You are on page 1of 23
veut ANTROPOLOGIA. VISUAL Heick, Dwight Heath, John e Patricia Hitchcock, Alexander H. Leighton, Michuel Mahar, Margaret Mead, Morris Opler, Davis Peri, Arthur Rotman, Bernard Siegel, George e Louise Spindler e Robert Wharton. | = ‘Agradecimentos especiais a James Hirabayashi pela permissfio em rolatar nossa parte em sua pesquisa sobre Integragtio Urbana Indigena; « Jonme Leonard, que fotografa wns dns fart i digenas; © aos pesqnisndores do campo com os quais trabathet Giestamonter, Luis Kenmitzer, Gordon Krutz, Wiehard) Moore, Franck Norrick e Daniel Swett. CAPITULO 1 © problema da observagio e a natureza da fotografia Este livro trata om geral da interagio humana e da observagao. Explora, em particular, 0 objetivo da visio global em antropologia, aleangada através do uso da fotografie. Por razdes diversas, os homens de hoje nfo sio bons obscrvadores © a grande capacidade de penetragio da’ cdmara pode ajudar-nos a ver mais e de forma mais acurada, A méquine fologréfica nao se apresenta como usn remédio para nossas limitagbes visuais, mas como uin auxiliar para nossa percepgio. Somente ‘a sensibilidade humana pode abrir os “olhos” dn cfimara de forma sigaificativa para « antropologia) Pera compreendermos a fungio da cmara na pesquisa, entuetanto, pre- cisamas primeiramente voltar nossa atengiia para o fendmeno da observagio humana (CE Fig. 2). HA problemas de percepgto que precisam ser reconhecidos, se formos fazer observagies seguras sobre a cultura, Aprender a observar visualmente, ver uma cultura em todos os seus comple- xos detathes, pode ser uma tarefa de muito empenbo para o pesquisador. A natureza fragmentada da vida moderna torna di- ficil 0 ajustamento A visto global. A eapacidade de visio de con- junto do observador depende da proparcio de envolvimento dele em relago ao seu meto ambiente. Nés, modemos, nos afastamos de um relacionamento muito envolvente com o ambiente que nos circunda, pois comumente Tidamos apenas com partes desse es- quema de grande amplitude. Em contraposigio, a percepgio do aborigene esté relacionada com a sua interagio no ambiente total em que vive, O nativo, com tecnologia limitada, tem que viver em hurinonia com a natureza ne o cerca, Flo precisa ser um observailnr astuto de todo seu 2 ANTROFOLOGIA VISUAL mundo, caso coutririo nfo sobreviverd. As forgas naturais rodeiant no e ele esth Iutando constantemente para sobreviver entre elas Quando 0 esquimé deixa sua choga prra pesca, ele preci meiramente fidar com todos os elementos que 0 cercam e dor técnicas iitels para proteger-se. Ele precisa fregitentemente tomer cada decisio de vida ou morte independentemente, sozinho, Essas decisies determinarko se ele encontra a caga ou ndo, se avanga em diregio de sua casa através dos gelos flutuantes, on & arrastade, para os mares articos. Nosso desenvolvimento cultaral, de outro Indo, fot orientado para dominar a natureza pela tecnologia, levailn a efeito coletiva- mente pola superviganizagSo de fungdes fragmentadas. Julgamo- nos senhores de nosso mundo ¢, apesar disso, ternos que tratar constante e pessoakmente com Forgas naturais. Fessa certera jimitow a série de fendmenos «que nés, como individuns, temos que observar para sobrevivermos e u0s tornamos observadores Himitadas, quando comparados com um cagator aborigene, Em nossa vida cotidiana, somente et miiiero do questies, temos que tomar decisics de vida ou morte apenas pelo nosso proprio senso. Apertamos 9 breque so ver 0 sinal vermolho, aceleramos quando a Juz se torna verde, Ou atra~ vessamos incontinenti a faixa de pedestres, confiantes que outros espectalistas guiaro seus movimentos pelos mesinos.sinai iE verdade que, em certas freas especificas, nbs tamhém somos analistas visuais bastante perspicazes. Fim nosso prépirio campo de trabalho, vemos com mais presisio que qualyner aborigene, em bora possamas ser visualcnte ignorantes quando deixeines essas freas: 0 radiologista pode diagnosticar uma tuberculose por uma mancha no pulmio através do raio-X; 0 bacteriologista pode re- conhecer os hacilos pelo mlerosedpio, Quando, porém, esses te- nnicos deixam seus Iaboratérios, eneontram o eaminho de easa sem difienldades, com um relance de othos A valta, on olham 0 céu para ver se serio supreendidos por wma chova. Deixatam suas capas impermedveis em casa, pois o reporter do récio dissera “tempo bom para esta noite © terga-feira, com ventos fracos do Oeste” Para a obtengio dessas conclusées, outros especialistas realizaran observagées instramentais altamente técnfeas. Somente podemos considerar-nos os mais acurados observadores sit ttistéria humana se considerarmos a soma total de nossas especializagies, relagio a vm pequeno © PRODLEMA DA OBSERVAGRO E A NATUREZA DA FOLOGRAFIA | Lndliseativetmente, a cegneira pessoal que obscurere nossa visio individual esta relacionada com o isolamento que & possivel em || wossa sociodade urbona ¢ mecanicistaJ Aprendemos ver apenas 6 qae praticamente precisamos ver/ Atravessamos nossos dias com | viseiras, observando somente uma Tragio do que nos rodeias E quando observamos critieamente, & quase sempre com o auuxilio de alguma tecnologia. Muitas observagdes em profandidade sfo feitas com instrw- rmentos. Podemos obscrvar a vida em wma gota de égua com nosios inicroscépios, olhar 0 espago celeste com telescdpios, ¢ até mesmo olliar retrospectivamente na bistéria com o instrumental de Ieitura do carhono 14. Observames mediante computadores, radates, fotd- metros; estes instrumentos especializaram ainda mais nossa visko A visio através do instramento permitin-nos ver 0s elementos muito Prbsimns © muito dlstantes, abstraindo muito a luz, o som, 0 calor @ oifeis, em-sumples medidas de presi ¢ tensio, ‘A miquing fotogréfica é uma extensfo instrumental de nossos j sentidos, anas 6 pouco ospecializada para registrar na escala de abstragao mals baita possivel. Qualquer unidade que desejemos fotografar, ainda a mais sclecionada e especializada, pode ser fiel- mente registrada pela edmara, ¢ depois todas as outras partes asso- ciadas que estejam dentro do foco e aleance da lente. Essa capa- \cidade poderia tomar a cfmara o instrumento mais valioso para '0 observador, A adaptabilidade da visio da Amara tornon a fotografia um tipo ile pereopgio de grande perfeiggio em muitos campos. Muitas disciplinas depencem do olho da ctmnara para ver sclelivamente 9 que 9 olho humano ndo pode ver; seja, por exemplo, tragar 0 dorenvalvimento dos funges\ de uma planta, procurar Togeres le esembarque na Ii, ou, mais popularmente, decidir o gonhador das corridas de cavalo de Kentucky, mediante chapa fotografica A imagem com meméria © ansitio da chinara ma observagio nfo & novo; Leonardo da Vinoi descrevew sens prinefpios. A luz entrando nin pequeno on- ficio de wna parede em vm quarto escuro forma na parede oposta ‘uma imagem invertida de qualquer coisa que esteja do outro lado. 4 AWTROVOLOOIA VISUAL. A. camera obscira, ov literalmente 0 quarto escuro, foi a priseica Ghmara onde og aFlistas podiam estndar a realidade projetada: as ‘arictaviGtiens da liz, 0 delineamento dé perspectiva, Por volta do séoulo XVILL, #s cAmaras dimioutram de tamanho; de um quarto grande, suficiente para comportar urn homem, para una catxa portatil de 60 cm com o orificio de observagio substituide pelo princfpio de Iente de fundo, Usava-se papel para traganento em Inger do filme e produzia ofpias exatas da reelidade delineada fem um vidro despolido de fundo que lembrava muito a imagem refletida da moderna cdmaxa Graflex. "A camera obscura podia reter a imagen projetada somente através de uma cépia tragada manualnente, operagéo trabalhosa fe mesino freqaentemente forinal. Em 1837, Lonis Daguere aper- feigoow a primeira placa sensivel 4 Iuz, 0 espelho com memirin. 6 tiaquersestipo intraduzin a fotografia po mundo, Essa, imager relativamente harata, rapida e mével mudon o eariter da repro- Gugdo Fotografia, Agora nio se registram tae-somente perspec: tivas e principios de luz para o estudo, mas a imagem humana, ume Tembranga precisa de como exatamente uma determinada_ pessoa se parece, quo podia ser examinada varias veres par um plier Indefinide de observacores, agora e anos depois. A imagem da cdunara, pela sua facilidade, introduziw wma nova fase do enten- SRecato Tnamano que contines a expacdic o nosso pensimento social. : © problema persistente nos séculos passados @ nas noseas 16+! lag6es humanas atualmente & ver os outros como eles realmente so, Antes da invengio da fotografia, 0 conceito de humanidade, flora, fanna, e1a freqitentemente fantistico. & por isso que a ct Vimar -com sua visio imparcial tem sido, desde 0 fneicia, esclarece- dora € modificadora da compreensdo ecoldgica ¢ humana. Os bor mens sempre ustram ns iinagens para dar forma aos sous concek tor de realidade. Fai a imagem dos artistas que exprimin 0 eéu ‘> inferno, a figura do diabo, dos dembnios, dos selvagens pe fosos imagens de poves tio strpreendentes ¢ diversas. As pes- Sons pensauam através. dessas tepesemtagies que gemhnente trae duziam o uc os artistas queria ver, oU ns Impresstes que thes ccausavam essas_ imagens. . ‘© entusiasmo com que se acolhien a invengio da fotografia inostiava a conseiéncia que 0 homein teve, pela primeira vez, de © THOBEATA PA OUSFAVAGTO FA NATUITZA DA PORERAKA 5. poder ver 0 mundo como realmente era, Essa -confianga nasceu «lo recouhecimento de que a fotografia era um processo dptico, ¢ niio, artistico, Suas imagens se produziam por luz real, tio na- tral como.a sombra projetada por uma mo, ott os rastros de um nimal no cominho. Gs exlticos podem alegar justemente que esta aceitagto do realismo indiscutfvel da cémara As vezes 6 mais de cardter mistico do que realidade, Ainda para muitos, o registro fotogrAticn & verdadeiro, porque “a maquina fotogréfica nto pode mentie*. Esta simplifieagio, 6 claro, se apdia somente no registro exato da cAmara em relagio a certos aspectes fisicos da realidade, tais como as vistas das pirimides ou das cataratas de Nidgara. A despeito, porém, de algumas dliscrepancias entre a realidade e © rennheeido realismo visual da cimara, a fotografia influenciou grandemente 0 penstmento modernoy Os homens modificam suas coneepeses do mnndo pora ajusti-tns mais de acordo com a visio universal da eftinara \ ‘Ae imagens tiradas por repfirteres-fotdgrafos sto editadas na- turalmente, O que torna validos esses documentos & 0 proceso imparcial de visio da camara pois, uma ver. editados, eles contém um mitmero suficfonte de yerdades nio verbais que permitem ac espeetador reconstruir n ree BAUME “6 formar conceitos apoiadas no que reconhecem como evidénefa valida, Os projetos de foto-reportagem mudaram intensamentte 0 pensamento social, ¢ domonstraram © indiscutivel valor da cAmara, Os documentirios de Mathew Brady, autorizados por Abraham Lincoln, estio entze as primefras vistes ‘imparciais'da guerra. Esse documentario nao consistin de fnstantineos apressados, mas ern um registro do ex- posigiies de corpos cafdos, de edificios salvos de inedndio © de sostos de smutiladas @ eaptnrados. Brady rogistron os efeitos dit guerta © nig. simplesinente agies dramfticas. Algumas décadas mais tarde, 0 repérter polieial Jacob Riis recoreett & chunara para mostrar as’ condig6es das favelas da efdade de Nova lorque, As edmaras desajeitadas ¢ os Hashes de pélvora registraram cenas de handitismo, interiores de ensas de Favela © cscolas. Esses primeiros rogistros cle autropologéa urbana ajudaram a cstabelecet os pri meiros cécligos © regulamentagSes para apartamentos. Nas prime! ras décadas deste séenlo o soeiGloge Lewis Hine registrou a en- trada de imigrantes através do "has Ellis, conservando © aspecto original do curopen, antes | se mesclar ¢ dissolver na vida

You might also like