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oan Revista do Convo de Educagto Edicdo: 2003 - Vol. 28 - N° 02 > Eaitorial > indice > Resumo > Artigo Misica e EducagSo Especial: uma possibilidade concreta para promover o desenvolvimento de Individuos tira Zenker Lame Joly © texto tem por objetivo apresentar algumas idéias relacionadas ao ensino de misica em situacées em individuos com necessidades especials estejam incluidos. H4 diferencas significativas no processo ensino-aprendizagem de misica para criancas com necessidades especiais? Temes principios, olhares, sensagdes e percepcdes especificos para esse contexto educacional? Como fica a aula de misica? De ‘que maneira nos envolvemos? Essas perguntas, que estiveram presentes em meu pensamento durante ‘alguns anos em que me dediquei ao ensino de misica em uma escola de atendimento criangas com necessidades especiais, norteiam a tentativa de apresentar algumas idéias relacionadas 8 pritica pedagégica com criangas com necessidades educacionais especiais © as possivels questées sobre Giferencas, igualdedes, possibilidades, faclidades e dificuldades inerentes a esse ambiente. Palavras-chave: educagdo especial, misica, desenvolvimento humano. Hé diferencas significativas no processo ensino-aprendizagem de misica para criangas com necessidades especiais? Terms principios, olhares, sensagdes e percepcSes especificos para esse contexto educacional? Com fica a aula de misica? De que maneira nos envolvemos? Essas perguntas estiveram presentes em meu pensamento durante alguns anos em que me Gediquel a0 ensino de misica em uma escola de atendimento @ criancas com necessidades especials, enquanto que paralelamente, eu também trabalhava num programa de ensino de misica para criancas ditas normais. Parte da minha prética pedagégica com criancas com necessidades educacionais, ‘especiais, dizia respeito & minha pesquisa de mestrado e foi durante essa oportunidade de contato com as mais diferentes criancas que me questionei sobre diferencas, igualdades, possibilidades, facilidades & ificuldades. ‘Segundo Birkenshaw-Fleming (1993) ha diferentes principlos e forrras © observacéo que podem ‘ajudar no ensino de criancas especiais. Quanto mals conhecimento © professor tem acerca do estudante, maior é a adequacdo de suas propostas de ensino e maior & a sua seguranca para promover © desenvolvimento des alunos. Diz a autora que o professor deve pesquisar sobre as possibilicades de desenvolvimento de seus alunos e deve conhecer muito bem as limtacSes e dificuldades de cada um deles. Esse conhecimento pode ser consequiéncia de um processo constante de lelturas especificas sobre as caracteristicas dos alunos, entrevistas e conversas com pals, professores, coordenadares, diretores & ‘outros profissionais que componham as equipes de trabalho das escolas que as criancas freqientam, No fentanto, 0 que me parece mais importante é 0 conhecimento gerado por meio de uma observacdo profunda dos alunos e de uma interacio de afeto e respelto, considerendo sempre as possibilidades de cada um, Para Birkenshaw-Fleming (1993) & importante evitar os conceitos présfixados sobre os que as ccriangas ou individuos portadores de necessidades especiais poder ou néo fazer. O excesso de protecdo por parte de pessoas que convivem com a crianca nem sempre corresponde com aquilo que ela realmente necessita. E importante manter a mente aberta para perceber as potencialidades de cada um. ‘A autora encoraja o professor 2 manter uma atitude positiva e animadora frente o aluno, incentivando-o 2 transpor suas proprias barreiras e possibilidades. Todo o trabalho, diz ela, deve ser feito com paciéncia, carinho, lembrando-se de que é preciso valorizar a auto-estima de cada aprendiz, motivando-o a reconhecer sua contribuigio frente a0 grupo em que esta inserico. Birkenshaw-Fleming (1993) aponta ainda alguns possivels beneficios que as aulas de misica podem roporcionar aos individuos com necessidades especias: Se 0 professor faz com que o aluno realize algumas atividades com sucesso, possivelmente vai reforgar @ sua aute-estima. Ele obtém Isso, respeitando as limitagées e possibilidades de cada um, encorajando-o a agir por sua prépria conta, Competicdo com outras criancas é usualmente contraproducente e prejudicial. € importante, por outro lado, fazer com que o aluno participe de todas 05 procedimentos de aula, de maneira que suas realizagées se transformem numa experiencia valida, Todos devem ser encorajados a dar o melhor de si e serem independentes, tanto nas atividades musicals, como em qualquer outra atividade do seu dia-a-dia, coraeufsm berovelrovet2003102/7.Nim 8 oan Revista do Cotto do Educagto E possivel estimular a interacdo social por meio de atividades musicals, e uma bom relacionamento social possiblita ao individuo sair de um possivel isolamento. © desenvolvimento do ténus muscular e da coordenace psico-motora pade ser estimulado por meio de atividades que envolvam movimento associade & misica, desenvolvimento da linguagem pode ser estimulado por melo de atividades musicals tals como parlendas, trava-linguas e pequenas cancées. Da mesma forma, pequenas cancées e exercicios de acuidade ritrica e melédica podem desenvolver a capacidade auditiva, intelectual e 0 desenvolvimento da meméria Por meio de um programa de educagdo musical bem estruturado € com objetivos bem definidos & possivel promover o desenvolvimento fisico, intelectual e afetivo da crianga com necessidades especials. ‘A autora ainda aponta pare outros aspectos importantes a serem considerados quando se trabalha com individuos com necessidades especiais. O ambiente deve ser aconchegante, seguro e motivador, mas ndo deve desviar a atenco do aluno. As vezes, muitas cores, desenhos e ciferentes objetos podem fazer com que o aluno se distraia muito facllmente do foco de ensino-aprendizagem. AA rotina propicia seguranca. Os individuos com algum tipo de dificuldade emocional, mental ou de aprendizagem conseguem se organizer e responder bem &s exigncias do ambiente quando hes é assegurado senso de ordem e uma rotina previsivel. Dessa forma, 0 caos néo se instala em suas vidas, Da mesma forma, as atividades de relaxamento so muito importantes para construir um ambiente sem trenguilo e sem ansiedade, Planejar alguns exercicios de relaxamento no inicio ou no final da aula, ou ainda entre outras atividades musicals pode diminuir consideravelmente as tenses do ambiente. Um outro aspecto apontado por Birkenshaw-Fleming & 0 movimento. Ele faz parte natural do processo de desenvolvimento de qualquer crianca e também pode auxilar a aliviar tensées, auxilar 0 corpo @ assimilar conceitos e levar 2 crianca a efetuar contatos socais. Muitas criancas com algum tio, de imitacao fisica ficam pradas do prazer proporcionado por atividades de movimento, portento incluir dangas, jogos de movimento e expressdo corporal como parte da aula de misica pode ser muito importante para esses alunos. Da mesma forma, muitas criangas com necessidades especiais séo capazes de aprender a notacao musical com muita facilidade. Desenhos e simbolos s80 muito cteis para ajudar a concretizar alguns conceitos. Se 0 educador considerar esses aspectos nas diferentes etapas de sua prdtica pedagégica, com certeza estaré criando um ambiente propicio para atingir objetivos musicals que promovam o desenvalvimento geral do aluno. E importante notar que 2 érea de educaco musical no Brasil vem, cada vez mals, se estabelecendo com uma area de grande potencial de contribuicéo para os projetos multidisciplinares interdisciplinares trazendo novas e boas perspectivas para a educacéo de maneira geral. Ha. um numero significative de profissionais envolvides em estudos e produco de materials didéticos voltados para um fensino mals efetivo e abrangente da misica. No entante, embora o conjunte de conhecimentos da érea de educacao musical produzido no Brasil em forma de métodos, propostas de procedimentos e materiais didéticos constitua um acervo considerdvel, pouca relagdo & felta com seu uso e aplicabilidade na ‘educacao especial, Hé ainda um grande campo de atuacdo a ser explorado pelo educador musical, que poderd trazer, por outro lado, uma grande contribuicdo para diversos setores da educacdo e da saide. Alvin (1966), no seu livro "Misica para el nifio disminuiéo”, afirme que a misica pode representar para as crancas portadoras de necessidades especiais, um mundo ndo ameagador com o qual ela pode ‘se comunicar, se integrar e auto-identificar-se. Ainda de acordo com a autora, a misica pode oferecer ‘oportunidades para a crianca deficiente ampliar os limites fisicos ou mentals que possui. As atividades musicais podem contribuir também pare despertar @ consciéncia perceptiva, o desenvolvimento da discriminagdo auditiva e do controle motor. Além disso, as atividades musicais podem favorecer a integracao social e emocional da crianca, influindo positivamente sobre sua atitude com relagdo ao jogo, a0 trabalho, a si mesma e 20 meio em que vive. No livro “Entrenamiento ritmica y auditivo para el disminuido mental", Penovi (1971), descreve a fung8o da musica na educaco de criancas com necessidades especiais. A’ autora apresenta uma série de propostas para a adequacdo do movimento ao estimulo sonora, discririnagdo auditiva, percepcao de estruturas ritmicas, relag8o espacial e rele¢do grupal por meio de atividades instrumentais e oferece ‘alguras orientacées sobre alguns aspectos de devem ser considerados em trabalhos da érea. Entre eles ‘estéo: entender e considerar a misica como um elemento fundamental no rol de aspectos que contribuem para o desenvolvimento de individuos; agrupar as criangas de acordo com as suas dificuldades motoras e suas reagdes frente ao ensino musical; coraeufsm berovelrovet2003102/7.Nim 2 oan Revista do Convo de Educagto manter um espirito investigativo e pesquisar o material adequaco as caracteristicas © necessidades de cada crianca. Para Penovi (1971), a base da musica é o som e este produz diferentes mudangas psiquicas na pessoa, atuando sobre seu estado mental, emocional e fisico, De acordo ainda com a autora, 2 misica esté estreitamente ligada & vide da crianca, sendo que esta sofre uma influéncia notdvel do ritm © da melodia. A misica parece provocar mudancas na conduta de criancas com necessidades especiais fazendo com que se adaptem melhor & vida escolar, contnbuindo para sua interacdo social e melhor rendimento nas atividades de aprendizagem. Jeandot (1990) relata que durante seus primeiros cinco anos de vida foi uma crianga apética a tudo que acontecia ao seu redor, apatia esta decorrente de um trauma de nascimento, Sua mée, que era uma excelente violnista, conseguiu sensibilzé-la e quebrar sua apatia por meio da musica. O contato sistemstico de Jeandot com a misica estabeleceu um meio seguro para que ela se comunicasse com 0 Seu meio ambiente. Esse elo foi tao forte que, ao tornar-se adulta, Jeandot dedicou-se & pesquisa & fensino de misica, Durante 2 22 Guerra Mundial, Jeandot trabalhou junto com um psiquiatra na recuperacéo de criangas prematuras e de outras que viviam assustadas e incapazes de fixar sue atencdo nas aulas. Atingiu seus objetivos por meio da misica. No Brasil, a autora trabalhou no servico social da Casa da Infancia, colocando seus conhecimentos musicais a servico de criancas abandonadas pela famila e, da mesma forma, ajudou essas criangas reencontrarem © equlibrio emecional através de atividades musicais. Para Fonterrada (1991), os estudos, livros e pesquisas de Jeandot mostram tedo 0 potencial da musica na promogdo de meios eficientes de corunicagdo entre o ser humano e o ambiente onde estd inseri¢o. Pensando numa forma de estudar os efeltos da aplicaco de procedimentos de musicalizacao infantil sobre o desenvolvimento da percepgao ritmica e auditiva de criangas com necessidades especiais ‘e também da sensibiiza¢o dessas criangas para os fenémenos musicais, desenvolvemes um estudo com cerca de 18 alunos, ao longo de dois anos, observando, registrando e analisando suas reacées aos procedimentos musicais aplicados. Esses dois anos foram de trabalho intenso, envolvente e afetivo. A maior parte das criancas com diagnésticos diferenciados de Sindrome de Down, dismritmia cerebral, paralisia cerebral e outros eram atendidos em sessées individuals. Depois do atendimento individual elas ainda passavam por sessGes de prética musical em grupo, nas quais tocavam, cantavam ou se movimentavam explorando seus limites © possibilidades. A forme de aplicagao do procedimento, assim como a avalacio dos desempenhos dos alunos foram adaptadas de acordo com suas caracteristicas pecullares e também seu repertério de entrada. Por exemplo, os exercicios de movimento eram realzados com ajuda da professora/pesquisadora seguindo instrugées especiticas de ume fisioterapeuta; os exercicios que exigiam palmas ou percussées corporais tamoém recebiam uma performance em conjunto entre professora e aprendiz. Os instrumentos foram escolhidos com culdado, de maneira que se adequassem as necessidades das criangas. As criancas tinham seu desempenho corrigide, com paciéncla e carinho, até que conseguissem executar a tarefa com @xito. Por outro lado, os alunos eram sempre incentivados por meio de uma grande variedade de procedimentos e materials didaticos atrativos. A observagdo individual de cada um dos alunos perrritiu avalar as possibildades de cada um, planejar procedimentos e modificar eritérios de avaliacae conforme as limitagdes e possibiidades de cada um, Para delinear os efeitos do programa de educacio musical foram escolhides alguns comportamentos para os quais eram analsados os desempenhos dos alunos. Mas, ao pesquisar os contetidos a serem ensinados num programma de musicalizacdo, demos conta da necessidade de explicitar melhor alguns comportamentos e decompor outros mais sofisticados para comportamentos ainda mais simples. Dessa maneira, 20 descrever 2 “atencao” do aluno em relacgo uma fonte sonore ou 8 uma cangdo cantada pela professora, foi estabelecido que a avaliacdo seria sobre 0 comportamento de “olhar da crianca em cirecdo & fonte sonora”. Dessa maneira, foram observados ¢ analisados os seguintes ‘comportamentos: olhar da crianca em direc8o 8 fonte sonora; acompanhar a cango através de percusso corporal e/ou percussao instrumental; identificar a fonte sonora; repetir o ritmo dado pela professora; cantar uma canc3o; executar uma determnada célula ritmica; distinguir sons lentos e répidos, fortes e fracos, graves e agudos; percutir acompanhando a pulsacdo de uma cancdo; acompanhar com movimentos corporais as diferentes alturas dos sons apresentados pela professora; executar gestos referentes & letra e ao ritrro de uma angio; distinguir sons e siléncios; e outros. (Os dads abtides com a pesquisa deram indicatives de que @ misica é um excelente auxiiar nos processos de desenvolvimento de criangas, sejam eles portadoras de necessidades especials ou nao. Todos os grificos gerados a partir do numero de solicitagdes da professora com relacdo aos comportamentos 2 serem observados mostraram que a capacidade resposta © 0 progresso relativo a0 ‘desempenho dos alunos foi sermpre positive e crescente, Aandlise das respostas mastrou que, durante todo o tempo do estudo, ocorreu aprendizagem. Se coraeusm berovclrovet2003102/7.Nim Po

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