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3

capíTulo

A revolução russa
Bettmann/Corbis/Latinstock

para pensar historicaMente


p Populares de Petrogrado, adep-
tos da revolução, em foto de 1918.
reflexões sobre as experiências históricas
Na Revolução Russa, líderes do proletariado comandaram o proces-
so revolucionário, forçando uma ruptura social e política inédita cujos
desdobramentos se refletiram internacionalmente por todo o século XX.
Entretanto, como você estudará mais adiante, após os aconteci-
mentos de 1917 o movimento revolucionário não manteve coerência em
relação aos desafios postos pela sociedade soviética e pela comunidade
internacional.
Qual seria, então, o caráter do sistema soviético? Foi uma tentativa
malsucedida de criar uma sociedade sem classes? Teria sido uma forma
de resistir ao imperialismo capitalista, mas por meio de um novo tipo de
imperialismo?
A resposta a essas questões depende do critério que usamos, ou seja,
se avaliamos uma experiência histórica pelo que seus sujeitos dizem dela,
ou pelos resultados que efetivamente produziu. Ao estudar este capítulo,
reflita sobre as várias análises possíveis da Revolução Russa e de outros
processos históricos.

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A corrosão do czArismo russo
As contradições vividas pela Rússia no início Desde o final do século XIX, diversos imperado-
do século XX – muitas delas decorrentes dos valores res vinham adotando tímidas políticas moderniza-
impostos pelo Antigo Regime – chocavam-se com o doras. Entre elas estavam a abolição da servidão e o
mundo capitalista emergente. Os grandes proprietá- encorajamento de investimentos estrangeiros para
rios de terras, o clero e os oficiais do exército, no alto impulsionar a industrialização russa. Ao mesmo tem-
da pirâmide social, configuravam uma sociedade ba- po, a modernização industrial aumentava o contraste
seada na posse de terras e de títulos honoríficos. Man- entre a estrutura oligárquica que sustentava o czar e as
tendo uma estrutura que carregava muitos aspectos cidades modernizadas. Anarquistas e marxistas rus-
do mundo feudal, a sociedade russa não mostrava o sos difundiam suas ideias entre as populações urbanas
dinamismo de outras sociedades capitalistas. e rurais, e grandes greves operárias marcaram a Rússia
Os nobres proprietários possuíam a maior parte do começo do século XX. Além deles, outros sujeitos
das terras férteis e exploravam o trabalho dos campo- sociais se opunham à estrutura autoritária do czaris-
neses, que viviam em situação próxima da servidão. mo e todos concorreram para a Revolução de 1917.
Os monarcas da dinastia Romanov, no po-

Album/akg-images/Latinstock
der desde 1613, governavam de forma autoritária. O
czar se confundia com o Estado e agia politicamen-
te sustentado na grandeza imperial e voltado para a
ampliação de seu poder como déspota. Essa postura,
naturalmente, não satisfazia as aspirações burguesas
de industrialização e modernização.

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p Trabalhadores agrícolas russos, em foto de 1917.


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stock
Corbis/Latin
The Bridgeman Art Library/Keystone/Coleção particular

p Nicolau II em retrato de 1913.

A corrosão do czarismo, devido a seu caráter


despótico, em contraste com os regimes constitucio-
nais de muitas nações europeias, também se revelava
no plano internacional, no jogo de forças com outras
p A repressão contribuía para a manutenção do czarismo –
potências por domínios imperialistas, fragilizando
especialmente com a atuação da okrana (polícia política), seu poderio e debilitando o regime. O fracasso do czar
que intimidava as manifestações populares, perseguindo Nicolau II na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), ao
implacavelmente ou eliminando os opositores. Acima, uma disputar a Coreia e a Manchúria, acabou por incenti-
ilustração publicada em 1904 no jornal francês Le Petit, re-
presentando a repressão a uma manifestação popular em var as forças de oposição a intensificar o desagravo ao
são Petersburgo. despotismo dos Romanov.

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Ria Nowosti/Album/akg-images/Latinstock
A primeira evidência de im-
passe político se deu em 22 de
janeiro de 1905, quando uma ma-
nifestação popular em frente ao
palácio de inverno dos monarcas,
em São Petersburgo, foi reprimida
violentamente. Os manifestantes,
pacíficos e desarmados, queriam
uma entrevista com o czar para
lhe pedir a convocação de uma
Assembleia Constituinte e im-
plantação de melhores condições
de trabalho e regras trabalhistas.

são petersburgo foi mais tar-


de chamada de Petrogrado, p Na foto, forças militares reprimem a população em frente ao palácio de inverno
depois, de leningrado e, atual-
dos monarcas russos, em são Petersburgo, no dia 22 de janeiro de 1905. com o
mente, são Petersburgo, seu
nome de origem. domingo sangrento, como este dia fi cou conhecido, instalou-se o descrédito e a
revolta da nação russa com o estado czarista.

Apesar de não desrespeitarem a autoridade do Diante das crescentes manifestações, no mês


czar, para quem chegaram a cantar o hino da fideli- seguinte o czar lançou o Manifesto de Outubro, pro-
dade ao governo, Deus salve o czar, os manifestantes metendo a instauração de uma monarquia constitu-
acabaram sendo dizimados às centenas, por tropas cional e parlamentar. As agitações populares, tanto
de soldados e da polícia. O episódio ficou conhecido de trabalhadores da indústria como de camponeses,
como Domingo Sangrento. estimularam a formação dos sovietes – conselhos de
Depois disso, uma onda de protestos e intran- trabalhadores – em várias regiões da Rússia, o que ati-
quilidade espalhou-se pelo Império Russo, resultando vou a participação popular.
em uma greve geral e em levantes militares, como o
do encouraçado Potemkin, da esquadra do mar Ne-
gro. Essa situação obrigou o czar a assinar o Tratado
de Portsmouth, em 5 de setembro de 1905, pondo fim
ao conflito com o Japão. O país foi obrigado a entregar
ao vencedor a parte setentrional da ilha de Sacalina
e a península de Liaotung e a reconhecer os direitos
exclusivos dos japoneses sobre a Coreia.

o eNcouraçado POTEMKIN
Album/akg-images/Latinstock

O episódio envolvendo esse navio ocorreu na cidade de Odes-


sa. Sobre ele, o cineasta russo Serguei Eisenstein realizou em 1925
o filme O encouraçado Potemkin, para relembrar os vinte anos da
revolta de 1905 – ocasião em que marinheiros de um navio do czar
rebelaram-se contra a tirania de seus comandantes e assumiram o
controle da embarcação. A população de Odessa apoiou a revolta,
mas as forças repressoras do regime czarista esmagaram o movi-
mento com violência desmedida.

o encouraçado Potemkin foi construído em 1898 e serviu à P

marinha russa até 1918. Na foto, marinheiros amotinados a


bordo do navio, em 1905. esta foi mais uma demonstração
popular do descontentamento com o governo czarista.

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Adaptado de: PARKER, Geoffrey (Ed.). Atlas da história do mundo. São Paulo: Times Books/Folha de S.Paulo, 1995. p. 239.
Em 1906, Nicolau II cum- Áreas disputadas durante a Guerra russo-Japonesa (1904-1905)
priu a promessa de instaurar uma
Duma (parlamento), a fim de re- Vitórias do Japão em
áreas disputadas com
digir uma nova Constituição para a Rússia (1904-1905)
o país. Controlada por deputados
predominantemente originários Círculo Polar Ár
tico

das elites nacionais, a Duma, no


entanto, acabou ficando subme- Sacalina
OCEANO
PACÍFICO
tida à autoridade do czar, que au- IMPÉRIO RUSSO
mentou seus próprios poderes por
meio de decretos. As críticas dos Manchúria

parlamentares levaram-no, no ano Manchúria Mar do


do Sul Japão
seguinte, a dissolver a Duma. COREIA JAPÃO
Port Arthur
O movimento de abertura do
Allmaps/Arquivo da editora

CHINA
regime czarista mostrava-se osci- nce
r

de
lante, pendular. Em 1911 a reação Tró
pi co

absolutista se impôs novamente. 0 830 1 660


Taiwan
A monarquia autocrática czarista km 80° L (Formosa)

convivia com a Constituição, com


p mapa do Império Russo até o início do século XX. veja as áreas perdidas com o
a Duma e com os sovietes – todos,
Tratado de Portsmouth.
agora, sem poderes efetivos.
Entre os opositores do czarismo, destacaram-se A outra facção dos social-democratas russos
várias agremiações político-ideológicas, como os era a dos bolcheviques (do russo bolshe = “mais”, in-
narodnikis (populistas), os anarquistas (partidários dicando o caráter de maioria no mesmo congresso),
das ideias de Bakunin) e principalmente os social- que defendiam a revolução socialista, a instalação da
-democratas (defensores dos princípios marxistas). ditadura do proletariado, com a aliança de operários
Os social-democratas dividiram-se, a partir de e camponeses, e tinham como líder Vladimir Ilitch
1903, em duas facções. Os mencheviques (do russo Lênin.
menshe = “menos”, indicando sua presença minoritária A progressiva divisão dos social-democratas
no Congresso da Social-Democracia dos Trabalhadores levou-os à separação definitiva em 1914. Apesar dis-
Russos) caracterizavam-se como marxistas ortodoxos so, tanto bolcheviques como mencheviques conti-
e pregavam o desenvolvimento e o amadurecimento do nuavam a catalisar o crescente e generalizado des-
capitalismo para só então almejar o socialismo. Eram contentamento da população russa em relação ao
liderados por Gheorghi Plekhanov e Iulii Martov. czarismo.
Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock

A foto de maio de 1906


mostra o czar Nicolau II


abrindo os trabalhos da
duma no Palácio de Inver-
no de são Petersburgo.

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o colApso do czArismo
Membro da Tríplice Entente, juntamente com a aniquilada e economicamente desorganizada. Sua po-
Inglaterra e a França, a Rússia lutou contra a Alemanha pulação convivia com o desabastecimento e a escassez
e a Áustria-Hungria durante a Primeira Guerra Mun- de gêneros básicos. Em fevereiro de 1917, os trabalha-
dial, visando a conquistas territoriais. A guerra, porém, dores fizeram várias greves e manifestações, apoiadas
agravou as contradições sociais e políticas internas. por motins de soldados e marinheiros, o que acabou
As sucessivas derrotas da Rús- por gerar a deposição de Nicolau II.

Bettmann/Corbis/Latinstock
sia diante do poderio militar alemão,
pelas quais o czar foi responsabiliza- ∏ Grigorij efimovitch Novych, mais conhecido por
do, foram acompanhadas de deser- Rasputin (1871-1916), teve grande influência sobre
ções em massa de soldados da frente a corte de Nicolau II, especialmente sobre a czari-
na. era considerado um homem santo por ter sido
de batalha, favorecendo a organiza- capaz de curar o filho do czar, o príncipe herdeiro,
ção das oposições que se preparavam afetado por hemofilia. Rasputin angariou grande
para a insurreição. poder, nomeando ou destituindo ministros e altos
No final de 1916, após a conquis- funcionários do estado. Atraiu crescente rivalidade
e morreu assassinado em 30 de dezembro de 1916.
ta de boa parte de seu território pelos o caso Rasputin contribuiu bastante para a desmo-
alemães, a Rússia estava militarmente ralização do estado czarista de Nicolau II.

Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock
A revolução menchevique
Em março de 1917, foi instalada a República da Duma,
sob a chefia de um nobre politicamente moderado, o prín-
cipe Lvov, sobre o qual pesava a influência de Alexandre
Kerensky, líder menchevique. Kerensky era membro do Soviete
de Petrogrado, outro centro de poder criado logo após a queda
do czar, composto de operários, marinheiros e soldados.
Kerensky, no carro e de uniforme militar, P

inspeciona tropas no front de 1917.

Às vésperas da revolução

O clima de radicalização ao qual chegou a Rússia às vésperas muitas minas de carvão perto de Khárkov tinham sido incendiadas
da revolução é relatado pelo jornalista norte-americano John Reed, e inundadas por seus próprios donos, e que muitos engenheiros de
que mais tarde participaria do governo bolchevique: fábricas têxteis, antes de abandoná-las em poder dos operários,
Nós, americanos, custávamos a crer que a luta de classes destruíram suas máquinas. Empregados ferroviários haviam sido
fosse capaz de gerar ódios tão intensos. Vi oficiais da frente norte igualmente surpreendidos por trabalhadores quando inutilizavam
que preferiam abertamente uma catástrofe militar a qualquer en- suas locomotivas.
tendimento com os comitês de soldados. O secretário da seção dos Grande parte da burguesia preferia os alemães à revolução.
cadetes de Petrogrado garantiu-me que o descalabro econômico Nesse número, contava-se o próprio Governo Provisório, que não
geral era parte de um plano organizado para desmoralizar a revolu- escondia mais seu ponto de vista.
ção aos olhos das massas. Um diplomata aliado, cujo nome prometi REED, John. Os dez dias que abalaram o mundo. São Paulo:
não revelar, confirmou o que me dissera o oficial. Soube ainda que Círculo do Livro, 1984. p. 32.

Questões interdisciplinares

1. o
texto de John Reed é um exemplo de jornalismo literário. Pesquise as principais características desse gênero textual.
2. com base em sua pesquisa e na leitura do texto acima, você diria que o relato feito por John Reed sobre a Revo-
lução de outubro foi imparcial? Justifique.
3. As características do jornalismo literário prejudicam o uso desse tipo de texto como fonte documental para o
estudo da História? Justifique.

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Museu Central da Revolução/akg-images/IPress
Kerensky só assumiu efeti- Liderados por Vladimir Lênin
vamente o poder da Duma em e Leon Trótski, os bolcheviques ga-
julho de 1917, com a renúncia nharam popularidade com as Te-
de Lvov. Comprometido com a ses de abril. Sintetizadas na plata-
ideia de desenvolver o capitalis- forma de “Paz, terra e pão”, propu-
mo russo para depois lutar pelo nham a saída da Rússia do conflito,
socialismo, conforme pregavam a divisão das grandes propriedades
os mencheviques, ele manteve a entre os camponeses e a regulari-
Rússia na Primeira Guerra Mun- zação do abastecimento interno.
dial, atendendo aos compromis- Sob o lema “Todo poder aos sovie-
sos e ligações com a burguesia tes”, Trótski recrutou uma milícia
que o apoiava. Essa situação não revolucionária em Petrogrado, a
era apoiada pelos bolcheviques, Guarda Vermelha, entre trabalha-
que defendiam que a revolução dores bolcheviques dos sovietes.
proletária estava prestes a ocor-
∏ cartaz russo de 1920, alusivo à vitoriosa
rer, o que levaria à paz no plano união de operários e camponeses, tanto
internacional e às mudanças al- na revolução quanto na guerra civil que
mejadas no plano interno. se seguiu.

A revolução bolchevique
Em 7 de novembro (ou 25 de outubro, no ca- russos brancos). Com o apoio das potências aliadas,
lendário juliano, até então em vigor na Rússia), os que receavam a propagação da revolução de caráter
bolcheviques tomaram de assalto os departamentos popular pelo mundo, as duas facções mergulharam o
públicos e o Palácio de Inverno, em Petrogrado. Desti- país numa sangrenta guerra civil, que só terminou em
tuíram o governo republicano menchevique e em seu 1921, com a vitória dos bolcheviques (denominados
lugar criaram o Conselho de Comissários do Povo. russos vermelhos, por serem oriundos da Guarda
Assim, deram início ao novo governo russo, com Vermelha, que havia sido fundada por Trótski).
a publicação do primeiro documento oficial da revo-
Underwood & Underwood/Corbis/Latinstock

lução, “Apelo aos trabalhadores, soldados e campone-


ses”, redigido por Lênin e que transferia todo o poder
para os sovietes. No comando do conselho estavam
Vladimir Lênin, como presidente, Leon Trótski, como
encarregado dos negócios estrangeiros, e Josef Stálin,
chefiando os negócios internos.

o governo de vladimir lênin


(1917-1924)
De início, o novo governo nacionalizou as indús-
trias e os bancos estrangeiros, redistribuiu as terras
no campo e firmou um armistício com a Alemanha,
em Brest-Litovski. Para sair do conflito, a Rússia teve
de abrir mão de alguns territórios (Estônia, Letônia,
Lituânia, Finlândia, Ucrânia e Polônia). p As sucessivas derrotas russas na Primeira Guerra mundial
As mudanças nas estruturas tradicionais de aceleraram a decomposição do estado liberal menchevi-
poder, entretanto, ativaram a oposição dos menche- que. Na foto de 1925, Trótski discursa para tropas do exér-
viques e czaristas (que passaram a ser chamados de cito vermelho.

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Buyenlarge/Time Life Pictures/Getty Images
Durante a guerra civil, o go-
verno de Lênin adotou como polí-
tica econômica o comunismo de
guerra, caracterizado pela centra-
lização da produção e pela elimi-
nação da economia de mercado,
típica do capitalismo. Seu objetivo
era conseguir recursos para en-
frentar o cerco internacional e a
guerra contra os russos brancos e
seus aliados europeus. As requisi-
ções forçadas, com o confisco pelo
Estado da produção agrícola, fize-
ram desaparecer os procedimen-
tos de compra e venda de produ-
tos, tornando desnecessário até o
uso de moeda.
p derrotando os brancos com a cunha vermelha. Propaganda gráfica revolucionária,
Em 1921, apesar da vitória 1920.
bolchevique sobre os russos bran-
cos e aliados, surgiram sérias crises de abastecimento, Lênin justificava a inserção de componentes capi-
além de revoltas camponesas provocadas pelo confis- talistas na economia russa sob a alegação de que eram
co da produção agrícola. necessários para fortalecê-la e, desse modo, possibilitar
A fim de evitar o colapso total da economia a implantação do regime socialista. A NEP, que durou
após a guerra civil, Lênin instituiu a Nova Política até 1928, levou à recuperação parcial da economia so-
Econômica (NEP), um planejamento estatal sobre a viética e à reativação de setores fundamentais, fazendo
economia que combinava princípios socialistas com crescer a produção industrial e agrícola e o comércio.
elementos capitalistas. A NEP estimulava a pequena Em contraste com a relativa liberalização econô-
manufatura privada, o pequeno comércio e a venda mica, consolidou-se o centralismo governamental sob
livre de produtos pelos camponeses nos mercados. a supremacia do Partido Comunista Russo, nome dado
Pretendia, dessa forma, motivar a produção e garantir pelos bolcheviques, a partir de 1918, ao único partido
o abastecimento. permitido no país. Nesse mesmo ano foi elaborada
uma Constituição que criava a República Soviética So-
Bettmann/Corbis/Latinstock

cialista Russa e, em 1923, outra, que instituía a União


das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), mais
conhecida por União Soviética. Esse foi o resultado de
um acordo de união das diferentes regiões do antigo
Império Russo, convertidas em repúblicas federativas
e socialistas. Com a mudança do nome, o ex-partido
bolchevique transformou-se, em 1925, no Partido Co-
munista da União Soviética (PCUS).
Com a morte de Lênin, em 1924, o poder sovié-
tico foi disputado por Leon Trótski, chefe do exército,
e Josef Stálin, secretário-geral do Partido Comunista.
Trótski defendia a revolução permanente, que preten-
dia difundir o socialismo pelo mundo. Stálin pregava
a consolidação interna da revolução, a estruturação
de um Estado revolucionário forte e a implantação do
p vladimir Ilitch lênin comandou a Revolução Bolchevique e socialismo num só país, para então tentar expandir a
foi o primeiro presidente da Rússia socialista. Justificava revolução para a Europa. Stálin saiu vitorioso e, nos
os ingredientes capitalistas da NeP com a frase “dar um anos seguintes, marginalizou Trótski e seus seguido-
passo atrás para dar dois passos à frente”. Foto de data
desconhecida. res até eliminá-los.

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Allmaps/Arquivo da editora
urss (1923) 80° L

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OCEANO ÁRTICO

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Org. pelo autor.

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OCEANO
PACÍFICO

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Cáspio CHINA
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p A união das Repúblicas socialistas soviéticas em 1923.

o governo de Josef stálin (1924-1953)


A partir de 1928, a economia soviética, sob o Subordinada ao partido estava a polícia política
comando de Stálin, viveu a socialização total, com a revolucionária, organização chamada inicialmente
abolição da NEP e a instauração dos planos quinque- de Cheka e, depois, em 1922, transformada em GPU,
nais, que objetivavam modernizar e industrializar a a Administração Política do Estado, sob a chefia de
União Soviética. O primeiro deles (1928-1933) estava Stálin.
voltado para o aumento da produção de maneira glo-

Adaptado de: CAMERA, Augusto; FABIETTI, Renato. Elementi di storia – XX secolo. Bolonha: Zanichelli, 1999. p. 1.273.
bal, com o estímulo à industrialização, sobretudo na setor público e privado na rússia (1922-1931)
área da indústria pesada (siderurgia, maquinaria, etc.).
Cassiano Röda/Arquivo da editora

No meio rural foi feita a coletivização agrícola,


com duas formas de estabelecimento rural: os sovkhozes
(fazendas estatais) e os kolkhozes (cooperativas).
Ao ser implantado o segundo plano quinquenal,
na década de 1930, já se notavam os efeitos positivos
do primeiro plano: a indústria de base crescera apro-
ximadamente sete vezes em relação a 1928, e a indús-
tria de bens de consumo, quatro vezes.
O terceiro plano quinquenal, iniciado em 1938,
visava desenvolver a indústria especializada, espe-
cialmente a química, mas não pôde ser colocado em
prática devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial.
No plano político, Stálin consolidou seu poder
assumindo integralmente o controle do Partido Comu-
nista, transformado no poder máximo que supervisio-
nava todos os sovietes.
de 1922 a 1931 prevaleceu o encolhimento P

do setor privado em relação ao estatal.

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Centralizando todo o poder do Estado soviéti- expurgos de Moscou. Sem alarde ou protestos, que
co, Stálin livrou-se da oposição de Trótski, exilando- eram abafados pelo medo, muitos líderes políticos
-o em 1929. Mais tarde, principalmente entre 1936 e e cidadãos comuns foram aprisionados, executa-
1938, reafirmou sua autoridade ao afastar todos os dos ou mandados para prisões em regiões remotas,
potenciais opositores, recorrendo para isso a julga- como a Sibéria.
mentos, condenações, expulsões do partido e pu- Mesmo fora da União Soviética, Trótski conti-
nições – processos que ficaram conhecidos como nuou a fazer oposição ao governo stalinista, critican-
do os processos de Moscou e a farsa das retratações
de acusados, até ser assassinado por um agente da
Reprodução/Coleção particular, Londres, Inglaterra.

polícia política soviética no México, em 1940.


No plano externo, 65 partidos comunistas in-
ternacionais, representando mais de 3 milhões de
comunistas do mundo todo, apoiaram abertamente
a política stalinista no congresso da Internacional
Comunista (Komintern), ocorrido em 1935, em Mos-
cou. Um ano antes, a União Soviética já participava
da Liga das Nações, como prova de reconhecimento
diplomático por parte de vários países capitalistas
outrora aliados do exército russo branco.
Na década de 1930, a consolidação do governo
fascista de Benito Mussolini, na Itália, e a ascensão
do governo nazista de Adolf Hitler, na Alemanha,
provocariam uma alteração substancial na política
mundial, envolvendo a União Soviética nos conflitos
do período. O pacto anti-Komintern, assinado entre o
Japão, a Itália e a Alemanha, em 1936, tornava-se um
desafio não só à existência de um país sob o regime
comunista, mas também ao movimento operário in-
ternacional.

∏ manifesto propagandístico de stálin destacando a construção


de usina siderúrgica em moscou, em 1930.

Reprodução/Museu Lênin, Moscou, Rússia.

p Todos os membros dessa reunião do IX congresso do Pcus de 1920 assinalados na testa foram vítimas dos expurgos de stálin.

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para recordar: a revolução russa

mencheviques
congresso da
oposição política
social-democracia
bolcheviques
Guerra russo-Japonesa
czarisMo (1904-1905)
duma
nicolau ii revolução de 1905
sovietes

primeira Guerra Mundial

revolução

i revolução de Fevereiro - 1917

• Kerensky
• prosseguimento da guerra

3
• bolcheviques lênin: teses de abril

ii revolução de outubro - 1917

• fim da guerra: tratado de Brest-Litovsky


• guerra civil: brancos X vermelhos
comunismo de guerra
• NEP

implantação do
socialismo trótski (revolução permanente)
1924: morte de lênin
stálin (socialismo em um só país)

1924-1953
planificação total da economia

aTIvIdades
com base no esquema-resumo e nas informações do capítulo, faça as atividades a seguir:
1. caracterize a Rússia sob o ponto de vista político, econômico e social às vésperas da Revolução Russa.
2. explique de que maneira a participação da Rússia na Primeira Guerra mundial favoreceu a eclosão da Revolução
socialista.
3. explique as diferenças existentes entre os projetos políticos defendidos para a Rússia pós-revolucionária por Trótski
e por stálin.

A Revolução RussA 61

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