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Dados internacionais de Catalogagao 90-0131 ANIBAL PONCE EDUCACAO E LUTADE CLASSES usp) 18° edic¢ao S Sioa CariTULo I ‘A EDUCAGAO NA COMUNIDADE PRIMITIVA s trabalhos de Morgan’ a respeito dos fndios norte-americanos — tio admirados por Marx, a ponto de inspirar-lhe um livro que, aliés, apenas teve tempo de esbosar, mas que Engels consegu reconsiruir em frigem pré-histrica de todos o8 povos conhecidos. Coletividade pequena, assentada sobre a propriedade comu para a Tua cca psn aT gen Mesmo em tribos contemporaneas, como acontece no sudoeste de Vian, maias vee aio 0 oncontea nena ntrumeao. de produto além "de uma grosseira acha de pedra. Apenas com tais recursos, & 1. Morgan: La Sociedad Primtva 2. Engels: El Origen dele Familia, dela Propledad Privada y del Exado. No prslogo ds primeira ego, aparcida em 1884, Engels afmava que 0 sea lio consis a execu ‘de um letamento, na medida em que procera sprit, com difcaldade e beseado em ‘mo.pier de Marx, 0 livro que ele mio havin podido termina 3. A palavea. gens, que Morgan empregava para designar estas comunidades, signtica ‘engendnr ¢ lade ao carter de tm grupo que se jacta de ter uma ascendéncia comam. 7 perfeitamente compreensfvel que a tribo despenda todas as horas de cada dia s6 para ela consegui as nfo poderia ser ‘execugio de determinadas tarefas, que apenas um membro da ‘comunidade no podia realizar, dew lugar a um precoce comeco de divisio de trabalho de acordo ‘com as diferencas existentes entre 03 sex05,_mas sem 0 menor submetimento por parie das miulheres. Como debaixo do esmo teto viviam muitos membros da comunidade — c, as vezes, a ‘tibo inteira —, a dirego da economia doméstica, entregue te suulheres, no era, como acontece entre n6s, um assunto de natureza privada, e sim além de cuidarem do_acampamento, ¢ 6s gafanhotos que fazem parte da sua alimentagio, jes da igualdade dos scus direitos em comiparagio com que, segundo conta Paul Descamps, nfo dio formigas aos Seus fracassam nas suas cagadas..*, heres estavam em pé de igualdade om a5 FATES. ATEOS-F-anos, ar_a viver &s suas préprias expensas, as eriangas acompanhavam 0s adultos em todos os seus trabalhos, ajuda. vam-nos na medida das suas forgas ¢, como recompensa, recebiam a sua Porgio de alimentos como qualquer outro membro da comunidade. A_sua wa_conflada 4. ninguém.em.especial,e sim @ vigiléncia Mereé de uma insensivel e espontinea assimilaglo do a ctjanga ia pouco a pouco se amoldando aos padrées lo grupo. -A convivéncia diéria que mantinha com os adultos a introduzia nas crengas e nas priticas que 0 seu grupo social tinha por methores. Presa 2s costas da sua mic, metida dentro de um saco, a erianga percebia a vida da sociedade que a cercava e compartilhava dela, ajustando-se ao seu ritmo ¢ As suas normas c, como a sua mie andava sem cessar de um lado para 0 outro, 0 aleitamento durava virios Engels, ob. cit, pig. 46. ‘ 18 anos, a crianga.adquiria.a sua.primeica edueapéo.-sem-que.ninguém—a dirigisse expressamente.® Um pouco mais tarde, quando a ocasiio o exigia, os adultos cexplicavam as criangas como elas deveriam comportar-se em determi circunstincias. Usando uma terminologia a gosto dos educadores atuai dirfamos que, nas. comunidades primitivas..o_ensino era para a vida.e por meio da vida; para aprender a manejar 0 arcos a crianga cagava; para aprender a guiar um barco, navegaya. As criangas_se educavam tomando >parte nas fungdes da coletividede. E, porque tomavam parte nas fungdes sociais, elas se mantinham, néo obstante as diferengas naturais, no mesmo nivel que es adultos, ‘ Nunca eram as criangas castigadas durante © seu ‘xam-sia§ erescer com todas as suas qualidades e entregues ao seu préprio desenvolvimento — Bildung, como diriam séculos ais tarde Goethe ¢ Humboldt —, nem por isso as criangas deixavam de sdlulion to Hloricod uns’ a0s outros que Marx dizia, Gom justice, que sse encontravam ligados & comunidade por um verdadeiro “cordiio ‘momento de reflexio, como € que os adult tar virtude ‘de que a anarquia da infancia se. transformava.na disciplina da rmaturidade? Estamos tio acostumados a identifica a Facola com a Educagio, ¢ esta Com nogso individualista de wm educador e wm ‘educando, que ‘nos cusla um pouco reconhecer que a educagdo.na.comunidade primitiva fra uima fungdo espontinea da sociedade em conjunto, da mesma forma ue a linguagem e.a-moral. E, Bae nfo precisa recorrer a sfeakiuma institu ‘ambém devemos reconhecer como no menos fm que a tolaidade dos bens esid a disposiglo de todos, a silenciosa 6. Letourneau: L'Bvoluion de UBducaion dans les Diverses Races Humaines, pig. 39. 7. Deseams, ob. cit, pig. #2. 8. Mare: EI Capital, tomo 1, pig. $4, da wadugio de Juste

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