You are on page 1of 30

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

LUIS FILIPE DE LIMA ANDRADE

RELATÓRIO FINAL: ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DE


FILOSOFIA III

RECIFE – PE

2019
LUIS FILIPE DE LIMA ANDRADE

RELATÓRIO FINAL: ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DE


FILOSOFIA III

Projeto de conclusão de apresentado como requisito da


disciplina Estágio Curricular Supervisionado em
Filosofia III. Universidade Federal de Pernambuco.
Departamento de Filosofia.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Ricardo Vieira Ramos.

RECIFE – PE

2019
1. Introdução
Este relatório tem por objetivo principal, fazer uma síntese – a partir de descrições e
reflexões – da experiência que tive neste semestre (2019.1) não apenas no Colégio de Aplicação
(Cap) enquanto estagiário, mas também das vivências em aula da disciplina Estágio Curricular
Supervisionado de Filosofia III. Me esforçarei para, além da descrição de minhas vivências,
explicitar a importância que tais tiveram para a minha formação enquanto docente em formação
e estudante de licenciatura em Filosofia.
Neste relatório – mais especificamente no que diz respeito às experiências vividas no
Colégio de Aplicação enquanto estagiário – irei tentar abarcar, senão a totalidade, ao menos a
maioria do processo formativo vivenciado, em minhas experiências enquanto docente em
formação. Antes de tudo, vale ressaltar que – tal como é exigido no estágio supervisionado em
Filosofia III – neste semestre tive vivências somente relacionadas à disciplina de Filosofia com
o professor Sérgio Ramos. Poderia adiantar que, este semestre em específico, grosso modo, foi
mais motivante que os outros – tanto de um ponto de vista filosófico quanto docente –, pois,
além de tudo, foi o semestre em que mais atuei diretamente no processo de formação dos alunos.
De maneira breve, posso mencionar, para além das observações realizadas em sala, os
comentários que realizei em aula – que foram mais frequentes do que nos outros semestres –, a
orientação presencial, juntamente com outro estagiário, dada aos alunos do 1° A, que teve por
objetivo tanto tirar dúvidas específicas deles, quanto de prepara-los melhor para a apresentação
de seminários com temáticas filosóficas. Além disso, tive a oportunidade de participar de um
encontro presencial, de um evento promovido pelo Colégio, onde uma psicóloga fez uma
apresentação, com ênfase em orientação profissional, para os alunos do 3° ano. Todas estas
experiências serão descritas mais detalhadamente nas seções seguintes.
No que diz respeito às aulas da disciplina de Estágio Supervisionado, também orientadas
e assumidas pelo professor Sérgio Ramos, destacaria, para além das reflexões interessantes e
instigantes por si mesmas que o professor nos trouxe, a leitura que foi cobrada para nós de
estágio supervisionado III, a saber, um texto de Alain Badiou cujo título é “Manifesto pela
Filosofia” – que, inclusive, tive a oportunidade de realizar um breve resumo e apresentar uma
parte na aula da disciplina de Estágio Supervisionado, juntamente com outros colegas da turma.
Em resumo, poderia dizer que é um texto bastante denso e difícil, mas nem por isso
desestimulante ou cansativo, mas, pelo contrário, o texto mostra-se bastante instigante e
relevante para a discussão filosófica atual, uma vez que traz questões de toda tradição filosófica
– mais especificamente, da ontologia, da filosofia da linguagem e da lógica –, de modo a pensar
em como estas são pensadas e como se sustentam tendo em vista a contemporaneidade, isto é,
um tempo que, em si mesmo, não concebe mais, ao menos não enquanto dado imediato ou de
modo problemático, noções como unidade, permanência, verdade, etc. Além disso, destacaria
as apresentações acerca de currículos – a maioria internacionais – realizadas pelos estudantes
do Estágio Supervisionado I, onde foram apresentados currículos de diversos países, como
Argentina, Itália, Inglaterra, Japão, Guiné-Bissau, etc. Dentre todas as apresentações, que foram
ótimas, daria destaque a que foi acerca do currículo de Guiné-Bissau, uma vez que nesta
tivemos a oportunidade de ouvir um nativo do país comentando e participando ativamente da
apresentação, onde foram destacados aspectos históricos e sociais do país em questão, por
exemplo. Por último, destacaria também a discussão que tivemos este semestre acerca do
conteúdo da BNCC, mais detalhadamente no que se refere à disciplina de Filosofia, onde eu
também tive a oportunidade de apresentar e discutir algumas partes juntamente com outro
colega da turma. Todas essas vivências que foram citadas aqui brevemente serão mais
desenvolvidas nas seções a seguir.
Após ter feito uma breve síntese do que irá constar de modo mais detalhado ao longo
deste relatório, cabe-nos apresentar como irá se estruturar o relatório daqui em diante. De modo
geral, este relatório irá se estruturar em quatro seções, onde duas destas contará também com
subseções. Mais especificamente, a primeira é uma introdução (seção 1) – tal como
desenvolvemos até então – a segunda, juntamente com suas subseções, irá se voltar às vivências
que diz respeito à experiência docente enquanto estagiário do Colégio de Aplicação (seção 2)
e, a terceira e última, irá se referir às vivências proporcionadas pelas aulas da disciplina de
Estágio Supervisionado III (seção 3). A seção 2 irá se dividir em quatro subseções, a saber, uma
dedicada à descrição das vivências em sala de aula enquanto estagiário (seção 2.1), que por sua
vez também irá se dividir em outras subseções, uma dedicada ao detalhamento da experiência
de orientação dos alunos para a apresentação do seminários (seção 2.2), uma dedicada à
descrição da experiência do conselho de classe que participei este semestre (seção 2.3) e, por
último, uma dedicada ao detalhamento da experiência vivida no evento de orientação
profissional voltada para os alunos do 3° ano (seção 2.4). A seção 3 irá se dividir em duas
subseções, a saber, uma dedicada a um detalhamento da experiência de leitura do texto do Alain
Badiou, já citado anteriormente (seção 3.1) e uma dedicada a um breve desenvolvimento da
experiência de debate acerca da BNCC (seção 3.3).

2. Colégio de Aplicação
Como mencionado anteriormente, essa seção irá se dedicar, de modo específico, a
relatar e refletir acerca das experiências vividas enquanto estagiário e docente em formação no
Colégio de Aplicação. A subseção seguinte (seção 2.1), de modo mais detalhado, irá relatar as
observações realizadas durante as aulas de Filosofia ministradas esse semestre pelo professor
Sérgio Ramos. Antes do relato de cada aula, será mencionado o dia, horário e turma da aula em
questão.

2.1. Aulas de Filosofia no Colégio de Aplicação


Como já anunciado na seção anterior iremos realizar nesta seção um relato específico
de cada aula de Filosofia assistida durante o semestre no Colégio de Aplicação.

2.1.1. Aula: 18/03/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Antes de tudo, vale ressaltar que, tal como a data indica, iniciei as observações das aulas
de Filosofia este semestre de modo um pouco atrasado, digamos assim, uma vez que não pude
iniciar o acompanhamento das aulas do início do semestre, devido ao atraso da Universidade
para liberar para nós estudantes a apólice do seguro, que é necessária para fazer a inscrição
enquanto estagiário do Colégio de Aplicação. No entanto, este fato não comprometeu minha
experiência de estágio a tal ponto de que eu me sentisse prejudicado ou descontextualizado;
apenas achei importante mencionar, a fim de informar.
Sérgio Ramos iniciou esta aula cobrando respostas dos alunos de uma atividade sobre
aquecimento global, que ele passou para os mesmos fazerem em casa. Nesse contexto, Sérgio,
na medida em que os alunos respondiam, levantou algumas questões, no que diz respeito a
posições que são a favor e contra o fato do aquecimento global. O professor Sérgio Ramos não
apenas levantou questões, como também mencionou que existem posições que negam a
existência do aquecimento global. Na verdade, e para ser mais direto, o tema do aquecimento
global refere-se aqui, de modo estratégico, ao que Sérgio Ramos estava desenvolvendo com
eles (os alunos) em aulas passadas na temática de Filosofia da Ciência, a saber, a oposição entre
doxa e episteme, que é central ao vermos a história da filosofia como um todo. Foi bastante
pertinente a utilização do exemplo, não apenas para a compreensão da oposição em questão,
como também enquanto desenvolvimento de um debate que realmente existe, o que serve para
atualizar e informar os alunos da realidade atual, isto é, das questões que são debatidas
atualmente no meio acadêmico e científico.1 Além disso, o professor Sérgio Ramos abordou,
ainda nesta aula, outro conceito que é central sob uma perspectiva da história da filosofia, a

1
Além disso ser interessante, por si só, atende a um dos componentes que concerne à filosofia, a saber, seu caráter
inter ou até mesmo transdisciplinar. Esse debate, sob uma perspectiva teórica, é desenvolvido por alguns autores,
como é o caso de Charles Feitosa, por exemplo.
saber, o conceito de gnose. Ele explicou que o termo possui uma certa ambivalência, pois o
mesmo pode estar ligado tanto a uma perspectiva ligada ao conhecimento quanto a uma
perspectiva que se relaciona à mística; ele disse que é importante reconhecer a distinção,
embora a significação que interessa desde uma perspectiva filosófica, mais especificamente, da
epistemologia (teoria do conhecimento), é a que se refere ao conceito de conhecimento.
Em outro momento da aula, o professor Sérgio Ramos iniciou uma reflexão acerca da
história do planeta Terra. Foi abordado o seguinte conteúdo: as duas eras de extinção do planeta,
a saber, a era triássica – marcada por 500 mil anos de erupção constante de vulcões – e a era
permiana, que foi o período de congelamento da Terra. Nesse contexto, Sérgio Ramos
mencionou um filme intitulado “Dinossauro” – dirigido por Eric Leighton e Ralph Zondag –,
para falar especificamente do momento de extinção dos dinossauros. Mais uma vez, a
introdução dessa reflexão foi estratégica para abordar o conteúdo propriamente filosófico. 2 As
questões que se colocaram aqui foram: “os dinossauros realmente existiram?”, “se sim, que
provas/evidencias temos para provar isto?”, “caso se negue que existiram, quais são as
argumentações nesse sentido?”, “os fósseis são evidencias suficientes para demonstrar que os
dinossauros realmente existiram?”. Estas foram algumas das questões colocadas, que tinham
por fim justamente introduzir a reflexão acerca de outra temática central em Filosofia da
Ciência, a saber, metodologia(s) da ciência(s), hipótese(s) e teoria(s). Por último, foi
mencionado também que a questão climática foi a responsável pela extinção dos Neandertais.
Na última parte da aula, o professor Sérgio Ramos fez algumas considerações sobre a
Teoria Gaia – teoria que defende que a terra é um sistema vivo, e que, assim sendo, o ser
humano é parte de um componente maior, isto é, a própria terra. Além disso, ele mencionou
brevemente a tensão existente entre autonomia e heteronomia – que também está presente nas
questões filosóficas desde seu surgimento, sobretudo nos debates que se referem à ética e
filosofia política. Por último, passou quatro questões para os alunos pesquisarem e fazerem em
casa: 1) os dinossauros existiram?; 2) “a vista da cauda de um pavão, cada vez que olho para
ela, me faz sentir mal” (Darwin). Por quê?; 3) Jesus existiu?; 4) Ciências sobre fenômenos
humanos são possíveis?
Enquanto comentário mais pontual desta aula, diria que, apesar da inquietação e
dispersão da turma neste dia, o professor Sérgio Ramos conseguiu desenvolver sua aula sem
maiores problemas, sobretudo levando em consideração que ele durante todo o semestre

2
Mais uma vez surge aqui uma abordagem de caráter inter ou transdisciplinar.
demonstrou grande habilidade e ótimas estratégias para lidar com situações desta natureza em
sala de aula.

2.1.2. Aula: 18/03/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


Sérgio iniciou esta aula propondo a composição e organização de grupos orientados a
apresentar seminários na temática de Filosofia da Ciência. Ao todo, formaram-se seis grupos:
1) matemática, 2) artes, 3) biologia, 4) física, 5) linguagens e 6) química. Como ficou evidente,
Sérgio Ramos dividiu os temas, de modo amplo, ou seja, de tal modo que aborda-se a maioria
das disciplinas curriculares, que dizem respeito à diversidade de áreas do conhecimento. 3 Além
de apresentar as temáticas e organizar os grupos, o professor Sérgio Ramos apresentou e
orientou o que deveria conter, enquanto etapas, na apresentação. Ele listou as seguintes: 1)
história, 2) universo do discurso, 3) objeto, 4) método, 5) paradigmas e 6) questões históricas,
socio-culturais e éticas. Boa parte da aula foi dedicada a organização dos grupos para o
seminário, e a orientação geral dada pelo professor Sérgio Ramos quanto ao que os alunos
deveriam desenvolver nesse seminário, e como eles seriam avaliados.
Em outro momento da aula, Sérgio Ramos introduziu para eles o tema da gnose e do
aquecimento global – tal como ele fez com a aula da primeira turma, a saber, o 2° ano B. Em
seguida, e, por último, passou as mesmas questões que passou para o 2° ano B para os alunos
fazerem em casa.
Em relação a esta aula em específico, destacaria um fato, que sempre me despertou
interesse e que, graças as aulas do professor Sérgio Ramos, em grande medida, ao longo desta
trajetória enquanto estagiário do Colégio de Aplicação, a saber, que, apesar de terem sido dadas
duas aulas, em horários distintos, para ambas as turmas do 2° ano, não necessariamente as aulas
precisam ser iguais, mas que, ao contrário, o que pude notar, na prática docente de modo geral,
é que geralmente as aulas se diferenciam, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo.
Inclusive, eu, ao longo de minhas vivências de estágio deste semestre, tive a oportunidade de
conversar com o professor Sérgio Ramos sobre isso; sobretudo conversas posteriores às aulas,
onde eu, juntamente com outros colegas do estágio, tivemos a oportunidade de esclarecer
diversas questões com o professor Sérgio Ramos, que sempre se mostrou bastante aberto e
receptivo ao debate, não apenas enquanto professor do Colégio de Aplicação – e supervisor –
mas também, enquanto orientador da disciplina de Estágio Supervisionado III.

3
Mais uma vez surge aqui uma abordagem de caráter inter ou transdisciplinar.
2.1.3. Aula: 20/03/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00
Esta aula foi dedicada a composição e organização de grupos para a apresentação de
seminários com temáticas filosóficas. O professor Sérgio Ramos permitiu que as sugestões de
temas fossem provenientes dos próprios alunos. Surgiram vários temas – entre eles, niilismo,
pena de morte, psicose, etc. –, mas os que ficaram, de maneira definitiva, foram os seguintes:
1) pós modernidade, 2) redes sociais, 3) comportamento predatório e consumismo, 4)
existencialismo, 5) machismo e 6) o que é o belo?. O mais interessante foi perceber a
empolgação e agitação da turma para decidir sobre os temas. Isso mostrou que eles estavam
realmente bastante interessados em propor os temas em questão. Por outro lado, a agitação
tornou um pouco difícil a sistematização da reflexão, mas a agitação não chegou a comprometer
a organização dos grupos, uma vez que estes formaram-se com sucesso.
Após a formação dos grupos e definição dos temas e possíveis datas de apresentações,
o professor Sérgio Ramos iniciou a aula de Filosofia, tratando de um panorama geral da história
da filosofia, desde a antiguidade até a contemporaneidade. O professor Sérgio Ramos fez uma
linha do tempo, onde ele pontuou as principais características e questões que dizem respeito a
cada período histórico abordado. No que se refere à filosofia antiga, o professor Sérgio Ramos
destacou dois temas que são comuns a esse período histórico, a saber, a temática acerca do ser
e do questionamento acerca da realidade. No que diz respeito à filosofia medieval, o professor
Sérgio Ramos enfatizou que o define este período histórico enquanto tal é a relação e tensão
existente entre fé e razão. Uma questão que surge nesse período, por exemplo, é: “como
conciliar fé e razão, de modo que seja possível uma investigação filosófica?”. No que se refere
à modernidade, o professor Sérgio destacou algumas noções, que, sem dúvidas, são centrais
para o período histórico em questão, a saber, os conceitos de subjetividade e autonomia da
razão, por exemplo. Por último, no que se refere à filosofia contemporânea, o professor Sérgio
Ramos destacou que o que define o período histórico em questão é a crise e crítica da razão,
da subjetividade e da metafísica. Achei bastante interessante e coerente o modo como ele
elaborou a síntese deste período histórico, pois, antes de tudo e principalmente, atende a uma
exigência de didática propriamente filosófica.4
2.1.4. Aula: 21/03/19 – 3° ano B – horário: 07h20 às 09h00

4
Chamo aqui de didática propriamente filosófica, a preocupação de transposição dos conteúdos filosóficos, de
modo que seja coerente, isto é, que atenda, por um lado, um acesso e, por outro, que este não se deturpe o conteúdo,
ou seja, que os conteúdos mantenham sua consistência e rigor. O mais interessante é que nós, estudantes de
filosofia e estagiários, tivemos oportunidade de abordar este problema tanto de um ponto de vista teórico, quanto
prático, nas vivências proporcionadas pelo estágio.
O professor Sérgio Ramos antes de iniciar a aula propriamente dita, enquanto realizava
a chamada, convidou cada um dos alunos para levar os cadernos para que ele pudesse corrigir
a atividade que ele havia passado para ser feita em casa. Após isso, ele iniciou a aula cuja
temática foi mito.
O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula trazendo algumas questões provocativa,
como, por exemplo, a questão: “será que conseguimos nos dissociar totalmente dos mitos, ou
ao contrário, ele ainda está bastante presente nos valores e crenças da humanidade como um
todo?”. Além disso, o professor Sérgio Ramos mencionou alguns símbolos que são próprios do
mito, desde suas origens, como é o caso do fogo, a busca pelo esclarecimento, a explicação das
origens, o ritual, o conhecimento, etc. Ele deu o exemplo do mito de Prometeu em aula. Indicou
para os alunos assistirem um documentário, intitulado “A Guerra do Fogo” de 1981, dirigido
por Jean-Jacques Annaud, onde se aborda uma reconstituição da pré-história, tendo como eixo
a descoberta do fogo.
Para aprofundar na temática do mito, mais especificamente no que diz respeito ao seu
poder, desde suas origens até os dias de hoje, o professor Sérgio abordar mais detalhadamente
o Mito do Destino Manifesto com os alunos, que se refere basicamente a um mito criado pelo
povo norte-americano, onde a partir daquele estes julgavam-se o povo eleito por Deus para
comandar e dominar o mundo. O fato que eu destacaria, para além da relevância em si do tema,
diz respeito a abordagem que o professor Sérgio adotou, a saber, a de demonstrar como essa
ideia não surge esporadicamente, mas que ela é datada, e que possui um início remoto, que
remete à Idade Média, onde perpassa-se toda a modernidade, até se chegar a consolidação do
mito propriamente dito.5 O professor Sérgio Ramos iniciou a abordagem histórica do Mito do
Destino Manifesto mencionando Paulo (século I d.c.), com a teologia da eleição divina e fé
humilde. Dando continuidade, menciona Santo Agostinho (século IV d.c.), com a doutrina da
predestinação e o pecado original6. Em seguida, o professor Sérgio aborda o momento histórico
da Reforma Protestante, antes de tudo com Lutero, para depois chegar em Calvino de modo
mais detalhado, uma vez que este introduz uma noção que já está muito mais próxima do Mito
do Destino Manifesto, a saber, a noção de predestinação absoluta. Mais adiante, no século
XVII, há um rompimento da política com relação a religião – que até então caminhavam juntas

5
Esse tipo de abordagem contribui para que os alunos tenham o conhecimento que ideia não surgem do nada, mas
que, ao contrário, esta necessariamente se refere a um processo histórico, que está para além de nós enquanto
indivíduos e sociedade.
6
Com essa noção de predestinação a humanidade passa a dividir-se entre aqueles que são os escolhidos para ser
salvos e, ao contrário, aqueles que não são os escolhidos.
– rumo a formação de uma noção de puritanismo, na Inglaterra com Lord Cromwell.7 Nesse
mesmo século vale destacar que houve a 1° assimilação dos judeus, tal como o professor Sérgio
Ramos destaca em sua aula. Posteriormente, no século XVIII há a guerra e independência dos
Estados Unidos, e a introdução de sementes mais próximas do puritanismo e de uma noção de
Nova Jerusalém e de Paraíso Terrestre, com George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin
Franklin. No século XIX, houve a guerra com o México e a consequente expansão para o oeste.
Daqui em diante, vem a guerra da secessão, a 3° guerra civil inglesa, e a consolidação da noção
de Destino Manifesto. No século XX, há a consolidação de uma hegemonia anglo-americana
no que diz respeito a formação de modo de pensar o mundo e suas relações de poder. Por último,
no século XXI há a guerra ao terror.8

2.1.5. Aula: 22/03/19 – 1° ano B – horário: 09h20 às 11h00


Neste dia poucos alunos foram a aula, pois houve uma paralisação em protesto à reforça
da previdência. O professor Sérgio Ramos, apesar disto, deu continuidade as aulas. Na verdade,
ele dedicou esta aula para discussão e organização dos grupos para apresentação dos seminários
da turma. Antes de tudo, foi organizado a ordem de apresentação dos grupos. Além disso, é
importante ressaltar que, aqui nesta turma – tal como no 1° ano A – o professor Sérgio Ramos
deixou os alunos livres para sugerirem temas filosóficos para a apresentação dos seminários.
Novamente, surgiram várias propostas de temas, e dentre todos mencionados, os que ficaram
como definitivos foram os seguintes: 1) drogas, 2) estética, 3) dinheiro e sexo, 4) liberdade de
expressão, 5) amor, 6) relacionamentos tóxicos. Após decidido os temas e as datas, o professor
Sérgio ressaltou que gostaria de que as reflexões trazidas nas apresentações fossem
sistematizadas e fundamentadas desde um ponto de vista filosófico. Sua preocupação referia-
se sobretudo ao fato da maioria dos temas selecionados serem temas do cotidiano, o que quer
dizer que não necessariamente são abordados desde uma perspectiva filosófica, mas que, ao
contrário, há até mesmo uma tendência aos alunos tratarem desses temas de maneira mais solta,
uma vez que estão presentes no cotidiano de cada um, o que por sua vez leva a uma tendência
de abordagem por meio do senso comum. No entanto, o professor Sérgio Ramos deixou claro
que, embora os temas não fossem necessariamente filosóficos, eles poderiam sim ser avaliados

7
Aqui, de um ponto de vista histórico, também surge uma noção mais próxima do que se desenvolveria
completamente posteriormente, de WASP, que significa, em português, branco anglo-saxão e puritano, enquanto
povo “elegido”, ao menos do ponto de vista do mito, para ser salvo e, consequentemente, com legitimidade de
dominação.
8
Aqui mais uma vez podemos destacar a abordagem inter ou transdisciplinar, muito utilizada pelo professor Sérgio
Ramos em suas aulas. No caso desta aula, torna-se evidente a relação mais evidente com a disciplina de geopolítica.
e apresentados de uma perspectiva filosófica, desde que sejam feitas pesquisas fundamentadas
em autores que já pensaram sobre o tema de maneira rigorosa e esquemática e não ficar em uma
fundamentação apenas baseada no senso comum.
Em seguida, o professor Sérgio Ramos iniciou uma exposição visando uma
contextualização geral dos temas escolhidos. Em sua exposição, o professor Sérgio Ramos
abordou um autor britânico da filosofia moderna, bastante estudado, principalmente no que diz
respeito à epistemologia, ética e filosofia política, a saber, John Locke. Após feito uma breve
contextualização do autor em questão – que envolveu uma caracterização do que significa e da
importância que este autor teve para o desenvolvimento da concepção de liberalismo e,
consequentemente, da noção de propriedade privada – o professor Sérgio Ramos iniciou uma
reflexão acerca do conceito de ideologia, com uma ênfase mais voltada ao conceito de
sexualidade. Além disso, o professor Sérgio mencionou e indicou a obra e o filme (dirigido por
Joe Wright) Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Após isso, o professor Sérgio Ramos
iniciou uma reflexão sobre a questão das drogas, destacando que é possível trazer a tona na
apresentação do seminário essa questão abordada sob diversas perspectivas, isto é, não apenas
filosófica, mas também dentro de uma perspectiva sociológica ou antropológica, por exemplo.
Aqui, mais uma vez, o professor fez questão de ressaltar que não se trata de dar opinião, mas
de fundamentar o tema em pesquisas sérias e já consolidadas.9
Por último, o professor Sérgio Ramos definiu que queria um trabalho escrito de cada
grupo, sobre o tema desenvolvido. Além disso, recomendou para a leitura a obra Capital no
Século XXI de Thomas Piketty.

2.1.6. Aula: 25/03/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


De início, o que me chamou a atenção nesta aula foi a maneira que a turma estava quieta
e tranquila antes da aula propriamente dita iniciar – o que é incomum, pois, na maioria das
vezes, o que notamos é que os alunos ficam bastante agitados até que a aula realmente comece.
O professor Sérgio Ramos antes de iniciar a aula, chamou cada aluno individualmente para
corrigir a atividade realizada no caderno.10 Nesta aula, dentro da temática de Filosofia da
Ciência, o professor Sérgio Ramos abordou etapas que fazem parte da ciência enquanto tal, a
saber, noções acerca de evidências, teoria e hipóteses, autonomia e validade/objeto/método.

9
Destaco que achei bastante coerente essa preocupação do professor Sérgio Ramos quanto à fundamentação da
apresentação, pois esses temas, como já apontado pelo professor Sérgio Ramos, tendem a uma abordagem pelo
senso comum, uma vez que é um tema próximo de cada um, de certo modo.
10
Destacaria que achei extremamente importante o fato de Sérgio ter cobrado dos alunos as referências
bibliográficas utilizadas para a realização da atividade.
Para apoiar a abordagem teórica acerca deste tema, o professor Sérgio Ramos utilizou como
exemplo a discussão acerca do “aquecimento global”. Além disso, o professor Sérgio, inserido
no contexto do debate, mencionou o conceito de hipótese gaia de James Lovelock, que se refere
a ideia que o planeta é um organismo vivo e dinâmico.
Ainda nesta aula, o professor Sérgio Ramos iniciou uma discussão acerca do conceito
de pós-verdade, que se refere, basicamente, à contemporaneidade, isto é, uma sociedade que é
caracterizada e organizada por bolhas sociais, onde cada um (ou cada grupo) rege-se e orienta-
se por sua “verdade”, seja esta individual ou coletiva. Para fundamentar a discussão acerca deste
conceito, a saber, o de pós-verdade, o professor Sérgio Ramos inicia sua exposição na
antiguidade, com Platão, fazendo menção à sua conhecida alegoria da caverna, presente em sua
obra A República. De acordo com o professor Sérgio Ramos – e concordo totalmente com ele
neste ponto – podemos fazer um paralelo com a alegoria de caverna apresentada por Platão
com o mundo contemporâneo, onde, como já dito, cada um vive dentro de sua bolha, que é uma
“verdade” construída, sobretudo pelas mídias digitais e sociais. No entanto, o professor Sérgio
Ramos ressalta que o nosso tempo possui uma especificidade que o diferencia da “caverna”
apresentada por Platão, que é o fato de que, atualmente, existe a formação de camadas de
realidade. Isso quer dizer que, não se trata apenas, hoje em dia, de saber a verdade ou a
falsidade, mas que a própria tensão dilui-se, uma vez que os próprios meios constroem tão bem
o que seja cada uma destas, que se torna quase impossível atingir-se a verdade por trás das
construções realizadas pelas mediações. Outra característica própria do nossos tempo, que nos
diferencia do contexto analisado por Platão, é que neste, diferentemente de hoje, as pessoas
queiram saber a verdade; hoje as pessoas contentam-se com os que lhes é apresentado, que na
maioria das vezes diz respeito ao que cada um quer ver ou ouvir, fato que dificulta ainda mais
o exercício da crítica e da problematização. Ou seja, não se trata apenas de estar enganado, mas
de querer e desejar ser enganado, justamente porque isto legitima e reforça uma crença que é
conveniente para um sujeito (ou grupo) que é adepto a tal modo de pensar. Além disso, o
professor Sérgio Ramos menciona que a ciência é uma luta contra a ignorância. Por isso, em
qualquer pesquisa faz-se necessário trabalhar com fontes seguras e legitimadas pela
comunidade científica ou filosófica.
Por último, o professor Sérgio Ramos faz algumas considerações acerca da bíblia. De
modo mais preciso, ele diz que há duas leituras possíveis: 1) literal e 2) simbólica. Os alunos
se instigaram bastante para discutir sobre isso, e surgiram várias posições distintas na discussão.
Não deu tempo de avançar muito no debate, pois já estava no final da aula.
2.1.7. Aula: 25/03/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00
O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula com as correções das atividades que haviam
sido passadas na última aula, e na retomada da discussão sobre os grupos, a fim de esclarecer
os grupos que iam começar a apresentação, e quais eram os temas, quem eram os alunos de
cada grupo, quais eram as datas, etc.
Posteriormente, o professor Sérgio Ramos desenvolveu com a turma o que já havia
realizado, de certo modo, na aula anterior, a saber, discutir os conceitos de evidências, teorias
e hipóteses, etc. Como já dissemos anteriormente, trata-se de uma discussão acerca da temática
Filosofia da Ciência. O professor Sérgio Ramos também mencionou nessa aula o conceito de
hipótese gaia. Em seguida, o professor Sérgio Ramos introduziu em sala um debate
correlacionado à astronomia, que trata de questões relacionadas a buracos de minhoca no
universo, anos luz, buraco negro, etc. A intenção de Sérgio aqui é a de, principalmente, mostrar
que estas questões podem ser debatidas também dentro de uma perspectiva filosófica, uma vez
que a filosofia, além de tudo, é um questionar-se e uma investigação constante do real.
Após esse debate, o professor Sérgio Ramos, dando continuidade a aula, falou acerca
de modelos científicos. Ele disse que, por exemplo, o modelo matemático é diferente do modelo
físico. Nesse contexto ainda, o professor Sérgio Ramos pontuou que, apesar de toda validade e
seriedade da ciência, esta não cria verdades absolutas, mas que, pelo contrário, a atividade
científica autêntica caracteriza-se justamente por uma investigação que jamais coloca um ponto
final nas questões, mas que sempre está em busca de novas descobertas, mas não de modo
disperso, e sim com rigor e método próprios da ciência.
Retomando o debate acerca do aquecimento global, o professor Sérgio Ramos esclarece
que os grupos que negam a existência do fenômeno do aquecimento global, na verdade, são
grupos que se vinculam a teologia do arrebatamento, que concebem que os indivíduos que
serão salvos, no fim dos tempos, já estão, independentemente de qualquer ação e atitude perante
o mundo.

2.1.8. Aula: 27/03/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00


O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula retomando brevemente a discussão sobre os
grupos de apresentações dos seminários. Após isso, o professor Sérgio Ramos iniciou uma aula
sobre filosofia contemporânea. Antes de partir para os pensadores contemporâneos
propriamente, o professor Sérgio Ramos julgou interessante e pertinente iniciar a reflexão com
Kant, que, de qualquer forma, é um marco de transição da modernidade para a
contemporaneidade, sobretudo no que diz respeito a sua colocação que defende que “a coisa
em si” (que ele também chama de númeno) é incognoscível, o que é o mesmo que dizer que
não pode ser conhecida, e nem sequer apreendida pelo sujeito. Após esta posição de Kant, uma
longa tradição se desenvolve em diálogo com este autor, tanto no sentido de concordar quanto
de discordar do mesmo. Dentro deste debate, a posição que se tornou uma das mais importantes
– senão a mais – de discordância com relação ao caráter incognoscível da “coisa em si” é Hegel,
que justamente acredita, grosso modo, que é possível ir para além dos dados imediatos dos
fenômenos até chegarmos ao conhecimento mais íntimo das coisas, isto é, da “coisa em si”.
Após as breves considerações nos dois autores mais importantes – de um ponto de vista
da transição do pensamento moderno para o pensamento contemporâneo –, o professor Sérgio
Ramos faz uma breve linha do tempo, que demarca alguns nomes centrais da Filosofia
contemporânea. Estes foram os pensadores citados pelo professor Sérgio Ramos:
Schopenhauer, Heidegger, Freud, Bakunin, Nietzsche e Einstein.11 No que diz respeito à
Schopenhauer, o professor Sergio Ramos abordou sobretudo a discordância entre este pensador
e Hegel, e também que sua filosofia desenvolve-se em um contexto sobretudo de crise do
pensamento metafísico. Na verdade, o professor Sérgio Ramos acrescenta, o contexto de crise
do pensamento metafísico não diz respeito apenas ao desenvolvimento do pensamento de
Schopenhauer, mas da filosofia contemporânea como um todo. No que diz respeito à Nietzsche
e a Freud, diz que estes pensadores também partem e desenvolvem-se a partir de um contexto
de crise, mas aqui trata-se de uma crise da filosofia da consciência, que foi inaugurada com
Descartes, sobretudo com a noção de cogito, isto é, de sujeito enquanto substância. Nietzsche
e Freud são autores que não apenas partem de tal crise de uma filosofia da consciência, como
contribuem ainda mais para o aprofundamento desta crise, na medida em que atacam
radicalmente esta noção de Descartes do sujeito enquanto substância, pois, na verdade,
Nietzsche e Freud irão desenvolver e trabalhar com uma noção de indivíduo bastante distinta
da de Descartes, a saber, com um sujeito descentrado, que é influenciado por pulsões, que vão
além do que a consciência pode controlar e esquematizar. Ainda nesse contexto, o professor
Sérgio Ramos inicia uma explicação acerca de três conceitos centrais na obra de Freud, a saber,
os conceitos de id, ego e super-ego, que referem-se respectivamente, ao inconsciente,
consciente e super-consciente (âmbito da cultura e dos valores presente no sujeito).12 Além da
exposição do professor Sérgio Ramos, os alunos colocaram várias questões – o que fez com

11
A princípio, pode parecer estranho ver um autor como Einstein ser citado. No entanto, tal como o professor
Sérgio Ramos esclareceu muito bem, as discussões em Einstein não se reduzem à questões da física, mas também
há neste autor questões filosóficas.
12
O que me chamou mais atenção nesse ponto específico foi perceber os alunos bastante interessados em Freud,
ou seja, colocando muitas questões e interagindo bastante. Acredito que isso é muito positivo, não apenas porque
Freud é um pensador central na história do pensamento ocidental, como também é muito bom já ver os estudantes
tendo acesso a uma discussão tão instigante já no ensino médio.
que surgisse um debate – sobretudo no que diz respeito à temáticas relacionadas a noções,
também centrais na obra de Freud, como histeria, trauma, regressão, psicopatologias, psicopatas
e sociopatas, etc.13
Para concluir a aula, ainda no sentido da discussão acerca de Freud – que durou bastante,
sobretudo ao levarmos em conta o interesse que os alunos demonstrar ter nessa discussão –, o
professor Sérgio Ramos apresentou que o conceito de inconsciente que Freud apresenta faz com
que a liberdade humana se torne questionável, uma vez que com tal noção a consciência torna-
se uma ponta do iceberg e, nesse sentido, nem tudo o que fazemos estar sob o nosso controle.
O professor Sérgio Ramos utilizou uma metáfora muito boa, neste momento, para explicar esta
concepção de Freud. Ele disse que em Freud o “eu” não é senhor da sua própria casa, no sentido
de que, ele não controla tudo, mas que, pelo contrário, é mais controlado do que controlador.

2.1.9. Aula: 28/03/19 – 3° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula, basicamente, o professor Sérgio Ramos desenvolveu uma exposição acerca
do mito do destino manifesto, que já mencionamos anteriormente em uma das aulas já
abordadas. De modo mais detalhado, o professor falou sobre os conceitos de teologia da fé e
teologia da caridade em Paulo, que depois irá influenciar o filósofo Santo Agostinho, que por
sua vez, irá influenciar Lutero e Calvino, até que se chegue a Lord Cromwell, onde irá se
desenvolver o mito em questão de modo mais específico.

2.1.10. Aula: 01/04/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula, o professor Sérgio retoma a discussão sobre dados e evidências científicas.
Ele menciona e indica um documentário da BBC, cujo título é “O Jardim de Darwin”. Ainda
no que diz respeito à Darwin, o professor Sérgio Ramos esclareceu que Darwin foi responsável
não apenas por fundar uma teoria biológica, como também por fundar uma teoria social, a saber,
o darwinismo social, concepção que está diretamente ligada a legitimação do nazi-fascismo,
por exemplo. Além disso, o professor introduz uma questão acerca da especificidade do pavão.
A questão foi a seguinte: “o pavão é uma exceção do processo evolutivo?”. Mas ele deixou em
aberto para que os alunos pesquisassem melhor em casa.
Posteriormente, ao longo da aula, surgem várias outras questões, como a retomada da
reflexão sobre a teoria gaia, mas também, uma discussão sobre a teoria do caos – que está
ligada ao fenômeno de causalidades não locais –, a abordagem da distinção entre Jesus histórico

13
Destacaria aqui, de maneira positiva, o profundo conhecimento que o professor Sérgio Ramos demonstrou ter
aqui, pois ele lidou com todas as questões e deu respostas bastante coerentes às questões colocadas.
e Jesus da teologia14. Além disso, falou um pouco sobre a posição que defende que Jesus não
existiu, a saber, dos miticistas. Alguns destes autores são – que foram os mencionados na aula:
Volney, David Strauss e Bruno Bauer. Por último, o professor Sérgio Ramos indicou para
leitura um texto intitulado “como a indústria do cigarro usou a pós-verdade” de Lilian Milena15.

2.1.11. Aula: 01/04/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


Nesta aula, o professor Sérgio Ramos desenvolveu reflexões acerca da distinção e
relação entre natureza e cultura, mas também, retomou a discussão sobre o conceito de pós-
verdade, que por sua vez, relaciona-se a noção de bolhas sociais. Mais uma vez, o professor
Sérgio Ramos traz uma metáfora muito interessante, nesse contexto, ao dizer que uma das
tarefas da filosofia é justamente a de furar as bolhas, a partir do momento em que ela identifica
e consegue reconhecer as falhas das bolhas. Por último, diz que a discussão acerca desse
conceito não se limita apenas à filosofia, mas cabe também a disciplinas como a sociologia e a
antropologia, por exemplo.

2.1.12. Aula: 04/04/19 – 3° ano B – horário: 07h20 às 09h00


De modo geral, nesta aula, o professor Sérgio Ramos desenvolveu uma reflexão acerca
do conceito de anglo-sionismo, apontando sobretudo para seu desenvolvimento histórico e sua
relação com o contexto de pós guerra, que por sua vez, se relaciona ao imperialismo norte-
americano, a guerra fria, a revolução colorida, a primavera árabe, a guerra híbrida, etc.
Além disso, o professor Sérgio Ramos, trouxe uma reflexão acerca da temática Filosofia
da História, em autores como Santo Agostinho, Hegel e Walter Benjamin, mostrando os pontos
de convergências e divergências entre eles.

2.1.13. Aula: 08/04/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula, o professor Sergio Ramos retomou o debate acerca da divergência entre
Jesus histórico e Jesus teológico. Além disso, retomou a discussão acerca dos miticistas, que se
refere a uma posição que defende que Jesus não existiu. O professor Sérgio Ramos nesta aula
desenvolve mais detalhadamente esta discussão e faz uma linha do tempo de alguns pensadores
que estão inseridos nesta posição. São eles: Volney, Bruno Bauer, Friedrich Strauss, Gandhi,
Robert Price e René Salm. Além de apresentar esta linha do tempo, ele apresenta quatro teses

14
Onde o professor Sérgio Ramos esclareceu que ele estaria se referindo ao Jesus Histórico na aula.
15
Disponível em: https://jornalggn.com.br/midia/fatos-nao-garantem-vitoria-no-mundo-da-pos-verdade/
que faz parte deste posicionamento de modo geral, são elas: 1) o evangelho é uma fonte histórica
problemática: a) não temos as fontes, b) não conhecemos os autores, c) há contradições e d) há
informações erradas; 2) Nazaré não existiu; 3) Midrash Halacá e 4) o Jesus não histórico é uma
recapitulação dos homens divinos do paganismo.

2.1.14. Aula: 08/04/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


De modo geral, nesta aula o professor Sérgio Ramos retomou às discussões acerca de
métodos científicos, darwinismo social e a questão da autonomia das ciências, que ele
relacionou a questão da existência (ou não) de Jesus. Além disso, pontuou a posição de
Feuerbach, que defende que toda teologia é uma antropologia, uma vez que, para este autor,
Deus é uma ideia proveniente do humano, que é, na verdade, uma projeção de si mesmo para
algo maior.

2.1.15. Aula: 10/04/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Esta aula foi dedicada a projeção do filme Matrix. Não foi possível concluir o filme
completo e, por isso, ficou decidido que na próxima aula iriam concluir o filme.

2.1.16. Aula: 11/04/19 – 3° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula, o professor Sérgio Ramos dando continuidade ao desenvolvimento do tema
que relaciona mito e poder, continuou com a exposição acerca do mito do destino manifesto.
Além disso, retomou e deu continuidade às reflexões acerca da teologia do arrebatamento,
destacando o seu desenvolvimento histórico, que vai desde Descartes até Darwin e as teorias
médicas, posteriormente, que legitimaram a noção de eugenia, que serviu como fundamentação
para o nazismo perseguir e matar judeus em massa, sob o argumento em prol de uma raça pura
e superior. O professor Sérgio Ramos demonstra o quanto o mito em questão influenciou o
desenvolvimento da suposta legitimidade do nazismo.
Além disso, o professor Sérgio Ramos, ainda nesse contexto, expôs algumas estratégias
de atitudes que devem ser tomadas perante o mito. São elas: 1) desmistificar (combater o falso
logos), 2) desmitologizar (descobrir o poder revelante do mito, que é uma operação de
compreensão).
Por último, o professor Sérgio Ramos expôs algumas definições de mito: 1) cosmofania
teo-críptica, que refere-se ao mistério e surgimento do mundo; 2) “o mito é o nada que é tudo”
(Fernando Pessoa); 3) a mitologia não esgota o ser do mito, que é o princípio da temporalidade
e é fonte de toda doação de sentido. O mito é menos a narrativa da origem do que a origem de
toda a narrativa.

2.1.17. Aula: 15/04/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


O professor Sérgio Ramos dedicou esta aula para promover um debate acerca do
conceito de agnotologia, que se refere a um estudo da negação do conhecimento, processo que
tem relação com o fenômeno atual da pós-verdade. Além disso, Sérgio passou, para lerem em
casa, a leitura do texto “a opinião pública não quer a verdade, quer confirmar crenças” 16 de
Cíntia Alves.

2.1.18. Aula: 15/04/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


Levando em consideração que esta aula foi bastante semelhante – no que diz respeito
ao conteúdo – à aula do dia 08/04/19, no 2° ano B (seção 2.1.13), não vamos desenvolver
detalhes acerca dela aqui.

2.1.19. Aula: 22/04/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Devido a pouca quantidade de alunos que deu nesta aula, o professor Sérgio Ramos
propôs uma dinâmica. Ele pediu para que os alunos se dividissem em seis grupos de três alunos
cada um, onde todos iriam ler o texto “a opinião pública não quer a verdade, quer confirmar
crenças” de Cíntia Alves, para depois serem respondidas três questões a partir do texto. Foram
as seguintes questões: 1) de que trata?; 2) o que você acha?; 3) que fazer?17.

2.1.20. Aula: 22/04/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


Nesta aula, o professor Sérgio Ramos cobrou dos alunos que fosse realizada a mesma
dinâmica que foi realizada na aula anterior, da outra turma, mas só que, nesse contexto, o texto
em questão seria o “como a indústria do cigarro usou a pós-verdade” de Lilian Milena. Sérgio
passou as mesmas questões que foram citadas na atividade da aula anterior, com a outra turma.
Após a realização desta dinâmica, ainda nesta aula, o professor Sérgio Ramos defendeu
que vivemos em uma era da ignorância e, que, portanto, é necessário distinguir informação de
conhecimento, que não é o mesmo. Retomou o debate sobre agnotologia. Por último, disse que

16
Disponível em: https://jornalggn.com.br/midia/ignacio-ramonet-a-opiniao-publica-nao-quer-a-verdade-quer-
informacoes-que-confirmam-suas-crencas/
17
Achei as questões passadas pelo professor Sérgio Ramos interessantes, porque elas exigem dos alunos,
respectivamente, 1) capacidade de compreensão e interpretação de texto, 2) formação de comentário crítico e 3)
proposta de intervenção.
atualmente, para resistirmos a era da ignorância, devemos estimular a curiosidade, e não
somente o conhecimento.

2.1.21. Aula: 29/04/19 – 2° ano B – 07h20 às 09h00


O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula com a leitura do texto “sobre cisternas e
fontes” de Rubem Alves. Após a leitura conjunta em sala de aula, o professor Sérgio Ramos
iniciou uma reflexão sobre a educação, onde ele fez um paralelo da cisterna enquanto análoga
ao modelo de educação conteudista e da fonte enquanto análoga a uma educação que estimula
o pensamento crítico e a criatividade. O professor Sérgio Ramos também fez um paralelo da
cisterna enquanto conhecimento e da fonte enquanto curiosidade. Nesse sentido, a fonte seria
mais interessante do que a cisterna.
Antes do término da aula, o professor Sérgio Ramos permitiu que o residente Guilherme
Nogueira fizesse uma exposição, que iria servir como orientação para os estudantes que estavam
estudando para o seminário, acerca dos princípios metafísicos da ciência natural. Foi uma
dinâmica muito interessante, pois acredito que estas dinâmicas favorecem a todos, isto é, tanto
o residente enquanto docente em formação, pois ele estará desenvolvendo sua habilidade de
exposição e transposição didática e, por outro lado, aos alunos, que podem ter acesso a uma
dinâmica que foge um pouco da rotina, o que acredito que seja estimulante e interessante para
eles.

2.1.22. Aula: 29/04/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


O professor Sérgio Ramos traz enquanto tema para esta aula uma reflexão acerca da
natureza do positivismo, que consiste, em um de seus aspectos, em uma exaltação da ciência,
na medida em que julga a ciência a única via possível de se atingir o conhecimento. Porém, o
professor Sérgio Ramos destaca que é possível problematizar tal posição e fazer alguns
questionamentos, que remetem ao limite da própria ciência. Por exemplo, o professor Sérgio
Ramos defende, nesse sentido, que toda teoria é um enquadramento e que, em oposição às
teorias, a realidade está sempre desafiando os enquadramentos. Por último, o professor Sérgio
Ramos defende que o verdadeiro remédio para a ignorância não é o conhecimento, mas a
curiosidade.

2.1.23. Aula: 02/05/19 – 3° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula, o professor Sérgio Ramos abordou a seguinte sequência de conteúdos e
reflexões: 1) mitos, 2) tenso entre mito e razão e 3) pré-socráticos.
No que diz respeito ao primeiro tópico, o professor Sérgio Ramos trouxe a definição de
mito de Fernando Pessoa, a saber, “o mito é o nada que é tudo”. Além disso, expôs qual é atitude
ideal perante o mito, que seria a 1) desmitologização (combater o mito) e 2) descobrir o poder
revelante do mito (desmitização).
No que se refere a tensão entre mito e razão, o professor Sergio Ramos introduziu dois
conceitos, a saber, o de arché, que remete à origem, e o de aitia, que remete à causalidade.
Além disso, vale ressaltar que, tal como o professor Sérgio Ramos apresentou, de um ponto de
vista do mito a causalidade é extrínseca e inessencial, enquanto que, de um ponto de vista da
razão a causalidade é intrínseca e essencial.
Por último, o professor Sérgio Ramos fez uma exposição sobre os Pré-Socráticos. De
modo geral, o professor Sérgio Ramos apresentou qual é a proposta de explicação de totalidade
da realidade segundo Tales de Mileto, que seria a de conceber que a arché é a água. Nesse
sentido, Tales pode ser caracterizado como um hilozoísta18. Além disso, ele faz uma breve
exposição de Anaximandro e seu conceito de apeiron (indeterminado), mas também de
Anaxímenes e a proposta de pneuma (ar) enquanto proposta de arché, de Heráclito e a noção
de panta rei e logos e, por fim, de Pitágoras e a noção de número como princípio fundamental
de todas as coisas.19

2.1.24. Aula: 06/05/19 – 2° ano B – horário: 07h20 às 09h00


Esta aula contou com a presença de poucos alunos, pois a maioria havia viajado para a
Irlanda – viagem que foi promovida pela escola. Nesta, o professor Sérgio Ramos passou em
sala um documentário intitulado “O Último Dia dos Dinossauros”, que foi dirigido por Richard
Dale Clark.
Após o término do documentário, o professor Sérgio Ramos fez um breve comentário
sobre o documentário. Em seguida, abriu-se para discussão e comentários dos alunos.

2.1.25. Aula: 06/05/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00


O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula com a leitura do texto de Rubem Alves, a
saber, o texto intitulado “Sobre Cisternas e Fontes”. Após a leitura, houve um momento para
reflexão com comentários tanto do professor Sérgio Ramos quanto dos alunos.

18
Os hilozoístas consideram que toda a realidade, está dotada de sensibilidade e, portanto, animada por um
princípio ativo.
19
Achei esta aula bastante interessante, pois o professor Sérgio Ramos não apenas fez uma exposição em sentido
conteudista, mas também reflexiva, na medida em que, ao mesmo tempo que falava acerca do conteúdo, levantava
questões para os alunos refletirem.
Em seguida, o professor Sérgio Ramos retomou a discussão acerca do conceito de pós-
verdade. E, por fim, o professor permitiu que Thiago – que é do programa Residência
Pedagógica em filosofia – fizesse uma exposição dentro da temática de Filosofia da Linguagem,
mais especificamente, sobre a tensão que há entre duas tradições distintas, a saber, o
internalismo e o externalismo. Esta exposição teve por finalidade a orientação dos alunos do
seminário que já iriam apresentar na próxima aula acerca da temática em questão. Além disso,
vale ressaltar que o residente teve um momento de orientação mais detalhado com os alunos
em outro momento.

2.1.26. Aula: 08/05/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Esta aula iniciou-se com uma reflexão acerca do filme Matrix. De modo a propor uma
reflexão, o professor Sérgio Ramos escreve no quadro: “Da caverna de Platão até a internet
vivemos uma experiência de interface, em que não experimentamos propriamente o real (somos
expectadores, consumidores, usuários), mas signos mentais da realidade”.
Em outro momento da aula, o professor Sérgio Ramos introduziu a seguinte questão, a
fim de promover um debate na sala: “o que é subjetividade?” Quanto às respostas dos alunos,
surgiram várias interessantes. Em síntese, estas foram as respostas dos alunos: particularidade;
ponto de vista; margens da interpretação; ego; relatividade; individualidade; opinião. Após o
momento de resposta e reflexão dos alunos, o professor Sérgio Ramos, antes de tudo, elogia as
respostas dos alunos pois todas se referem ao conceito em questão, mas, a fim de abordar de
modo rigoroso de um ponto de vista filosófico, ele irá dizer que este conceito surge na
modernidade e, que, sendo assim, a noção que temos de sujeito ainda hoje é moderna. Esta
noção de sujeito da modernidade diferencia-se da noção de sujeito na antiguidade, por exemplo
– tal como o professor explicou em sala. De modo mais específico, o professor explicou que
subjetividade é um termo que deriva do grego subjectum, que por sua vez, remete-se ao conceito
de substância, isto é, algo que é o fundamento – aquilo que permanece na mudança – de
qualquer que seja a coisa. Na antiguidade tudo é subjectum, ou melhor, cada coisa possui o seu
subjectum. A partir de Descartes, apenas uma “coisa” passa a ter subjectum, a saber, o sujeito,
que também podemos denominar de indivíduo ou ego. Desse modo, o homem passa a ser o
“centro” de toda e qualquer análise. Nesse contexto, o professor Sérgio Ramos resgatou uma
frase de Heidegger que traduz bem essa noção de sujeito moderno: “o Eu é o ente que é a
medida de todo ente e fixa todas as normas” (Heidegger). Por fim, o professor Sérgio Ramos
menciona que esta noção de sujeito da modernidade originou uma tensão, antes inexistente,
entre subjetividade e objetividade.
2.1.27. Aula: 22/05/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00
Nesta aula iniciou-se a apresentação do primeiro grupo de seminário20, a saber, o grupo
sobre o conceito de pós modernidade. O grupo iniciou a apresentação com a seguinte questão:
“pra quê viver?”. Após a colocação desta questão, iniciou-se um debate bastante intenso entre
os alunos com o grupo acerca do sentido da vida, de modo geral. Surgiram diversas posições
nesse contexto. O professor Sérgio Ramos, diante do contexto deste debate, fez uma intervenção
com a colocação de uma questão, a fim de organizar mais o debate: “o sentido da vida é externo
(Deus) ou interno (razão)?”. O debate permaneceu intensamente por um longo período, de
modo tal que o grupo ficou até com um pouco de dificuldade para coordenar as falas, levando
em consideração que haviam muitos alunos querendo falar ao mesmo tempo, e ainda outros que
ainda não haviam falado, e aguardavam um momento de fala com a mão levantada. Após longo
tempo de debate, os alunos se acalmaram um pouco e o grupo conseguiu avançar mais com a
exposição. Dando continuidade a sua exposição, eles trouxeram a questão do fato histórico da
queda do Muro de Berlim ligado ao diagnóstico de crise das utopias, que se refere a ruptura
com os antigos modelos de pensamento. Eles também mencionam que o nosso tempo é marcado
por relações superficiais, principalmente quando olhamos para as relações desenvolvidas nas
redes sociais, como é o caso do Facebook e Instagram, por exemplo. A partir desta colocação,
iniciou-se outro debate com a turma, onde surgiram várias posições, ou seja, tanto posições
críticas com relação ao fato de nossas relações com as redes sociais quanto posições que
legitimam e defendem o uso das redes sociais sem maiores precauções. O debate se estendeu a
tal ponto que a aula terminou e ainda tinham alunos que queriam falar.

2.1.28. Aula: 29/05/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Nesta aula os alunos do grupo de pós modernidade deram continuidade a apresentação
deles. Eles iniciaram, na verdade, retomando o fio do condutor das questões que estavam sendo
debatidas no primeiro dia. Mais especificamente, coletando as falas de quem estava querendo
falar no encontro passado, mas que não tiveram tempo, já que a aula acabou e tinham muitos
inscritos. Com os alunos ainda bastante empolgados para participar do debate, logo o debate
ficou difícil de manter em ordem mais uma vez. Dentre todas as falas que surgiram, destacaria
algumas, como, por exemplo, a de um aluno que falou que diante do contexto atual “muitas
pessoas preferem viver mostrando que “vivem” mais do que vivendo propriamente”. Uma
problemática que perpassou todo o debate se referia sobretudo às redes sociais. Assim que o

20
Grupo que eu, juntamente com Talles, do programa Residência Pedagógica, tivemos a oportunidade de ter um
momento de orientação, que irei me deter mais detalhadamente em outro momento do relatório.
grupo teve oportunidade de dar continuidade a sua exposição, introduziram na apresentação o
conceito de narrativa a partir da obra de Jean-François Lyotard. Dentro da perspectiva deste
autor, em um contexto pós-moderno, as narrativas se afirmam e se legitimam por si mesmas,
isto é, sem necessitarem de uma fundamentação rigorosa, o que quer dizer que bastam ser
mencionadas e virem à tona que já são logo legitimadas e sustentadas. Além disso, daria
destaque a uma discussão que surgiu, dentro da temática em questão, acerca da noção de
conhecimento. Surgiram questões como: “é possível conhecer?”, “se sim, como isso seria
possível?”, “se não há conhecimento, o que há?”, “tudo é crença, então?”, “o que é a ciência?”,
“a ciência alcança a verdade sobre as coisas?”, “o conhecimento é necessário?”, “se sim, por
quê?”21. Mais uma vez, ocorreu novamente, do grupo ter pouco tempo para fazer uma exposição
do material preparado, tendo em vista que o debate ocupou a maioria do tempo das duas aulas.

2.1.29. Aula: 12/06/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00


Esta aula foi dedicada ao segundo encontro do grupo sobre Redes Sociais22. No primeiro
dedicaram a passar o episódio “Queda Livre” da série Black Mirror. Como não deu tempo de
passarem o episódio completo no encontro anterior, dedicaram um tempo desta aula para passar
o restante do episódio. Após o término do episódio, o grupo abriu para que comentários
pudessem se realizados. Isso possibilitou o início de um debate do grupo com o restante da
turma. A turma mais uma vez, demonstrou bastante interesse na participação do debate, o que
é ótimo. De modo semelhante ao que aconteceu com o outro grupo, neste encontro também
aconteceu de surgiram posições bastante antagônicas no debate, além de ter ficado pouco para
o grupo fazer uma exposição do material que foi elaborado por eles, devido ao tempo maior
dedicado ao debate. Dentre todas as questões debatidas – onde a maioria se assemelha as que
já surgiram na discussão trazida pelo grupo anterior – surgem as seguintes problemáticas: 1)
exaltação da vaidade nas redes sociais e 2) algoritmos, que nos induzem ao consumo e a
formação de certas concepções, por exemplo. Num contexto de um debate bastante vivo, o
professor Sérgio Ramos faz uma intervenção, com a colocação de alguns pontos: 1) não há ser
humano sem ferramenta, 2) qual nossa relação com a ferramenta? e 3) a ferramenta inverte de
lugar com o sujeito: este acaba perdendo seu poder sobre aquela; mais que isso, o sujeito se
deixa dominar pela ferramenta. No interior deste debate sobre o bom ou mau uso da ferramenta

21
Interessante que todas as questões surgidas se inserem em uma longa tradição de questões filosóficas, mais
especificamente dentro de um debate em epistemologia.
22
Grupo que eu, juntamente com Talles novamente, tive a oportunidade de ter uma experiência orientação, que
será melhor comentada em outro tópico deste relatório.
– que no caso das redes sociais são celulares, computadores ou notebooks –, duas falas, ao meu
ver, merecem destaque: 1) uma com a defesa que o que determina se a ferramenta é boa ou má
é o uso que fazemos dela e 2) uma segunda colocação que diz que já existem ferramentas criadas
para o mal, como é o caso das armas, por exemplo, e, sendo assim, também poderíamos pensar
as redes sociais sob essa perspectiva. Por fim, menciono outra fala que surgiu no debate, que,
ao meu ver, merece destaque, a saber, a ideia de “somos reflexos do nosso meio” e, sendo assim,
não somos tão livres para escolher o que escolhemos. Esta fala, sem dúvidas, pode ser abordada
sob diversos ângulos teóricos, como o caso da Psicanálise ou Teoria Crítica, por exemplo.

2.2. Orientação dos alunos na preparação dos seminários


Conforme já mencionado anteriormente, irei dedicar esta seção para comentar
brevemente acerca da experiência que obtive no processo de orientação dos alunos – mais
especificamente de dois grupos – para elaboração e preparação para os seminários da disciplina
de filosofia. Antes e tudo, gostaria de agradecer ao professor Sérgio Ramos, por ter nos cedido
a autorização e dado a confiança e incentivo necessário para a realização do trabalho, e também
de agradecer a Talles, aluno da disciplina de Estágio Supervisionado III e membro do programa
Residência Pedagógica, que, assumiu comigo, de forma bastante coerente, desde o início, a
realização conjunta desta atividade. De antemão, adianto que foi uma experiência que, sem
dúvidas, contribuiu significativamente para minha formação docente.
Em primeiro lugar, poderíamos dizer que todos os encontros que fizemos com os alunos
no Niate – CFCH ocorreram de maneira bastante dialógica, o que quer dizer que estes encontros
não tiveram por objetivo de serem espécies de aulas, mas sim que os alunos nos trouxessem já
algo pronto, ao menos enquanto esboço, para que a gente pudesse fazer um comentário e, nesse
sentido, fazer um trabalho mais detalhado de orientação – que foi justamente como ocorreu.
Vale ressaltar que o trabalho de orientação não ocorreu apenas de modo presencial, mas também
por mídias digitais, sobretudo no que diz respeito ao compartilhamento de materiais.
No que diz respeito aos encontros propriamente ditos, como já mencionado
anteriormente, todos aconteceram no Niate – CFCH (encontros que foram combinados
previamente com os alunos, a fim de encontrarmos um dia e horário que fosse possível para
ambos). Nos poucos encontros que tivemos – dois com o grupo da temática “pós modernidade”
e apenas um até então com o grupo do tema “redes sociais” – nos atentamos, sobretudo, a ouvi-
los e ver o que eles já tinham preparado ou pensado enquanto material até então, antes de
podermos iniciar o trabalho de orientação.23 Em suma, poderíamos caracterizar nossa principal
contribuição para o trabalho deles, no que se refere a indicações de autores e referências
bibliográficas que não haviam sido pensados por eles, e também, a ajuda-los a sistematizar a
reflexão, pois notamos que ambos os grupos trouxeram bastante informação e ideias, porém, de
maneira um pouco desorganizada. Nossa orientação, acredito, também foi eficiente neste
sentido, ou seja, no de ajudá-los a sistematizar a reflexão. Além disso, também demos algumas
dicas a eles no que se refere a metodologia de apresentação de seminários filosóficos, que, por
exemplo, é interessante colocar questões, e não apenas expor o conteúdo preparado e
organizado por eles, para que a turma possa participar do debate também.
No entanto, e enquanto comentário crítico (e até auto-crítico, de certo modo), penso que
enfocaram no debate de maneira demasiada, a ponto de até mesmo comprometerem o tempo
necessário para a exposição do material preparado. Apesar do debate ter sido ótimo –
principalmente levando em consideração a motivação de todos para participar –, me parece que
faltou maior preparo de ambos os grupos para realizarem uma mediação coerente do debate
com a turma, tanto no que diz respeito ao controle do tempo de debate, quanto no que diz
respeito a organização do momento e tempo de fala de cada um. Mas, ao mesmo tempo,
reconheço que isso também virá com o tempo, pois o desenvolvimento dessas habilidades
também é produto de um processo, que eles ainda estão vivenciando, e que é recente, uma vez
que eles estão no 1° ano e, sendo assim, está sendo o primeiro contato deles com a disciplina
de filosofia no Colégio.
Para nós, estagiários, em resumo, penso que o maior ganho que temos com isso é
justamente a experiência docente, de oportunidade de poder participar mais ativamente do
processo formativo dos alunos, o que contribui também, sem dúvidas, para o nosso próprio
processo de formação, uma vez que, como sabemos, o trabalho docente não se resume apenas
a dar aulas expositivas, mas ele abrange, muito mais que isso, desde orientações e aulas
expositivas até elaboração e correção de avaliações, por exemplo. Em suma, penso que ambos
os lados, isto é, tanto dos alunos do Colégio de Aplicação quanto o nosso de estagiários e
docentes em processo formativo – só tem a ganhar com esse processo e práticas de orientações.

2.3. Encontro de orientação profissional com as turmas de 3° ano

23
Pensamos em conjunto, a incluir também o professor Sérgio Ramos, que esta seria a abordagem mais
interessante, pois chegamos a um consenso que não seria tão eficiente nem interessante chegarmos no encontro
com materiais prontos para entrega-los, pois isso não apenas poderia gerar um comodismo neles, como poderia
provavelmente até desistimulá-los, uma vez que agir deste modo seria quase que retirar a autonomia deles no
processo de pesquisa, ou pior, desencorajá-los a desenvolver tal autonomia.
O evento de orientação profissional, que foi promovido pelo próprio Colégio de
Aplicação e foi voltado para os alunos do 3° ano, ocorreu em um auditório do primeiro andar
do Centro de Educação (CE), no dia 17/04/19. Além disso, vale ressaltar que o evento foi
liderado por uma psicóloga, que foi convidada pela direção do Colégio de Aplicação.
A psicóloga inicia a sua apresentação com a seguinte questão: “quem já está decidido
quanto a profissão que irá seguir?”. Ninguém responde, e, assim sendo, ela supõe que ninguém
esteja. Do ponto de vista de sua exposição, ela iniciou apresentando que a nova revolução
tecnológica tem alterado a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Ela traz
dados de pesquisas, que apontam que novas profissões vão surgir e que, consequentemente,
outras vão desaparecer. Dando continuidade a sua exposição, ela diz que, tendo em vista o
contexto o atual, é necessário ir além do que a máquina faz, uma vez que vivemos em um tempo
extremamente marcado pela substituição do trabalho humano por máquinas dotadas de
inteligência artificial em vários casos. Outra fala dela que eu destacaria: “em um ambiente de
rápida mutação, aumentam as incertezas, as possibilidades e, naturalmente, o sentimento de
confusão”. Além disso, ela disse que é preciso ter cautela quanto a pessoas que demonstram ter
uma certeza bastante convicta do que querem enquanto profissão, pois, segundo ela, a certeza
pode ser mera defesa, que visa esconder a insegurança. Nesse sentido, ela disse que ter dúvida
não é algo ruim, mas que, pelo contrário, a dúvida mobiliza a reflexão e a investigação.24
No entanto, por outro lado, ainda na mesma exposição dela, surgem falas, que irei
apresentar de maneira mais esquemática, que julgo, no mínimo, problemáticas25, são elas: “você
não precisa errar para acertar”, “escolha acertar de primeira”, “equívocos na escolha
profissional fazem você perder tempo”.
De modo resumido, achei a dinâmica muito interessante e necessária, pois acredito que,
nesse momento da vida dos estudantes (fase de transição da escola para uma escolha mais
direcionada de que rumo irá ser seguido enquanto profissão) é importante ter uma reflexão
dessa, sobretudo com uma profissional, que como ela mesmo mencionou, já trabalha há mais

24
Destacaria esta frase em específico, enquanto positiva, pela sua natureza filosófica, uma vez que preza pela
reflexão e investigação, a partir da dúvida.
25
Não apenas de um ponto de vista filosófico, uma vez que, sem dúvidas, levo em consideração que ela, enquanto
psicóloga, não está tão atenta quanto nós da Filosofia a questões de ordem filosófica. Mas o ponto não é este.
Coloca as colocações apresentadas como a seguir como problemáticas, porque acredito que dentro de um contexto
de incerteza dos jovens, elas só pioram a situação, pois, ao menos como eu vejo, elas estimulam um ideal de ser o
melhor, o que inevitavelmente leva a formação de concepção de competividade, que, por sua vez, gera ansiedade.
Faço essas considerações a só a título de reflexão, pois ao mesmo tempo que faço as críticas concordo com ela.
Na verdade, o que vejo como mais problemático é a defesa dessas concepções sem passarem por uma atitude mais
reflexiva.
de 20 anos na área de orientação profissional. Sem dúvidas, eventos como esse evento possuem
seu valor e sua importância na vida dos alunos.

2.4. II Conselho de Classe – 2° ano A


Como em qualquer outro, este conselho dividiu-se, basicamente, em três momentos: 1)
os alunos participam, com a leitura de textos, onde são feitos elogios e críticas aos professores,
no sentido de avalia-los, positiva ou negativamente, quanto a sua postura em sala de aula, sua
metodologia, sua didática, sua avaliação, etc; 2) após isso, os professorem comentam
rapidamente o que eles ouviram das críticas dos alunos e 3) em um último momento, os alunos
saem, e os professores comentam entre eles sobre o caso específico de cada estudante, quanto
a sua postura em sala, seu comportamento, seu desempenho, seu engajamento, etc., e, além
disso, tentam pensar em soluções juntos para o caso de estudantes que são mais difíceis.
De modo resumido, sempre achei as experiências de conselho de classe bastante
produtivas e acredito que seja necessário que eles existam, pois é fundamental ter esse momento
de reflexão conjunta dos professores com os alunos e, em outro momento, dos professores entre
eles. Acredito que toda escola deveria ter isso enquanto prática regular, tal como ocorre no
Colégio de Aplicação, que a cada semestre realiza diversos conselhos, com todas as turmas.
Quanto a este conselho em específico não notei nele algo relevante a ponto de merecer
maiores destaques. Como em qualquer outro conselho, são feitas críticas, que vão desde
posturas pontuais e métodos avaliativos até relações afetivas na relação dos alunos entre eles, e
também, na relação professor-aluno. Na crítica dos alunos, sempre há aqueles professores ou
disciplinas que são mais elogiadas, como também há aqueles que são mais criticados. Nas
considerações dos professores, eles elogiam bastante a participação da turma nas aulas, mas
alguns pontos negativos são colocados, como é o caso do uso frequente de celular por alguns
alunos em momento de aula. Os professores também mencionam, que há alunos que faltam
determinada aula para estudarem para provas de outras disciplinas, fato que eles vão discutir
mais detalhadamente após os alunos saírem. Por último, os professores ressaltam que notaram
um progresso na turma. Quanto a crítica que os professores fizeram acerca das faltas, alunos
solicitam que eles entrem em acordo entre eles para determinarem a data de realização das
atividades, para que eles não fiquem sobrecarregados com datas próximas.
Na discussão específica que ocorre entre os professores, sem a presença dos alunos,
várias questões, para além do desempenho de cada aluno, surgiram. Algumas das questões que
surgiram: 1) questões sobre linguagem corporal e expressividade (facilidade ou dificuldade), 2)
problema da linguagem escrita e oral demonstrar pouca consistência e até mesmo fazer uso de
gírias frequentes. Aqui surge a questão: como proceder diante desses casos, uma vez que
sabemos que cada aluno traz consigo uma bagagem prévia do contexto social e cultural no qual
estão envolvidos, mas, ao mesmo tempo, há uma exigência de normatização da língua para
escrita séria?, 3) os professores mencionam que há alguns alunos que desenvolvem
argumentações muito superficiais na apresentação de seminários, onde fica evidente ou a
dificuldade de se expressar ou a falta de compreensão no assunto, que aponta para o fato de não
terem estudado tempo suficiente sobre o tema, 4) falta de preparação maior e organização nos
seminários e, por último, 5) é feita uma crítica a desatenção de alguns alunos em aula. Todas
estas questões mencionadas, entre outras, foram discutidas pelos professores. Vale ressaltar que
no que se refere a resolução, em muitos casos eles encaminham o aluno em questão para o SOE
– que é o serviço de orientação da escola – ou um relatório mais pontual, por exemplo. O mais
interessante é perceber que cada aluno possui um tratamento bastante detalhado, o que
demonstra o nível de preocupação dos professores e do Colégio com o desempenho e bem-estar
de cada um deles.

3. Aulas da disciplina Estágio Supervisionado


Conforme já anunciado na introdução, esta seção irá se dedicar a fazer um resumo da
disciplina de estágio, enfocando em um resumo da discussão acerca da BNCC e do texto
“Manifesto pela Filosofia” de Alain Badiou.

3.1. Obra “Manifesto pela Filosofia” de Alain Badiou


Antes de tudo, vale ressaltar que para a leitura e apresentação, o professor Sérgio Ramos
propôs a formação de três grupos, onde o primeiro ficaria responsável de ler e apresentar do
capítulo 1 ao 4, o segundo grupo ficaria responsável de ler e apresentar do capítulo 5 ao 8 e o
último grupo – cujo qual fiz parte, juntamente com alguns colegas: Marciano, Thiago e Brennan
– ficaria responsável de ler e apresentar do capítulo 9 ao 11.
Iniciando a reflexão a partir do capítulo 8, intitulado “Eventos”, Badiou neste irá se
questionar sobre a possibilidade de “retomar o fio da razão moderna” e que qualquer que seja
o discurso que se pretenda filosófico atualmente deve levar em consideração quatro
problemáticas, a saber, a do “fim da filosofia”, “fim da metafísica”, “crise da razão” e
“desconstrução do sujeito” (BADIOU, 1991, p. 43).
Uma preocupação constante, que atravessa a sua obra, é não apenas a da possibilidade
da filosofia levando em conta as problemáticas levantadas anteriormente, como também a
tensão entre os conceitos de unidade e multiplicidade. Por exemplo, nesse contexto, cabe a
questão se o ser é uno ou múltiplo – tensão que já estava presente em Heráclito e Parmênides,
e que perpassa toda a história do pensamento ocidental. Já adiantando para os capítulos finais,
a saber, o 10 e o 11, a fim de se posicionar diante deste debate, Badiou irá defender uma
retomada do platonismo, mas um platonismo múltiplo, tal como ele denomina. Isso porque
devemos abordar a categoria de verdade, tanto de um ponto de vista de sua unidade, quanto de
sua multiplicidade. Essa retomada do platonismo propõe uma contraposição ao que ele
denomina de sofística moderna, que por ter enfatizado demais um discurso do múltiplo acabou
renunciando à categoria de verdade. No entanto, Badiou concebe a categoria de verdade
enquanto central na filosofia.

3.2. Considerações sobre a BNCC


Nesta seção iremos nos voltar a fazer algumas considerações gerais acerca do
documento que estabelece as Bases Nacionais Comum Curricular – BNCC26, que tivemos a
oportunidade de estudar brevemente neste semestre.
Antes de tudo, vale ressaltar que o documento possui como um dos objetivos centrais
definir o conjunto de aprendizagens que são essenciais e que, por isso, devem ser desenvolvidas
por todos os alunos ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. 27 O documento
possui, basicamente, dois marcos legais, a saber, a constituição e a LDB. Outro fato do
documento que acreditamos ser importante ressaltar é que ele permite a autonomia dos estados
quanto a definição do currículo, o que permite a existência da diversidade, desde que as
competências e diretrizes sejam comuns, tal como o documento define. “As competências e
diretrizes são comuns, os currículos são diversos” (p. 13). Ou seja, há um respeito a diversidade
dos currículos, a nível local, regional e estadual.
A LDB, além disso, vale ressaltar, é um documento que orienta a definição de
aprendizagens essenciais, e não apenas dos conteúdos mínimos a serem ensinados. Isso nos leva
a outra característica central da BNCC, a saber, a ênfase no desenvolvimento de competências
e habilidades, para além de domínio dos conteúdos, na Educação Básica. Além disso, este
documento enfatiza que haja uma formação e desenvolvimento humano global, que respeite as

26
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto
orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica. Fonte: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
27
Nas páginas 9 e 10 do documento encontram-se as dez competências gerais que a BNCC julga essenciais para
serem desenvolvidas na educação básica. Segue o link de onde o documento pode ser encontrado:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
singularidades e diversidade existente, onde seja estimulada a relação entre conhecimento e
prática.
Segundo consta no documento legal, a BNCC tem em vista a manutenção e incentivo
de promoção de três princípios, a saber, igualdade, diversidade e equidade. Com equidade, por
exemplo, tem-se por fim sobretudo a superação das desigualdades e o reconhecimento que as
demandas não são as mesmas para cada indivíduo. O documento estabelece uma formação
ampla e diversa, que abranja não apenas a formação intelectual, mas também a física, afetiva,
social, ética, moral e simbólica.
Por último, vale ressaltar que a BNCC defende que o trabalho educacional consiste em
um regime de colaboração, onde trabalhem em diálogo constante os estados, os municípios e
a comunidade educacional juntamente com toda a sociedade.28

28
Para se ter mais detalhamento, indicaria a visualização da página 26, onde é apresentado um gráfico das
competências gerais da educação básica segunda a BNCC, a visualização da página 34 onde são apresentadas as
quatro grande áreas do conhecimento segundo a BNCC, a visualização da página 470 onde é apresentado os
itinerários formativos de cada área e, principalmente da página 561 e 570 onde a ênfase são as ciências humanas,
grande área que se insere a Filosofia.

You might also like