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Eduardo e Mônica

Legião Urbana E os dois comemoraram juntos


E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
Quem um dia irá dizer
E vice-versa, que nem feijão com arroz
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
Construíram uma casa há uns dois anos atrás
E quem irá dizer
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Que não existe razão?
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
Enquanto Mônica tomava um conhaque
E a nossa amizade dá saudade no verão
No outro canto da cidade, como eles disseram
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
E quem um dia irá dizer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
Que existe razão
Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Festa estranha, com gente esquisita
Que não existe razão?
Eu não tô legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa Com Que Roupa?
É quase duas, eu vou me ferrar Noel Rosa

Eduardo e Mônica trocaram telefone Agora vou mudar minha conduta Seu português agora deu o fora
Depois telefonaram e decidiram se encontrar Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar Já foi-se embora e levou seu capital
O Eduardo sugeriu uma lanchonete Vou tratar você com a força bruta Esqueceu quem tanto amou outrora
Pra poder me reabilitar Foi no Adamastor pra Portugal
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Pois esta vida não está sopa
Se encontraram, então, no parque da cidade E eu pergunto: com que roupa? Pra se casar com uma cachopa
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo Com que roupa que eu vou Mas agora com que roupa?
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou
Mas a menina tinha tinta no cabelo Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou?
Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou
Eduardo e Mônica eram nada parecidos Pro samba que você me convidou?
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Ela fazia Medicina e falava alemão
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Não consigo ter nem pra gastar

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus


Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud Eu já corri de vento em popa
E o Eduardo gostava de novela Mas agora com que roupa?
E jogava futebol de botão com seu avô Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Ela falava coisas sobre o Planalto Central Com que roupa que eu vou
Também magia e meditação Pro samba que você me convidou?
E o Eduardo ainda tava no esquema
Eu hoje estou pulando como sapo
Escola, cinema, clube, televisão Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente Eu vou acabar ficando nu
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia Com que roupa que eu vou
Teatro, artesanato, e foram viajar Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
A Mônica explicava pro Eduardo
Pro samba que você me convidou?
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer


E decidiu trabalhar (não!)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular

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