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A​ ​Corrupção​ ​Moderna​ ​da​ ​Magia,​ ​por​ ​Fr.

​ ​Prophecy
Fonte:​ ​Veritas​ ​Society​ ​Forum
Tradução:​ ​Agammenon​ ​Anydoros
Revisão​ ​e​ ​Edição:​ ​K.G.Gomes

Introdução

Esta será uma lição longa, portanto, ao trabalho. Não pule partes por causa de seu
tamanho.​ ​Leia​ ​cada​ ​palavra​ ​dela,​ ​e​ ​tome​ ​notas​ ​diligentemente.

A predominante abordagem à magia, nos dias atuais, deve ser abolida. O processo
iniciatório dos maçons e a ideia do avanço espiritual através apenas do conhecimento
devem ser deixados como relíquias do passado. Como a Jnana Yoga atesta, e como
Francis Bacon declara, existe, certamente, poder no conhecimento. Porém, o melhor
poder é aquele ganhado da prática e, consequentemente, da experiência. Um pouco de
prática valem muitos livros. Essa deve ser a ideia predominante dos anos vindouros, se a
humanidade quiser reviver a irmandade de magos no mundo e redistribuir a carga de
trabalho​ ​espiritual​ ​que,​ ​no​ ​momento,​ ​cai​ ​quase​ ​inteiramente​ ​nos​ ​ombros​ ​de​ ​iogues.

A incompreensão da magia legítima criou uma ameaçadora carência de adeptos


ocidentais iluminados. Esses adeptos mestres, reais Deuses-Homens do passado, estão
raramente reencarnando. Parece, portanto, que, no geral, existem poucos grandes
magos disponíveis. O número deles se tornou escasso; seu nível, baixo. Nos meus
tempos de garoto, antes de as minhas memórias retornarem, eu procurei aqui e ali
alguma faísca de sabedoria, estudei muitos sistemas de magia e de xamanismo, e, no
fim, me senti como Abraão, o Judeu, depois de seus anos de procura pela Ciência
Divina, antes de ser abençoado por seu guru, Abramelin. Em lugar algum, eu pude
encontrar alguém que merecesse o título de professor da ciência divina. Fraudes e
charlatãos eram numerosos, e pessoas pensavam que eles eram magos só porque nunca
conheceram um mago verdadeiro. Hoje, essas mesmas pragas ainda infectam bastante
as​ ​buscas​ ​de​ ​jovens​ ​aspirantes​ ​ao​ ​redor​ ​do​ ​mundo.

Existe um número de razões para a escassez atual de sábios na tradição oculta


ocidental. Eu me esforçarei aqui para compartilhar com vocês algumas das razões que as
minhas experiências com aspirantes esperançosos, os ensinamentos de várias ordens e
paradigmas, e meu tempo com as “vítimas” de vários movimentos ​new age​, me levaram
a classificar como causas para o problema. Eu baseei essas conclusões nas súplicas de
aspirantes esperançosos buscando por iniciação, e nos meus encontros pessoais com
alguns dos ditos adeptos de vários grupos e ordens. Ao fazê-lo, eu compreendo
totalmente que falar com alguns estudantes e alguns membros superiores nunca pode
dar uma representação compreensiva. Porém, eu também compreendo que, não importa
quão ideais as condições internas de uma ordem possam ou não ser, ela não deveria
levar​ ​seus​ ​estudantes​ ​externos​ ​à​ ​procrastinação​ ​ou​ ​a​ ​um​ ​treinamento​ ​inadequado.

Eu identifiquei dez problemas principais na magia de hoje. O primeiro é que o


treinamento proposto por certas ordens nos últimos 200 anos ou mais era incompleto, e
por eles terem ditado a regra para as ordens de hoje, os problemas continuaram. O
segundo é que os materiais originais e manuscritos para certos sistemas são atribuídos
com mais valor do que aquele eles realmente possuem. O terceiro é que a mente
ocidental transformou a magia em algo feito para se realizar os desejos materiais. A
quarta razão para o problema presente é que, na medida em que nossa cultura propaga a
concessão à preguiça, a abordagem ocidental à magia se torna mais e mais preguiçosa. A
quinta razão é a tendência peculiar da mente ocidental de se tornar altamente investida
em sua própria personalidade. A sexta razão é a destruição da sucessão de mestre e
discípulo, a causa que é a raiz para muitos outros problemas. A sétima razão, que é um
verdadeiro veneno para a evolução, é o movimento presente, na magia ocidental, de se
tentar remover a ideia essencial de Deus e o valor da moralidade da magia. A oitava
razão é a popularidade crescente de charlatãos, e seu poder sobre as massas ignorantes.
A nona razão é a tendência de magos legitimamente treinados permanecerem
silenciosos, aceitarem poucos estudantes e escreverem pouco ou nada. A décima e
última razão que discutiremos é a atenção dada, no Ocidente, ao desenvolvimento dos
poderes mágicos em vez do desenvolvimento de estados elevados de consciência. Essas
dez razões primárias bastarão para nossa consideração, embora mais razões pudessem
ser​ ​listadas.

A​ ​Primeira​ ​Razão
Treinamento​ ​Inadequado​ ​em​ ​Ordens​ ​Modernas

Entre aproximadamente 1850 e 1920, o mundo ocultista presenciou a formação


de várias ordens que se ergueram no mundo como realizações gloriosas. De seus
ensinamentos, vieram muitos dos livros influentes que agora são considerados clássicos
do ocultismo, e os quais agora muitos estudantes otimistas estudam. Infelizmente, essas
ordens não eram tão ideais quanto tentavam parecer. A maioria delas usava como fonte
manuscritos desatualizados, sobre os quais falaremos mais daqui a um momento, e o
resto usava métodos que se baseavam inteiramente sobre estimulação intelectual ou
emocional,​ ​e​ ​muito​ ​pouco​ ​sobre​ ​a​ ​consciência​ ​da​ ​alma.

Essas ordens iludidas criaram muitos iniciados igualmente ou até mais iludidos.
Um número considerável deles publicou livros, muitos dos quais agora são considerados
clássicos do ocultismo no mundo da literatura ocidental ocultista. Em alguns casos,
esses livros tinham riqueza de informação teórica, mas a maioria deles não tinha quase
um momento de percepção prática. O aspirante esperançoso é levado a folhear um livro
de centenas de páginas, para perceber que ele não absorveu nada dele além de filosofia.
Até mesmo os livros chamados de “teoria e prática” deveriam ser renomeados para
“teoria​ ​e​ ​possível​ ​aplicação​ ​ritual”.

Isso pode parecer uma afirmação iconoclástica. Ela é, e com razão, porque a
iconologia da magia está falhando gravemente. Portanto, o que não produz resultados
deve ser jogado de lado. ​“E agora também o machado é enterrado nas raízes das
árvores: desse modo, qualquer árvore que não traga bons frutos é cortada, e jogada
no fogo. ​(Mateus 3:10)”. A série de ações à qual a magia ocidental foi levada não trouxe
muitos frutos. Essas ações produziram pseudo-iniciados que conseguem executar
truques de salão, que eles, erradamente, chamam de magia. Enquanto magos de cadeira
estiveram gastando seu tempo, exercitando suas mentes com teorias e filosofias, o
trabalho prático que realmente cria um mago esteve apodrecendo. Quem pode culpá-los,
quando cada livro que lêem diz que precisam saber essa ou essa outra palavra hebraica
ou magia simbólica para serem efetivos? Tudo isso compõem as armadilhas postas para
o​ ​teste​ ​de​ ​iniciados,​ ​testes​ ​nos​ ​quais​ ​essas​ ​“autoridades”​ ​não​ ​passaram.

Um indivíduo pode memorizar sigilos do sol, ​kameas planetários, selos e talismãs


salomônicos, e compreender intelectualmente os muitos processos que compõem a
Maquinaria Universal. Ainda assim, ele não será um mago aos olhos de iniciados
verdadeiros. Eu conheci pessoas que poderiam ser chamadas de enciclopédias de
filosofia ocultista, e, ainda assim, não possuíam rotina diária de prática estabelecida, e
nenhuma faculdade mágica de qualquer tipo. Eles estão presos à ilusão de Maya do
mesmo modo que os homens comuns também o estão. A única diferença é que eles
sabem que existe uma ilusão, enquanto a maioria nem se apercebe disso. Pessoas assim
gostam de falar muito, porque, ao se ouvirem, tentam apoiar sua abordagem à magia,
psicologicamente, para eles mesmos. Tais pessoas sempre terão uma opinião, sempre
parecerão ter respostas prontas, e esse tipo de “aspirante em potencial” torna-se
particularmente perigoso aos buscadores genuínos da verdade. Você não pode construir
uma base confiável somente nas palavras! Ao mago treinado, aos irmãos e irmãs de
minha Ordem (N.T.: Fraternidade Rosa-Cruz), e os verdadeiros mestres reinantes deste
mundo, essas pessoas estão mais enganadas do que o mais cru dos iniciantes neste
caminho. O grupo deles é o pior, e, infelizmente, não é sempre a culpa deles. Para essas
pessoas, eu farei muito esforço para desligar suas mentes e abrir seus corações para
receber instrução prática. É por isso que eu aconselho a todos não se tornarem ligados
demais a livros. Eu já li todos esses livros, e extraí seus pontos importantes em artigos
no​ ​fórum​ ​do​ ​Veritas​​ ​para​ ​o​ ​benefício​ ​de​ ​todos.

Isso não significa que a informação teórica é ruim. Um conhecimento sólido da


filosofia ocultista é necessário para que o mago compreenda tudo que faz. Ele deveria se
orgulhar de conhecer todas as operações em funcionamento quando ele manipula um
tipo de energia, e, quando uma operação mágica se manifesta, ele deveria ser capaz de
explicar perfeitamente os mecanismos envolvidos. De fato, ele deve ser um cientista.
Contudo, mais e mais pessoas se contentam apenas com o conhecimento da filosofia e o
“como fazer”, sem nunca colocarem nada na prática, e, normalmente, sem terem ideia
de como fazê-lo. Em muitas ocasiões, estudantes vieram a mim e disseram, “Eu li todos
os livros que as pessoas me recomendaram, mas não tenho ideia alguma de como
começar o caminho.” Isso acontece porque só a estimulação intelectual não faz de
alguém um mago, e, lá no fundo, o estudante inteligente sabe isso. A mente procura por
fórmulas​ ​e​ ​símbolos;​ ​a​ ​alma​ ​busca​ ​por​ ​prática​ ​e​ ​experiência.

Que utilidade há em se conhecer como as estrelas afetam as nossas atividades, e


não ser capaz de meditar por nem dez minutos? Que utilidade há em se conhecer todas
as filosofias sobre quem Deus é, sem nunca experimentar Deus diretamente? Essas
pessoas nunca se tornam nada na verdade, mas sim só aparentam ser magos. Você não
pode alcançar o Reino através de inquisição intelectual somente. Você precisa viajar até
lá.

O ponto ao qual eu quero chegar aqui é que o estudo intenso da Tábua de


Bembine de Ísis, ou do selo da Rosa-Cruz, ou do dodecaedro mágico etc. é incorreto. Eu
não estou sugerindo que, por exemplo, a investigação das fórmulas do Etz Chaim e dos
Nomes Divinos é inútil. Eu não estou dizendo que uma pessoa não deveria compreender
os usos mágicos do pentagrama e do hexagrama. Do contrário, eu sou um forte defensor
de tudo isso. Porém, tudo deve ser aprendido ao tempo certo! Um aspirante não tem
razão alguma para estudar os pentagramas, hexagramas, etc. Ele não deveria passar
seus dias praticando magia ritual. Sim, com o passar do tempo isso gerará resultados no
termo de crescimento de poder, mas afetará muito pouco a consciência e a realização
geral do mago, posteriormente, em sua carreira mágica. Por, pelo menos, os dois ou três
anos iniciais, dependendo da aptidão do estudante, o foco deveria ser colocado no
treinamento da mente, do corpo material, e do corpo astral para a verdadeira execução
da magia. Uma vez que o estudante se preparou dessa maneira, e criou uma excelente
base em sua consciência, então ele pode continuar, a fim de compreender e apreciar
totalmente​ ​o​ ​poder​ ​de​ ​tal​ ​conhecimento​ ​e​ ​do​ ​simbolismo​ ​oculto.

A razão pela qual esses autores, embora não intencionalmente, cobriram o


mundo ocultista ocidental em filosofia, é a de que eles nunca receberam o treinamento
correto que deveria dá-los a base da experiência espiritual autêntica. Eles serviam como
enciclopédias que regurgitavam o que eles foram ensinados. Juntos, eles criaram uma
imagem contraprodutiva de que a prática diária não era necessária para se tornar um
adepto. Eles se referiam a pessoas que nem tinham conquistado suas emoções
primitivas e desejos como adeptos! Desse modo, eles baixaram muito o nível para as
gerações seguintes, que seriam forçadas a olhar os ensinamentos dessas pessoas se
quisessem saber alguma coisa sobre magia. Agora que o nível está tão baixo, as pessoas
em geral são incapazes de alcançar grandeza espiritual. Portanto, esse nível deve ser
elevado​ ​novamente,​ ​certo?

O que exatamente essas ordens estão fazendo de errado? Seus dois problemas
principais foram que eles tentaram ensinar aos iniciados a correr antes de mostrá-los
como engatinhar e andar, e eles não incluíram o desenvolvimento do caráter como parte
de seu treinamento. O aspirante egoísta, glutão, e de pavio curto, entraria na ordem
como neófito, e sairia como um “adepto” ainda contendo essas falhas de caráter. Eles
são todos capazes de pequenos feitos de magia, e pelo fato de o nível ser baixo, pensam
que​ ​são​ ​adeptos.

Muitas vezes o aspirante começaria a trabalhar com ritual e forças espirituais


muito antes de ter aprendido a como sensibilizar seu corpo astral ou desenvolver suas
faculdades mágicas. Através de repetição contínua, alguma proficiência poderia ser
alcançada, talvez algumas pancadas fantasmagóricas durante uma evocação ou coisa do
tipo, mas o resto de seu ser nunca era desenvolvido. O caminho para a evocação deveria
ser um caminho longo e frutífero, que preparasse o estudante de modo que, pela
primeira vez que ele execute um ritual, ele receba a total experiência, por causa de seu
treinamento e as faculdades que ele já desenvolveu. Pessoas que entram na sala ritual
para evocar sem tal treinamento estão apenas enganando a si mesmas. Elas irão, é claro,
ser as primeiras a lhe contar que são magos bem-sucedidos, e que elas conversam
regularmente com esse ou aquele espírito. Eles dirão que “sentiram” isso ou aquilo, ou
receberam essa ou aquela “impressão”, e desse modo “sabiam” que um espírito estava
presente. Deixe essas pessoas continuarem desse modo em suas práticas. Na verdade, o
que você pode experimentar em uma evocação real não são “sensações” ou
“impressões”,​ ​mas​ ​fenômenos​ ​muito​ ​reais!

Quantos aspirantes perdidos pensam que executar o Ritual Menor do


Pentagrama cem vezes por dia os levará às alturas espirituais? Até mesmo o mago
aspirante que medita somente 10 minutos por dia para controle e foco mental fará um
progresso​ ​em​ ​um​ ​ano​ ​que​ ​o​ ​outro​ ​estudante​ ​fará​ ​em​ ​cinquenta!

A​ ​Segunda​ ​Razão
Manuscritos​ ​originais​ ​Sobrestimados

Um número das ordens populares que surgiram no século 19 estilizou uma parte
de suas práticas e rituais, baseando-se em coisas que não continham, na verdade, o valor
atribuído a elas. Desses manuscritos, talvez aquele que foi mais usado (e abusado) foi o
Livro Egípcio dos Mortos. Embora seja uma bela série de rituais e de invocações, os
fundadores de uma pretensa ordem oculta não deveriam precisar de se basear em
antigos pergaminhos empoeirados e da interpretação de seus hieróglifos para serem
capazes de ensinar magia! Se a fonte deles para muitas de suas práticas e filosofias vem
de tais coisas, então isso só serve para demonstrar que eles não tinham experiência
prática real através da qual organizavam seus ensinamentos, e não eram treinados por
adeptos verdadeiros que podiam iniciá-los numa linha de sucessão de mestre e
discípulo. Simplesmente o fato de se ler algo que está disponível num Museu de História
Egípcia nunca poderia ser o suficiente para permitir que alguém iniciasse uma ordem
ocultista.

O Livro Egípcio dos Mortos não foi a única coisa atacada pela ignorância dos
autoproclamados adeptos, no entanto. Sua hostilidade os levou também ao coração de
Jerusalém, onde eles se uniram, com suas facas, para despejar terror sobre a Cabala.
Usando dois ou três textos hebraicos pobremente traduzidos, eles presumiram ter
diante deles informação cabalística suficiente para uma compreensão do sistema inteiro.
Assim sendo, eles roubaram uma pequena parte desse sistema glorioso de misticismo e
a levaram de volta a suas ordens, onde eles tentaram ao máximo fazer com que um
fragmento​ ​se​ ​parecesse​ ​com​ ​algo​ ​completo.

A Cabala ocidental moderna, frequentemente chamada de Cabala Rosacruz


(erradamente), se tornou apenas uma fina camada de manteiga espalhada em muito
pão. Interpretações e mais interpretações bombardearam o sistema, e o tornaram
inteiramente sujeito aos caprichos filosóficos de intelectuais e estudantes de
simbolismo. Agora, reconhecidamente, a beleza da Cabala é a de que ela é um sistema
universal, cuja ideia pode ser aplicada fora do esquema judaico. Porém, tudo deve ter
seus limites razoáveis, e esses limites foram ultrapassados há muito tempo atrás pela
maioria dos autores desse assunto. Se você quiser relacionar a esse esquema os deuses
de outras religiões, os nomes divinos judaicos, plantas, animais, ações, planetas etc,
tudo​ ​bem​ ​com​ ​isso,​ ​mas​ ​essas​ ​relações​ ​deveriam​ ​fazer​ ​ao​ ​menos​ ​sentido!

A mais infeliz destruição da Cabala não ocorreu em relação ao simbolismo


empregado ou a seu papel como um método de categorização conveniente. Embora
essas duas coisas tenham saído do controle, elas não são a jóia da Cabala. A jóia, o
verdadeiro tesouro, é sua real aplicação prática na ciência da magia. Essa jóia tem sido
quase inteiramente esquecida por ordens modernas e autores, que proclamam que a
aplicação prática da Cabala reside somente em se conhecer quais nomes divinos ou
cartas de tarô correspondem a quais sephiroth e a quais caminhos. Esse é um dos usos
da Cabala, mas não é a verdadeira essência da Cabala prática posta em execução. Em
sua raiz, anterior a todas as culturas, num nível muito mais profundo do que qualquer
associação religiosa, a Cabala é uma bela síntese de forma, de som e de virtude. Isso
pode ser dito de outra maneira, ao se afirmar que a Cabala combina, numa maneira
prática, os três pilares primários de quantidade, vibração e qualidade. Isso se torna
aplicado tangivelmente como luz, som e vibração. Quando isso é compreendido pelo
iniciado, então, muitas portas são abertas a ele, e o uso prático da Cabala é entendido.
Então, em vez de passar horas num devaneio espiritual, tentando fazer “pathworking”
de uma esfera para outra, o adepto consegue absorver praticamente as autoridades e
poderes daquela esfera e conquistá-los diretamente, de uma maneira mágica. Não
apenas tal abordagem é muito mais eficiente, mas, por causa do maior número de
habilidades conseguidas, artigos de sabedoria que se tornam compreensíveis, e por
causa de mais trabalho meticuloso em todos os três reinos, é, dessa maneira, uma
experiência mais significativa. Passar tempo se contemplando os símbolos de uma
esfera pode ser uma prática útil, mas torná-la o curso principal é um erro. A consciência
se expande mais quando todo o ser se torna imergido nas energias através de suas
utilizações,​ ​não​ ​apenas​ ​através​ ​de​ ​sua​ ​contemplação.

A Cabala e sua aplicação apropriada devem ser, necessariamente, reservadas para


um trabalho posterior em minha vida, mas é importante para o estudante sincero da
magia de hoje compreender que uma das pedras angulares da magia ocidental moderna
foi enormemente corrompida, e que ela não é tudo que as pessoas tentam fazê-la
parecer. É meu conselho ao aspirante, se ele deseja aprender a Cabala, que espere até
que um professor apropriado seja conseguido. Deixo que o estudante avançado
contemple, nesse meio tempo, o significado da sabedoria de Poimandres a Hermes
Trismegisto, quando ele disse, “A vida é união da palavra e mente.” O estudante que
consegue entender isso, mais especialmente em conexão à formula Abracadabra,
começará​ ​a​ ​pegar​ ​a​ ​essência​ ​da​ ​Cabala​ ​prática.
Portanto, acontece que os fundadores das ordens mágicas eram, simplesmente,
intelectuais. No início, eles só eram mais avançados que o homem comum, em vista de
sua compreensão superior de linguística e sua vontade de visitar frequentemente os
museus. Por causa de sua habilidade de apenas traduzir, não por sua proeza mágica, tais
homens eram tratados como adeptos. Embora houvesse alguns raros, como MacGregor
Mathers, que eventualmente se tornou um adepto por um curto tempo, em essência, a
maioria deles era simplesmente de intelectuais. Intelectuais podem treinar intelectuais,
mas​ ​eles​ ​não​ ​têm​ ​nem​ ​uma​ ​ideia​ ​de​ ​como​ ​criar​ ​magos.

A​ ​Terceira​ ​Razão
A​ ​Corrupção​ ​da​ ​Magia​ ​para​ ​a​ ​Realização​ ​de​ ​Desejos​ ​Pessoais

Quando se folheia livros sobre espiritualidade, e até livros que, supostamente,


ensinam a evolução espiritual, descobre-se que a maioria dos ensinamentos espirituais
se adequou à satisfação de paixões e desejos mundanos. Ironia peculiar, porque o
indivíduo iluminado compreende que essas duas coisas (evolução espiritual e desejos
materiais) não podem vir juntos, porque um é contraprodutivo à consumação do outro.
Eu não consigo deixar de rir alto ao ler títulos tais como “Tornando-se um Mestre
Ascencionado: Como Materializar Todos os Seus Desejos”. Seria igual a intitular um
livro​ ​de​ ​“Tornando-se​ ​Elevado:​ ​Como​ ​ser​ ​Inferior.”

A poluição da tecnologia espiritual foi uma inevitabilidade quando alguns


relances das leis espirituais foram obtidos pelas massas indisciplinadas. O homem
normal, abatido pela tristeza, procura um caminho fácil de sair dela, e erradamente
acredita que ele encontrou a alegria dentro dos salões da espiritualidade. Realmente,
nada poderia ser mais distante da verdade. Essas pessoas, desejando modos de
alcançarem facilmente todos os seus desejos mundanos e terem sucesso, glória, honra,
riquezas etc, se trancam ao pequeno número de leis espirituais que foi publicado, nas
esperanças de usá-las para seus próprios fins egoísticos. Eles lêem um livro que discute
alguns dos pequenos mistérios, e então corrompem essas chaves para fins egoísticos. Se
eles tiverem algum sucesso, eles ficam cheios de excitação e, ansiosamente, escrevem
livros ou criam ​websites que pregam os bons ensinamentos do egoísmo. Desse modo,
em apenas poucas décadas, a vasta maioria de livros “ocultistas” se tornou livros que
prometem ao homem fraco e egoísta um caminho fácil, ao se usar leis ocultas básicas
para abastecerem seu animalismo. As pérolas foram jogadas aos porcos, e, tão certo
quanto o sol deva nascer e se pôr novamente, também os porcos pisaram sobre essas
pérolas,​ ​aprofundando-as​ ​na​ ​lama.

Muito mais perigosos do que o homem de negócios ambicioso desejando modos


de aumentar seu portfólio, ou do que aquelas pessoas em sofrimento que procuram por
um modo fácil de sair dele, são aqueles que perseguem seriamente a magia prática e
ainda assim a corrompem numa arte egoística. Eles proclamam, ignorantemente, “A
Magia é uma ferramenta do homem, e deixemos o homem usá-la para conseguir tudo
que ele deseja!”. Eles gritam orgulhosamente, “Faça como quiser, tudo é caos mesmo, e
não existem repercussões negativas”. Tais pessoas cegaram a si mesmas a até a mais
básica das operações, observada até na própria natureza. Elas são tão cegas, contudo,
que nem percebem que suas “realizações” não são realmente mágicas. Elas são egoístas
e egoísticas, e, realmente, executam apenas truques de salão. Elas ficam tão presas em
suas ilusões de sucesso por terem sido capazes de ganhar um aumento de salário ou
seduzir alguém que não percebem quão fracos e inferiores esses pequenos truques são.
Quando essas pessoas, iludidas como são, passam para os mundos espirituais depois da
morte física, eles percebem imediatamente o tempo que gastaram, e depois de servirem
o seu tempo, voltam ao mundo para levarem uma vida mais frutífera. Por eles nunca
terem buscado uma realização imortal, e não “construíram seu tesouro no céu”, eles não
estão mais distantes no caminho supremo do que o homem mediano. Esse é um ponto
importante, que todos aqui deveriam dedicar à memória: você NÃO CARREGA poderes
mágicos com você para a sua próxima encarnação. Até que você alcance henosis, que é a
deificação e a imortalidade do corpo astral, a única coisa que continuará a crescer e
expandir, de uma vida a outra, é a sua consciência. Isso irá, naturalmente, carregar
algumas siddhis, que são poderes inerentes, mas não os frutos de uma grande parte de
seu treinamento mágico. O corpo astral cresce e evolui de uma vida a outra, como
resultado​ ​de​ ​treinamento​ ​mágico,​ ​e​ ​discutiremos​ ​isso​ ​mais​ ​no​ ​futuro.

Por causa da obsessão com os pequenos mistérios, que podem ser aprendidos até
antes de alguém ter alcançado um caráter iluminado, as pessoas se tornaram satisfeitas
com o aperitivo e esqueceram até que a entrada principal exista. O resultado disso é que
o termo “magia” tomou um significado ambíguo, que nunca pretendeu de ter: na mão
esquerda, refere-se simplesmente à mudança de acordo com a vontade, e, na mão
direita, significa a perseguição da evolução espiritual. Se o mundo fosse um lugar bom e
o último significado de magia o mais bem conhecido, todos compreenderiam que a
magia é uma maneira de se buscar Deus. Esse não é o caso, contudo, e o mundo é um
lugar predominantemente egoístico. Assim, a mais comum compreensão do quê magia
significa é fenomenalmente egoísta e corrompida. Através da graça de Deus, o século
por vir verá uma evolução acontecer dentro do mundo da magia, no qual esse grande e
glorioso​ ​caminho​ ​será​ ​exaltado​ ​à​ ​sua​ ​altura​ ​correta​ ​em​ ​seu​ ​mérito​ ​espiritual.

A​ ​Quarta​ ​Razão
Preguiça

Na medida em que a tecnologia avança e o mundo material se torna mais e mais


uma parte do ser de alguém, as pessoas têm se tornado mais e mais preguiçosas. A
preguiça, é claro, é um instinto diretamente conectado ao egoísmo, o qual vimos acima
como um desejo dominante no modo com o qual as pessoas abordam a magia. Assim, a
preguiça​ ​também​ ​é​ ​inerente​ ​na​ ​maioria​ ​das​ ​abordagens​ ​das​ ​pessoas​ ​à​ ​magia.

Hoje, as pessoas se acostumaram a ter tudo em suas mãos. O sucesso se tornou


definido como se fazer o mínimo possível para alcançar alguma coisa. Pessoas ao redor
do mundo, todos os dias, prefeririam passar dez minutos em busca de um controle
remoto do que levantarem e ligarem ou desligarem a televisão em poucos segundos de
esforço físico. Essas pessoas abordam a magia do mesmo modo. Querem saber onde o
controle remoto para a evolução espiritual está, de modo que eles possam se ligar em
Samadhi quando não estão muito ocupados para Deus, e então o desligam novamente
quando eles têm coisas “melhores” para fazer. Do mesmo modo que se procura por um
controle remoto, eles gastarão uma hora numa livraria procurando por um livro
“torne-se um mago rapidamente”, quando o fato de se gastar até mesmo dez minutos
daquela​ ​hora​ ​em​ ​meditação​ ​teria​ ​sido​ ​muito​ ​mais​ ​benéfico.

A profundidade do egoísmo da pessoa comum nunca cessa de me impressionar.


Eu falo a eles sobre magia, e sobre se procurar Deus e evolução espiritual, e eles
desistem porque soa como “muito trabalhoso”. As mesmas pessoas que não jogarão nem
dez dólares para um dízimo também não darão a Deus nem dez minutos de seu dia. “Eu
dou a Ele uma hora por semana todo domingo”, dizem para si mesmos. “Se isso não é
bom​ ​o​ ​bastante​ ​para​ ​Ele,​ ​Ele​ ​precisa​ ​superar​ ​isso.​ ​Eu​ ​estou​ ​ocupado.”

A falta de habilidade de se perturbar a rotina usual de preguiça por até poucos


minutos, por Deus, é precisamente o que muitos autores e os chamados professores
pregam hoje. Eles ganham centenas de milhares de dólares ao escreverem livros
especificamente criados para esse tipo de pessoa, dizendo a ela “É normal ser
preguiçoso”. Nos olhos desse autor, é claro que é normal. Essas pessoas irão torná-lo
rico!

Formas de magia que estão surgindo hoje estão refletindo essa preguiça. As
pessoas estão tentando convencer outras de que a magia pode ser um esporte de um tipo
fácil, e que tudo estará bem. O que eles estão ganhando? Eles estão convencendo
pessoas de que magia não é real, porque, depois de tentarem essas tentativas
preguiçosas e não verem nenhum resultado, proclamam que, uma vez, tentaram fazer
magia e descobriram que era tudo mentira. Nunca diriam que talvez eles só estivessem
sendo preguiçosos. O homem comum se levanta orgulhosamente e grita, “Eu, com
certeza,​ ​não​ ​sou​ ​o​ ​problema!”.
Não espere ter uma boa colheita sem primeiro trabalhar o solo e cultivar as
plantas com cuidado. Não espere ter uma boa refeição sem primeiro cozinhá-la. Não
espere chegar a um lugar distante sem viajar até lá. O universo não é mau; mas ele não
atenderá​ ​à​ ​sua​ ​egoística​ ​letargia.

A​ ​Quinta​ ​Razão
Egomania

A quinta razão que eu observei como fonte dos problemas de hoje na magia, é a
egomania geral que infesta o mundo ocidental. No mundo de hoje, somos
constantemente ensinados a sermos individuais, que ser único é o sonho humano, que
você é especial e diferente de todo mundo, e que tudo isso é bom e verdadeiro.
Infelizmente, o incorreto nessas auto-afirmações é uma ligação fenomenalmente
resistente à falsa percepção de quem se é. As pessoas se tornaram absolutamente
investidas em suas cascas de ego que permeiam a parte mais externa de sua
personalidade,​ ​e​ ​a​ ​defendem​ ​selvagemente.

Um dos medos mais comuns que as pessoas têm no que diz respeito à evolução
espiritual é a perda de auto-identidade. Esse medo é baseado sobre duas percepções
inteiramente falsas: a falsa percepção do que a iluminação é, e a falsa percepção de si
mesmo. Quando esses dois se unem, um medo intrínseco surge, colocando muralhas
entre a mente e a ideia de realização espiritual. Em algum ponto, as pessoas colocaram
em suas cabeças que a destruição do ego é a destruição de sua personalidade, de seu
caráter, e isso é, simplesmente, não verdadeiro. É, na realidade, simplesmente, a
purificação do seu caráter, de modo que se eliminem os vícios e defeitos maiores,
removendo-se assim o desequilíbrio espiritual. O problema real surge quando alguém é
tão defensivo de sua personalidade que defenderá até mesmo seus vícios. Eles dirão
coisas como “Claro, eu sou um mentiroso crônico, mas isso é quem eu sou, é assim que
Deus me fez”. Tal ideia é inteiramente sem fundamento. Você não é um mentiroso
crônico, porque, em sua essência, você é Deus. Apenas sua casca de ego mais externa é
mentirosa, e não foi porque Deus o fez, mas por causa de suas ações que você,
conscientemente,​ ​escolheu​ ​perseguir.​ ​Contudo,​ ​as​ ​pessoas​ ​não​ ​aceitarão​ ​isso.

Isso cai novamente no quarto problema, o da preguiça. As pessoas desejam tudo


por nada, ou, se elas investem dez dólares, querem instantaneamente cem dólares de
volta. Elas não acreditam que um relacionamento com Deus é um relacionamento
recíproco, mas sim que é um relacionamento de “servidão”, onde Deus dá tudo,
enquanto nós recebemos. Não funciona dessa maneira; nunca funcionou, nunca
funcionará. Deus é um pai melhor que isso. Infelizmente, as pessoas prefeririam se
apegar a seus vícios do que oferecerem seus aspectos negativos ao fogo alquímico para
que sejam destruídos. A uma pessoa assim, o “ser único” é sempre mais importante que
a Divindade. Existe esperança para tal pessoa? Você não pode ajudar alguém que não
ajuda​ ​a​ ​si​ ​mesmo.

A falta de desejo de se sacrificar as falhas pecaminosas de caráter resultou não


apenas na corrupção da magia, mas contribuiu grandemente à queda de um grande
número de ordens ocultistas. No campo geral da magia, autores não treinados, que não
são mais maduros do que uma criancinha de um ponto de vista mágico estão lançando
livros que são absolutamente corrompidos por suas falhas pessoais. No campo das
ordens ocultistas, os “adeptos superiores” são ainda crianças egoístas que tramarão
vários dramas dentro da ordem, normalmente a fim de abolirem a autoridade do
Grão-Mestre, de modo que possam competir com esse poder. Uma ordem ocultista
genuína consiste de adeptos que ultrapassaram tais simples preocupações, e que nunca
tentarão se elevar para prejudicar outras pessoas ou ao risco de prejudicarem um bem
maior. Quando pessoas são permitidas a carregarem todas as suas falhas mundanas
para uma posição de, supostamente, autoridade divina, o caos deve, necessariamente,
resultar.​ ​Precisa-se​ ​meramente​ ​olhar​ ​a​ ​história​ ​do​ ​Papa​ ​para​ ​ver​ ​as​ ​evidências.

Deveria ser suficiente, nesse meio tempo, enfatizar que aspirantes nunca são
postos em algum programa de lavagem cerebral que faz com que eles pensem e ajam de
um modo determinado. Isso não poderia ser mais verdadeiro. Cada pessoa tem uma
personalidade absolutamente única, e essa personalidade é uma expressão muito real do
próprio Deus. Desse modo, todos são um avatar, uma manifestação de uma
Personalidade Divina. A diferença entre uma pessoa comum e um santo realizado,
porém, é a de que a pessoa comum turvou e sujou sua personalidade divina com uma
lama imunda, enquanto o santo realizado poliu sua alma de modo que sua verdadeira
personalidade pudesse brilhar. Você não é quem pensa que é! As pessoas acreditam que
são tão velhas quanto seus corpos físicos, mas, na verdade, você é muito mais velho.
Pelo fato de que a única personalidade que você pode lembrar é aquela em seu presente
corpo, que tem apenas alguns anos de idade, você pensa que é você. A verdade é que
você tem uma personalidade universal, uma personalidade muito única, sendo a única
expressão total de Deus em essa forma exata, que esteve por aí por muito mais tempo do
que o seu corpo. Deslocar a sua identidade de si mesmo da falsa percepção de seu corpo,
para o supremo local de sua alma, é a meta da Grande Obra, a Verdadeira Alquimia.
Para fazer isso, você deve remover gradualmente a lama que se acumulou como um
grosso muco sobre sua alma, de modo que você se torne o você verdadeiro, em vez de
esse você mortal e temporário. A personalidade que você tem neste momento tem todas
as virtudes positivas da sua alma, mas você adicionou a elas os vários vícios e defeitos
que você adquiriu nesta e nas últimas encarnações. A sua personalidade pode ser vista
como uma parede cheia de buracos. A luz que brilha através desses buracos é sua
personalidade real, enquanto o resto da parede é a imundície e o muco com o qual você
se cobriu. A meta da sublimação pessoal é fazer com que o seu inteiro ser brilhe com
pura​ ​luz.

Isso é, como muitos assuntos do oculto são, uma coisa difícil de ser explicada se
usando a linguagem humana. Até com a explicação acima, será difícil, até para os mais
inteligentes leitores, absorverem exatamente o que eu estou tentando dizer, até se
pensam que compreendem. É algo que deve ser experimentado individualmente para
saber,​ ​e,​ ​portanto,​ ​eu​ ​evitarei​ ​qualquer​ ​discussão​ ​compreensiva​ ​sobre​ ​isso.
A​ ​Sexta​ ​Razão
A​ ​Destruição​ ​da​ ​Sucessão​ ​de​ ​Mestre​ ​e​ ​Discípulo

A sexta maior razão para o deplorável estado da magia moderna é a destruição de


uma linha de sucessão entre o guru e chela, mestre e discípulo. Quanto mais pessoas
lançaram vários livros contendo os Pequenos Mistérios, mais pessoas começaram a,
lentamente, substituir o mestre pela estante. Eles colocam em suas cabeças que, desde
que consigam ler muito, nunca precisarão de um professor. Não é preciso dizer que essa
abordagem raramente encontra sucesso. Por razões que já foram clarificadas, a vasta
maioria dos livros de hoje é quase inteiramente inútil para alguém que esteja
procurando por um meio prático e eficiente de auto-avanço. Seu conhecimento pode
crescer,​ ​mas​ ​sua​ ​alma​ ​normalmente​ ​não.

Uma razão para essa substituição, que deveria agora ser óbvia ao leitor, é o fato
de que as pessoas hoje simplesmente não gostam da ideia de um professor, de um guru.
Um mentor é, às vezes, bem recebido, mas apenas sob a exigência de que o mentor não
seja saudado com muita apreciação, e a de que ele possa ser facilmente afastado. O ego
da maioria das pessoas as leva a odiar a ideia de serem subservientes a um verdadeiro
professor, por até mesmo pouco tempo, para assegurarem sua evolução espiritual. Isso
as faria sentir menos sagradas que o guru, o que, de fato, elas são, e isso machucaria
demais​ ​os​ ​seus​ ​egos.​ ​Dessa​ ​forma,​ ​elas​ ​não​ ​tolerarão​ ​isso.

Isso tudo fez com que muitos autores de hoje não tenham recebido treinamento
legítimo de um professor verdadeiro. O conhecimento que eles apresentam em seus
livros é, simplesmente, a mesma informação reprocessada que qualquer um poderia
armazenar com tempo suficiente numa biblioteca, e eles, portanto, não se tornaram
melhores que seus predecessores uma centena de anos atrás, os quais pensavam ser
adeptos simplesmente por causa de sua habilidade de compilar a informação disponível.
Tais autores, assim, começaram uma tendência que infectará totalmente os autores do
amanhã, e, dessa maneira, solidificará essa tendência infeliz e autodestrutiva. Eu rezo
seriamente para que, no futuro, mais adeptos que tenham passado por treinamento real
nas mãos de um professor treinado dêem um passo à frente e passem os ensinamentos
de seus mestres para o mundo. Até se isso acontecesse, cada livro deveria dizer dentro
de suas páginas o que eu estou precisamente para dizer: embora o conhecimento ajude e
ilumine​ ​a​ ​mente,​ ​a​ ​iluminação​ ​da​ ​alma​ ​deve​ ​ser​ ​recebida​ ​de​ ​um​ ​bom​ ​professor.

Por que você não pode fazer tudo sozinho? Por que você não pode ser aquele
“lobo solitário” sobre o qual você ouviu falar? Aquele lobo solitário e durão que nunca
precisa da ajuda de ninguém? Supere você mesmo. Você não pode fazer isso sozinho
porque você nem sabe o que fazer ou onde começar, e se você soubesse, você não
entenderia como fazê-lo mesmo assim. Se você pode derrotar o seu ego o suficiente para
admitir isso, então você pode ainda ter esperança para o Reino de Deus. Se não, então
você está muito mais interessado em si mesmo do que em Deus. Um livro pode sugerir
lugares para começar, pode fornecer fórmulas e técnicas práticas (embora poucos, muito
poucos o fazem) e podem até suprir uma rotina de treinamento completa. Até se você
tenha esses livros memorizados, a quem você se voltaria quando um obstáculo surgisse
que você não pudesse superar intelectual ou espiritualmente? Se você, embora com
treinamento rigoroso, não visse resultados, como adivinharia o porquê disso? De qual
lugar você receberia a informação que nunca foi antes publicada? Além disso, você seria
forçado a aceitar a legitimidade de qualquer sistema de treinamento ou séries de
informação, baseado inteiramente sobre a sua própria crença. Quando você tem um
bom professor que está lhe iniciando diretamente, numa linha de mestre e discípulo, na
magia genuína, então você tem alguém para se referir como um modelo e um exemplo.
Você consegue ver quão efetiva essa abordagem à magia é, toda vez que você vê o seu
professor. Através das ações dele, você pode decidir se o sistema é válido ou não. Dessa
forma, o professor destruirá níveis de dúvida que, frequentemente, infectam pessoas
que​ ​se​ ​submetem​ ​ao​ ​que​ ​agora​ ​é​ ​popularmente​ ​chamado​ ​de​ ​“autoiniciação”.

Neste ponto, nós dificilmente poderíamos continuar sem uma rápida


consideração de uma jóia em particular, o livro ​O Caminho do Adepto​, pelo Mestre
Arion, Grande Iniciador Rosacruz, o S.F.C.R. (Sagrado Frater Christian Rosencreutz),
que vocês conhecem pelo nome de Franz Bardon. Essa grande alma, um dos doze
maiores adeptos mestres na inteira Fraternidade Branca, que governa particularmente
sobre a iniciação, veio ao mundo em total Nirvikalpa Samadhi, na glória de seu corpo
astral​ ​imortal,​ ​por​ ​toda​ ​a​ ​humanidade.​ ​Houve​ ​um​ ​grande​ ​sacrifício​ ​nisto.

Urgaya o invocou e ordenou que, enquanto estivesse aqui, ele lançasse ao mundo
os primeiros três dos vinte e dois estágios de iniciação da Fraternidade Branca. Ele o fez,
mas, do mesmo modo que Veos e eu fizemos, ele suavizou o sistema consideravelmente,
para alcançar e ajudar o maior número possível de pessoas, enquanto tomava como
estudantes pessoais aqueles poucos que estavam prontos para os ensinamentos mais
sérios. O resultado desse serviço altruísta foram os três livros que ele escreveu, que
foram feitos para levar o estudante até o ponto em que ele atraia um mestre espiritual
que o inicie nos Grandes Mistérios. Embora essa trilogia seja excelente, particularmente
seu primeiro livro, ​O Caminho do Adepto​, eles ainda contém todas as inibições que um
livro traz. Você não pode perguntar questões ao livro, não pode receber experiências
espirituais dele, não pode chorar nos seus ombros quando o mundo parece ter se
voltado contra você. O livro não irá assumir o seu karma para te ajudar, não limpará
suas nadis e trabalhar nos seus chakras, não imergirá você, amavelmente, em sua
própria aura. Acima de tudo, não servirá como um canal de mediação entre sua
Kundalini​ ​pequena​ ​e​ ​a​ ​Kundalini​ ​Cósmica​ ​superior.

É minha convicção, baseada na experiência, que existe somente um tipo de


pessoa que pode se submeter à autoiniciação com sucesso sem nunca ter tido um
professor. Deve ser um adepto reencarnado que está simplesmente recapitulando seu
desenvolvimento mágico de vidas passadas. Para tal pessoa, na medida em que ele
aprende até apenas técnicas básicas, suas memórias mágicas começarão a, quietamente,
voltar a ele, na forma de intuição acurada sobre como certas coisas deveriam ser
executadas. Essa intuição mágica guiará suas ações, e sua alma guiará a consciência aos
lugares corretos. Essa pessoa não precisa de um professor. Porém, a um tempo atrás ele
certamente teve um, e se não tivesse sido pelo professor, ele nunca teria se tornado o
adepto​ ​que​ ​se​ ​tornou.

A​ ​Sétima​ ​Razão
A​ ​Remoção​ ​de​ ​Deus​ ​da​ ​Situação

Na medida em que o mundo se torna, gradualmente, mais materialista, uma


escuridão começa a envolver o intelecto de pessoas inteligentes. É um tipo de doença
que dá a uma pessoa cegueira e a torna surda; de fato, deixa-a quase completamente
insensível a qualquer estímulo. O nome dessa aflição, que paralisa e torna mudos todos
os três corpos, é chamado Ateísmo. Quando algumas pessoas são afligidas por ele,
tornam-se totalmente desafiantes contra todos os impulsos espirituais que sugiram a
existência de Deus. Eles são uma ninhada de pessoas peculiar, sendo ignorantes ao grau
de​ ​se​ ​tornarem​ ​engraçados​ ​aos​ ​olhos​ ​do​ ​iniciado.

Existe uma ninhada particular de ateístas que é mais divertida que todas as
outras. É uma ninhada relativamente nova, que apareceu apenas neste século passado.
Esse tipo de pessoa é um ateísta que acredita que fenômenos espirituais são, na verdade,
fenômenos físicos num nível altamente refinado, e dessa forma buscam explicações para
as coisas espirituais. Eles não negarão que as energias dos elementos, por exemplo,
existem. Eles simplesmente pensarão em alguma teoria absurda e estúpida de como
essas energias são apenas divisões de uma substância mental física, mas enormemente
refinada, e que suas qualidades atribuídas são algum tipo de ilusão. Eles dirão que
espíritos são as expressões externas de arquétipos subconscientes na psique, e sugerem
que, quando eles são conjurados à aparência visível, tudo que está ocorrendo é
auto-hipnotismo. Essa estranha espécie de pessoa fará tudo pelo motivo de ser capaz de
sugerir que Deus não existe, que mundos espirituais não são reais, que não existe alma,
etc,​ ​etc.
É óbvio ao iniciado que qualquer pessoa que se submeta ao treinamento
adequado possa provar a si mesma além de qualquer possibilidade de dúvida que
espíritos não são arquétipos pessoais, que mundos espirituais existem, que existem
energias externas diferenciadas, que a alma é real e imortal, e que Deus é uma verdade
eterna. Qualquer pessoa que sugere ao contrário está fazendo-o do ponto de vista da
teoria e especulação somente, e não tem base prática na magia. Embora o iniciado
devesse sempre mostrar respeito sobre a opinião da outra pessoa, de modo a não causar
conflito imediato e desconforto, ele não deveria permitir ser persuadido por tais
argumentos. Frequentemente, essas pessoas são ótimas em argumentar e debater, mas
não podem fazer quase nada a esse respeito com magia verdadeira. Dessa forma,
deixe-os falarem a si mesmos enquanto você quietamente volta a sua mente à meditação
sagrada.

Isso precisa que consideremos um ponto importante, contudo. Apenas você, no


fim, pode provar a si mesmo a realidade de todas essas coisas. Apesar de todos os meus
poderes e siddhis, eu não posso fazê-lo. A mente animal duvidará da sua escolha de
perseguir esse caminho a cada virada, e, acima de tudo, também tentará me fazer
duvidar, não importa o que eu faça. Alguns exemplos podem ilustrar bem este ponto.
Ano passado, quando eu estava morando com um grupo de oito aprendizes (com mais
cinco visitando regularmente) num belo lote de 5 acres firmado entre árvores e invisível
a todos os vizinhos ou à estrada, uma grande tempestade apareceu sobre nós. O vento
uivava ferozmente, a chuva parou por um momento, e, então, no pátio próximo a nós,
um tornado começou a descer. Os aprendizes, até Veos (até hoje eu brinco com ele sobre
isso!) ficaram muito assustados. Na verdade, eu estaria assustado também, apesar da
minha confiança para lidar com a situação, se eu não tivesse aberto meus olhos de uma
maravilhosa hora de meditação profunda no momento em que o tornado começou a
surgir. A mim, naquele estado elevado de felicidade, o tornado era apenas uma
demonstração da natureza para ser amada e reverenciada. Apesar disso, eu me esforcei
o suficiente para me convencer de que o tornado, tão próximo à casa, era uma coisa
ruim. Eu me coloquei na direção da tempestade, com Veos ao meu lado e ajudando, e
nós dois elevamos o tornado de volta ao céu e redirecionamos a tempestade para longe
da casa. Isso foi feito com todos os estudantes assistindo. Em outra ocasião, apenas
quatro semanas antes, eu usei um sigilo para criar uma chama sólida e negra no coração
de um grande fogo ritual que todos viram e cuja realidade de sua presença atestaram.
No momento em que começou a chover, por ele ser um importante ritual do fogo, eu
chamei um espírito que me serve para nos proteger da chuva. A chuva parou, mas os
estudantes logo notaram que estava chovendo em todos os lugares da propriedade,
menos​ ​no​ ​lugar​ ​onde​ ​estávamos!

Eu estou relembrando essas coisas não para glorificar a mim mesmo, mas para
ajudar a ilustrar este assunto. Embora eu demonstrasse essas aparentemente
“maravilhosas” ocorrências, sem pouco esforço meu, eu rudemente exibia a magia aos
meus estudantes como um prêmio por sua devoção duradoura aos meus ensinamentos,
e, mesmo assim, essas coisas não preveniam suas mentes de, às vezes, duvidar que
magia não existia. Pouco menos de um mês depois do incidente com o tornado, um dos
meus estudantes melancolicamente veio a mim e confessou que ele estava tendo de lutar
com a dúvida, porque ele nunca tinha visto antes um poder mágico. Numa classe do
Veritas quatro anos atrás, eu tive um estudante para o qual, um dia, eu mandei uma
mensagem e informei que ele estava desenvolvendo uma infecção de sinus. Sendo
alguém que duvida por natureza, ele decidiu não tomar nenhum remédio. Quatro dias
depois, ele pegou uma infecção de sinus, e, num instante, eu o curei da infecção
completamente. Eu não consegui mais informações desse estudante, que terminou
aquela classe como um estudante de magia muito devotado, por um longo tempo depois
que a classe terminou. Eu descobri, poucos meses atrás, que, pouco depois da minha
classe terminar, ele decidiu que eu era uma fraude e um mentiroso, e que eu não tinha
habilidade mágica ou consciência elevada, e que ele estava convencido de que magia em
si​ ​pudesse​ ​nem​ ​ser​ ​real.

Essas, e outras experiências parecidas, me convenceram de que não é o dever do


professor fazer o estudante acreditar em magia, e, realmente, que o professor não é
capaz de fazê-lo, não importa quais habilidades ele possa ter demonstrado. No final, a
última evidência convincente que o estudante será capaz de usar para conquistar a
dúvida de seu ser inferior é a evidência que surge de suas próprias práticas continuadas,
as​ ​recompensas​ ​de​ ​sua​ ​fé​ ​duradoura​ ​em​ ​seu​ ​caminho.

Mas, voltando ao assunto à mão, é uma grande má sorte ao mundo dos aspirantes
sinceros que esses mesmos ateístas estão realmente se juntando para formar sistemas
de “magia” juntos, embora esses, na realidade, sejam feitiçaria astral no máximo. Ao
fazê-lo, eles estão apelando aos lados animalistas e mundanos da consciência do ego que
governa sobre os não iniciados antes de alma ter uma chance de se agarrar a algo
significativo. Por tais sistemas de feitiçaria não terem nenhuma ênfase real na moral,
por eles não terem ideia nenhuma de Deus ou de avanço espiritual, as pessoas estão se
unindo para achar uma desculpa para praticar o que eles pensam que é magia sem ter de
desistir de seus modos pecaminosos de viver. Tais pessoas adoram se ostentar, dizendo
“Eu descobri que magia é tão efetiva sem o componente espiritual desnecessário”. Eu
juro a todos vocês, pelo meu grande amor por essa ciência, que, nos meus anos de
magia, eu nunca encontrei, nunca mesmo, nenhum estudante dessa escola de feitiçaria
que poderia produzir até a mais simples das demonstrações mágicas. Eu nunca descobri
um estudante dessa escola que possuísse alguma das faculdades mágicas a um grau
demonstrável ou talvez significativo. Por quê? Porque eles estão praticando ideias, não
verdades. Eles estão tentando fazer com que o universo satisfaça os seus próprios
desejos egoísticos, em vez de quererem sacrificar qualquer coisa que seja para se
tornarem​ ​magos​ ​reais.

A​ ​Oitava​ ​Razão
Charlatões

À luz de todas as razões previamente mencionadas, deveria se tornar óbvio que


charlatãos e fraudes naturalmente surgiriam. A falta quase total de iniciados
verdadeiros e adeptos conhecidos às pessoas comuns tornou impossível se comparar
uma fraude contra a coisa real. Os fraudadores, é claro, saberão isso, e usam isso ao seu
favor. O fato de que existam tantos enganadores que se tornaram muito bem-sucedidos
não sugere em momento algum que eles tenham alguma habilidade, mas, em vez disso,
simplesmente mostra o quão mal informada e enganada a pessoa comum é nesses
assuntos.

Bem como fizeram no início dos anos 1900, médiuns começaram a ir e vir e a
escreverem pilhas de lixo para encherem as estantes das livrarias modernas. Essas
pessoas, que são normalmente tão boas em enganar a si mesmas quanto a enganar os
outros, lançam livro após livro. Eles escrevem centenas de páginas, e ainda, de alguma
forma, não dizem nada nelas. Eles citam seres espirituais como a fonte de sua sabedoria,
ou guias espirituais, ou animais totem, ou trevos de quatro folhas e tal ​nonsense​.
Embora eu ainda não o tenha encontrado, eu estou certo de que exista um médium por
aí que alega receber instruções místicas de seu sanduíche de presunto. Não seria mais
absurdo que as alegações anteriores. Embora, é claro, uma vez, eu tive uma conversa
muito reveladora com uma garrafa de coca-cola, e um espírito decidiu, por uma razão
qualquer,​ ​falar​ ​comigo​ ​numa​ ​voz​ ​audível​ ​que​ ​até​ ​os​ ​não​ ​iniciados​ ​poderiam​ ​ter​ ​ouvido.

Se tais médiuns estão de fato conversando com seres espirituais, então esses
espíritos são muito misteriosos ou são muito estúpidos. Se esses médiuns estão
conversando com guias espirituais, eles devem estar precisando despedir seus guias e
encontrar novos. Em minhas experiências com seres espirituais, animais totem e guias
espirituais, nenhum deles era tão mal informado quanto os desses médiuns. Dessa
forma, podemos concluir que é muito provável que eles não estejam falando com
nenhum dos acima, mas, em vez disso, que eu estou terrivelmente enganado, e que
todos estão, na verdade, conversando com sanduíches de presunto. Se eles estivessem
conversando com garrafas de coca, então, baseado na experiência, eu seria levado a
acreditar​ ​que​ ​seus​ ​livros​ ​poderiam​ ​ter​ ​sido​ ​melhores.

Nada disso implica que todos os médiuns são fraudes. É, porém, um infeliz fato
que a vasta maioria de fraudadores alegue ser médium, e, se o resto da comunidade de
bons médiuns não quiser ser associada com esses charlatãos, então eles deveriam
aparecer e lutar contra eles. Eu conheci vários bons médiuns em meu tempo, alguns
deles naturais e outros treinados, portanto, essas declarações, de modo algum, se
aplicam a esses tipos de pessoa. O leitor observador, porém, será capaz de fazer uma
caminhada, achar uma estante de New Age numa livraria popular e ser capaz de ver
precisamente​ ​de​ ​quais​ ​autores​ ​eu​ ​estou​ ​falando.

O grupo de médiuns impostores é apenas uma das duas maiores categorias de


fraudadores na comunidade ocultista. Para a pessoa firmada em pensamento racional e
com pelo menos alguma educação em literatura ocultista, os médiuns impostores são
comparativamente fáceis de serem reconhecidos. Embora eles agarrem um número
entristecedor de otimistas da New Age, os mais eruditos tendem a ficar longe deles. É,
portanto, minha opinião que o mais perigoso dos dois grupos não é o médium impostor,
mas​ ​o​ ​sim​ ​mago​ ​impostor.

O mago impostor é muito mais difícil de distinguir, e apenas alguém que é


firmemente enraizado na experiência prática pode descobrir o disfarce. Existem autores
que escrevem livros que fascinam seus leitores sobre simbolismo oculto, aparente
conhecimento da Cabala, algumas correspodências ocultas etc, e mostram isso como se
a experiência os tivesse levado a acreditar nessas coisas. Eu não estou falando aqui de
meros ocultistas. Um ocultista é um filósofo, portanto ele se preocupa com as várias
cosmogonias filosóficas, em vez de experimentar o lado prático da espiritualidade. Desse
modo, é perfeitamente normal para um ocultista falar num nível puramente intelectual,
igual ao filósofo. Não, eu não estou me referindo a esses autores, mas aos autores que
criam um véu de suposto conhecimento experimental. Essas pessoas são geralmente
indivíduos que aprenderam e, subsequentemente, praticaram apenas duas ou três
técnicas básicas, e, então, se consideraram a si mesmos grandes magos. Eles escrevem
livros sob esse propósito, e prescrevem ridículos regimes de treinamento para seus
leitores.
Tudo isso naturalmente resultou numa situação na qual pessoas que queiram
aprender magia, queiram comprar um livro e, por causa da probabilidade, pegarão um
livro escrito por um autor fraudulento. Percebendo como pessoas que são
completamente novas à magia não são tão sábias, elas acreditam em muito do que é
dito, e assim a corrupção começa. Muitos desses aspirantes promissores vieram à minha
casa por um curto tempo, e eu descobri que, depois de alguns anos de encherem suas
mentes com tal lixo, eles se tornaram ligados demais a esses mundos ilusórios para
serem salvos pela luz da experiência prática. Espero que, nas próximas vidas deles, suas
almas​ ​levarão​ ​suas​ ​mentes​ ​a​ ​buscarem​ ​algo​ ​mais​ ​elevado.

A​ ​Nona​ ​Razão
O​ ​Silêncio​ ​dos​ ​Adeptos

Durante o período do Renascimento, e por um tempo após, houve um número de


adeptos que escrevia. O advento do aparecimento público dos rosacruzes na Europa, por
um pouco tempo, gerou informação suficiente para os autores discutirem por muitos
anos. Pessoas como Paracelso, Agrippa e Francis Bacon forneceram suficientemente os
Pequenos Mistérios às pessoas. Autores rosacruzes como Francis Bacon promoviam a
iluminação intelectual das pessoas, como a Ordem Exterior Rosacruz (que
eventualmente gerou a Maçonaria), focada primariamente no avanço espiritual através
de conhecimento e de sabedoria em vez da prática. As práticas estavam presentes, mas
eram normalmente ritualísticas e reservadas para dias especiais. Os exercícios mágicos
verdadeiros​ ​eram​ ​mantidos​ ​para​ ​o​ ​próximo​ ​nível​ ​de​ ​iniciados.

Autores como esses forneciam tanto uma vantagem quanto uma desvantagem. De
um lado, as pessoas estavam engajando suas mentes, pela primeira vez, no
feijão-e-arroz da magia teórica. Em vez de lerem sobre demônios e feitiços mágicos, eles
podiam aprender sobre o magnetismo espiritual, o archeus, os éteres, a lei de atração, a
lei do microcosmo, e por aí vai. Alguns dos Pequenos Mistérios mais básicos tinham
finalmente se tornado disponíveis às pessoas. Isso permitiu que leitores da época
checassem duas vezes os escritos de pessoas sobre ocultismo contra autoridades
conhecidas. Embora fraudes e charlatões estivessem ainda rampantes, eles não estavam
se focando tanto nas contribuições literárias ao ocultismo e assim não deixaram uma
impressão​ ​duradoura​ ​sobre​ ​aspirantes​ ​das​ ​gerações​ ​futuras.

Por outro lado, a explosão de informação intelectual sem uma fundação de


trabalho prático levaria gerações futuras ao engajamento somente na filosofia, em vez de
na magia verdadeira. Isso permitiria a todos que tivessem lido alguns livros a
regurgitarem a informação em novos livros e chamá-los seus. Acima de tudo, deixaria
muitas questões sem resposta nas mentes de muitos aspirantes sinceros, sobre onde
começar e como avançar na magia. A tendência de alguns dos grandes magos do
passado de não aceitarem discípulos diretos resultou numa falta de sucessão de mestre e
discípulo, como foi falado anteriormente, e o fato de nenhum manual real de avanço na
magia ter sido publicado resultaria em autores lançando livros em assuntos puramente
teóricos,​ ​em​ ​vez​ ​de​ ​terem​ ​investigado​ ​praticamente​ ​suas​ ​ideias.

Nos últimos cinqüenta anos, quase não houve adeptos escritores, e até aqueles
que escreveram algo normalmente não forneceram uma base prática para os leitores.
Toda uma geração surgiu e desapareceu sem ter quase informação publicada confiável
sobre magia. É claro, tudo isso aconteceu de acordo com a Providência Divina, e há
razões exatas para os períodos históricos de silêncio que os adeptos escritores
assumiram​ ​e​ ​assumem.​ ​Ainda​ ​assim,​ ​é​ ​importante​ ​considerar​ ​os​ ​efeitos​ ​desses​ ​períodos.

Os poucos adeptos que ainda estão por aí no hemisfério ocidental têm


permanecido silenciosos, e talvez por razão, porque o dom de expressar ideias na
linguagem escrita não pertence a todas as pessoas. Pelo fato de existirem tão poucos
adeptos, existem poucos autores entre eles. Eu espero honestamente que, num futuro
próximo,​ ​isso​ ​comece​ ​a​ ​mudar.
A​ ​Décima​ ​Razão
A​ ​Falta​ ​de​ ​Expansão​ ​da​ ​Consciência

A natureza incompleta das deploráveis desculpas de muitas ordens modernas


para rotinas de treinamento resultou na quase extinção da real expansão de consciência
entre os chamados iniciados. Seus estudantes recebem complicado “pathworking” e
várias invocações para executarem, mas esses são meios tão indiretos de progresso que
uma inteira vida de prática renderia pouco sucesso. Infelizmente, a lavagem cerebral de
muitos aspirantes hoje os convenceu de que um conhecimento simplesmente
experimental dos símbolos das esferas elevadas, e até seu funcionamento, é a realização
de modos superiores de consciência. Isso simplesmente não é verdadeiro. Até se você
colocar sua mente regularmente na contemplação de reinos nos quais vibrações são
muito mais elevadas e puras que as suas, nunca se produzirão os mesmos resultados se
você tivesse elevado sistematicamente sua consciência a esse nível. Isso dá um bom
suplemento,​ ​mas​ ​não​ ​deveria​ ​ser​ ​a​ ​completa​ ​abordagem.

Existem​ ​duas​ ​principais​ ​maneiras​ ​de​ ​se​ ​expandir​ ​a​ ​consciência:

1)​ ​Imergir-se​ ​em​ ​energias,​ ​como​ ​em​ ​invocação​ ​ou​ ​viagem​ ​esférica.

2) A ascensão gradativa da Kundalini psicossexual da base da espinha e


órgãos​ ​sexuais​ ​até​ ​o​ ​córtex​ ​cerebral.

Nenhum desses métodos resultará necessariamente na realização do outro. A


ativação dos seis maiores centros inteiros da consciência na espinha não resultará no
aumento de vibração no seu corpo astral, para se adequar às vibrações das esferas
elevadas, e passar tempo em esferas mais elevadas não despertará automaticamente a
Schechinah-Kundalini e despertar as fortalezas, de modo que ela possa entrar e estar
com Elohim-Siva. No mago, ambos deveriam ser realizados. O primeiro é a deificação de
si​ ​de​ ​fora​ ​para​ ​dentro,​ ​e​ ​o​ ​segundo​ ​de​ ​dentro​ ​para​ ​fora.

Até os sistemas de treinamento que utilizam pelo menos o primeiro método de


ascensão da consciência, sendo o mais comum no mundo ocidental hoje, não prestam
tanta atenção a ele quanto deveriam. Muito frequentemente, ênfase excessiva é dada
sobre as habilidades mágicas, ou pelo professor ou na mente do estudante. A meta da
magia se torna o poder, em vez da evolução da consciência pessoal. Quando nenhuma
habilidade é conseguida, ou uma vez que a curiosidade científica do estudante seja
satisfeita, o caminho para. É por essa razão que as escrituras orientais advertem tão
ferozmente que poderes mágicos devam ser rejeitados, e não porque tais poderes são
inerentemente maus. Os iniciados do Oriente compreendiam simplesmente que, se o
estudante acreditasse, do primeiro dia de seu treinamento, que habilidades mágicas
eram ruins, ele provavelmente não sacrificaria depois sua evolução espiritual por causa
da tentação dessas siddhis. Ele não se distrairia. Na realidade, isso não é ruim, e o
estudante é altamente encorajado a adquirir várias habilidades mágicas para manifestar
a Vontade Divina mais efetivamente no mundo, mas isso deve ser abordado muito
metodicamente​ ​e​ ​apenas​ ​de​ ​uma​ ​base​ ​muito​ ​bem​ ​estabelecida,​ ​com​ ​os​ ​motivos​ ​corretos.

“Pathworking” se tornou, infelizmente, o modo principal com o qual as escolas


ocidentais tentam fazer com que seus estudantes expandem sua consciência, mas
existem muitas desvantagens nisso. O estudante consegue captar uma compreensão
intuitiva de esferas superiores ao elevar suas vibrações às delas diretamente. Quando ele
tem um flash e uma visão de Tzaphqiel, ele percebe o simbolismo de Luna e de Hécate, e
compreende o tridente e os quatro minotauros índigo que cercam o Templo da Deusa de
Três Faces e o Homem Nu, e começa a acreditar que ele realmente elevou seu status
espiritual à esfera de Yesod. A iluminação intelectual sobre simbolismo universal é
confundida com realização espiritual legítima. O resultado é que o tolo que consegue
superar as imagens do Demônio de Face de Cachorro e o Portador do Vinho no limiar do
abismo intelectual acredita ter factualmente cruzado esse abismo e emergido no outro
lado como “Magister Templi” ou qualquer cargo sua facção possa ter designado para
essa realização. A direção do simbolismo, e a natural habilidade da mente de entrar num
modo de resolução de problemas, quando confrontada com a diversidade, levou, neste
caso, a mente racional a uma série de equações lineares, resultando na compreensão de
certos símbolos ocultos. Embora essa compreensão tenha um efeito positivo sobre o
espírito, é quase uma blasfêmia dizer que essa estimulação intelectual sozinha pode ser
considerada como uma cruzada do Abismo. Quando a respiração cessa, quando a pele se
torna gelada e as suturas entre os ossos parietal e occipital do crânio ficam quentes,
quando visões de anjos e personificações de Deus aparecem no olho da mente, quando
todas as escrituras se tornam instantaneamente compreendidas, quando os joelhos de
cada anjo e arcanjo se dobram em reverência, quando a aura se estende para cobrir um
vale inteiro, quando a palavra se torna universalmente criativa, então saiba que o
abismo foi cruzado. Procure o homem com o inteiro universo em seus olhos; ele é um
deus.

Isso deve bastar por agora. O estudante terá agora uma sólida compreensão dos
problemas no modo com o qual a magia é frequentemente praticada hoje, e, com esse
conhecimento, ele pode escolher começar seu caminho com uma compreensão correta e
a salvação resultante desta bela ciência. Eu forneci nesta aula meras linhas de direção
pelas quais o estudante pode checar a si e àqueles que se chamam gurus. Busque o
homem​ ​que​ ​fala​ ​da​ ​autoridade​ ​da​ ​experiência,​ ​e​ ​não​ ​da​ ​autoridade​ ​dos​ ​livros.

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