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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

A ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL

Geografia do Mundo Contemporâneo II

SÃO PAULO

2012
A ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL – WAGNER COSTA RIBEIRO

Em “A O Ordem Ambiental Internacional”, Wagner Costa Ribeiro faz uma abordagem


histórica das primeiras conferências ambientais, retratando os objetivos e
desdobramentos das primeiras reuniões que falam, sobre diferentes perspectivas, dos
problemas relacionados ao meio ambiente. Logo em seguida, apresenta com maior
profundidade a Eco-72, retratando os produtos desse encontro, como o PNUMA, e a
Eco-92, que disseminou a questão ambiental no meio internacional. Além disso, traz,
ao longo de seu texto, a importância do papel das organizações mundiais, como a
ONU, e também das Organizações não governamentais (ONG’s) dentro das questões
ambientais.

Acordos referentes ao meio ambiente tiveram sua origem no século XX. As premissas
podem ser encontradas em convenções realizadas em 1900, na Inglaterra, sobre a
proteção dos animais, devido aos abusos da caça, e sobre a proteção de aves úteis à
agricultura, entretanto, o primeiro congresso Internacional para proteção da Natureza
foi realizado em 1923, em Paris, comprovando que a questão ambiental não é uma
novidade do século XXI.

Nesse contexto do século XX, o autor destaca o Tratado do Antártico, analisando-o a


partir da perspectiva da Guerra Fria - isso porque, em 1955, os Estados Unidos e a
antiga URSS estabeleceram no continente bases científicas, numa tentativa de garantir
a exploração hegemônica da região-. Firmado em 1 de dezembro de 1959, o tratado
em questão tinha como finalidade organizar as ações antrópicas no continente e
regularizar a ocupação para priorizar a produção do conhecimento, uma vez que a
exploração deveria ser precedida por um conhecimento natural da região. Como afirma
o cientista político Villa, “as consequências de uma exploração econômica sem
conhecimento da dinâmica natural são imprevisíveis, podendo afetar todo o planeta”
(RIBEIRO, Wagner Costa, IN: A Ordem Ambiental Internacional, p. 58). Sendo assim, o
tema da segurança ambiental tornou-se um elemento importante no período.

Ainda no período em questão, é criada a Organização das Nações Unidas, que passou
a coordenar a maior parte das iniciativas que culminaram na ordem ambiental
internacional. O órgão foi criado com o intuito de evitar conflitos mundiais, que
poderiam ser desencadeados entre os países por falta de alimento ou recursos
naturais. Por isso, em 1945, é instituída a FAO( Food and Agriculture Organization),
que tinha como pólos de ação o controle da produção de alimentos e a conservação
dos recursos naturais.

Além da FAO, outra instituição que abordou as questões ambientais foi a UNESCO
(United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization). Fundada em 1946,
em Paris, a organização passou a interagir com organismos estatais, privados e não
governamentais, adotando, em relação aos debates ambientais, uma postura
conservacionista e não preservacionista, buscando meios racionais, fundados em
conhecimento científico e tecnológico, para uma apropriação cuidadosa dos recursos
naturais. Sua primeira votação foi para a Conferência das Nações Unidas para a
Conservação e a Utilização dos Recursos Ambientais (UNSCCUR), em 1949 nos
Estados Unidos, que buscou criar um discussão acadêmica sobre os problemas
ambientais.

Outra participação da UNESCO, também importante, foi na Conferência da Biosfera em


1968, em Paris, que produziu o programa interdisciplinar “O Homem e a Biosfera
(1970)”. Tal programa teve como objetivo central a aplicação de uma educação
ambiental, que aparece como a grande solução para o debate das questões
ambientais, uma vez que o homem na modernidade vê a natureza como algo exterior a
sua espécie, sendo analisada apenas pela perspectiva científica e tecnológica. A
educação ambiental, portanto, teria como objetivo reagrupar o homem e natureza -
mostrando a sua grande importância- e transformar o ambientalismo em mais que um
mero produto do capitalismo verde.

Dentro dessa temática, a UNESCO realizou ainda Conferências sobre e a Educação


Ambiental. Elas aconteceram em 1975 na Iugoslávia, em 1977 na Geórgia e a outra em
1987, com a finalidade de estabelecer estratégias acerca da interdisciplinaridade e
métodos pedagógicos que possibilitassem uma compreensão das complexas relações
entre desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente.

Wagner aborda, em seguida, “A Conferência de Estocolmo”, uma das reuniões de


maior importância no contexto internacional, mostrando como ela foi organizada e
quais foram suas conclusões. A Conferência, também conhecida como Eco-72, ocorreu
por uma indicação do Conselho Econômico Social das Nações Unidas (ECOSOC).

Um ponto abordado na conferência foi o problema do crescimento populacional,


através de uma releitura da teoria Malthusiana. O Clube de Roma - formado por
diversos estudiosos que buscavam um diagnóstico para a situação ambiental - propôs
como solução para tal problema o crescimento zero, uma vez que analisavam os
problemas ambientais como resultados de um desequilíbrio na natalidade decorrente
dos países em desenvolvimentos. Em contraste com essa posição, outra tese foi
proposta: a desenvolvimentista, que reivindicava o desenvolvimento obtido pelas
atividades industriais.

A novidade na Eco-72 foi a participação das ONG’s que organizaram um Fórum do


Meio para expressar suas reivindicações, uma vez que foram proibidas de assistir às
sessões oficiais. A Conferência também gerou um Plano de Ação, e para viabiliza-lo foi
criado o PNUMA ( Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), com a sede
foi instalada no Quênia - o que gerou grandes polêmicas por estar fora do eixo de
poder e de contato com a mídia -. Ainda com a finalidade de efetuar as metas
propostas na Eco-72, dentro do PNUMA foram criados o Programa Ambiental Global,
visando uma rede de informações; o Programa de Administração Ambiental, a fim de
implementar convenções e normas acercas dos debates, além de medidas de apoio
baseadas na capacitação de técnicos.

Em 1982, entretanto, ocorreu a Conferência de Nairobi para avaliar o PNUMA. Alguns


técnicos afirmavam que o mundo estava pior do que em 72 e criticavam o fato de muito
pouco das propostas desenvolvidas terem se tornado realidade. Nesse momento, muito
se falava da pobreza como a causa da degradação ambiental, colocando o peso maior
sobre os países periféricos, mas pouco se abordava sobre a política de consumo em
massa estabelecida pelos países centrais. A questão da degradação ambiental,
relacionada à injustiça social, deveria ser analisada dentro um contexto político. Ficou,
então, reconhecido o fracasso do PNUMA e foi preconizado o conceito de
desenvolvimento sustentável. Não era a primeira vez que o termo desenvolvimento
sustentável aparecia, ele foi construído por muito tempo, já sendo usado desde 1974
na Declaração de Coyoco no México, deixando evidente a necessidade de uma
mudança no modelo desenvolvimento.

Em suma, a Eco-72 teve grandes propostas, mas pouco foi realizado, uma vez que os
países ainda priorizavam seus interesses nacionais frente aos problemas de ordem
internacional. As medidas debatidas na conferência foram fundamentadas na tradição
do realismo político, que prevê a manutenção da soberania para cada Estado, ou seja,
a liberdade de cada um deles em estabelecer medidas para a conservação dos
habitats naturais

Além do realismo político, outro impasse existia entre os países desenvolvidos e em


desenvolvimento, porque ao mesmo tempo em que se culpavam os países periféricos
por seu grande contingente populacional, descuidos com os recursos naturais, pouco
era feito também pelos países industrializados que continuavam a emitir gases
poluentes e a consumir cada vez mais.

No período entre o fim da Eco-72 para o início da Eco-92, por sua vez, o autor aborda
outras Convenções que tiveram como pauta as questões ambientais, como a
Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna em Perigo
de Extinção(CITES), a Convenção sobre Poluição Fronteiriça de Longo Alcance (CPT),
a Convenção de Viena para a proteção da Camada de Ozônio(CV), o Protocolo de
Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio(PM) e a Convenção
da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e
seu Depósito.
Foi, então, a partir da deliberação de uma Assembleia Geral das Nações Unidas, em
1988, que ficou programado o estabelecimento de uma conferência que abordasse os
problemas referentes à conservação ambiental e desenvolvimento. Em 1989, o Brasil
ficou definido como sede dessa convenção que se realizou em 1992, recebendo o
nome de Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Houve uma grande mobilização política de diversos estados-nação para atender o


objetivo de tal conferência com a finalidade de promover o restabelecimento de
acordos internacionais que mediassem as ações humanas no meio ambiente e, ao
contrário da Eco-72, em que as ONG’s não participaram das sessões oficiais, na
CNUMAD a sociedade civil, por meio dessas organizações, teve acesso às discussões
estabelecidas entre os Estados.

A CNUMAD, com o objetivo de estabelecer a ordem ambiental global, focou em dois


aspectos: a segurança ambiental global e o desenvolvimento sustentável. O primeiro
termo visa à reflexão sobre a necessidade de manter as condições de reprodução da
vida humana na Terra na forma de uma conscientização ambiental. Enquanto o
segundo busca formas sustentáveis de exercer o desenvolvimento por meio do uso dos
recursos naturais com técnicas de manejo ambiental, do combate ao desperdício e à
poluição.

O conceito de segurança ambiental global, por sua vez, é a base para implementação
de ideias políticas. Entretanto, há um descompasso entre os políticos e cientistas, uma
vez que os políticos ao mesmo tempo em que não sabem ao certo quais são os
problemas ambientais, priorizam o crescimento econômico, ideia também expressa na
obra de Bruno Latour. Isso, segundo o autor, faz com que as conferências que buscam
o debate sobre os problemas ambientais sejam vazias e inócuas.

Wagner Costa Ribeiro cita, também, ao decorrer da obra, as ideias de Villa, que
defende que a questão ambiental deve ser um assunto das relações internacionais,
pois cada país dentro dos seus interesses nacionais deve entrar em um acordo para
essa questão de ordem global ser resolvida dentro da diplomacia, ressaltando que os
países não podem, ao discutir os problemas de ordem ambiental, estabelecer uma
relação de acréscimo de poder, mas devem trabalhar em conjunto. Sendo assim, o
conceito de segurança ambiental envolve um processo de conscientização sobre a
natureza e também de respeito aos homens. Isso porque as mudanças necessárias
para preservação do meio ambiente devem ser desenvolvidas por todos os Estados,
dentre o meio diplomático.

Na visão do autor, para que esses resultados sejam efetivos seria necessária uma
movimentação global, mas os Estados só buscam salvaguardar seus interesses
nacionais. Sendo assim, todo o processo por buscas de soluções, vira uma mera
retórica. Wagner Costa Ribeiro afirma que “O que efetivamente tem prevalecido são as
vantagens econômicas e políticas que os países podem auferir a cada rodada de
negociações.”( P. 109). Para preservar a natureza é preciso que o homem se adapte a
ela, ou como o autor Sachs afirma “entrar no jogo da natureza” (P111).

A Eco-92 priorizou, também, o discurso já construído por outras conferências do


desenvolvimento sustentável. O grande problema quando se fala desse conceito é o
paradoxo existente entre a sustentabilidade e o avanço de produção, tornando-o como
um discurso o um tanto quanto vago. Dentre os dois eixos principais, de
desenvolvimento sustentável e segurança ambiental, A Eco-92 também abordou a
conservação de biodiversidade ecológica, as mudanças climáticas e os instrumentos
de financiamento para projetos de recuperação ambiental. Entretanto, o autor critica o
fato de não ter havido uma abordagem sobre os modelos de desenvolvimento que são
prejudicais ao meio ambiente, sendo assim, a reunião buscava apresentar soluções
sem discutir as causas dos problemas. Quanto aos produtos da CNUMAD, estão
presentes: a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção sobre a
Diversidade Biológica, a Declaração do Rio, a Declaração de Florestas e a Agenda
XXI.

Ao falar sobre a Convenção da Diversidade Biológica, o autor define biotecnologia


como o “emprego de todo e qualquer processo biológico que altere as condições de um
ser vivo” (RIBEIRO, Wagner Costa, IN: A Ordem Ambiental Internacional, p.117)
Wagner afirma que a biotecnologia deve ser regularizada, pois ao mesmo tempo em
que traz grandes avanços, envolve uma questão ética. Assim como Bruno Latour e
Carlos Walter Porto-Gonçalves, o autor alerta sobre os interesses envolvidos dentro
das pesquisas científicas, pois muitas vezes, os investidores definem os rumos para os
novos resultados, que podem ser usados tanto de forma benéfica como negativa. A
Convenção buscou unir os países que possuiam a tecnologia e financiavam tais
recursos, como os Estados Unidos, e os países que possuiam as matrizes naturais,
como a Malásia. Entretanto os EUA não assinaram a convenção por lucarem com os
usos da patentes.

Sobre as mudanças climáticas, a ONU pediu em 1990 um estudo chamado de


Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC). Como esse relatório não ficou
pronto até a Eco-92, os problemas sobre a ordem climática foram tratados com
superficialidade. Quando o IPCC chegou às suas conclusões finais, foi convocada a
Convenção de Mudanças Climáticas em que ficou comprovado que a temperatura
média de Terra estava se elevando e que havia maior presença de gases que
intensificam o efeito estufa na atmosfera - fatores que afetam as dinâmicas dos
sistemas naturais -.
Diante de tais resultados, duas correntes apareceram, uma afirmando que esses
resultados eram consequências da ação do homem e outra que os atribuiac como
resultados de processos naturais terrestres. O autor afirma que não houve o
estabelecimento de uma solução, mas apenas uma meta para que a emissão dos
gases causadores do efeito estuda fossem as mesmas de 1990. Entretanto, novamente
os EUA e os produtores de petróleo não assinaram.

Por fim, na CNUMAD( Rio-92), foi criado um plano de ação para o futuro que pretendia
minimizar os problemas ambientais mundiais e que contava com a participação de
crianças, mulheres e comunidades locais, para transmitir a ideia de integração,
recebendo o nome de Agenda XXI. Nela ficou definido como recursos para as medidas
necessárias, baseadas no desenvolvimento sustentável, seriam captados. A Agenda
XXI trouxe também como temática o problema da pobreza e preservação das
comunidades locais, porque ao analisá-las seria possível ter um modelo para o uso da
natureza de forma adequada. Ela retoma a ideia da Conferência de Estocolmo de
destinar uma parte do PIB para os países periféricos preservarem seus recursos
naturais, uma vez que eles em grande parte são exportadores de matérias primas. O
autor, no entanto, critica a falta de uma data para tais medidas se tornarem efetivas, o
que faz da Agenda XXI muito mais um discurso do que um efetivo plano de ação.

Tal participação da sociedade civil na CNUMAD ocorreu por meio do Fórum


Internacional das ONG’s e Movimentos Sociais no Âmbito do Fórum Global, que
abordava, de forma crítica, os assuntos oficiais da Conferência no Rio, também
apelando para que as questões sociais, relacionadas a pobreza fossem abordados na
reunião oficial.

Logo em seguida, com o intuito de averiguar os resultados da Eco-92, os chefes de


estado realizaram o Earth Summit no ano de 1997, em NY, e os resultados foram
novamente desanimadores, porque pouco tinha sido realizado. Entretanto, fora
reconhecida a importância da CNUMAD para difundir a temática ambiental pelo mundo.
As ONG’s, por sua vez, também fizeram uma reunião fechada, conhecida como Rio+5,
para analisar o que foi implementado pós CNUMAD.

Após essas conferências, os debates sobre a biossegurança e as mudanças climáticas


tornaram-se o foco da questão ambiental. Diversas outras foram realizadas para
analisar a questão ética acerca da biossegurança, que engloba a clonagem de seres
vivos, mudanças genéticas e também o uso de patentes.

Quanto aos embates sobre as mudanças climáticas, o Protocolo de Kyoto foi o que
obteve maior destaque no meio internacional. Nesse momento duas ideias obtiveram
destaque: uma que transformava a emissão de gases do efeito estufa em um negócio,
através dos créditos de carbono já apresentados no Protocolo de Montreal, e a outra,
idealizada pelo Brasil, que apoiava um fundo para pesquisas ambientais que tinham
como proposta reduzir os índices de gases poluentes, principalmente nos países
desenvolvidos. Entretanto, os países com maiores índices de poluição, como EUA, não
assinaram tal tratado priorizando seu desenvolvimento econômico.

Ao final de tantas convenções, protocolos e conferências fica evidente que o discurso


sobre os problemas ambientais foi ganhando destaque no meio internacional. Porém,
quando se fala em resultados efetivos, pouco se avançou. Os interesses econômicos
nacionais ainda são prioridades, e até o momento atual não há um novo modelo de
produção que não se aproprie da natureza para o crescimento.O maior avanço dentro
dessa temática de importância global é a crescente participação da sociedade civil,
organizada por meio de ONG’s, nas reuniões oficiais e no trabalho de educação
ambiental.

Por fim, dialongando com textos anteriores, como “Políticas da Natureza”, de Bruno
Latour, o autor Wagner Costa Ribeiro também problematiza a questão do
conhecimento da ordem ambiental enquanto resultado de uma fragmentação da
Ciência, por sua vez, que acaba monopolizada por um pequeno grupo de cientistas e
políticos. Da mesma forma, o texto “A Ordem Ambiental Internacional” possui
intertextualidade com a obra de Carlos Walter Porto-Gonçalves, “ A Globalização da
Natureza e a Natureza da Globalização”, pois ambos acreditam que o desenvolvimento
sustentável é um termo contraditório, já que o desenvolvimento econômico é fruto da
dominação e do uso dos recursos naturais, finalizando, portanto, com a ideia de que o
sistema socioeconômico vigente se faz incompatível à preservação da natureza. Como
enfatizado por Ribeiro, as medidas até então têm abordado soluções para os efeitos,
ignorando as causas de tamanha defasagem ambiental.

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