em que eu era aluna especial do mestrado no Instituto de Letras da UFBA. 

About these ads

Classificar isto:

            2 Votos
Divida com os amigos

 Imprimir  Email  Reddit  Twitter  Facebook 2

 Gosto
Be the first to like this.

Relacionado

Mulher fruta: É para chupar e cuspir o Pagode da rebeldia? Não, é mera Conversa estranha na calada da noite


bagaço? resignação... In "Baú de Histórias"
In "Artigos" In "Artigos" Enviar para endereço de Email

O seu nome
Sobre Andreia Santana
Nasci em Salvador­BA, tenho 41 anos, sou jornalista e master em jornalismo on line, traça de biblioteca, cinéfila, pesquisadora de
O seu endereço de email
literatura e redes sociais, aspirante a encantadora de palavras, vaidosa, comilona, solteira e mãe de Matheus, uma pessoa
fascinante.
Ver todos os artigos de Andreia Santana →

https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell­hooks­uma­grande­mulher­em­letras­minusculas/ 3/5
06/01/2016 bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas | Mar de Histórias

Esta entrada foi publicada em Autores, Geral com as etiquetas bell hooks, classe social, escritora, EUA, feminismo, gênero, Instituto de Letras, raça, UFBA. ligação
permanente.
Escreva as 2 palavras:

Enviar Email   Cancelar
12 respostas a bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas

Andreza Smith diz:
09/02/2015 às 20:06

Olá. Por favor, estou precisando desesperadamente do livro Feminist Theory: From Margin to Center (1984) para finalizar
minha tese de doutorado. Vocês possuem?
Responder

Andreia Santana diz:
10/02/2015 às 00:12

Oi Andreza, 
Infelizmente não possuo. 
abs
Responder

Geny Guimarães diz:
24/04/2014 às 14:19

Andreia Santana. O seu texto é lindo. Também sou apaixonada por bell hooks. abraços.
Responder

Diego Souza diz:
09/07/2013 às 23:30

Olá, estou a procura de algum livro dela em português, é MUITO dificil de achar e n domino completamente o ingles..sabe
onde posso encontrar?
Responder

Andreia Santana diz:
09/07/2013 às 23:49

Oi Diego, 
Como escrevi no post sobre ela, não existem obras da bel hooks publicadas em português, infelizmente. 
abs 
Andreia
Responder

Amanda diz:
23/03/2014 às 23:53

Agora já tem uns em português, eu tenho um scanneado, Ensinando a Transgredir, me passa o e­mail que eu
compartilho! ;)

https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell­hooks­uma­grande­mulher­em­letras­minusculas/ 4/5
06/01/2016 bell hooks: uma grande mulher em letras minúsculas | Mar de Histórias

Andreia Santana diz:
25/03/2014 às 20:06

Oi Amanda, obrigada pela dica. Quando escrevi o post, em março de 2009, ainda não publicavam a autora
no Brasil. Que bom que essa realidade está mudando. Abs!

Geny Guimarães diz:
24/04/2014 às 14:20

Fico na torcida!! Que venham as traduções, são necessárias para alcançar um público cada vez maior por
aqui.

Andrea Odara diz:
14/11/2012 às 23:22

Andrea

Estou no nível em vc estava com conheceu a obra de bell Hooks. Conheci essa fascinante escritora quando dei aulas de inglês
para uma aluna que hoje já é doutora. E me apaixonei pelo estilo arrebatador desta autora. Quem sabe não serei a primeira
tradutora de uma obra dela?
Responder

Andreia Santana diz:
15/11/2012 às 00:31

Oi Andrea, espero que você se torne tradutora de bell hooks um dia, pois os leitores que não leem em inglês
precisam ser apresentados à obra dela :) Abs
Responder

Pingback: para além da oposição cabelo “duro” X cabelo “liso” « kukalesa

Pingback: Mês da Consciência Negra – bell hooks « Professor Web

Mar de Histórias
O tema Twenty Ten.  Create a free website or blog at WordPress.com.

https://mardehistorias.wordpress.com/2009/03/07/bell­hooks­uma­grande­mulher­em­letras­minusculas/ 5/5

You might also like