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CAPITULO 65 Deméncias Sonia Maria Dozzi Bruck ¢ Antonio Eduardo Damin ‘Adefnigéo de deméncia tem sido publicada em varios compéndos, mas 2s mais ulizadas so as fornetidas pelo Diagnostic and Statistica! Manual of Mental Disorders nas versdes Il revisada NV (OSN-IIR ¢ DSM-IV). Nas recomendagées sobre o diagnéstco de doenca de Alzheimer, realizado por membros do Departamento Cientfco de Neurologia do Envelhecimento e CcgnigSo da Academia Brasisira de Neurologia, estes dois cities séo sugars para 0 dagnéstco de deméncia (Nitin ot al, 2005) Basicamente, deméncia & uma condigo adquiride, que representa um de:réscimo em relagdo 20 nivel cognitvo prévio do individu e com comprometmento das fungdes sociase funcionas, em geral ‘com meméria ¢ outas fngSes acometdas (Tabela 65 1). 0 DSM-IV abandonou adivsdo de cstirbio imental orgénico; esta segSo fi ivdida em deium, deménciae cistrbis cxgnitves amnéstoas & ‘outs; ¢distirbis resultantes de uma condi¢éo clinica geral. Recentemente m-se dscutdo se 0 uso {do temo deméncia é o mais apropriado, palo peso imputado & propria palavra. Em relagdo a esses citi, a necessidade de comprometimento de meméra,retaria uma parcele de pacientes do iagstcnpor exemple, naquelas deméncas em que ocomprometmento da memeria nfo esta fabela 65.4 ritérios para deméncia segundo o DSMAV ‘O deseivoinenis de muliplos deeis cogntves manlestados por Te 2 41. Comprometmento da memoria 2. Um (ou mais) dos sequins distirbios: (a) Afasia (b) Apraxia (c) Agnosia (4) Distirbio das tungSes executivas B. Alleracéo signicaiva na atvidade socal ou profssional,representands dedinio Deméncia pode ser etologicamenterelacionade a uma condigéo médica geral, ao efeto persistente de uso de substincia (inlundo exposigdo a toxinas), ou & combinagdo desses D. Os deficits ndo ocorrem exclusivamente durante episédio de delim ‘As demeéncias séo problema de salide publica, uma vez que representa alos gasis diretos (apotentadoria, internapSes, custos de medicago) eindiretns(p. ex. retadade cuidedores do ‘rabaho). ‘As deméncias podem ser divdidas por diferentes celegorzaches: — degeneratvas @ ndo degeneratvas ~ coricas e subcortcals ~ pracoce(incio antes dos 65 ancs de idade) etrcio (apés os 65 anos) — potencialmente ratdveise ineversiveis ~ rapidamente progressivas€ lentamente progressivas Nuit frequentemente essas calegorias podem se apresentar num mesmo paciente; por exempo, doenga de Atcheimer (degeneratva), de inicio precoce (antes dos 65 anos), acompanhada por hipotrecidismo (condi¢do que corrobora para o défi cogntva e potenceimente tratavel) Alun tpos cde deméncia predominam num grupo etrio mais jovem (p. ex. a deméncia Fontotemporal) ¢ outas em idade mais evengada, 0 prototpo é a doenca de Alzheimer (DA). EPIDEMIOLOGIA DAS DEMENCIAS Em reviso sistemétca do periodo 1994 a 2000, publicade em 2007 (Lopes et a, 2007), em que foram analisados 42 arigos seleconados, de tds os contents, foram observadas preveléncias variadas, dependendo do pals eda localzapdo geogréfica dento do pais. taxa média ent idosos com idade igual ou superior a 65 anos foi 2,2% na Africa, 5.8% na Asia, 6,2% na América do Norte, 7,1%na ‘América do Sul, 8 8.9% na Europa. € interessante realear que a prevaléncia de deméncia aurmentou ‘com a idade em todas as reides, exceto na América do Nort, sendo que no grupo de dade superior 2 100 anos houve diminuigdo em retagdo a0 grupo de idosos mais ovens. Em estudos mais recentes (Vas etal. 2001), como na Inca, a prevaléncia de deméncia fi de 0.43% nos indivduos acima de 40 ‘anos ¢ 244% ao considerarem os com 68 anos ou mais. No Japo, na zona rural, a prevaléncia de cdeméncia fide 11%, sendo a causa mais frequents, a DA (7% dos indviduos acima de 64 ans). Na Espanha, também na zona rural, a prevalnca foi de 9.4%, tendo sido a DA responsvel por 69,1% dos ‘casos, Numa analise crtca dos estidos realizados na China (Dong eal, 2007), oi observada uma prevaléncia de DA de 1,6% dos suits com idade igual ou superior a 60 anos, sendo de 3,2 % entre os enalabetos. Em andlse de dados coletados na América do Sul, a prevaléncia média de deméncia foi de 7.1% endo maior entre anafabetos (11%) (Nini etal, 2008) Este dado repete-se na maior parte dos estudes, em que existe uma preveléncia maior ene os néo allbetizades. Provavelmente, esse achedo justca-se pela maior reserva cerebral e cogntva,rterdando o aparecimento de deméncia para idades mais elevades, e, também, pela concomitancia de baxo nivel educacional a baixos niveis sociceconémicos,lmitado acesso ao ratamento de Stores de rsco para doencas vasculares outas ddoengas sistémicas ou carenciais DEMENCIAS DEGENERATIVAS OU IRREVERSIVEIS ‘Aceusa mais comum de deméncia degeneratva & @ DA. Caracteriza-se pelo inicio insidioso de ‘compromeimento da memoria (com défcit predominante de aprencizado de novas iformagdes), seguindo-se ateragdes nas fungbes executvas,visuoconstrutvas e de inguagem.hicie-se mais ‘Fequentemente apés os 65 anos; poranto é, caractersicamente, uma deméncia de inicio taro. Patblogicamente caractetiza-se por degeneragdo neuronal, secundéra ao acimulo de proteins anbmaias,levando a formagéo das placas senis(protena beta-amibide insole!) € os novelos neurofbrares (protena tau hiperfosforiada) (Gomez-sia etal 2008). Atuelmente @ DA diagnosicada baseada nos crits do National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Stroke ~ Alzheimer’s Disease and Related Disorders Association (NINCDS-ADRDA), publicados em 1964 (Mckhann eta), na tentaiva de unformizar 0 diagnéstc: porém, este se baseia na perda cognitva sufciente para tr um comorametmento funcional e nas atvidades socais em relagSo 20 nivel prévi do indviduo, pressupondo eno 0 quadro demencial, desde que outras causas de comprometmento cogntvo sejam alastadas, Alguns autores tm proourado adiantar 0 chagnéstio para um periodo anterior ao da gravidade suficiente para deméncia Pera tlm sido proposto que se utizem marcadores fsiopatoogicos (dosagem de beta-amilide, proteins tae fosfo-au no lquido cetalorraqudiano; PET com PB — (um radiaigante ao amide cerebral) e opogrios (ressonancia magnéica com atta do labo temporal medial e PET com fuorodeorighcose demonsrando hipometabolsmo nas regides emporoparietis) (Dubois eta, 2010), Este tpo de abordagem proposta necessitaré de maiores avaliagdes, provavelmente servi em pesquises, principalmente de drogas modifcadoras do curso da doenca, no sendo aplcavel em termos de satde paca segunda causa de deméncia de causa degeneratva em idosos & a deméncia com oorpos de Lewy (DCL. Em estudos neuropetolégicos @ DCL aparece com uma frequéncia de 15 a 20% de todas as necrépsias em idosos (MoKeih of al, 2004), Em estidos populacionais a prevaléncia de DCL varia de 2,8 a 30,5% dente os quados de deméncia. No Brest, no estudo epidemiolégio realzado na Cidade de Catanduva, a DCL ‘oi diagnostca em 1,7% dos casos de deméncia (Herrera etal) ADC tem como caractrstcas histopatblogias 0s corpos de Lewy intaceluleres e neuntos de Lewy com a presenga abundante de placas sens @ esparsos novelos neurotiares (McKee al, 2004). A caractristca cent - dernéncia - & essencial para o diagndsico de provavel ou possivel. 0 perf cogniivo mesda caractersicas cortcas e subcortoais, Predominam desde 0 inicio, défi de alengio, fungies executvas efungGes visuoespaciais. A meméria pode estar comprometide de modo mais lev, nos casos inciis. Ouvas caracterisicasftequentes e importantes para o diagndsco sao as alucnagbes, futuaghes da cognicdo e o parkinsonismo, Considera-se convenient 0 petiodo de um ano entre o inicio da deméncia eo parkinsonism para o diagnéstco de DCL. dferenciando-a da Doenga de Parkinson com deméncia em que o quadro motor precede em anos © compromesimento cognitive (Mokeit et al, 2005), DEMENCIAS NAO DEGENERATIVAS E/OU POTENCIALMENTE REVERSIVEIS causa mais frequents de deméncia nao degeneratva ou de deméncia secundéria & a doenga vascular cerebral. Os achades para deméncia vascular veriam ente os estidos e ene paises. ‘Ademéncia vascular (DV) € muito fequente em paises em que o contole dos fatores de risco para doengas vasculares € escasso, @ também no orente, com prevalencias de até 60% no Japo e China Nos estudos, representa 15 a 20% de tndos 0s casos de deméncia em séries de varios paises (Romén, 2004). Em estudo popuiacional brasileo, sua prevaléncia ene idosos fi de 9,4% (Herrera etal, 2002), ‘ADV seria 0 estigio fal do comprometimento cogntvo vascular (CCV), temo mais abrangena, que visa estabelecero diagnostic antes do aparecimento da deméncia. O quadro clnico do CCV depende do calibre dos vas0s acometdos ¢ dos tririos de iigag&o aletados (Roman, 2004), arias

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