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Antonio Flavio Moreira e Tomaz Tadeu da Silva (xs) CURRICULO, CULTURA E SOCIEDADE Dados internacionais de Catalogaco na Publicaséo (CIP) (Cémara Brasileira do Livro, $P, Brasil) ‘or gin «m/e Psa Bn Mai, Fe “as ire) "Sto PCa 18 Conese nis 3. Cane 4 Sse acca | Nona es Data Si, Taras Talon indices pra ctilogo sistema: 1. Comen veo s75 Capitulo 1 SOCIOLOGIA E TEORIA CRITICA DO CURRICULO: UMA INTRODUCAO Antonio Flavio Barbosa Moreira ¢ Tomaz Tadew da Silva © curriculo hi muito tempo deixou de ser apenas uma frea meramente técnica, voltada para questbes rela- tivas a procedimentos, tgenicas, méiodos, Jé se pode falar agora em uma igo cto do_ cumin por lesibes socioldgicas, poliicas, epistemolégicas. Embora uestfes relativas ao “como” do currieulo~ continue importantes, elas s6 adquirem sentido dentro de uma perspectiva que as considere em sua relagéo com questées {que perguntem pelo as formas de organiza do conhecimento e ae Nessa_perspectiva, o curriculo é considerado_um artefato social ¢ cultural. Io signifia que ele & colocado rna_moldura mais ampla de suas determinagbes soviais de sua histria, de sua produgdo contextual. O curiculo 7 rio & um elemento inocente e neutro de transmissio desinteressada do conhecimento sovial..O curiculo esti implicado em relagies de poder, 0 « ies sociais particulares © identidades individuais e sociais particulares. O currieulo no é um elemento transcendente € alemporal — ele tem ‘uma histéria, vinculada a formas especificas e contingentes| de organizaglo da sociedade e da educacio. Este capftalo constitui uma peguena introducio a essa tradigo extica e sociol6gica do currfculo. Na primeira parte, fazemos uma breve incursio pela historia dessa tradigdo, mostrando sua genese e seu desenvolvimento Na segunda parte, destacamos os temas centrals dessa ‘perspectiva hoje. Mais que uma descrigdo exaustiva desses temas e questdes, essa segunda parte pretende ser apenas uma visio sintética da forma como se estrutura hoje © ‘campo da anilise critica e sociol6gica do curicuo. 1. EMERGENCIA E DESENVOLVIMENTO DA SOCIOLOGIA E DA TEORIA CR{TICA DO CURRICULO Focalizamos, nesta parte do presente artigo, a emer- _géncia de uma abordagem sociol6gica eerie do currculo, tanto nos Estados Unidos, onde © campo se originou © esenvolveu, como na Inglaterra, onde pela primeira vez se elegeu o curriculo como foco central da Sociologia dda Educ 1. As origens do campo nos Estados Unidos Mesmo antes de se constituir em objeto de estudo de uma especializagio do conhecimento pedagdgico, © 8 cursieulo sempre foi alvo da atengio de todos os que bbuscavam entender e organizar 0 processo educativo es- colar. No entanto, foi somente no final do século XIX «no inicio deste, nos Estados Unidos, que um signifiativo niimero de educadores comesou a tratar mais sistemati- camente de problemas e questdes euriculares, dando infio «uma série de estudos ¢ inciativas que, em curto espago de tempo, configuraram o surgimento de um novo campo. Diferentes versdes desse surgimento podem ser en- contradas na literatura especalizada (Cremin, 1975; Segue, 1966; Franklin, 1974; Pinar & Grumet, 1981). Comum & todas elas, destact-se, por parte dos superintendentes de sistemas escolares americanos e dos teéricos considerados, como precursores do novo campo, 2 preocupacio com os proceso de rcionalizgo, series © GOTIe escoa_e do_curiculo. Em outras palavras, 0 propés Ini amplo desis eet arse tsdo_ pliner “cienifcamente” as atvidades pedapégicas contol ema evar oe © compan © pensimenls do-aluno se desviassem de metas e padres pré-definidos. ‘A fim de melhor entender como tais intengbes in- formaram o desenvolvimento da nova especializagao, apre- sentaremos uma breve descrigdo do context sécio-histérico no qual ela emergi. 2 © contexto americano na virada do séeulo Apds a Guerra Civil, a economia americana passou a ser dominada pelo capital industrial, sendo o sistema de competigdo livre ento prevalent substitufdo pelos ‘monopélios. Para a produsio em larga escala foi necessério faumentar as instalagdes © © nimero de empregados. O processo de produgdo tornou-se socializado e mais com 9 plexo, enquanto os procedimentos adminisrativos sofist- caram-se e assumiram um cunho “cientfico” ‘Uma nova concepsio de sociedade, bascada em novas priticas e valores derivados do mundo industrial, comegou 2 ser aceita e difundida. Cooperaeao e especializagio, 20 invés de competiglo, configuraram os miicleos de uma nova ideologia. O sucesso na vida profissional passou a requerer evidéncias de mérito na trajtGria escolar. Ou seja, novas credenciais, além do esforgo © da: ambigio, tomaram-se necessirias para se “chegar a0 topo". ‘A industralizago e urbanizagio da sociedade, entio em processo, impossibiltaram a preservagio do tipo | de vida e da homogeneidade da comunidade rural. Além disso, a presenga dos imigrantes nas grandes metrépotes, com ‘seus diferentes costumes e condutas, acabou por ameagar a cultura e os valores da classe média americana, protestante, branca, habitante da cidade pequena. Como conseqléncia, fez-se necessirio ¢ urgente consolidar © promover um projeto nacional comum, assim como res- taurar a homogeneidade em desaparecimento ¢ ensinar 2s ctiangas dos imigrantes as erengas © 0s comportamentos ddignos de serem adotados. ‘A escola fo, enti, vista como capa de desempenhar papel de relevo no cumprimento de tis fungSes e facliar a adaplagio das novas geragdes as transformagdes eco- nOmicas, sociais e culturais que ocortiam. Na escola, considerou-se © curriculo como 0 instrumento por exce- Tencia do controle social que se pretendia estabelecer Coube, assim, 2 escola, inculear os valores, as condutas © os habitos’ “adequados”. Nesse mesmo momento, a preocupagio com a educaglo vocacional fez-se noia, evidenciando o propésito de ajustar a escola as novas necessidades da economia. Viu-se como indispensével, fem sintese, organizar 0 curriculo e conferr-The caracte- 10 risticas de ordem, racionalidade e eficincia. Daf os es- forgos de tantos educadores e tedricos e 0 surgimento de ‘um novo campo de estudos (Moreira, 1992a, 1992b). 3. As primeiras tendéncias © campo do curriculo tem sido associado, tanto em suas origens como em seu posterior desenvolvimento, 8s ceategorias de controle social e eficgncia social, conside- radas stis para desvelar os interesses subjacentes 8 teoria © & pritica emergentes. Todavia, nio se deve entender 0 novo campo como monolitico, jé que outras intengoes © ‘outros interesses podem ser identficados, tanto em suas ‘manifestagdes iniciais como nos estigios subseqtientes. Segundo Kliebard (1974), duas grandes tendéncias \ Bode ser observadas nos primeiros estudos e propostas Uma votada pars a claboragi eum curelo oe valorizasse os interesses do aluno e(outfaipara a construglo cientfica de um eurriculo que desenvolvesse os aspectos da personalidad adulta entio considerados “desejaveis” A primeira delas € representada pelos trabalhos de Dewey Kilpatrick e a segunda pelo pensamento de Bobbitt. A. primeira contribuiu para o desenvolvimento do que no Brasil se chamou de escalanovismo e a segunda constituiy '@ Semente do que aqui se denominou de tecnicismo. Pode-se dizer que as das, em seus momentos iniciais, representaram diferentes respostas as transformagées so- ciais, politicas © econémicas por que passava 0 pats © que, ainda que de formas diversas, procuraram adaptar a escola e o curiculo& ordem capitalsta que se consolidava, AS duas tendéncias, juntamente com vestigios e revalo- Fizagies de uma perspectiva mais tradicional de escola ¢ de currfculo, dominaram o pensamento curricular dos anos n

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