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Adeline Rucquoi HISTORIA MEDIEVAL DA PENINSULA IBERICA ow pier 0" f ‘SBD-FFLCH-USP. i ie 1905, EDITORIAL ESTAMPA 2. A génese do Kstado ou a formagio dos Hstados © estudo da génese do Estado na Peninsula Tbérica medieval obrigae -nos a distinguir de novo grandes conjuntos, na medida em que as moda. lidades e as etapas da construgio estitica no sao as mesmas segundo en reinos. As coroas de Castela e de Portugal tiveram uma evelugto paraiela que as conduziu bem depressa a uma centralizagio dos instrumentos do Poder entre as miios de um rei cuja legitimidade de missao ningucm contestava, Em contrapartida, os paises da coroa de Arapio, sem con- lestar a necessidade de um soberano, tinico garante da manutengéo da ordem, a contimidade e de uma pote esttangeira coerente, orienta Fam tados os seu eforgos par limita os pees fectvos dole para cer 8 seus costumes especificos. Finalmente Navarra, Dro sje tniacocasrgores apo hee barre meds do sala XI fo monnene de eae gue caracterizave os seus virinhos ocidentais. Sempre na defensiva, © sie a Gc te eon cent Serr dees, senalizado no século XIV, mas a perds do apoio que ihe fornecia Arig do Nore, ¢ a presto dos estos, reiptarm sev desta A criagdo das instiwigées Quando Afonso VI de Lego ¢ Castela tomou o pode, herdou um grupo redid de nbres «ol, conbeous ple oe de palarium, que, sob influénciainglesa ou francesa. tomo no decorter go seat Xe nome de cri O plan compreentia todos ages que 0 membros da familia real, os magnates que consti- tulam a schola do rei e ram seus consceirs, os steal paltines Propriamente ditos, cujo chanceler ou notério € confirmado em Casiela em Portugal nos anos 1127-1128, ¢ 0 alferes ou alferes-mor, de atribui- $8e8 militares, aos quais se juntavam por vezes os bispos ¢ os nobres ‘encarregados do governo de um territerio ou de uma cidade. Apart da segunda made do sculo XU, a curlaenrqueceurse de juries de Pertosem dieito que tinham por fangéo quer assistr aos magistrados do ibunal Real quer elaborar um sistema juridio para todo oreino em que alguns exerci o cargo de chanceler. AS competéncis da cura regia exam gatremamenteextenss eno caso de Castela «de Leto até ao seulo x, rescentadas as atribuigdes de tribunal de segunda instdncia ¢ de conselho do rei, a de «eleigton do rei por aclamacdo, «eleigfion que era mais uma formalidade que umn realidade, mas que dieitovisigétco em vigor exigia, 250 Igualmente até ao século XU, nos reinos ocidentais da peninsula, os soberanos herdaram da epoca visigética a faculdade de reunir conciia, assembleias plendiias para as quais eram convocados, além dos membros Go palatium, todos 0s dignitérios eclestisticos, os nobres que tinham a cargo administragdes territoriais ~ comites, tenentes, domi villae ~. 08 membros da alta nobreza, frequentemente acompanhados dos seus servi- dores e, dando-se 0 caso, os grandes vassalos do rei ~ em 1135, em Led, o rei Garcia Ramirez de Navarra, o rei mmugulmano Zafadola, o conde de Barcelona ¢ 0 conde de Tolosa essistiram ao coroamento de Afonso VII come imperator totius Hispaniae. No decurso da segunda metade do século Xil, 08 mestres das ordens militares e, depois, os representantes Uas cidudes, juntaran-se-Ihes — pele primeira vea etm 1188, em Leo. Estes aconcilios», que depois passaram a ser as «cortes», sempre reunidos por iniciativa real, geralmente numa igteja e presididos pelo soberano, legis- lavam sobre tr€s dominios: a Igreja, 0 rei, 0 reino, seguindo igualmente io visigética. Em 1211, reuniu uma assembleia plendria em Coimbra, promovida pelo jovem D. Afonso Il, ¢ af se aprovaram as primeiras leis gerais de Portugal ‘A introdugiio do direito romano ¢ @ nova concepgio do espago, de natureza e do poder elaborada no século XII teve profundas consequén- cias nos reinos peninsulares ocidentais a partir dos anos 1250. Inspiran- do-se na formula quod omnes tangit, ab omnibus debet approbari, as cortes viram os procuradores das cidades sentaremt-se ao lado dos oficiais pala- tinos, dos nobres e dos eclesidsticos. A iniciativa das reuniges, tanto em Castela como em Portugal, foi sempre tomada pela coroa, que consultava as cortes a fim de conseguir, delas, ajuda ¢ conselho sobre o estado do reino, sobre a guerra contra os Mucuimanos ou outros inimigos, sobre os precos e salrios, as relagées internacionais, as sucessBes e as minorias reais, sobre os problemas suscitados pelos judeus ¢ os mudéjares, 0 exer~ cicio da justiga ou da administragio real, os impostos, 0 respeito pelas prescrigGes eclesidsticas. Por seu lado, os procuradores das cortes apre- sentavam ao soberano as sus queixas ¢ sugestées, SO votavam as contribuigdes pedidas ~ por vezes reduzindo-as ~ depois de terem recebi- do resposta as questdes levantadas. Por altura das cortes, o tei promul- ava 05 ordenamientos ou leis. Herdeiras das concilia da alta Idade Média © da antiga curia, as cortes eram igualmente convocadas para prestar homenagem ao novo rei e, depois, a partir do final do séeulo XIV, para jurar fidelidade ao herdeiro ou hesdeira do trono, Em Portugal, em 1385, ‘as cortes elegeram um rei e, em 1438, decidiram sobre a regéncia do reino. Se a presenga dos procuradores urbanos pode ser serapre cénfirmada ~ ‘mais de cem cidades castelhanas tinham direito de volo nas cortes no inicio do século XIV, direito que se torna monepolio de dezassete cidades no século XV ~ e era tanto mais necessaria quanto Usies dependia a 251 con na dus contsbuigses extraordindras, a dos digntérios eles Hepeettezs lta © media, & excepedo dos meses das ordace ene Forces cory A mais inregulares em Castela que em Portugal Sea ney, oceeates consituiram sempre uma assemble de price oa remneeagab anos salam da ligarauias de cabuleres ede hdegan part de Lads 08 ePresentantes das cidadcs pela coron castelhona partir de 1422 nao levantou qualquer protests, oF uz Todeavam Afonso X, 0 Sdbio, tinham cra, entre 1250 ¢ date gina linensa obra juried, em casielhano, que era wane 42g? canonicer et fidicum visistic, a contribuigo do direto tomane sae Se anne: geutisdiedo hispnica contida nos foros mais commisees des Gea S00 8 prmcica redacslo, 0 Fuero Red eta conconege eee dine epgits dl poder no sco do weno, encontton ined an Parrites afte Pritica. No entanto, a sua forma mais elaborede wee eas 28 foi integrad na legislagdo castethana no decors ay ae montanes ft BE aeiomamento conhecido pelo nome te Once D. Pedro 1 (1357 posts compilasio de carea de 370 disposigdes legis, os ae peg -f0es Afonsinas completaram e ic sstematizvam 0 quedio Jace rns Completacam em 1446 e que sitematizavam 9 pedis 1% Simos do govermo central também se especialicaram a parts dos SRE,ST80, com a cheandn de Trastimares Cac ieee er or Gus de Avis em Portugal. Os ses ribunas ou audiencta sae ee Sides rte dade 0 reinado de D. Afonso IV (1338-1359) fer oo) egattal do séeulo co téstibunais superiores de see vee Geek etabelecida em Lishoe, que julgava em segunds eciea a causas prancing os aaguelas que dissessem respeto d capil, o tiene a pera instancia ou Casa da Supicado, que julgava os acumen Pomarec Bult 0 rei nas suas deslocasées,c, por fim, «talons reise, tlt Competincia abrangia 26 Finangas do reno Co a esau. Em 1371 foi consttuids em Castela a Auden: oo aes julgar em iiltima instancia os recursos apresentados em todo o reino. A Audiencia castelhana foi constituida em estreita relagdo com a Chan. celaria Real, € 0 édito das Cortes de Toro de 1371 prescreveu-Ihe ter assento onde se encontrasse 0 chanceler ou a Chancelaria, em unigo ignalmente com a corte. A reforma de 1489 dos Reis Catolicos separou 4 «Audiencia ¢ Chancelaria» da corte e, ao reservar ao Conselho Real as sentengas de apelagao, dividiu o tribunal em trés cdmaras especializadas, dotando-o de um presidente ¢ de oito auditores nomeados anualmente ela coroa, bem como de muitos outros oficios. A extensio do reino Provocou a criagdo, em Ciudad Real, em 1494, de uma segunda udien. cia, que foi transferida para Granada em 1505, ano em que uma terecira Audvencia tot instituida na Galiza. © Conselho Real, sucessor do Conselho Privado que acompanhava os reis desde 1325, fo} institucionalizado em Castela em 1385, 4 sepuit derrota de Aljubarrota, aquando das Cortes de Valhadolid. Composto Imente por doze membros ~ quatro prelados, quatro nobres ¢ qua {ro personagens oriundas dos meios urbanos ~, o conselho era dotado de fungées deliberativas, decis6rias e executorias nos dominios da sua com. ppeténcia, excluindo os que eram do foro da Audiencia e aqueles que so 40 Fei competiam ~ nomeaclo dos oficiais da corte, territoriais ou locais, detentores de fortalezas, fundagdo de igrejas ou de mosteiros, esmolas, dons ¢ mercés =, assuntos sobre os quais no tinha mais do que uma fungao consultiva, Nas Cortes de Briviesca de 1387 foram instituidos ‘quatro feirados — especialistas em direito -, para que, sob o nome de relatores ou refrendarios, agissem como secretarios do rei, enquanto ou. tos letrados substituiam 0s membros do conselho, e que no eram nem Pobres nom prelados. Durante us ans seguintes, aumentou progressiva, mente o miimero dos membros do conselho até que ultrapassou os ses. senta ¢ cinco em 1426, mas que foi reduzido a dezasseis em 1442 sob a influéncia da nobreza, aumentou de novo, e, em 1459, ficou em doze, $6 foi estabilizado em 1480 quando as Cortes de Toledo 0 fixaram em doze, dos quais oito ou nove deviam ser letrados. Em 1489 aparcceu pela rimeira vez o cargo de «presidente do Conselho Real» de Castela. Em Portugal, € igualmente a seguir a batalha de Aljubarrota que as cortes insistram para que o rei tivesse com ele um eonselho onde estivessem Fepresentados 0 clero, a nobreza, os letrados especialistas em diteito ¢ representantes das quatro cidades principais do reino. De facto, a com- posigio do conselho permanecea sujita 4 boa vontade do rei, alingindo 2m 1438 0 mimero de vinte ¢ quatro conselheiros, membros do lero. da nobreza edo grupo dos ferrados que tinham assento alternativamente por Erupos de sei No dominio fiscal, @ politica da enroa ficou definida deode 0 reinado de Afonso X, 0 Sibio, que tinka acrescentado aos impostos usuais e 253

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