You are on page 1of 13

Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

Conversation Analysis: From emergence to applicability nowadays

Resumo: ​AC² surgiu no final de 1960 nos Estados Unidos através da colaboração dos
sociologistas Harvey Sacks e Emmanuel Schegloff. É de vez em quando identificada,
dentro da linguística, com pragmática ou análise do discurso, entretanto ela difere
basicamente dessa perspectiva porque ela tem sua ação no campo da interação humana
como foco principal, ao invés de estudar a língua intrinsecamente, por causa desse foco a
AC² pode ser aplicada em campos de pesquisa antropológicos nos dias atuais¹, com isso
abrangendo o ensino de línguas, foco principal deste artigo.

Palavras-chave: ​Análise da conversação; linguística; internet; ensino de línguas.

Abstract: ​CA³ emerged in late 1960 in the United States through the partnership of
sociologists Harvey Sacks and Emmanuel Schegloff. It is from time to time identified,
within linguistics, with pragmatics or discourse analysis, however it differs basically from
this perspective because it has its action in the field of human interaction as its main focus,
rather than studying language intrinsically, because of this focus CA³ can be applied in
anthropologics research fields nowadays, embracing with that the language teaching, main
focus of this article.

Keywords:​ Conversation analysis; linguistics; internet; language teaching.

¹ A idéia de nos dias atuais abrange até segunda década do século XXI.
² AC é uma abreviatura de Análise da Conversação.
³ CA it’s an abbreviation of Conversation Analysis.
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

INTRODUÇÃO pesquisas subsequentes como essas


que agora tem buscas que se encaixam
A análise da conversação sobre o principal domínio da interação
(doravante AC) tem espaço exíguo nas social humana como turno de fala,
pesquisas brasileiras, por esse motivo foi sequenciamento de ações e reparo. É
de comum acordo construir esse artigo de vez em quando identificada, dentro da
com intuito de encaminhar futuras linguística, com pragmática ou análise do
pesquisas nacionais com o discurso. Entretanto AC difere
esclarecimento da finalidade deste ramo basicamente dessa perspectiva porque
da linguística mostrando a perspectiva de ela tem sua ação no campo da interação
vários autores e a sua aplicabilidade nos humana como foco principal, ao invés de
dias atuais, como também a contribuição estudar a língua intrinsecamente.
da mesma para o ensino de línguas, tal
que é o objetivo principal deste artigo. KERBRAT E A INTERPELAÇÃO COM
A criação da AC aconteceu no ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
final de 1960 (Jack Sidnell, 2015) e início
de 1970 (Catherine Kerbrat, 2006) por A obra intitulada Análise da
Harvey Sacks e Emmanuel Schegloff, Conversação princípios e métodos, de
como também alguns estudantes deles Catherine Kerbrat Orecchioni aborda as
mais importantes como Gail Jefferson. regras da conversa e investiga tais
Apesar de ser originada dos Estados regras por meio da análise do processo
Unidos dentro da sociologia, hoje de interação.
analistas da conversação podem ser O livro é dividido em quinze
encontrados em vários departamentos de capítulos: 1. A análise das conversações;
antropologia, estudos de comunicação, 2. As diferentes correntes em análise das
educação e linguística. Nos primeiros interações; 3. O contexto; 4. O material;
estudos, Sacks, Schegloff e Jefferson 5. O sistema de turnos de fala; 6. A
fizeram um método rigoroso para o organização estrutural das conversações;
estudo empírico nas interações de fala e, 7. A relação interpessoal; 8. A polidez:
como resultado, os achados deles foram aspectos teóricos; 9. As manifestações
provados robustos e cumulativos. De fato linguísticas da polidez; 10 A polidez:
esses primeiros estudos de 60 e 70 balanço; 11. A variação cultural: alguns
construíram uma fundação para as dados; 12. A variação cultural: outros
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

aspectos; 13. Por uma tipologia dos ao campo de pesquisa das conversações
“estilos comunicativos”; 14. Estudos de e algumas outras maneira de integração
duas trocas rituais: pedido de desculpas verbal, Kebrat afirma que a emergência
e agradecimento; 15. Conclusões; e cada dessa área se deu no início dos anos
capítulo apresenta estrutura com início, 1970.
desenvolvimento e conclusão. Um importante conceito mencionado é o
Logo no primeiro capítulo, é de sincronização interacional, porque
possível observar três citações, as quais torna possível entender os mecanismos
a autora relaciona à vocação que intervêm nos diferentes níveis da
comunicativa da linguagem verbal interação. A noção de uma mútua
abordando, ainda, que a o exercício da atuação pode ser associada ao processo
fala implica duas coisas: um alocução, a de negociação de sentidos, considerando
existência de um destinatário que seja o discurso na interação cara a cara como
fisicamente divergente do falante e uma totalmente "coproduzido" e resultado de
interlocução, que compreende uma troca uma colaboração incessante.
de palavras entre os seres. Ou seja, Há uma afirmação de que são inúmeros
trocamos e influenciamos por meio da os meios pelos quais os membros de
fala, isso através de uma interação uma sociedade têm a chance de interagir
necessária para comunicação eficaz. e nem sempre esses meios possuem
Marcações na conversação são uma natureza linguística. O sentido tem
apresentadas e segundo a autora sua negociação nas interações pelos
possibilitam evidenciar as posições de interagentes, ou seja, as pessoas
“emissor” e “receptor”. Para ela, o envolvidas são responsáveis pela
emissor deve indicar que está falando negociação. Além disso, o contexto é
com alguém através da orientação imprescindível para compreender o que
corporal, olhar direcionado ou formas de vem a ser a natureza linguística dos
tratamento. O receptor, por sua vez, processos interacionais; dessa forma,
também precisa emitir sinais que sentido, interação e sociedade
procuram confirmar que está atento à dependem diretamente do contexto -
comunicação. Catherine menciona pensado como um espaço físico e
procedimentos de validação interlocutória psicológico.
que envolvem procedimentos que O texto, seja verbal ou não verbal, está
mostram o engajamento mútuo. Quanto ligado às interações quanto a não existir
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

interação sem um discurso e texto. características dos desenvolvimentos da


Desse modo, questiona-se a pragmática linguística. A polidez consiste
possibilidade de entender uma interação em um fenômeno linguisticamente
de natureza não linguística, meritório, entendida na obra com amplo
principalmente levando em conta o termo sentido e ultrapassando as conhecidas
linguístico como discurso e algo fórmulas tão apreciadas por manuais, ou
encoberto nas práticas sociais. seja, a autora aborda exclusivamente a
Consoante Catherine, interações podem polidez linguística. Esse modelo condiz
ser verbais, como as conversações; não com o sistema elaborado por P. Brown e
verbais, envolvendo circulação, dança, S. Levinson, que integra um sofisticado e
etc.; ou mistas, visto que alguns tipos renomado quadro referencial no quesito
mesclam ações verbais e não verbais. polidez linguística.
No capítulo acerca do contexto, Kerbrat No capítulo 14, acerca dos
afirma que a situação comunicativa pedidos de desculpas e agradecimento,
engloba lugar, objetivo e os participantes, Kerbrat aborda que da mesma maneira
que adquirem mútuos papéis, tanto de que observar situações em que se pede
emissor, quanto receptor na interação. Já desculpas possibilita estabelecer um
sobre o sistema dos turnos de fala, todas inventário do que determinada sociedade
as práticas de comunicação constituem considera ofensivo, observar casos de
condutas ordenadas que desenvolvem agradecimento permite entender o que é
conforme alguns esquemas considerado uma oferta de presente, ou
preestabelecidos e seguem uma atitude benevolente. Tanto o pedido
determinadas regras de procedimento. de desculpas quanto o ato de agradecer
Dessas regras, três grandes categorias possuem a função de restabelecer o
atuam em diferentes níveis: regras de equilíbrio ritual da interação.
construção dos turnos, regras que Voltando ao assunto polidez,
conduzem a organização da estrutura entende-se que sua manifestação ocorre
interacional e regras que intervêm no como “uma máquina de restaurar o
nível de relação interpessoal. equilíbrio ritual entre os interactantes”
Algo importante, segundo a autora, é a (ORECCHIONI, Catherine Kerbrat, 2006)
compreensão de que o interesse pelo e o equilíbrio é sempre escasso na
funcionamento da polidez nas interações balança na qual são pesados débito e
verbais é uma das mais notáveis crédito de cada um. A autora afirma,
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

ainda, que quanto maior a flexibilidade transmitindo ao longo de suas noventa e


em um sistema de regras, mais ele quatro páginas conhecimentos do autor
deixará uma espaço para negociar, já através de pesquisas e análises.
que negociações de conversação podem A proposta do autor é oferecer
ser encontradas em todos as camadas uma noção que engloba a conversação e
do funcionamento interacional. sua arquitetura geral, trazendo a toda
Ainda que se pense que o livro que a mesma não é um fenômeno
atua como um tutorial para elaborar anárquico e aleatório, mas bastante
análises, a obra serve mais como uma organizado e sendo assim possível de
introdução, considerando que apresenta ser estudado com rigor científico. Por
conceitos passíveis de utilização como outro lado, mostrar também como essa
critérios para uma análise. Ademais, a organização é reflexo de um processo
linguagem utilizada por Catherine é desenvolvido, percebido e utilizado pelos
objetiva, ainda que deixe a desejar em integrantes de uma interação
alguns aspectos como exemplificação, comunicativa de forma que as decisões
abordagem mais profunda de conceitos interpretativas dos interlocutores provém
mencionados e clareza. de informações contextuais e semânticas
construídas ou inferidas de pressupostos
A RESOLUÇÃO DA AC POR cognitivos, étnicos e culturais, entre
MARCUSHI outros.
A conversação é a prática mais
A análise da conversação (AC) é comum no cotidiano social,
uma abordagem da análise de discurso desenvolvendo um espaço para a
que foi desenvolvida por um grupo de formação de identidades sociais num
sociólogos na década de sessenta e que contexto de realidade. Nesta obra, não
atualmente é configurado como método nos é apresentado questões mais
utilizado em várias áreas como a complexas como a interação de crianças
psicologia, linguística, antropologia entre si, interação entre surdos e outras
dentre outras. mais.
A obra de Marcuschi é dividida em Tendo como base a linha da
onze capítulos, com uma narrativa direta Etnometodologia e Antropologia
Cognitiva, se norteou de um princípio
básico de que todos os componentes de
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

uma interação social deveriam ser (a) Interação entre pelo menos
descritos e examinados em termos de dois falantes;
organização estrutural convencionada ou (b) Ocorrência de pelo menos uma
institucionalizada. Hoje, observam-se troca de falantes;
outros aspectos contidos nas interações (c) Presença de uma sequência de
sociais. Segundo J.J Gumperz (1982), a ações coordenadas;
AC deve dar enfoque a especificação dos (d) Execução numa identidade
conhecimentos linguísticos, temporal;
paralinguísticos e socioculturais fazendo (e) Envolvimento numa “interação
com que o problema passe de centrada”
organização para a interpretação. Estas características nos permite
Em sua metodologia, a AC não tomar a conversação como uma
considera conversações retiradas de interação verbal centrada. A interação
obras literárias, filmes, peças de teatro face a face não é uma condição
ou novelas de TV já que ela parte de necessária para que se estabeleça uma
dados empíricos em situações reais. Por conversação, tendo como exemplo as
sua vocação empirista, a AC se difere da chamadas telefônicas. No entanto, a
Análise do Discurso e da Pragmática interação centrada é necessária, pois o
Filosófica. acompanhamento linguístico de ações
Considerando que a AC se baseia físicas não caracteriza uma conversação.
no material empírico que é reproduzido Segundo o linguista alemão H.
durante uma conversação, considera Steger é possível distinguir dois tipos de
detalhes também não verbais como diálogos, sendo um apenas uma
entonacionais, paralinguisticos e outros. conversação em sentido escrito:
O sistema que se sugere é Diálogos assimétricos que se
eminentemente ortográfico, seguindo a define como aquele em que um dos
escrita padrão, mas considerando a participantes tem o direito de iniciar,
realidade do que está sendo produzido. orientar, dirigir e concluir a interação. E
São citadas então cinco os diálogos simétricos em que os
características básicas cognitivas participantes têm supostamente o
principais para a análise constitutiva de mesmo direito nas escolhas das
uma conversação: palavras. Sabemos que isto é pouco
verdadeiro pois as diferenças de
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

condições socioeconômicas, culturais e Uma das sequências mais comuns


outras, faz com que os indivíduos tenham é a de perguntas e respostas, porém,
diferentes condições na participação no não
diálogo. se pensa na mesma como a única.
Existe uma organização de turno a Tendo também sequências inseridas e
turno para um sistema básico de organização da preferência.
observação, constituído de técnicas e Partimos para as organizações
regras baseada em um modelo com base globais com enfoque no caso da
na cultura norte-americana, tendo em conversação telefônica onde se
vista que no Brasil as regras que são estabelece que o mais comum em uma
citadas como, por exemplo, o falar um de conversação é que ela tenha no mínimo
cada vez, é desrespeitado. Podendo três seções distintas em sua estrutura.
observar assim que por trás disso existe Ou seja, uma abertura, desenvolvimento
um modelo cultural diferente do adotado e fechamento. Neste caso, o telefonado
no exemplo. Constituindo essa fala primeiro, quem telefona propõe o
organização, temos tópicos que de uma tópico a ser abordado, mas não é algo
forma geral possibilitam a melhor análise incomum que entre os cumprimentos e a
da interação: introdução do assunto apareçam
-Fala um por vez; perguntas de rotina como sobre a família,
-Quem tem a palavra e quando; trabalho, amigos, assuntos pessoais
-Falas simultâneas e dentre outros. Ressalta-se que um dos
sobreposições; maiores problemas nos telefonemas é o
-Pausas, silêncios e hesitações; fechamento da conversação. Sendo
-Reparações e correções; assim mais complexo que em uma
conversação face a face.
Existem também organizadores Na análise da conversação não se
que se estendem ao nível da sequência pode empregar as mesmas unidades
trazendo à mente a ideia de que a sintáticas utilizadas na língua escrita,
conversação consiste numa série de pois deve obedecer a princípios
turnos alterados e que os mesmos comunicativos para sua demarcação e
compõem sequências em movimentos não com base em princípios sintáticos.
coordenados cooperativos. Nas classes de marcadores
possuímos os recursos verbais, que
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

servem como marcadores de uma classe


de palavras ou expressões de grande O livro Introdução à Linguística I.
ocorrência e recorrência. Os recursos Objetos teóricos de José Luiz Fiorin
não verbais ou paralinguísticos, como por (org.)
exemplo, o olhar, sorriso, gesticulação e trata rapidamente no segundo capítulo da
outros. E os recursos suprassegmentais comunicação humana por Diana Pessoa
que são de natureza linguística, porém, de Barros. Nessa parte do mesmo está
não de caráter verbal. Exemplo nas citado, embora que de maneira sucinta, o
pausas e o tom de voz. lado contratual que os primeiros estudos
No âmbito dos sinais verbais, se de análise da conversação focalizavam e
faz uma subdivisão em dois grupos de por causa de tal, os franceses faziam
acordo com a sua fonte de produção referências ironizando o “angelismo dos
sendo eles os sinais do falante e os americanos” porém segundo os trabalhos
sinais do ouvinte. Observa-se também de Deborah Tannen, a repetição da fala
dentro deste contexto, funções cria envolvimento interpessoal, afinidade.
específicas que cada qual pode ter, a Tannen diz que quando o ritmo
primeira denominada como funções conversacional é compartilhado e
conversacionais e a segunda como estabelecido sem esforço, quando
funções sintáticas. mensagem e metamensagem são
Tendo em vista todas as congruentes, quando as intenções dos
observações abordadas no decorrer da interlocutores são bem compreendidas,
leitura, se percebe que a interação tem-se a sensação de que tudo vai vem
conversacional se trata de uma ação e que o mundo é um lugar confortável.
conjunta. Baseado nas diversas Ocorreram mudanças e a análise da
informações que surgem no decorrer de conversação mais recente cedeu um
uma interação, já que o falante não espaço maior a polêmica conversacional.
produz sua fala unilateralmente pois Abaixo há um exemplo de conversação
mesmo enquanto fala está sendo de mais polêmica:
alguma maneira influenciado pelas
reações não verbais do outro, é que se L2 é família toda interessante
faz a análise da conversação. inteligente ela o irmão...
o irmão é maestro né?
AC POR DIANA PESSOA L1 (que) acho que não...
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

[ L2 poetisa
L2 o irmão ela tem uma irmã L1 poetisa...
que é poetisa (Castilho e Preti 1987: 249)
que é muito inteligente também Nesse texto, uma jornalista e uma
(né?) escritora conversam sobre a família
[ MedAlha/Medaglia. É perceptível várias
L1 é mas eu acho estratégias de discordância, sobressai a
que não I. correção do outro (heterocorreção) e o
[ fato de as duas falarem ao mesmo tempo
L2 jornalista e poetisa (sobreposição de vozes), tentando, uma
L1 eu acho que o maestro delas, tomar a vez da outra (assalto ao
Julio Medaglia ele é turno), e a outra, manter a vez. Os casos
Me-da-gli-a e ela é Medalha com L de heterocorreção estão sublinhados no
eH texto e os de sobreposição de vozes
[ assinalados por [ .Há sem dúvida,
atenuações da polêmica; não não...
L2 eu acho que ela modificou parece que não... eu não Posso jurar
e ele é irmão dela... sobre os evangelhos mas me parece;
L1 não não ... ((clique)) parece acho que não; é mas eu acho que não.
que não... eu não Posso No trecho da conversa citado, há
jurar sobre os evangelhos mas me apenas uma concordância, quando, no
parece que ... ahn:: final, L², que L¹ corrigiu o tempo todo,
ela seria Medalha com Le H... discorda, por sua vez, de L¹, ao dizer que
a moça não é ou apenas jornalista, mas
[ poetisa. Nesse momento, L¹ concorda e
repete poetisa.
L2 eu acho que ela modificou
seu nome... ela ( ) nome MARTELOTTA(SAMELA)
L1 e ele MeDA-glia
L2 ( )... tenho impressão... A análise da conversação (AC)
L1 a irmã dela eu conheço investiga as habilidades e atividades
que é jornalista né? é uma moça conversacionais.Desenvolveu-se inicial-
jornalista ...
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

mente, a partir da década de 1960. utilizados pelos falantes em uma


Nesse período as análises eram determinada situação.
voltadas, principalmente, para a Como a análise consiste em
descrição das estruturas e organização observar situações reais do cotidiano,
da conversação, bem como no papel dos como por exemplo diálogos entre
gestos na interação em contextos familiares ou conversas em sessões de
institucionais. Isso foi realizado através terapia, a metodologia que é empregada
das pesquisas realizadas por Harvey requer gravação em áudio e, quando
Sacks, Emanuel Schegloff e Gail possível, o vídeo das conversas, as quais
Jefferson. serão posteriormente transcritas
Em torno de 1980, década em que utilizando de determinadas normas e
os contextos se diversificaram, devido ao símbolos, os quais expressem com
avanço da tecnologia e na inovação nas máxima fidelidade as ocorrências
formas de comunicação, as análises se verificadas nos eventos ou nas atividades
expandiram, estas começaram a de fala.
observar além das descrições e Nas atividades conversacionais é
interpretações, o modo como os falantes possível perceber a expressão regular de
agem e interpretam a ação e a conduta estruturas linguísticas e comunicativas
dos outros nas interações mais que são relativamente estáveis, como se
espontâneas, e nas conversas mais fosse possível fazer uma “gramática” da
comuns. Desse modo, as análises se conversação, observando e extraindo as
expandiram para estudos das áreas regras que a moldam. Toda conversação
linguística, paralinguística e sociocultural, estrutura-se por meio de sequências ou
que são expostos no momento da turnos conversacionais dos
conversação. interlocutores, interrupções, hesitações,
O material de análise é constituído pausas, ou seja, momentos de silêncio
de manifestações reais e naturais de que ocorrem na fala humana. A AC,
conversação, e não de situações portanto, vai procurar estabelecer os
artificiais ou reproduzidas. O objetivo é traços estáveis da organização
de que a análise seja o mais realista sequencial da conversação.
possível, para que esta possa observar Além disso, outros fatores tais
os recursos livres e espontâneos como o contexto do diálogo (graus de
formalidade de acordo com o tipo de
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

interação e participantes envolvidos conversa telefônica ilustra esse caso); e)


como conversas em família, com os é preciso que os interlocutores tenham
amigos; entrevistas, interação jurídica, algo sobre o que conversar.
institucional, entre outras); as relações Quanto aos aspectos relacionados
interpessoais construídas na interação; o à estrutura e à organização da atividade
tipo de interlocutores (relações simétricas conversacional, a AC criou um modelo
ou assimétricas entre os falantes - que teórico próprio, que emprega uma
envolvem aspectos como poder, terminologia, como sequências e turnos,
envolvimento, distanciamento - grau de no lugar da nomenclatura tradicional,
intimidade); o tipo de conversação: das como frases e sentenças. Por turno,
mais espontâneas às mais formais, como entende-se, como toda intervenção dos
conversas face a face, conversas interlocutores constituída ao menos por
telefônicas, entrevistas; o s elementos uma unidade construcional, unidade cuja
que caracterizam e estruturam a própria definição deve atender a critérios de
conversação, tais como o assunto da natureza sintático-semântico-pragmática
conversa (tópico discursivo ou unidade e a critérios entonacionais, incluindo até
tópica), os turnos conversacionais, isto é, o silêncio.
as sequências de fala, as hesitações, os A construção e a distribuição do
truncamentos e as pausas. turno conversacional formam elementos
Outros fatores influenciam e fazem centrais na organização da conversação
parte da organização da conversação, e fundamentais para se entender como
como a aptidão da linguística, o ela funciona: Como as pessoas fazem a
conhecimento partilhado e o domínio de tomada de turno? Quando se passa de
situações sociais vividas pelos um turno a outro? Como um falante
interlocutores. Marcuschui (1991) consegue manter o turno praticamente
destaca cinco elementos básicos que até o fim? De modo
caracterizam uma conversação: a) geral, especialmente se as relações entre
interação entre pelo menos dois falantes; os participantes são simétricas, parece
b) ocorrência de pelo menos uma troca haver
de falantes; c) presença de uma uma espécie de cooperação entre as
sequência de ações coordenadas; d) a partes (Goffman, Grice, Brown e
conversação deve ocorrer num mesmo Levinson),
tempo, ainda que em espaços distintos (a
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

princípio este de ordem pragmática. Em subtópicos relativos àquele tema. Da


contrapartida, segundo os analistas, há mesma forma que os turnos entre os
um falantes se
alternam conforme a situação, também a
sistema básico de regras responsável continuidade tópica varia em função dos
pela transcrição de um turno a outro, e o interesses e objetivos dos interlocutores,
assalto mudança tópica essa sujeita ao sistema
a um turno constituiria um princípio de de
violação do —fala um de cada vez—;. troca de turnos entre eles.
No entanto, há controvérsias quanto ao Turno e topicalidade são interligados e
conceito de turno no que diz respeito à representam o princípio organizador e
identificação do momento em que se regulador da conversa, muitas vezes
passa de um a outro turno, ou seja, nem desempenhando funções pragmáticas
sempre responsáveis pelo fator de integração
a simples troca de falantes significa a entre os interlocutores. É claro que
conclusão de uma unidade constitutiva outros fatores
de turno. também contribuem para a manutenção
Desse modo, fica a critério do analista, e continuidade tópica numa conversa,
de posse de determinados conceitos como,
básicos, por exemplo, as estratégias de educação
julgar numa determinada conversação o e envolvimento e o uso de marcadores
que se pode entender por turno. conversacionais, como os marcadores
Como a conversação é algo mais do que linguísticos de abertura — ;olh—;,
uma simples sucessão/alternância de "bem", "bom"
turnos, o mesmo se pode dizer acerca do — ou finais — "né?",
tópico conversacional. Quando se está "sabe?”.
conversando, pode-se abordar mais de
um assunto ou privilegiar-se um
determinado
tópico, denominado unidade tópica da
conversação, de onde podem surgir os
Análise da Conversação: Do surgimento à aplicabilidade nos dias atuais.

ORECCHIONI, Catherine Kerbrat.


Análise da conversação: Princípios e
Métodos. São Paulo: Parábola Editorial,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2006.
FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à
linguística: objetos teóricos. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2006.

MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.).


Manual de linguística. 2 ed. São Paulo:
Contexto, 2013. p. 105-109.

MARSCUSCHI, L. Antônio. Análise da


conversação. 6 ed. São Paulo: Ática,
2007.

SIDNELL, J. Conversation analysis: An


introduction. Singapore: John Wiley &
Sons, 2011. p. 167-191.

MEREDITH, John. Analysing


technological affordances of online
interactions using conversation analysis.
University Of Salford Manchester, United
Kingdom,

SILVA, L. Antônio. Análise da


Conversação e oralidade em textos
escritos. ​Filologia e Linguística
Portuguesa. São Paulo, v. 17, n. 1, p.
131-155, 2015.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança


social. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2001. p. 36-40.

You might also like