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ISSN 1518-9953

Engenharia na Agricultura
BOLETIM TÉCNICO

Secagem em Silos
- Uma Opção para o Café -

N0. 09 - MARÇO 2008

Associação dos Engenheiros Agrícolas de Minas Gerais


Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Viçosa
Viçosa - MG
Engenharia na Agricultura
Boletim Técnico n.º 09
ISSN 1518 – 9953

Secagem em Silos
- Uma Opção para o Café -

Juarez de Sousa e Silva1


Roberta Martins Nogueira2
Edney Alves Magalhães3

Associação dos Engenheiros Agrícolas de Minas Gerais


Universidade Federal de Viçosa – Departamento de Engenharia Agrícola

Viçosa – MG
Março de 2008

1
Prof. Associado, Ph.D. UFV/DEA. juarez@ufv.br
2
Eng.ª Agrícola, Mestranda UFV/DEA. robertamnogueira@gmail.com
3
Eng. Agrícola, Pós-Doutorando UFV/DEA. eamagalhaes@yahoo.com.br
Todos os direitos são reservados à
Revista Engenharia na Agricultura
Associação dos Engenheiros Agrícolas de Minas Gerais
Departamento de Engenharia Agrícola
e-mail: juarez@ufv.br

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e


Classificação da Biblioteca Central da UFV

Silva, Juarez de Souza e


S586s Secagem em silos : uma opção para o café - / Juarez
2008 de Souza e Silva, Roberta Martins Nogueira e Edney
Alves Magalhães. – Viçosa, MG, : UFV/DEA, 2008.
31p.. : il. (algumas col.) ; 22,5cm (Boletim Técnico.
Engenharia na agricultura, 1518-9953 ; n. 9).

1. Café - Secagem. 2. Café - Armazenamento - Silos.


I. Nogueira, Roberta Martins. II. Magalhães, Edney
Alves.
III. Título.

CDD 22.ed. 633.736


ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1

2. SECAGEM EM SILOS ................................................................................. 2

3. SECAGEM COMBINADA EM SILOS..................................................... 13

4. SISTEMA COM SETE SILOS................................................................... 20

5. CONSTRUÇÃO DO SILO SECADOR-ARMAZENADOR.................... 26

6. LITERATURA CONSULTADA................................................................ 31
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

1. Introdução

O café é um dos poucos produtos agrícolas, que tem seu


preço baseado em parâmetros de qualidade, sendo classificado
quanto ao tipo, bebida, peneira e coloração. O método de secagem
tem grande influencia sobre as propriedades organolépticas do café.
A alta umidade no momento da colheita propicia o
desenvolvimento de agentes patogênicos na superfície dos frutos e
o aumento da taxa de respiração que, conseqüentemente, eleva a
temperatura da massa de grãos. Estes fatores podem, com o passar
do tempo, resultar na fermentação do produto. Assim, para
manutenção da qualidade do produto, é necessário que a secagem
seja iniciada o mais rapidamente possível, reduzindo o teor de
umidade do café para 18% b.u. ou menor, pois, abaixo deste teor o
café é menos susceptível a deterioração rápida.
No Brasil, segundo os aspectos tecnológicos envolvidos,
utilizam-se basicamente dois métodos de secagem de café:
- secagem em terreiro: esparramando-se o produto em pisos
de concreto, tijolos, asfalto ou chão batido; e
- secagem em secadores: forçando a passagem de ar
aquecido através da massa de grãos.

A secagem em terreiros é o processo tecnológico mais


antigo e ainda o mais usado pelos produtores, apesar de vários
aspectos contrariarem sua eficácia em produzir café de qualidade,
como: o tempo de secagem e os fatores climáticos. Já com uso de
secadores o tempo de secagem do produto é reduzido, contribuindo
para o controle do processo fermentativo, porém, são acrescidos ao
custo final de produção, os gastos com combustível (lenha, carvão,
gás, entre outros).
Quanto menor o teor de água dos grãos maior a demanda
energética para evaporação da água, conseqüentemente, maior
consumo de combustível na fase final da secagem. Entretanto,
como dito anteriormente, abaixo de 18% b.u. o café está menos
propenso a deterioração rápida, sendo então possível completar sua
secagem com métodos menos dispendiosos em energia. Assim
surge a secagem realizada diretamente em silos armazenadores,

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

com o uso de ventilação forçada e ar natural ou a baixa


temperatura.

2. Secagem em silos
A secagem de grãos em silos com ventilação forçada,
utilizando apenas ar natural ou com baixa temperatura, é, em
comparação com a secagem em secadores tradicionais para café,
um processo lento. A baixa velocidade de secagem se deve ao
pequeno fluxo de ar insuflado na massa de grãos e à dependência
da capacidade de secagem do ar em estado natural. Por ser
realizado em silo, o processo será entendido como secagem durante
o armazenamento, pois, depois de seco, o produto pode permanecer
armazenado no silo.
O silo secador-armazenador (Figura 1) apresenta algumas
características especiais que não são exigidas para os silos
empregados apenas para a armazenagem, como:
a) O piso deve ser construído, preferencialmente, em chapa
metálica perfurada com, no mínimo, 20% de perfuração para
promover distribuição uniforme do ar de secagem através da massa
de grãos.
b) O ventilador deve fornecer quantidade de ar suficiente
para realizar a secagem de toda a massa do produto sem que ocorra
qualquer tipo de fermentação.
c) As dimensões do silo (diâmetro e altura) e o tipo de grão
a ser armazenado irão determinar a potência do ventilador a ser
utilizado.
Como a pequena quantidade de ar por unidade de massa de
grão torna o processo lento e as baixas temperaturas do ar
diminuem a capacidade de evaporar a água do produto, o processo
é, ainda, mais dificultado em regiões de alta umidade relativa.
Assim, devem-se, em alguns casos, utilizar fontes suplementares de
aquecimento (resistência elétrica, fornalha, energia solar, entre
outras) para contornar esse problema, o que pode, no entanto,
provocar uma supersecagem, resultando em perdas econômicas
para o produtor. O problema pode ser solucionado pela adaptação
de um umidistato e de um termostato no plenum, para controlar o

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

funcionamento da fonte de aquecimento.


Normalmente, na secagem com ar natural, o potencial de
secagem do ar ambiente e o pequeno aquecimento provocado pelo
ventilador (2 a 3 oC) são suficientes para propiciar a obtenção de
uma faixa de umidade final do produto, recomendada para um
armazenamento seguro.
Sistemas de secagem com ar natural e com baixas
temperaturas, devidamente projetados e manejados, são métodos
econômicos e tecnicamente eficientes. Além do mais, reduzem a
probabilidade de o produto sofrer danos mecânicos, devido à pouca
movimentação que sofrerá.
O processo de secagem inicia-se na camada inferior do
silo, logo acima da chapa perfurada, e vai progredindo até atingir a
superfície superior da camada de grãos. Depois de determinado
tempo de secagem, distinguem-se três faixas de grãos com
diferentes teores de umidade (Figura 1).

Figura 1 - Silo para secagem com ar natural, mostrando a frente de


secagem (FS).

A primeira faixa ou subcamada é formada por grãos secos.


Nessa faixa, o produto já atingiu o equilíbrio com o ar de secagem
e todos os grãos apresentam o mesmo teor de umidade, que é
conhecido como teor de umidade de equilíbrio.
Só ocorrerá secagem adicional, nessa subcamada, se a

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

umidade relativa do ar abaixar muito em relação à média desejável


(60% para o café) por tempo prolongado. Valores abaixo de 60%
são muito freqüentes em regiões de cerrado por ocasião da colheita
do café, a solução para evitar supersecagem do produto será
fornecida mais adiante.
Na segunda faixa, denominada frente de secagem, ainda
ocorre a transferência de umidade do produto para o ar. A
espessura dessa faixa varia, geralmente, entre 30 e 60 cm e depende
das condições estabelecidas para o projeto (fluxo de ar, condições
ambientais e do produto).
Na frente de secagem existe um gradiente de temperatura e
de umidade. O gradiente de temperatura varia entre a temperatura
do ar de secagem e a temperatura de equilíbrio no final da camada
(temperatura de exaustão da frente). O gradiente de umidade, por
sua vez, varia ente a umidade de equilíbrio (umidade final) e a
umidade com a qual a camada de grãos foi adicionada no silo
(umidade inicial).
A terceira faixa é formada pelos grãos que ainda não
passaram pelo processo de secagem, ou seja, toda a terceira faixa
tem o teor de umidade equivalente ao da umidade inicial, pois, ao
passar por essa camada, o ar está com sua capacidade de secagem
esgotada. A temperatura, nesta camada, é inferior à temperatura do
ar no plenum (ar de secagem), uma vez que o ar é resfriado devido
à troca de calor com o produto na frente de secagem.
O cálculo da vazão do ar de secagem e a escolha dos
componentes do sistema devem ser feitos com muito cuidado. A
vazão deve ser tal que permita que a frente de secagem alcance a
última camada adicionada ao silo, sem a ocorrência de
deterioração. A Figura 2 mostra o tempo permissível de
armazenamento (TPA) para que o produto (milho), com diferentes
teores de umidade, permaneça no processo à baixa temperatura sem
ocorrência de deterioração.
Apesar de não existir, ainda, um diagrama exclusivo para o
café, as condições de armazenagem para o milho, como verificado
em trabalhos anteriores, podem ser utilizadas para limitar o tempo
máximo de secagem do café sem que ocorra a deterioração. Isso
quer dizer que, se for adicionada uma camada de milho com 16%
b.u. e se a temperatura do ar entrado na camada for de 20oC (com
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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

potencial de secagem), a camada poderá ficar até, no máximo, 40


dias sem se deteriorar, ou seja, o sistema de secagem deverá ser
projetado de modo a secar a camada em menos de 35 dias, por
questão de segurança.

Figura 2 - Diagrama de Steele e Saul, para conservação do milho.

2.1. Manejo e Recomendações para Ventilação em Silos


Secadores

a) Utilizar um ventilador com fluxo de ar de acordo com o


teor de umidade inicial dos grãos, conforme Tabela 1.

b) Para o carregamento adequado de um silo com milho ou


café despolpado com teor de umidade de 18 ou 20%
b.u., oriente-se pela Tabela 2.

Tabela 1 - Fluxo de ar por m3 de grão em função da umidade


inicial
Umidade Inicial
Produto Fluxo (m3 min-1)
(%, b.u.)
Milho, feijão e arroz 18 - 20 1,5
Café coco 20 2,5
Café despolpado 20 1,5

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Tabela 2 - Formas de carregamento do silo para secagem com ar


natural
Umidade Inicial vs Fluxo de Ar
18% b.u. vs 0,7 m3 min-1 m-3 20% b.u. vs 1,5 m3 min-1 m-3
D&C (1)
Carga Tempo Potência Carga Tempo Potência
(m) Secagem (cv)* (m) Secagem (cv)*
** (dias) (dias)
4 19 0,5 3 12 1,5
4,5&16 5 19 1,0 4 12 4,0
6 19 2,0 5 12 7,0
4 20 1,0 2 13 0,5
5 20 2,0 3 13 1,5
5,5&23
6 20 3,0 4 13 5,0
7 20 5,0 5 13 10,0
5 20 2,0 3 13 2,0
6,5&33 6 20 4,0 4 13 6,0
7 20 6,0 --- --- ---
* Para potências superiores a 3 cv, recomenda-se a utilização de ventiladores
centrífugos.
** Não se deve encher o silo em menos de cinco dias.
(1)
Diâmetro (m) e capacidade do silo por metro de camada de grãos (m3 m-1).

2.2. Formas de Carregamento do Silo

O carregamento do silo, durante a secagem com ar natural,


pode ser conduzido de três modos, conforme a disponibilidade do
sistema operacional implantado:

a) Enchimento em uma etapa: consiste em carregar o silo


em até cinco dias, tempo relativamente curto, uma vez que,
dependendo das condições atmosféricas, este método demanda
períodos superiores a 25 dias para o término da secagem (veja o
TPA ou tempo permissível para armazenagem).

Vantagens:
- redução dos custos operacionais em regiões de baixa
umidade relativa;

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

- baixa demanda de mão-de-obra; e


- pouca dependência dos processos de recebimento do
produto.

Desvantagens:
- devido ao longo período de secagem, as camadas
superiores correm o risco de deterioração se os limites
estabelecidos na Tabela 3 não forem bem interpretados.
- risco de supersecagem nas camadas inferiores, quando
se utiliza fonte suplementar de aquecimento sem
controle adequado (risco de condensação nas camadas
superiores); e
- exigência de monitoramento diário do processo durante
a secagem.

Tabela 3 - Tempo permissível para secagem do milho*, em silo,


sem que ocorra deterioração
Temperatura Umidade do produto (% b.u.)
o
( C) 16 18 20 22 24 26 28 30
10 150 75 50 30 20 15 10 7
15 70 40 25 15 10 7 4 2
20 40 25 15 10 7 4 2 1
25 30 20 12 8 5 3 2 1
*O café despolpado é mais tolerante que o milho, portanto, podem-se adotar os
valores acima como referência e sem risco de danos.

b) Enchimento por camadas: O processo está


condicionado ao teor de umidade final do produto. Uma nova
camada só é adicionada se a última já estiver, praticamente, em
equilíbrio com o ar de secagem ou já seca. Procede-se dessa
maneira até atingir a altura-limite estabelecida pela capacidade do
silo e pelo fluxo do ar de secagem (Tabelas 1 e 2). Assim, as
primeiras camadas colocadas na célula podem apresentar maior
teor de umidade inicial, devido ao fato de receberem maiores
fluxos de ar de secagem. Inversamente, as últimas camadas
adicionadas deverão apresentar menores teores de umidade inicial.
A quantidade de produto a ser colocada de cada vez
dependerá da velocidade de deslocamento da frente de secagem, do
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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

teor de umidade inicial dos grãos e da temperatura do ar que entra


da zona de secagem.
Este método exige mais de um silo secador para o bom
andamento da colheita. Mais adiante, será descrito o método dos
sete silos para a secagem do café.

Vantagens:
- secagem mais rápida, quando comparada ao método de
enchimento em uma etapa;
- menor risco de deterioração; e
- o fluxo mínimo necessário é inferior ao do método de
enchimento em uma etapa.

Desvantagem:
- requer maior atenção no controle do processo de
secagem.

c) Camada única: consiste em carregar o silo com camada


única de até 1,0 m de espessura e realizar a secagem. Esse processo
é bastante parecido com o de secadores de camada fixa para café
sem aquecimento do ar e revolvimento do produto. A diferença
entre este e o método anterior de carregamento é que, no método de
camada única, retira-se a camada seca para depois realizar o novo
carregamento. Este método é mais utilizado para produtos de
elevado valor comercial ou para aqueles que não suportam a
pressão devido ao peso da camada.

Vantagens:
- secagem rápida de cada uma das camadas;
- menor risco de deterioração durante a operação de
secagem; e
- maior fluxo de ar por tonelada de produto do que os
métodos anteriores.

Desvantagens:
- equipamentos menos eficientes; e
- maior demanda de mão-de-obra.

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

2.3. Movimentação do Produto no Silo

Conforme a movimentação do produto, pode-se definir o


processo de secagem como de camada estática ou com
revolvimento:

a) Processo estático: nesta operação, o produto não é


movimentado durante o processo e observam-se as três
regiões distintas na massa de grãos, conforme visto na
Figura 1.

b) Revolvimento do produto: esta operação geralmente é


associada à secagem em regiões de umidade relativa
média inferior a 60% ou onde há necessidade de aquecer
o ar de secagem para acelerar o processo. Nessas
condições, os gradientes de umidade e temperatura
estabelecidos na massa de grãos são maiores, podendo
ocorrer supersecagem da massa de grãos. Para
solucionar o problema, a frente de secagem deve ser
destruída por meio de helicóides nus, que fazem o
revolvimento do produto no interior do silo,
homogeneizando e elevando as camadas inferiores secas
para a parte superior. O esquema de um equipamento
revolvedor stirring device é apresentado na Figura 3. O
equipamento misturador é formado por uma ou mais
roscas verticais, que se movimentam radialmente do
centro para a parede do silo e vice-versa, misturando o
produto verticalmente. Além de possuir custo elevado e
de perder parte da capacidade estática do silo para a
adaptação do sistema, esse equipamento pode causar o
indesejável descascamento do café despolpado.

CBP & D Café


Consorcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento
Núcleo: Colheita, Pós-colheita e Qualidade
Visite o site www.pos-colheita.com.br

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Figura 3 - Silo com equipamento para revolvimento do produto.

Vantagens:
- maior rendimento para o mesmo volume de produto
e maior fluxo de ar do que o método de enchimento
em uma etapa;
- menor risco de deterioração do que os métodos
anteriores; e
- eliminação do gradiente de umidade quando se usa
temperatura elevada.

Desvantagens:
- maior manipulação do produto do que em todos os
métodos estáticos, o que pode provocar maior índice
de produto com danos mecânicos;
- maior investimento inicial e maior custo operacional
do que no método estático;
- sobrecarga do equipamento sobre as paredes e o piso
do silo; e
- acúmulo de materiais finos no centro do silo.

2.4. Operação e Monitoramento da Secagem

O tempo de funcionamento do ventilador durante o


processo de secagem depende do teor de umidade do produto no
silo e do clima da região. É recomendável manter o ventilador
ligado continuamente, mesmo à noite, quando o produto estiver

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

com teor de umidade inicial superior a 16%. Embora a umidade


relativa seja alta, durante a noite, o fato de a temperatura ser baixa
promove o resfriamento da massa de grãos. O ar, ao retirar calor
dos grãos, eleva sua temperatura e diminui sua umidade relativa, e,
dependendo desta, pode promover a secagem dos grãos mais
úmidos. Caso a umidade dos grãos seja inferior a 16%, o ventilador
deverá permanecer ligado até o final da secagem, desde que a
umidade relativa média seja inferior a 65%.
No caso de regiões mais úmidas (com umidade relativa
média acima de 70%), o ventilador deverá permanecer ligado
somente durante as horas em que a umidade relativa for mais baixa
(período diurno).
O monitoramento do processo de secagem consiste na
inspeção diária da temperatura e umidade da massa de grãos, com o
objetivo de verificar se o produto está seco ou se, eventualmente,
está ocorrendo algum processo de deterioração.
No caso da secagem com ar levemente aquecido (secagem
com baixas temperaturas), deve-se, ao final do processo, insuflar ar
natural para obter o resfriamento da massa de grãos.

2.5. Duração da Secagem

O tempo de secagem, dependendo do sistema, pode ser


reduzido elevando-se a temperatura do ar de secagem ou sua vazão.
Na secagem em silo, com ar natural, o aquecimento do ar
praticamente não altera a velocidade de deslocamento da frente de
secagem, podendo, ainda, gerar dois problemas: supersecagem nas
camadas inferiores e aceleração do processo de deterioração nas
camadas superiores (condensação). Em geral, o aquecimento do ar
só é recomendado para regiões onde o potencial de secagem do ar
natural é insuficiente para atingir o teor de umidade final desejado.
Em análise mais detalhada da Tabela 2, pode-se verificar
que o aumento da vazão do ar exerce maior influência sobre o
tempo de secagem. Sabe-se que a velocidade de deslocamento da
frente de secagem é diretamente proporcional à vazão específica.
Entretanto, em locais com alta umidade relativa, o aumento da
vazão não é suficiente para o sucesso da secagem, pois essa
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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

variável não tem influência sobre o potencial de secagem do ar. Por


exemplo, uma região com umidade relativa média de 70% deixará
o café em condições seguras; contudo, a umidade final estará acima
da desejada para comercialização. Dessa forma, afim de
comercializar o produto, ele deverá passar por um sistema de
secagem que possa reduzir a umidade de armazenamento até a
umidade de comercialização.

2.6. Uso do silo na secagem do café

Como será visto mais adiante, um sistema de secagem em


silo, com ar natural, devidamente projetado, é econômico, eficiente
e apresenta alta aplicabilidade na secagem do café cereja
descascado. Quando construído com recursos locais, o sistema de
secagem em silos apresenta menor investimento inicial, comparado
aos sistemas de terreiros ou secadores convencionais de altas
temperaturas.
Em secagem de sementes, os métodos que usam baixas
temperaturas são empregados em substituição àqueles com altas
temperaturas, por resultarem em melhor qualidade final do produto.
A Figura 4 ilustra um secador para sementes com modificação do
sistema de distribuição do ar de secagem. Esse sistema foi, no
passado, utilizado por alguns cafeicultores para armazenagem do
café sob aeração. Neste sistema, o ar é insuflado radialmente
através da massa de grãos.
As principais limitações dos métodos de secagem com ar
natural (fluxo vertical ou radial) são o teor de umidade inicial do
produto e as condições climáticas locais.
Altos teores de umidade inicial do produto aumentariam a
susceptibilidade à deterioração, enquanto condições atmosféricas
desfavoráveis implicariam a utilização de ventiladores e
aquecedores mais potentes, inviabilizando economicamente o
método.
Assim, será mostrado a seguir como pode ser feita a
combinação de outros sistemas de secagem já conhecidos para
contornar os problemas com a secagem natural de produtos úmidos,
como o café.
12
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Figura 4 - Silo secador, mostrando a distribuição radial do fluxo de


ar.

3. Secagem Combinada em Silos

Muito utilizada para milho e arroz, a secagem combinada


vem demonstrando, em trabalhos realizados na UFV desde 1994 e,
recentemente, em fazendas da Zona da Mata de Minas Gerais,
grande sucesso na secagem de café com qualidade.
A secagem combinada consiste no uso de secadores
convencionais em alta temperatura na primeira fase da secagem
(produto úmido) e secagem em silo na fase final ou complementar.
No caso de utilização de secadores que necessitam de uma
pré-secagem do café para o seu bom funcionamento, deve-se ter o
cuidado para que, nessa fase, o café recém-saído do lavador não
sofra qualquer tipo de deterioração. Por exemplo, se as condições
de clima não forem favoráveis, a pré-secagem em terreiros poderá
comprometer a qualidade do café.
A técnica de secagem em combinação foi desenvolvida para
evitar possível deterioração da qualidade e solucionar problemas
em decorrência de condições climáticas desfavoráveis e de teor de
umidade inicial elevado para secagem no silo.
Para a realização do processo com o café, devem ser
obedecidos alguns procedimentos básicos, como:
a) Depois da pré-limpeza e de ter passado pelo separador
hidráulico, o café do tipo cereja, de alta densidade, que foi separado
dos verdes e bóias, deve ser submetido ao descascamento e à
lavagem para retirar parte da mucilagem. Nessa etapa, a operação

13
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

correta do descascador deve ser obedecida, para evitar o


descascamento dos verdoengos.
b) Caso não se tenha certeza de boas condições climáticas,
deve-se realizar uma pré-secagem, em terreiro secador híbrido ou
em secador de camada fixa, com revolvimento da camada de café,
no mínimo a cada três horas, até que este possa fluir facilmente
dentro do secador em alta temperatura. Nesse ponto, o teor de
umidade do café deve situar-se próximo a 35% b.u. Apesar de uma
operação extra, se houver disponibilidade de um bom terreiro
suspenso, a água superficial do café, logo que sai do lavador,
poderá ser facilmente eliminada sem gasto adicional de energia.
A pré-secagem/secagem pode também ser realizada em
outro sistema de secagem em alta temperatura que funcione
adequadamente para café com alto teor de umidade. Por exemplo, o
secador rotativo modificado e já testado na UFV (Figuras 5 e 6)
pode ser perfeitamente usado para essa operação.
Considerando que os secadores rotativos tradicionais são
amplamente difundidos para a secagem de café no Brasil, foi
proposta e desenvolvida uma adaptação para o projeto do secador
rotativo que pudesse eliminar algumas das desvantagens do modelo
tradicional e que permitisse:
- usar o secador com material recém-saído do lavador sem a
necessidade de passar pelo terreiro, ou seja, usar o secador rotativo
como pré-secador/secador sem os problemas de entupimento das
chapas perfuradas;
- usar o secador rotativo com menor quantidade de grãos
que a recomendada ou com carga parcial, pois no projeto
tradicional a utilização de carga menor que a recomendada acarreta
grande perda de energia e aumenta o tempo de secagem;
- reduzir o custo de energia elétrica sem a necessidade de
movimentar constantemente o cilindro secador;
- manter a secagem homogênea, como no secador
tradicional, e facilitar a secagem por meio de uma câmara de
descanso; e
- para o café pergaminho, reduzir o número de grãos
descascados por impactos dentro do secador (grãos beneficiados ou
parcialmente descascados secam mais rapidamente do que o grão
com pergaminho completo).
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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

O novo secador rotativo idealizado (Figura 5), além de


permitir a solução dos problemas citados, tem o seu projeto básico
facilmente adaptado aos secadores já em funcionamento. Em
estudo realizado na UFV (convênio Pinhalense/UFV), em que foi
comparado o desempenho de um secador Pinhalense modificado
(Figura 6b) com o de um secador original (Figura 6a) trabalhando
sob as mesmas condições, verificou-se que, além de ter atendido
aos objetivos da modificação, o primeiro produziu um café de boa
qualidade e apresentou redução significativa no consumo total de
energia (elétrica e térmica).

Figura 5 - Secador rotativo com movimento periódico (modelo


Barra do Choça).

(a) (b)

Figura 6 - Secador rotativo comercial (a) e modificado (b).

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Em qualquer dos casos, quando se trabalhar com o cereja


descascado, o ar de secagem deve ser aquecido indiretamente,
quando se utiliza lenha (Figura 7a), ou diretamente, por meio de
aquecedores a gás ou a carvão (Figura 7b).
Na fase de secagem em alta temperatura, o café deve ser
secado até que o teor de umidade atinja valores próximos a 20%
b.u. (dependendo das condições climáticas) e, em seguida, ser
transferido para a secagem complementar, em silos com ar natural.

(a) (b)

Figura 7 - Fornalha para aquecimento indireto (a) e direto (b) do ar


de secagem.

Como dito anteriormente, o processo de secagem em silo é


dificultado em regiões de alta umidade relativa (médias muito
acima de 65%); por exemplo, em algumas localidades da Zona da
Mata mineira, deve-se providenciar alguma forma de aquecer o ar
para que a umidade relativa caia para valores próximos e não
inferiores a 60% (Tabela 4). Para isso, podem-se utilizar fontes
suplementares para o aquecimento do ar (fornalha a carvão vegetal,
GLP, energia solar ou outra fonte viável de energia calorífica).
Para o caso de regiões climáticas semelhantes às do cerrado,
onde a umidade relativa apresenta médias inferiores a 60%, deve-
se, durante a secagem em silos, providenciar um meio para
aumentar a umidade relativa do ar, principalmente durante o
período diurno. Portanto, nos períodos de baixa umidade relativa,

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Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

um vaporizador ou refrigerador deve modificar o ar para manter a


umidade relativa ideal.

Tabela 4 - Incremento, aproximado, de temperatura para reduzir a


umidade relativa do ar para valores próximos a 60%,
sob temperaturas ambientais entre 20 e 28 oC
UR% 90 85 80 75 70
Acréscimo oC 6 5 4 3 2

Na impossibilidade de se usar um sistema para modificar as


condições do ar de secagem até a faixa ideal de umidade relativa,
pode-se levar o café para o silo com umidade inferior a 17% e fazer
a secagem complementar durante o período noturno (umidade
relativa mais elevada). Com teor de umidade abaixo de 17% b.u. o
café tem condições de armazenagem, por curtos períodos, sem
risco de deterioração da qualidade.
Outra possibilidade seria a automatização, para que, em
qualquer período que ocorra umidade relativa próxima a 60%, o
sistema de ventilação seja acionado (Figura 8).
Na realidade, o que se deseja é um par de valores
(temperatura e umidade relativa do ar) que mantenha o café com
umidade entre 11 e 12% no final da secagem. Para isso, o operador
pode se orientar pelos valores da Tabela 5.

Figura 8 - Relação entre as condições ambientais e a umidade final


do produto dentro do silo secador.

17
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Tabela 5 - Valores, aproximados, de temperatura x umidade


relativa para manter o produto próximo de 12% b.u.
Temperatura ºC
Produto 18 19 20 21 22 23 24 25
Umidade Relativa %
Café 56 56 57 57 59 58 59 59
Milho 55 56 57 57 58 59 59 60
Arroz em casca 58 59 59 60 60 61 61 62
Soja 54 54 55 55 55 55 56 56

Além de produzir café de alta qualidade, a secagem em


combinação permite reduzir o tempo de secagem em alta
temperatura, aumentar a capacidade dinâmica dos secadores e
reduzir o consumo específico de energia em até 50%, quando
comparado com os processos tradicionais de secagem.
Independentemente do tipo de pré-secagem, é importante
ressaltar que, em todas as fases do processamento, deve-se evitar
qualquer tipo de fermentação, a fim de se obter, no caso do café,
alta qualidade e sabor natural. Para isso, o operador do sistema de
secagem deverá se familiarizar com o processo e estar atento
quanto à operação do sistema de ventilação durante a última etapa
de secagem.
Resumindo, para que ocorra a secagem do café em sistema
combinado, deve-se proceder da seguinte maneira:
• O café descascado e lavado deve ser transferido para o
sistema de pré-secagem o mais rápido possível e ter o teor
de umidade reduzido a um valor preestabelecido, segundo
as condições ambientais da fazenda (médias de temperatura
e umidade relativa durante a colheita).
• Além dos secadores em leito fixo e rotativo, qualquer tipo
de terreiro de qualidade comprovada pode ser indicado para
essa operação, quando as condições climáticas forem
favoráveis. Na pré-secagem, quando utilizados secadores
em alta temperatura, deve-se, se possível, operar o sistema
utilizando fornalha que não contamine o produto e não
permita que a temperatura da massa de grãos ultrapasse

18
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

40oC, para não afetar a qualidade de produtos como café e


arroz. No caso de milho e soja, esse fato não é tão
importante.
• Logo após a transferência da primeira carga de café para o
silo secador, deve-se acionar o sistema de ventilação e
mantê-lo ligado até que o produto na superfície superior da
última camada colocada no silo atinja teor de umidade em
torno de 16% b.u. Abaixo deste valor, o ventilador
permanecerá ligado somente durante os períodos em que a
umidade relativa do ar estiver abaixo de 70%, o que
normalmente ocorre durante o dia. O ideal seria acoplar um
controlador automático ao sistema de ventilação, para que
este seja acionado automaticamente para a faixa de umidade
relativa estabelecida. Apesar de se adicionar ao sistema um
dispositivo automático, o operador deve estar sempre atento
e inspecionar diariamente o sistema de secagem, a fim de se
certificar do correto funcionamento, para que não ocorra o
desenvolvimento de fungos na camada que ainda está
secando.
• Uma nova camada só deve ser adicionada ao silo quando a
anterior já estiver, preferencialmente, seca ou em equilíbrio
com o ambiente.
• Deve-se desligar o sistema de ventilação quando a umidade
do produto, na última subcamada, atingir o teor de umidade
de equilíbrio (próximo a 12% b.u.). O tempo para que isso
ocorra irá depender da altura total da camada de grãos no
silo, da quantidade adicionada, dos fluxos de ar no início e
no final do carregamento do silo, das condições climáticas e
do teor de umidade inicial do produto.
• Na maioria das regiões produtoras, a umidade de equilíbrio
está próxima a 12% b.u. Ao desligar o sistema de ventilação
durante a fase de armazenagem propriamente dita, o
operador deve ter o cuidado de fechar a entrada de ar do
ventilador, para que não ocorram correntes de ar
indesejáveis, que possam possibilitar a reumidificação e
possível deterioração da qualidade do produto.
19
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

• Depois de seco, o monitoramento do sistema consiste na


inspeção periódica (diária ou semanal) da temperatura e do
teor de umidade da massa de grãos. Caso ocorra
aquecimento ou aumento no teor de umidade, deve-se
verificar a causa e providenciar o acionamento do
ventilador, até que toda a massa de grãos volte às condições
normais.

Apesar de ser uma técnica consagrada para outros tipos de


grãos, antes de adotar a tecnologia de secagem em combinação
para café, sugere-se ao cafeicultor que consulte um especialista de
reconhecida competência em secagem de café. Mesmo sendo
aparentemente simples e de fácil adaptação a sistemas já existentes
em fazendas, a secagem em combinação é altamente dependente
das condições climáticas da propriedade, das tecnologias utilizadas
antes da operação de secagem em silos e do nível de treinamento
do cafeicultor.
Com as recomendações anteriores, é necessário esclarecer
que nem sempre um sistema indicado para uma propriedade será
aplicável à propriedade vizinha. O especialista deve prestar seus
serviços de maneira individualizada, ou seja, deve conhecer as
condições da propriedade e do cafeicultor e orientá-lo a tirar o
melhor resultado do sistema.
Apesar de o cafeicultor poder realizar a secagem combinada
com qualquer número de silos, é altamente recomendada a adoção
de um sistema composto por sete silos, principalmente para
produtores de médio a grande porte ou para uma unidade
comunitária.

4. Sistema com Sete Silos

O sistema de “sete silos” consiste na adoção de sete silos ou


tulhas ventiladas (metálicas, de madeira ou em alvenaria), que
serão carregados por camadas. Os silos devem ser dimensionados
para receber, semanalmente, uma determinada quantidade de
produto com umidade inicial preestabelecida (Figura 9).

20
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Figura 9 - Esquema do sistema de secagem em sete silos.

Cada silo ou tulha (Figura 10) deverá, até o final da


colheita, ter a sua capacidade de carga completada. Quando a
última camada for adicionada ao último silo, significa que todas as
outras já estarão em equilíbrio com o ambiente, e o final da
secagem deve ser monitorado pela umidade do café na superfície
superior da última carga. A partir desse ponto, pode-se, finalmente,
desligar o sistema de ventilação. O silo de número 7 deve ser
considerado um silo reserva, portanto, deve estar sempre vazio para
solucionar problemas eventuais durante o período de colheita.

Figura 10 - Tulhas de madeira e com sistema de ventilação para


secagem complementar do café (Ibituruna - MG).

21
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Para simplificar o processo dos “Sete Silos”, suponha que o


primeiro dia de colheita aconteça em uma segunda feira. Assim, o
café, depois de convenientemente preparado e ter sido pré-secado,
deve ser imediatamente levado para o primeiro silo (silo 1) e ter o
sistema de ventilação ligado. Na terça feira, segundo dia de
colheita, o produto deve ser levado para o silo 2, com o mesmo
tratamento. Com essa rotina, chegaremos ao sábado, sexto dia de
colheita, a qual deve ser colocada no silo 6.
Deve-se lembrar que no domingo não há colheita. Assim, na
segunda semana de colheita, que se iniciará na segunda-feira, o silo
1, que recebeu o café do primeiro dia de colheita, já terá secado a
primeira camada e estará pronto para receber o café do sétimo dia
de colheita. Portanto, o oitavo dia de colheita deverá ir para o silo 2
e assim, sucessivamente, até que ela termine.
Dessa forma, pode-se concluir que, uma semana após a
finalização da colheita, todo o café cereja descascado já estará seco
e pronto para ser comercializado, ou poderá permanecer
armazenado, nos silos, até que melhor oportunidade de
comercialização apareça.

4.1. Simulação para secagem combinada

Para ilustrar o método de secagem pelo sistema de sete silos,


simulou-se, para este trabalho, uma situação em que as condições
médias de umidade relativa e temperatura do ar ambiente da região
foram de 70% e 22°C, respectivamente.
Considerou-se uma produção de 99.000 kg de café
pergaminho, a serem processados durante 48 dias de colheita e pré-
secados até atingir o teor de umidade inicial para cada subcamada a
ser adicionada ao silo. Em função do tempo total de colheita, e
considerando a semana de colheita com seis dias úteis, determinou-
se que cada silo seria composto por oito subcamadas
(48dias/6dias/semana), caracterizando dessa forma o sistema de
secagem em sete silos, sendo um silo de reserva. As dimensões do
silo foram determinadas de modo que recebesse uma camada de
0,40 m de café pergaminho por dia.
Na Tabela 6 são apresentados os parâmetros necessários à
simulação e os valores obtidos utilizando o modelo de Hukill. Pela

22
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

tabela, pode-se verificar que, para cada subcamada depositada


semanalmente no silo, o seu teor de umidade inicial deverá ser
menor que o da anterior. Esse fato se deve à redução do fluxo de ar
decorrente do aumento da pressão estática com a adição de uma
nova subcamada. Nota-se, também, que a umidade final de todas as
subcamadas são iguais, pelo fato de a secagem só ocorrer até a
umidade de equilíbrio para as condições médias do ar de secagem.
É importante ressaltar que os resultados apresentados foram
obtidos em um exemplo de gerenciamento do método com sete
silos e para uma condição ambiental favorável ao processo de
secagem. Em regiões onde as condições climáticas não sejam
favoráveis, poderá ser necessário, caso a umidade relativa seja alta,
promover pequeno aquecimento do ar de secagem.
Em caso de aquecimento com gás ou eletricidade, existem no
mercado dispositivos capazes de permitir o controle do sistema
pelo monitoramento da umidade relativa e da temperatura, os quais
ligam o sistema de aquecimento do ar somente naquelas condições
desfavoráveis ao processo.

Tabela 6 - Considerações e valores obtidos na simulação para cada


silo
Considerações para simulação
Tempo de colheita, dias 48 Fluxo de ar, m3 min-1 t-1 5
Número de silos 6 Aquecimento pelo ventilador, °C 1
Número de camadas do
8 Temperatura de secagem, °C 23
silo
Diâmetro do silo, m 3 Umidade relativa de secagem, % 66
Altura do silo, m 3,2 Umidade de equilíbrio, % b.u. 11,6
Tempo de secagem por camada,
Altura da subcamada, m 0,4 168
horas (fixo)
Temperatura ambiente, °C 22 Potência do ventilador, cv 1
UR do ar ambiente, % 70
Resultados da simulação
Variáveis simuladas Camadas de cada silo
a a
1 2 3a 4a 5a 6a 7a 8a
Umidade inicial, % b.u. 27,0 26,0 26,0 25,0 25,0 24,0 23,0 19,0
3 -1
Vazão de ar, m min 50,8 48,0 44,9 41,6 37,7 33,2 27,2 13,0
Umidade final, % b.u. 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6 11,6

23
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Em locais de umidade relativa baixa, o sistema de ventilação


deve ser regulado para funcionar nos períodos favoráveis, ou seja,
naqueles em que a umidade relativa seja maior, evitando possível
supersecagem do produto. Pode-se, também, adaptar uma mini-
caldeira para adicionar vapor de água ao ar de secagem nos
períodos muito secos (caso muito comum nas regiões de cerrado).
Mais uma vez, deve-se ressaltar que, no caso de adoção do
método de secagem combinada pelo sistema de sete tulhas ou silos,
é recomendado consultar um especialista em secagem de café para
adequar o sistema às condições da propriedade. Um sistema bem
projetado, além de facilitar a operação e reduzir os custos
operacionais, pode reduzir substancialmente o custo de instalação
ou de adaptação do sistema.

4.2. Um Novo Sistema (Pré-secador, Secador e Silo-secador)

Na Figura 11 é mostrado o esquema básico de um modelo,


recentemente desenvolvido na UFV, para secagem em combinação.
O sistema é composto pela associação de um pré-secador (terreiro
secador), de um secador pneumático de fluxos concorrentes, com
carga, descarga e revolvimento pneumáticos, e de silos, com
ventilação, para secagem complementar do produto.
Como pode ser observado na Figura 12, foi construído
apenas um silo secador. Entretanto, o produtor pode optar por
construir vários silos, inclusive de diferentes tamanhos, com
capacidade total para receber a produção de café em pergaminho.

Figura 11 - Esquema básico de um sistema combinado modelo


UFV.

24
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Silo
Secador-
Armazenador

Figura 12 - Modelo real, construído e instalado no setor de


armazenamento do DEA-UFV.

A Tabela 7 fornece os resultados da classificação comercial


de três lotes de café cereja descascado que foram secados em
combinação (pré-secador, secador de fluxos concorrentes e silo-
secador), como mostrado na Figura 12.

Tabela 7 - Resultados da classificação do café, após secagem


complementar no silo secador-armazenador
Umidade Peneira Catação Renda
Camada Tipo Bebida
%b.u** % % %
1 (superior) 11,8 67* 8 5 71 MOLE
2 11,8 62 8 5 73 MOLE
3 12,0 60 11 5 73 MOLE
4 11,8 68 10 5 68 MOLE
5 11,6 64 12 5 73 MOLE
6 11,5 64 10 5 72 APM
7 11,2 63 16 5 73 APM
8 11,7 79 10 5 73 MOLE
9 (inferior) 11,4 59 12 5 70 APM
Composta*** 11,5 67 12 5 71 MOLE
* Peneira 17 acima.
** Determinador de umidade comercial.
*** Amostra composta, com parcelas extraídas de cada saca, após descarga do
silo.

25
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Outro exemplo da aplicação bem sucedida do sistema de


secagem combinada é o caso do Professor Sebastião Ferreira,
cafeicultor no município de Viçosa-MG. No sistema instalado, o
Prof. Sebastião usa o terreiro suspenso como pré-secador, a
secagem parcial em terreiro híbrido e a complementação da
secagem em dois silos secadores (Figura 13).

Figura 13 - Vista dos silos para secagem em combinação, na


fazenda do Prof. Sebastião Ferreira (Viçosa - MG).

5. Construção do silo secador-armazenador


Para adaptação do sistema de secagem combinada, o
cafeicultor pode optar por comprar os silos e construir em alvenaria
ou outro material qualquer. Entretanto, o silo a ser adquirido ou
construído deve apresentar algumas características especiais,
próprias de um silo secador-armazenador, que não são exigidas
para os silos empregados apenas para armazenagem. Nos exemplos
da utilização da secagem combinada citados anteriormente, o silo
foi projetado e construído segundo as recomendações de Silva et al.
(2005).
No caso do estudo realizado na UFV, a base do silo
secador, onde se localiza a câmara plenum (Figura 14a), foi
construída em alvenaria com diâmetro interno de 2,0 m e altura de
0,30 m. A esta base foi adicionado um piso confeccionado em

26
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

chapas metálicas perfuradas n° 16, com aproximadamente 20% de


perfuração, visando à distribuição uniforme do ar de secagem.
Para sustentação do piso (chapas metálicas), foi construído
um suporte em ferro CA50 de ½”, da altura da câmara plenum
(30 cm), de modo que ficasse apoiado sobre o piso de concreto
(Figura 14b).

(a) (b)

Figura 14 - Detalhes da base do silo secador-armazenador: (a)


base- câmara plenum; e (b) piso em chapa perfurada.

A Figura 15a mostra a instalação do piso de chapa perfurada


sobre a base de alvenaria, formando a câmara plenum. A base do
silo, com o piso já instalado, pode ser visto na figura 15b.

(a) (b)

Figura 15 - Montagem da base do silo: (a) colocação do piso


perfurado; e (b) piso fixado, formando a câmara
plenum

27
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

As paredes do silo foram projetadas de forma a reduzir os


custos e facilitar sua construção. Dessa forma, a estrutura da parede
do silo foi construída com uma armação de tela em arame n°14,
que foi envolvida por uma tela do tipo viveiro. A primeira tela deve
ser de malha menor ou igual a 50 mm (Figura 16). Essa tela de aço
foi amarrada com arame no piso perfurado e suas extremidades
unidas também por fios de arame. A tela do tipo cerca foi utilizada
para conter o produto e a do tipo viveiro, para facilitar a aplicação
da argamassa.

Figura 16 - Detalhe de fixação da armação telada ao piso


perfurado.

Na parte interior da armação de telas foi fixada uma lona


de plástico comum, para evitar o contato do produto com
argamassa, que é usada na construção da parede do silo secador-
armazenador (Figura 17a). Para evitar a saída de grãos por baixo
da lona plástica, na armação telada foi fixada, exteriormente, uma
cinta de contenção, confeccionada em chapa galvanizada n˚ 21
com 0,10 m de largura, na base da armação (Figura 17b).

28
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

(a) (b)

Figura 17 - Revestimento do silo secador-armazenador: (a)


internamente, com lona plástica; e (b) colocação da
cinta de contenção.

Na base do silo secador, após a colocação da cinta de


contenção, foi instalada a porta de descarga (Figura 18).

(a) (b)

Figura 18 - Silo secador-armazenador: (a) colocação da porta para


descarga; e (b) enchimento.

À medida que o silo secador-armazenador era carregado com


café, fez-se o revestimento exterior com argamassa, segundo as
recomendações de Silva et al. (2005) (Figura 19).

29
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

Figura 19 - Revestimento externo do silo secador–armazenador


com argamassa.

Após ser totalmente cheio, cobriu-se o silo secador-


armazenador com o excedente da lona plástica que revestiu o seu
interior, para facilitar o acabamento da parede, sem contaminar o
café.
Após a adição da primeira camada de café dentro do silo, o
ar ambiente já pode e deve ser insuflado pelo ventilador (Figura
20).

Figura 20 - Vistas gerais do silo, mostrando ventilador e porta de


descarga.

Para melhor compreender a construção do silo foi montado


um vídeo, disponibilizado na versão digital e na apresentação em
Power Point desse livro (ver CD do livro).

30
Secagem em Silos - Uma Nova Opção para o Café

6. Literatura Consultada

BROOKER, D.B.; BAKKER-ARKEMA, F.W.; HALL, C.W. Drying


and storage of grains and oilseeds. New York: AVI Book. 1992. 450 p.

FREIRE, André Tessari, MELO, E. C. ; BERBERT, P. A., SILVA, J. S.


Avaliação de um sistema para secagem de café despolpado
combinando altas e baixas temperaturas. Viçosa-MG: Engenharia
Agrícola, v. 18. 1999. p. 110-122,.

GUIMARÃES, A.C. Secagem de café (Coffea arabica L.) combinando


sistemas em altas e baixas temperaturas. Viçosa-MG: Universidade
Federal de Viçosa. 1995. 64p. Dissertação (Mestrado em Engenharia -
UFV).

LOPES, Roberto Precci, SILVA, Juarez de Sousa e, RUFFATO, Solenir,


SENA JUNIOR, Darly. Consumo de energia na secagem de cafe em
sistema combinado e a altas temperaturas. Uberaba-MG: Anais do I
Seminario Energia na Agricultura. 2000. p. 3-21-3-27.

SILVA, J.S. Secagem e armazenagem de produtos agrícolas. Viçosa-


MG: Editora Aprenda Fácil. 2000. 502p.

SILVA, J.S., DONZELES, S.M.L., LACERDA FILHO, A.F., PRECCI,


R.L., MACHADO, M.C., AFONSO, A.D.L. Manual de construção e
manejo de terreiros para secagem de café. Viçosa-MG: Engenharia na
Agricultura - Boletin técnico. 2000. 29p.

SILVA, J.S., MACHADO, M.C. Estado da arte da secagem de café no


Brasil. In: ZAMBOLIN, L. O estado da arte de tecnologias na produção
de café. Viçosa-MG: Suprema Gráfica e Editora. 2002. 568 p.

SILVA, J.S.; NOGUEIRA, R.M.; ROBERTO, C.D. Tecnologias de


secagem e armazenagem para a agricultura familiar. Viçosa-MG:
Suprema Gráfica e Editora. 2005. 138p.

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Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Café

O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café - CBP&D/Café - foi criado em 1997,


por dez instituições brasileiras de P&D do café, tendo a EMBRAPA como instituição coordenadora. O
preceito orientador da criação deste consórcio é o do somatório de recursos humanos, laboratoriais,
físicos e financeiros das instituições, com vista à concepção e execução de atividades de P&D em todas
as áreas da cadeia produtiva do café e na abrangência dos principais estados produtores.
O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café é uma congregação de instituições de
pesquisa e desenvolvimento para sustentação tecnológica do agronegócio Café no Brasil. Atualmente, as
atividades de P&D são desenvolvidas por 38 instituições brasileiras, abrangendo doze estados
produtores de café.

Fone: (61) 3349-6017

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