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Assédio Moral

na Universidade
Pública
Associação dos Docentes da UFF

Seção Sindical do Andes-SN


Filiado à CSP/Conlutas
Sumário
• É necessário compreender o assédio moral em sua totalidade ....... 5
• O que entendemos por assédio moral? ........................................ 8
• Por que o debate sobre assédio moral é atual? .......................... 9
• Como o assédio moral se manifesta no trabalho? ....................... 10
• Qualquer conflito no ambiente de trabalho ou aplicação de
penalidade ao trabalhador pode configurar assédio? ..................... 12
• Assédio moral e saúde do trabalhador ......................................... 13
• Há proteção legal para as vítimas? ............................................... 14
• O que fazer diante do problema? .................................................. 15
• Assédio moral pode gerar indenização? ....................................... 16
• Assédio moral pode gerar punição disciplinar (administrativa ou
trabalhista)? ........................................................................................ 16
• Quem pode ser responsabilizado pelo assédio moral? ............... 19


• Quem deve provar o assédio moral e que tipo de prova pode ser
usada? .................................................................................................. 20
• Pode ocorrer a inversão do ônus da prova para que o assediador
tenha que demonstrar sua inocência? .............................................. 21
• Como prevenir o problema? ........................................................... 22
• Já existem decisões judiciais sobre o assunto? ........................... 23

• Particularidades do assédio moral no serviço público e na


universidade pública .......................................................................... 24
• O papel do sindicato no enfrentamento ao assédio moral ........ 26
Associação dos Docentes da UFF

Associação dos Docentes da UFF


Seção Sindical do Andes-SN
Filiado à CSP/Conlutas Gestão Aduff em Movimento: de Luta e pela Base

Presidente: Renata Vereza


1º Vice-presidente: Gustavo França Gomes
2º Vice-presidente: Juarez Torres Duayer
Secretário-geral: Elizabeth Carta Vasconcelos Barbosa
1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso
1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo
2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior
Diretoria de Comunicação (Tit.): Paulo Cruz Terra
Diretoria de Comunicação (Supl.): Marcelo Badaró Mattos
Diretoria Política Sindical (Tit.): Sonia Lucio Rodrigues de Lima
Diretoria Política Sindical (Supl.): Wladimir Tadeu Baptista Soares
Diretoria Cultural (Tit.): Ceila Maria Ferreira Batista
Diretoria Cultural (Supl.): Leonardo Soares dos Santos
Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis
Diretoria Acadêmica (Supl.): Ana Livia Adriano

"Assédio Moral na Universidade Pública"/Aduff-SSind - março de 2016 - Rio de Janeiro (RJ)


Revisão: Eliane Salles, Hélcio Lourenço Filho e Aline Pereira
Projeto Gráfico: Gilson Castro
Diagramação: Gilson Castro e Marvyn Castro
Ilustração: Estevão Ribeiro
Comunicação Aduff-SSind
Jornalistas: Hélcio Lourenço Filho - Lara Abib - Aline Pereira
Impressão: WalPrint Gráfica e Editora – Tiragem: 5000 exemplares

Agradecimentos:
A Simone Silva, pesquisadora do Laboratório de Ética nas Relações de Trabalho e
Educação - Laberte-Bioética-UFRJ e aos companheiros do Grupo de Trabalho e
Seguridade Social da Aduff-SSind pela contribuição.
Esta cartilha foi elaborada tendo como base texto de Wagner Advogados Associados, que está presente
nas seguintes páginas: 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22 e 23.

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São Domingos - CEP 24210-590, Niterói, RJ
Telefone: (21) 3617-8200
É necessário compreender o
assédio moral em sua totalidade

N
dio moral se forjam no interior das rela-
os últimos anos, o debate sobre ções do trabalho assalariado, do proces-
assédio moral vem ganhando re- so de reprodução das formas de explo-
levância e visibilidade política. Pesquisa- ração, opressão e desigualdades vigentes
dores, militantes de sindicatos e de mo- na sociabilidade burguesa.
vimentos sociais e profissionais das mais O trabalho assalariado aliena o ho-
diversas áreas vêm produzindo análises mem de si mesmo, da sua atividade fun-
sobre esse fenômeno na tentativa de elu- damental, de sua relação com a própria
cidar seus componentes fundamentais espécie humana, transformando a vida
e construir estratégias de combate a genérica em vida individual. Nessa con-
essa prática tão recorrente no dição, aos trabalhadores é negado o aces-
mundo do trabalho. so a toda a riqueza material e espiritual
O trabalho Parece consensual que por eles produzidas. O assédio moral é
assalariado a discussão sobre assédio produto dessa condição estrutural de exis-
aliena o ho- moral esteja organica- tência, e é necessário compreendê-lo em
mem de si mes- mente vinculada ao sua totalidade para que nos afastemos das
trabalho. Certa- interpretações psicologizantes ou estrita-
mo, da sua atividade mente, não ao mente jurídicas que pautam boa parte dos
fundamental, de sua trabalho em estudos sobre essa prática.
relação com a própria seu sentido Estudos sobre o tema indicam tam-
espécie humana ontológico, – bém que as relações de trabalho nas ins-
compreendido sob tituições públicas têm sido, atualmente,
uma perspectiva crí- impactadas pela introdução de concep-
tica –, enquanto atividade ineli- ções que visam impor formas privatis-
minável, criadora da riqueza material tas e empresariais de gestão da força de
e cultural produzida pela humanidade e trabalho. Nesse contexto, a violação de
fonte de potencialidades do gênero hu- direitos, duramente conquistados pela
mano. Ao contrário, as práticas de assé- classe trabalhadora, ganha fôlego e se

Assédio Moral na Universidade Pública 5


reatualiza, o que, muitas vezes, leva à e a democracia é, portanto, um impera-
naturalização e à banalização do assé- tivo ético-político no combate ao assé-
dio moral. dio moral e a todas as práticas arbitrárias
Cabe à entidade sindical contribuir produzidas na universidade.
para aprofundar a crítica sobre essa vio- As formulações aqui expostas con-
lenta forma de controle e disciplinamen- figuram-se como uma resposta às de-
to, que atinge um número crescente de mandas apresentadas pelos docentes no
trabalhadores, para avançar na cons- cotidiano da Aduff-SSind. Apresenta-se,
trução coletiva da resistên- também, como produto do
cia e do combate ao au- acúmulo jurídico, teórico
toritarismo e à viola- As relações e político construído no
ção da dignidade do de trabalho nas insti- interior do Andes-SN e
trabalho docente. tuições públicas têm sido, da nossa central sindi-
É preciso que nos atualmente, impactadas pela cal, a CSP-Conlutas,
reconheçamos como bem como da leitu-
trabalhadores e, por-
introdução de concepções ra cuidadosa de vá-
tanto, vinculados às suas que visam impor formas rias pesquisas sobre
lutas por melhores condi- privatistas e empresa- a temática. Nesse
ções de trabalho e de vida, riais de gestão da força sentido, destacamos a
partilhando de suas poten- de trabalho importância das infor-
cialidades e vicissitudes. As mações apresentadas
con­sequências do assédio mo- na “Cartilha Informati-
ral no trabalho docente não podem va sobre Assédio Moral no
ser consideradas um problema individual, Mundo do Trabalho”, construída por
de quem sofre violações e co­er­­ções, mas Wagner Advogados Associados, cujos
uma questão coletiva, própria às classes trechos utilizaremos com as devidas re-
trabalhadoras. ferências neste texto.
Partindo dessa compreensão, apre- Que nos fortaleçamos na luta contra
sentamos à comunidade acadêmica este o assédio moral por uma educação pú-
documento, entendendo ser o debate blica, gratuita, de qualidade e por uma
um instrumento necessário aos trabalha- sociedade igualitária! Boa leitura!
dores e, em especial, aos docentes das
instituições federais de ensino, uma vez Diretoria da Aduff-SSind,
que a universidade é também um espaço gestão biênio 2014-2016
de disputa dos projetos que atravessam
as relações sociais. Defender a liberdade

Assédio Moral na Universidade Pública 7


O que entendemos
por assédio moral?

C onforme exposto anteriormente,


partimos da compreensão que o
assédio moral é um fenômeno de natu-
ciprocamente na totalidade dos proces-
sos históricos, compreendemos o assé-
dio moral como uma expressão das re-
reza estrutural que se localiza nas vio- lações sociais construídas na sociedade
lências produzidas no espaço das rela- capitalista. Por isso, reprodutora da vio-
ções de trabalho. Não se constitui como lência e dos valores funcionais à sociabi-
fato isolado e casual, mas sim dotado de lidade do capital, que afastam o trabalha-
intencionalidade. Envolve o poder de dor de seu potencial humanizador, por
controlar e disciplinar para tentar sub- meio de atitudes que tolhem, coíbem e
jugar. Caracteriza-se por ações realiza- retiram a capacidade desse de se desen-
das de forma repetitiva, por um ou mais volver e de se expressar e, muitas vezes,
chefes contra o subordinado, que im- de resistir coletivamente às situações de
põem a exposição dos (as) trabalhado- opressão.
res (as) a situações vexatórias, constran- A acentuação da prática do assédio
gedoras e humilhantes. A exposição à moral no cotidiano do trabalho do ser-
prática de assédio, além de interferir no vidor público do país revela, conforme
desempenho do trabalho, pode levar o mencionado, um traço das mudanças
trabalhador ao adoecimento. estruturais em curso após a contrarre-
Recuperando o entendimento que as forma neoliberal do estado que, vem
nossas práticas singulares inserem-se re- sendo operada desde os anos 1990.
Por que o debate sobre
assédio moral é atual?

A lgumas características são pecu-


liares ao momento atual de or-
ganização da sociedade capitalista, tal
mento do desemprego e a precarização
das condições de vida e de trabalho tor-
nam mais difícil a unidade na organi-
como o aumento do poder do capital zação ético-política dos trabalhadores e
sobre o trabalho. Para enfrentar a cri- inibem a construção de resistências co-
se estrutural do sistema, o empresaria- letivas frente à retirada dos direitos con-
do utiliza-se de estratégias para ajustar quistados pela classe trabalhadora. As-
as taxas de lucro, o que tem provocado sim, o significado do debate sobre assé-
a intensificação da exploração da força dio moral não se restringe à apropriação
de trabalho, o aumento do desemprego, dos componentes que atravessam a or-
a redução e o congelamento de salários, ganização do trabalho, mas também aos
as privatizações, a elevação de impostos, vetores ideopolíticos e culturais, que se
os cortes dos gastos sociais, a perda e a espalham na totalidade da vida social,
desregulamentação dos direitos sociais e nas formas de ser e de existir dos indi-
trabalhistas. A reestruturação produtiva víduos.
torna-se terreno fértil para o aumento
da competição entre os (as) trabalhado-
res (as), para a reprodução da intolerân-
cia, do individualismo, do autoritaris- 1. Levantamento do Ministério Público do Trabalho
mostra que casos de humilhação no trabalho aumentaram
mo e do assédio moral. Segundo a OIT 7,4% de 2012 para 2013. Nessa mesma perspectiva, o Tri-
(2014), 42% dos trabalhadores brasilei- bunal Superior do Trabalho divulgou, em março de 2014,
a existência de mais de 1,8 mil processos por assédio moral,
ros experienciaram o assédio moral1. o que representa 0,7% do total de processos distribuídos.
Diante de tais determinações, o au- (Ig, 9 de abril de 2014).

Assédio Moral na Universidade Pública 9


Como o assédio moral se
manifesta no trabalho?

D e acordo, com a “Cartilha In-


formativa sobre Assédio Moral
no Mundo do Trabalho”, elaborada por
• delegação de tarefas impossíveis de
serem cumpridas ou que normalmen-
te são desprezadas pelos outros;
Wagner Advogados Associados, as for- • determinação de prazo desnecessaria-
mas mais recorrentes de manifestações do mente exíguo para finalização de um
assédio moral são: trabalho;
• recusa na comunicação direta entre • não repasse de trabalho, deixando o
o assediador e o assediado, quando trabalhador ocioso, sem quaisquer ta-
aquele aceita se comunicar com esse refas a cumprir, o que provoca uma
apenas por e-mail ou bilhetes; sensação de inutilidade e incompetên-
• segregação física do trabalhador no cia e o coloca em uma situação humi-
ambiente de trabalho. Ou seja, casos lhante frente aos demais colegas de tra-
em que o mesmo é colocado em local balho;
isolado, com dificuldade de se comu- • fragilização, ridicularização, inferiori-
nicar com os demais colegas; zação e humilhação pública do traba-
• impedimento do trabalhador de se lhador, podendo os comentários in-
expressar, sem explicar os motivos; vadirem, inclusive, o espaço profis-
• despromoção injustificada (ou, no sional;
serviço público, a retirada de fun- • manipulação de informações de for-
ções gratificadas ou de cargos de co- ma a não serem repassadas ao traba-
missão), com o trabalhador perdendo lhador com a antecedência necessária;
vantagens ou postos que já tinha con- • troca de horários ou turnos do traba-
quistado; lhador sem aviso prévio;
• imposição de condições e regras de • estabelecimento de vigilância especi-
trabalho personalizadas ao trabalha- ficamente sobre o trabalhador consi-
dor, caso em que tarefas diferentes derado;
das dos demais, mais trabalhosas ou • contagem ou limitação do número de
mesmo inúteis, são cobradas de deter- vezes e do tempo em que o trabalha-
minada pessoa; dor permanece no banheiro;

10 Assédio Moral na Universidade Pública


• comentários de mau gosto quando o minados e segregados. Em relação a
trabalhador falta ao serviço para ir ao esses últimos, são comuns as seguin-
médico; proibição de tomar cafezinho tes posturas:
ou redução do horário das refeições; ►► ridicularização do doente e da
• advertência em razão de atestados sua doença;
médicos ou de reclamação de direitos; ►► controle das idas aos médicos;
• divulgação de boatos sobre a moral ►► colocação de outra pessoa no lu-
do trabalhador (com os homens, em gar do trabalhador que vai ao
grande parte das vezes, o assédio se médico para constrangê-lo em
manifesta através de piadas ou co- seu retorno. Muitas vezes, o
mentários sobre sua virilidade); substituto serve apenas para ob-
• imposição de sobrecarga de trabalho servar os demais trabalhadores,
ou impedimento de sua continuação, sem ter qualquer função especí-
deixando de prestar informações ne- fica;
cessárias; ►► não fornecimento ou retirada
• colocação de um trabalhador contro- dos instrumentos de trabalho;
lando o outro fora do contexto da es- ►► estimulação da discriminação
trutura hierárquica da empresa, espa- em relação aos adoecidos ou aci-
lhando assim a desconfiança e buscan- dentados, colocando-os em lo-
do evitar a solidariedade entre colegas. cais diferentes dos demais traba-
• As posturas de assédio têm como lhadores;
alvo frequente as mulheres e os tra- ►► dificultação da entrega de docu-
balhadores doentes ou que sofreram mentos necessários à realização
acidentes de trabalho, que são discri- de perícia médica.

Assédio Moral na Universidade Pública 11


Qualquer conflito no ambiente de
trabalho ou aplicação de penalidade ao
trabalhador pode configurar assédio?

É imprescindível destacar, neste


ponto, que o contrato de traba-
lho dá ao empregador o poder de direção
gados. Esse poder, entretanto, sujeita-se
aos limites legais.
Dessa forma, o exercício desses po-
e que o exercício desse, nos limites legais, deres pelo empregador, nos limites da lei
não configura assédio moral. e de forma a não causar constrangimen-
O poder de direção consiste na facul- tos e humilhações injustificadas ao tra-
dade atribuída ao empregador de deter- balhador, não configura assédio moral.
minar o modo como a atividade do em- Esse, como já referido, não está caracte-
pregado, em decorrência do contrato de rizado em todo conflito que porventu-
trabalho, deve ser exercida. Esse poder de ra ocorra no ambiente de trabalho, mas
direção manifesta-se de três formas: de somente nos casos em que o trabalha-
organização, de controle e de disciplina- dor fica sujeito a situações humilhantes,
mento do trabalhador geralmente repetidas e prolongadas, ou
O poder de organização da ativida- então únicas, mas extremamente graves,
de do empregado se dá em combinação de forma a causar-lhe sofrimento emo-
com os demais fatores de produção, ten- cional e físico.
do em vista os fins objetivados pela em- O mesmo ocorre no âmbito do ser-
presa. O poder de controle dá ao empre- viço público. A orientação e fiscaliza-
gador o direito de fiscalizar o trabalho ção do trabalho, bem como, por exem-
do empregado. Essa fiscalização não se plo, a aplicação de penalidades previstas
dá somente quanto ao modo como o tra- no RJU (Regime Jurídico Único - Lei
balho é exercido, mas também quanto 8.112/90), não configura, por si só, a prá-
ao comportamento do trabalhador no tica do assédio moral, o que só ocorrerá
ambiente de trabalho. Por fim, o poder se tais procedimentos forem levados a
disciplinar é o direito do empregador de efeito mediante constrangimentos e hu-
impor sanções disciplinares aos empre- milhações injustificadas do trabalhador.

12 Assédio Moral na Universidade Pública


Assédio moral e saúde
do trabalhador

naturalizado em suas práticas, sendo o


adoecimento a sua principal consequên-
cia para o indivíduo que o experimenta.
Dentre as marcas prejudiciais do as-
sédio moral na saúde do trabalhador,

H
Wagner Advogados Associados cita
istoricamente, a violência ob- as seguintes:
jetiva silenciar os indivíduos, • depressão, angústia, estresse,
coibindo desejos, opiniões, formas de crises de competência, crises de
vida. Embora se apresente como eixo choro, mal-estar físico e mental;
constituinte das sociedades de classe, • cansaço exagerado, falta de interesse
os impactos da violência costumam ser pelo trabalho, irritação constante, in-
individualizados e, por vezes, silencia- sônia, alterações no sono, pesadelos;
dos. Relatar fatos e memórias das ex- • diminuição da capacidade de concen-
periências violentas que vivenciamos tração e de memorização;
na família, no trabalho ou em quais- • isolamento, tristeza, redução da capaci-
quer outros espaços de relações sociais dade de se relacionar com outras pes-
é, ainda, um exercício difícil – ao mes- soas e fazer amizades, sensação nega-
mo tempo em que necessário –, numa tiva em relação ao futuro;
conjuntura que apela para naturaliza- • aumento de peso ou emagrecimento
ção da barbárie, o recrudescimento do exagerado, elevação da pressão arte-
conservadorismo e a reatualização de rial, problemas digestivos, tremores e
formas psicologizantes de enfrentar as palpitações;
contradições sociais. • sentimento de culpa e pensamentos
Assim, como uma expressão da suicidas, uso de álcool e drogas e ten-
violência, o assédio moral costuma ser tativa de suicídio.
Há proteção legal para as vítimas?

A legislação específica sobre assédio


moral, no Brasil, ainda está em fase
de construção. Existem várias leis e proje-
tos de lei sobre a questão. Nesse contexto,
constituir um advogado é fundamental.
Entretanto, já é possível pleitear a tutela dos
direitos do trabalhador com base no dano
moral trabalhista e no direito ao meio am-
biente de trabalho saudável, garantidos pela
Constituição Federal.

14 Assédio Moral - Fique por dentro


O que fazer diante do problema?

A primeira coisa a fazer é anotar


tudo o que acontece, fazer um
registro diário e detalhado do dia a dia
dentro do próprio órgão público. Procu-
rar o departamento de recursos huma-
nos para relatar os fatos é uma boa saí­
do trabalho, procurando, ao máximo, da. Também podem ser exigidas expli-
coletar e guardar provas do assédio (bi- cações do agressor por escrito, envian-
lhetes do assediador, documentos que do carta ao departamento de recursos
mostrem o repasse de tarefas impossí- humanos do órgão, guardando sempre
veis de serem cumpridas ou inúteis, do- comprovante do envio e da possível res-
cumentos que provem a perda de vanta- posta.
gens ou de postos etc.). Ao mesmo tempo, é necessário pro-
Além disso, procurar conversar com curar o sindicato, que pode contribuir
o agressor sempre na presença de teste- nessas situações através da busca pela
munhas, como um colega de confiança solução do conflito e prevenção de no-
ou mesmo um integrante do sindicato. vas situações dessa espécie. Porém, se
É importante também reforçar a solida- isso não resolver o problema, deve-
riedade no local de trabalho, como for- -se passar a uma próxima etapa: com o
ma de coibir o agressor, criando uma apoio de familiares, médicos, psicólogos
rede de resistência às condutas de assé- ou psiquiatras, procurar orientação jurí-
dio moral. dica junto ao sindicato da categoria para
Outro passo a ser dado é buscar ajuda denunciar a situação de assédio moral.

Assédio Moral na Universidade Pública 15


Assédio moral pode gerar indenização?

S im. Os danos sofridos pela vítima


podem gerar perdas de caráter ma-
terial e moral, surgindo o direito à in-
fica doente em função do assédio, ten-
do gastos com tratamento médico e me-
dicamentos); e b) os lucros cessantes (o
denização. Em muitos casos, a vítima que a vítima deixou de ganhar, como no
acaba por pedir demissão ou, no caso caso do servidor que pediu exoneração
de servidor público, exoneração, aban- porque foi assediado, deixando assim de
dona o emprego ou o cargo, o que deve receber seus vencimentos). Além disso,
ser indenizado. A indenização por da- pode haver indenização por danos mo-
nos materiais pode abranger: a) os danos rais, relativos ao sofrimento psicológico
emergentes (o que a vítima efetivamente que a vítima suportou em virtude do as-
perdeu, como no caso do servidor que sédio moral.

Assédio moral pode gerar punição


disciplinar (administrativa ou trabalhista)?

S im. No âmbito das relações ad-


ministrativas (ou seja, no servi-
ço público), o assediador pode receber
dico Único dos Servidores Públicos da
União, Autarquias e Fundações Públicas
Federais) não aborde claramente a ques-
punições disciplinares, de acordo com tão do assédio moral, a conduta do as-
o regramento próprio. Embora a Lei sediador pode ser enquadrada no RJU,
nº 8.112 de 1990 (RJU - Regime Jurí- pois afronta o dever de moralidade, po-

16 Assédio Moral na Universidade Pública


dendo constituir-se em incontinência de ze tarefas que não fazem parte de suas
conduta. atribuições. Assim, a prática do assédio
O RJU prevê, no Título IV, as con- moral contraria vários dos deveres atri-
dutas proibitivas e deveres do servidor, buídos por lei aos servidores públicos e
sendo alguns pertinentes ao tema. Em desrespeita proibições que lhes são im-
relação aos deveres impostos aos servi- postas.
dores, tem-se que a prática de assédio Nesse sentido, o RJU prevê também
moral provoca a violação do dever de penalidades disciplinares que podem
manter conduta compatível com a ser aplicadas aos servidores (artigo 127).
moralidade administrativa (arti- Dentre elas, advertência, suspensão, de-
go 116, inciso IX), de tratar as missão, cassação de aposentadoria ou
A lei pessoas com urbanidade (ar- disponibilidade, destituição de cargo
dispõe tigo 116, inciso XI) e de ser em comissão e de função comissionada.
ainda que, leal às instituições a que A lei dispõe ainda que, na aplicação das
na aplicação servir (artigo 116, inci- penalidades, serão consideradas a natu-
das penalidades, so II). Além disso, reza e a gravidade da infração cometida,
o RJU prevê que bem como os danos que ela causar ao
serão consideradas a é proibido ao serviço público, as circunstâncias agra-
natureza e a gravida- servidor pro- vantes e atenuantes e os antecedentes
de da infração cometida, mover ma- do servidor. Dessa forma, a gravidade
bem como os danos que ela n i fest ação da irregularidade cometida determinará
causar ao serviço público de apreço ou a gradação da sanção aplicável. Quanto
desapreço a essas penalidades, é importante desta-
no recinto da reparti- car que, dependendo da intensidade do
ção (artigo 117, inciso V) assédio moral e das situações em que é
e valer-se do cargo para lograr provei- praticado, pode até ocasionar a demis-
to pessoal ou de outrem em prejuízo da são do servidor assediador.
dignidade da função pública, proibições Isso porque uma das situações em
que são desrespeitadas em casos de assé- que está prevista a demissão do servidor
dio. Por fim, a proibição de que ao ser- é a de incontinência pública e conduta
vidor sejam designadas atribuições es- escandalosa na repartição. Ressalte-se
tranhas ao cargo que ocupa (artigo 117, que é assegurada a apuração criteriosa
inciso XVII), o que só é permitido em dos fatos, em sindicância e processo ad-
situações de emergência e transitórias, ministrativo disciplinar, na qual seja ga-
também é desrespeitada quando o asse- rantida a ampla defesa do servidor acu-
diador determina que o assediado reali- sado de assediador.

18 Assédio Moral na Universidade Pública


Quem pode ser
responsabilizado pelo
assédio moral? 2

C omo já foi referido, o assediador


pode ser responsabilizado na es-
fera civil (indenização por danos mate-
objetiva atribuída por lei (independente-
mente de prova de sua culpa). Compro-
vado o fato e o dano, cabe ao Estado
riais e morais) e administrativa/laboral indenizar a vítima, podendo, entretanto,
(desde a advertência até a demissão). Se processar o assediador, visando à repa-
o assediador for servidor público, o Es- ração dos prejuízos que sofrer.
tado (União Federal, estado ou muni- Tal afirmação encontra base na Cons-
cípio) pode ser responsabilizado pelos tituição Federal e no Código Civil.
danos materiais e morais sofridos pela
vítima, porque possui responsabilidade 2 . Wagner Advogados Associados.
Quem deve provar o assédio moral e que
tipo de prova pode ser usada? 3

A dificuldade quando se é vítima


de assédio moral é que ela é uma
agressão difícil de provar. O assediador,
validade das gravações telefônicas e am-
bientais, é possível também a sua realiza-
ção. Destaca-se que a indenização por
claro, nega a realidade da agressão, en- danos materiais depende da comprova-
quanto as testemunhas (que, em grande ção do fato (assédio), do prejuízo e da re-
parte das situações, são trabalhadores lação de causalidade entre eles. No caso
que se relacionam diariamente com o dos danos morais, a prova é do fato (as-
assediador) também não querem inter- sédio), isso porque não há como pro-
ferir, pois temem represálias eventuais. duzir prova da dor, do sofrimento, da
Ainda assim, o ônus da prova é de quem humilhação. Assim, uma vez provado o
a alega, ou seja, a vítima. Bilhetes e men- assédio, presumem-se os danos morais.
sagens eletrônicas são exemplos de pro-
vas que podem ser utilizadas.
Mesmo ante a discussão a respeito da 3. Conforme Wagner Advogados Associados.

20 Assédio Moral na Universidade Pública


Pode ocorrer a inversão do ônus da prova
para que o assediador tenha que
demonstrar sua inocência? 4

O ônus da prova pertence a quem


fez a alegação. (...) A inversão,
portanto, não se sustenta. O que há de
pelos atos de seus prepostos ou servido-
res, conforme o caso, devendo ocorrer,
entretanto, a prova do fato, do prejuízo
peculiar é apenas a situação da Admi- e da relação de causalidade entre ambos.
nistração Pública e do empregador no
que se refere à responsabilidade civil, na
qual é presumida a culpa dos mesmos 4. Conforme Wagner Advogados Associados.

Assédio Moral na Universidade Pública 21


Como prevenir o problema? 5

U ma forma eficiente de prevenção


é a realização de campanhas nas
empresas ou nos órgãos públicos para
forma de combate e prevenção do assé-
dio moral é a solidarização no ambiente
de trabalho: aquele que é testemunha de
divulgação das informações sobre assé- uma conduta de assédio deve procurar
dio moral, a fim de que o maior número fugir da “rede de silêncio” e conivência,
de trabalhadores esteja ciente desse tipo mostrando sua desconformidade com a
de conduta, de como agir diante dela conduta e sendo solidário com o cole-
e das suas possíveis consequências nas ga na busca de soluções para o proble-
esferas cível, trabalhista/administrativa ma. Mesmo porque quem hoje é teste-
e criminal. Dessa forma, estará sendo munha, em outra ocasião, pode estar na
possibilitada a criação de uma rede de situação de vítima do assédio, quando
resistência e solidariedade entre os tra- precisará contar com o apoio dos cole-
balhadores – o que, por si só, tem o efei- gas de trabalho.
to de intimidar os possíveis agressores.
Nesse sentido, cabe destacar que uma 5. Conforme Wagner Advogados Associados.

22 Assédio Moral na Universidade Pública


Já existem decisões
judiciais sobre o
assunto? 6

A pesar de ser um tema em início de discus-


são no Judiciário, existem decisões favo-
ráveis ao trabalhador, reconhecendo o direito de
buscar indenização pelos danos decorrentes da
prática do assédio moral.

6. Conforme Wagner Advogados Associados.


Particularidades do assédio moral no
serviço público e na universidade pública

E xistem diferentes formas de ma-


terializar o assédio moral nos es-
paços de trabalho. No serviço público,
carregados de situações perversas, com
pessoas e grupos que fazem verdadeiros
“plantões” de assédio moral.
especialmente nas universidades, essas Nesse ambiente, o assédio moral ten-
formas guardam particularidades. O se- de a ser mais frequente em razão de uma
tor público é um dos ambientes de traba- peculiaridade: o chefe não dispõe sobre
lho onde o assédio se apresenta de forma o vínculo funcional do servidor. Não
mais visível e marcante. Muitas repar- podendo demiti-lo, passa a persegui-lo.
tições públicas tendem a ser ambientes Agrega-se a isso, o fato de, no setor pú-
blico, muitas vezes, os chefes não serem pesquisa e extensão ainda reconheci-
eleitos, mas indicados em decorrência de das pelo departamento;
suas relações políticas e não por seu pre- • impedir que professores recém-in-
paro para o desempenho da função, o gressos possam opinar sobre a disci-
que tende a favorecer o aparecimento de plina que irão ministrar;
atitudes arbitrárias e prepotentes. • a ausência de reconhecimento institu-
As instituições públicas de ensino su- cional do vínculo entre o adoecimen-
perior não estão livres dessa violência. to e as condições e relações de traba-
Ao contrário, materializa-se na institui- lho dos docentes;
ção universitária a disputa entre projetos • a imposição de assinatura de ponto
antagônicos que exprimem as divisões diário para os professores7;
e contradições da sociedade como um • tentar impedir que professores substi-
todo. Nos dias atuais, o aumento cres- tutos ou em estágio probatório parti-
cente do assédio moral vincula-se à bus- cipem do movimento grevista da ca-
ca da adequação dos (as) trabalhadores tegoria8;
(as) (docentes e técnicos-administrati- • tentar coibir os professores de se filia-
vos) ao projeto de educação em curso. rem ao sindicato9.
No intuito de implementar uma política
educacional que visa combinar o cum- 7. O artigo 1º do Decreto nº 1.867/96 determina que os
servidores públicos federais da Administração Pública Fede-
primento de exigências produtivistas ral Direta, Autarquias e Fundações se submetam ao registro
com as precárias condições de trabalho, de ponto eletrônico. Ocorre que esse mesmo dispositivo ex-
cepciona aqueles que exercem atividades externas ou que se
os gestores recrudescem o autoritaris- enquadrem em uma das hipóteses previstas no parágrafo 7º
mo nas relações com os trabalhadores do artigo 6º do Decreto nº 1.590/95:
Art. 6º (...)
da universidade. Trata-se, na verdade, de § 7º São dispensados do controle de frequência os ocu-
práticas de assédio moral coletivo e ins- pantes de cargos:
a) de natureza especial;
titucionalizado, conforme denúncia da b) do Grupo Direção e Assessoramento Superiores -
Associação de Professores da Univer- DAS, iguais ou superiores ao nível 4;
c) de Direção-CD, hierarquicamente iguais ou superiores
sidade Federal do Paraná, que têm por a DAS 4 ou CD-3;
objetivo subordinar os trabalhadores da d) de pesquisador e tecnologista do plano de carreira para
a área de Ciência e Tecnologia;
universidade à lógica produtivista. e) de professor da carreira de Magistério Superior do Pla-
Ilustram essa prática: no Único de Classificação e Retribuição de Cargos e Em-

• a imposição aos docentes recém-in-


pregos. (...)
8. Ver cartilha Estágio Probatório da Aduff-Ssind. Ni-
terói/ 2010;
gressos de ministrarem mais disci- 9. O ordenamento jurídico brasileiro confere aos servido-
plinas que os outros, com a alegação, res públicos o direito à livre associação sindical, no art. 37, VI,
da Constituição Federal.
por exemplo, de que os mesmos não *
Wagner; Rambo e Spacil. Cartilha “Assédio Moral: a Mi-
tinham as necessárias atividades de croviolência do Cotidiano”, voltada para o serviço público.

Assédio Moral na Universidade Pública 25


O papel do sindicato no
enfrentamento ao assédio moral

C

abe ao sindicato combater o assé-
dio moral por meio de:
esclarecimento sobre o significado e as
• assessoramento jurídico e político à ví-
tima de assédio moral;
• cobrança aos gestores da instituição da
consequências do assédio moral para elaboração de uma política e de medi-
o trabalhador docente; das concretas de prevenção e combate

denúncia dos demais tipos de violên- ao assédio moral no trabalho. Após a
cia a que o (a) professor (a) venha a ser aprovação dessas medidas, o sindica-
submetido (a) em seu local de trabalho, to deve fiscalizar o seu cumprimento.
como as relacionadas ao machismo, ao
racismo e à homofobia;

26 Assédio Moral na Universidade Pública


Associação dos Docentes da UFF

Seção Sindical do Andes-SN


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