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Personalidades de Ribeirão
Rubem Cione, o historiador da cidade Antônio Carlos Tórtoro preside há nove anos
Audrey M. A. Lamin
Advogado, professor,
dentista, político, jorna-
lista, historiador, escritor,
fundador da Academia
Ribeirão-pretana de Letras
Jurídicas de Ribeirão Preto
em 24 de maio de 1994 e,
sobretudo, apaixonado
pela cidade. Estas são as
múltiplas facetas de Ru-
bem Cione, autor de uma
coleção de cinco volumes
sobre a história de Ribei-
rão Preto.
O escritor considera sua
obra um precioso legado
ao povo de Ribeirão Preto.
Cione dedicou grande par-
te de sua vida à pesquisa
sobre a cidade e, sem qual-
quer patrocínio, investiu
recurso do próprio bolso
para publicar seus livros.
O idealismo de Cione era
tanto que não permitiu que
empresas patrocinassem
suas obras, cujas rendas
foram revertidas para ins-
tituições de caridade. Esta
era a forma encontrada
pelo historiador para agra-
decer as muitas homena-
gens recebidas. “Meus li-
vros são o pouco que posso
deixar para essa cidade que
tanto amo”.
Ele nasceu no vilarejo
de Marcondésia, em Monte
Azul Paulista (SP), em 30
de agosto de 1918, filho de
Benjamim Cione e Anto-
nieta Perrone Cione. Em
1934, a família mudou-se
para Ribeirão Preto e dois
anos depois ele já dava au-
las de Português e Geogra-
fia na antiga “Associação
de Ensino”, a atual Unaerp.
Foi ministrando aulas que
conheceu Genny Arantes
Vianna com quem se ca-
sou em 28 de dezembro de
1944 e teve quatro filhos,
José Arnaldo, Regina,
Maria Sílvia e Rita Marli.
Cada um dos quatro optou
por uma das profissões do
pai. José Arnaldo é advo-
gado e promotor, assim
como Maria Sílvia, Regina
é filósofa e a caçula Rita
Marli, cirurgiã-dentista.
Saulo Gomes pratica jornalismo investigativo
Daniela Selle Flach
Amanda Sacchini
Aos 76 anos, Saulo
Gomes atua em um gê-
nero do Jornalismo que
não vem sendo muito
praticado ultimamen-
te: o investigativo. Em
1956, aos 28 anos, Saulo
Gomes foi o primeiro
colocado em um concur-
so disputado por cerca
de 200 jovens para uma
vaga de repórter em uma
das emissoras de rádio
de maior destaque na ca-
pital fluminense na épo-
ca, a Rádio Continental.
Coube a Saulo a res-
ponsabilidade de cobrir
alguns momentos histó-
ricos da época como, por
exemplo, quando a cen-
Sua família é a preciosida-
de de que Rubem mais tem
orgulho; possui também
dez netos e oito bisnetos.
Rubem Cione ministrou
aulas em muitos colégios
em Ribeirão Preto: Fá-
bio Barreto, Auxiliadora,
Moura Lacerda, Metodis-
ta, Otoniel Mota. E ainda
não se aposentou. É pro-
fessor na Unaerp, no curso
de Direito, do qual foi um
dos fundadores. Foi titular
e membro do Conselho da
USP, onde ocupou a cadei-
ra de Odontologia Legal,
Legislação e Ética durante
26 anos.
A primeira experiência
com o Jornalismo ocorreu
ainda na escola, onde cir-
culava o jornal “O Gina-
siano” que era distribuído
aos alunos e enviado para
os pais. Ao receber a publi-
cação, seu pai ficava cha-
teado por não ver artigos
assinados pelo filho. Para
mudar a situação, Benja-
mim Cione prometeu 5 mil
réis por artigo assinado por
ele. Rubem pegou tanto
gosto pelo Jornalismo que
um dia seu pai lhe disse:
“meu filho, agora não te-
nho mais condições de lhe
pagar; mas, por favor, não
pare de escrever”. Desde
então, não parou mais.
Trabalhou como redator e
editor de grandes jornais
como o “Diário de Notí-
cias” e “A Cidade”, ambos
em Ribeirão Preto.
A coleção de cinco li-
vros que conta a história de
Ribeirão Preto foi conside-
rada uma das mais com-
pletas publicações sobre
municípios paulistas pelo
instituto Histórico e Ge-
ográfico de São Paulo. A
primeira edição, publicada
em 1986, conta passagens
da cidade desde 1712.
Os livros são a grande
paixão de Cione. O advo-
gado e jornalista iniciou
suas pesquisas sobre a
história de Ribeirão Preto
em 1984, coletando dados,
documentos e fotografias.
Rubem já publicou mais ou
tral paulista da extinta
TV Tupi deixou de gerar
suas imagens. Em outro
momento importante, ele
cobriu o transbordamen-
to do Açude de Orós, no
Ceará.
Em 48 anos de tra-
balho no rádio e na TV,
conquistou vários prê-
mios e acumulou cen-
tenas de processos na
justiça brasileira; sendo
absolvido em todas as
ações criminais e civis
contra ele. Até hoje, Sau-
lo Gomes ainda conduz
reportagens de destaque
no meio televisivo. Dois
casos de grande reper-
cussão foram o do Chupa
Cabras e o do Maníaco
do parque.
A Academia Ribei-
menos 30 obras. Dessas,
as que mais o orgulham
Lílian Daguano
são os cinco volumes que
contam a história da cida-
de e o “Direito de Respos-
ta na Lei de Imprensa”, o
único escrito sobre o tema
em todo o Brasil. “Sou
advogado por amor e por
destino. Nasci advogado,
fui advogado e morrerei
advogado”.
No período de 1947 a
1951 foi vereador. É um
dos fundadores do PTB
e presidente honorário do
partido em Ribeirão Preto.
Em 1958 disputou as elei-
ções para vice- prefeito de
Ribeirão Preto. Teve uma
boa votação e teria sido
eleito por qualquer outro
partido, menos pelo PTB,
pois a legenda do partido
era forte e Rubem preci-
saria de um número maior
de votos para eleger-se.
Logo depois se candidatou
para a prefeitura, mas não
venceu. “Perdi por falta de
humildade. Por ter sido tão
bem votado na eleição an-
terior achei que não preci-
sava fazer campanha, perdi
por pouco”.
Na vida pública, foi
presidente da Academia
Ribeirão-pretana de Letras
Jurídicas, da Subseção da
Ordem dos Advogados do
Brasil, do Rotary Clube
(do qual foi um dos funda-
dores em Ribeirão Preto),
do diretório do Partido
Trabalhista Brasileiro e
do Conselho Municipal da
Cultura e do Desenvolvi-
mento Histórico. É mem-
bro de diversas entidades
ligadas ao Jornalismo e ao
Direito. Hoje a Comarca de
Ribeirão Preto é composta
por 15 juízes; praticamente
todos passaram por suas
mãos.
Durante toda a sua vida
Rubem Cione dedicou-se
à advocacia, à família e à
divulgação da história da
cidade. “Fui um bom filho,
um bom marido, um bom
pai, um excelente profis-
sional e, principalmente,
brasileiro”.
rão-pretana de Letras
(ARL) conferiu a Saulo a
cadeira número 28, cujo
patrono é o escritor Al-
cântara Machado. Nessa
cerimônia, ele foi home-
nageado como “cidadão
íntegro, repórter teste-
munha ocular de tantos
fatos e memória viva de
eventos marcantes nesse
país”.
Saulo Gomes escreveu
o livro “Quem Matou
Che Guevara” trazendo
o depoimento exclusivo
do homem que, seguin-
do ordens, tirou a vida
de Che. Já no livro “O
Último Vôo”, ele narra
os antecedentes do aci-
dente aéreo que matou o
grupo musical Mamonas
Assassinas.
a Academia Ribeirão-pretana de Letras
PINTURA Também a pintura a óleo sobre tela é obra de Tórtoro
João Pedro Vicente tão característico em ícones de criam sua poesia popular de
personalidade como ocorre com acordo com uma métrica pró-
Membro da Academia as literaturas mineira e gaúcha”. pria, dentro da qual fluem com
Ribeirão-pretana de Letras Quanto à polêmica existente total naturalidade”. Em seu livro
(ARL) desde o ano de 1981, o no universo literário quanto à mais recente, “Antologia Ítalo-
escritor e poeta Antônio Carlos rivalidade entre autores e leitores brasileira”, lançado em 2003, o
Tórtoro assumiu a presidência alencarianos e machadianos, ele artista versa em dois idiomas,
da instituição literária em 1996, posiciona-se: “Houve um tempo português e italiano.
após a abdicação ao cargo do em que eu admirava e consumia O tom do poeta torna-se
antecessor, o literato Luiz Car- os textos de José de Alencar, mas sutilmente mais sério quando o
los Raya. “O próprio Raya me confesso que encontrei uma esté- assunto é a Academia Ribeirão-
indicou à presidência, devido a tica mais moderna na escrita de pretana de Letras. Tórtoro revela
meu dinamismo, interesse em Machado de Assis; todavia, res- que aos 57 anos de existência, a
comunicação e engajamento”, peito todas as linguagens literá- instituição ainda não possui sede
conta Tórtoro. Autor de livros rias”. Sobre outra polêmica lite- própria, nem recebe qualquer
como “Ecos” (sua estréia na rária, as duras críticas dos poetas tipo de incentivo financeiro do
publicação de coletâneas poéti- modernos em relação ao período Ministério da Cultura ou prefei-
cas), “Edelweiss”, “Mosaico” e do parnasianismo brasileiro, Tór- tura municipal. “A Academia se
“Estrelas no Mar”, Tórtoro tem toro define sua visão: “A poesia mantém com as mensalidades
origem acadêmica bastante dis- moderna é mais democrática, a pagas pelos membros, num valor
tinta da literatura. Professor de partir do momento em que não é de R$ 150 mensais”. Seguindo os
Matemática e Física, o ribeirão- preciso pertencer-se à uma elite moldes da Academia Francesa
pretano de 55 anos entrou para a intelectual para escrever. Os poe- e da Academia Brasileira de
poesia ocasionalmente. “Sempre tas parnasianos e a métrica rígida Letras, há 40 cadeiras, ocupadas
gostei de escrever e comecei a daquela estética constituíam uma por escritores de destaque, elei-
publicar poesias em jornais da ci- elite, dona de rico vocabulário e tos por uma comissão julgadora
dade. Para minha surpresa, eram conhecimento”. interna.
bem aceitas e publicadas. Com Para o autor, escrever poesia “Quando uma das cadeiras
o apoio da escritora Ely Vieitz, no mundo atual, rápido e capi- torna-se vaga por falecimento
hoje vice-presidente da ARL, talista, consiste em “uma ma- do literato, a academia espera
decidi dedicar-me mais à escrita. neira diferenciada de observar por um período de dois meses
Devo muito a esta intelectual, o homem e sua alma. O retorno em respeito à memória do fale-
que tanto acreditou em mim”. financeiro não é suficiente. O cido. Em seguida, é publicado
Antônio Carlos Tórtoro prazer está no exercício da um edital nos jornais da cidade,
trabalha, ainda hoje, como orien- arte”. Em sua obra, Tórtoro anunciando a abertura da vaga.
tador educacional em um colégio foca todos os temas inerentes Os escritores interessados devem
da cidade, cujo hino, inclusive, é ao comportamento humano. O dirigir um currículo completo
de sua autoria. Também é de Tór- menos recorrente, entretanto, é com citação de sua obra, tanto
toro a redação do hino da ARL. o amor. “Minha esposa reclama artigos quanto livros. Este ma-
Leitor preferencial de biografias, que eu escrevo poucos poemas terial será analisado por uma
o poeta declara “Ribeirão Preto românticos. O fato se deve a um comissão num período de dois
é um cenário favorável para casamento muito bem sucedido. meses, e ao final, o candidato
produção literária. Temos bons Por ser tão feliz com minha es- mais qualificado ocupará a ca-
escritores, com obras de quali- posa, não sinto necessidade de deira”. Tórtoro acrescenta que
dade. Mas há escassez de opor- escrever sobre o amor. Ela matou em alguns casos, pode acontecer
tunidades para publicação destes o romantismo da minha obra”, de nenhum candidato ser eleito,
trabalhos. Isso parte das editoras declara, ostentando um largo o que levaria à publicação de
e pessoas que estão por trás da sorriso de satisfação. Casado novo edital e realização de nova
parte financeira da literatura”. desde 1976, Tórtoro possui um triagem.
Engajado no mundo dos versos, casal de filhos. “Já escrevi um Segundo o presidente, a ro-
Tórtoro afirma ainda que sua poema para minha esposa, ´Sal- tina da ARL consiste na criação
estética difere-se da linguagem vador sem você´, durante uma de projetos literários como con-
do romance e que não pretende viagem à capital baiana. Nestes cursos esporádicos, discussões
tornar-se romancista. versos, cito as belezas da cidade sobre literatura e parcerias com
Adepto também da pintura, em questão, mas todas elas são universidades de Ribeirão Preto
Tórtoro exibe na parede de seu incompletas na ausência do ob- e a mídia regional para a publi-
escritório, no colégio onde traba- jeto de amor do eu lírico”. cação de material. Atualmente,
lha durante os dias da semana, o Envolvido com a mídia re- há edital aberto para inscrições
óleo sobre tela, em preto e bran- gional, jornais e revistas, o autor de literatos interessados em
co, com o rosto de Jesus Cristo tem escrito artigos para veículos ocupar uma das cadeiras vagas,
ferido na testa pela coroa de em quantidade que ele classifica decorrente do falecimento do
espinhos. O posicionamento do intensa o bastante para estar mo- cronista Wilson Roveri, em 16
artista em relação à literatura é mentaneamente dividido entre a de junho de 2004, aos 75 anos.
humilde e desapegado. “Não sou poesia e os artigos. Finalizando A página da Academia Ribeirão-
um grande conhecedor de litera- a discussão sobre poesia, Tórtoro pretana de Letras na Internet é
tura como a equipe da ARL, por vê a questão da métrica como acessada no seguinte endereço:
ser oriundo da matemática. Sou algo de efeito subjetivo. Segundo www.netsite.com /arl. Além de
um poeta entusiasta do movi- ele, nem sempre o formato fixo informações sobre os acadêmi-
mento literário”. Tórtoro discor- de um poema, como acontece cos, o sítio referido traz docu-
re, entretanto, por temas ligados nos sonetos, pode prejudicar o mentos históricos e a trajetória
às letras. “Não vejo a literatura desempenho do autor. “Temos de formação da instituição.
do interior paulista como algo o exemplo dos repentistas, que