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Antropologia Urbana

Prof.ª Dr.ª Susana T. Pereira Bastos

Trabalho elaborado por M. Teresa P. Branco


Aluna nº 4810

Ano lectivo 2009/2010


Antropologia - 1º Ciclo
FCSH/UNL
Índice
Introdução..................................................................................................................... 2
Origem e factores de difusão ......................................................................................... 3
Música ...................................................................................................................... 3
Cinema...................................................................................................................... 5
Manga, Anime e Cosplay .......................................................................................... 6
Revistas .................................................................................................................... 7
Internet...................................................................................................................... 8
Características do estilo Lolita .................................................................................... 10
Sub-estilos .............................................................................................................. 11
 Gothic Lolita ................................................................................................. 12
 Sweet Lolita .................................................................................................. 12
 Classic Lolita ................................................................................................ 13
 Punk Lolita ................................................................................................... 13
 Dandy ........................................................................................................... 13
Marcas e Lojas ........................................................................................................ 16
Lolitas em Portugal ..................................................................................................... 19
Conclusão ................................................................................................................... 22
Bibliografia ................................................................................................................. 24

1
Introdução

Considerando tribo urbana como um grupo de pessoas com características


distintas e comportamentos e crenças que as diferenciam de uma cultura mais
ampla da qual fazem parte, o estilo Lolita é um dos exemplos mais exuberantes
destes grupos que se caracterizam por diferentes ordens de razões: desde a
idade dos seus integrantes à etnia e/ou ao género mas passando também por
factores aglutinantes que podem ser de ordem étnica, estética, etária, religiosa,
ocupacional, política, sexual ou uma combinação de todos eles e/ou, muitas
vezes, envolvem um movimento artístico, um estilo de música, uma moda ou
forma de vestir e determinadas crenças ou modos de vida mais ou menos
específicos. É o caso, por exemplo, dos Góticos, dos Punks, dos Metaleiros,
Rockabillies, dos Geeks, das comunidades de Anime (animação japonesa) e
também das Lolitas.
Quando se menciona Lolita a grande maioria das pessoas recorda o conhecido
e polémico romance do autor Vladimir Nabokov sobre uma jovem rapariga
(Dolores, de 14 anos) por quem um homem mais velho se apaixona e com
quem se envolve sexualmente. No entanto, Lolita foi o termo adoptado por uma
expressão visual e cultural que nasceu nas ruas do Japão. Uma forma de
expressão, usada sobretudo por mulheres, que as mostra vestidas como
bonecas vitorianas, a evocar estilos outrora esquecidos e dentro de um mundo
perfeito que terá ficado há muito esquecido na infância.
O visual Lolita dificilmente passa despercebido mesmo por entre as restantes
estéticas alternativas ou vanguardistas e os olhares curiosos, os elogios ou os
insultos que seguem quem o representa partem de uma questão comum:
porque se vestem assim estas raparigas, aqui e agora?
As Lolitas chegaram ao resto do mundo e também a Portugal. Várias jovens
por todo o país vestem-se de forma “Lolita”, compram roupas de marcas
japonesas, fazem os seus vestidos e já foi criada uma loja exclusiva dedicada a
esta forma de vestir.
Neste pequeno trabalho tentarei, de forma sintética e não exaustiva, localizar a
génese e as principais vias de difusão deste fenómeno no tempo e no espaço
assim como identificar as principais características que definem as Lolitas
como grupo e estudar a forma como se projectam a si próprias quer no
contexto global quer no contexto nacional, não só relativamente a outros
grupos com origens semelhantes, como também em relação à sociedade em
geral.

2
Origem e factores de difusão

O movimento Lolita surgiu inicialmente como uma moda, no Japão.


Quando se pensa no Japão geralmente imagina-se ou um país exótico e
tradicional ou a metrópole e a tecnologia da gigantesca cidade de Tóquio.Com
uma população de cerca de 13 milhões de habitantes, a capital nipónica
propícia uma curiosa mescla de culturas e a sua vida urbana é também
bastante particular. As cidades japonesas estão a “transbordar” de pessoas,
com habitações muito pequenas e um custo de vida bastante alto.
Isto tudo dentro de uma sociedade bastante rígida e cheia de regras como a
japonesa, gera uma vivência urbana que expressa todas as repressões
criativas e humanas dos seus habitantes.
Foi só na era Meiji (1868-1912) que o Japão abriu pela primeira vez as suas
portas às influências ocidentais mas foi sobretudo nos sessenta anos após o
final da Segunda Guerra Mundial que os seus designers se aproximaram
decisivamente do design ocidental.
Hoje em dia, a maioria dos japoneses veste roupas ocidentais mas as
diferenças entre Osaka, no Oeste do Japão e Tóquio, no Leste, em termos de
estética e ideais de design ainda são visíveis. Durante o período Edo (1603-
1867), a mesma palavra era usada nas duas cidades para qualificar coisas
diferentes. Iki em Osaka qualificava positivamente padrões vistosos e originais
que, em Tóquio, eram considerados exibicionistas pois os habitantes desta
cidade consideravam iki um vestuário, porventura mais sofisticado, que
privilegiasse uma palete de cores básicas nas camadas exteriores
acompanhado por um interior mais elaborado.
Foi portanto na região de Osaka, mais concretamente em Kansai, que nasceu
o estilo Lolita indo colher
influências à subtileza e
feminilidade do vestuário
dos séculos XVII e XVIII
europeus e inspirado por
um revivalismo fantasioso
da infância pela imagem
das bonecas de porcelana
e dos símbolos dos contos
Ilustração 1 – Ann Macbeth: A Bela Adormecida - bordado do de fada.
início do século XX

Música

Muito rapidamente, bandas extravagantes, apesar de todos os seus elementos


serem do sexo masculino, começaram a usar a versão Gothic Lolita que tinha
sido criada a pensar em mulheres. Estas bandas de Visual-kei ("linhagem
visual" ou "estilo visual" que se aplica a um movimento musical que surgiu no

3
Japão, no final da década de 1980) davam grande relevo aos aspectos visuais
nos espectáculos que eram criados em palco, performances que tinham muito
de inspirado nas actuações clássicas do teatro Kabuki onde, a partir de 1629 e
durante cerca de 250 anos, as mulheres foram proibidas de participar sendo
todos os papéis desempenhados por homens (Onnagata) usando maquilhagem
extraordinariamente elaborada. Os fãs destas bandas copiaram-nos e
começaram a usar estes designs românticos e clássicos, não só para assistir a
estes espectáculos, como também nas ruas.
Em Tóquio, o estilo Lolita apareceu pela primeira vez em Harajuku (nome
popular para a área ao redor da Estação Harajuku, na Linha Yamanote do
Município de Shibuya, em Tóquio). Esta área é conhecida principalmente como
ponto de encontro de adolescentes que se juntavam perto da estação todos os
domingos para o Hokoten, um evento semanal onde bandas de estilo Visual-kei
actuavam. Harajuku tornou-se famosa nos anos 90 dentro e fora do Japão (a
cantora americana Gwen Stefani, por exemplo, faz referência a Harajuku em
algumas canções e incluiu quatro bailarinas vestidas como "Miúdas de
Harajuku" em segundo plano nos seus concertos) devido ao grande número de
artistas de rua e jovens com roupas extravagantes que se reuniam lá aos
domingos: Lolitas e outros fãs de Visual-kei, Rockabillies e Punks.

No início da década de 90 dá-se o


grande boom do visual Lolita no
Japão já com implicações no
exterior, com Malice Mizer (em
japonês, Marisu Mizeru), uma das
bandas que mais influenciou a
história do movimento Visual-kei. A
banda ficou activa de Agosto de
1992 a Dezembro de 2001e
caracterizou-se pelo estilo e visual
peculiares dinamizados pelo seu
líder, Mana, que adopta um visual
feminino e romântico e o denomina
Gothic Lolita

Ilustração 2 – Malice Mizer

Quando, nos finais de 1995, a banda recebe um novo


membro particularmente atraente de nome Gackt, este
torna-se um tal sucesso entre os fãs (tanto de sexo
feminino como masculino) que a banda atinge
finalmente fama a nível nacional ajudando assim a
divulgar o estilo Gothic Lolita por todo o Japão.

Ilustração 3 - Gackt

4
Nos finais da década de1990 chegava também ao Japão a influência gótica
vinda da América através de videoclips de artistas como Marilyn Manson e
Madonna e, na Europa, Jean Paul Gaultier apresentava uma colecção de
inspiração gótica. Mas o gótico japonês já conquistara a sua individualidade e
artistas como Boy George e o próprio Manson foram também colher influências
ao visual encontrado nas ruas de Harajuku contribuindo ainda mais para a
divulgação desta forma de vestir extravagante e exótica.

Mana continuaria, no entanto, como o líder


incontestado do estilo e, com um espírito notavelmente
empreendedor, viria mesmo a fundar a sua própria
marca, Moi Même Moitié, em 2001, tornando-se o
grande agente para a popularização da moda Lolita e
uma das figuras principais do movimento ao criar
ainda os sub-estilos EGL (Elegant Gothic Lolita) e o
mais masculino EGA (Elegant Gothic Aristocrat).

Ilustração 4 - Mana

Cinema

Se a grande popularização da moda Lolita se deve, sem dúvida, a Mana e à


sua banda de Visual-key (hoje já não a Malice Mizer, extinta em 2001, mas a
Moi Dix Mois, nascida em 2002 como um projecto solo), a partir daí houve
muitos outros agentes a interferir. O cinema foi um deles e dois filmes em
particular parecem ter contribuído de forma decisiva para a divulgação do estilo
Lolita:

 Kamikaze Girls (Shimotsuma Monogatari, em


japonês), filme de Tetsuya Nakashima baseado num
romance de Novala Takemoto, dirigido sobretudo a
um público adolescente e em que uma das duas
personagens principais se veste segundo o
estilo Sweet Lolita.
A história gira ao redor da improvável amizade entre
duas estudantes de 17 anos, Momoko Ryugasaki
(Kyôko Fukada) e Ichigo "Ichiko” Shirayuri (Anna
Tsuchiya) com estilos completamente diferentes:
Momoko é uma garota delicada e sensível que
admira o estilo Rococó do século XVIII da França e
Ilustração 5 – Cartaz do filme Ichigo que faz parte de um gang de motociclistas. As
Kamikaze Girls

5
duas raparigas conhecem-se devido a um anúncio que Momoko coloca
na internet para vender peças falsificadas pelo pai. Momoko acaba por
ajudar Ichigo e ambas tornam-se amigas inseparáveis.

 Peep “TV” Show de Yutaka Tsuchiya é um filme de características


experimentais que cruza deliberadamente a fronteira entre documentário
e ficção e cujo realizador encontra alguns dos sinais mais expressivos
da vida moderna nas subculturas juvenis. Yutaka Tsuchiya usa a
personagem de Moe, uma Gothic Lolita que cria a sua própria realidade
alternativa através das roupas que usa e procura segurança nas
câmaras de vigilância, para falar de jovens que, dedicando toda a sua
energia aos seus hobbies de estilo, estão na verdade conscientes de
que são eles e não o mundo quem precisa de conserto.

Manga, Anime e Cosplay

O estilo Lolita é particularmente popular entre os fãs de banda desenhada


(Manga) e animação (Anime) japonês e, portanto, não é invulgar encontrar
histórias em que uma ou mais personagens se vestem como Lolitas. Entre os
mais conhecidos podemos encontrar Princess Princess, Paradise Kiss,
Nana, X-Day, Le Portrait de Petite Cossette, Rozen Maiden, Tsukuyomi -
Moon Phase, Othello, Full Moon Wo Sagashite, Cat Street, xxxHolic,
Conde Cain e Godchild.

Ilustração 6 – Paradise Kiss

6
No entanto, relativamente à prática do Cosplay (Costume Play), muito comum e
parte indispensável dos encontros e eventos destas comunidades de fãs, as
Lolitas (ou Gosurori) distanciam-se desta prática na medida em que, ao
contrário dos cosplayers, que tentam reproduzir o mais fielmente possível a
aparência e o comportamento de personagens de Manga e Anime, as Lolitas
vêem a sua forma de vestir como um estilo ou moda e não como um disfarce e
facilmente se ofendem se a confusão ocorre.

Revistas

 A FRUiTS, criada pelo fotógrafo Aoki Shoichi em


1997 e dedicada apenas a documentar a
explosão criativa ao nível do streetwear das ruas
de Harajuku, foi a primeira revista a publicar
fotos de Lolitas nas suas páginas.
No Japão as pessoas vestiam todas de forma
muito semelhante mas, de repente, Harajuku
tornou-se livre. Aoki recorda: “Havia um pequeno
grupo de criadores de tendências, talvez, 10 ou
20 pessoas. Quando eles surgiam com algo
novo, logo alguns os imitavam. Mas esses
imitadores não eram tão bons como os originais
e, então, os originais não queriam ser Ilustração 7 - FRUiTS
confundidos com os imitadores. Para se
diferenciar dos outros eles criavam coisas ainda mais novas. Era uma
escalada.” Nos primeiros anos da revista, Aoki fazia as fotos sozinho.
Passeava pelas ruas de Tóquio e não apenas fotografava como também
falava com os fotografados. Cada foto contém informações sobre cada
uma das pessoas, os seus lugares favoritos, as
suas lojas e marcas preferidas, o que eles
querem comprar ou o que querem fazer no futuro.

 A KERA começou a ser publicada em


1998 no Japão como uma revista sobre estilos de
rua, principalmente os que se encontravam de
algum modo ligados à música.

Devido à crescente popularidade


do Visual-kei os seus editores decidiram apostar
numa publicação que reflectisse o estilo de moda
Ilustração 8 – KERA associado e lançaram, em Dezembro de 2000, o
primeiro número da Gothic and Lolita Bible,
apenas como uma edição especial da Kera inteiramente dedicada aos
estilos Gothic e Lolita. O sucesso foi de tal ordem que a revista esgotou
em três dias o que fez com que se autonomizasse em relação à Kera e

7
continuasse a ser publicada, embora de forma irregular. Em Fevereiro de
2008 foi lançada a versão em inglês na qual
aparece, no número 4, uma pequena
representação portuguesa.
A G&LB, com mais de 100 páginas e não
sendo um livro de regras para ser uma Lolita,
apresenta sugestões de penteados, truques
de maquilhagem, fotos,
moldes para roupa,
catálogos das principais
marcas, entrevistas com
estrelas musicais do
Visual-kei entre muitas
outras rubricas.
Alguns dos artigos são
Ilustração 9 – G&LB
escritos por designers do
estilo tais como Novala Takemoto, autor de Kamikaze
Girls e outro dos ícones da moda Lolita. Este escritor
Ilustração 10 – e designer foi também autor de uma linha Sweet
Novala Takemoto Lolita para a marca Baby The Stars Shine Bright.
Devido à sua forte expansão a revista tem contribuído
decisivamente para promover, definir e
implantar o estilo a nível mundial.

A KERA Maniax foi lançada em 2003 e


apresenta um estilo misto com uma tónica
mais forte no gótico mas sem deixar de
fazer referência à moda Lolita que, hoje em
dia, se insere no chamado movimento
Kawaii (fofo, em japonês e do qual uma
ilustre e cada vez mais famosa
representante é
também a Hello
Kitty) Ilustração 11 – KERA
Maniax

 A RUA MAG é uma revista portuguesa de


publicação online que se dedica à divulgação
dos estilos de rua em Portugal e que, como tal,
confere um lugar de destaque à moda Lolita
contribuindo assim para a sua maior divulgação
no nosso país.

Ilustração 12 – RUA
MAG

8
Internet

Hoje em dia, naturalmente, todas as subculturas urbanas têm uma forte ligação
com e através da internet. A tecnologia facilita o trânsito da informação e numa
“aldeia global” tanto podemos explorar os mais recentes hits musicais como
fazer uma campanha política ou descobrir o que os jovens vestem no outro
lado do mundo. Um estilo tão visualmente “diferente” não poderia pois passar
despercebido na “world wide web”. O estilo Lolita é, por todo o mundo, seguido
por jovens que se juntam em comunidades online onde partilham fotos e ideias
e discutem desde as últimas colecções ao impacto social do estilo. Tratando-se
de um meio de propagação extremo que faz com que “todos tenham acesso a
tudo”, a internet permite o contacto em tempo real com pessoas de todo o lado
e faz com que seja, não só possível, como cada vez mais fácil a existência
destas comunidades internacionais.
O site português que reúne o maior número de representantes desta
comunidade encontra-se em http://eglportugal.forumeiros.com. Este site
apresenta as mais variadas rubricas desde notícias e álbuns de fotos a
sugestões sobre o que deve conter o armário ou o toucador de uma Lolita e,
naturalmente, os links de maior interesse. É aqui também que as Lolitas
portuguesas podem discutir entre si as suas dúvidas sobre questões de estilo,
programar actividades do grupo e expor os seus respectivos talentos sejam
eles culinários (como a cada vez mais popular confecção de Merry Cupcakes),
de costura ou mesmo aqueles considerados mais artísticos como o desenho ou
a pintura.

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Características do estilo Lolita

Eu quero ser Lolita. - Dizes tu.


Então transforma-te . - Respondo eu.
O que posso eu fazer para parecer Lolita?
Não tenho forma de responder a isto.
Precisas de um toucado, não precisas? E de um saiote.
Esta combinação é estranha?
Não é errada para Lolita?
Porque é que queres vestir-te de Lolita?
Porque está na moda, porque os meus amigos o fazem...
Se é esse o caso então não tens o direito de usar Lolita.
Mas quero que penses numa coisa.
Para quem é que estás a viver?
Pensas que queres ser tu mesmo mas continuas com medo de ficar isolado.
Gritas que queres ser livre mas sentes-te confortável quando segues as convenções.
Ficas mesmo satisfeito quando recebes elogios por algo com que nem te sentes confortável?
Raparigas que vestem Vivienne Westwood e nem sabem quem foram os Sex Pistols.
Mesmo usando uma camisola, uma princesa é uma princesa.
As minhas regras Lolitas são apenas minhas e de mais ninguém.
Por isso tu és o único que pode estabelecer as tuas regras Lolita.
O meu Deus e o teu são diferentes, não são?
Existem anjos que usam vestidos elegantes e tocam pandeireta
Mas também há anjos que usam uma armadura e cuja função é lutar.
Não posso responder à tua pergunta.
Mas há sugestões à tua volta.
Apenas ainda não te apercebeste disso.
Costura folhos na borda do teu coração!
Coloca uma tiara na tua alma!
Tem orgulho.

Novala Takemoto

Ilustração 13 – Lolitas vestindo diferentes estilos

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Vestir Lolita é uma tarefa árdua. É uma moda cheia de regras e imposições
rígidas que vão do design à qualidade dos materiais e da confecção mas
também à quantidade de peças de roupa e acessórios: vestidos ou saias
compridas e rodadas criando a silhueta de saia de balão que aperta na cintura
e termina no joelho ou ligeiramente acima, vestidas sobre um saiote volumoso,
camisas sem decote com golas arredondadas ou subidas, meias pelo joelho ou
collants, sapatos adequados, geralmente de plataforma (sendo que Vivienne
Westwood é dos poucos designers ocidentais que contribui para a construção
do look deste estilo), abundância de detalhes, estampas e acessórios com
laços, rendas, rosas, pérolas, corações e outros elementos a fazer lembrar as
histórias de Charles Perrault, dos Irmãos Grimm ou de Lewis Carrol.
Mesmo quando estas regras são integralmente respeitadas corre-se ainda
assim o risco de se ser uma Ita ou Ita-Lolita (do japonês itai que significa dor e
no sentido em que se está tão mal vestido que se provoca dor nos olhos, um
conceito nascido também ele no Japão) se não se souber combinar de forma
harmoniosa a profusão de elementos que constituem o estilo. Este
denominativo é também normalmente aplicado a pessoas que querem
pertencer à comunidade mas que ainda não pertencem e que, por não
aceitarem críticas nem conselhos, particularmente dos elementos mais
influentes, acabam por ser postas à margem.
Existem também rapazes a vestir Lolita, tanto os estilos masculinos como
femininos embora estes sejam pouco frequentes na Europa, em geral e ainda
menos em Portugal. No entanto, nas comunidades em que eles existem, são
por norma bem aceites e tratados da mesma forma que qualquer outro
participante ao que não será alheia a grande influência de artistas masculinos
como Mana ou Novala Takemoto na definição e implantação do estilo.
Relativamente a um possível lifestyle Lolita, conduzido por esta ou aquela
forma de pensar, a moda inicialmente não teria qualquer significado. No
entanto, algumas Lolitas ocidentais mais extremistas acabariam por criar
comportamentos e formas de estar associados à moda: viver como se fossem
princesas em quartos cor-de-rosa rodeadas de pequenos mimos e fazer Tea
Partys (festas de chá) com outras Lolitas. Outras Lolitas ocidentais mais
moderadas limitam-se a “lolificar” certos aspectos da sua vida também ao nível
da decoração da casa mas sobretudo através dos locais que frequentam. De
forma geral as comunidades realizam eventos, geralmente mensais, como
encontros em locais apelativos (jardins, casas de chá, castelos, monumentos e
diversos outros locais temáticos), workshops, photoshoots com fotógrafos
profissionais, idas às lojas ou concertos relacionados com a moda, entre
outros.

Sub-estilos

Os sub-estilos Lolita foram surgindo sobretudo da criatividade de quem o veste

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através da experimentação de novos tons, novos motivos ou novos temas. Isto
levou a uma evolução em vários sentidos e à definição de vários sub-estilos
mais específicos
O que é conhecido hoje como estilo Lolita foi inicialmente apelidado de Gothic
Lolita por ter surgido principalmente nessa vertente. Hoje em dia a
generalidade do estilo tem aspectos muito menos “góticos” e escuros do que
quando surgiu tornando o termo Gothic inadequado para a generalidade e
aplicável apenas a um sub-estilo.

 Gothic Lolita

Também conhecido por Goth-loli ou Loli-goth é o


estilo Lolita mais conhecido por ser também
aquele que lhe deu início. A grande maioria das
adeptas do estilo Lolita começa por usar o estilo
gótico, pois muitas vezes é mais fácil encontrar
itens góticos para incorporar.
É um estilo facilmente identificável por usar
sobretudo esquemas de cor preto e branco ou
cores muito escuras e pelas marcas góticas
reconhecíveis como cruzes e véus. A
maquilhagem varia entre um look claro e natural
ou uns dramáticos olhos esfumados de vermelho
escuro.
É sem dúvida um estilo adaptado do gótico
ocidental, mas modificado para uma forma mais
Ilustração 14 – Gothic Lolita doce. Ficou popularizado por Mana, dado que foi
este o estilo que adoptou inicialmente.

 Sweet Lolita

É a Lolita mais doce e meiga e é também,


actualmente, um dos sub-estilos mais usados.
Popularizado por Novala Takemoto, diferencia-se
do Gothic Lolita por usar cores mais claras e
sobretudo tons pastel (rosa, verde claro, azul
bebé, amarelo claro ou pêssego), oferecendo
assim uma maior opção de escolha. Quando usa
estampados estes são minúsculos e apresentam
motivos de doces, frutas, flores, fadas ou
animais bebés. São utilizadas muitas fitas, laços,
rendas e peitilhos, muitas vezes em exagero. É o
paradigma, por excelência, do Kawaii.
Ilustração 15 – Sweet Lolita

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 Classic Lolita

A grande diferença em relação aos estilos


anteriores é uma menor infantilização. Tal como
no Sweet aqui também são usadas cores mas
em tons mais escuros e discretos, tais como cor
de vinho, azul ou verde escuros. São também
usados menos folhos. É sobretudo um estilo
menos vistoso e que sobressai menos.

Ilustração 16 – Classic Lolita

 Punk Lolita

Este é um estilo bastante complicado de compor:


embora a obtenção de elementos decorativos
característicos do Punk ocidental seja fácil de
conseguir, a transformação de Lolita em Punk pode
facilmente desvirtuar o original por incorporar
elementos mais pesados. É caracterizado
sobretudo por utilizar caveiras, correntes e tecidos
semi-destruídos. É o único estilo Lolita onde é
possível usar botas grandes e mais masculinas,
estilo botas militares.

Ilustração 17 – Punk Lolita

 Dandy

É uma forma de vestir mais masculina embora


possa ser usada por ambos os sexos. A
inspiração vitoriana e a evocação da infância
continuam presentes mas deixam de ser
utilizadas saias e rendas para passarem a ser
usadas calças e coletes. O cabelo é
frequentemente curto e coberto por um chapéu
ou boina. A maquilhagem é leve e mínima.

Ilustração 18 – Dandy Lolita

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Ainda é possível fazer algumas separações mais simples através das cores e
do tema como nos seguintes casos:

 Hime Lolita: Como o nome indica (hime significa princesa, em japonês)


este estilo evoca as princesas dos contos de fadas. São usadas cores
claras semelhantes às da Sweet Lolita mas as roupas são mais
refinadas e sumptuosas pois pretendem reflectir um senso de classe
e/ou realeza. O cabelo é volumoso ou penteado em canudos e, como
acessórios, são utilizados ceptros, pequenas coroas, tiaras ou pérolas.
 Kuro e Shiro Lolita: Literalmente Lolita negra e Lolita branca. São
termos utilizados para o estilo Lolita onde apenas se utilize
respectivamente gradações de cor negra ou branca.
 Sailor Lolita: Sendo a farda escolar utilizada em bastantes colégios no
Japão, o Sailor Lolita vai buscar essas memórias de infância da farda
com motivos de marinheiro.
 Wa Lolita: Este é um estilo em que se procura misturar elementos
tradicionais japoneses com a moda Lolita. É frequente o uso de
estampas florais e mesmo de quimonos modificados. Podem também
ser usados kanzashi (ganchos florais) e sapatos tradicionais.

(Existe ainda uma variante deste sub-estilo denominado Qi Lolita e que


consiste na combinação de elementos tradicionais chineses com o estilo
Lolita. Em Portugal, é manifesta ambição da proprietária da única loja
nacional dedicada ao estilo, a integração de motivos da azulejaria
portuguesa na moda Lolita o que, eventualmente, proporcionará uma
nova variante: Luso Lolita?)

 Guro Lolita: É um estilo um pouco mais obscuro pois a sua principal


particularidade é mostrar algo grotesco. Muitas vezes contém
decorações que simulam sangue, olhos tapados ou braços partidos.
 Ero Lolita: É a Lolita que convoca o aspecto erótico realçando a
sensualidade feminina através da utilização de elementos típicos das
roupas íntimas vitorianas. As roupas são mais curtas e mais reveladores
e as formas tornam-se mais evidentes pelo uso de corpetes e/ou ombros
nus. É comum a utilização de cintos de ligas com meias a 7/8 e saias
mais curtas ou culottes também curtos.
 Country Lolita: Muito semelhante à Sweet Lolita distingue-se pela
utilização de estampas florais ou com frutas e xadrez muito coloridos. O
acessório mais habitual é o mini chapéu de palha.
 Aristocrat: É um estilo mais maduro e tem muito em comum com o
ocidental Gótico Romântico. Em geral, não contém motivos Kawaii: as
saias podem ser compridas, podem usar-se corpetes por cima das
camisas e os cabelos são apanhados proporcionando um aspecto mais
adulto e austero.

14
 Casual Lolita:É um estilo mais prático para vestir no dia-a-dia e em que,
tipicamente, são combinados acessórios Lolita tais como ganchos de
cabelo, pulseiras, estampas ou meias coloridas com saias, leggings ou
blusas mais vulgares.

Ilustração 19 – Sub-estilos Lolita


(da esquerda para a direita: Hime, Kuro, Shiro, Sailor, Wa, Guro, Ero, Country, Aristocrat ou
Elegant Gothic Aristocrat e Casual)

 Elegant Gothic Lolita e Elegant Gothic Aristocrat:

Elegant Gothic Lolita ou EGL e Elegant Gothic Aristocrat ou EGA não


constituem especificamente sub-estilos mas designações cunhadas por
Mana para definir as linhas Gothic Lolita e Aristocrat
produzidas pela sua marca Moi-Même-Moitié. As
Lolitas que usam roupas da linha EGL e EGA
costumam ser fãs de Mana e muitas vezes usam
maquilhagem mais pesada. Se comparado ao Gothic
Lolita, no entanto, as roupas EGL podem ser
consideradas mais formais e mais sóbrias em
matéria de peitilhos, laços e rendas. Desenhos de
igrejas, portões e outras obras da arquitectura
góticas são muito procurados. Quanto ao EGA
Ilustração 20 – EGL

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deixarei que Mana o defina:

"Como a palavra aristocrata mostra,


a doutrina básica de E.G.A é a fusão do "belo e do sublime."
É masculino, é feminino
Não é masculino, nem feminino
Hermafroditismo, androginia
Enquanto procurando este tipo de charme neutro, é
Uma roupa escondida em incerteza e em sublimidade arrepiante
Este é o conceito de E.G.A (Elegant Gothic Aristocrat)
Aristocrático e digno de uma dama,
Como um anjo ou como um demónio,
A direcção que tomar de vós depende."

Ilustração 21 – EGA

Marcas e Lojas

Hoje em dia existem centenas de marcas que se dedicam exclusivamente ao


design do estilo Lolita dentro e fora do Japão e quase todas elas possuem lojas
próprias, físicas e virtuais. Na impossibilidade de as enumerar a todas citarei
apenas as mais antigas e/ou influentes:

Japão:

 Baby The Stars Shine Bright (1988) – Sweet e Hime Lolita

Ilustração 22 – O primeiro anúncio


da BABY na FRUiTS, em Fevereiro
de 2000, 12 anos depois de a marca
começar.

16
 ( Manifesteange) Metamorphose (Temps de Fille) (1993) – EGL

Quase todos temos o desejo de nos “transformarmos”, seja num anjo,


seja em alguém mais elegante ou até mesmo em voltar ao tempo em que
éramos crianças. Inspirados por este conceito criámos a marca
Metamorphose. Para vos ajudar na vossa “transformação”, sem sermos
escravos da moda actual, continuamos a conceber a adorável moda
EGL.
O nome oficial da nossa marca é “manifesteange metamorphose temps
de fille”. “Manifesteange” significa o advento de um anjo.
“Metamorphose temps de fille” significa o tempo de transformação
numa criança. Usámos o francês para cunhar esta frase porque fomos
nós que “inventámos” o nome e, porque sentimos que tem tantas
diferentes nuances e conotações, convidamos-vos a criar uma vossa.

Ilustração 23 – Conceito da marca Metamorphose

 Innocent World (1997) – Vários

 Angelic Pretty (2001) – Sweet Lolita O designer da Innocent


World, Yumi Fujihara,
criou uma nova marca de
roupa inspirada nos
desenhos clássicos
europeus que
personificam os ideais de
elegância e encanto mas
são adequados para as
jovens da era moderna.
Ilustração 24 – Logo da marca Angelic Pretty
O nome da marca
Innocent World remete-
 Moi Même Moitié (2001) – EGL e EGA nos para um mundo
simples, sem mácula nem
pecado. Criámos este
nome para que reflectisse
 Mary Magdalene – Classic Lolita os corações puros e
inocentes das jovens em
qualquer lado, em
 Victorian Maiden - Vários qualquer idade .

Ilustração 25 –
Ilustração 26 – Logo da Conceito da marca Innocent
marca Victorian Maiden World

17
Fora do Japão:

 Anna House

 Rosechocolat

 Candy Violet

Usados:

Existe também um mercado muito dinâmico de artigos em segunda mão, em


lojas próprias das quais as mais conhecidas são:

 Closet Child

 Grand Bazaar

 Alice Fururun

 Clothing Drop

Portugal:

 Améthyste

Em Portugal existe também já uma loja


de moda Lolita. Localiza-se no centro
histórico do Porto e, para além da
venda de peças novas e em segunda
mão, promove também pequenos
eventos culturais tais como workshops,
apresentações de livros, recitais de
poesia ou pequenos concertos. Para
além de uma loja, a Améthyste é
também a primeira marca portuguesa
de moda Lolita com um design próprio
muito próximo do EGL de Mana.

Ilustração 27 – Logo da marca portuguesa Améthyste


e foto de Lolitas em frente da loja

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Lolitas em Portugal

Ilustração 28 – Logo do site da EGL Portugal

“As Lolitas são raparigas que pretendem fantasia na estética


que elegem.”

Mafalda Carvalho

Desde os anos 80 que existe em Portugal uma pequena comunidade de fãs de


animação japonesa. Muitas vezes dispersos, alguns destes aficionados faziam
muitas vezes trocas de vídeos uns com os outros ou até mesmo com o
estrangeiro de forma a estarem ao corrente das novidades oriundas deste país.
Com o tempo estes jovens acabaram por desenvolver um interesse mais geral
pela moderna cultura pop do Japão. Assim, no final dos anos 90 e já a
generalizar-se o acesso à internet, começaram a surgir também os primeiros
fãs de música japonesa. Foi assim que surgiram as primeiras adeptas da moda
Lolita em Portugal. Tal como em muitos outros países, graças à banda Malice
Mizer e a Mana, muita gente ficou a conhecer esta moda que rapidamente se
popularizou. Desde então e com a ajuda da internet, as interessadas em moda
Lolita criaram (2006) um ponto de encontro, a comunidade EGL Portugal:
começou por ser originalmente apenas um blogue alocado no livejournal e
passou em poucos anos para um fórum e site
(http://eglportugal.forumeiros.com/), o que lhe permitiu expandir para muitas
mais interessadas. Desde essa mudança a comunidade tem crescido um
pouco mais e cada vez se organizam mais encontros (meets) e sessões de
fotografia (photoshoots). Actualmente estima-se que a comunidade tenha como

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membros activos cerca de 30 a 40 elementos embora se suponha que existam
em Portugal cerca de 200 interessadas na moda Lolita que, ocasionalmente
vestem o estilo, embora não documentem esse interesse na internet. Entre
estes membros apenas é conhecido um elemento masculino que veste o sub-
estilo EGA.
Certo é que, embora pequena, é uma tribo assaz vistosa e que já é convidada
para reportagens, desfiles e apresentações. A primeira loja de moda Lolita em
Portugal abriu no Porto, pelas mãos de uma das principais impulsionadoras do
movimento em Portugal, Joana Bárbara. A loja ainda recente, enfrenta de
momento os problemas de uma negócio fresco e de nicho pois, apesar de
haver algum mercado em Portugal para o estilo Lolita, as portuguesas
deparam-se na grande maioria das vezes com o problema do factor preço, que
em roupa Lolita e mais que não seja pela multiplicidade de peças e acessórios,
costuma ser elevado.
A maior parte das Lolitas portuguesas activas estão na casa dos 20 anos o
que, eventualmente, lhes dá já alguma maturidade para enfrentarem sem
grande sobressalto os comentários menos informados que as esperam sempre
que saem para a rua vestidas a rigor, os seus Dias de Princesas, como lhes
chamam.

Ilustração 29 – Lolita Tea Party

Ilustração 32 – Cartaz do
Japan Weekend Lisboa

Ilustração 31 – Cartaz do
Ilustração 30 – Cartaz de Anipo 1/2
um workshop Lolita

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Para além dos workshops ou tea parties organizados e divulgados pela própria
comunidade Lolita, os eventos em que participam são normalmente os
organizados pela comunidade mais vasta dos fãs da cultura pop japonesa tais
como o Anipop ½, que decorreu no passado mês de Setembro ou o Japan
Weekend que irá decorrer em Outubro e nos quais ocupam um lugar de
destaque.
Apesar de garantirem que cada um olha e veste Lolita de maneiras ou por
razões diferentes e encara o estilo como bem entende, o que estas jovens
parecem ter em comum é o facto de assumirem a roupa que vestem como uma
manifestação de personalidade associada ao prazer que lhes é proporcionado
por esta estética tão ligada à época vitoriana, às reminiscências da infância e
às quimeras dos contos de fadas.

Ilustração 33 – Lolitas portuguesas num encontro anual

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Conclusão
"A inocência de uma donzela, seu encanto, sua doçura,
E o seu amor pela miséria alheia
Existe dentro de cada um de nós, e as memórias disto,
Transformadas na imagem de um estilo
É E.G.L [Elegant Gothic Lolita]
Com peitilhos, laços e renda em profusão,
Como se fosse uma boneca antiga
Embora possa ser simplesmente uma criação de pura predilecção
Procurei um vestido que vos faça sentir que, de algum modo, possui 'veneno'
E peço-vos que testeis as memórias dos vossos tempos de donzelas."

Mana

Neste texto que Mana usa para definir um dos sub-estilos que criou, o Elegant
Gothic Lolita, podemos encontrar, entremeados no conceito do seu estilo
próprio, alguns dos aspectos mais relevantes do imaginário na generalidade da
comunidade que veste o estilo Lolita nomeadamente pelas referências à
inocência e aos brinquedos que caracterizam a infância.
No Japão de hoje, onde a moda Lolita nasceu e floresceu, é dada ainda mais
importância a uma aparência e comportamento juvenis do que nas sociedades
ocidentais. A cultura juvenil é vendida em tudo, desde pastilhas elásticas até
bandas desenhadas. No entanto, apesar desta clara colagem ao universo
infantil, as Lolitas são absolutamente unânimes na recusa do estereótipo do
romance de Nabokov. A sua atitude é prioritariamente a de se vestirem para si
próprias e não para agradar ao olhar alheio. Até mesmo as Ero Lolitas não
encaram o estilo como forma de chamar a atenção do sexo oposto
considerando-se apenas um pouco menos "modestas" que as Lolitas de outros
sub-estilos. As Gosuroris são geralmente muito reservadas e, embora haja
quem pense que elas procuram atenção, elas procuram uma atenção
específica: a de outras Lolitas. Elas posam para fotógrafos mas reservam a sua
amizade e comentários para outras Lolitas de forma quase exclusiva.
O vestuário Lolita é usado como uma afirmação de independência e liberdade
ou, nas palavras de Novala Takemoto: "Elas preferem permanecer raparigas. É
a forma de resistência delas... Elas não existem para agradar a ninguém, e não
se apoiam em nada."
Uma possível explicação para este facto pode ser encontrada na atitude que a
sociedade japonesa tem ainda hoje para com as mulheres: é na população
feminina que se encontra a maior taxa de desemprego. São também elas quem
aufere salários mais baixos e tem menos promoções. O percurso de vida que
se espera de uma mulher japonesa passa necessariamente pelo casamento
em que acumulam todo o trabalho doméstico com os cuidados com os filhos e,

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muitas vezes, com os pais e sogros idosos uma vez que as dificuldades de
encontrar casa levam a que seja habitual a co-habitação com os parentes mais
velhos. Quando o que o marido ganha não chega as mulheres assumem
trabalhos temporários em part-time e são mesmo discriminadas nos transportes
públicos: no metro de Tóquio existem carruagens "Só para Senhoras" nas
horas de ponta e, apesar da importância que é atribuída ao aumento da
natalidade, as mães solteiras são ostracizadas e as crianças registadas sem
pai tratadas como inferiores.
Concomitantemente, a androginia é privilegiada e os homens japoneses
parecem cada vez menos interessados em conhecer o sexo oposto. Num país
rodeado de tecnologia e inovação, a taxa da natalidade é bastante reduzida e
os casamentos também bastante diminutos.
Embora as Lolitas japonesas pareçam ser aquelas que menos se preocupam
com a definição de um lifestyle associado ao estilo defendendo, ao contrário de
algumas Lolitas ocidentais, que este não tem qualquer significado é, no
entanto, para as jovens nipónicas que esta moda acaba por ser um símbolo da
questão feminina.
No Ocidente, as preocupações das Lolitas parecem incidir mais sobre a
genuinidade e sobre os desígnios das corporações configuradas pelas grandes
marcas que, actualmente, ditam o estilo.
Em qualquer dos casos, a moda Lolita não é sobre homens mas sobre um
universo exclusivo e onírico cuja mensagem para o exterior parece ser: olhe,
mas não toque. Ao vestir o estilo Lolita a mulher está a vestir para si, a
escolher algo que a faz sentir-se bem num mundo alegre e bonito em que não
tem que preocupar-se com mais ninguém além de si própria.
A questão Lolita pode pois ser considerada um fenómeno urbano de grande
vitalidade que, em menos de duas décadas, migrou de um pequeno bairro de
uma grande cidade numa sociedade tecnologicamente sofisticada até atingir
dimensões planetárias, assumindo uma dimensão global que atravessa grupos
sociais e faixas etárias e levando mesmo a que, por exemplo, numa
universidade japonesa tenha sido criada uma licenciatura em moda Lolita ou
que até já tinha sido “decretado” pelos adeptos um International Loliday, um
evento bianual, uma vez no inverno, e uma vez no verão em que todos os fãs e
seguidores da moda se vestem com as suas melhores roupas, sabendo que
milhares de pessoas em todo o mundo estão a fazer a mesma coisa ao mesmo
tempo.

Ilustração 34 – Lolita em Ilustração 35 – Lolitas em Harajuku


Lisboa

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Bibliografia
 Site, Egl Portugal - http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/
 Site, Victoria Dolls - http://victoriasdolls.multiply.com
 Site, Wikipedia, Gothic Lolita - http://pt.wikipedia.org/wiki/Gothic_Lolita
 Site, Wikipedia, Lolita Fashion -
http://en.wikipedia.org/wiki/Lolita_fashion#In_popular_culture
 Site, Sailorettes - http://www.sailorettes.com/
 Site, Lolita fashion - http://www.lolitafashion.org
 Site,Embaixada do Japão - http://www.pt.emb-japan.go.jp
 Blogue, Egl Portugal - http://eglportugal.blogspot.com/
 Blogue, Japan Generation - http://japangeneration.blogspot.com/
 Blogue, Kaminokeria - http://kaminokeria.blogspot.com
 Blogue, Candy and Lace - http://candyandlace.blogspot.com
 Blogue, Loliprincess - http://loliprincess.blogspot.com
 Blogue, Black Cherie Love, lolita - http://blackcherielove.blogspot.com/
 Reportagem, Sapo Mulher - http://mulher.sapo.pt
 Reportagem, Antena 3 -http://www.antena3.com/noticias/cultura/moda-lolita-
sube-pasarela-valencia-fashion-week_2010090400045.html
 Loja Lolita, Améthyste, Portugal - http://www.amethyste.pt.vu/
 Revista, Rua Mag 8 - http://issuu.com/ruamag/docs/ruamag_08
 Artigo, “8 Bizarre Subcultures” - http://www.oddee.com/item_96676.aspx
 Artigo, “10 Most Bizarre Subcultures” - http://urbantitan.com/10-most-bizarre-
subcultures/
 Artigo, “Os Primórdios do Estilo Lolita” -
http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/os-primordios-do-estilo-lolita-
t785.htm
 Artigo, KERA, KERA Maniax e Gothic and Lolita Bible -
http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/publicacao-kera-kera-maniax-e-
gothic-lolita-bible-t224.htm
 Artigo, O Estado de Lolita: Entre o Ocidente e o Oriente -
http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/ensaio-o-estado-de-lolita-entre-o-
ocidente-e-o-oriente-t1061.htm
 Artigo, Onde há folhos, há uma forma de manter os homens ao largo. (Lolita e
Feminismo no Japão) - http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/artigo-
onde-ha-folhos-ha-uma-forma-de-manter-os-homens-ao-largo-lolita-e-
feminismo-no-japao-t1059.htm
 Artigo, The Driving Force Behind Lolita and this Site -
http://lerman.biz/asagao/gothic_lolita/research6.html
 Artigo, Peep “TV” Show -
http://www.midnighteye.com/reviews/peeptvshow.shtml
 Artigo, Gothic Lolita, Primeiro Kansai, depois o Mundo (via Harajuku) -
http://eglportugal.forumeiros.com/cultura-f22/texto-mini-essay-sobre-a-historia-
da-moda-gothic-e-lolita-t83.htm

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