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Abstract
Objective: This study had the purpose of recognizing the types of violence suffered by homosexual adolescents and understanding
the effects of homophobia on the health of this group. Methods: In-depth interviews were conducted with nine adolescents that
live in a country town on the state of São Paulo who declared themselves homosexuals. Results: The respondents reported
cases of physical, verbal, psychological and sexual violence. Homophobia causes negative perceptions about themselves
and the non-adoption of healthy lifestyle related to their nutrition, physical activity practice, sleep patterns and suicidal ideas.
Homophobic situations were also described at health units. Conclusion: Homosexual adolescents are more vulnerable to
different types of violence and the difficulty of access to health services increases the vulnerability. The relevance of this study
is on the problematization of topics that can promote the construction of comprehensive care of this group.
Resumen
Objetivo: Conocer los tipos de violencia sufrida por adolescentes homosexuales y comprender la influencia de la homofobia en
la salud de ese grupo. Métodos: Fueron realizadas entrevistas en profundidad con nueve jóvenes residentes en un municipio
del interior de São Paulo que se declararon homosexuales. Resultados: Los entrevistados relataron casos de violencia física,
verbal, psicológica y sexual. La homofobia causa percepciones negativas acerca de si mismo y la no adopción de hábitos de vida
saludables relacionados a los cuidados con la alimentación, práctica de actividades físicas, patrones de sueño e ideas suicidas.
También fueron relatadas situaciones de homofobia en los servicios de salud. Conclusión: Adolescentes homosexuales son
más vulnerables a diferentes tipos de violencia. La dificultad de acceso a los servicios de salud aumenta la vulnerabilidad. La
contribución de este estudio está en la problematización de tópicos que puedan auxiliar la construcción del cuidado integral
de estos individuos.
Autor correspondente:
Taison Regis Penariol Natarelli.
E-mail: taison.natarelli@hotmail.com
Recebido em 04/04/2015.
Aprovado em 14/12/2015.
DOI: 10.5935/1414-8145.20150089
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Dessa forma, objetivou-se conhecer os tipos de violência sofrida O tratamento e a análise dos dados coletados foram
por adolescentes homossexuais e a repercussão das práticas desenvolvidos por meio do referencial da análise de conteúdo,
homofóbicas na saúde dessa população. em sua modalidade temática. A análise levou à ordenação e
classificação dos dados por unidades de registros, referenciadas
MÉTODOS por temas, e refinados em expressões de síntese, as categorias
empíricas que explicitaram a realidade, segundo a visão dos
Considerando os objetivos deste estudo, o desenvolvimento entrevistados. A saturação teórica das respostas foi utilizada
da investigação se deu por meio de uma abordagem qualitativa. como determinante do número suficiente de participantes.
O campo de estudo foi um município do interior do estado de Dessa forma, foram identificados os seguintes temas: "Tipos de
São Paulo. Os critérios de inclusão dos participantes foram: Violência" e "Influência na Saúde".
ser adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, residentes no O projeto da pesquisa foi analisado e aprovado pelo Comitê
município paulista e que se autodeclaravam homossexuais, de de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da EERP/USP,
ambos os sexos. Protocolo CAAE n. 16304213.3.0000.5393, respeitando-se as
A seleção dos participantes da pesquisa se deu por meio questões éticas necessárias para a sua realização. A participação
da técnica de bola de neve (snowball)12. Essa técnica se inicia dos adolescentes foi voluntária e aos menores de 18 anos
a partir de um ator, ou um grupo de atores que indicarão novos de idade, além do seu assentimento, também, foi solicitado
sujeitos para participar do estudo, estes indicarão outros e, consentimento de seus pais ou responsáveis.
assim, sucessivamente, possibilitando ao pesquisador a imersão
em seu círculo social. A técnica de bola de neve pode ser,
RESULTADOS
particularmente, útil para estudar populações de difícil acesso
e em situações de vulnerabilidade ou na abordagem de temas Tipos da violência
e tópicos delicados, como é o caso da pesquisa em questão e Os adolescentes referiram serem vítimas de diversos tipos
do seu objeto de estudo12. de violência física, verbal, psicológica e sexual. Como principais
O contato com o participante inicial foi possível, uma vez que cenários para ocorrência da homofobia os adolescentes
os pesquisadores já apresentavam uma relação por meio de um referiram: a escola, a família, e a comunidade.
trabalho sistemático de prevenção junto a essa população em A violência física não foi considerada tão frequente quanto
uma praça no município estudado. Em um primeiro contato foi a verbal e a psicológica, sendo mais constante contra os
detalhado o objetivo da pesquisa, as condições de participação, adolescentes homossexuais do sexo masculino. Entrementes,
a necessidade do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e nesse sentido, além da agressão física, propriamente dita,
mediante sua concordância, a realização da entrevista em local foram identificados relatos pessoais e de terceiros, a respeito de
de sua preferência. ameaças de agressão dessa natureza e tentativas de homicídio.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas
semiestruturadas. Foi utilizado um roteiro que incluía questões Sempre têm, as pessoas falam, 'ah eu prefiro ficar aqui
sobre a percepção do adolescente em relação à: violência contra [praça/ponto de encontro LGBT] à noite porque em casa
adolescentes homossexuais no cotidiano; a violência contra o meu pai me bate, discute comigo, todo dia' (A1).
próprio adolescente entrevistado; as acusas dessa violência e
As físicas também tão predominando bastante. Na TV, no
a influência dessa violência para a saúde do adolescente. As
jornal, é frequente, quase todo dia tem uma notícia, um
entrevistas individuais foram gravadas, sendo, posteriormente,
relato. [...] Sentir medo mesmo, de 'vou pra escola posso
transcritas.
apanhar, ou toda hora vou ser zoado' (A4).
Foram realizadas nove entrevistas individuais em profundi-
dade, com duração de cerca de uma hora cada, no período entre Com o homem, eu até acho que eles apanham bem
novembro de 2013 e julho de 2014. A idade dos adolescentes mais que as mulheres, e não conseguem sair na rua,
variou entre 13 e 19 anos de idade, com uma média de 17,4 anos, não conseguem sair de mão dada, dar um beijo, com
sendo cinco do sexo masculino (55,6%) e quatro do sexo femi- certeza eles vão sofrer agressão mais física do que
nino (44,4%). Todos os entrevistados eram estudantes, sendo verbal [...] (A5).
um (11,1%) do Ensino Fundamental II, cinco (55,6%) do Ensino Colocaram ele [adolescente gay] lá, e dois seguranças e
Médio, e três (33,3%) do Ensino Superior. Três adolescentes esse cara, que eles falaram depois que foi contratado pra
(33,3%) declararam trabalhar como ator/maquiador, represen- exterminar as 'bichinhas' do shopping né, bateram nele,
tante de atendimento/tatuadora e aprendiz de confeiteiro. Para deram socos, [...] bateram, acho que deram soco no estô-
efeito de apresentação e para manter resguardada a identidade mago, chute, [...] e falaram pra ele nunca mais voltar (A6).
dos participantes, eles serão designados pela letra A seguida
do número atribuído a cada adolescente (Adolescente 1 = A1, A violência verbal foi um tipo de violência em que os
e, assim, sucessivamente). adolescentes significaram como de muito sofrimento. Nesses
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casos, essa violência foi caracterizada, principalmente, pelo uso O homem de certa forma, ele tem fetiche por duas
de ofensas e termos pejorativos referentes à condição sexual mulheres juntas [...], então as mulheres são discriminadas,
do adolescente, mas também do uso de palavras para oprimir mas de uma forma mais abusiva, [...] porque eu não
e pressionar o adolescente. duvido que um homem chegue e agarre duas lésbicas
para fazer loucura com elas [...]. Várias vezes a gente
[Na escola] Tem sempre as brincadeiras, fica tipo, 'aí passou de mão dada na rua e vários policiais passaram
veadinho, veadinho', etc. (A1). olhando, um já mexeu com a gente, [...] com um olhar,
sabe, diferente, um olhar mais sexual. [...]. Eu sinto como
Se eu já sofri homofobia também foi só verbal, é mais, é
violência, as pessoas pensam que não é tão abusivo, não
constante, assim de, na rua tipo, xingar tipo, 'sapatão',
é tão invasivo, mas só de você olhar para uma pessoa
eu estou acostumada (A2).
com um sentido diferente, dá a entender que, é abusivo
Uma vez a gente estava na rua e por algum motivo ela pra gente (A5).
estava mal, e aí eu abracei ela [namorada], [...] e aí
Ah, já teve muitos comentários de assédio, já teve
chegou um cara todo louco, sei lá, alucinado, falando
propostas sexuais, muitas propostas sexuais, ofereciam
assim 'é, vocês acham que vocês são homem e mulher?
muito dinheiro 'não, muito obrigado'[...]. Eu era menor na
Vocês não são!', e eu só tinha dado um abraço nela, e aí
época, depois de maior também aconteceu (A7).
começou a ficar aquele clima tenso (A5).
Também chegam ameaças, direto, [...] às vezes, chega
Mais verbal, mexe um pouco com o psicológico da pessoa,
até a violência sexual, porque, às vezes, algumas
tanto é que, tipo, é, não é fácil para um homossexual ser
pessoas acham que nós somos inferiores e, por isso
esculachado na frente de outras pessoas por causa de sua
acham que tem direitos sobre o que é nosso. [...]. Que a
opção, isso acaba mexendo um pouco com a sua autoes-
gente não vai poder fazer nada (A9).
tima, ele acaba se desvalorizando um pouco mais (A8).
Influência na saúde
A violência psicológica, ou simbólica, foi tratada tanto como
Os adolescentes evidenciaram nas entrevistas a dimensão
a mais preponderante, quanto àquela que compõe o cotidiano do
e a complexidade das situações de homofobia com as quais
adolescente homossexual, que enfrenta no dia a dia, situações
convivem por meio de diferentes formas de manifestação, que
de preconceito, opressão, tratamento diferenciado, dentre outras
acarretam prejuízos à sua saúde. Isso pode ser mensurado em
formas de exclusão.
termos do comprometimento da saúde mental e nas dificuldades
para adotar hábitos de vida saudáveis. Os adolescentes
Na rua todo mundo encara, tipo, as pessoas não são demonstram uma percepção negativa de si mesmos, que
discretas, às vezes, os olhares são muito estranhos, tipo, podem contribuir para que eles negligenciem práticas de
é uma coisa assim, as pessoas cerram o olho e encaram autocuidado, não consigam manter hábitos saudáveis e podem
você e você fica tipo, se sentindo desconfortável, às até desenvolver ideação suicida. Esses aspectos são ilustrados
vezes, um pouco, sabe? Observado demais (A2). nos trechos a seguir:
Às vezes, por exemplo, tem uma cadeira para sentar,
uma poltrona, cabem duas pessoas, sentam um homem O Stress é muito grande, com relação a isso [...]. Eu já
e uma mulher, o segurança passa perto e não fala nada, vomitei, porque sabe, quando você fica tão.... Chorando
senta a gente, não dá dois minutos 'Ó, por favor, se e mal, e você fica mal mesmo, e aí dá aquela reviravolta
retirem, que essa cadeira é pra uma pessoa só', então no estomago e volta tudo, eu já vomitei uma vez, foi
fica aquele clima chato sabe? (A5). estranho e é o stress, é bastante (A2).
Eu perdi bastante amigo, [...] eu tinha até um melhor Eu com 13 anos eu entrei em depressão, [...] comecei
amigo que andava comigo bastante, parou de falar a me sentir mal, comecei a ficar doente, eu comecei a
comigo quando soube, foi triste (A6). ficar com anemia, porque eu comecei a parar de comer.
Eu tive uma rejeição, [...] meu pai biológico, ele não E foi logo em seguida, que eu tive um câncer, dai eu
aceitou, [...] ele não conversou comigo durante um ano. me curei, e começou a acontecer essas coisas, então,
[...]. Sofri essa rejeição, ele brigou comigo, não quis mais eu não podia ficar doente, então, piorou muito a minha
falar comigo (A7). saúde isso, porque numa época que era para eu estar
o melhor com o meu corpo, cuidar do meu corpo, eu
A violência sexual, ainda que não presente na maioria comecei a fazer o contrário, a prejudicar o meu corpo.
dos relatos, foi destacada como um risco em potencial aos Eu tinha vergonha de me exercitar, dai eu comecei a ter
adolescentes homossexuais, principalmente aos do sexo problema com gordura, e como é que chama? Diabetes
feminino, atribuindo ainda uma prevalência maior aos casos de [...]. Eu já não dormia porque eu sabia que eu ia sofrer
assédio sexual, ameaças e tentativas de abuso. preconceito no outro dia e ficava pensando nisso o tempo
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relataram terem se sentidos violados no momento da agressão. obstáculo para que a população LBGT tenha acesso a serviços
Esse tipo de violência pode ser compreendido sob duas formas de saúde e receba um cuidado mediante suas necessidades
- abuso sexual e exploração sexual - como todo ato, de qualquer de saúde específicas17.
natureza, atentatório ao direito humano ao desenvolvimento Nessa direção, uma revisão integrativa da literatura sobre o
sexual da criança e do adolescente, praticado por agente em papel da enfermagem diante da homossexualidade masculina
situação de poder e de desenvolvimento sexual desigual em revelou um baixo número de publicações sobre o tema e que,
relação aos adolescentes vítimas15. Ou seja, o ódio e repúdio enquanto área, a enfermagem trabalha com elementos da
aos homossexuais, bem como a ideia de superioridade a eles, promoção a saúde, por meio das orientações e da escuta
especialmente aos adolescentes, que são particularmente qualificada. Contudo, ainda foram identificadas lacunas
vulneráveis, contribuem para provocar esse tipo de agressão. relacionadas à necessidade de se oferecer um cuidado que
Outro aspecto relevante observado na análise dos acolha homossexuais, travestis e transexuais. Explicitando o
resultados refere-se à influência da homofobia para a saúde protagonismo da enfermagem, o estudo revelou que a atenção
do adolescente, principalmente, no que se diz respeito a integral dessa população deve ser repensada dentro da lógica
sua saúde mental, pois ela contribui para o surgimento de do compromisso social da profissão, seus aspectos éticos e
comportamentos depressivos, ansiedades e medos excessivos, o grande contingente de profissionais na atenção primária à
ideações e tentativas de suicídio, quadros que indicam saúde18.
sofrimentos psíquicos, cuja origem está nos episódios de Reitera-se que é atribuição dos profissionais pertencentes
violência vivenciados. Isso revela um dos efeitos perversos da a instituições de saúde assegurar os direitos das crianças e
homofobia que é o processo de internalização da violência. adolescentes, independente de questões gênero e orientação
Experiências dessa natureza afetam as ações e a maneira de sexual. Entretanto, percebe-se uma reprodução de práticas
pensar de quem a sofre, além de interferirem na adoção de homofóbicas contra a população homossexual. Nesse
hábitos de vida saudáveis e no autocuidado, como por exemplo, sentido, as equipes de saúde devem estar preparadas para a
alimentação, atividade física e padrão de sono, inadequados, atenção à saúde do adolescente, especialmente adolescentes
causando sinais e sintomas somáticos como dores na cabeça, homossexuais, no que se refere à saúde e à violência,
no estômago e no corpo, vômito e desmaios, dentre outros para que se possam construir uma rede de prevenção,
relatados pelos adolescentes. e apoio social a esta população, como salientado pelos
Quando o adolescente começa a apresentar comportamen- adolescentes participantes deste estudo. A linha de cuidado
tos considerados inadequados pela sociedade heteronormativa, para a atenção integral à saúde da criança, do adolescente
o indivíduo começa a ser exposto a discursos homofóbicos, e suas famílias em situação de violência, por intermédio do
dentre outras formas de violência, como a simbólica, cujo in- acolhimento, atendimento, notificação e seguimento na rede
tuito é "coagir" o sujeito a assumir seu papel de gênero (como de cuidado e de proteção social, visa à continuidade do
um "homem" ou uma "mulher" deveriam agir)5. O adolescente atendimento, à articulação dos diversos setores envolvidos,
homossexual ao se perceber "diferente" de seus pares, passa além do fortalecimento da responsabilização e envolvimento
a acumular pensamentos negativos a respeito de si mesmo, dos serviços e seus profissionais, nos casos de violência, como
internalizando a homofobia, que pode levá-lo a adotar com- se configura a homofobia.
portamentos de risco, que são comuns entre a maioria dos
adolescentes, mas que representam um peso maior ao se tratar CONCLUSÃO
de homossexuais5. Pode-se dizer que a condição LGBT incorre
em hábitos corporais ou mesmo práticas sexuais que podem Os adolescentes homossexuais encontram-se em situação
guardar alguma relação com o grau de vulnerabilidade dessas de vulnerabilidade e são expostos a diferentes tipos de
pessoas. No entanto, o maior e mais profundo sofrimento é violência. A saúde dessa população é afetada pela homofobia,
aquele decorrente da discriminação e preconceito16. que provoca quadros e comportamentos que caracterizam
A realidade relatada pelos adolescentes, com referência sofrimento mental e interfere na adoção de comportamentos e
a homofobia presente nos serviços de saúde, também foi hábitos de vida saudáveis. A contribuição original deste estudo,
encontrada na literatura. Estudos sugerem que profissionais de nesse sentido, reside na problematização de práticas de cuidado
saúde apresentam dificuldades para lidar com os adolescentes e atenção integral à saúde, direcionadas aos adolescentes
em geral, além de altos níveis de homofobia, posicionamento homossexuais, destacando o enfermeiro como profissional
conservador e inflexível, atitudes negativas e discriminatórias estratégico para a propagação desse tipo de práticas.
contra homossexuais17. Atitudes como estas influenciam o Nessa direção, observa-se que essas práticas devem
comportamento do profissional que, muitas vezes, atende o acompanhar as necessidades desse público por abordagens
paciente homossexual de maneira rápida e superficial, sem se terapêuticas que valorizem a singularidade e a expressão
aprofundar em questões relativas à saúde sexual e limitam a da sexualidade, ao mesmo tempo, que orientam e avaliam a
possibilidade de prestar um cuidado integral a esses pacientes. necessidade de apoio ou serviços formais de saúde mental. Para
Sendo assim, a homofobia pode ser caracterizada como um tanto, os profissionais de saúde que lidam com adolescentes,
especialmente os enfermeiros da atenção primária, devem ser
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capacitados e orientados para lidar com a homofobia, adotando 4. Miskolci R, Balieiro FF. O drama público de Raul Pompeia: sexualidade
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posturas marcadas pela prevenção, identificação, acolhimento,
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violência contra o adolescente homossexual, visando um g=en&nrm=iso.
atendimento integral e livre de preconceitos, como preconizado 5. Teixeira-Filho FS, Rondini CA. Ideações e tentativas de suicídio em
adolescentes com práticas sexuais hetero e homoeróticas. Saúde
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transmissíveis relacionados à população LGBT. 7. Lei n(o) 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da
No entanto, os resultados deste estudo devem ser Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília (DF), 17 de julho de 1990:
interpretados considerando algumas limitações. O tipo de Seção 1:1.
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