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Si ry BRC GuTF i i ae OT OI Tzimisce parte um: O CONSELHO DE GUERRA 7 parte dols: A DANCA DO FOGO parte trés: OA PRAUDE o. Sabado, 19 de junho de 1999, 21h12min Sala Chandler, Hotel Omni, Centro CNN Atlanta, Georgia Polénia avaliou a sala de conferéncias com um olhar critico. Perfeito. Mesmo assim, ele parecia um pouco preocupado enquanto continuava como titual — trocando a posigao de um marcador de lugar aqui, retirando uma pega de cristal lascado ali e arrancando um dispositivo de escuta mal escondido. De forma mec4nica, corrigiu meia dezena de falhas sutis, mas potencialmente desastrosas, em telagdo as regras de etiqueta e protocolo. Estava penosamente consciente de que era necessirio bem pouco para transformar um conselho de guerra do Sab4 em um turbilhao violento e descontrolado. Ele completou uma volta inteira em tomo da enorme mesa de reunido e comecou de novo. A medida que caminhava, as pontas dos dedos de sua mio direita percorriam a superficie lisa da mesa. A sensago era reconfortante. A mesa de carvalho escurecido era uma presenga importante na sala. Polénia, comum ar de aprovag4o, enumerou mentalmente as suas virtudes. Para comegar, era imensa. O seu tamanho descomunal tornava pouco provavel que mesmo o monstro Tzimisce mais brutal fosse capaz de esmag4-la ou (como estavam to acostumados) de esmagar alguém com ela. Apenas isso jé seria uma vantagem significativa quando a discussao ficasse mais intensa, o que inevitavelmente iria acontecer. A grande mesa circular tinha ainda o peso adicional da tradigio e da Histéria sobre ela. A peca havia sido comprada, por uma soma considerdvel, de uma colegio particular de Lake, na Inglaterra, Era sem dtivida uma imitag’o, mas uma imitac‘io com uma Histéria. E isso fazia toda a diferenca, Assim como a sua antecessora lendaria, esta tavola redonda servia para evitar as infinitas poses e exibig6es de poder que de outra forma poderiam surgir em uma assembléia de generais orgulhosos e temperamentais conforme cada um disputava um lugar de honra como o “cabega” da mesa. Pol6nia sorriu com esse pensamento. Nao era s6 a mesa que no tinha um “cabega”, mas também toda aquela maldita assembléia. Ele estava completamente consciente de que nada levaria os facciosos lideres de grupos do Sabé a aceitarema sua lideranga. Havia aplicado uma boa parte de seus esforgos na preparagio dese acontecimento apenas para se assegurar de que n3o pertenceria ao grupo dos que seriam destrocados nas discuss6es iniciais. Como arcebispo Sabi de Nova Torque, Francisco Domingo de Poldnia era, sem dgvida nenhuma, um dos principais lideres Cainitas da América do Notte. Afinal, Nova lorque tinha sido uma das primeiras bases Sab4 no Novo Mundo e se tomara a jia da coroa, apesar da incémoda presenga da Camarilla na cidade. Polénia suspeitava que o fato de ainda pensar na América como “o Novo Mundo” revelava demuis a sua idade. Mas fora exatamente esse cuidado que fizera Nova lorque deixar de ser de mero pesadelo pré-industrial para se tornar o parque de diversoes completo da Gehenna que € hoje. Era poressa razfio que, mesmo aqui em Atlanta, longe da sua esfera de influéncia, a responsabilidade por acolher esse pequeno encontro deveria recair sobre Polénia. Na geografia dos mortos-vivos, apenas Miami ousava se colocar como rival da primazia de Nova lorque. Entre essas duas cidades, estendia-se uma faixa continua 10 TZIMISce de territ6rio inimigo cobrindo quase toda a Costa Leste. Polénia sabia que o sew poder e influéncia eram inGteis aqui em Atlanta. A cidade fora uma fortaleza da Cammutilla desde a sua fundago. Havia pouco em que confiar. Claro que ele podia estar seguro da lealdade das forgas escolhidas a dedo e trazidas para 0 conselho — supondo, obviamente, que nenhuma oportunidade mais interessante itia aparecer. Ele iria tomar cuidado para que isso nfo acontecesse, ¢ essa era uma 4rea em que tinha uma certa experiéncia. No entanto, a reuniio de generais do Sabé causava uma incerteza ainda maior, Encontrados em bandos saqueadores que devastavam de ponta a ponta toda a zona tural americana, esses grupos de mercendrios auténomos nio eram leais a ninguém. €s6 respeitavam alguns escolhidos — aqueles que tinham conquistado esse respeito em lutas com fogo e espada. Em menos de uma hora, Pol6nia percebeu, aquela sala de conferéncias estaria apinhada com uma multidao clamorosa formada pelos mais implacdveis tiranos, predadores, fandticos, mafiosos, serial killers, salteadores, lideres de bandos ¢ anarquistas que ficaram juntos em um tinico lugar desde... bem, provavelmente desde 0 comego da Primeira Cruzada. Os pensamentos de Polénia regressaramcom relutAncia ao tempo presente. Esta reuniao moderna seria 0 orgulho do Sabi — a elite da elite — dos lideres de grupos, dos prelados e dos generais. Todos os que conseguissem comandar um conjunto de seguidores que tivesse pelo menos uma dezena de Cainitas estariam disponiveis para realizar um ataque contra a odiada Camarilla. Pol6nia tinha completado mais um circuito em torno da mesa, regressando ao sew lugar e ao corpo que balangava lentamente atris dele, como uma tapesaria. O objetivo era que isso fosse um sinal visivel da proximidade da Camarilla — um jovem Toreador, empertigado, feminil e imaculado. Polénia nao parecia nem um pouco incomodado pelo né grosseiro na corda ou pelo Angulo improvavel formado pelo pescogo. Como tudo na sala, o jovem estava perfeito. Polénia queria manter a atengSo concentrada na Camarilla — na posig‘o, fraquezas e vulnerabilidades dela. N4o podia estar mais satisfeito como resultado da cagada. As maos da vitima estavam unidas diante dele em uma atitude de stplica. Elas seguravam uma vela negra de aspecto viscoso. Poldnia acendeu o pavio e sormbras se espalharam por todas as direg6es. A luz da vela, ele examinou melhor os tragos da vitima. Inestimiveis. Até mesmo os caninos do Toreador eram vestigiais e nada ameagadores — um fato que, sem diivida, explicava 0 curioso artefato que havia encontrado mais cedo. Polénia pegou mais uma vez o leno de seda dobrado com delicadeza e ligeitamente perfumado. Ao abri-lo, revelou um pingente de prata bem trabalhada — umdedal comprido e com um belo acabamento em cuja ponta se salientava uma magnifica lanceta. De repente, Polonia deu um golpe sob o queixo da vitima, retirando a lanceta antes que a primeira goticula de sangue pudesse cair. Ele embrulhou novamente ¢ com cuidado a delicada lamina de prata a0 som dos primeiros pingos que assobiavam e crepitavam abaixo. Agora, estava irrevogavelmente comprometido como ritual A sua frente. Foi com grande relutancia que deu as costas a sala de conferéncias. Seus dedos ansiaram pelo conforto tatil da grande mesa, por uma tltima volta pela sala, por colocar cuidadosamente em ordem as incertezas da noite que se aproximava. ERIC GRIFFIN a

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