You are on page 1of 12
GA A Geologia e 0 processo historico (ou, sobre como se constrdéi um passado a marteladas) Ernesto Lavina Universidade ‘Vile do Rio dos Sios, UNISINOS, Programa de P 2-060 -Graduagio em Geologa, Ax, Unisiaos, 950, Sio Leopoldo, RS, RESUMO Aandi da teratua referee a period Permian evel una prt deeorias contraras, xpeciaimete quate a pes exis, faleogourataealeecimatloi to ecore os erertes paradise acreage edscorae eterna) tates por erent fuser ce pessaradores e tarbem sor dectSer edu vbr carte 9 severeabimento de peraven, A Cevoya, enganta cS {eosrcas «suas Inplares te ceservelvnenta belgie den Geternco irate e len pacer se apenas resus, en {Sesderardopreriss Uinta ge apicalicae Inet, Deseo, Un ance Nereis compet ra eat ge cast tim passe ceerente par a Tera, Pore conju stars tra uae treat deans ua area exvaerdoararente compen, Ieee a ee ere penile ec ete ‘ents covets atch que ula eres campatvel coma Gemas.Apesn ta arcu qu o grate ers deter age pate arn s cect ecg, pls be priades Kinda de elie, Nest en, ince, qusanas emerge coped come tif wversalnete bene, pos casio o barons etiate das eves val certades. tas efcldades cancel fee Com au, nts dena descobera ce aberse cesta, tora sei Sa apenas a cose aco doce Huan e, cme ea adh arom de nerpretaceseeerpeares, Patera cave: Prine, Exige, Reducnteno,Detrie, Pope, Kn, achat ABSTRACT, {e010 ANDTHE HISTORICAL ROCESS (OR, ON HOW APAST 5 HAMNERED-BT. The nas of erature conceit the Permian peed evel = prot of contracts tears, expec with rear a mae etneton evr loaternpy ane pascal ht ue he ‘ffereeparsine hterreauctnate an Sterne cvraaons) rey he eeren reatey group an tote aaa prs ceo made cari etarh evetoprent Ceology 2 Male scence, dies ahigh sear of usec shee tere na ret a fess othe eect ude stay. The cai and geogragie cao a gen nee ca et be presumed on ever So must be Based Seruntarmtarian premises of certain appa. Ths great ruber of rotescrpee Inte alenpt to eontuc abreast fo {he arth The rumber af hears, homer, makes arts ater an ex-orary complex as. Thores at con Ae the poraegns {each revere seu are saree, ween mates each appeach realy caren sate nema the ster In pe ott ‘i, the cragene of pardons st song esl beret scene, fecal Ue prom cay of competing that Such Concepts uty ead sto concise that ate ha covey of hareorhing sles, he elo story ely aaa constuction, {the oman brat and, a5 uh, sublet te every Spe of nterretatin ane reierpreaton. ey word erman, xin, Resctarism, Determine, Ka, Paper, stars INTRODUGAO run qucsimetodlogia din “tional” bemities, conte no entendimento da Geach, on to, pada que val dot do cocjunn de cocoa ede ocd 0 Osproblemasinerenteformlagdo don tora (Connecrnen> native), fim dor quis Gexpontan nova tornn de teri, expoceinente ca ice , enfants anins problemas no proceso Einbors de grunie inportocs, ee cvennalmente, a Biologia, ém sido de formagio deters A props problema ¢wralmenedesconsiderdo abordados por fldsofos como Popper @ do que ag uin “ado montoments da spreentapio das toran (1968, 197, 1975, Kun 19%, 1985, in em Fungo de ua Mais que io, coe artigos denlicoy, Fejerbend (1988, 1991) e Bachelard teorinanteror sem aqualo “dado” nie quae como reg, oem “material ¢ (0985, 1991, fscos como Poincaré _ pode ser reconheido como a Tadtdos” dei por ence (4502), Bohs (961, Heisenberg (1938, m abo comespande 1991) eBorn (1963), Todos demonssa. Geologie também una di mas pro- _Aevelagi rel do trabalho, Pode-s a Uma das questées fundamentsis dade dados teorias sarod 28 ® ance tervat _mac que, inconsciente ou no, esse item escrito considetando principalmente as cexpectativas dos eitores quanto & inter- telagio dos dados com as torias. ‘Comparada a Fisica, a andlise do passado geoldgico apresenta proble- ‘mas muito difetenciados, em especial quanto A dificuldade de matematizagio cede experimentasi, Em sua anise da natureza, a Fisica consegue drecionar a formulagio de teorias para uma base ma- tematic, para uma base empirica (expe ‘imenta, ou ainds, para uma sbordagem ‘mista Dirze, 1991; Lavina, 2004), Nas igncias historcas, como a Geo Joga (Caster, 1944), a stuagdo & mais ccomplexa, Nio se possui acesso dieto a0 passado, a condigdes geogriicas © climiticas de um determinado interval do tempo geoldgico no sio passiveis de cepetisio ou reprodugio por meio de experimentos controlados. Sio eventos tinicos, em que os diferentes agraus de interagio entre 28 variéveis podem apenas see presumidos, nunca Aefintivamente estbelecidos (Lavina, 1995). Desse modo, construgdies geo- histieasesbarram sempre na fala de citéios para julgar quaisdados devem set considerados mais elevantes, ou que peso dar as vatveis que se conhce hoje, quando transpostas para o pesiodo em questio, além de uma série de outras dlifculdades de naturezas diversas Para dlficutar ainda mais, embora seja uma das premiseas bisicas da anise gooki- ica, nada parante que as leis da natuteza Fotam, no passado, iguais as de hoje @irse, 1991), “Trabalha-s, em Geologia, com vest ios que escaparam &destrugio durante ‘© tempo. geoligico, como regra uma fnfima parcel daquilo que se pressupie ter existido, As teotias que s€ associamn a esses vestigios slo quase sempre geradas por indugio: sio construldas para elacionarem séres de observagies indvduais.A construsio de geografias € climas anigos au o estudo de episédios de estingio em massa, por exemplo,si0 tare dices, érduas,e na maiova das vvezes mostram resukados inexptessivos ‘em fungio dos esforcasdispendidos, Na falta de informagescruciais seas cons- 30 7 nero Lamsiae 20 e -AGeoloya eo procestonstrico (ou, sobre como se constr um pasiade a marteladas) trugées acabam, inevtavelmente, por basear-se em decisdes pessoaisatbite sas, que por visas razbes podem reletir mais as escolas de pensamento seguidas pelos pesquisadotes, Para Feyerabend (1985), ese procedimento nfo pode ser condenado, pois € absolutamente usual em qualquer campo do conhecimento, txistindo sempre um elemento subjetivo em toda percepgio dos processosfiscos (cle th Russe, 1977). Além disso, devido 1 especializagio da ciéacia moderna, a parr dos mestos dados e variiveis, ‘prupos de pesquisidares apoiados em ptadigmas distintos chegatn a muitos resultados antaginicos (Kuhn, 1976). Unlizando como ponto de pactida exemplos extraidos das muitas hipéteses Aisponiveis paca explicar os fendmenos ‘cots no perlodo Permiano, tent: se discuie aqui alguns dos problemas usuais no processo de geagio de eorias nas cigncias historias, ‘A CONSTRUGAO DO MUNDO PERMIANO ‘A Geologia moderna vem reunindo evidéncias de que a crosta terrestre constiui-se em ui sistema extraordin riamente dinimico, A continua geragio costa oceinica nas grandes cadcias de rmontanhas submarinas ¢ seu consumo ras fostas oceinicas implicam a exis téncia de oceanos ¢continentes méveis {© mutiveis. Continentes aglutinam-se Formando continentes msiores, everta= almentesupercontinents Pangene) ue tém curta duracio e fragmentam-se n0- “vamente em partes menores,nsimamen- te relacionados as proceseos de geragio de costa ocenica e menimentagio con Linental, 2 Terr alterna periodos frios, quando as calota polaresexpandem-se para latitudes mais baixas, ¢ de grande aquecimente, onde mesmo as repides polares podem aquecero suicente para inibir a presenca do gelo, Entre as cadeias maiores de real: rmentagées inserer-se outras menores, que reduzem ou amphfcam os parime tros climéticos. Eras glacsis induzem 4 niveis de mar baixo. A presenga de _prandes maseas continents em Iatita- des polates amplifica esse efeito, Nos perfodos com nivel de mar baixo, os continentes tém mais dificuldade em retet umidade, causando a expansio dos sistemas desérticos topical, Como ‘uma coincidéncia decisiva,o poder de reflexio dos raios solares pela arcia seca das dunas é tio ato quanto 0 do gelo. A ‘Tetra entio, rflete mais luz para o espago, aumentando o albedo © Aiminuindo a absorgio da energia solar. ‘Menos energia solar capturada, mais fii, Um ciclo de tealimentagfes como.0 indicado tansforma-s, ntamente, em Fangio da migracio das massas conti- rnentais para longe das latzudes polars, ‘ow abcuptamente, em decorréncia de grandes eventos vuleinicos, (Quando se consti una hist para "Terra sob esta pica, o momento pre- ‘sente passa aser apenas uma das muitas possbilidades de ajuste entte a distri- Dbuigdo de oceanos e continents, vulea rismo, albedo, ctcalacio atmosiéica € circulasio oceinica (Lavina, 1995), No Permiano,os dios, no seu com- junto levam a pensar que os parimeteos fsicos foram muito diferentes dos auais. Aolongo de odo o periado, televo altos formaram-se continuamente em fungio dos sucessivos choques entre as placas {que viriam a constiuir o Pangea. No hhemistério sul, aprovetando-sedo relewo gerade, lenge de glo polares alngiram, ‘no inicio do Petmiano, paleolatitudes 0 bainas quanto 30°S, encobrindo cerca de 25s da superticie da Terra. Durante ‘esse tempo, em fungio do rebaixamento do nivel do mar, as rgides teopicais © ‘equatoraisexperimentaram uma gran- de deseruificasio, Porém, de Forma tio repentina como comegou, 2 era glacial findou. Alguns indicios sugerem que lum evento vulinico caastsiico teria ibetado grandes volumes de CO, para a atmosfera,oeasionando um efeitoestula de proporcdes gigantescas, ‘Coincidente com a tettgo do gel iniciou-se um episidio de elevagio do aivel do mat, quando latgas porgGes continenais baxas foram inundadas por ‘mates t2808 e moznos, Mas a ingressi0 de mates no interior continental dew-se porapenas um breve periodo, pois 0 tec- GA Lavina tonismo produsia fortes soerguimentos nos bordas do Pangea em formacio, aprisionando os mares interiors, tans formando-os em imensos lagos sob intensa evaporagio e gerando grandes volumes de sal O efeito esta ateociado 4 tectdnica que formou o Pangea teria sido o tesponsivel, ao final do Permia no, pela eliminagio de todo 0 gelo do planeta, mesmo das rides polates, sea seria justiicatva para a desertiieagio detoda a regiio equatorial eo desenvol- ‘vimento de loresas ede grandes faunas de répteis © répteis mamalformes em paleolatitudes to altas quanto 8 ‘A partir do substeato daqueles que seriam, possvelmente, alguns dos aspec: tos mals acitos sobre a paleogeografia ‘ea evolugio paleocimécica do intervalo de tempo cortespondente ao Permiano € inlcio do Trissico, se passa agora a discus, tomando por base alguns exer plo, questes que envolvem a geracio de teoriasndo passives de matematizagio € testes empiticos diretos PALEOGEOGRAFIAS ALTERNATIVAS A part da década de 1960, com 4 comprcensio dos meeanismos de sgeragio © espalhamenta do assoalho ‘ecinieo e suas implieagBes em estados depaleogeograta, Tectbnica de Placas ea consequente "deriva dos continen tes" = tomou-se 0 maior paradigma da cultura geoldgiea. O Pangea idealizade por Alfred Wegener para 0 infeio da Era Mesozdiea obteve aceitagio por parte da comunidad eicnefea, gragas prineipalmente aos eabalhos de Bullard 14 al. (1965), Diets Holden (1970) € Freeland e Dietz (1971). Com 0 passar ‘dos anos, 0 seimulo em progressio _gcométriea de evidéneias favoriveis consolidou a paleogeografia“elissia ‘do supercontinente (Figura 1). Nesta ‘visio, o Pangea era consttuide por dois grandes eontinentes: Gondwana, 20s € Laurisia, 0 norte. A sutura ent 08 dois continentes estasia loealizada na regio entreo nordeste da Africa (mon tes Alas) ¢ costa leste da Amésiea do Noxte (Apalaches) Apesardo imenso poder da tecténica global em organizar observagies pon- tis de testar aowas hipéteses, alguns pesquisadores passaram a questionar a paleogeografia do Pangea, propondo organizagies alternativas para ajustar co conjunto de dados. Cabe desaque as seconserugies paleogeopriica de leving (1977), Wessphal (1977) e Sanith eal (1981). Com base em reimtenpretagdies dos dados paleomagnéticos e do campo smignético terest, os dois primeitos autores coneluiram que o choque entre ‘© Gondwana e a Lautisia teria ocorrido de modo difereate do proposto, Eim 1 América do Norte sus concep chocou-seapenas com América do Sal, caquanto a Africa teva coliidosomente com 4 Eucopa (Figuras 24-8). Apés, ‘mowimentagdesangencins eae mas ss continentais fariam com que, apenas ‘50 Neowidssico, 0 Pangea atingisse sua configuragio defniiva (Irving, 1977) De forma ainda mais adil, Smith al (1981) propuseram, a partir do mesmo conjunto bisico de dados paleomagnét cos dos pesquisadores anteriores, que 0 choque Gondwana/Laueisiatenba sido, na verdade, entre América do Sul/ Africa com a Hutopa (Figura 20). O Pangea teria atingido a configuragao definitiva apenas a0 final do Triéssico, devido a movimentagdes através de um sistema de falhas transformantes. Indo além, Smith af (1981) negatam que os dados paleomagnéticos do Permiano suportas sem um Pangea tal como o idealizado por Bullard «al (1965), Diet e Holden (1970) ¢ Freeland e Diets (1971), Modelos paleogeogrificos alterna tivos sio formulados para justificar a cnxisténcia de alguns dados (eg, paleoe coldgicos, paleomagnéticos, esrutuis) «que sio incompatieis com os demais, Estes dados, pela sua pouca expressio, tendem a ser desprezados pela maioria dos pesquisadores,maispreocupados em ‘opetar com o grande volume de dados aque se ajustam de modo consistent, Conseqdentemente, concepede paleo Figura 1. Reconstrugo “clssica® de Bullard et ol (1968) para a paleogeografa do Pangea durante o Permiane Superie. Figure 4. “Classic” reconstrction from the Pangea paleogeography during the Upper Permian (after Bullard etal, 1965). volume 2, nimero 1, janeiro/junho de 2006 7a Lard 3 34

You might also like