You are on page 1of 3
srainarzore [AMAGONARIA E © SENTIDO DA VIDA AMACONARIA E O SENTIDO DA VIDA O que é a vid: Quando se considera o universo ¢ a vida que nele habita somente como um acidente cosmico sem sentido nem finalidade, perde-se o norte da propria existéncia, Para que, ent&o se preocupar com os rumos do mundo € 0 proprio destino individual se, se fagamos o que fagamos, nada disso tem uma finalidade? Se tudo se petde, irremediavelmente, na voragem do tempo? Serd a vida apenas um fendmeno fisico-quimico que um acidente cdsmico um dia produziu? Ou tera ela sido produzida como parte de algum projeto que envolve, niio somente o seu proprio desenvolvimento, mas um plano bem maior, de escala césmica? E se cada vida fosse o elo de uma corrente que transmite, no tempo ‘eno espago, a energia criadora que faz do universo um set vivo ¢ convergente, que por dentro e por fora se metamorfoseia e vai adquirindo contornos e qualidades que no fim, servem 4 uma finalidade definida por uma Mente Universal? Sao exatamente essas as perguntas ¢ as clucubragdes feitas pela Magonatia, quando se interroga pelo sentido da vida. Um dos graus do Ritual coloca exatamente essa questo quando pergunta: “De onde viemos? O que somos? O que a morte faré de nds? Que é 0 homem? E apenas um dtomo, gestado no corpo da mulher e que progressivamente se organiza, se harmoniza em suas iniimeras partes? Que cresce, pensa, cai, transforma-se e volta dé causa priméria, deixando apenas reminiscéncia de sua tiltima forma ou conservando uma particula essencial, mutdvel e mortal? {\// Nesse questionamento a Maconaria enfrenta a questo metafisica que tem desafiado a mente humana através, de toda a sua historia de vida. Afinal, somos apenas uma sombra que passa, um fendmeno despregado de qualquer sentido, que um dia aconteceu no universo como resultado de causas exclusivamente naturais, ou ele € 0 desvelar de uma Vontade que se manifesta e percorre um longo processo evolutivo que comegou, um dia, num dtomo que rompeu, por um processo ainda desconhecido, os limites da matéria inanimada? Um magom nao pode acreditar na hipétese materialista, advogada na tese que sustenta ter a matéria as condigdes suficientes para explicar todos os fendmenos existentes no universo, inclusive a vida. Porque, se adotar essa crenga, estard negando qualquer virtude 4 pritica que adotou. Se 0 fendmeno da vida e principalmente a do ser humano, fosse um acaso perpetrado por leis exclusivamente naturais, “um virus” inoculado na corrente sanguinea do universo, como o definiu uma vez um romancista, entdo cle ndo teria um espirito, e no se poderia falar na existéncia de um Criador, e nem haveria qualquer motivo para se tentar ‘uma unido com Ele. Tudo que fazemos nesse sentido seria apenas uma simulagdo fantasiosa. E nesse sentido que Anderson, em suas Constituigdes, diz: “um macom é obrigado a obedecer @ lei moral; ¢ se ele bem entender da arte, jamais seré um estipido ateu nem um libertino irreligioso.” {2] Um processo dirigido Se os materialistas estivessem certos, toda religido, bem como toda pritica inieidtica nfo passaria de uma 1uc mentes incapazes de conviver com a realidade desenvolvem para mitigar a incémoda impressio de que a nossa existéncia ndo tem qualquer finalidade além daquela que os fnossos sentidos nos indicam, Mas, felizmente, temos razes para pensar que as coisas Indo sio assim; que nds no somos apenas matéria desprovida de espirito, seres lorganizados por leis naturais que s6 obedecem ao determinismo dos grandes nimeros. O |surgimento da vida em meio matéria universal, como esta a indicar a metafora biblica da Criago, ¢ fruto de um processo dirigido e bem elaborado por quem o projetou eo -ontrola, ou seja, 0 Grande Arquiteto do Universo. [Mais uma vez ¢ 0 grande Teilhard de Chardin que nos socorre nessa visio, mostrando bomo o surgimento da vida resulta de uma sintese que a unido dos étomos transforma fem moléculas, ¢ estas, também por um proceso de sinteses cada vez mais elaboradas, dao origem ao fendmeno humano. Em paginas de extraordinaria lucidez. ¢ envolvente poesia, esse grande pensador escreve: “Aqui reaparece, d escala do coletivo, o limiar erguido entre os dois mundos da Fisica e da Biologia. Enquanto se tratava apenas de um processo de mesclar as moléculas ¢ os dtomos, podiamos, para explicar os comportamentos da Matéria, recorrer ds leis numéricas da probabilidade, e contentarmo- nos com elas. A partir do momento em que a ménada, adquirindo as dimensées e a espontaneidade superior da célula, tende a se individualizar no seio da pléiade, desenha-se um arranjo mais complicado no Estofo do Universo. Por duas razées, ao menos, seria insuficiente e falso imaginar a Vida, mesmo tomada em seu hp twawjoaoanatalinerecantodesletras.com brvisualizarphp %ist-5745757 13 srainarzore [AMAGONARIA E © SENTIDO DA VIDA estdgio granular, como uma espécie de fervilhar fortuito ¢ amorfo.” (3] Quer dizer: a vida ndo surgiu no universo como surgem as bactérias em um processo de fermentagao. Ela é, sim, 0 resultado de um processo, mas esse processo esti longe de ser regido apenas pelas leis da natureza Ela surge como consequéncia de um proceso dirigido como se fosse alguém, em uma covinha, ou um laboratério, trabalhando para fazer um bolo, ou para destilar uma bebida, Nesse proceso as bactérias surgem como resultado do processo empregado ¢ no como obra do acaso, ou da evolugao natural do processo. Por isso a notavel argticia do nosso jesuita complementa o seu pensamento dizendo: “(...) os inumeréveis componentes que compunham, nos seus inicios, a pelicula viva da Terra, ndo parecem ter sido tomados ou juntados exaustivamente ou ao acaso. Mas a sua admissao nesse invélucro primordial dé antes a impresséio de ter sido orientada por uma misteriosa seleg&o ou dicotomia prévias (...).” [4] Recordando Plotino Deus é a causa atuante de todas as coisas existentes no universo. Essa foi a intuig&io que inspiron o filésofo Plotino hé quase dois milénios atras: “Imagine uma enorme fogueira crepitando no meio da noite,” escreveu ele, “Do meio do fogo saltam centethas em todas as direcdes. Num amplo circulo ao redor do fogo a noite é iluminada, e a alguns quildmetros de distancia ainda é possivel ver o leve brilho desta fogueira. A medida que nos afastamos, a fogueira vai se transformando num minisculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite. E se nos afastarmos mais ainda, chegaremos « um ponto em que a luz do fogo no mais consegue nos alcancar. Em algum lugar os raios luminosos se perdem na noite e se estiver muito escuro nao vamos enxergar nada, Nesse momento, contornos e sombras deixam de existir”. "4gora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é Deus - ¢ as trevas que estdo lé fora sio a matéria fria, onde a luz esté fraca, da qual sao feitos homens e animais. Junto a Deus estio as ideias eternas, as causas de todas as criaturas. Sobretudo, a alma humana é uma centelha do fogo. Mas por toda a parte na natureza aparece um pouco desta luz divina, Podemos vé-la em todos os seres vivos; sim, até ‘mesmo uma rosa ou uma campénula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo esté a matéria inanimada.” [5] Plotino (205-270 e. C) ¢ considerado o fundador da escola neoplaténica, O Gnosticismo deve a ele algumas de suas concepgdes mais originais, especialmente a ideia de que o verdadeiro conhecimento nao pode ficar apenas no terreno intelectual, mas exige uma experiéncia direta dos sentidos com aquilo que se propée a conhecer. E nesse sentido que se pode colocé-lo como precursor das chamadas escolas inicidticas, ‘ou seja, grupos que desenvolviam rituais com a finalidade de "sentir” as prprias realidades que idealizavam. Plotino é um dos inspiradores de famosos mestres do misticismo como Mestre Eckhart, Papus, MacGregor Mathers, Eliphas Levy e outros. Os autores magons Ihe votam um grande respeito ¢ os modernos gnésticos véem nele um precursor das teses cientificas que descrevem o universo como um organismo tinico que se constréi através de uma rede de relagdes. Suas palavras so por demais eloquentes ¢ nao necessitam de comentirios explicativos. Se o universo existe é porque tem uma causa de existir: essa causa é Deus. Os rituais magénicos e a doutrina da Cabala Por isso & que os rituais magSnicos fazem muitas especulagdes sobre o sentido da vida e papel que nds ‘exercemos na construgio da Obra do Criador. Essas especulagdes nos levam 4 conclustio de que nds nao somos meras relagGes estatisticas derivadas de interages ocasionais ocorridas na materia fisica, sem qualquer contetido finalistico, como pensam os adeptos do nihilismo, mas sim, unidades conscientes do todo amorfo, que s6 ganha forma e consisténcia na medida em que nés mesmos vamos encontrando 0 nosso lugar no desenho estrutural do universo. [6] E com isso a Magonaria canta um dueto bem afinado com a doutrina da Cabala, Para os cabalistas, nosso corpo é como uma limpada que se acende em meio a um quarto escuro, Brilhamos por um tempo iluminando © espago que nos cabe como jurisdigao. E quando o combustivel, que é a energia encerrada em nossas células hp twawjoaoanatalinerecantodesletras.com brvisualizarphp %ist-5745757 218 ‘eyoarao18 |AMAGONARIA E 0 SENTIDO DAVIDA se esgota, apagamos. O corpo é 0 filamento que canaliza a energia e quando ele deixa de ter condigo para hospeda-la, ela o abandona. Mas a energia, como mostra a lei de Lavoiser, nao se perde nem se extingue. Ela 86 se transforma, Ela continua a existir mesmo depois que a lampada que a refletia se extingue. Essa energia acendera outras limpadas que também brilhardo por algum tempo depois se apagardio. Cada uma a seu tempo, preenchendo o vicuo e realizando a missGo que lhe cabe, Assim a vida nos aparece como uma estrada cheia de luzes que se apagam e se acendem 4 medida que o tempo passa por elas e avanga para 0 futuro, Por isso encontraremos nos rituais magGnicos, que tratam especificamente desse tema, expressdes do tipo (...) Sois uma parcela da vida universal, um germe que apareceu em um ponto do espaco infinito. Vosso ser sofreu inconscientes transformagées. Tivestes sensagdes, depois ideias incoerentes, que mais tarde, foram se tornando precisas. Por fim vos considerastes capaz de perceber a verdade, Esta é a luz que vistes. A humanidade levou séculos incontaveis antes de percebé-la. Nés consideramos o estado atual da nossa espécie sem que saibamos se ela esté em seu comeso, ou se prestes a alcancar o seu fim, e sem conhecermos seu destino, nada compreendemos do mundo a qual ela pertence (...)| Dessa forma, Cabala e Magonaria concordam que o sentido de cada vida que vivemos é fomecer 0 seu “quanta” de luz para a construgdo da Obra de Deus. E por essa razdo poderemos viver varias vidas. Nasceremos e morreremos tantas vezes quantas forem necessérias para a complementagao dessa obra, Por 10 Jesus disse: “Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem 0 vosso Pai que esté nos céus.” (8) Pois no é com asas que se sobe aos eéus, mas com as mios, Pela simples e singela razio contida nessa metafora, os magons adotaram a profissio do pedreiro como simbolo da sua Arte. hp twawjoaoanatalinerecantodesletras.com brvisualizarphp %ist-5745757 33

You might also like