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oa22019 5* CAMARA (TERCEIRA TURMA) Proc. n® 0000033-37.2008.5.15.0108 RO 5* CAMARA (TERCEIRA TURMA) 0000033-37.2008.5.15.0108 RO - Recurso Ordindrio VARA DO TRABALHO DE SAO ROQUE Recorrente: Ocelio Lobato de Siqueira Recorrido: Gerdau Agos Longos S.A. Juiz Sentenciante MARINA DE SIQUEIRA FERREIRA ZERBINATTI DANO MORAL. ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZACAO. O principio da dignidade da pessoa humana foi adotado como fundamento da Republica do Brasil, conforme dispée o art. 1°, Il, da CF/1988. Portanto, constituindo a esséncia dos direitos fundamentais, de modo que é forgoso concluir que, se a finalidade maior da CF é tutelar a pessoa humana - a quem reconheceu direitos fundamentais-, a autonomia das relagdes privadas, inclusive as relagdes de trabalho, encontra limites na preservagao da dignidade da pessoa humana. Note- se que a CF/88, ao tutelar 0 meio ambiente ("caput" do art. 225), tinha como finalidade a protegao da vida humana, como valor fundamental, de sorte que, a0 considerar incluido o local de trabalho no conceito de meio ambiente, constatamos que a protegao constitucional se volta 4 prevengao dos riscos ambientais para resguardar a satide fisico-psiquica do trabalhador enquanto cidadao. Apesar de ndo ser pacifica a questéo da responsabilidade civil do empregador frente ao dano 4 satide ou vida do empregado decorrente da agressdo ao ambiente de trabalho, ha, ainda, a previsdo do Cédigo Civil de 2002 que, apesar de concebido na década de 1970, adotou a responsabilidade objetiva fundada na teoria do risco na hipdtese de atividade que, ao ser normalmente exercida, oferecer risco potencial da ocorréncia de dano a direitos de outrem (paragrafo Unico do art. 927 Do CC). Sendo assim, com supedéneo no paragrafo Unico do art. 927 do novo Cédigo Civil e art. 7°, "caput" que assegurou outros direitos além dos previstos em seus incisos, a tendéncia atual da jurisprudéncia & inclinar-se pelo reconhecimento da responsabilidade do empregador independente de culpa ou dolo no caso do empregado vir a exercer atividade perigosa ou que o exponha a riscos. Recurso provido, em parte, para condenar a reclamada ao pagamento da indenizagao por dano moral. Inconformado com a r. sentenga de fils. 419/421, prolatada pela Exma. Sra. Juiza Marina de Siqueira Ferreira Zerbinatti, que julgou improcedente a ago, recorre o reciamante, com as razées de fis. 426/459, aduzindo, em sintese, que deve ser reconhecida a nulidade da sentenca em razao de cerceamento de defesa, ante o indeferimento de produgao de prova testemunhal no sentido de demonstrar as fungdes executadas pelo autor e, pois, demonstrar a presenga do nexo causal entre as atividades exercidas e a doenga adquirida. Alega que deve ser reconhecida a existéncia da estabilidade acidentaria em conformidade com as estipulagées normativas, com a consequente reintegracdo no emprego e a percepcdo dos salarios vencidos e vincendos, bem como dos demais consectérios. Assevera que, sucessivamente, deve ser admitida a garantia provisdria de emprego prevista no art. 118 da Lei n. 8.213/91. Sustenta que faz jus a indenizago por dano moral e material decorrentes do acidente de trabalho (doenga profissional - “tendinopatia"). Aduz que a concessao do beneficio da Justiga Gratuita também envolve os honorarios periciais. Alega que sdo devidos os honordrios advocaticios. Pede provimento. Custas, reclamante isento (fl. 421). Nao foram apresentadas contrarrazées (fl. 460, verso) Intpsousca 15 jus.brisearch?qrcache: PQ4yOITPUgAL watt 5 jus-brivoto/patr/2010/002/00232410.tfeprinc%SC3%ADpIotdatprote%C3%.. 1/10 osrea2019 5° CAMARA (TERCEIRA TURMA) E o relatério, voto Conhego do recurso interposto, ante a satisfagdo dos pressupostos de admissibilidade. CERCEAMENTO DE DEFESA Conforme verificado a fl. 403, o Juizo de origem, apés a produgao da prova pericial, encerrou a instrucdo processual, sob o fundamento de que os elementos existentes nos autos j4 bastariam para o esclarecimento dos fatos. De fato, considerado o conjunto probatério existente no feito - prova documental de fis. 46/55 e pericial de fis. 358/372 e 395 -, constata-se que se mostra despicienda a produgo de prova oral quanto a apuragao da existéncia do nexo causal entre a enfermidade do reclamante e 0 trabalho executado. Desse modo, a atitude do Juizo de origem, ao declarar encerrada a instrugdo processual apés a produgao da prova pericial, mostrou-se correta e, além disso, encontra amparo nos principios da celeridade e economia processuais, bem como no art. 765 da CLT. Rejeito. ESTABILIDADE ACIDENTARIA - REINTEGRAGAO NO EMPREGO E DEMAIS CONSECTARIOS O reclamante, na inicial, alegou que foi admitido no dia 1°.03.2004, na fungao de “operador de aciaria’, e foi imotivadamente dispensado aos 10.08.2007; aduziu que no final do ano de 2004 passou a sentir fortes dores nos membros superiores e sensagao de fadiga, tendo sido diagnosticada "tendinite", “osteoartrose" e "epicondilite lateral", asseverou que em razdo de a reclamada nao ter emitido a CAT, o sindicato de sua categoria profissional tomou tal providéncia e percebeu 0 beneficio do auxilio-doenga previdenciario no periodo de 28.01.2006 a 15.05.2007; sustentou que as enfermidades possuem nexo causal com o trabalho executado; postulou o reconhecimento da estabilidade acidentaria prevista na cldusula 39° da Convencao Coletiva de Trabalho, com a consequente reintegragao no emprego e a percepgao dos salarios vencidos e vincendos, bem como dos demais titulos e verbas devidos; pretendeu, de forma sucessiva, 0 reconhecimento da estabilidade acidentaria na forma do art. 118 da Lei n. 8.213/91 A reclamada, na contestacao, sustentou que a pretensdo nao procede, em razéo da auséncia de configuragao de acidente do trabalho, bem como do nexo causal entre a atividade executada e a doenga adquirida (fls, 195/201). © Juizo de origem rejeitou a pretensdo, sob o fundamento de que nao restou demonstrada a presenga de nexo de causalidade entre o trabalho e a doenga. Pois bem. Os documentos de fis. 46/48 - exames clinicos e consultas efetuadas durante a vigéncia do contrato de trabalho - demonstram que o reclamante estava doente: "hiperradiagdo em ombro esquerdo, ...tendinopatia supra-espinal esquerda; hiperradiago em antebrago direito, ...disfungéo miofascial de extensores do punho e dedos da méo direita” (fl. 46); "tendinite manguito dos rotadores, osteoartrose e epicondilite lateral/cotovelo direito" (fis. 47/48). © "Atestado de Satide Ocupacional" de fl. 49, emitido aos 21.06.2007, constatou a existéncia de riscos ocupacionais: "ergonémicos", "quimicos” "fisicos". Os registros de fis. 51/55 comprovam a concessao do beneficio previdenciario auxilio- doenga acidentario (cédigo 91). Iitpsousca 15 us.brisearch?qrcache: PQdyOITPUgAL watt 5 jus-brivoto/pati/2010/002/00232410.tfeprinc%C3%ADpIotdatprote%C3%,.. 2/10 oa22019 5* CAMARA (TERCEIRA TURMA) O laudo pericial de fls. 357/370, complementado a fl. 395, constatou: "A DOENGA OSTEOMUSCULAR DOS MEMBROS SUPERIORES E DE ORIGEM DEGENERATIVA, NA' JARDA NEXO CAUSAL COM O TRABALHO NA RECLAMADA E NAO CONFERE INCAPACIDADE LABORATIVA" (fl. 367); .2- Etiologia degenerativa-osteoartrose. 3- Exame fisico compativel com a normalidade esta APTO para o trabalho. 4- Nao ha moléstia no momento. (fl. 395). Nos termos do art. 436 do CPC (aplicado de forma subsididria ao processo do trabalho - art. 769 da CLT), 0 juiz nao esta adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicgéo com outros elementos ou fatos provados nos autos. E, no caso, ao contrario da concluséo do Juizo de primeiro grau, verifico que a prova documental existente no feito, especialmente os registros de fis. 46/49 e 51/55, demonstram a existéncia de nexo causal entre as enfermidades do autor ("“hiperradiacao em ombro esquerdo", “tendinopatia supra-espinal esquerda’, “hiperradiagao em antebrago direito", “disfungao miofascial de extensores do punho e dedos da méo direita’, "tendinite manguito dos rotadores" e “epicondilite latera/cotovelo direito") possuem nexo de causalidade com a fungao executada, tanto que 0 obreiro usufruiu auxilio-doenga acidentario. Assim, a prova pericial, na hipétese em tela, foi elidida pela prova documental referida Desse modo, no caso, indubitavelmente, restou configurado o acidente do trabalho, nos termos do art. 20, I, da Lei n. 8.213/91. A partir de entdo, passo a apreciar a pretensao relativa ao direito a estabilidade acidentaria, A clausula 39° das Convengées Coletivas de Trabalho de fis. 59/173 estipula: *..0 empregado, que comprovadamente se tornar ou for portador de doenca profissional ou ocupacional, atestada e declarada por laudo pericial do INSS, que a mesma tenha sido adquirida na atual empresa, tera garantido emprego ou salério, desde que atendidas as seguintes condigdes, cumulativamente: a1) que apresente redugao da capacidade laboral; a2) que tenha se tornado incapaz de exercer a fungao que vinha exercendo ou equivalente; a3) que apresente condigées de exercer qualquer outra fungéo compativel com sua capacidade laboral apés 0 advento da doenga." (f. 140) Porém, da andlise do conjunto probatério produzido no feito, outra conclusao nao decorre sendo a de que o autor j nao é portador de doenga profissional, tanto que foi suprimida a concessao do auxilio-doenga acidentario e, além disso, 0 obreiro encontra-se apto para o trabalho, inclusive para o exercicio da mesma fungao. Desse modo, nao restaram preenchidos os requisitos normativos referentes a "reducdo da capacidade laboral" e de ter "se tornado incapaz de exercer a fungdo que vinha exercendo ou equivalente", razao pela qual nao procede a pretensao referente & garantia de emprego com fundamento na cléusula normativa. No que atine ao pedido sucessivo, o art. 118 da Lei n. 8.213/91 preconiza: “O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo minimo de 12 (doze) meses, a manutengéo do seu contrato de trabalho na empresa, hitp:ibusca 15 jus.brisearch?grcache PQ4yOITPUgAL ww 5 jus-brivota/patr/20 1010021002328 10.tfeprinc%sC3%ADpIordarprote%sC3%.. 3/10

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