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EXERCÍCIO
2017
República
REPÚBLICA Federativa
FEDERATIVA DOdo Brasil
BRASIL
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
Tribunal de Contas da União
Ministros
MINISTROS Raimundo Carreiro (Presidente)
Ubiratan Aguiar, José Múcio Monteiro (Vice-presidente)
Presidente
Walton Alencar Rodrigues
Benjamin Zymler, Vice-Presidente
Benjamin
Marcos Vinicios Vilaça Zymler
Augusto Nardes
Valmir Campelo
Walton Alencar Aroldo Cedraz de Oliveira
Rodrigues
Ana Arraes
Augusto Nardes
Bruno Dantas
Aroldo Cedraz
Vital do Rêgo
Raimundo Carreiro
José Jorge
Auditores
MINISTROS-SUBSTITUTOS Augusto Sherman Cavalcanti
Augusto ShermanMarcos Bemquerer Costa
Cavalcanti
André
Marcos Bemquerer Luís de Carvalho
Costa
Weder de Oliveira
André Luís de Carvalho
Weder de Oliveira
Ministério Público
MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TCU Paulo Soares Bugarin (Procurador-Geral)
Lucas Rocha Furtado (Subprocurador-Geral)
Lucas Rocha Furtado, Procurador-Geral
Cristina Machado da Costa e Silva (Subprocuradora-Geral)
Paulo Soares Bugarin, Subprocurador-Geral
Marinus Eduardo De Vries Marsico (Procurador)
Maria Alzira Ferreira, Subprocuradora-Geral
Júlio Marcelo de Oliveira (Procurador)
Marinus Eduardo de Vries Marsico, Procurador
Sérgio Ricardo Costa Caribé (Procurador)
Cristina Machado da Costa e Silva, Procuradora
Rodrigo Medeiros de Lima (Procurador)
Júlio Marcelo de Oliveira, Procurador
Sérgio Ricardo Costa Caribé, Procurador
© Copyright 2018, Tribunal de Contas de União
Impresso no Brasil
www.tcu.gov.br
v.
Anual.
Continuação de: Síntese, conclusão e projeto de parecer prévio sobre as contas do governo da
República (1995); Síntese do relatório e pareceres prévios sobre as contas do governo da República
(2004-2006); Síntese do relatório sobre as contas do governo da República (2007-2008).
Brasília, 2018
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
04 | 05
SUMÁRIO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Sumário
04 | 05
SÍNTESE DO RELATÓRIO
INTRODUÇÃO
20
CONCLUSÃO
62
DECLARAÇÕES DE VOTO
68
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PARECER PRÉVIO
SOBRE AS CONTAS PRESTADAS
PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REFERENTES AO EXERCÍCIO
DE 2017
AO CONGRESSO Contas do Presidente
NACIONAL da República
Em cumprimento ao art. 71, inciso I, da Constituição
Federal, o Tribunal de Contas da União apreciou
as contas do Presidente da República relativas
ao exercício de 2017, com o objetivo de emitir
o respectivo parecer prévio. Nos termos do art.
36 da Lei 8.443/1992 – Lei Orgânica do TCU,
as referidas contas são compostas pelo Balanço
Geral da União e pelo relatório sobre a execução
dos orçamentos da União.
Competência do
Presidente da
República
Nos termos do art. 84, inciso XXIV, da
Constituição Federal, compete privativamente
ao Presidente da República prestar, anualmen-
te, ao Congresso Nacional, dentro do prazo de
sessenta dias após a abertura da sessão legisla-
tiva, as contas referentes ao exercício anterior.
Conforme o inciso II do mesmo artigo, compete
ainda ao Presidente exercer, com o auxílio dos
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃOparecer prévio sobre as contas prestadas pelo presidente da república
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Ministros de Estado, a direção superior da ad- Além disso, o § 2º do mesmo dispositivo regimen-
ministração federal. tal estabelece a obrigatoriedade da elaboração
de relatório contendo as seguintes informações:
Por seu turno, a competência para elaborar e
consolidar o relatório sobre a execução dos orça- • O cumprimento dos programas previstos na
mentos da União é do Ministério da Transparência lei orçamentária anual quanto à legitimidade,
e Controladoria-Geral da União (CGU), por meio da eficiência e economicidade, bem como o
Secretaria Federal de Controle Interno, de acordo atingimento de metas e a consonância destas
com o art. 24, inciso X, da Lei 10.180/2001, c/c o com o plano plurianual e com a lei de diretri-
art. 68, inciso V, da Lei 13.502/2017. zes orçamentárias;
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Feitas essas ponderações, o Tribunal considera que Para tanto, nos termos do art. 166, § 1º, inciso I,
as evidências obtidas são suficientes e adequadas da Constituição Federal, cabe à Comissão Mista de
para fundamentar as opiniões de auditoria que com- Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO)
põem o presente Parecer Prévio. examinar e emitir parecer sobre as contas apresen-
tadas anualmente pelo Presidente da República.
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O Tribunal de Contas da União é de parecer que as Contas atinentes ao exercício de 2017, de respon-
sabilidade do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Michel Miguel Elias Temer Lulia, estão
em condições de serem aprovadas com ressalvas pelo Congresso Nacional.
TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves, em 13 de junho de 2018.
Ministro Presidente Raimundo Carreiro Ministro Aroldo Cedraz
Ministro Relator Vital do Rêgo Ministro José Múcio Monteiro
Ministro Walton Alencar Rodrigues Ministra Ana Arraes
Ministro Benjamin Zymler Ministro Bruno Dantas
Ministro Augusto Nardes
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TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 13 de junho de 2018.
(Assinado Eletronicamente)
BRUNO DANTAS
Ministro
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INTRODUÇÃO
P
ela 83ª vez, o Tribunal de Contas da
União desempenha a primeira das com-
petências que lhe são atribuídas pela
Constituição Federal: apreciar e emitir
parecer prévio sobre as contas prestadas pelo
Presidente da República. A análise realizada pelo
Tribunal subsidia o órgão de cúpula do Poder
Legislativo com elementos técnicos para emitir
seu julgamento e, assim, atender a sociedade, no
seu justo anseio por transparência e correção na
gestão dos recursos públicos.
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CONJUNTURA
ECONÔMICA,
FINANCEIRA E
ORÇAMENTÁRIA
CENÁRIO
MACROECONÔMICO
BRASILEIRO
D
e modo geral, observou-se, durante o ano de
2017, melhoria no ambiente macroeconômico
nacional, cujos indicadores apresentaram, em
maior ou menor grau, recuperação quando com-
parados ao recente quadro recessivo enfrentado pelo país.
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2,10
3,00
0,20
1,00
- 0,40
- 4,30 - 4,20
O consumo das famílias teve ligeira recuperação, passando de US$ 137,5 bilhões em 2016 para US$
passando de uma taxa negativa de 4,3% no encerra- 150,7 bilhões. Assim, a balança comercial brasileira
mento de 2016, para taxa ainda negativa de 1,0% no apresentou superávit de US$ 67 bilhões no encerra-
4º trimestre de 2017. O consumo da Administração mento de 2017, maior valor da série desde 1989, e
Pública apresentou taxas inferiores às verificadas em 40,5% superior ao saldo de US$ 47,7 bilhões obtido
2016 (-0,1%), encerrando o exercício de 2017 em -0,6%. em 2016.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve melhora O saldo das reservas internacionais atingiu US$ 382
significativa, apesar de continuar negativa, com a taxa bilhões em 2017, com um crescimento da ordem de
passando de -10,3% em 2016 para -1,8% em 2017. 2,6% sobre o saldo existente no final de 2016.
A carga tributária com relação ao PIB, quando compa- A inflação medida no ano, com base no Índice
rada com os exercícios de 2016 e 2017, manteve-se Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
praticamente constante, passando de 32,37% para alcançou o percentual de 2,95%, abaixo do limite in-
32,36%, correspondendo a uma arrecadação de tri- ferior da meta de inflação para o período estabelecida
butos em 2017 da ordem de R$ 2,1 trilhões e fazendo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4,5%,
com que o Brasil se situasse abaixo de países de- com margem de 1,5 p.p. para mais ou para menos.
senvolvidos da Europa, como França (53,1%) e Reino
Unido (36,5%), mas acima de países do Brics, como No mesmo período, a taxa básica de juros, taxa Selic,
China (27,5%) e Índia (21,1%). que reflete a política monetária e que representa o
principal componente das taxas de captação de re-
As exportações dos produtos brasileiros em 2017, cursos no mercado pelo governo federal, passou de
no total de US$ 217,7 bilhões, tiveram aumento 13,65% a.a., em 2016, para 7% a.a., em 2017, taxa
de 17,55% se comparadas a 2016. As importações esta fortemente influenciada pela tendência de queda
pelo Brasil, por sua vez, tiveram aumento de 9,6%, da inflação ao longo do ano de 2017.
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12,00
10,67
10,00
8,00
6,50
6,00
5,90 5,91 5,91 6,41 6,29
5,84
4,00
4,31
2,95
2,00
0,00
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
A inflação anual sofreu forte redução em 2017 (2,95%), depois de ter alcançado em 2015 o patamar de
10,67%, seu maior valor nos últimos dez anos, e 6,29% em 2016.
Observou-se, também, uma forte redução da taxa IPCA a.a. observada) de 7,36% a.a. em 2016 para
de juros real ex-post (Taxa Selic a.a. menos taxa do 4,05% a.a. em 2017.
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A taxa de desocupação da população apontou queda Destacou-se que a receita primária, líquida de trans-
de 1,9 p.p. durante o exercício de 2017, passando ferência por repartição da receita, prevista na Lei
de um percentual de 13,7% relativo ao trimestre mó- 13.414/2017 (LOA 2017) foi de R$ 1.187.458 milhões
vel de janeiro a março, representando 14,2 milhões e a efetiva arrecadação totalizou R$ 1.154.746 milhões
de pessoas sem trabalho, para 11,8% referente ao (97,2% da previsão da LOA). Já as despesas primárias
último trimestre do exercício, o equivalente a 12,3 previstas na LOA 2017 totalizaram R$ 1.326.450
milhões de pessoas. Todavia, não se pode afirmar milhões, enquanto o total de execução de despesas
que há uma tendência sustentável de queda da taxa primárias (pagas) foi de R$ 1.279.008 milhões (96%).
de desocupação, em vista dos aumentos por ela
experimentados já nos primeiros meses de 2018. Conforme demonstrado no gráfico a seguir, desde
2014 há um descolamento significativo entre receitas
e despesas primárias em percentual do PIB, que se
Política Fiscal justifica tanto pela elevação das despesas primárias
obrigatórias no período analisado, quanto pela queda
A política fiscal visa garantir a gestão financeira da arrecadação federal em virtude da crise econômica.
equilibrada dos recursos públicos, com vistas a as-
segurar estabilidade e crescimento econômico, bem Observa-se que a participação das receitas primá-
como uma trajetória sustentável da dívida pública. rias, em relação ao PIB, decresceu entre os anos
25,0%
5,0%
4,7% 4,5%
4,3% 4,3% 3,9%
0,0%
2013 2014 2015 2016 2017
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de 2013 e 2016, mas apresentou leve alta no exer- Destacou-se, também, a trajetória do resultado
cício de 2017, enquanto as despesas obrigatórias primário do governo central de 2008 a 2017, pas-
apresentaram crescimento em todo o período. As sando de um resultado superavitário de R$ 71,3
despesas primárias discricionárias apresentaram bilhões para um resultado deficitário de R$ 159,5
certa estabilidade entre 2013 e 2016, e se reduzi- bilhões em 2016, o qual diminuiu para R$ 118,4
ram de forma significativa em 2017. bilhões em 2017. No que tange ao resultado no-
minal do governo federal, verificou-se um déficit
Ao término de 2017, o resultado primário totalizou de R$ 459,3 bilhões em 2017, ante a um déficit
um déficit de R$ 119,4 bilhões, composto de déficit de R$ 513,9 bilhões em 2015, e déficit de R$ 24,9
do governo central de R$ 118,4 bilhões e de déficit bilhões em 2008.
das estatais federais de R$ 952 milhões.
- 24,9 - 20,5
- 45,8 - 61,2
- 107,4 - 87,5 - 110,6 - 116,7 - 118,4
- 159,5
- 271,5
- 477,8 - 459,3
- 513,9
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Resultado Primário Resultado Nominal
% do PIB
2,3 % 2,0 % 2,1 %
1,8 % 1,4 %
1,3 %
-0,4 %
-2,0 % -1,8 %
-2,5 %
-0,8 % -1,2 % -1,3 %
-2,0 % -2,1 %
-3,2 %
-4,7 %
-8,6 % -7,0 %
-7,6 %
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Resultado Primário/PIB Resultado Nominal/PIB
Fontes: STN e Bacen.
Embora o resultado fiscal de 2017 tenha sido melhor do que o do ano anterior, quando se analisa a série histórica
desde 2008, observa-se uma deterioração da situação fiscal do país a partir de 2013, que apresentava, àquela
ocasião, resultado primário superavitário de R$ 75,3 bilhões e resultado nominal deficitário de R$ 110,6 bilhões.
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Benefícios totais Benefícios financeiros e creditícios Benefícios tributários
2017, atingindo o máximo de 6,7% em 2015. Vale bilhões a menos do que o montante observado em
ressaltar que o atual patamar observado de renún- 2017. Tal economia, em 2017, seria suficiente para
cia fiscal é de tal magnitude que pode ter afetado o cobrir o déficit primário registrado de R$ 118,4
equilíbrio das contas públicas em 2017. No período bilhões ou para suprir praticamente a metade do
de 2003-2008, as renúncias fiscais alcançaram em déficit previdenciário agregado.
média 3,4% do PIB, percentual que, por hipótese,
replicado para o ano de 2017, corresponderia a Com relação à regionalização das renúncias de
uma renúncia de R$ 223 bilhões, ou seja, R$ 131 receitas federais em 2017, a distribuição seguiu
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conjuntura Econômica, Financeira e Orçamentária
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o mesmo padrão de anos anteriores, com maior os valores de todas as rubricas (amortização, ju-
participação da Região Sudeste, a qual ficou com ros, multas e outras) referentes à restituição ao
48,7% do total das renúncias, enquanto a Região Tesouro Nacional dos recursos do Fies e demais
Centro-Oeste teve a menor participação no total fundos ou programas anualmente decorrentes de
dos benefícios, no percentual de 11,2%. empréstimos e financiamentos.
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Em 2017, 53% de todas as despesas primárias do aos servidores civis da União, por sua vez, foi
governo central destinaram-se aos regimes públi- deficitário em R$ 48,7 bilhões, enquanto os pa-
cos de previdência. Sobressai o RGPS, que atende gamentos a inativos e pensionistas militares da
aos trabalhadores da iniciativa privada, com gas- União geraram déficit de R$ 37,7 bilhões. Assim,
tos de R$ 557 bilhões em 2017, um crescimento o resultado consolidado atingiu um déficit de R$
de 9,8% em relação ao ano anterior. Dessa forma, 268 bilhões, o que representa 4,1% do PIB (ante
o RGPS teve um déficit de R$ 182,45 bilhões. a 3,6% em 2016, 2,6% em 2015 e 2,1% em 2014).
O resultado do Regime Próprio (RPPS), voltado
Gráfico 7: Distribuição de receitas, despesas e resultado dos regimes previdenciários federais em 2017
O resultado previdenciário vem apresentando anterior, tendência de queda que foi mantida nos
sucessivos déficits, em especial a partir de 2015, exercícios seguintes de 2016 e 2017, em vista de
quando passaram a sofrer fortes elevações em elevadas taxas de desemprego, associado ainda
decorrência dos resultados negativos no âmbito ao crescimento das despesas. Tal cenário modi-
dos benefícios rurais e urbanos do RGPS. ficou o equilíbrio entre receitas e despesas até
então existente no âmbito da previdência urbana,
A previdência urbana do regime geral apresen- passando a registrar déficits em 2016 e 2017,
tou resultados superavitários no período 2009- respectivamente de R$ 47,3 bilhões e R$ 71,7
2015. Entretanto, ainda em 2015, a arrecadação bilhões, comprometendo ainda mais o equilíbrio
registrou redução de 6,75%, em relação ao ano das contas previdenciárias.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conjuntura Econômica, Financeira e Orçamentária
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Os dados aqui apresentados demonstram que os déficits relacionados ao regime dos servidores civis (18%)
e às despesas com militares inativos (14%) vem apresentando pequena elevação ano a ano, atualmente
no patamar conjunto de 32% do déficit total. Já os déficits relativos ao RGPS dos trabalhadores rurais
(41%) e urbanos (27%) estão em crescente escalada, representando 68% do total do déficit previdenciário.
Esses números, ao tempo em que apontam as principais parcelas que contribuem para o déficit previdenciário
e para as despesas com militares, trazem à tona a necessidade urgente de ampla discussão acerca desses temas
com vistas ao equilíbrio das contas públicas.
Especificamente em relação ao endividamento bru- Tesouro Nacional, com a emissão de títulos, que,
to, o seu incremento decorreu, principalmente e em apenas entre os anos de 2016 e 2017, passou de
maior medida, da elevação da dívida mobiliária do R$ 2,97 trilhões para R$ 3,42 trilhões.
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O expressivo endividamento nacional é fortemente percentual de juros nominais entre os países emer-
pressionado pelas altas taxas de juros nominais gentes e de renda média, ficando atrás apenas do
pelas quais o Brasil remunera seus credores. Os Egito. O gráfico seguinte mostra os percentuais de
juros nominais do governo geral pagos em 2017 dívida bruta e juros nominais em proporção do PIB
alcançaram o montante de R$ 439,8 bilhões, o que dos países integrantes do grupo Brics e a média
equivale a 6,7% do PIB. O Brasil apresentou assim, dos países emergentes integrantes do G-20 e da
em termos de proporção do PIB, o segundo maior América Latina.
% do PIB
74,0
68,7
61,0
53,0
47,6 49,2
17,4
Brasil Índia África do Sul China Rússia Média América Latina Média G-20 (emergentes)
Fontes: Monitor Fiscal do FMI - Outubro/2017 e Notas para Imprensa do BACEN - Janeiro/2018.
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Orçamento Público
A Lei Orçamentária Anual (Lei 13.414/2017)
fixou despesas para os Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social (OFSS) em R$ 3,415 trilhões. As
despesas empenhadas ao final do exercício corres-
ponderam a 76% da dotação atualizada. Do total
empenhado, em 96% houve o efetivo desembolso
de recursos financeiros (valores pagos). As demais
despesas foram inscritas em restos a pagar proces-
sados e não processados.
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RESULTADOS
DA ATUAÇÃO
GOVERNAMENTAL
O
atual Plano Plurianual (PPA), denomina-
do “Desenvolvimento, Produtividade e
Inclusão Social”, com vigência no perí-
odo 2016–2019 (Lei 13.249/2016). Na
dimensão estratégica, o plano delineia uma visão
de futuro, que se desdobra em quatro eixos estra-
tégicos (educação de qualidade, redução das desi-
gualdades, ampliação da produtividade econômica e
fortalecimento das instituições públicas). Para esses
quatro eixos, concorrem 28 diretrizes estratégicas,
que, por sua vez, desdobram-se nos 54 programas
temáticos, 304 objetivos e 1.132 metas.
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PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
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função de governo específica (e.g. “educação de entanto, não é possível associar as dotações or-
qualidade para todos” e “fortalecimento do Sistema çamentárias às metas do PPA, o que prejudica a
Único de Saúde (SUS))”, como assuntos de natu- análise de custos e da eficiência associada à imple-
reza transversal, a exemplo de “desenvolvimento mentação do plano.
regional e territorial” e “recursos hídricos”. Do total
de recursos previstos no PPA (R$ 7,9 trilhões), 84% Todo o Orçamento Geral da União se reflete no
correspondem aos programas temáticos. Os valores PPA, salvo as ações orçamentárias vinculadas
restantes dirigem-se aos programas de gestão, ma- aos programas por operações especiais, voltadas
nutenção e serviços, que dizem respeito ao custeio especialmente para o refinanciamento e o serviço
dos órgãos públicos federais. das dívidas externa e interna. Quanto às fontes de
recursos previstos, 66% provêm de receitas orça-
A cada programa temático do PPA associam-se mentárias, 28%, de créditos subsidiados (subsídios
indicadores, que são selecionados com a finali- implícitos) e 6%, de gastos tributários.
dade de permitir o acompanhamento da evolução
dos resultados nas diferentes áreas. Além disso, O TCU tem acompanhado a evolução do PPA ao
as intervenções governamentais no escopo dos longo dos anos, pugnando por maior clareza e co-
programas temáticos são explicitadas pelos ob- erência com programas de governo, efetiva defini-
jetivos – conceitos mais delimitados de atuação, ção de prioridades e incremento da transparência
iniciados por um verbo no infinitivo. Por exemplo, quanto à lógica que norteia o planejamento. Com
os cinco objetivos do programa temático atinente vistas a aperfeiçoar o atual PPA, o Tribunal veicu-
à educação cuidam de “ampliar o atendimento de lou, mediante o Acórdão 782/2016-TCU-Plenário,
qualidade na educação básica”, “fortalecer a for- ministro José Múcio Monteiro, recomendações
mação e a valorização dos profissionais da educa- para que o Ministério do Planejamento passe a
ção”, e “ampliar o acesso à educação profissional disponibilizar valores de referência para as metas,
e tecnológica de qualidade”. apresentar os valores esperados para os indica-
dores ao final do plano, estabelecer indicadores
Cada objetivo tem um órgão responsável por sua para monitorar a dimensão estratégica, apresen-
execução, e um rol de metas e iniciativas esperadas tar maior detalhamento com relação aos valores
para todo o período. As metas são entregas, qualita- globais dos programas, e fornecer parâmetros de
tivas ou quantitativas, que o governo deverá realizar, qualidade e validade dos indicadores.
como medida do alcance do objetivo. As iniciativas
são “meios e mecanismos de gestão que viabilizam A análise da ação setorial do governo no Relatório
os objetivos e suas metas, explicitando a lógica da sobre as Contas do Presidente da República busca
intervenção”, como, por exemplo, a aquisição de fortalecer a transparência e a comunicação entre
veículos para transporte escolar. governo e sociedade. Para isso, analisaram-se
as informações de desempenho (metas), que
O PPA contém valores globais esperados para as demonstram o resultado das intervenções gover-
despesas com cada programa. Nas leis orçamen- namentais, conforme definido no PPA, pois tais
tárias anuais, as ações orçamentárias, que repre- instrumentos destacam as realizações do governo
sentam os bens e serviços ofertados pelo estado, e os efeitos da atuação estatal para a sociedade.
vinculam-se aos objetivos do plano plurianual. No O exame empreendido pelo TCU em 2017 buscou
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conformidade Financeira e Orçamentária
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aferir a qualidade e a confiabilidade das informa- que permitam o gerenciamento do seu desempe-
ções relacionadas às metas. nho anualmente. O Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão tem desenvolvido ações
Do total de 1.132 metas presentes no PPA para acompanhar o desempenho das metas cons-
2016-2019, foram examinadas 91 (8%) neste tantes do PPA.
trabalho, conforme critérios de materialidade
e relevância. Dessa amostra, 13% das metas
analisadas apresentaram problemas de con- Com relação ao desempenho acumulado (2016 e
fiabilidade, e, em 43%, verificaram-se falhas 2017), os órgãos classificaram cada meta entre as
na qualidade. opções: “Andamento adequado”; “Meta prevista ao
final do PPA já alcançada”; e “Medidas a serem ado-
A partir de 2017, os órgãos responsáveis informam tadas”. Assim, 55% das metas tiveram o andamento
se as metas estão com andamento adequado. Em considerado adequado pelos gestores. A opção
78% das metas analisadas, os órgãos afirmaram que “medidas a serem adotadas” permite selecionar
havia parâmetros objetivos definidos para analisar o uma ou mais medidas pré-definidas, sendo que o
seu andamento em 2017 (embora em alguns casos, órgão deve preencher o campo “detalhamento das
as respostas não detalharam de forma suficiente o providências a serem tomadas”, informando as cor-
que seria considerado andamento adequado). Nos reções de rumos necessárias para que seja possível
demais 22%, não foram fornecidas informações que atingir a meta até o final do período (2019).
demonstrassem a existência dos referidos parâme-
tros. Registrou-se a falta de transparência acerca Para verificar a efetividade desses avanços, o TCU
de tais parâmetros, mesmo nos casos em que os questionou aos órgãos responsáveis qual o critério
órgãos afirmam possuí-los. para considerar o andamento da meta como ade-
quado ou não, notadamente quanto à existência de
As informações de desempenho devem ser confiáveis parâmetros objetivos definidos em 2017, para fins
e úteis à: tomada de decisão por parte dos gestores; de comparação com a meta executada no exercício.
prestação de contas; realimentação do ciclo de polí- Concluiu-se que não há uniformidade no tratamento
ticas públicas; alocação de recursos públicos. Os pro- da questão por parte dos órgãos responsáveis:
blemas apontados implicam restrições aos potenciais
benefícios dos instrumentos de desempenho, bem • Em 78% das metas selecionadas, esses ór-
como prejudicam a transparência e o acompanha- gãos informaram que havia parâmetros ob-
mento dos compromissos pactuados pelo PPA. jetivos definidos para analisar o andamento
da meta em 2017, a exemplo do Ministério
Como resultado das análises, registrou-se a existên- da Saúde, que indicou os parâmetros espe-
cia de falhas na confiabilidade e na qualidade de par- rados para 2017 em cada uma das 19 metas
cela significativa das informações de desempenho analisadas;
apresentadas na Prestação de Contas do Presidente
da República de 2017 referentes às metas previstas • Em alguns casos, embora os órgãos tenham
no PPA. informado que havia parâmetros objetivos
esperados, as respostas não detalharam de
O fato de o PPA 2016-2019 não definir metas forma suficiente o que seria considerado an-
anuais não deve impedir que haja mecanismos damento adequado;
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
038| 039
• Em 22% das metas questionadas, os órgãos tempestivo por parte sociedade dos compromissos
responsáveis não forneceram informações pactuados no PPA.
que demonstrassem qual parâmetro foi utili-
zado em 2017 para classificar o andamento Como resultado das análises, o TCU registrou em
da meta como adequado ou não. seu Parecer Prévio a existência de falhas na con-
fiabilidade e na qualidade de parcela significativa
Quanto à qualidade, foram aponta- das informações de desempenho apresentadas na
das deficiências em 39 metas (43%). PCPR 2017 referentes às metas previstas no Plano
Seguem algumas falhas encontradas:
Plurianual 2016-2019 e emitiu recomendações ao
• metas excessivamente genéricas, não Poder Executivo com o objetivo de corrigir as dis-
sendo possível definir com clareza o que torções identificadas.
se pretende alcançar (Programa 2080
– Educação de Qualidade para Todos);
038 |039
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
040| 041
CONFORMIDADE
FINANCEIRA E
ORÇAMENTÁRIA
A
lém de contribuir para a transparência da
gestão, fornecendo informações sobre a
atuação do governo federal, os exames
efetuados pelo Tribunal de Contas da
União visam verificar a conformidade dessa atu-
ação às normas regentes no âmbito das finanças
públicas. Para isso, são realizadas auditorias espe-
cíficas e análises da PCPR, com o fim de subsidiar
a emissão do parecer prévio exigido no inciso I do
art. 71 da Constituição Federal.
040 |041
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
042| 043
Importa esclarecer que o resultado dessa avalia- Educação (Fundeb) em valor superior aos 30%
ção, no que não aponta ilegalidade, não configura máximos autorizados pelo inciso VIII do art. 60 do
certificação acerca da regularidade da gestão, em ADCT na elaboração do Demostrativo das Receitas
similitude ao disposto no art. 206 do Regimento e Despesas com Manutenção e Desenvolvimento
Interno do TCU (RITCU). do Ensino, constante do Anexo 8 do Relatório
Resumido de Execução Orçamentária (RREO), o que
Desse modo, não foram identificadas improprieda- compromente o acompanhamento efetivo dessas
des ou irregularidades na gestão com relação aos despesas. Assim, o Tribunal emitiu recomendação
seguintes pontos: abertura de créditos adicionais; ao Ministério da Fazenda, para que exclua os valores
aplicação mínima de recursos em ações e serviços considerados indevidamente quando da elaboração
públicos de saúde; execução de despesas decorren- do demonstrativo.
tes de emendas parlamentares individuais; execu-
ção do Orçamento de Investimento; “Regra de Ouro”
das finanças públicas; limites do Novo Regime Fiscal Mínimo Constitucional
(“Teto de Gastos”); limites e parâmetros estabele-
cidos pela LRF (metas fiscais, contingenciamento,
da Irrigação
despesas com pessoal, operações de crédito, ga-
rantias e contragarantias, disponibilidades de caixa, O art. 42, incisos I e II, do ADCT, estabelece que,
restos a pagar, ações de recuperação de créditos); durante quarenta anos, a União aplicará, dos recur-
e, por fim, execução de metas e prioridades do sos destinados à irrigação, 20% na Região Centro-
exercício previstas na LDO 2017. Oeste e 50% na Região Nordeste, preferencialmente
no semiárido. Ainda, prevê a norma constitucional
que, desses percentuais, no mínimo 50% serão
Mínimo Constitucional destinados a projetos de irrigação que beneficiem
em Manutenção e agricultores familiares.
042 |043
“nacional” fosse considerado como alocado nessa vinte exercícios financeiros, fixou limites individua-
região), bem como não foi possível averiguar, em lizados para os diversos órgãos da Administração
razão da ausência de informações para tanto, se e estabeleceu como teto de gastos, para 2017, as
o semiárido foi preferencialmente contemplado e despesas primárias pagas no exercício de 2016,
se o mínimo de 50% foi efetivamente direcionado corrigidas em 7,2%.
à agricultura familiar.
Para os exercícios posteriores, o teto de gastos
Destacou-se, por fim, a baixa representatividade dos corresponderá ao valor do limite do exercício
recursos destinados à irrigação, da ordem de R$ 100 imediatamente anterior, corrigido pela variação
milhões anuais, ante a grandiosidade do problema da do IPCA, ou seja, da inflação, ou de outro índice
seca que aflige, em especial, as regiões Nordeste e que vier a substituí-lo.
Centro-Oeste. Diante dos efeitos naturais da implan-
tação do novo regime fiscal (Emenda Constitucional No exercício de 2017, as despesas primárias reali-
95/2016), a alocação de recursos para a irrigação zadas se situaram abaixo dos limites individuais de
nos próximos anos tende a ser ainda menor. gastos instituídos pela EC 95/2016. Destaca-se, en-
tretanto, que o teto de gastos foi cumprido em vista
Por fim, com relação ao tema, na PCPR 2016 tam- do contingenciamento de despesas discricionárias
bém foi constatada a falta de comprovação acerca ao longo de 2017, notadamente para compensar a
do cumprimento do percentual mínimo de aplicação elevação das despesas com o pagamento de bene-
de recursos destinados à irrigação na região Centro- fícios previdenciários.
Oeste, bem como a ausência de informações que pos-
sibilitassem verificar a alocação de recursos a projetos Para os próximos exercícios, com a tendência de
de irrigação que beneficiem agricultores familiares. elevação das despesas dos regimes de previdência,
os contingenciamentos das despesas discricionárias
Assim, considerando o descumprimento do mínimo também devem aumentar, podendo comprometer,
exigido para a Região Centro-Oeste e a ausência de em última instância, e apenas para mencionar os
informações sobre se o semiárido foi preferencial-
exemplos mais críticos, os recursos destinados ao
mente contemplado na Região Nordeste e se no
mínimo 50% dos percentuais previstos nos incisos custeio de programas de saúde, educação e segu-
I e II do art. 42 do ADCT tiveram como público-alvo rança, além dos investimentos e do funcionamento
os agricultores familiares, foram consignadas no da máquina pública, entre outros itens.
Parecer Prévio três irregularidades e duas recomen-
dações com o objetivo de dar transparência aos Somem-se ainda os já mencionados impactos orça-
números e possibilitar o controle sobre o cumpri-
mentários e financeiros ocasionados pelos aumen-
mento do referido dispositivo constitucional.
tos salariais escalonados concedidos aos servidores
públicos federais em 2016, que acabam pressionan-
do significativamente o limite da despesa.
Teto de Gastos
O gráfico a seguir mostra a evolução das despesas
A Emenda Constitucional 95/2016, que instituiu o primárias em valores deflacionados, supondo fixas
novo regime fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal as despesas relativas a pessoal e encargos e as
e da Seguridade Social da União, com vigência por demais despesas obrigatórias. Nesta projeção, as
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
044| 045
despesas com benefícios previdenciários crescem discricionárias foram estimadas por diferença em
no ritmo observado ao longo de 2016. As despesas relação ao teto da EC 95/2016.
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
dez/97
dez/98
dez/99
dez/00
dez/01
dez/02
dez/03
dez/04
dez/05
dez/06
dez/07
dez/08
dez/09
dez/10
dez/11
dez/12
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
dez/17
dez/18
dez/19
dez/20
dez/21
dez/22
dez/23
- 200.000
Por essa projeção, as despesas discricionárias te- dessas leis até 2019 será de R$ 52 bilhões, sendo
riam que ser eliminadas até março de 2024 para que o acumulado previsto para 2017 era de R$
que o teto seja cumprido, o que acarretaria a total 26 bilhões, valor bastante próximo à variação das
paralização das atividades da administração federal. despesas com pessoal daquele Poder no exercício,
Antes disso, já em 2020, as despesas discricioná- que foi de R$ 23 bilhões.
rias deveriam ser reduzidas à metade do realizado
em 2017 para atender o teto de gastos. Assim, embora em dezembro de 2016 tenha sido
aprovada a EC 95/2016 buscando estabilizar o
Destacou-se, também, que as despesas com pes- crescimento da despesa primária, esses aumentos
soal do Poder Executivo apresentaram, em 2017, salariais concedidos pressionam significativamente
um crescimento nominal de 12,5%, o qual decorreu o limite da despesa. Isso faz com que os gastos
dos aumentos salariais para servidores do Poder com pessoal tomem uma parcela cada vez maior
Executivo, concedidos em 2016 e escalonados do limite de gastos, em paralelo às despesas pre-
até 2019, oriundos de diversas leis aprovadas videnciárias, que vêm apresentando significativos
pelo Congresso Nacional. A maioria dessas leis crescimentos reais nos últimos anos.
foi aprovada no 2º semestre de 2016 e quase a
totalidade dos servidores do Poder Executivo foi Buscando agregar à análise as informações relativas
beneficiada. Pelas estimativas do Ministério do aos demais poderes e Ministério Público da União,
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, o efeito o TCU recomendou ao Ministério do Planejamento,
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conformidade Financeira e Orçamentária
044 |045
Desenvolvimento e Gestão, na qualidade de órgão até o exercício de 2019, decorrentes dos reajustes
central do Sistema de Planejamento e Orçamento salariais concedidos no exercício de 2016 às diver-
Federal, que encaminhe ao Tribunal as estimativas sas carreiras dos Poderes Legislativo e Judiciário,
dos impactos orçamentário e financeiro, acumulados bem como do Ministério Público da União.
Dessa forma, o cenário que se firma é assaz preocupante. O crescimento das despesas com a previdência e com pessoal
poderá, já no curto ou médio prazo, se essa tendência não for revertida, paralisar o país, seja em razão do declínio
dos recursos disponíveis para manutenção da máquina administrativa e dos serviços públicos, seja pelo comprome-
timento da capacidade de geração de crescimento econômico em decorrência dos cortes nos investimentos estatais.
Assim, o Tribunal emitiu alerta ao Poder Executivo Federal de que a manutenção da atual dinâmica de expansão
das despesas obrigatórias, em especial das despesas previdenciárias e das despesas com pessoal, acarreta riscos
iminentes e significativos de descumprimento dos limites estabelecidos pela EC 95/2016 e/ou grave comprometi-
mento da capacidade operacional dos órgãos federais para prestação de serviços públicos essenciais aos cidadãos.
R$ bilhões
400,0
286,0
300,0
192,5
200,0 162,9
97,1 91,3 101,2 86,1 100,1
75,3 86,2
100,0 42,4 62,2
28,8 2018* 2019* 2020* 2021*
71,3 78,7 93,0 - 20,7
0 - 70,0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 - 110,0
- 100,0 - 159,0 - 139,0
- 116,7 - 118,4
- 200,0 - 159,5 - 181,9
- 228,4
- 300,0 - 260,2
- 307,3
- 400,0
046| 047
Cabe o registro de que o cumprimento da regra de “Regra de Ouro” nos próximos anos. Nesse contex-
ouro em 2017 foi possível em razão de o governo ter to, o PLDO/2019 já sinaliza que o Poder Executivo
adotado medidas ocasionais a fim de obter receitas deverá utilizar a excepcionalização à “Regra de
não recorrentes e extraordinárias, a exemplo das Ouro” prevista na Constituição (parte final do inciso
devoluções antecipadas de recursos do BNDES e III do art. 167). Para tanto, há previsão de que o
das transferências do resultado positivo do Banco PLOA/2019 e a respectiva LOA/2019 poderão
Central para o Tesouro Nacional. conter receitas de operações de crédito e progra-
mações de despesas correntes primárias condicio-
A projeção realizada para os próximos exercícios nadas à aprovação de projeto de lei de abertura de
revela que, caso o governo não adote medidas créditos suplementares ou especiais por maioria
estruturantes, a regra de ouro poderá não ser
absoluta do Congresso Nacional.
plenamente cumprida em 2018, ante a insuficiên-
cia prevista de R$ 182 bilhões, podendo alcançar
uma insuficiência de R$ 307 bilhões em 2020. Eventual violação do disposto no art. 167, inciso III,
da Constituição Federal, pode acarretar sanção ao
Essa situação decorre, especialmente, dos suces- Presidente da República, além de ensejar potenciais
sivos déficits primários do governo central, que consequências de caráter econômico e fiscal, como
vêm ocorrendo desde 2014 e com previsão de o cancelamento de operações de crédito e a falta
que perdurem, pelo menos, até 2021. Os déficits de recursos para pagamento de despesas correntes.
impõem ao Tesouro Nacional a necessidade de Diante disso, o TCU emitiu alerta ao Poder Executivo
realização de operações de crédito para custear Federal acerca do risco de realização de operações
despesas primárias correntes, inclusive, para pa- de crédito em montante superior ao das despesas
gamentos de pessoal, benefícios previdenciários de capital, em face do ambiente de sucessivos défi-
e juros da dívida. A dotação para o financiamento cits primários e da necessidade de manutenção da
de despesas dessa natureza, com fontes de recur- oferta dos serviços públicos ao cidadão.
sos provenientes da emissão de títulos passou de
R$ 179,3 bilhões, em 2014, para R$ 418,9 bilhões,
em 2018, conforme se verifica nas respectivas leis Metas fiscais
orçamentárias anuais.
A meta fiscal de resultado primário fixada pela LDO
Em outras palavras, estamos diante de um cenário 2017 (Lei 13.408/2016) foi de déficit primário para
futuro no qual o governo poderá ter que tomar em- os Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social (OFSS)
préstimos para financiar suas despesas correntes. no valor de R$ 139 bilhões, que representou -2,05%
Veja-se que tal situação, se concretizada, pode do PIB projetado à época, de R$ 6.780 bilhões.
acarretar perversas consequências, uma vez que o Foram estimadas receitas primárias de R$ 1.182,5
país estaria se endividando não para fazer frente a bilhões (17,4% do PIB) e despesas primárias de R$
investimentos que teriam o potencial de beneficiar 1.321,5 bilhões (19,5% do PIB). Consequentemente,
as gerações futuras, mas sim para financiar os seus o resultado primário do Governo Central deficitário
gastos de funcionamento. alcançaria R$ 139 bilhões, o qual, acrescido do
déficit das empresas estatais federais de R$ 3,0
Assim, o atual cenário econômico e fiscal imporá bilhões, resultaria em déficit primário do governo
ao Estado enormes desafios ao cumprimento da federal de R$ 142 bilhões (-2,1% do PIB).
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conformidade Financeira e Orçamentária
046 |047
Posteriormente, a Lei 13.480/2017 alterou as me- risco de não alcance da meta fiscal anual, em razão
tas fiscais da LDO 2017, estabelecendo meta fiscal da possibilidade de frustração de receitas de con-
do setor público consolidado de déficit de R$ 163,1 cessões no valor de R$ 19,3 bilhões.
bilhões, composto de déficit dos OFSS de R$ 159
bilhões, déficit do Programa de Dispêndios Globais Ao longo do ano, o Decreto 8.961/2017 sofreu alte-
das empresas estatais federais de R$ 3 bilhões e rações como resultado das reavaliações realizadas
pelo déficit de estados, Distrito Federal e municípios bimestralmente. Dessa forma, foram realizadas
de R$ 1,1 bilhão. restrições e ampliações nos limites de movimen-
tação e empenho das despesas discricionárias,
Em obediência ao art. 8º da LRF e ao art. 57 da LDO em consonância com a meta de resultado primário
2017, foi publicado o Decreto 8.961/2017, que dis- estabelecida. Ao final do exercício, verificou-se um
pôs sobre a programação orçamentária e financeira contingenciamento acumulado de R$ 19,3 bilhões
e estabeleceu o cronograma mensal de desembolso no âmbito do Poder Executivo.
do Poder Executivo para o exercício de 2017, tendo
como referência os valores fixados na LOA de 2017. Assim, verificou-se o cumprimento da meta de re-
sultado primário tanto do setor público consolidado
Há que se registrar a atuação tempestiva desta não financeiro quanto do Orçamento Fiscal e de
Corte de Contas, que, ainda em julho de 2017, Seguridade Social do Governo Central estabelecidas
emitiu alerta ao Poder Executivo relativamente ao para 2017, como demonstrado a seguir:
R$ bilhões
- 50,0
- 100,0
- 150,0
- 139,0 - 159,0 - 118,4
- 200,0
048| 049
048 |049
b. da sanção das seguintes leis de 2017: (i) exigibilidade suspensa. Assim, o montante total
13.485: ampliação do benefício de redução de créditos a recuperar equivale a 54,2% do PIB
das multas estabelecidas pela MP 778/2017 de 2017 e representa um crescimento de 7,1% em
desacompanhada da reestimativa do im- relação ao ano anterior.
pacto fiscal; e (ii) 13.496: ampliação do
benefício de redução das multas estabe- Observa-se, ao longo dos últimos exercícios, uma
lecidas pela MP 783/2017 desacompa- deterioração da capacidade de realização dos cré-
nhada da reestimativa do impacto fiscal. ditos inscritos em dívida ativa. No entanto, o grau
de realização da receita da dívida ativa aferido em
Assim, o Tribunal registrou essa irregularidade no 2017, de 1,05%, apresentou uma leve recuperação
Parecer Prévio e emitiu alerta ao Poder Executivo frente ao observado no exercício anterior, que foi
acerca da ausência de requisitos legais quando da de 0,77%. Isso decorreu, principalmente, do cres-
proposição de ato normativo ou sanção de projeto cimento da arrecadação da dívida ativa provocado
de lei originário do Poder Legislativo, conforme pelos programas de parcelamento especiais insti-
contatado nos atos acima mencionados. tuídos no exercício.
Ainda no que se refere à renúncia de receitas, obser- Instituídos com o propósito de estimular o contri-
vou-se a existência de divergências na divulgação buinte a quitar espontaneamente suas obrigações
das informações concernentes às desonerações tributárias, mediante condições diferenciadas para
tributárias instituídas em 2017 pela Secretaria da pagamento, e, por consequência, promover o incre-
Receita Federal do Ministério da Fazenda, compro- mento da arrecadação, os parcelamentos especiais
metendo a transparência relativa aos benefícios oferecem longos prazos de pagamento e, em alguns
tributários perante à sociedade. Destarte, o Tribunal casos, abatimentos de até 100% de multas, juros e
emitiu recomendação ao Ministério da Fazenda para encargos legais. Desde a edição do Programa de
correção dessa impropriedade. Recuperação Fiscal pela Lei 9.964/2000, foram
criados cerca de 28 novos parcelamentos especiais,
todos oferecendo significativas reduções de multas,
Recuperação de juros e encargos legais.
créditos Os parcelamentos especiais editados em 2017, à
semelhança dos demais, exigem, entre as opções
Um dos aspectos importantes da gestão fiscal da de adesão, o pagamento de parcela significativa do
receita evidenciado na PCPR é o conjunto de ações débito consolidado. Isso resulta num súbito incre-
voltadas à recuperação de créditos nas instâncias mento da arrecadação durante o período de adesão
administrativa e judicial, em observância ao art. 58 aos programas, que tende a diminuir nos períodos
da LRF. Verificou-se que o montante de créditos subsequentes. Observa-se um baixo índice de quita-
ainda não recuperados pela União alcançou R$ 3,5 ção dos parcelamentos, seja pela inadimplência ou
trilhões ao final de 2017, compreendendo: R$ 146,2 descumprimento das regras pelo optante, seja pela
bilhões em créditos parcelados não inscritos em opção do contribuinte de incluir a dívida parcelada
dívida ativa, R$ 2,1 trilhões em créditos inscritos em outro programa superveniente. Essa opção de
em dívida ativa e R$ 1,3 trilhão em créditos com migração de um parcelamento para outro evidencia
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
050| 051
uma estratégia do contribuinte que pretende pro- prioridades e metas do PPA 2016/2019. Assim, na
mover a rolagem das suas dívidas. Assim, o grande LDO 2017, a priorização da administração pública
número de parcelamentos surgidos disseminou a federal compreendeu as programações incluídas ou
cultura de não pagamento de dívidas na expectativa acrescidas por emendas de bancada estadual cons-
de criação de novos programas. tantes da Seção I do Anexo de Prioridades e Metas
e as demais programações prioritárias constantes
Assim, a leve recuperação da capacidade de arreca- da Seção II desse mesmo anexo.
dação dos créditos inscritos na Dívida Ativa da União,
em 2017, decorreu principalmente do crescimento No caso das emendas parlamentares de bancada,
da arrecadação provocada pelo aporte significativo no exercício de 2017, a execução orçamentária
de contribuintes, no momento da adesão, aos pro- das ações decorrentes dessas emendas atingiu o
gramas de parcelamentos especiais instituídos no percentual de 95,8% do limite de empenho esta-
exercício. Esses programas, no entanto, por exigi- belecido após o contingenciamento da despesa, o
rem do contribuinte parcelas menores nos períodos que se mostrou condizente com a prioridade dada a
subsequentes, tendem a reduzir sua participação essas emendas. Ressalte-se, entretanto, que 64,3%
na arrecadação da dívida nos exercícios seguintes, do valor empenhado foi inscrito em restos a pagar
deixando uma incerteza quanto à efetiva recuperação não processados. Quanto às demais programações
da dívida ativa no médio e no longo prazo. prioritárias, constatou-se, por meio de consultas
ao Tesouro Gerencial, que a execução orçamentá-
Baseado nessas constatações, conjugado ao ria das referidas programações foi de 99,28% da
aumento expressivo do passivo tributário dotação atualizada, percentual condizente com a
administrado pela RFB, concluiu-se que o par-
prioridade que lhes foi conferida.
celamento, além de não ser um instrumento
eficaz para recuperação do crédito tributário,
causa efeitos danosos de longo prazo na ar-
recadação tributária.
Metas e Prioridades
da Lei de Diretrizes
Orçamentárias
Conforme disposto na Constituição Federal, a
LDO deve definir as metas e prioridades da admi-
nistração pública federal para o exercício de sua
vigência. Relativamente às prioridades definidas
na LDO 2017, constatou-se que as prioridades res-
tringiram-se ao seu anexo de prioridades e metas,
tendo ocorrido redução com relação às prioridades
constantes da LDO 2016, que contemplava também
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conformidade Financeira e Orçamentária
050 |051
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
052| 053
AUDITORIA DO
BALANÇO GERAL
DA UNIÃO (BGU)
A
auditoria do Balanço Geral da União refe-
rente ao exercício de 2017 teve o intuito
de verificar se as demonstrações conso-
lidadas da União refletem, em todos os
aspectos relevantes, a situação patrimonial e os
resultados financeiro, patrimonial e orçamentário
da União em 31/12/2017.
052 |053
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
054| 055
no que aplicável, com as normas internacionais alerta ao Ministério da Fazenda, a despeito de even-
de auditoria. tuais medidas já adotadas, de que a obstrução dos
trabalhos de auditoria financeira do TCU em suas
Entende-se como distorção a diferença entre a infor- demonstrações contábeis, com a finalidade de tra-
mação contábil declarada e a informação contábil zer subsídios à apreciação das contas do Presidente
requerida, considerando a estrutura de relatório da República, pode comprometer a emissão de opi-
financeiro aplicável, no que concerne ao valor, à nião por parte desta Corte de Contas.
classificação, à apresentação ou à divulgação de um
ou mais itens das demonstrações, alterando a per- Com relação aos ativos imobilizados, foi identificada
cepção do leitor sobre as informações ali contidas. uma subavaliação de pelo menos R$ 150 bilhões,
decorrente da não contabilização de 80% dos 7.760
Cabe destacar que, de acordo com as normas de imóveis pertencentes ao Instituto de Colonização e
auditoria financeira, o auditor tem a responsabili- Reforma Agrária (Incra) ou de sua contabilização a
dade de emitir uma opinião modificada sobre as valores abaixo dos de mercado. Caso se considere
demonstrações consolidadas auditadas quando o valor de mercado atualizado, a distorção poderia
concluir que a evidência de auditoria obtida não lhe atingir a cifra de R$ 211 bilhões.
permite afirmar que as demonstrações financeiras
como um todo estão livres de distorção relevante. Distorção contábil de mesma índole também foi
constatada na Prestação de Contas relativa ao
A seguir, são descritas as principais ocorrências que exercício de 2016, quando foi então objeto de re-
motivaram a opinião com ressalva. comendação. Nessa oportunidade, a ocorrência foi
parcialmente corrigida com o registro de imóveis
Menciona-se, inicialmente, a abstenção de opinião pelo governo em 2018, no montante de R$ 111,8
de auditoria acerca dos créditos tributários a re- bilhões. Nessa esteira, apesar da correção parcial
ceber registrados na Secretaria da Receita Federal realizada, considerou-se pertinente a recomendação
do Brasil (RFB), em decorrência da sonegação de para que sejam considerados, quando do registro do
informações e de acesso a sistemas daquele órgão ativo, os valores atualizados dos imóveis destinados
aos auditores desta Corte, sob o argumento de ob- à reforma agrária.
servância do sigilo fiscal. Na oportunidade, foram
encontradas distorções nas contas de créditos Também foi identificada subavaliação do passi-
tributários a receber, mas com base somente nas vo, da ordem de R$ 101,7 bilhões, decorrente do
informações consolidadas fornecidas pela própria registro a menor de provisão para riscos fiscais
RFB, na medida em que a equipe de auditoria não em razão de decisões judiciais provavelmente
pôde ter acesso aos dados primários. desfavoráveis à União. Mencionado valor se
refere à ação judicial que questiona a cobrança
Em que pese a abstenção de opinião não ter trazido de PIS e Cofins sobre base de cálculo que inclui
impacto significativo na emissão do parecer prévio, ICMS e que, atualmente, encontra-se pendente
dado que as desconformidades observadas nas de apreciação de embargos de declaração pelo
contas de créditos a receber a cargo da RFB não STF em face de decisão desfavorável à União em
são suficientes para comprometer a confiabilidade sede de recurso extraordinário (RE 574.706), em
das informações integrantes do BGU, o TCU emitiu que foi reconhecida repercussão geral.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO AUDITORIA DO BALANÇO GERAL DA UNIÃO (BGU)
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A esse respeito, a Secretaria do Tesouro Nacional prazo aplicável aos servidores civis, com a observa-
promoveu, em 4/5/2018, a regularização da ocor- ção adicional de que, nessa projeção, sejam consi-
rência mencionada por meio do registro do valor cor- derados, entre outros, critérios relacionados a regras
respondente a R$ 101,7 bilhões, o que não afastou, de elegibilidade, hipóteses financeiras e econômicas,
contudo, a necessidade de recomendação à Casa Civil sem que isso implique qualquer prejulgamento acer-
e à Advocacia-Geral da União para que atuem de sorte ca da natureza jurídica desse tipo de despesa, a ser
a evitar novas distorções de mesma espécie. decidida por esta Corte em processo específico.
Cabe citar a distorção relacionada à deficiência Assim, a opinião modificada apresentada advém
na projeção das despesas futuras com militares de distorções identificadas, tanto quantificáveis
inativos, ocorrência apontada nos relatórios das quanto não quantificáveis, cujos possíveis efeitos
contas prestadas pelo Presidente da República sobre as demonstrações financeiras consolidadas
desde o exercício de 2013 e considerada pendente representam ou poderiam representar uma parcela
de resolução nas contas do ano de 2016, o que substancial do total de ativos e passivos da União,
ensejou recomendação à Casa Civil e ao Ministério bem assim de suas receitas e despesas.
da Defesa no sentido da elaboração das projeções
dessas despesas no horizonte de 75 anos, de- Nesse sentido, de acordo com as normas de audito-
vendo ser registradas nas notas explicativas das ria financeira, as evidências relatadas no Relatório
demonstrações contábeis. Essa recomendação foi apontaram para a existência de distorções das infor-
parcialmente atendida, porquanto a projeção da mações contábeis constantes nas demonstrações
despesa foi realizada para o prazo de vinte anos, financeiras consolidadas da União, respaldando de
sem considerar, as especificidades e premissas forma inequívoca a opinião de auditoria consignada
próprias desse tipo de avaliação de despesa futura. no Relatório e no Parecer Prévio.
A discussão acerca da natureza jurídica das des- Cabe ressaltar que, em decorrência da comunicação
pesas relacionadas à proteção social dos militares, das principais distorções identificadas na auditoria
travada no âmbito do TC 034.660/2014-3, encon- do exercício, que poderiam comprometer a opinião
tra-se pendente de decisão final no âmbito desta sobre as demonstrações contábeis consolidadas, a
Corte de Contas. Desse modo, apesar de entender Casa Civil, em conjunto com a Secretaria do Tesouro
necessária a realização de previsão e respectivo Nacional, promoveu diversas ações para corrigir os
registro dos dispêndios futuros com militares ina- problemas apontados.
tivos, o Tribunal julgou mais adequado aguardar
o deslinde da questão para que se promovam, no Como resultado desses esforços, foram feitos os
momento adequado, os registros contábeis devidos, seguintes lançamentos contábeis em maio de 2018:
considerando a natureza jurídica que se descortinar registro dos imóveis destinados à reforma agrária,
para tal tipo de despesa. no montante de R$ 111,8 bilhões; registro de pro-
visão para riscos fiscais, no montante de R$ 101,7
Assim, reiterou-se a recomendação das Contas bilhões, referente à ação judicial sobre a base de
de 2016 de manter nas notas explicativas das de- cálculo do PIS/Cofins; e registro de provisão para
monstrações contábeis a projeção da despesa com garantias concedidas ao estado do Rio de Janeiro,
militares inativos para os próximos 75 anos, mesmo no montante de R$ 13,85 bilhões.
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MONITORAMENTO
DAS DELIBERAÇÕES
SOBRE AS CONTAS
DO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA DE 2014,
2015 E 2016
N
o âmbito do Relatório sobre as Contas
do Presidente da República, o TCU emite
recomendações e alertas aos órgãos e
entidades responsáveis pela conformi-
dade na execução dos orçamentos e na gestão dos
recursos públicos federais e pela confiabilidade
das informações contábeis, buscando assegurar a
transparência das contas públicas e a observância
dos princípios que regem a Administração Pública.
Nesse sentido, uma das diretrizes do Relatório
sobre as Contas do exercício de 2017 foi o moni-
toramento das deliberações veiculadas nas Contas
de 2014 a 2016.
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CONCLUSÃO
A
s informações trazidas no âmbito da PCPR
2017 descortinam uma delicada situação
das contas públicas federais, com reflexos
nos demais entes federativos. A trajetória
de crescimento das despesas primárias obrigatórias
da União, especialmente das despesas previdenci-
árias, comprime a capacidade de investimento do
governo, o que dificulta a implantação de infraestru-
tura necessária para o aquecimento da economia do
país. Além disso, políticas públicas sociais importan-
tes para o cidadão podem também sofrer prejuízos,
em virtude da necessidade de achatamento das
despesas de natureza discricionária para atender
as disposições constantes da EC 95/2016.
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tarefa árdua, seja em razão do efeito econômico Ocorre que diversas escolhas de política fiscal nos
negativo decorrente do aumento de tributos, seja últimos anos, adotadas sem privilegiar os princípios
em decorrência da aversão da sociedade perante do planejamento e da transparência, resultaram
esse tipo de medida. no quadro atual de profundo desequilíbrio fiscal,
retratado bem neste Relatório, especialmente nas
O arcabouço normativo brasileiro previu uma seções que tratam de dívida pública, resultado
série de princípios e regras que devem nortear a fiscal, resultado previdenciário, “Regra de Ouro” e
atuação dos governantes visando zelar pela higi- Teto de Gastos.
dez das contas públicas e garantir condições para
que a estrutura administrativa do Estado funcione Associada às referidas escolhas, encontra-se a
de forma adequada, entregando aos cidadãos os forte crise econômica com retração do PIB, em
bens e serviços públicos assegurados pela própria termos reais, nos anos de 2015 e 2016, de 3,54%
Constituição Federal. e 3,46%, respectivamente.
Nesse sentido, deve-se interpretar as disposições Além disso, há que se mencionar o elevado grau
constitucionais e legais relativas às finanças públi- de rigidez do orçamento público federal, que insere
cas não apenas como meras regras formais. Deve- dificuldades significativas para a correção de rumos
se buscar o sentido e o objetivo almejados pelo le- via redução de despesa pública.
gislador ao estabelecer tais limites e condicionantes
na gestão orçamentária e financeira pública. Em um Nesse contexto, destaca-se que o Novo Regime
cenário econômico favorável, por vezes perde-se de Fiscal não é suficiente para conter a tendência de
vista a importância dos valores resguardados pelas crescimento das despesas primárias. Na prática,
normas em tela para o bem-estar da sociedade. É há riscos significativos de descumprimento dos
possível também que se advogue certa flexibiliza- limites estabelecidos naquele dispositivo ou, alter-
ção desses princípios com base na ideia de que nativamente, riscos de grave comprometimento da
não são tão necessários no momento em virtude capacidade operacional dos órgãos federais para
da fartura de recursos disponíveis. Ainda, não é prestação de serviços públicos aos cidadãos.
incomum transferir para o futuro o tratamento das
consequências negativas decorrentes de decisões Com relação à “Regra de Ouro”, a análise demons-
atuais nesse campo das finanças públicas, evitando trou que a situação também é crítica, especialmente
a discussão com a sociedade a respeito de questões nos próximos exercícios. Em outros termos, a União
cruciais para o equilíbrio intertemporal das contas. estará se endividando para arcar com as suas des-
pesas de custeio de manutenção e funcionamento
Com muita propriedade a Lei Complementar dos órgãos da administração pública, ao mesmo
101/2000 estatui logo em seu primeiro artigo tempo em que reduz suas despesas de investimento
a transparência e o planejamento como pressu- para atender a regra do Teto de Gastos.
postos basilares da gestão fiscal responsável.
Tais pressupostos devem orientar a ação gover- Observa-se que o cumprimento dos dois disposi-
namental para que seja capaz de prevenir riscos tivos constitucionais nos próximos anos depende
e corrigir desvios que possam afetar o equilíbrio da adoção de medidas estruturantes no campo
das contas públicas. das finanças públicas para corrigir a tendência de
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Conclusão
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crescimento das despesas primárias obrigatórias, o que robustece os achados e conclusões aqui
medidas estas que naturalmente trarão impacto em apresentados.
toda sociedade.
A transparência acerca da situação das contas
Vale ressaltar, por fim, que, apesar de eventual públicas da União é condição fundamental para
custo para a sociedade decorrente dessas medi- que a sociedade possa compreender os desafios
das de ajuste, a retomada do equilíbrio fiscal e da enfrentados e, assim, tenha condições de demandar
trajetória sustentável da dívida pública é condição com propriedade de seus representantes opções
fundamental para que o Estado seja capaz de imple- de soluções para enfrentar e superar tais desafios.
mentar suas políticas públicas para atender as ne- Nesse contexto, a atuação do Tribunal de Contas da
cessidades dos cidadãos em todas as áreas, como União é de suma importância ao fornecer evidências
educação, saúde, segurança pública, etc. Destarte, ao Congresso Nacional e à sociedade para embasar
conforme mencionado anteriormente, não se trata tecnicamente essas decisões políticas.
de regras com um fim em si mesmo. Ao contrário,
a observância dessas normas tem o potencial de Em decorrência das auditorias e análises efetuadas
trazer benefícios concretos em termos de recursos acerca da Prestação de Contas do Presidente da
para a consecução dos programas governamentais República referente ao exercício de 2017, consta-
e, assim, oferecer condições para a melhoria da taram-se impropriedades e irregularidades na exe-
qualidade de vida da população. cução dos orçamentos e na gestão dos recursos
públicos federais, que, apesar da sua relevância, em
Em que pese esse contexto de crise, cumpre ressal- conjunto, não apresentam materialidade e gravida-
tar as melhorias relevantes ocorridas na condução de suficientes para embasar opinião adversa sobre
da política fiscal na União decorrentes da atuação a gestão dos orçamentos da União e das demais
desta Corte nos últimos anos, especialmente no operações realizadas com recursos públicos fede-
âmbito dos pareceres prévios sobre as Contas rais, em especial quanto ao que estabelece a lei
presidenciais de 2014 a 2016. Isso resultou em orçamentária anual.
evidente aperfeiçoamento da transparência sobre
as decisões em termos de política fiscal, elevando Em virtude disso, com fulcro no §1º do art. 14 da
a confiabilidade da gestão e das estatísticas fiscais Resolução-TCU 291/2017 e com base nos proce-
e demonstrações financeiras. dimentos aplicados e no escopo selecionado para
a análise, o Tribunal de Contas da União emitiu
Ademais, destaca-se que ao longo do exercício opinião com ressalvas sobre a execução dos orça-
de 2017 o Tribunal realizou trabalhos bimestrais mentos e a gestão dos recursos públicos federais
com o objetivo de acompanhar a gestão fiscal no no Parecer Prévio sobre as Contas do Presidente da
âmbito da União. Por meio dessas fiscalizações, República referentes ao exercício de 2017.
o Tribunal atuou tempestivamente, ao expedir
recomendações, determinações e alertas para Com relação à opinião sobre os balanços gerais da
o Poder Executivo de forma a evitar riscos de União, conforme disposto no art. 13 da Resolução-
descumprimento das normas regentes. Assim, TCU 291/2017, após a análise das evidências
as análises empreendidas neste Relatório resul- obtidas na auditoria do Balanço Geral da União, con-
tam em grande parte desses acompanhamentos, siderando o conjunto das distorções identificadas,
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outorgada ao Tribunal pela Constituição Federal assegurar que os dinheiros, bens e valores públicos
logo no primeiro inciso do art. 71, aliada ao subse- sejam utilizados, arrecadados, guardados, geridos
quente julgamento anual das contas pelo Congresso ou administrados com a máxima eficiência e eficá-
Nacional, nos termos como dispõe o inciso IX do art. cia, mas também circunscritos dentro da mais abso-
49 da Carta Magna, traduz-se na mais nobre missão luta e rígida moldura de legalidade e conformidade,
desta Corte de Contas, que logra, com tal mister, tudo, sempre, em benefício da população brasileira.
oferecer ao Congresso Nacional e a toda a socie-
dade brasileira não apenas um parecer, fruto de um Para o cumprimento, então, de tão relevante missão,
exame técnico e acurado das Contas da Nação, mas estamos hoje aqui reunidos, uma vez mais, já pela
também põe à disposição um abalizado conjunto 83ª vez ininterrupta, desde o distante ano de 1935,
de dados de gestão que se revelam importantes para apreciar o trabalho trazido à consideração do
subsídios para o estudo e o conhecimento mais Plenário pelo ilustre Ministro Vital do Rêgo, a quem
aprofundado da situação econômico-financeira e me dirijo, com muita honra, antecipando desde
fiscal do País. logo minha posição concorde com a proposta de
encaminhamento apresentada por Sua Excelência.
Trata-se de competência gestada em berço cons-
titucional, de idealização republicana. A primeira Com as vênias, porém, do nobre Relator, e com a
Constituição promulgada após o advento da pro- aquiescência de meus dignos Pares, não obstan-
clamação da República já estabelecera, em 1891, te minha integral aderência à proposta de Sua
no art. 34, § 1º, que era competência do Congresso Excelência, gostaria de tecer considerações sobre
Nacional “tomar as contas da receita e da despesa dois pontos que julguei pertinente comentar, fruto
de cada exercício financeiro”. da análise que empreendi sobre o Relatório ora
apresentado perante este Colegiado.
Embora instituída, então, no nascedouro da
República do Brasil, essa competência somente Uma primeira questão refere-se à análise da confor-
veio a ser exercida pela primeira vez no ano de midade financeira e orçamentária.
1935, quando foram apreciadas as contas do ano
anterior. Na ocasião, o então Presidente do Tribunal, De modo a contribuir para a transparência da
Ministro Octávio Tarquínio de Sousa Amarantho, gestão e de maneira a verificar a conformidade da
proferiu palavras que se tornariam um vaticínio, atuação governamental às normas regentes no
no sentido de que, daquele ano em diante, “dentro âmbito das finanças públicas, o Tribunal de Contas
dessa orientação salutar, eu afirmo sem temor de da União realiza auditorias específicas e analisa as
engano que a colaboração do Tribunal de Contas não Contas prestadas anualmente pelo Presidente da
faltará, realizando integralmente o que dela esperou República. No Relatório referente ao exercício sob
o legislador constituinte”. exame, em regra não foram identificadas irregulari-
dades ou impropriedades. No entanto, algo merece
Com efeito, desde então a competência desta mais atenção dos órgãos de controle.
Casa tem sido aperfeiçoada e hoje, sob a égide
da Constituição Federal de 1988, no exercício do Trata-se do que dispõe a Emenda Constitucional
controle externo em auxílio ao Congresso Nacional, 95/2016, que instituiu o Novo Regime Fiscal no
compete a este Tribunal a missão constitucional de âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃOdeclarações de voto
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Social. Consoante exposto no Relatório apresen- próximos anos, sendo extremamente pertinente
tado pelo ilustre Relator, embora o teto de gastos o alerta proposto pelo Relator ao Poder Executivo
tenha sido cumprido no exercício sob exame, 2017, Federal no sentido de que, em um ambiente de su-
as projeções das despesas primárias, em especial cessivos déficits primários e diante da necessidade
com salário de servidores, demonstram que esse de manutenção da oferta dos serviços públicos ao
teto de gastos poderá ser comprometido, caso as cidadão, há o risco de realização de operações de
despesas com benefícios previdenciários continuem crédito em montante superior ao das despesas de
a aumentar no ritmo dos últimos anos. Isso poderá capital, em descumprimento ao disposto no art.
comprometer o custeio de despesas discricio- 167, inciso III, da Constituição Federal.
nárias com programas da saúde e da educação,
investimentos públicos, manutenção dos serviços No que tange ao Orçamento de Investimento,
públicos, entre outras. Ademais, conforme adver- concluiu-se que a execução das despesas de in-
te o Relatório, muito antes disso a execução das vestimento das estatais não dependentes ocorreu
atividades da administração pública federal poderá de acordo com o programado. Observou-se que
ficar inviabilizada. as medidas corretivas e de controle implantadas
pelo Poder Executivo, em decorrência das irregu-
Ante tal situação, propõe o Relator – e estou de laridades apontadas no Relatório e Parecer Prévio
acordo – a emissão de alerta ao Poder Executivo sobre as Contas da Presidente da República de
Federal no sentido de que a manutenção da atual 2014 (de minha relatoria), foram capazes de evitar
dinâmica de expansão das despesas obrigatórias, a recorrência desse tipo de irregularidade.
em especial das despesas previdenciárias e das
despesas com pessoal, acarreta riscos iminentes e Por fim, merece máxima atenção, considerando as
significativos de descumprimento dos limites esta- mencionadas graves restrições fiscais, a institui-
belecidos pela EC 95/2016, com possibilidade de ção de elevado montante de renúncias tributárias
grave comprometimento da capacidade operacional nos últimos anos. Também nesse contexto, causa
dos órgãos federais para prestação de serviços pú- preocupação a deficiência na recuperação de
blicos essenciais aos cidadãos. créditos nas instâncias administrativa e judicial,
em observância ao disposto no art. 58 da LRF.
Outro fator a merecer atenção é a regra constitu- Verificou-se que o montante de créditos ainda
cional (art. 167, inciso III, CF) que veda a realização não recuperados pela União alcançou R$ 3,5 tri-
de operações de crédito que excedam o montante lhões ao final de 2017, compreendendo: R$ 146,2
das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas bilhões em créditos parcelados não inscritos em
mediante créditos suplementares ou especiais com dívida ativa; R$ 2,1 trilhões em créditos inscritos
finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo em dívida ativa; e R$ 1,3 trilhão em créditos com
por maioria absoluta. Esse princípio, denominado exigibilidade suspensa. Assim, o montante total
“Regra de Ouro” das finanças públicas, tem o objeti- de créditos a recuperar equivale a 54,2% do PIB
vo de coibir o endividamento do Estado para custear de 2017 e representa um crescimento de 7,1% em
despesas correntes. relação ao ano anterior.
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abatimentos de até 100% de multas, juros e en- de projeto de lei de governança, cujo objetivo
cargos legais. Desde a edição do Programa de é estabelecer para os poderes da União regras
Recuperação Fiscal pela Lei 9.964/2000, foram de governança que possam garantir que as
criados cerca de 28 novos parcelamentos espe- ações planejadas sejam executadas com vistas
ciais, todos oferecendo significativas reduções a atingirem seus objetivos e resultados de forma
de multas, juros e encargos legais. No entanto, transparente, além de estabelecer regras para o
concluiu-se que o parcelamento, além de não ser planejamento e desenvolvimento nacional, de for-
um instrumento eficaz para recuperação do crédito ma a orientar e organizar o planejamento nacional
tributário, causa efeitos danosos de longo prazo na para o longo, médio e curto prazos.
arrecadação tributária.
O Ministério do Planejamento destacou ainda a
Um segundo ponto sobre o qual gostaria de tecer publicação do Decreto 9.203/2017, que dispõe
considerações adicionais diz respeito à questão sobre a política de governança da administração
da governança. Por sugestão de nossa lavra, pública federal direta, autárquica e fundacional,
constante de Declaração de Voto apresentada na e a elaboração da Mensagem 468/2017, que
apreciação das Contas do Governo Federal relati- encaminhou ao Congresso Nacional o texto do
vas ao exercício de 2016, foi acrescida à proposta projeto de lei que dispõe sobre a política de go-
do então Relator, ilustre Ministro Bruno Dantas, vernança da administração pública federal direta,
recomendação ao Ministério do Planejamento, autárquica e fundacional.
Casa Civil e Presidência da República para que
consolidassem em normativo único todos os Tratou, ainda, o Ministério, das diversas inova-
dispositivos editados sobre a estratégia gover- ções implementadas no PPA 2016-2019 com o
namental e seu monitoramento e avaliação, objetivo de dar mais transparência às ações do
identificando claramente a forma de organização governo e fornecer informações gerenciais aos
dos planos de longo, médio e curto prazos, com órgãos setoriais que auxiliam na gestão dos seus
seus objetivos e metas, além do papel do centro compromissos com a sociedade, quais sejam:
de governo, dos ministérios setoriais, eventuais
conselhos e comitês e da CGU na formulação, • elaboração do Portal “PPA Cidadão”, com
monitoramento e avaliação desses planos e das o objetivo de permitir que o cidadão tenha
políticas públicas neles contidas, aproveitando, acesso às informações sobre o PPA e possa
caso entendesse viável, as conclusões do grupo acompanhar o Plano por meio de agendas
de trabalho do TCU encaminhadas aos titulares transversais;
das pastas.
• desenvolvimento do Painel do Planejamento,
No Relatório ora apresentado a este Colegiado, que será disponibilizado para consulta da
o Relator, Ministro Vital do Rêgo, reporta que o evolução das metas, indicadores e evolu-
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e ção financeira do PPA; e
Gestão informou que, conjuntamente com a Casa
Civil da Presidência da República, o Ministério • criação das Agendas e Objetivos de
da Fazenda e o Ministério da Transparência e Desenvolvimento Sustentável (ODS) alinha-
Controladoria-Geral da União, elaborou minuta dos às metas e iniciativas do PPA.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃOdeclarações de voto
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O Relatório de Sua Excelência noticia ainda que se refere à governança do Sistema Nacional de
o Ministério informou também que tem realizado Crédito Rural (SNCR), ou mesmo à governança
reuniões periódicas com os representantes dos fiscal dos benefícios tributários, notadamente via
órgãos setoriais, com a finalidade de orientá-los renúncia de receitas.
e de colher sugestões de melhoria, que estão
sendo incorporadas na medida do possível. Por Percebo com satisfação, Senhor Presidente,
fim, informou que se encontra em discussão a Senhores Ministros, Senhora Procuradora-Geral,
proposta de revitalização da Biblioteca Digital do que a tese da governança pública que vimos de-
Planejamento, com o objetivo de reunir acervo fendendo Brasil adentro, a partir desta cadeira
digital contendo os PPAs federal, estaduais e no Tribunal de Contas da União, ganha força e se
municipais, planos setoriais e documentos rela- firma no País.
tivos ao planejamento governamental, ao desen-
volvimento territorial e a outros assuntos que se Tenho a convicção de que a melhoria da gover-
referem a planejamento. nança pública é o caminho para o aprimoramento
das Instituições e, consequentemente, para uma
A Casa Civil, por seu turno, informou sobre a as- melhor solução dos problemas enfrentados pelo
sinatura do Decreto 9.203/2017 e da Mensagem País, entre eles o combate à corrupção, a melhoria
468/2017, que encaminhou o projeto de lei dos serviços públicos essenciais de saúde, educa-
9.163/2017, que busca aprovar a lei sobre gover- ção, transporte, segurança pública, entre outros.
nança. Por fim, a Casa Civil ressaltou a elabora-
ção, em conjunto com o Ministério da Fazenda; o Com essas breves considerações, reitero minha
Ministério do Planejamento; a Controladoria-Geral aderência à proposta de encaminhamento apre-
da União e o Instituto de Pesquisa Econômica sentada pelo eminente Relator, Ministro Vital do
Aplicada, do Guia de Orientação para Análise Ex Rêgo, a quem mais uma vez saúdo e parabenizo
Ante de Políticas Públicas, que tem o objetivo de pela excelente relatoria e pela qualidade do traba-
fortalecimento e disseminação das práticas de lho trazido a este Plenário, doravante à disposição
avaliação de políticas públicas nos ministérios, do Congresso Nacional e de toda a sociedade
órgãos, fundos e demais entidades do Poder brasileira, e voto pela aprovação do projeto de
Executivo Federal. Parecer Prévio submetido ao Colegiado.
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abordado em termos semelhantes quando da análi- Dentre os diversos casos do gênero, faço questão
se das Contas do Governo relativas ao ano de 2016. de destacar o Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, operado pela Finep para
No que diz respeito aos benefícios tributários, o apoiar atividades de inovação e pesquisa em em-
montante de R$ 270 bilhões em renúncia de recei- presas e instituições científicas e tecnológicas,
tas em 2017, por si só, já chama a atenção diante incluindo o desenvolvimento de projetos e a for-
de um déficit primário de R$ 119 bilhões no mesmo mação, capacitação e fixação de recursos huma-
período. A situação torna-se ainda mais alarmante nos qualificados na área de ciência e tecnologia.
quando se constata que as novas desonerações Em 2017, de uma dotação prevista inicial de R$
concedidas naquele ano tiveram um impacto ime- 899 milhões, mais de 60% foram restituídos ao
diato projetado em apenas R$ 0,7 bilhão, porém Tesouro Nacional.
com estimativas de R$ 18,7 bilhões, em 2018, R$
21,1 bilhões, em 2019, e R$ 23,8 bilhões, em 2020. Portanto, ao passo que países desenvolvidos
chegam a investir mais de 10% do seu Produto
O que se nota, portanto, é uma forte tendência de Interno Bruto em iniciativas de pesquisa e inova-
aumento progressivo dos gastos tributários na últi- ção, o que se nota é que o principal fundo federal
ma década, ao mesmo tempo em que observamos a destinado a esse fim contava com alocação inicial
deterioração abrupta do resultado primário da União de 0,013% do PIB, sendo que o montante efe-
a partir de 2015. tivamente investido ao final do exercício foi de
apenas 0,005% do PIB.
Este Tribunal tem feito a sua parte para tentar evi-
tar que os prejuízos para a população tornem-se Preocupa-me ainda mais, e em termos mais am-
ainda maiores. Foi o que ocorreu, por exemplo, na plos, a questão do financiamento voltado para
auditoria da dívida pública, que resultou no Acórdão a redução das desigualdades regionais, que foi
1.084/2018, prolatado em março último. Naquela tema de intenso debate em evento que realiza-
ocasião, esta Corte já manifestara sua preocupa- mos na semana passada, com a participação dos
ção com o aumento do nível de endividamento do Ministros da Fazenda e da Integração Nacional,
governo central, que já supera em mais de quatro bem como de parlamentares e outros especialis-
vezes a receita corrente líquida, em termos anuais. tas e interessados no assunto.
A título de exemplo dos efeitos dos sucessivos Nesse aspecto, além da baixa alocação de recursos
déficits orçamentários dos últimos anos, podemos aos fundos de desenvolvimento (FDNE, FDCO e ou-
observar a situação dos fundos para custeio de tros), cabe ressaltar que também os números das
empréstimos e financiamentos concedidos por ins- receitas de renúncias revelam um profundo desequi-
tituições financeiras oficiais de fomento. Na maioria líbrio regional. Ao analisar os gastos tributários de
dos casos, conforme consta da prestação de contas natureza social, associados às funções Assistência
apresentada a este Tribunal, o montante líquido exe- Social, Saúde, Trabalho, Educação, Cultura, Direitos
cutado em 2017 foi muito inferior ao originalmente da Cidadania, Habitação e Desporto e Lazer, consta-
previsto, o que tem reflexos diretos na redução da ta-se que os benefícios alocados à Região Nordeste
capacidade de investimento de recursos públicos na correspondem a 38,5% da média do país, quantifi-
promoção do desenvolvimento econômico e social. cada em R$ 571,00 por habitante.
PARECER PRÉVIO SOBRE AS CONTAS PRESTADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EXERCÍCIO DE 2017
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É nesse momento que se faz um balanço das contas A dívida bruta do governo geral (DBGG), excluído o
públicas e de seu impacto na situação econômico- valor líquido da carteira do Banco Central (Bacen)
-financeira do Brasil. de títulos do Tesouro (ou seja, títulos do Tesouro
menos operações compromissadas do Bacen), vem
As recomendações expedidas ao Poder Executivo, subindo de forma preocupante, como resultado da
quando implementadas, contribuem de forma signi- incapacidade do País de evitar deficits nominais e
ficativa para o aprimoramento da gestão financeira mesmo primários.
do governo federal.
Em 2017, a DBGG atingiu 74% do Produto Interno
Cito, por exemplo, o Balanço Geral da União, Bruto (PIB), cerca de R$ 4,9 trilhões, ao passo que,
cujas informações vêm se tornando mais confiá- em 2015, representava 65,5% do PIB.
veis, em decorrência das correções das falhas e
imprecisões apontadas pelo Tribunal, o que per- A situação fica ainda mais grave se for conside-
mitirá que seja usado como instrumento efetivo rado o endividamento líquido da Petrobras e da
de planejamento. Eletrobras (o que não se faz em razão da alteração
metodológica promovida pela Lei 12.377/2010,
Também recordo que, no período de 2010 a 2014, que alterou a Lei de Diretrizes Orçamentárias de
houve execução irregular do orçamento de investi- 2010), hipótese na qual a DBGG seria de 78,9% do
mento das estatais, uma vez que foram feitas despe- PIB, contra 70,9% em 2015.
sas sem prévia dotação orçamentária. Essas falhas,
que ensejaram inclusive a proposta de rejeição das Pelo conceito de dívida líquida do setor público, o
contas dos exercícios de 2014 e 2015, foram objeto qual deduz da dívida bruta os ativos do Governo
de recomendação e não mais se repetiram. Central junto a instituições financeiras, dentre ou-
tros (como os créditos que o Tesouro possui junto
O trabalho ora apresentado pelo relator é extenso ao BNDES), o endividamento passou de 35,6% do
e profundo, motivo pelo qual parabenizo, desde já, PIB em 2015 para 51,6%, em 2017.
não apenas o Ministro Vital do Rêgo, como também
a Secretaria de Macroavaliação Governamental De outro lado, é importante frisar que o crescimento
(Semag) e as demais unidades técnicas envolvidas da dívida foi parcialmente contido em virtude da
nesse processo. redução da Selic, que passou de 13,3% em 2015
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para 6,9 % em 2017, bem assim da taxa implícita da o Brasil, houve aumento da participação desse tipo
dívida líquida do setor público (DLSP), que passou de despesa, que passou de 12,99% do PIB em 2013
de 29,7% em 2015 para 13,7% em 2017. para 15,64%, em 2017.
Ainda que se alegue que países desenvolvidos Destacam-se as despesas previdenciárias, que
possuem níveis de endividamento mais elevados, o respondem atualmente por 53% das despesas pri-
que mais preocupa é a trajetória da dívida: a DBGG márias obrigatórias e vêm registrando aumentos
passou de 51,8% do PIB em 2010 para 74%, em crescentes, sem a contrapartida no aumento das
2017, ao passo que a DLSP 38% do PIB em 2010 receitas de contribuição.
para 51,6%, em 2017.
Isso, combinado com a queda real das receitas
Essa trajetória preocupante decorre não somente primárias de cerca de 6,6% entre 2015 e 2017,
dos elevados custos da dívida (taxa implícita de revela um quadro preocupante, pois torna-se evi-
13,7% em 2017), como da necessidade de financiar dente a dificuldade de o Poder Público promover
os crescentes resultados nominais negativos. os investimentos em infraestrutura necessários
para a retomada do desenvolvimento e pode, num
Países desenvolvidos emitem títulos de longa ma- horizonte não muito distante, elevar o custo do
turidade e conseguem impor ao mercado mundial carregamento da dívida.
as taxas de juros determinadas pela autoridade
monetária. Em alguns casos, até mesmo taxas Ocorrendo isso, a elevação das despesas financei-
reais negativas. ras agravará ainda mais o quadro atual, no qual os
investimentos representam apenas 2% da execução
Tal situação não ocorre nos países emergentes, do orçamento fiscal e da seguridade social (OFSS),
para os quais o mercado somente investe mediante ou cerca de R$ 26,2 bilhões, sendo que parte gran-
recebimento de um prêmio, de modo a compensar de deles destina-se exclusivamente ao desempenho
eventual risco. das atividades da própria administração (aquisição
de equipamentos, prédios etc.).
A consequência dos custos elevados da dívida pú-
blica é a menor disponibilidade de recursos para A execução do orçamento de investimento das empre-
realizar despesas voltadas ao desenvolvimento sas estatais, por sua vez, contribuiu com um volume de
nacional, como educação e investimentos. recursos substancialmente maior que o OFSS.
Com efeito, a deteriorada situação fiscal do País As empresas estatais do setor produtivo (ou seja,
nos últimos anos resulta no significativo aumento excluídas as empresas do setor financeiro) investiram
da dívida pública observado. As despesas primárias R$ 50,4 bilhões em 2017, diante de uma previsão
obrigatórias - em especial pessoal e previdência - orçamentária de R$ 85,4 bilhões. O grupo Petrobras,
são de difícil redução no curto prazo. sozinho, respondeu por 86% desses valores.
Contudo, a situação é ainda mais grave quando se Porém, o montante investido em 2017 foi 10,8%
verifica que, num cenário de frustração de arreca- menor que o realizado em 2016, o que representou
dação em decorrência da recessão pela qual passou uma redução de cerca de R$ 6,1 bilhões.
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É preocupante, contudo, que os investimentos reali- aumento da produção nacional e do nível de renda
zados por algumas estatais em seu ativo imobilizado da população como um todo.
sejam muito inferiores aos aportes financeiros rece-
bidos do Tesouro. Cito, por exemplo, a Infraero, que Por fim, gostaria de salientar que, a despeito do
investiu apenas R$ 0,5 bilhão do aporte de capital de cenário fiscal adverso, as renúncias de receita ou
R$ 3,0 bilhões recebidos do Tesouro. Essa situação gastos tributários são extremamente significativas,
vem se repetindo desde 2015, segundo o relatório, o ainda que tenham sofrido ligeira redução nos últi-
que pode significar deficits operacionais e eventual mos dois anos.
alteração do status de estatal independente, o que
estaria a exigir a adoção de providências por parte A Receita Federal do Brasil projetou, para o ano de
do Poder Público, como a submissão da empresa ao 2016, um valor de R$ 263,7 bilhões, o que equivale
teto remuneratório do serviço público, na forma pre- a 20,8% da arrecadação total ou 4,2% do PIB. É um
conizada na Constituição Federal, art. 37, § 9º, ou a valor extremamente significativo para um país com
utilização do Siafi para sua execução orçamentária crescentes deficits primários. E, para 2017, a pro-
(§ 6 do art. 48 da Lei Complementar 101/2000). jeção é de R$ 270,4 bilhões.
O Tribunal, por meio do Acórdão 3561/2014-Plenário Em trabalho recentemente apreciado pelo Plenário
(relator Aroldo Cedraz) já determinou à Secretaria (TC 015.940/2017-9), da relatoria do Ministro José
de Coordenação e Governança das Estatais (Sest) Múcio, ficou evidente que as concessões de renún-
do Ministério de Planejamento, Desenvolvimento e cia de receita são feitas de forma não planejada
Gestão que desenvolvesse metodologia que permita a e seus efeitos não são mensurados devidamente,
apuração objetiva do atributo da dependência das em- para fins de avaliação de políticas públicas. Nesse
presas estatais em relação ao ente controlador. Esse contexto, o relator revelou que 44% dos chamados
acórdão foi objeto de posterior monitoramento no TC gastos tributários constantes do demonstrativo
030.159/2016-4 (Acórdão 1960/2017-Plenário), do elaborado pela Receita Federal do Brasil - ou seja,
qual fui relator. Veja-se que, até 2017, a Sest não havia cerca de R$116 bilhões no ano de 2016 e R$ 118
avançado no desenvolvimento da mencionada meto- bilhões, em 2017 -, referem-se a políticas públicas
dologia, de modo que empresas que eventualmente para as quais não existe sequer definição de um
deveriam ser consideradas dependentes podem órgão gestor responsável pela avaliação dos resul-
estar atuando fora dos limites impostos pela Carta tados pretendidos.
Constitucional e pela Lei Complementar 101/2000.
Ou seja, deixa-se de arrecadar e institui-se trata-
Diante das dificuldades de o Poder Público inves- mento fiscal mais benevolente para determinados
tir em setores-chave da economia, como no de setores (microempresas, Zona Franca de Manaus,
transportes – cuja paralisia recente trouxe graves área cultural) para supostamente alavancar políticas
entraves para a economia e para o cidadão comum que não são avaliadas.
-, é importante avaliar a possibilidade de se adotar
medidas para acelerar as concessões públicas, de E tão grave quanto a falta de avaliação é a inexis-
molde a permitir que o capital privado possa ser tência de prazo de vigência para cerca de 85% dos
utilizado para melhorar a infraestrutura do País gastos tributários. Ou seja, além de desconhecerem
e, consequentemente, criar condições para um os impactos da renúncia de receita, elas tendem a
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Rememoro que, por ocasião da apreciação das úl- A primeira questão que se impõe é a atual fragilida-
timas Contas de Governo, de minha relatoria, este de dos instrumentos de planejamento vigentes, em
Plenário endereçou recomendação à Casa Civil da especial o Plano Plurianual (PPA). É sabido que esta
Presidência da República e ao Ministério da Defesa Corte já expediu inúmeros acórdãos com determina-
para que, com vistas a garantir a transparência e ções e recomendações ao Poder Executivo, por meio
a necessária previsibilidade de gastos, elaboras- do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e
se projeções de despesas orçamentárias com os Gestão, acerca dos problemas metodológicos deste
militares inativos, anualmente, para os próximos instrumento constitucional de planejamento.
setenta e cinco anos, fazendo-as constar das notas
explicativas das demonstrações contábeis consoli- O tema também tem sido recorrente nas últimas
dadas da União. Contas de Governo, que destacaram, apenas a título
de exemplo: (i) a falta de conexão entre a dimen-
Já quanto aos números apresentados em 2018, são estratégica e a dimensão tática do PPA; (ii) a
o presente trabalho revela que foram alcançados inexistência de indicadores para monitoramento
importantes avanços, sendo desnecessária ressalva da dimensão estratégica do PPA; (iii) a ausência de
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valores esperados ao final do quadriênio para os intermediárias para alcançar as grandes diretrizes
indicadores dos programas temáticos, de forma a nacionais. Por outro lado, a oportunidade de modi-
avaliar a dimensão tática do PPA; (iv) a ausência de ficar esta realidade se avizinha, pois em 2019 serão
valores anuais de referência para as metas; e (v) que desempenhados os trabalhos preparatórios do novo
o PPA exerce papel meramente indicativo e políticas ciclo de PPA com vigência de 2020 a 2023.
previstas no plano não são priorizadas no momento
da elaboração da LOA. Considerando que este cenário está devidamente
registrado nestas Contas de Governo e já foi objeto
Deste Relatório, extraio que as recomendações do de acórdãos do Tribunal, o que evidencia estarmos
Acórdão 782/2016-TCU-Plenário (relator Ministro atentos à questão, propus reforçá-la por meio da
José Múcio Monteiro) ainda continuam em atendi- inclusão de recomendação dirigida ao Ministério
mento para incorporação ao próximo PPA. Dentre do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão no
elas, há comandos no sentido da construção de in- sentido de, ao realizar os trabalhos de formulação
dicadores para a dimensão estratégica, da definição do PPA 2020-2023, aperfeiçoar a metodologia de
de valores esperados para os indicadores e de esta- planejamento à luz das recomendações externadas
belecimento de parâmetros anuais para as metas. por este Tribunal nas últimas Contas de Governo e
trabalhos de fiscalização, a exemplo dos Acórdãos
Outras questões apontadas na decisão foram a au- 782 e 948/2016-TCU-Plenário.
sência de informações sobre o custo das metas, a
falta de sinergia entre o PPA e os planos setoriais Outro tema que traz grande perplexidade ao leitor é
e a necessidade de compatibilizar o PPA com os o quadro fiscal brasileiro. Os números demonstram
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da que a capacidade de gestão do Estado está cada
Agenda 2030 das Nações Unidas, em virtude de as- vez mais comprimida entre a contínua queda da
sinatura, pelo Brasil, de compromisso internacional. receita primária, de um lado, e as inflexíveis des-
pesas de execução obrigatória, de outro. Destaque
Em resumo, da maneira como está posto, o Plano também deve ser dado à tendência de crescimento
Plurianual não produz comprometimento com re- expressivo das despesas vinculadas à Previdência
sultados e não permite que sua efetividade seja Social. Este é o cenário que engessa cada vez mais
adequadamente mensurada. Mesmo assim, este o orçamento e assombra a saúde fiscal.
Relatório evidencia que foram raros os resultados
concretos, limitando-se o Ministério a realizar A conjuntura vigente é inegavelmente de arrefe-
ajustes pontuais de procedimentos, sem, de fato, cimento da economia, o que limita as tentativas
aperfeiçoar a metodologia. Portanto, apesar de todo de elevação de receitas, combinada com o esgo-
o esforço empreendido pelo Tribunal sobre o tema, tamento da capacidade de redução de despesas
a conclusão se mantém: a estrutura do PPA carece discricionárias. Diante disso, dentro de poucos anos
de profunda revisão. e se nada for feito, não haverá mais outra realidade
que não o déficit fiscal perene, o que é inadmissível.
Não por acaso, a dimensão estratégia nacional
encontra-se relegada ao acaso e o país parece não Desse modo, enquanto não for capaz de realizar
saber em que direção navega, isto é, quais são seus verdadeiras reformas estruturais, é imperioso que
reais objetivos de longo prazo, os meios e as etapas o Poder Executivo trabalhe com determinação e
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A apreciação pelo TCU das contas prestadas anual- Nessa seara, tem o TCU atuado a contento, cobran-
mente pelo Presidente da República, mediante pa- do, com rigor, a fiel observância às disposições da
recer prévio, que deverá ser elaborado em sessenta Lei de Responsabilidade Fiscal. Lamentavelmente,
dias a contar do seu recebimento (art. 71, inciso a criatividade do mau gestor parece não ter limites,
I, da CF), e seu julgamento anual pelo Congresso haja vista a ânsia em gastar dinheiro público, sem a
Nacional (art. 49, inciso IX, da CF) configuram preocupação de que esse gasto produza ou propor-
procedimento, de extração constitucional, da mais cione, efetivamente, ganhos à população.
lídima tradição republicana, em que se oferece ao
Congresso Nacional e a toda sociedade brasileira a No exercício de 2017 relatei o TC 005.506/2017-
oportunidade de examinar dados de gestão relevan- 4, que tratou de representação formulada pelo
tíssimos para o País. Ministério Público Federal, Ministério Público do
Estado do Maranhão e Ministério Público de Contas
A elaboração do relatório das contas do Governo do Maranhão, acerca de graves irregularidades na
configura um dos mais relevantes traços da atuação destinação de verbas oriundas de pagamento de
constitucional do Tribunal de Contas da União, no precatórios aos municípios que fazem jus a dife-
qual sintetiza e organiza dados variados da ação ad- renças na complementação devida pela União,
ministrativa do governo federal, em seus níveis mais no âmbito do extinto Fundo de Manutenção e
agregados, desempenhando a missão constitucional Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
do Controle Externo de contribuir para o contínuo Valorização do Magistério (Fundef).
aperfeiçoamento da Administração Pública, na sa-
tisfação dos anseios sociais. Trata-se de exemplo perfeito do descaso dos ges-
tores públicos, que possuem como único norte a
Na apreciação das contas do presidente da repúbli- realização de gastos, a qualquer custo.
ca, faculta-se a cada Ministro traçar breve panorama
sobre setor que considere relevante para os desti- No caso, 110 municípios do Estado do Maranhão
nos do País. Como relator das contas relativas ao firmaram contratos de advocacia, com apenas
Ministério da Educação, não poderia fugir do tema. três escritórios, por inexigibilidade de licitação,
por notória especialização, para pleitear diferen-
A situação de grave crise fiscal vivida por diversos ças da complementação do Fundef, devidas pela
estados e municípios bem evidencia o cuidado que União, referentes ao período de 1998 a 2006,
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estipulando honorários contratuais correspon- de gestores ansiosos por gastar. E assim aconteceu.
dentes a 20% do montante dos valores a ser Houve diversos relatos de casos em que, assim
recebido pelos municípios (ad exitum), valores que depositados, os recursos foram prontamente
que perfariam, aproximadamente, R$ 7 bilhões de dissipados ou distribuídos por diversas contas
reais, sendo que, desse valor, R$ 1,4 bilhão seria, correntes. As destinações foram as mais diversas,
então, destinado ao pagamento dos honorários asfaltamento, realização de obras, pagamento de
dos três escritórios contratados. pessoal, enfim um sem número de empregos que
pouco ou nada tinham a ver com a destinação cons-
Os escritórios contratados, porém, não intentavam titucional desses recursos, muitas vezes sem sequer
pleitear tais diferenças em juízo, mas buscavam, tão transitar pelo sistema de execução orçamentária ou
somente, se aproveitar do trânsito em julgado da pela conta única municipal.
Ação Civil Pública 1999.61.00.050616-0, ajuizada
pelo Ministério Público Federal, em São Paulo, cuja Recentemente, foi a julgamento neste Tribunal,
sentença já havia reconhecido o direito dos municí- sob a relatoria do Ministro Benjamim Zymler, o TC
pios à complementação dos valores pagos, à época, 023.147/2017-2, que tratou do mesmo tema, agora em
a menor, pela União. relação aos municípios do Estado do Piauí, onde foram
relacionados os mais diversos usos desses recursos.
Nada haveria de complexo ou controverso a ser bus-
cado na via judicial, naquele momento processual, Os danos só não foram maiores porque em muitos ca-
uma vez que a causa já se decidira, não se justifi- sos os órgãos de controle, atuando em forma de rede,
cando tamanho desperdício ou esbanjamento de conseguiram evitar o desbaratamento total das verbas,
recursos federais, com a contratação questionável
de escritórios de advocacia, por inexigibilidade de Em síntese, são gravíssimas as irregularidades
licitação, nem o pagamento do expressivo percen- tratadas nesses processos, uma vez que privam
tual de 20% sobre o valor total da condenação que as gerações atuais e futuras do acesso ao ensino
já havia sido obtida pelo MPF. qualificado, proporcionado pela União, com a trans-
ferência complementar de verbas do Fundeb.
Fosse o problema limitado à contratação de escri-
tórios de advocacia que cobram taxa de êxito sobre Esse esbanjamento dos recursos, em especial o
causa já ganha e transitada julgado, o dano seria pagamento de honorários de advogado, com ver-
contornável. Havia indícios, porém, de que os mon- bas constitucionalmente gravadas com finalidade
tantes recebidos pelos municípios estavam a ser específica de educação, é ilegal, imoral e inconstitu-
contabilizados como outras receitas correntes e cional, e devem ser tidos como nulos todos os atos
não como receitas do Fundef/Fundeb, dando supor- que impliquem o desvio desses valores da única
te a que os prefeitos lhes dessem livre destinação, finalidade que eles podem albergar, a educação.
comportamento que violaria as regras básicas de
destinação dos recursos do Fundeb. Outra questão a merecer comentários, em razão
de ter sido mencionada no relatório, diz respeito
Assomava-se, assim, a tempestade perfeita. Em ao monitoramento do Acórdão 2.915/2016-TCU-
cenário de restrições fiscais, acenava-se para a pos- Plenário, efetuado no TC 023.679/2017-4, que
sibilidade de livre utilização dos recursos por parte teve por objetivo avaliar as medidas propostas para
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Um dos problemas apontados após a concessão Essa expressiva melhora de desempenho não assegu-
dos Aeroportos de Guarulhos/SP, Viracopos/SP, rou, porém, que a empresa obtivesse resultado positi-
Brasília/DF, Galeão/RJ, Confins/MG e Natal/RN, vo em suas demonstrações consolidadas. Seu balanço
foi o significativo excedente de pessoal da Infraero, final registrou prejuízo de R$ 1,8 bilhão, influenciado
pois apenas uma pequena fração dos empregados negativamente pelo reconhecimento de perdas decor-
da estatal nesses aeroportos foi aproveitada pelas rentes da participação nas SPEs (R$ 1.189 milhões) e
novas operadoras aeroportuárias. demais provisões de natureza contábil.
Em que pese a existência, desde 2012, de progra- Note-se que os investimentos da Infraero, em
ma de desligamento incentivado de empregados, 2017, foram financiados com recursos do Governo
sua eficácia foi pequena, em razão de problemas Federal, que aportou cerca de R$ 3 bilhões, em
de desenho e de implementação, em especial, grande maioria para que a Infraero pudesse hon-
porque a Infraero não dispunha de recursos orça- rar com os aportes de capital nas Sociedades de
mentários e financeiros suficientes para custear Propósito Específico de que participa.
os incentivos dos empregados inscritos nos pla-
nos de desligamento. Tem-se, assim, que as decisões de investimento
e participação nas SPEs não têm apresentado
A situação dos empregados tende a agravar-se com bons resultados, e que a Infraero não consegue
a recente abertura da 5ª rodada de concessões de gerar recursos suficientes para fazer frente aos
aeroportos, já iniciada pela Agência Nacional de compromissos de investimento, o que permite
Aviação Civil. concluir, ao menos em relação ao exercício objeto
das presentes contas, que não foi afastado o risco
No processo de monitoramento, a Infraero apresen- de que a empresa venha a se tornar dependente
tou ao TCU o Plano de Sustentabilidade que, dentre do Tesouro Nacional.
medidas de redução de custo e reestruturações,
prevê revisão dos incentivos e diminuição das res- São essas as considerações que tinha a fazer.
trições relativas a idade e tempo de empresa para
inscrição no programa de desligamento.
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Gostaria de manifestar-me neste momento, inobstante Ainda a respeito da desafiadora situação fiscal do
a melhora nos indicadores macroeconômicos, a res- país, os recorrentes déficits e a situação macroeco-
peito do desequilíbrio das contas públicas, situação nômica elevam o risco de descumprimento do teto
que tem sido sistematicamente apontada por esta de gastos instituído pela Emenda Constitucional
Corte, inclusive por ocasião de contas de governo. 95/2016 (EC 95/2016) nos próximos anos.
Em 2013, o TCU esteve em vias de rejeitar as contas Como bem anotado pela Secretaria, as despesas
prestadas naquela ocasião, justamente em razão primárias da União têm sido fortemente pressiona-
do nível de deterioração fiscal então já existente. das em razão dos gastos com pessoal e previdenciá-
Agravada a situação, sobreveio o processo que cul- rios. As despesas previdenciárias representaram,
minou com a recomendação de rejeição das contas em 2017, 53% do total das despesas primárias.
de 2014. E, ainda assim, as condutas ilícitas foram
reiteradas em 2015. Neste cenário, examinando a origem do déficit pre-
videnciário do país em 2017, é possível se chegar
Nas contas de 2016 o país atingiu um déficit primá- à seguinte estratificação: RGPS rural (-R$ 110 bi-
rio previsto de R$ 170 bilhões, o que representa um lhões); RGPS urbano (-R$ 71 bilhões); RPPS civil (-R$
imenso desequilíbrio. 46,9 bilhões); e RPPS militar (-R$ 37,68 bilhões).
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Destes números salta aos olhos o assombroso défi- O desequilíbrio da Previdência Rural, que já foi
cit da Previdência Rural: 110 bilhões em 2017, objeto de reiterados apontamentos por esta Corte
monta superior ao déficit da Previdência urbana - inclusive por ocasião de contas de governo, a
(R$ 71 bilhões) ou ao somatório dos déficits dos exemplo das contas de 2002 (TC 006.113/2003-
regimes próprios, civil e militar (R$ 84,6 bilhões). 6) e de 2007 (TC 010.119/2008-7) -, vem se agra-
vando nos últimos anos.
Em outras palavras, trata-se do elemento que gera
o déficit individual mais significativo dentro do A partir de levantamento realizado em 2017
grupo de despesas previdenciárias, as quais repre- pelo TCU, apreciado por meio do Acórdão
sentam a maior parte dos gastos não financeiros 1.295/2017-Plenário, relatado pelo e. Ministro
do governo central. José Múcio, e também do presente relatório de
400 60
R$ bilhões
40
200
20
0 0
Receita e despesa
-20
Resultado
-200
-40
-400 -60
-80
-600
-100
-800 -120
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Receita urbano Despesa urbano Receita rural
Despesa rural Resultado urbano Resultado rural
Fontes: relatório do TC 012.535/2018-4, o qual tomou por base BEPS e RREO.
análise das contas, foi possível identificar a evo- gradual do déficit do RGPS rural em cerca de
lução do déficit do RGPS rural, comparativamente R$ 7,35 bilhões ao ano.
ao RGPS urbano:
Portanto, noto que a considerável contribuição do
Nesse sentido, o Acórdão 3.414/2014-Plenário, déficit da Previdência Rural (R$ 111 bilhões) para o
relatado pelo e. Ministro Aroldo Cedraz, trouxe enorme déficit primário do Governo Federal de 2017
outro dado preocupante: tendência de aumento (R$ 119,4 bilhões) deverá se ampliar ainda mais nos
próximos exercícios.
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Saúdo o E. Ministro Vital do Rêgo, Relator destas Essa constatação inspira cuidados, porquanto a
contas, e toda a sua equipe técnica pelo portentoso tendência de crescimento contínuo dos gastos
trabalho empreendido, cujos resultados refletem com a previdência, somada à restrição imposta
a qualidade do Relatório e do Projeto de Parecer pelo novo regime fiscal inaugurado pela Emenda
Prévio ora submetidos a este Colegiado. Rendo Constitucional 95/2016 (“tetos dos gastos”), pode
homenagens à igualmente valorosa Secretaria levar ao achatamento das demais despesas públi-
de Macroavaliação Governamental e aos demais cas e, por conseguinte, a repercussões negativas
servidores desta Casa que somaram esforços para na prestação de serviços públicos oferecidos pela
o atendimento dessa republicana competência União, igualmente por obrigação constitucional.
constitucional.
A situação é desafiadora. A preservação das
Colho, para breve exame, o delicado tema do políticas públicas atualmente disponibilizadas à
Regime Próprio de Previdência Social. população, a extensão ou a melhorias delas e,
principalmente, o afastamento da hipótese de
Consoante informou a unidade técnica (no subitem redução dessas políticas, dependerão, entre ou-
2.3.6 do Relatório precedente), os regimes de pre- tras medidas, de um eficiente controle dos gastos
vidência pública consomem a maior parte dos gas- previdenciários.
tos não financeiros do governo central. Em 2017,
53% de todas as despesas primárias realizadas Não há dúvida de que a questão previdenciária do
pelo governo central destinaram-se aos regimes país requer muita reflexão, debates permeados
públicos de previdência (R$ 680,71 bilhões de um pela transparência, e, com as necessárias cau-
total de R$ 1.279,01 bilhões). telas jurídicas e fiscais, a promoção de reformas
estruturantes.
Do elucidativo gráfico inserto no subitem 2.3.6
do Relatório, verifica-se que a fatia das despesas Feitas essas considerações, novamente registro
com a previdência cresceu mais intensamente a meus encômios ao trabalho empreendido pelo
partir de 2015, com a agravante de que as receitas E. Ministro Vital do Rêgo e pela Secretaria de
previdenciárias não acompanharam essa mesma Macroavalição Governamental.
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O Tribunal vem se esmerando em produzir um O outro ponto, já mencionado pelo Ministro Bruno
parecer prévio cada vez mais comunicativo, apri- Dantas, é a dificuldade já bastante conhecida,
morando continuamente a auditoria financeira dos desde o primeiro Plano Plurianual, de se trabalhar
demonstrativos contábeis e financeiros da União, com o planejamento governamental baseado,
atividade que é um dos pontos centrais da atuação fundamentalmente nesse plano, um dos previs-
desta Corte de Contas no exame das contas pres- tos na Constituição, entre tantos outros: planos
tadas anualmente pelo Presidente da República. nacionais, setoriais, regionais, que precisam ser
coordenados com aquele plano estratégico-or-
Sobre os benefícios tributários, muito já foi falado, çamentário. Devemos, no entanto, reconhecer o
mas acrescentaria outros ângulos importantes. Os esforço que sucessivos governos fizeram e estão
benefícios tributários, quando concedidos de for- fazendo para dar operacionalidade e capacidade
ma não compatível com a Lei de Responsabilidade de racionalização ao gasto público a partir do
Fiscal e com a Lei de Diretrizes Orçamentárias, Plano Plurianual. Esta Corte vem trabalhando há
são potencialmente ilegais ou inconstitucionais, muitos anos na avaliação do modo como o PPA
dependendo da teoria jurídica sob a qual seja exa- vem ou não vem cumprindo a sua missão constitu-
minada essa compatibilidade. cional e as dificuldades que têm sido observadas.
Reiteradamente fazemos recomendações para
A Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei de aprimoramento do plano, dos seus indicadores e
Diretrizes Orçamentarias regulam alterações na o Governo Federal está dedicando a elas a devida
legislação tributária e eu já tive a oportunidade de atenção. Sabemos que a resposta não é rápida,
escrever e estudar esse assunto mais profunda- não é fácil, mas precisamos perseverar na formu-
mente em livro. lação de soluções de melhoria da capacidade de
planejamento governamental.
O que se discute em quase todos os casos não
é meramente uma questão de estimativa, é O terceiro ponto sobre o qual faço considerações
uma questão de legalidade, uma questão de é o crescimento da dívida pública. O Ministro
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Benjamim fez menção ao aumento da dívida pública mesmo com a inclusão das operações do orça-
federal, de 2016 para 2017, em aproximadamente mento de investimentos, estamos na iminência do
500 bilhões de reais. E aqui, Srs. Ministros e Sr. descumprimento dessa prescrição constitucional.
Presidente, nós temos um relevantíssimo e longo
caminho a percorrer. Talvez a partir do próximo ano, Como a observância desse mandamento e mecanis-
ao examinar as contas de governo, já possamos mo de controle constitucional das finanças públicas
inovar na ampliação de nossa capacidade explica- e do endividamento estatal não pode ser deixada
tiva das razões do crescimento da dívida pública, para ser efetivada apenas na transição de um ano
na avaliação de eventuais benefícios que o recurso para o outro, porque isso envolve profunda análise
ao endividamento tenha proporcionado à gestão da composição e reorganização das receitas e des-
macroeconômica do País, bem como explicações pesas, é imprescindível que o Governo faça algum
e conhecimento mais profundo de sua trajetória. tipo de estudo sobre a evolução da possibilidade
de descumprimento da regra de ouro nos próximos
Poucos entendem e muitos poucos conseguem anos e planeje o que é possível ser feito para manter
explicar como a dívida pública aumenta 500 bi- a higidez constitucional e dar o cumprimento a esse
lhões em apenas um ano e os serviços públicos mecanismo de controle.
continuam sendo percebidos como muito ruins.
Temos, portanto, um espaço a ser preenchido, pelo O que se observa, isso está aqui na página 176 do
Poder Executivo, pelo Poder Legislativo, e por este relatório, é que estamos utilizando, pelo menos des-
Tribunal de Contas; um espaço dedicado a buscar de de 2014, e talvez antes, bilhões de reais oriundos
comunicar melhor as razões desse crescimento, de operações de crédito, resultando em aumento da
os seus benefícios, ou os seus malefícios, para o dívida pública, para custear despesas correntes. Em
bem-estar social e econômico do País. 2018, a previsão é a de despender 420 bilhões de
reais com o pagamento de juros, de despesas com
O quarto ponto é o problema da regra de ouro. pessoal e como outras despesas correntes.
Constitui mecanismo constitucional voltado ao
complexo processo de manter as finanças públicas Desse modo, isso revela um dos cernes do pro-
em equilíbrio, contendo a propensão ao aumento blema do potencial descumprimento da regra de
da dívida pública como meio de financiamento dos ouro: a sucessiva evolução de utilização de recei-
gastos governamentais. Uma regra estatuída na tas financeiras, operações de crédito, para custear
Constituição e que ao longo do tempo, em suces- despesas correntes, e não apenas despesas de
sivos processos orçamentários, também, não vem capital. Essa realidade endereça novos desafios ao
sendo cumprido nos seus estritos termos. Tribunal de Contas da União, ao Poder Legislativo e
ao Poder Executivo: a ampliação da nossa capaci-
Interpretações jurídicas foram formuladas para dade de compreender profundamente as finanças
mitigar sua rigidez e poder restritivo, como, por públicas e de reportar essa compreensão de forma
exemplo, a consideração das despesas de capital mais inteligível e transparente na arena do deba-
e operações de crédito do orçamento de investi- te público. Esses problemas concretos, de difícil
mentos das empresas estatais para fins de aferição resolução, precisam ser explicitados à sociedade
do cumprimento da regra de outro. Essa sempre foi brasileira para que possamos encontrar a melhor
uma discussão polêmica, potencializada este ano: forma de debatê-los e enfrenta-los por meio do
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sistema político. Recentemente, li um artigo es- antes da elaboração do orçamento. Destaco que,
crito sobre o orçamento na Grécia Antiga por dois em parte, os problemas da falta de controle e de
pesquisadores, um australiano e um inglês, e eles racionalidade observada na concessão de bene-
dizem que era muito comum na Grécia Antiga, fícios tributários, tantas vezes reportadas nessa
o berço da democracia, que questões difíceis e sessão e no relatório, decorre do desrespeito à
sensíveis sobre finanças públicas eram debatidas Constituição resultante da inobservância do que
abertamente, sem receio de que a comunidade dos dispõe a Lei de Diretrizes Orçamentárias sobre
cidadãos e eleitores não pudesse ou não quises- alterações na legislação tributária e, principalmen-
se conhecer as dificuldades financeiras e decidir te, da fraca atuação disciplinadora dessa lei em
sobre as soluções problemáticas, que vão passar, relação aquilo que o constituinte previu.
no mundo moderno, por corte de gastos, mudança
na regulação econômica ou mesmo no aumento E, por fim, a última observação: a Lei de
de tributos. Responsabilidade Fiscal foi muito bem-sucedida
por alguns anos; perdeu-se mais recentemente. Há
Um dos mais importantes locus para canalizar as pilares centrais seus fragilizados que, se recupera-
discussões dos grandes problemas nacionais cria- dos, podem nos ajudar a ir no caminho da susten-
do por nosso sistema constitucional orçamentário tabilidade fiscal. Um deles é a implementação de
é a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Ela foi conce- controle mais efetivo das despesas obrigatórias, já
bida pelo constituinte de 1987 para ter um papel instituído em seu artigo 17 e correlatos. Outro é a
central nas finanças públicas, no planejamento fis- implementação efetiva do artigo 14, que trata de
cal. Ela controla as alterações na legislação tribu- benefícios tributários. Artigo que já foi objeto de
tária, controle que tem sido fraco e desconhecido. enforcement pelo Tribunal, em acórdãos de 2013,
Ela deve abordar as perspectivas de financiamento se bem me lembro. E um terceiro, não menos re-
dos grandes bancos estatais, mas o tem feito de levante, é a retomada da seriedade na formulação
forma tímida. Ela controla a despesa com pesso- de estimativas fiscais e de cumprimento da meta
al, determina o planejamento fiscal e debate as de resultado primário.
prioridades governamentais. Foi concebida, como
se vê, para ser o centro anual do conhecimento e Senhor Presidente, em 2018, o Tribunal de Contas
discussão sobre as finanças públicas. Mas, ao lon- da União dá um grande passo no aprimoramento
go de quase trinta anos, separou-se do exercício da comunicação sobre as contas de governo com
substancial e funcional dessas grandes funções e as mudanças introduzidas nesse parecer prévio,
se transformou numa lei de microgerenciamento em que trabalha com conteúdo mais objetivo,
financeiro-orçamentário. mais acessível à leitura de todos aqueles a que
se destina, e com análises mais esclarecedoras e
Há, portanto, no âmbito do Poder Executivo e do aptas a suscitar correções e aprimoramentos, em
Poder Legislativo a necessidade de recuperar a ação colaborativa e concertada entre esta Corte
funcionalidade perdida dessa lei tão prestigiada de Contas, o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
pela Constituição. Temos a possibilidade de fazer
com que o debate relevantíssimo sobre as finanças
públicas se faça no local previsto na Constituição,
todos os anos, depois da elaboração do PPA e
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MANIFESTAÇÃO
DO MINISTÉRIO
PÚBLICO JUNTO
AO TCU
PROCURADOR-GERAL,
EM EXERCÍCIO, PAULO
SOARES BUGARIN
N
essa Sessão especial, a Corte de Contas
desempenha aquela que, talvez, seja a
mais eminente atribuição conferida ao
Tribunal, constante do artigo 71, inciso I,
da Carta Política de 1988.
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Toda essa população construiu um PIB que, no fim Não posso deixar, ainda, de externar preocupação
de 2017, atingiu 6,5 trilhões de reais, o que cor- com a evolução da Dívida Bruta do Governo Geral,
responderia a cerca de $ 9.689 dólares per capita. que fechou 2017 em 74% do PIB brasileiro, bem
como com o aumento das despesas primárias da
O abrangente trabalho desenvolvido pelo nobre União e com os reflexos advindos para o cumpri-
Relator, Ministro Vital do Rêgo, com o apoio da mento futuro da chamada “regra de ouro”, segundo
diligente equipe da Secretaria de Macroavaliação a qual fica vedada a realização de operações de
Governamental - Semag, a quem saúdo na pes- créditos para cobrir despesas de custeio da má-
soa do Senhor Secretário Leonardo Rodrigues quina pública.
Albernaz, apresenta-nos um panorama abran-
gente das contas e da conjuntura econômica, Estudo empreendido pela Semag revela tendência
fiscal e orçamentária da administração federal de aumento dos gastos públicos, especialmente
no exercício do ano de 2017, que ressalta avan- com a previdência social, nos próximos cinco anos,
ços e sérios desafios a serem enfrentados nos o que poderá comprometer a obediência ao teto
próximos anos. de gastos instituído pela Emenda Constitucional
95/2016.
O total da despesa pública executada pela União
atingiu o montante de 1 trilhão, trezentos e vinte Por isso, consideramos pertinentes os alertas pro-
e seis bilhões de reais, o que dá uma dimensão do postos pela Semag ao Poder Executivo Federal,
enorme desafio atribuído à Corte de Contas e ao quanto aos riscos de possível descumprimento
Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de das regras previstas no artigo 167, inciso III, da
fiscalizar a boa e regular aplicação dos recursos Constituição Federal, bem como do teto de gastos
públicos, com o objetivo de garantir melhores imposto pela Emenda Constitucional 95/2016, ou
condições de vida a todos os brasileiros. de sério comprometimento da capacidade opera-
cional dos órgãos federais, a menos que sejam
Nesse contexto, merece especial relevância a re- tomadas medidas que contenham a evolução dos
comendação feita ao Ministério do Planejamento, gastos públicos ou que estimulem o crescimento
Desenvolvimento e Gestão com o fito de que sejam econômico e, por consequência, a arrecadação de
melhor explicitadas as metas a serem atingidas receitas públicas.
anualmente pela administração pública federal,
para que sejam concretizadas as ações definidas Num momento em que a sociedade brasileira
no plano plurianual de 2016 a 2019. discute a concessão de subsídios ao óleo diesel,
gostaria de enfatizar que, em 2017, a renúncia de
Penso que, com tal medida, será possível minimizar receitas federais, decorrente de benefícios tribu-
falhas observadas no desenvolvimento de algumas tários, financeiros e creditícios, atingiu o patamar
políticas públicas que são da maior importância de R$ 354 bilhões de reais.
para a coletividade, além de incentivar o melhor
planejamento das ações governamentais, com o Por isso, consideramos digna de nota a Fiscalização
foco na maximização dos resultados a serem ob- de Orientação Centralizada empreendida sob a
tidos com cada política pública e com a definição relatoria do nobre Ministro José Múcio Monteiro,
clara de objetivos a serem atingidos. em que foram apontadas várias fragilidades na
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TCU
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concessão e no acompanhamento dos referidos organizada, bem como por todos os Poderes da
benefícios. Conforme o relatório da citada fiscali- República, especialmente o Congresso Nacional, a
zação, dos cerca de R$ 284 bilhões de reais rela- quem compete constitucionalmente legislar sobre
tivos a benefícios tributários, cerca de 85% desse matérias que produzem reflexos diretos sobre o
montante não têm data limite para extinção e 44% funcionamento do Estado e sobre a organização
não contam com um órgão gestor que promova do sistema tributário, financeiro, previdenciário e
o acompanhamento dos benefícios advindos das orçamentário nacional.
políticas de incentivo.
Especialmente em ano eleitoral, o presente rela-
Nesse sentido, as determinações e recomenda- tório produzido pela Corte de Contas deveria ser
ções feitas pelo Acórdão 1.270/2018 – Plenário, de leitura fundamental a todos os partidos e can-
exarado semana passada, demandam ações efeti- didatos a cargos eletivos, de forma que sirva como
vas do Poder Executivo federal e deveriam merecer base a um sincero e necessário debate sobre a
a atenção especial do Congresso Nacional, que busca de soluções para se alavancar o crescimento
formula ou analisa as leis que instituem e regulam do PIB brasileiro e, de outro lado, para que sejam
tais incentivos, os quais visam induzir determina- formuladas políticas que visem à racionalização do
das políticas públicas ou estimular determinados gasto público, de maneira a induzir políticas que
setores produtivos, mas são suportados por todos tragam mais desenvolvimento ao Brasil.
os contribuintes. Ressalto que essa matéria tam-
bém é objeto de pertinente alerta sugerido pela Nesse plano, gostaria de sugerir ao nobre Relator
Semag no exame das presentes contas, o qual das contas de 2017 que o aprofundado parecer
acolhemos integralmente. exarado por sua Excelência seja objeto de ampla
divulgação perante à sociedade e às instituições
Em relação à execução orçamentária destaco o nacionais, em especial, no que tange à grave e
fato de o valor dos créditos extraordinários abertos preocupante situação fiscal do Estado brasileiro.
em 2017 foi de R$ 182,2 milhões, o que representa
uma redução de 99% em relação à média do perí- Encerrando esse breve pronunciamento, reitero
odo de 2013 a 2016, que foi de R$ 33,2 bilhões. minhas homenagens ao eminente Ministro Vital do
Rêgo, a seu gabinete, a toda a equipe da Semag
Tal redução podemos atribuir a um maior rigor e do Ministério Público junto ao Tribunal que pro-
do Poder Executivo na utilização do instrumento, moveram o estudo das presentes contas, pelo
bem como à atuação deste Ministério Público de relevante trabalho.
Contas, ao vislumbrar nos Relatórios sobre as
Contas do Presidente da República de 2015 e Obrigado, Senhor Presidente.
2016, a abertura de créditos extraordinários em
desacordo com os critérios constitucionais (impre-
visibilidade e urgência).
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MANIFESTAÇÃO
DO PRESIDENTE
DO TRIBUNAL DE
CONTAS
DA UNIÃO
MINISTRO PRESIDENTE,
RAIMUNDO CARREIRO
A
ntes de declarar o resultado da votação,
devo enfatizar que pela 83ª vez o Tribunal
de Contas da União exerce seu papel cons-
titucional de apreciar as Contas prestadas
pelo Presidente da República, para subsidiar o jul-
gamento a ser conduzido pelo Congresso Nacional.
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Em anos pregressos, diante da constatação de irre- crítico que se expressa, com clareza, na questão
gularidades e equívocos na condução máxima das destacada pelo Exmo. Min. Relator Vital do Rêgo,
finanças públicas da União, o Tribunal exerceu o em seu voto, sobre a chamada Regra de Ouro.
seu papel com rigor e qualidade técnica, reprovando
condutas que contribuíram de forma decisiva para Referida regra está insculpida no art. 167, inciso
o quadro de crise fiscal e econômica que o país III, da Constituição, vedando que o governo realize
ainda vivencia. operações de crédito para financiar suas despesas
operacionais, de caráter corrente. Como constata-
Como constatado no monitoramento das recomen- do pela unidade técnica, a norma constitucional foi
dações exaradas em anos anteriores, a maior parte cumprida no exercício de 2017, o que é louvável,
das irregularidades, impropriedades e distorções mas se deve atentar que o cumprimento se deveu
identificadas nas Contas anteriores têm sido cor- a medidas extraordinárias, como as devoluções an-
rigidas, uma a uma, o que qualifica a gestão das fi- tecipadas de recursos do BNDES. Trata-se de fato
nanças públicas federais e demonstra a importância preocupante por duas razões: primeiramente, tais
de que esta Corte não descanse no cumprimento condições excepcionais, não relacionadas ao real
dessa importante missão. esforço fiscal do governo, podem não vir a se repetir
nos próximos exercícios; em segundo lugar, os ce-
Por isso, o TCU deve manter a estratégia atual de nários futuros indicam agravamento do desequilíbrio
acompanhamento contínuo da gestão dos recursos fiscal, caso mantidas as atuais regras determinantes
federais, sobretudo quanto às regras e aos princí- do crescimento das despesas obrigatórias.
pios constantes da Lei de Responsabilidade Fiscal,
de forma a coibir a reincidência de mecanismos Finalmente, ainda que se considere que nos próxi-
prejudiciais ao equilíbrio das contas públicas, em mos anos seja necessário utilizar a ressalva prevista
alinhamento à diretriz do Tribunal de combate à má na Constituição, que permite o endividamento para
gestão dos recursos públicos federais. custeio de despesas correntes caso sejam aprova-
dos créditos suplementares ou especiais por maio-
No mesmo sentido, a experiência e a responsa- ria absoluta do Congresso Nacional, a regra será
bilidade desta instituição impõem que o TCU se cumprida, mas a consequência será nefasta: se for
mantenha sempre atento, acompanhando e pro- assim, o país continuará a se endividar para honrar
movendo a transparência da gestão das finan- seus compromissos correntes, o que pode conduzir
ças públicas, princípio que selecionei como uma a uma trajetória insustentável para a dívida pública.
das diretrizes da minha gestão na Presidência do
Tribunal, dada a sua relevância para a assegurar Por isso, é importante registrar que o atual dese-
a disponibilidade e a confiabilidade das informa- quilíbrio fiscal deve ser tenazmente combatido pela
ções perante os agentes econômicos, o Congresso União, de forma a assegurar que futuras operações
Nacional e toda a sociedade. de crédito possam servir tão somente à realização
de investimentos ou à quitação da dívida pública.
É precisamente devido ao avanço da transparência e
à tempestividade do controle que esta Corte exerce Além disso, não obstante o caráter meritório da
que permitem, hoje, que conheçamos a grave situ- Regra de Ouro, é possível vislumbrar oportuni-
ação fiscal do país em toda sua inteireza. Quadro dades de aprimoramento que podem vir a ser
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO MANIFESTAÇÃO DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO
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consideradas pelos representantes do povo no Tribunal de Contas da União emitirá alerta ao Poder
Congresso Nacional. A título de exemplo acerca Executivo para adoção de providências e informará
dessas contribuições para aperfeiçoar a norma, ao Congresso Nacional, tendo em vista assegurar o
pode-se citar: cumprimento do que dispõe o inciso III.
A título de contribuição, apresento sugestão de II - criação de cargo, emprego ou função que impli-
alteração para o referido art. 167 da Constituição que aumento de despesa;
Federal:
III - alteração de estrutura de carreira que implique
Regra de Ouro: Sugestão de Aperfeiçoamento aumento de despesa;
do Dispositivo Constitucional
IV - admissão ou contratação de pessoal, a qualquer
“Art. 167. São vedados: título, ressalvadas as reposições de cargos de chefia
e de direção que não acarretem aumento de des-
(...) pesa e aquelas decorrentes de vacâncias de cargos
efetivos ou vitalícios;
III - a realização de operações de créditos que exce-
dam o montante das despesas de capital, ressalva- V - realização de concurso público, exceto para as
das as autorizadas mediante créditos suplementa- reposições de vacâncias previstas no inciso IV;
res ou especiais com finalidade precisa, aprovados
pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; VI - criação ou majoração de auxílios, vantagens,
bônus, abonos, verbas de representação ou bene-
(...)” fícios de qualquer natureza em favor de membros
de Poder, do Ministério Público ou da Defensoria
Inclusão: Pública e de servidores e empregados públicos e
militares;
§ 6º Caso as operações de crédito em um exercício
atinjam 90% do montante das despesas de capital, o VII - criação de despesa obrigatória;
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VIII - adoção de medida que implique reajuste de Assim, a implementação das medidas normativas
despesa obrigatória acima da variação da inflação, ora propostas induzirá o aperfeiçoamento da gestão
observada a preservação do poder aquisitivo referi- pública, materializado:
da no inciso IV do caput do art. 7º da Constituição
Federal. • na ampliação da transparência;
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ACÓRDÃO
Nº 1322/2018
TCU – PLENÁRIO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO MANIFESTAÇÃO DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO
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Responsabilidade Editorial
Secretaria-Geral de Controle Externo
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