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DIVERSIDADE E CIDADANIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você
encontrará dicas, textos complementares, observações e atividades que lhe
darão uma maior compreensão dos temas a serem abordados.
Assista ao vídeo
desta unidade.
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UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Os direitos humanos foram criados para garantir aos cidadãos uma vida
plena, ou seja, os direitos humanos garantem, pelo reconhecimento das leis, dos
Estados e do povo, a cidadania através dos direitos civis, políticos e sociais.
2 DIVERSIDADE E CIDADANIA
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO
FONTE: A autora
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
E
IMPORTANT
Toda pessoa tem direita à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O
ensino técnico e profissional deve ser generalizado, o acesso aos estudos superiores deve
estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao esforço dos direitos
do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância
e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipo de educação que será dadas aos
seus filhos.
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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
3 DIREITOS E CIDADANIA
A cidadania ganhou espaço no debate social com a luta pelos direitos civis
nos séculos XVII e XVIII. Os direitos civis estavam ligados à garantia da liberdade
de expressão, da liberdade religiosa, de ir e vir, da propriedade privada e escolha
de emprego. Os direitos passaram a ser incluídos nas legislações europeias, porém,
a noção de cidadania vigente amparava as elites em detrimento do restante da
população (MARSHALL, 1967).
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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
É preciso, ainda, ressaltar a visão de senso comum da luta pela cidadania como
garantia de privilégios àqueles que pela meritocracia não os alcançaram. Essa visão
ignora as desigualdades promovidas pela estratificação social e as dívidas históricas,
por exemplo, em relação à escravidão e questão dos afrodescendentes no Brasil.
É importante uma parada para reflexão. A charge a seguir mostra que nossa
sociedade não está preparada para a plena inclusão social. Quais são os desafios
que você observa para a inclusão em nosso país, no seu estado, no município e no
seu bairro?
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TÓPICO 1 | DIVERSIDADE COMO DIREITO: A INCLUSÃO COMO GARANTIA DA IGUALDADE E DIGNIDADE DO INDIVÍDUO
LEITURA COMPLEMENTAR
FONTE: Parâmetros Curriculares Nacionais – vol. 10 Pluralidade Cultural. Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro101.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2015.
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
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AUTOATIVIDADE
I – Direitos civis.
II – Direitos políticos.
III – Direitos sociais.
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( ) A igualdade material representa a fórmula todos são iguais perante a lei.
( ) A justiça social e distributiva representa a igualdade formal.
( ) A igualdade formal representou o fim de privilégios sociais.
( ) A igualdade material representa o reconhecimento das identidades.
( ) Os critérios de raça, etnia e gênero dizem respeito à igualdade material.
Assista ao vídeo de
resolução da questão 2
Assista ao vídeo de
resolução da questão 3
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UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O termo diversidade ganha espaço em diferentes abordagens e contextos
sociais. A multiplicidade das relações sociais se constituiu ao longo do tempo como
um campo fértil para debates teóricos e lutas dos movimentos sociais em busca de
direitos e reconhecimento de suas identidades.
FIGURA 9 - DIVERSIDADE
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE
DICAS
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
DICAS
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TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE
Diante do exposto, fica claro o desafio que essas relações significam para a
educação. E, ao mesmo tempo, como a educação e a produção do conhecimento só
podem ser construídas através do diálogo e do contato com o outro, com a dúvida
e com as necessidades sociais que promovem as inovações.
NOTA
O que é etnocentrismo?
Etnocentrismo é uma visão do mundo em que o nosso próprio grupo é tomado como
centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores,
nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser
visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de
estranheza, medo, hostilidade etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar
sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto
elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano
– sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente
arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia a dia
das nossas vidas. Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa
como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim,
pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos,
imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. Este
problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez
o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade. Como
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
E
IMPORTANT
Novos dados do Censo Demográfico 2010 divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira, dia
17, mostram que a desigualdade racial diminuiu pouco no Brasil no que se refere à educação
e renda. Os brancos, assim como no Censo de 2000, seguem recebendo salários mais altos e
estudando mais que os negros (pretos e pardos).
Essa realidade é mais acentuada na região Sudeste do país, onde os rendimentos recebidos
pelos brancos correspondem ao dobro dos pagos aos pretos. A menor diferença é observada
na região Sul, onde a população branca ganha 70% mais que aquela que se autodeclarou preta.
A pesquisa mostra também que os brancos dominam o Ensino Superior no país e que ainda
há diferenças relevantes na taxa de analfabetismo entre as categorias de cor e raça. Enquanto
para o total da população a taxa de analfabetismo é de 9,6%, entre os brancos esse índice cai
para 5,9%. Já entre pardos e pretos a taxa sobe para 13% e 14,4%, respectivamente.
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TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE
Outro dado revelado mostra que cerca de 70% da população brasileira tem relacionamentos
amorosos com pessoas do mesmo grupo de cor ou raça. Entre os brancos, grupo mais
“fechado”, 69,3% se unem a pessoas da mesma cor. Eles são seguidos pelos pardos, com
68,5%, indígenas (65%) e pretos (45,1%).
Quanto à escolha de parceiros relacionada ao grau de escolaridade, a pesquisa revela
que a maioria dos homens (82,9%) e das mulheres (85,3%) sem instrução ou com Ensino
Fundamental incompleto se relacionam com pessoas com a mesma situação educacional.
Em números gerais, 68,2% das pessoas uniram-se a outras de mesmo nível de instrução (em
2000, esse percentual era de 63%), sendo que 47% dos homens com diploma universitário
escolhem parceiras com o mesmo grau de escolaridade. No caso das mulheres, o índice
sobe para 51,2%.
TUROS
ESTUDOS FU
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
DICAS
Queer é uma palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos. Na Inglaterra havia até
uma “Queer Street”, onde viviam, em Londres, os vagabundos, os endividados, as prostitutas
e todos os tipos de pervertidos e devassos que aquela sociedade poderia permitir. O termo
ganhou o sentido de “viadinho, sapatão, mariconha, marimacho” com a prisão de Oscar
Wilde, o primeiro ilustre a ser chamado de “queer”.
Desde então, o termo passou a ser usado como ofensa, tanto para homossexuais, quanto
para travestis, transexuais e todas as pessoas que desviavam da norma cis-heterossexual.
Queer era o termo para os “desviantes”. Não há em português um sinônimo claro. Talvez,
como propõe a professora Berenice Bento, possamos pensar o queer como “transviado”.
Para saber mais sobre a teoria queer e suas implicações nas discussões de gênero, leia a
reportagem completa no link abaixo.
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TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE
DICAS
O premiado filme de Daniel Ribeiro poderia ser apenas mais uma obra sobre o despertar
da sexualidade na adolescência, se não fosse por duas importantes variantes: Léo, o
protagonista, é cego e começa a gostar de Gabriel, um estudante de sua sala, de quem se
torna amigo. Claudia Mogadouro selecionou o filme em sua lista de 15 filmes nacionais para
crianças e adolescentes verem em cada momento do desenvolvimento.
Segundo a especialista, é uma boa obra para passar para estudantes do Ensino Médio. “O
tema da homossexualidade pode trazer nervosismo e, com isso, piadas de mau gosto.
Sem reprimi-las, sugere-se que as aproveite para discutir a homofobia em nossa cultura.
O filme também trata do desejo de autonomia em relação aos pais, o que é comum
entre os adolescentes. Mas a deficiência visual de Léo potencializa esse problema, dando
a oportunidade de se discutir a relativa e crescente autonomia que os adolescentes vão
conquistando à medida que amadurecem”.
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
Exclusão política:
Exclusão social:
ATENCAO
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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TÓPICO 2 | DIVERSIDADE COMO CONCEITO: CONCEPÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE DIVERSIDADE E DE DESIGUALDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
Educação e desigualdade
A luta por uma educação pública e igualitária deve estar na pauta das lutas
políticas nos mesmos níveis das demais lutas sociais e econômicas
Otaviano Helene*
Uma das características mais perversas da sociedade brasileira é a
desigualdade de renda. Nas últimas décadas, chegamos a ocupar a pior posição
entre todos os países. Mesmo considerando certa melhoria mais recentemente,
ainda estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo, juntamente com a
África do Sul, o Chile, o Paraguai, o Haiti, Honduras, entre outros.
Enquanto entre nós os 10% mais ricos têm uma renda média (familiar per
capita) mais do que 50 vezes maior que os 10% mais pobres, nos antigos países
socialistas que ainda preservam algumas conquistas sociais (Eslováquia, República
Checa e Hungria entre eles) ou nos países que têm ou tiveram recentemente
influências socialistas relativamente fortes (como os países nórdicos, por exemplo),
essa mesma relação é da ordem de cinco vezes. Mesmo nos países de economia
fortemente liberal, EUA entre eles, essa relação está na faixa de 10 e 20 vezes. O que
ocorre aqui é simplesmente escandaloso.
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
A luta por uma educação pública e igualitária deve estar na pauta das
lutas políticas nos mesmos níveis das demais lutas sociais e econômicas, como a
reforma agrária, a luta por moradia, a defesa do setor público e a luta por salários
dignos. Se não rompermos com a atual situação educacional – e esse rompimento
só será possível por meio de uma ampla luta social – jamais construiremos bases
realmente sólidas para superarmos nossa desigualdade.
*Otaviano Helene é professor associado do Instituto de Física, presidiu a
Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo) de julho de 2007 a
junho de 2009. Foi presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais).
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
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AUTOATIVIDADE
1 As relações sociais que configuram a exclusão social são diferentes e podem ser
consideradas a partir da divisão dessas relações em três níveis. Considerando
esses níveis, classifique as afirmações usando o seguinte código:
I – Exclusão econômica.
II – Exclusão política.
III – Exclusão social.
Assista ao vídeo de
resolução da questão 1
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UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
A compreensão da diversidade visando transformar nossa prática na
educação é um grande desafio, para tanto você terá contato, neste tópico, com
teorias que elaboram esse desafio propondo caminhos para construir uma educação
pautada no respeito à diversidade.
FIGURA 11 – ALTERIDADE
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
E
IMPORTANT
O que é Alteridade:
Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou estado do que é outro ou
do que é diferente. É um termo abordado pela Filosofia e pela Antropologia.
Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem, na sua vertente social, tem
uma relação de interação e dependência com o outro. Por esse motivo, o "eu" na sua forma
individual só pode existir através de um contato com o "outro".
Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem como objetivo a extinção de
uma outra. Isto porque a alteridade implica que um indivíduo seja capaz de se colocar no
lugar do outro, em uma relação baseada no diálogo e valorização das diferenças existentes.
Alteridade na Filosofia
No âmbito da Filosofia, alteridade é o contrário de identidade. Apresentada por Platão (no
Sofista) como um dos cinco "gêneros supremos", ele recusa a identificação do ser como
identidade e vê um atributo do ser na multiplicidade das ideias, entre as quais existe a relação
de alteridade recíproca.
A alteridade tem também papel de relevo na lógica de Hegel: o "qualquer coisa", o ser
determinado qualitativamente, está em uma relação de negatividade com o "outro" (nisso
reside a sua limitação), mas está destinado a se tornar em outro, a se "alterar", incessantemente,
mudando as próprias qualidades (as coisas materiais nos processos químicos).
O uso do termo também surge na filosofia do século XX (existencialismo), mas com
significados não equivalentes.
Alteridade na Antropologia
A Antropologia é conhecida como a ciência da alteridade, porque tem como objetivo o
estudo do Homem na sua plenitude e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de
estudo tão vasto e complexo, é imperativo poder estudar as diferenças entre várias culturas
e etnias. Como a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro, ela assume um
papel essencial na Antropologia.
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
DICAS
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
Os novos olhares que direcionamos aos outros nos levam a novos olhares
que podem conformar e transformar a nós mesmos. Cabe à educação apresentar o
diferente e, mais além, promover a vivência da diferença. Tais momentos podem
ocorrer nas interações sociais e também nas interações com a natureza (GUÉRIOS;
STOLTZ, 2010). Nesse sentido, educação, cultura e subjetividade compõem o
mesmo cenário:
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
E
IMPORTANT
[...] é muito importante detalhar o que está sendo o multiculturalismo no Brasil, apontando
para suas luzes e sombras, assim como para os novos desafios que esse fenômeno – de
fato, um movimento embora desorganizado – proporciona para a sociedade brasileira. Este
Núcleo Temático não pretende ser exaustivo, mas apontar para algumas novas tendências
que dizem respeito, sobretudo, ao meio acadêmico. Até agora, tem sido sobretudo nesse
meio que têm se concentrado os esforços de se criar algum tipo de multiculturalismo.
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
DICAS
Esse livro, escrito por um dos mais importantes antropólogos brasileiros, não pretende trazer
uma definição exaustiva ou uma versão definitiva do que é o Brasil. Mas nos proporciona a
surpresa do verdadeiro encontro: O que faz do brasil, Brasil? é justamente aquilo que faz com
que reconheçamos como brasileiros nos mínimos e mais variados gestos. Múltiplo e rico, o
Brasil é o país do Carnaval e do feijão com arroz: da mistura e da fantasia. Mas também do
jeitinho que dribla a lei e da hierarquia velada pela cordialidade. Somos brasileiros na devoção
e no sincretismo, no culto à ordem e na malandragem, no trabalho duro e na preguiça. O
Brasil maiúsculo que Roberto DaMatta apresenta não é um conjunto de instituições ou de
fatos históricos, e sim o fundamento da nossa identidade. Nossa brasilidade é um estilo, uma
maneira particular de construir e perceber a realidade.
DAMATTA, Roberto. O que faz do brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
UNI
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
surge na tela vestindo uma jaqueta de couro e dirigindo seu carro ao som de Rock’Roll
Highschool, da banda Ramones. Logo nos primeiros minutos da película vemos a resistência
de Wenger em assumir o comando da classe, estando muito mais interessado na turma
de “Anarquismo”, inclusive por suas experiências no bairro de Kreuzberg, histórico reduto da
militância de esquerda em Berlim.
Dessa forma, a escola nega sua real função educacional, uma vez que
ao invés de tornar-se instrumento de ação política da classe dominada,
torna-se instrumento da classe dominante, reafirmando ainda mais o
antagonismo entre as classes e distanciando cada vez mais a classe de
trabalhadores da verdadeira consciência crítica e intencional. Diante
dessa afirmativa é que se faz necessário o desenvolvimento de uma
ação educativa transformadora, alicerçada por uma administração
escolar democrática, que recuse o modelo da administração empresarial
capitalista, que até então tem permanecido nas instituições escolares, no
intuito de articular-se aos interesses de toda a população e não apenas
de alguns (MATTOS, 2010, p. 6).
E
IMPORTANT
Professor defende a gestão coletiva como a forma de fazer com que todos sejam
corresponsáveis pela aprendizagem
Ocimara Balmant
Diretor que não decide tudo sozinho, professores que trabalham em parceria e currículo
que considera o aluno sujeito de seu próprio aprendizado. Para Vitor Paro, professor titular
da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), esses são elementos
fundamentais na construção de uma escola democrática. Um modelo de ensino que, ao
estimular o trabalho coletivo, forma cidadãos autônomos e críticos.
"Isso contrasta com o que se vê na maioria das escolas, nas quais o poder é centralizado e se
tem a falsa ideia de que basta que uma criança esteja na sala de aula para que ela aprenda",
afirma o pesquisador, que falou à revista GESTÃO ESCOLAR em novembro, por ocasião do
lançamento de seu livro Crítica da Estrutura da Escola, escrito com base no trabalho de
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TÓPICO 3 | DIVERSIDADE COMO PRÁTICA: MULTICULTURALISMO, ALTERIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA
VITOR PARO: A escola brasileira erra ao definir seus objetivos. A Educação deve formar
personalidades humanas, fazer com que os alunos se apropriem da cultura em seu sentido
amplo: valores, Ciência, todos os tipos de Arte. Para isso, o educando deve ser sujeito do
processo e precisa querer aprender. Principalmente na Educação Básica, quando a criança é
obrigada a frequentar a escola. Nesse segmento, o sistema não se mostra preocupado se ele
e sua família estão satisfeitos com o serviço que recebem. É um absurdo que hoje, com todo
o desenvolvimento da Ciência, se faça o que se fazia há 200 anos: confinando crianças em
um espaço restrito e imutável como a sala de aula.
PARO: Abrindo mão de trabalhar num sistema de relação vertical. Gerir não é mandar no
outro. Os meios têm de ser adequados aos fins. E a finalidade da Educação, para mim, é formar
indivíduos e cidadãos. Ora, isso sim é um objetivo democrático. Então, as maneiras eleitas
para atingi-lo não podem ser contraditórias a essa meta. Parece-me muito mais interessante
uma escola em que as decisões e as responsabilidades estão a cargo de um coletivo, e
não ter apenas uma pessoa respondendo por tudo. Minha proposta é a formação de um
conselho com quatro coordenadores: administrativo, financeiro, pedagógico e comunitário.
Vi uma estrutura parecida a essa numa instituição da rede pública na cidade de São Paulo
no início dos anos 2000. A diretora montou um colegiado com as duas coordenadoras e a
vice-diretora. Antes de tomar qualquer decisão, ela conversava com essa equipe.
PARO: A direção tem de se propor a circular pela escola e ouvir os que nela transitam. Em
uma reunião com os professores, por exemplo, deve escutar e considerar as inquietações e
demandas. Isso já faz com que o grupo se sinta respeitado e valorizado profissionalmente.
Outra ideia é promover a leitura de textos críticos entre os docentes e reservar um tempo
para conversar sobre o tema com eles, colocando assim todos na posição de sujeitos. Sem
imposição, o gestor começa a liderar tanto no sentido técnico como no político. Esse é o
primeiro passo para uma estratégia mais ousada, como a de estimular que um professor
assista à aula de outro. A resistência inicial é normal, mas, em pouco tempo, eles estarão
convidando os colegas para avaliar o seu plano de ensino e dar sugestões.
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UNIDADE 1 | DIVERSIDADE E CIDADANIA
PARO: O melhor avaliador é mesmo o professor, não por ser ele a aplicar as provas, mas por
ser quem acompanha o aluno diariamente, em todas as suas manifestações, sendo ciente
de seus avanços e suas dificuldades corriqueiras. Essa observação é muito mais rica do que
qualquer prova escrita. Para que isso aconteça, além de o docente ser muito bem informado
e preparado, é preciso que haja uma equipe mais perene nas escolas, capaz de compreender
o desenvolvimento da criança ao longo do tempo.
A alta rotatividade de gestores e docentes nas escolas é um inimigo para a gestão
democrática?
PARO: É um elemento importante. Isso é estimulado pela própria forma de prover o cargo. Nas
redes que utilizam o concurso como forma de seleção, é comum o diretor começar sua carreira
em uma unidade de periferia e acumular pontos para se transferir para um bairro mais seguro
ou próximo da sua casa. Na escola que visitei para escrever meu livro, mesmo sendo em uma
região central, isto aconteceu: comecei a pesquisa com uma diretora e terminei com outra.
PARO: Acompanhei por um ano o dia a dia de uma escola de Ensino Fundamental de São
Paulo. Durante esse tempo, assisti às aulas, observei o horário de trabalho pedagógico de
professores e entrevistei a equipe gestora, os funcionários e os docentes. Meu objetivo foi,
com base no material que já tenho publicado sobre gestão escolar, apontar os problemas e
sugerir as possibilidades para que se estruture uma escola mais democrática.
LEITURA COMPLEMENTAR
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
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AUTOATIVIDADE
PORQUE
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