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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

REUSO DE ÁGUA.

Jacqueline Cristina Silva Corrêa.

Uberlândia - MG
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

REUSO DE ÁGUA.

Jacqueline Cristina Silva Corrêa.

Monografia de graduação apresentada à


Universidade Federal de Uberlândia como
parte dos requisitos necessários para a
aprovação na disciplina de Projeto de
Graduação do Curso de Engenharia Química.

Uberlândia – MG
2014
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA MONOGRAFIA DA DISCIPLINA PROJETO
DE GRADUAÇÃO DE JACQUELINE CRISTINA SILVA CORREA APRESENTADA À
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, EM 17/03/2014

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________
Prof. Dra. Vicelma Luiz Cardoso
Orientador- FEQUI/UFU

___________________________________

FEQUI/UFU

___________________________________

FEQUI/UFU
1

Sumário
Resumo ....................................................................................................................................... 2

1 - Introdução ............................................................................................................................ 2
2- Revisão Bibliográfica ........................................................................................................... 4
2.1. Definições de Reuso de Água.............................................................................................. 4

3 - Critérios e padrões de qualidade da Água ........................................................................ 5


Parâmetros Indiretos .................................................................................................................. 6

Parâmetros Diretos – Concentrações de espécies químicas ...................................................... 7

4 - As dimensões legais e regulatórias. .................................................................................... 9


5 - Tecnologia de reuso de na indústria. .............................................................................. 12
5.1. Tratamentos Primários....................................................................................................... 13

5.1.1. Neutralização ...................................................................................................... 13


5.1.2. Coagulação, floculação e sedimentação ............................................................. 14
5.1.3. Filtração .............................................................................................................. 15
5.2. Tratamentos Secundários – Tratamento Biológico ........................................................... 15

5.2.1. Lodo Ativado ...................................................................................................... 16


5.2.2. Lagoas de Aeração.............................................................................................. 17
5.2.3. Filtro Biológico .................................................................................................. 17
5.3. Tratamentos Terciário......................................................... Erro! Indicador não definido.

5.3.1. Adsorção em carvão Ativado ............................................................................. 18


5.3.2. Amonia Stripping ............................................................................................... 19
5.3.3. Ozonização ......................................................................................................... 20
6 - Avaliação de riscos do reuso............................................................................................. 21
6.1. Caracterização do risco ...................................................................................................... 22

6.2. Gerenciamento de Riscos .................................................................................................. 23

7 - Conclusões .......................................................................................................................... 24
Referências Bibliográficas. .................................................................................................... 24
2

Resumo
O presente trabalho teve como objetivo apresentar um relato das
tecnologias mais utilizadas no reuso de água bem como a
importância do emprego dessas técnicas. Foram descritos os
aspectos legais e regulatórios pertinentes como também os riscos
e o gerenciamento da reutilização de água, especialmente na
indústria. A descrição desses processos foi conduzida por uma
busca diversa de material na literatura. A conclusão final é que o
reuso da água representa uma alternativa eficiente e econômica
no combate à escassez de água.

1. Introdução

A água é um elemento natural essencial à vida no planeta e por ser um recurso


limitado ele possui papel taxativo no desenvolvimento econômico e social de uma
região. Por esta razão a água é uma fonte de conflitos internacionais, cerca de 40% da
população mundial dependem de bacias hídricas divididas por duas ou mais nações,
como salientou em 1993 a geóloga e cientista política americana Sandra Postel (1997).
Visto do espaço, é difícil imaginar como um planeta tão azul pode sofrer de
escassez de água (POSTEL, 1997). Mas, o Ministério do Meio Ambiente (2007)
destaca que apesar de dois terços da superfície da Terra ser coberta por água, menos
de 1% dessa água é doce, sendo o restante impróprio para consumo ou o custo para
sua exploração é fator limitante.
Os recursos hídricos são renováveis, sendo que uma fração da água do planeta
está sempre se transformando em água doce através de um continuo processo de
evaporação e precipitação. Aproximadamente 40.000.000 m3 de água são transferidos
dos oceanos para a terra por ano, renovando o suprimento de água doce mundial. O
problema surge da distribuição irregular da precipitação e do mau uso que se faz da
água captada. (POSTEL 1992 apud MANCUSO; SANTOS, 2003).
Segundo MANCUSO et al (2003), no Brasil estão presentes pelo menos 8%
da reserva mundial de água doce, sendo que 80% destes encontram-se na Região
Amazônica. Se considerarmos que 65% de toda a água consumida é utilizada pela
3

agropecuária, 25% pelas indústrias e o restante encaminhados para fins urbanos


estamos desperdiçando água potável em setores que a qualidade da água não é um fator
decisivo. É necessário enquadrar os aspectos disponibilidade e uso pretendido. A troca
da água potável por água de reuso, onde essa substituição for possível, ajuda a manter
a sustentabilidade desse valioso recurso.
O aumento crescente da população e a consequente necessidade de aumento
da produção agrícola e industrial fazem com que a demanda por água seja cada vez
maior, somando-se a disponibilidade reduzida em função da sua má distribuição no
Planeta indicam o reuso de água como uma das chaves para solucionar parte do
problema.
A grande vantagem da utilização de água de reuso é a preservação da água
potável, reservando-a exclusivamente para o atendimento das necessidades que exijam
a sua potabilidade para o abastecimento humano. Além disso, a substituição de uma
água de boa qualidade por outra inferior, porém que contenha a qualidade requerida
para o destino traçado pra ela é também uma vantagem do reuso da água.
Segundo HESPANHOL e MIERZWA (2005) é importante a criação de
estratégias que compatibilizem o uso da água nas atividades humanas à idéia de que
os recursos hídricos não são abundantes no país. Isto significa que os atuais conceitos
sobre uso da água, tratamento e descarte de efluentes gerados devem ser reformulados.
Assim sendo, a racionalização e o reuso da água tornam-se elementos essenciais que
podem garantir a continuidade das atividades humanas, diante desse cenário de
escassez de recursos hídricos.
A reutilização, ou o reuso de água, ou o uso de águas residuárias não é um
conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo há muitos anos. O objetivo deste
trabalho é reunir e apresentar algumas técnicas já sedimentadas de reuso de água na
indústria, sendo que a qualidade da água utilizada e o objetivo específico do reuso
estabelecerão os níveis de tratamentos recomendados, os critérios de segurança a
serem adotados, os custos de capital, a operação e manutenção associados.
4

2. Revisão Bibliográfica
2.1. Definições de Reuso de Água
O termo água de reuso passou a ser utilizado com maior frequência na década
de 1980, quando as águas de abastecimento foram se tornando cada vez mais caras,
onerando o produto final quando usadas no processo de fabricação. Como o preço do
produto, ao lado de sua qualidade, é fator determinante para o sucesso de uma empresa,
a indústria passou a procurar, dentro de suas próprias plantas, a solução para o
problema, tentando reaproveitar ao máximo seus próprios efluentes. Uma gama de
processos foi desenvolvida visando a redução de custos, tendo obtido melhores
resultados aqueles que utilizaram com sucesso esse métodos (MANCUSO; SANTOS,
2003).
Sempre que a água com qualidade requerida para determinado uso torna-se
um recurso escasso, são buscadas, de forma sistematizada ou não, alternativa de
suprimento ou repressão do consumo, para que seja restabelecido o equilíbrio
oferta/demanda (ORNELLAS, 2004).
O reuso de água consiste na recuperação de efluentes de modo a utilizá-las
em aplicações menos exigentes. Desta forma o ciclo hídrico tem sua escala diminuída
em favor do balanço energético (METCALF; EDDY, 2003).
De maneira geral, o reuso da pode ocorrer de forma direta ou indireta, por
meio de ações planejadas ou não e para fins potáveis e não potáveis. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde - OMS (1973) tem-se:
 Reuso indireto: ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para
uso doméstico e industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e
utilizada novamente ajusante, de forma diluída;
 Reuso direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para
certas finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aquífero e potável;
 Reciclagem interna: é o reuso da água internamente às instalações
industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle de poluição.
Já a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) adota
uma classificação de reuso de água em duas grandes categorias: potável e não potável.
Esta classificação é amplamente adotada por sua praticidade e facilidade.
5

Reuso Potável
 Reuso Potável direto: quando o esgoto recuperado, por meio de
tratamento avançado, é diretamente reutilizado no sistema de água potável.
 Reuso Potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto
na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação natural e
subseqüente captação, tratamento e finalmente utilizado como potável.

Reuso não Potável


 Reuso não potável para fins industriais: abrange os usos industriais de
refrigeração, águas de processo, para utilização em caldeiras, etc.
 Reuso para manutenção de vazões: a manutenção de vazões de cursos de
água promove a utilização planejada de efluentes tratados, visando uma adequada
diluição de eventuais cargas poluidoras a eles carregadas, incluindo-se fontes difusas,
além de propiciar uma vazão mínima na estiagem.

3. Critérios e padrões de qualidade da Água


A qualidade das águas é representada por um conjunto de características,
geralmente mensuráveis, de natureza química, física e biológica.
Os padrões de qualidade para a água industrial dependem de como ela será
aplicada. No caso de indústrias alimentícias e farmacêuticas, por exemplo, a água deve
ter um elevado grau de pureza, caso venha ser parte integrante do produto final ou
entre em contato com as substâncias manipuladas em qualquer fase do processo. Esses
padrões podem ser mais restritivos do que os padrões de qualidade da água para
consumo humano (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
Para MIERZWA e HESPANHOL (2005) os padrões de qualidade são menos
rigorosos para outras finalidades como, por exemplo, na utilização da água em
sistemas de refrigeração. O que ocorre, portanto, é que uma determinada indústria pode
precisar de água com diversos padrões de qualidade, desde uma água com alto grau de
pureza até outra água que não tenha sofrido qualquer tipo de tratamento, conhecida
como água bruta.
Sendo um recurso comum a todos, foi necessário, para a proteção dos corpos
d'água, instituir restrições legais de uso. Desse modo, as características físicas e
6

químicas da água devem ser mantidas dentro de certos limites, os quais são
representados por padrões e valores orientadores da qualidade de água.

As características da água podem ser classificadas em cinco categorias:


 Físicas: cor, turbidez, temperatura e condutividade elétrica.
 Organolépticas: sabor e odor.
 Químicas: pH, alcalinidade, acidez, concentração de ferro, de
manganês e outros elementos.
 Biológicas: presença de organismos vivos (determinada quali e
quantitativamente via exames de bacteriologia e hidrobiologia).
 Radioativas: presença de elementos emissores de radiação alfa,
beta e gama.

As análises físicas e organolépticas medem e indicam características


perceptíveis pelos sentidos (cor, turbidez, odor e sabor). São características subjetivas.
Os parâmetros existentes para avaliar a contaminação da água devido à
presença de compostos químicos, podem ser diretos ou indiretos, ou seja, podem ser
parâmetros que identificam e quantificam os compostos contaminantes, ou parâmetros
indicativos da presença de algum contaminante.

Parâmetros Indiretos

Abaixo são listados os principais parâmetros para avaliação indireta da


qualidade da água.
Oxigênio dissolvido (OD) - Quantidade de gás oxigênio contido na água ou
no esgoto, geralmente expressa em parte por milhão numa temperatura e numa pressão
específica. É a medida da capacidade de água para sustentar organismos aquáticos. A
água com conteúdo de oxigênio dissolvido muito baixo, que é geralmente causada por
lixo sem excesso ou impropriamente tratados, não sustentam peixes e organismos
similares. Portanto, o OD é um dos principais parâmetros de caracterização dos efeitos
da poluição das águas decorrentes de despejos orgânicos.
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) - É a quantidade de oxigênio
necessária para oxidação da matéria orgânica biodegradável. Um valor de DBO alto
indica uma grande concentração de matéria orgânica e baixo teor de oxigênio. Uma
7

DBO alta significa presença de poluição através da matéria orgânica proveniente de


fontes pontuais e/ou difusas de origem doméstica ou industrial.
Demanda Química de Oxigênio (DQO) - É a quantidade de oxigênio
necessária para oxidação da matéria orgânica através de um agente químico. Um valor
de DQO alto indica uma grande concentração de matéria orgânica e baixo teor de
oxigênio. O aumento da concentração de DQO num corpo d'água se deve
principalmente a despejos de origem industrial.
pH (Potencial Hidrogeniônico) - Medida da concentração relativa dos íons
de hidrogênio numa solução; esse valor indica a acidez ou alcalinidade da solução.

Parâmetros Diretos – Concentrações de espécies químicas

Esses parâmetros podem medir tanto a concentração de contaminantes, como


de compostos benéficos à saúde que são adicionados à água durante o processo de
tratamento como cloro e flúor, assim como a concentração de compostos prejudiciais
à saúde humana como cromo, mercúrio e chumbo.
Os aspectos químicos da água se baseiam em substâncias dissolvidas,
avaliadas por meios analíticos, como, dureza, acidez, pH, alcalinidade, cloretos, cloro
residual, entre outros (ANDRADE e MACÊDO, 1996). Os aspectos químicos
relevantes na qualidade da água na indústria são os mais importantes índices que
caracterizam a qualidade da água sob os aspectos de processamento, higiene e
economia. Estes aspectos podem ser avaliados pelos índices de dureza, acidez e
alcalinidade, pH e íons dissolvidos (ferro, manganês e cloro) (FIGUEIREDO, 1999).
Em relação à qualidade microbiológica, a água pode atuar como veículo de
microrganismos patogênicos e deteriorantes, constituindo um risco à qualidade do
alimento e à saúde do consumidor (ANDRADE e MACÊDO, 1996).
Normalmente a contaminação radioativa da água ocorre devido à presença de
urânio e/ou radônio, provenientes das formações rochosas. Além das contaminações
provenientes das rochas e aquelas provocadas pelo homem pelo descarte inadequado
do lixo e de resíduos industriais, temos que citar outra que são as estações de
tratamento de água, que além de não removerem todos os contaminantes existentes,
ainda acrescentam outros contaminantes, como cloro e alumínio (CONNER, 1998).
No Brasil, a Portaria nº 2.914 de 14 de dezembro de 2011 do Ministério da
Saúde define os padrões de potabilidade da água com base nas exigências da OMS
8

(Organização Mundial de Saúde). Esta legislação define também a quantidade mínima,


a freqüência em que as amostras de água devem ser coletadas e os limites permitidos.
São parâmetros analisados: Cloro e cloroamoniação, turbidez, cor, pH, coliformes e o
teor de flúor.

Tabela 3.1: Padrão de aceitação de água potável para consumo humano


PARÂMETRO UNIDADE VMP(1)
Alumínio mg/L 0,2
Amônia (como NH3) mg/L 1,5
Cloreto mg/L 250
(2)
Cor Aparente uH 15
Dureza mg/L 500
Etilbenzeno mg/L 0,2
Ferro mg/L 0,3
Manganês mg/L 0,1
Monoclorobenzeno mg/L 0,12
Odor - Não objetável(3)
Gosto - Não objetável(3)
Sódio mg/L 200
Sólidos dissolvidos totais mg/L 1.000
Sulfato mg/L 250
Sulfeto de Hidrogênio mg/L 0,05
Surfactantes mg/L 0,5
Tolueno mg/L 0,17
(4)
Turbidez UT 5
Zinco mg/L 5
Xileno mg/L 0,3
NOTAS:
(1) Valor máximo permitido.
(2) Unidade Hazen (mg Pt–Co/L).
(3) critério de referência
(4) Unidade de turbidez.

A depender da qualidade da água “in natura” e do uso a que se destina, essa


água poderá ou não sofrer tratamentos adequados a cada aplicação. Para finalidades
potáveis, quase sempre, a água tem de passar por um tratamento após a captação para
dotá-la dos requisitos de qualidade necessários para o uso humano com relativa
segurança. Grande parte dos sistemas de gerenciamento de água potável não oferece
9

qualquer garantia para o seu fornecimento contínuo com manutenção da qualidade


físico-química e microbiológica, condições indispensáveis para a potabilidade da água
(DESAR, 2001).

4. As dimensões legais e regulatórias.


“Dada a grande importância da água para o desenvolvimento das diversas
atividades humanas, foi indispensável criar normas que disciplinassem a utilização dos
recursos hídricos pelos diversos seguimentos da sociedade, principalmente pelas
indústrias, companhias de saneamento e produtos rurais. Existem normas, tanto na
esfera federal como na estadual e municipal, que delimitam padrões para o lançamento
de efluentes de qualquer natureza e classificam os recursos hídricos de todo o território
nacional de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas e com o uso
a que se destinam.” (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
Na esfera federal, as diversas normas que tratam dos recursos hídricos são
amparadas pela Constituição Federal de 1988 que estabelece a água como um bem da
União ou dos estado, ressaltando que o seu aproveitamento econômico e social deve
buscar a redução de desigualdades. Com base na Constituição de 88, foi elaborada a
Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH (Lei 9.433 de 1997) que fixa
fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos capazes de indicar claramente a
posição e orientação publica no processo de gerenciamento dos recursos hídricos; além
disso, demonstra a importância da água e reforça seu reconhecimento como elemento
indispensável a todos os ecossistemas terrestres, como um bem dotado de valor
econômico. Para facilitar a implantação dos novos mecanismos instituídos para a
gestão dos recursos hídricos, o Ministério do Meio Ambiente criou a Agência Nacional
de águas (ANA - Lei 9.984) que coordena e dá suporte ao Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos - SNGRH.
Na Lei 9.433, o capítulo IV trata dos instrumentos definidos para gestão dos
recursos hídricos, como a outorga pelo direito de uso da água e a cobrança
correspondente. Um dos objetivos da cobrança pelo uso da água é incentivar a sua
racionalização, que pode contemplar medidas de redução no consumo por meio de
melhorias no processo e pela prática de reuso. A referida lei cria ainda o Conselho
Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que é um colegiado que desenvolve regras
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de mediação entre os diversos usuários da água sendo também responsável pela


implementação da gestão dos recursos hídricos. Uma das dez câmaras técnicas do
CNRH é a Câmara Técnica de Ciência e Tecnologia (CTCT), dentro do qual foi criado
o grupo de trabalho sobre reuso de água- GT - Reuso que possui como objetivo propor
mecanismos e instrumentos voltados para a regulamentação e institucionalização da
prática do reuso não potável de água em todo o território nacional.
Com o crescente interesse pelo tema, o Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH), publicou a Resolução 54, em 2005, que foi a primeira
regulamentação que tratou de reuso de água, a qual estabelece os critérios gerais para
a prática de reuso direto não potável de água. Nessa resolução, é definida as cinco
modalidades de reuso de água:
I - reuso para fins urbanos: utilização de água de reuso para fins de irrigação
paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de
tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio dentro da área urbana;
II - reuso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reuso para
produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
III - reuso para fins ambientais: utilização de água de reuso para implantação
de projetos de recuperação do meio ambiente;
IV - reuso para fins industriais: utilização de água de reuso em processos,
atividades e operações industriais;
V - reuso na aquicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais
ou cultivo de vegetais aquáticos.
Uma vez que ainda não existe uma legislação que regulamente os parâmetros
para o tratamento da água para reuso, o mercado tem adotado os critérios estabelecidos
pela norma ABNT NBR 13.696 de setembro de 1997. As aplicações e padrões de
qualidade descritos pela norma são apresentados na tabela 4.1 a seguir.
11

Tabela 4.1 – Classes de água de reúso pela NBR-13.969 e padrões de qualidade


de reúso Aplicações Padrões de Qualidade
Classe 1 - Lavagem de carros e outros usos - Turbidez < 5 uT
com contato direto com o usuário.
- Coliformes Termotolerantes < 200
NMP/100 mL

- Sólidos Dissolvidos Totais < 200


mg/LpH entre 6 e 8

- Cloro residual entre 0,5 mg/L a 1,5


mg/L
Classe 2 - Lavagem de pisos, calçadas e - Turbidez < 5 uT
irrigação de jardins, manutenção de
lagos e canais paisagísticos, exceto -Coliformes Termotolerantes < 500
chafarizes. NMP/100 mL

- Cloro residual superior a 0,5 mg/L

Classe 3 -Descargas em vasos sanitários. - Turbidez < 10 uT

-Coliformes Termotolerantes < 500


NMP/100 mL
Classe 4 - Irrigação de pomares, cereais, -Coliformes Termotolerantes < 5000
forragens, pastagem para gados e NMP/100 mL
outros cultivos através de escoamento
superficial ou por sistema de irrigação - Oxigênio dissolvido > 2,0 mg/
pontual.

A legislação estadual foi sancionada a Lei 13199/99 que dispõe sobre a


política Estadual de recursos hídricos e institui o Instituto Mineiro de Gestão das
Águas - IGAM para o gerenciamento dos Recursos Hídricos no Estado. Não há lei
municipal que verse sobre o assunto.
De maneira geral a legislação sobre reuso no Brasil é incipiente. Segundo
HESPANHOL (DAE - Edição 188) isto ocorre devido à falta de vontade política na
forma de estímulo ao desenvolvimento de tecnologias, na criação de programas de
pesquisas, na introdução de linhas de créditos específicos somado à falta de um
arcabouço legal que defina as modalidades de reuso permitidas, estabeleça os padrões
de qualidade da água de reuso para cada uma delas e respectivos códigos de prática e
12

defina os critérios para licenciamento, os mecanismos de controle e sistema de


informações.

5. Tecnologia de reuso de água na indústria


De acordo com o ramo de atividade da indústria, as características químicas,
físicas e biológicas dos efluentes, resultantes da transformação da matéria prima em
produtos, podem variar bastante. Além disso, as propriedades dos efluentes podem
variam em virtude da tecnologia, do regime de operação (contínuo ou intermitente) e
dos insumos. Sendo assim, é praticamente impossível estabelecer uma composição
genérica que abranja todos os setores.
A escolha da tecnologia mais adequada para o tratamento de um efluente
depende da análise detalhada dos tipos e características dos contaminantes, que
deverão ser eliminados ou minimizados, e do grau de pureza exigido. Mas, em geral,
o sistema convencional de tratamento de água utilizado pelo sistema público é o
primeiro procedimento adotado para o tratamento de água para uso industrial. Sendo
utilizados os métodos conhecidos de tratamento primário, secundário e terciário, com
suas possíveis variações.
Os processos de tratamento utilizados são classificados de acordo com
princípios físicos, químicos e biológicos:
a) Processos físicos: dependem das propriedades físicas do
contaminante tais como, tamanho de partícula, peso específico, viscosidade, etc.
Exemplos: gradeamento, sedimentação, filtração, flotação, regularização e/ou
equalização, etc.
b) Processos químicos: dependem das propriedades químicas dos
contaminantes ou das propriedades químicas dos reagentes incorporados.
Exemplos: coagulação, precipitação, troca iônica, oxidação, neutralização, osmose
reversa, ultrafiltração.
c) Processos biológicos: utilizam reações bioquímicas para a
eliminação dos contaminantes solúveis ou coloidais. Podem ser anaeróbicos ou
aeróbicos. Exemplo: lodos ativados, lagoas aeradas, biodiscos (RBC), filtro
percolador, valas de oxidação, reatores sequenciais descontínuos (SBR).
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A tabela abaixo lista as operações usualmente empregadas para os diferentes


tipos de contaminantes existentes nos efluentes industriais.

Tabela 5.1 - Tecnologia de Tratamentos de resíduos industriais

5.1. Tratamentos Primários

5.1.1. Neutralização

Utiliza-se a neutralização para ajustar o pH dos efluentes em valor aceitável,


geralmente entre 5,0 e 9, conforme padrão estabelecido em norma. O processo de
neutralização pode ser continuo ou intermitente. Faz-se o uso de substâncias ácidas
(ácido sulfúrico ou ácido clorídrico) para diminuir o pH, e substâncias alcalinas
(hidróxido de cálcio, hidróxido de sódio ou carbonato de sódio) para aumentar o pH.
14

Na maioria dos casos a neutralização é utilizada como uma operação intermediária,


dentro de um processo de tratamento.

Figura 5.1- Tanque de neutralização Malwee

5.1.2. Coagulação, floculação e sedimentação.

Partículas finas em solução ou estado coloidal permanecem em suspensão


pelo fato de terem cargas elétricas em suas superfícies, sendo que a força de repulsão
criada entre as cargas de mesmo sinal impede a aproximação, colisão e formação de
flocos. O processo de coagulação tem como principal objetivo neutralizar as cargas
elétricas das partículas em suspensão, por meio da adição de compostos químicos com
cargas positivas, como cal, sais de ferro, sais de alumínio e polímeros. A cal é usada
principalmente para remoção de fósforo, dureza de cálcio, sólidos em suspensão e
turbidez. A escolha dos coagulantes depende de cada tipo de reuso e das características
de cada estação de tratamento.
Após a coagulação, a floculação promove o contato entre as partículas
desestabilizadas, possibilitando a agregação em forma de flocos maiores e mais
pesados.
O processo de sedimentação ou decantação é a etapa subsequente que separa
da água os flocos formados na etapa de floculação. Esta separação ocorre devido a
15

ação da gravidade. Os sedimentadores podem ser retangulares ou circulares, ter


dispositivos de alimentação, coleta de água decantada e acúmulo e descarga de lodo.

5.1.3. Filtração

A filtração é o processo pelo qual as substâncias insolúveis são separadas e


retiradas quando uma corrente líquida passa por um meio ou barreira permeável. Para
determinados usos da água, a filtração pode preceder a alguns processos mais
avançados, tais como adsorção em carvão ativo e troca iônica.
As variáveis mais importantes, que influenciam na performance dos filtros,
são as características do material a ser retido, como o tamanho das partículas e a
resistência do floco, além do tamanho e da graduação do meio filtrante.
O meio filtrante mais utilizado é a areia, mas são bastante conhecidas as
combinações antracito e areia, carvão ativado e areia, resina e areia, resina, antracito e
carvão ativado e areia e granada.
Trata-se de um processo econômico e de fácil operação, sendo fundamental
para obtenção de água de alta qualidade. Normalmente, é usado no final do processo,
antecedendo a desinfecção, com ou sem auxílio de coadjuvantes de filtração.

5.2. Tratamentos Secundários – Tratamento Biológico


O tratamento biológico de efluentes é basicamente uma reprodução de
processos que ocorrem normalmente na natureza, denominando-se de autodepuração.
Os processos biológicos estão entre os mais antigos tratamentos de efluentes.
Inicialmente desenvolvidos para o tratamento de esgotos, os processos biológicos são
os mais eficientes para tratar efluentes com material orgânico biodegradável. O método
consiste no contato entre o efluente e uma cultura adequada de micro-organismos que
degradam os compostos orgânicos. A matéria orgânica pode ser degradada por micro-
organismos aeróbicos e anaeróbicos.

São as condições adequadas das câmaras de aeração (processos aeróbios) ou


biodigestores (processos anaeróbios ou aeróbios) que propiciam o crescimento dos
micro-organismos. Geralmente os micro-organismos aeróbios podem decompor
16

substâncias simples ou compostos em dióxido de carbono e, ao passo que os


anaeróbios só podem degradar substancias simples em metano e dióxido de carbono.
Os processos que se destacam nessa fase de tratamento secundário
compreendem: lodos ativados, lagoas de aeração, lagoas de estabilização, filtros
biológicos, biodigestores e etc. Na figura 5.2 podemos ver um esquema de tratamento
secundário.

Figura 5.2- Tratamento de efluentes secundário.

5.2.1. Lodo Ativado

Desenvolvido na Inglaterra no início do século XX, o tratamento por lodos


ativados vem sendo utilizado nos mais diversos tipos de efluentes talvez por se tratar
do sistema de biorremediação mais versátil e eficiente. O sistema de Lodos Ativados
é utilizado principalmente em fábricas onde não há área suficiente para as Lagoas de
Estabilização. O tratamento de efluentes por lodos ativados é um processo no qual o
material orgânico é utilizado como alimento pelos micro-organismos. Este sistema
opera com pouco substrato auxiliar e é capaz de remover a toxidade crônica e aguda,
com menor tempo de aeração. No lodo existe um grande número de espécies
bacterianas, além de fungos, protozoários e outros micro-organismos, que podem
17

favorecer a redução de um grande número de compostos. Recentemente, tem-se


desenvolvido o interesse no emprego de oxigênio puro em vez de oxigênio do ar para
o processo dos lodos ativados, o que permite reduzir extraordinariamente o volume
dos reatores. O processo de tratamento de águas residuárias por lodos ativados é
bastante flexível, podendo ser combinado com outros, quando se deseja tratamento
com alta eficiência, razão pela qual é incorporada em vários sistemas de reuso
existentes. (MANCUSO e SANTOS, 2002). A figura 5.3 mostra um tanque de lodos
ativados.

Figura 5.3- Tanque de Aeração - Lodos Ativados

5.2.2. Lagoas de Aeração

Lagoas aeradas são unidades de tratamento destinadas a estabilizar a matéria


orgânica dos efluentes através da oxidação bioquímica, na qual o oxigênio necessário
é suprido por aeradores artificiais. Podem-se subdividir em lagoas aeradas aeróbicas e
aeradas facultativas.

5.2.3. Filtro Biológico

O filtro biológico é uma estrutura, normalmente de concreto, que contém em


seu interior enchimento de pedras ou de plástico, que serve como leito sobre o qual o
esgoto é aspergido, como pode ser visto na figuras 5.4a e 5.4b. O esgoto escorre através
do leito, propiciando o desenvolvimento de uma população biológica que se acumula
sobre as pedras do filtro na forma de uma película de lodo. Ao morrerem, por falta de
alimento, esses organismos desprendem-se das pedras, sendo retidos no decantador
que normalmente vem após essa unidade. O desempenho dos decantadores, integrantes
18

do processo de filtração biológica, é fundamental na performance das unidades


subsequentes. A indústria de papel e celulose faz amplo uso dessa técnica. O filtro
biológico, se cuidadosamente operado e monitorado, tem boa aplicabilidade de reuso
em casos em que a DBO solúvel não é parâmetro crítico, como na irrigação.

Figura 5.4 (a) - Vista geral do filtro biológico e dos decantadores secundários associados.
Figura 5.4 (b)- Vista superior dos compartimentos do filtro biológico percolador preenchidos com
diferentes meios suportes, bem como do distribuidor rotativo.

5.3. Tratamentos Terciários.


5.3.1. Adsorção em carvão Ativado

O carvão ativado é qualquer forma de carvão amorfo que tenha sido tratado
para produzir material com capacidade de adsorção. Carvão mineral, madeira, casca
de coco, resíduos da produção do papel e resíduos a base de petróleo são as principais
matérias-primas do carvão ativado, (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
O carvão ativado é utilizado no tratamento de esgotos ou efluentes industriais
para remoção de materiais orgânicos solúveis que não são eliminados nos tratamentos
anteriores ou que não podem ser tratados pelos processos biológicos. Estas substancias
orgânicas, ditas refratárias, são passiveis de serem adsorvidas na superfície dos poros
das partículas de carvão, até que sua capacidade de adsorção se exaure, sendo
necessária a regeneração ou reativação. Essa regeneração, ou reativação de carvão, é
feita por meio de seu aquecimento, o que volatiliza o material orgânico adsorvido,
tornando os poros do carvão livres e regenerados (MANCUSO e SANTOS, 2002).
Tanto o carvão em pó quanto o granulado são eficientes, sendo que este possui
uma faixa maior de aplicação. Os grânulos são dispostos em colunas e leitos de carvão.
19

O processo também apresenta algumas desvantagens como ter sua eficiência


reduzida pelos sólidos em suspensão, óleos e graxas e a capacidade do carvão reter
contaminantes ser limitada; podem ocorrer problemas ambientais por causa da
disposição final do carvão exaurido, caso ele não seja regenerado; e, a implantação de
sistemas de tratamento baseados neste processo requer ensaios de laboratório e em
escala piloto. (MIERZWA, 2002).

5.3.2. Amonia Stripping.

O processo de tratamento por stripping ou extração pode ser feito com ar ou


com vapor, e consiste em transferir os contaminantes voláteis de uma fase líquida
(geralmente a água) para uma fase gasosa por meio de dispositivos adequados: câmaras
de aeração, sistemas de aspersão e colunas de recheio, sendo este último o mais
eficiente. Injeta-se ar pela base e o efluente pela parte superior da coluna. À medida
que as duas correntes passam através do recheio da coluna, devido ao aumento da
superfície de contato, os componentes mais voláteis são transferidos da fase líquida
para a gasosa. Quando as duas correntes deixam a coluna, a fase gasosa estará
enriquecida com os componentes voláteis e a líquida estará empobrecida.
(MIERZWA, 2002)

A remoção de amônia dos efluentes orgânicos tratados por processos


biológicos é uma das principais aplicações do processo de extração com ar (ammonia
stripping), também é o mais simples e de mais fácil controle, e cuja eficiência, quando
se utiliza torres de recheio, pode chegar a 90%. (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
O equilíbrio amônio/amônia ocorre a pH em torno de 7,0 de acordo com a
seguinte reação:
NH3 + H2O ↔NH4+ + OH- (1)
Com o aumento do pH, a reação se desloca para a esquerda, atingindo o maior
rendimento a valores de pH da ordem de 11,0. A operação das torres de arraste é
extremamente simples, embora o controle do pH do líquido afluente seja crítico. É
também um método particularmente efetivo na remoção de fósforo em pH adequado.
20

Figura 5.6 - Sistema de recuperação de amônia – Hong Kong

5.3.3. Ozonização

A ozonização é amplamente usada na Europa, no processo de desinfecção de


água potável. Além do alto poder oxidante, o ozônio é poderoso desinfetante de ação
não seletiva, porém bastante instável, decompondo-se rapidamente pela ação do calor
em razão da fraca ligação entre os átomos de oxigênio na sua molécula.
No caso de tratamento de águas residuais, sua instabilidade tem um aspecto
positivo, que é acrescentar oxigênio dissolvido à água, entretanto essa mesma
característica tem conotação negativa por não permitir sua estocagem, exigindo sua
geração junto ao ponto de aplicação, e por não persistir na água sob forma residual.
Embora existam vários métodos de produção de ozônio, o mais viável é por
descargas elétricas em ar seco ou oxigênio. Imediatamente após sua produção, é
emulsionado na água ou esgotos, e essa operação é muito bem-sucedida quando são
utilizado difusores porosos.
21

Seu forte poder oxidante torna-o bastante efetivo como germicida, destruindo
virtualmente 100% de vírus, bactérias e outros patógenos, dependendo do grau de pré-
tratamento, dose e tempo de contato.
Em sistemas de reuso, a utilização do ozônio é indicada em aplicações onde
são desejáveis altos níveis de desinfecção, incluindo a destruição de vírus cloro
resistentes e cistos. Também é indicado onde se deseja controlar a formação de
compostos organoclorados (MANCUSO E SANTOS, 2002).

6. Avaliação de riscos do reuso


Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, as técnicas de tratamento de
água são limitadas não removendo completamente todas as substâncias indesejadas da
água. Dessa forma é necessário avaliar os riscos à saúde humana e ao meio ambiente
associados ao reuso de água. O equilíbrio (gerenciamento de risco) das relações
risco/benefício e custo/eficácia das tecnologias de tratamento irão depender do uso
pretendido.
Segundo MANCUSO e SANTOS (2002) para elaboração de políticas de
gerenciamento social dos riscos é fundamental assistir aos responsáveis pela decisão
com critérios e processos, os mais claros e precisos possíveis. O gerenciamento de
riscos é o conjunto de procedimentos, normas e regras, tendo como objetivo controlar
e minimizar riscos, abrangendo todas as atividades técnicas, legais, decisórias, de
escolhas sociais, políticas e culturais que se encontrem associadas, diretamente ou
indiretamente, com as questões de risco em nossa sociedade (NARDOCCI, 1999).
Podemos dividir os riscos em objetivos e subjetivos, sendo os primeiros
estimados com base em cálculos estatísticos e metodologias quantitativas, enquanto os
riscos subjetivos são aqueles avaliados com base em julgamentos intuitivos.
Entre os riscos objetivos podemos citar os riscos à saúde humana, riscos
ambientais, tecnológicos, epidemiológicos, industriais, acidentais, ecológicos,
nucleares, etc. A avaliação dos riscos subjetivos procura conhecer como a percepção
e os julgamentos individuais ou sociais influenciam e/ou determinam as escolhas
relacionadas a risco e à sua aceitabilidade social (MANCUSO E SANTOS, 2002).
22

6.1. Caracterização do risco


O risco é a probabilidade de que algum efeito adverso ocorra. Sendo o risco
uma probabilidade, ele é sempre expresso como uma fração, sem unidades, assumindo
valores ente 0 e 1. O valor “zero” representa a absoluta certeza da não existência de
risco, o que nunca será demonstrado. O valor “um” é a certeza de que o dano
efetivamente ocorrerá (RODRICKS, 1992 apud MANCUSO, 2002). Entretanto o risco
nem sempre é quantificável em termos de probabilidade; ele poder ser dado por
comparação com valores de referência. Um dos valores de referência adotado pela
agencia de proteção ambiental dos Estados Unidos (Usepa) é chamada Dose de
Referencia (RfD).
Em MANCUSO (2002) a RfD é definida como a dose diária total de uma
substância química, em miligramas do peso corpóreo que, provavelmente, não causará
efeito adverso à saúde, ainda que o indivíduo esteja exposto ao longo de todo o seu
tempo de vida. A RfD origina-se da seguinte expressão (2):

RfD=NOAEL ou LOAFEL (2)


UF x MF

 NOAEL – (“No Observed Adverse Effect Level”) ou LOAEL, (“Lowest-


Observed Adverse Effect Level”) é a dose determinada experimentalmente para a
qual não há indicação, estatística ou biológica, de efeitos adversos à saúde;
 UF – “Fator de incerteza” que reflete a incerteza associada aos estudos
usados para determinar o NOAEL;
 MF – é o “fator de modificação”, que varia de 1 a 10, e representa um
fator de incerteza adicional. Sua definição é subjetiva, a partir do julgamento dos
profissionais envolvidos.
A Rfd é usualmente expressa em mg/Kg de peso do corpo por dia.
Exemplificando, para o mercurio, a Usepa definiu a RfD com base em algumas formas
de toxidade renal observada em ratos. 3Por exemplo, para calcular a ingestão diária de
mercúrio para um individuo hipotético de 70 Kg de peso:
Valor de Referência: RfD= 0,0003 mg/Kg de peso corpóreo/dia.
Então a ingestão de mercúrio pelo individuo poderá ser de até 0,0003 x
70=0,021 mg/dia.
23

Se a água potável contiver mercúrio e se o individuo consumir habitualmente


2 litros de /dia, a concentração máxima de mercúrio na água não poderá ser superior
a:
0,021 mg/2L, ou =0,01 mg/L
Portanto, uma concentração de mercúrio na água potável de 0,021 mg/L
corresponde a uma incorporação de 0,21 mg/dia e uma dose de 0,0003 mg/Kg de peso
corpóreo/dia.
No exemplo, a água potável foi considerada o único meio de exposição ao
mercúrio, o que em geral não é verdadeiro. Na prática, a contribuição de todos os
demais meios de exposição dever ser considerada para que a RfD não seja excedida.

6.2. Gerenciamento de Riscos

Apesar da complexidade dos processos de tomada de decisão, algumas


questões fundamentais devem ser consideradas na elaboração de políticas de
gerenciamento de riscos:
 A incerteza do próprio conceito de risco: não é possível adotar posturas
determinísticas (segurança absoluta) com base em critérios probabilísticos;
 Avaliações e decisões são fortemente dependentes de dados e
informações continuamente gerados: devem ser previstos mecanismos de
atualização e revisão de dados, bem como as implicações legais e sociais dessa
revisão;
 O papel do conhecimento científico na construção de valores e na
organização social;
 Os agentes sociais envolvidos: o debate da problemática ambiental tem
demonstrado a importância da atuação de vários agentes na busca de soluções para
os problemas ambientais;
 A credibilidade dos instituições gerenciadoras de risco.

Um dos maiores desafios dos gerenciadores de risco, de uma forma geral, é


julgar se um determinado nível de risco é aceitável. Essa decisão envolve questões
técnicas, sociais, políticas e éticas muito relevantes que devem ser analisadas em
conjunto.
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7. Conclusão
O presente estudo possibilitou um conhecimento geral de algumas técnicas
de tratamento de água para reuso, a legislação e os impactos sociais relacionados.
Foi constatado que a ampliação da utilização das técnicas de reuso esbarra em
questões legais e políticas. Mas é consenso que o uso eficiente da água, abrangendo a
componente de reuso, conduz ao alcance de outros objetivos intangíveis, tais como, a
melhoria da imagem da indústria através da otimização dos recursos e a redução dos
impactos ambientais, e desta forma contribuindo para a sustentabilidade de uma
atividade.
Muito embora, tenhamos técnicas de reuso já sedimentas de reuso de água,
não existem programas de pesquisas e de estímulo ao desenvolvimento de novas
tecnologias. Um outro fator é a falta de normas e padrões legais que estabeleçam os
padrões de qualidade da água de reuso, normas técnicas específicas e legislação que
incentivem ao reuso de água.
Por fim, de tudo o que foi dito a respeito da necessidade de se reutilizar a
água, podemos concluir que o reuso da água representa uma alternativa eficiente e
econômica no combate à escassez de água.

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