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DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
RECIFE – PE
2019
LUIS FILIPE DE LIMA ANDRADE
RECIFE – PE
2019
1. Introdução
Este relatório tem por objetivo principal, fazer uma síntese – a partir de descrições e
reflexões – da experiência que tive neste semestre (2019.1) não apenas no Colégio de Aplicação
(Cap) enquanto estagiário, mas também das vivências em aula da disciplina Estágio Curricular
Supervisionado de Filosofia III. Me esforçarei para, além da descrição de minhas vivências,
explicitar a importância que tais tiveram para a minha formação enquanto docente em formação
e estudante de licenciatura em Filosofia.
Neste relatório – mais especificamente no que diz respeito às experiências vividas no
Colégio de Aplicação enquanto estagiário – irei tentar abarcar, senão a totalidade, ao menos a
maioria do processo formativo vivenciado, em minhas experiências enquanto docente em
formação. Antes de tudo, vale ressaltar que – tal como é exigido no estágio supervisionado em
Filosofia III – neste semestre tive vivências somente relacionadas à disciplina de Filosofia com
o professor Sérgio Ramos. Poderia adiantar que, este semestre em específico, grosso modo, foi
mais motivante que os outros – tanto de um ponto de vista filosófico quanto docente –, pois,
além de tudo, foi o semestre em que mais atuei diretamente no processo de formação dos alunos.
De maneira breve, posso mencionar, para além das observações realizadas em sala, os
comentários que realizei em aula – que foram mais frequentes do que nos outros semestres –, a
orientação presencial, juntamente com outro estagiário, dada aos alunos do 1° A, que teve por
objetivo tanto tirar dúvidas específicas deles, quanto de prepara-los melhor para a apresentação
de seminários com temáticas filosóficas. Além disso, tive a oportunidade de participar de um
encontro presencial, de um evento promovido pelo Colégio, onde uma psicóloga fez uma
apresentação, com ênfase em orientação profissional, para os alunos do 3° ano. Todas estas
experiências serão descritas mais detalhadamente nas seções seguintes.
No que diz respeito às aulas da disciplina de Estágio Supervisionado, também orientadas
e assumidas pelo professor Sérgio Ramos, destacaria, para além das reflexões interessantes e
instigantes por si mesmas que o professor nos trouxe, a leitura que foi cobrada para nós de
estágio supervisionado III, a saber, um texto de Alain Badiou cujo título é “Manifesto pela
Filosofia” – que, inclusive, tive a oportunidade de realizar um breve resumo e apresentar uma
parte na aula da disciplina de Estágio Supervisionado, juntamente com outros colegas da turma.
Em resumo, poderia dizer que é um texto bastante denso e difícil, mas nem por isso
desestimulante ou cansativo, mas, pelo contrário, o texto mostra-se bastante instigante e
relevante para a discussão filosófica atual, uma vez que traz questões de toda tradição filosófica
– mais especificamente, da ontologia, da filosofia da linguagem e da lógica –, de modo a pensar
em como estas são pensadas e como se sustentam tendo em vista a contemporaneidade, isto é,
um tempo que, em si mesmo, não concebe mais, ao menos não enquanto dado imediato ou de
modo problemático, noções como unidade, permanência, verdade, etc. Além disso, destacaria
as apresentações acerca de currículos – a maioria internacionais – realizadas pelos estudantes
do Estágio Supervisionado I, onde foram apresentados currículos de diversos países, como
Argentina, Itália, Inglaterra, Japão, Guiné-Bissau, etc. Dentre todas as apresentações, que foram
ótimas, daria destaque a que foi acerca do currículo de Guiné-Bissau, uma vez que nesta
tivemos a oportunidade de ouvir um nativo do país comentando e participando ativamente da
apresentação, onde foram destacados aspectos históricos e sociais do país em questão, por
exemplo. Por último, destacaria também a discussão que tivemos este semestre acerca do
conteúdo da BNCC, mais detalhadamente no que se refere à disciplina de Filosofia, onde eu
também tive a oportunidade de apresentar e discutir algumas partes juntamente com outro
colega da turma. Todas essas vivências que foram citadas aqui brevemente serão mais
desenvolvidas nas seções a seguir.
Após ter feito uma breve síntese do que irá constar de modo mais detalhado ao longo
deste relatório, cabe-nos apresentar como irá se estruturar o relatório daqui em diante. De modo
geral, este relatório irá se estruturar em quatro seções, onde duas destas contará também com
subseções. Mais especificamente, a primeira é uma introdução (seção 1) – tal como
desenvolvemos até então – a segunda, juntamente com suas subseções, irá se voltar às vivências
que diz respeito à experiência docente enquanto estagiário do Colégio de Aplicação (seção 2)
e, a terceira e última, irá se referir às vivências proporcionadas pelas aulas da disciplina de
Estágio Supervisionado III (seção 3). A seção 2 irá se dividir em quatro subseções, a saber, uma
dedicada à descrição das vivências em sala de aula enquanto estagiário (seção 2.1), que por sua
vez também irá se dividir em outras subseções, uma dedicada ao detalhamento da experiência
de orientação dos alunos para a apresentação do seminários (seção 2.2), uma dedicada à
descrição da experiência do conselho de classe que participei este semestre (seção 2.3) e, por
último, uma dedicada ao detalhamento da experiência vivida no evento de orientação
profissional voltada para os alunos do 3° ano (seção 2.4). A seção 3 irá se dividir em duas
subseções, a saber, uma dedicada a um detalhamento da experiência de leitura do texto do Alain
Badiou, já citado anteriormente (seção 3.1) e uma dedicada a um breve desenvolvimento da
experiência de debate acerca da BNCC (seção 3.3).
2. Colégio de Aplicação
Como mencionado anteriormente, essa seção irá se dedicar, de modo específico, a
relatar e refletir acerca das experiências vividas enquanto estagiário e docente em formação no
Colégio de Aplicação. A subseção seguinte (seção 2.1), de modo mais detalhado, irá relatar as
observações realizadas durante as aulas de Filosofia ministradas esse semestre pelo professor
Sérgio Ramos. Antes do relato de cada aula, será mencionado o dia, horário e turma da aula em
questão.
1
Além disso ser interessante, por si só, atende a um dos componentes que concerne à filosofia, a saber, seu caráter
inter ou até mesmo transdisciplinar. Esse debate, sob uma perspectiva teórica, é desenvolvido por alguns autores,
como é o caso de Charles Feitosa, por exemplo.
saber, o conceito de gnose. Ele explicou que o termo possui uma certa ambivalência, pois o
mesmo pode estar ligado tanto a uma perspectiva ligada ao conhecimento quanto a uma
perspectiva que se relaciona à mística; ele disse que é importante reconhecer a distinção,
embora a significação que interessa desde uma perspectiva filosófica, mais especificamente, da
epistemologia (teoria do conhecimento), é a que se refere ao conceito de conhecimento.
Em outro momento da aula, o professor Sérgio Ramos iniciou uma reflexão acerca da
história do planeta Terra. Foi abordado o seguinte conteúdo: as duas eras de extinção do planeta,
a saber, a era triássica – marcada por 500 mil anos de erupção constante de vulcões – e a era
permiana, que foi o período de congelamento da Terra. Nesse contexto, Sérgio Ramos
mencionou um filme intitulado “Dinossauro” – dirigido por Eric Leighton e Ralph Zondag –,
para falar especificamente do momento de extinção dos dinossauros. Mais uma vez, a
introdução dessa reflexão foi estratégica para abordar o conteúdo propriamente filosófico. 2 As
questões que se colocaram aqui foram: “os dinossauros realmente existiram?”, “se sim, que
provas/evidencias temos para provar isto?”, “caso se negue que existiram, quais são as
argumentações nesse sentido?”, “os fósseis são evidencias suficientes para demonstrar que os
dinossauros realmente existiram?”. Estas foram algumas das questões colocadas, que tinham
por fim justamente introduzir a reflexão acerca de outra temática central em Filosofia da
Ciência, a saber, metodologia(s) da ciência(s), hipótese(s) e teoria(s). Por último, foi
mencionado também que a questão climática foi a responsável pela extinção dos Neandertais.
Na última parte da aula, o professor Sérgio Ramos fez algumas considerações sobre a
Teoria Gaia – teoria que defende que a terra é um sistema vivo, e que, assim sendo, o ser
humano é parte de um componente maior, isto é, a própria terra. Além disso, ele mencionou
brevemente a tensão existente entre autonomia e heteronomia – que também está presente nas
questões filosóficas desde seu surgimento, sobretudo nos debates que se referem à ética e
filosofia política. Por último, passou quatro questões para os alunos pesquisarem e fazerem em
casa: 1) os dinossauros existiram?; 2) “a vista da cauda de um pavão, cada vez que olho para
ela, me faz sentir mal” (Darwin). Por quê?; 3) Jesus existiu?; 4) Ciências sobre fenômenos
humanos são possíveis?
Enquanto comentário mais pontual desta aula, diria que, apesar da inquietação e
dispersão da turma neste dia, o professor Sérgio Ramos conseguiu desenvolver sua aula sem
maiores problemas, sobretudo levando em consideração que ele durante todo o semestre
2
Mais uma vez surge aqui uma abordagem de caráter inter ou transdisciplinar.
demonstrou grande habilidade e ótimas estratégias para lidar com situações desta natureza em
sala de aula.
3
Mais uma vez surge aqui uma abordagem de caráter inter ou transdisciplinar.
2.1.3. Aula: 20/03/19 – 1° ano A – horário: 07h20 às 09h00
Esta aula foi dedicada a composição e organização de grupos para a apresentação de
seminários com temáticas filosóficas. O professor Sérgio Ramos permitiu que as sugestões de
temas fossem provenientes dos próprios alunos. Surgiram vários temas – entre eles, niilismo,
pena de morte, psicose, etc. –, mas os que ficaram, de maneira definitiva, foram os seguintes:
1) pós modernidade, 2) redes sociais, 3) comportamento predatório e consumismo, 4)
existencialismo, 5) machismo e 6) o que é o belo?. O mais interessante foi perceber a
empolgação e agitação da turma para decidir sobre os temas. Isso mostrou que eles estavam
realmente bastante interessados em propor os temas em questão. Por outro lado, a agitação
tornou um pouco difícil a sistematização da reflexão, mas a agitação não chegou a comprometer
a organização dos grupos, uma vez que estes formaram-se com sucesso.
Após a formação dos grupos e definição dos temas e possíveis datas de apresentações,
o professor Sérgio Ramos iniciou a aula de Filosofia, tratando de um panorama geral da história
da filosofia, desde a antiguidade até a contemporaneidade. O professor Sérgio Ramos fez uma
linha do tempo, onde ele pontuou as principais características e questões que dizem respeito a
cada período histórico abordado. No que se refere à filosofia antiga, o professor Sérgio Ramos
destacou dois temas que são comuns a esse período histórico, a saber, a temática acerca do ser
e do questionamento acerca da realidade. No que diz respeito à filosofia medieval, o professor
Sérgio Ramos enfatizou que o define este período histórico enquanto tal é a relação e tensão
existente entre fé e razão. Uma questão que surge nesse período, por exemplo, é: “como
conciliar fé e razão, de modo que seja possível uma investigação filosófica?”. No que se refere
à modernidade, o professor Sérgio destacou algumas noções, que, sem dúvidas, são centrais
para o período histórico em questão, a saber, os conceitos de subjetividade e autonomia da
razão, por exemplo. Por último, no que se refere à filosofia contemporânea, o professor Sérgio
Ramos destacou que o que define o período histórico em questão é a crise e crítica da razão,
da subjetividade e da metafísica. Achei bastante interessante e coerente o modo como ele
elaborou a síntese deste período histórico, pois, antes de tudo e principalmente, atende a uma
exigência de didática propriamente filosófica.4
2.1.4. Aula: 21/03/19 – 3° ano B – horário: 07h20 às 09h00
4
Chamo aqui de didática propriamente filosófica, a preocupação de transposição dos conteúdos filosóficos, de
modo que seja coerente, isto é, que atenda, por um lado, um acesso e, por outro, que este não se deturpe o conteúdo,
ou seja, que os conteúdos mantenham sua consistência e rigor. O mais interessante é que nós, estudantes de
filosofia e estagiários, tivemos oportunidade de abordar este problema tanto de um ponto de vista teórico, quanto
prático, nas vivências proporcionadas pelo estágio.
O professor Sérgio Ramos antes de iniciar a aula propriamente dita, enquanto realizava
a chamada, convidou cada um dos alunos para levar os cadernos para que ele pudesse corrigir
a atividade que ele havia passado para ser feita em casa. Após isso, ele iniciou a aula cuja
temática foi mito.
O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula trazendo algumas questões provocativa,
como, por exemplo, a questão: “será que conseguimos nos dissociar totalmente dos mitos, ou
ao contrário, ele ainda está bastante presente nos valores e crenças da humanidade como um
todo?”. Além disso, o professor Sérgio Ramos mencionou alguns símbolos que são próprios do
mito, desde suas origens, como é o caso do fogo, a busca pelo esclarecimento, a explicação das
origens, o ritual, o conhecimento, etc. Ele deu o exemplo do mito de Prometeu em aula. Indicou
para os alunos assistirem um documentário, intitulado “A Guerra do Fogo” de 1981, dirigido
por Jean-Jacques Annaud, onde se aborda uma reconstituição da pré-história, tendo como eixo
a descoberta do fogo.
Para aprofundar na temática do mito, mais especificamente no que diz respeito ao seu
poder, desde suas origens até os dias de hoje, o professor Sérgio abordar mais detalhadamente
o Mito do Destino Manifesto com os alunos, que se refere basicamente a um mito criado pelo
povo norte-americano, onde a partir daquele estes julgavam-se o povo eleito por Deus para
comandar e dominar o mundo. O fato que eu destacaria, para além da relevância em si do tema,
diz respeito a abordagem que o professor Sérgio adotou, a saber, a de demonstrar como essa
ideia não surge esporadicamente, mas que ela é datada, e que possui um início remoto, que
remete à Idade Média, onde perpassa-se toda a modernidade, até se chegar a consolidação do
mito propriamente dito.5 O professor Sérgio Ramos iniciou a abordagem histórica do Mito do
Destino Manifesto mencionando Paulo (século I d.c.), com a teologia da eleição divina e fé
humilde. Dando continuidade, menciona Santo Agostinho (século IV d.c.), com a doutrina da
predestinação e o pecado original6. Em seguida, o professor Sérgio aborda o momento histórico
da Reforma Protestante, antes de tudo com Lutero, para depois chegar em Calvino de modo
mais detalhado, uma vez que este introduz uma noção que já está muito mais próxima do Mito
do Destino Manifesto, a saber, a noção de predestinação absoluta. Mais adiante, no século
XVII, há um rompimento da política com relação a religião – que até então caminhavam juntas
5
Esse tipo de abordagem contribui para que os alunos tenham o conhecimento que ideia não surgem do nada, mas
que, ao contrário, esta necessariamente se refere a um processo histórico, que está para além de nós enquanto
indivíduos e sociedade.
6
Com essa noção de predestinação a humanidade passa a dividir-se entre aqueles que são os escolhidos para ser
salvos e, ao contrário, aqueles que não são os escolhidos.
– rumo a formação de uma noção de puritanismo, na Inglaterra com Lord Cromwell.7 Nesse
mesmo século vale destacar que houve a 1° assimilação dos judeus, tal como o professor Sérgio
Ramos destaca em sua aula. Posteriormente, no século XVIII há a guerra e independência dos
Estados Unidos, e a introdução de sementes mais próximas do puritanismo e de uma noção de
Nova Jerusalém e de Paraíso Terrestre, com George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin
Franklin. No século XIX, houve a guerra com o México e a consequente expansão para o oeste.
Daqui em diante, vem a guerra da secessão, a 3° guerra civil inglesa, e a consolidação da noção
de Destino Manifesto. No século XX, há a consolidação de uma hegemonia anglo-americana
no que diz respeito a formação de modo de pensar o mundo e suas relações de poder. Por último,
no século XXI há a guerra ao terror.8
7
Aqui, de um ponto de vista histórico, também surge uma noção mais próxima do que se desenvolveria
completamente posteriormente, de WASP, que significa, em português, branco anglo-saxão e puritano, enquanto
povo “elegido”, ao menos do ponto de vista do mito, para ser salvo e, consequentemente, com legitimidade de
dominação.
8
Aqui mais uma vez podemos destacar a abordagem inter ou transdisciplinar, muito utilizada pelo professor Sérgio
Ramos em suas aulas. No caso desta aula, torna-se evidente a relação mais evidente com a disciplina de geopolítica.
e apresentados de uma perspectiva filosófica, desde que sejam feitas pesquisas fundamentadas
em autores que já pensaram sobre o tema de maneira rigorosa e esquemática e não ficar em uma
fundamentação apenas baseada no senso comum.
Em seguida, o professor Sérgio Ramos iniciou uma exposição visando uma
contextualização geral dos temas escolhidos. Em sua exposição, o professor Sérgio Ramos
abordou um autor britânico da filosofia moderna, bastante estudado, principalmente no que diz
respeito à epistemologia, ética e filosofia política, a saber, John Locke. Após feito uma breve
contextualização do autor em questão – que envolveu uma caracterização do que significa e da
importância que este autor teve para o desenvolvimento da concepção de liberalismo e,
consequentemente, da noção de propriedade privada – o professor Sérgio Ramos iniciou uma
reflexão acerca do conceito de ideologia, com uma ênfase mais voltada ao conceito de
sexualidade. Além disso, o professor Sérgio mencionou e indicou a obra e o filme (dirigido por
Joe Wright) Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Após isso, o professor Sérgio Ramos
iniciou uma reflexão sobre a questão das drogas, destacando que é possível trazer a tona na
apresentação do seminário essa questão abordada sob diversas perspectivas, isto é, não apenas
filosófica, mas também dentro de uma perspectiva sociológica ou antropológica, por exemplo.
Aqui, mais uma vez, o professor fez questão de ressaltar que não se trata de dar opinião, mas
de fundamentar o tema em pesquisas sérias e já consolidadas.9
Por último, o professor Sérgio Ramos definiu que queria um trabalho escrito de cada
grupo, sobre o tema desenvolvido. Além disso, recomendou para a leitura a obra Capital no
Século XXI de Thomas Piketty.
9
Destaco que achei bastante coerente essa preocupação do professor Sérgio Ramos quanto à fundamentação da
apresentação, pois esses temas, como já apontado pelo professor Sérgio Ramos, tendem a uma abordagem pelo
senso comum, uma vez que é um tema próximo de cada um, de certo modo.
10
Destacaria que achei extremamente importante o fato de Sérgio ter cobrado dos alunos as referências
bibliográficas utilizadas para a realização da atividade.
Para apoiar a abordagem teórica acerca deste tema, o professor Sérgio Ramos utilizou como
exemplo a discussão acerca do “aquecimento global”. Além disso, o professor Sérgio, inserido
no contexto do debate, mencionou o conceito de hipótese gaia de James Lovelock, que se refere
a ideia que o planeta é um organismo vivo e dinâmico.
Ainda nesta aula, o professor Sérgio Ramos iniciou uma discussão acerca do conceito
de pós-verdade, que se refere, basicamente, à contemporaneidade, isto é, uma sociedade que é
caracterizada e organizada por bolhas sociais, onde cada um (ou cada grupo) rege-se e orienta-
se por sua “verdade”, seja esta individual ou coletiva. Para fundamentar a discussão acerca deste
conceito, a saber, o de pós-verdade, o professor Sérgio Ramos inicia sua exposição na
antiguidade, com Platão, fazendo menção à sua conhecida alegoria da caverna, presente em sua
obra A República. De acordo com o professor Sérgio Ramos – e concordo totalmente com ele
neste ponto – podemos fazer um paralelo com a alegoria de caverna apresentada por Platão
com o mundo contemporâneo, onde, como já dito, cada um vive dentro de sua bolha, que é uma
“verdade” construída, sobretudo pelas mídias digitais e sociais. No entanto, o professor Sérgio
Ramos ressalta que o nosso tempo possui uma especificidade que o diferencia da “caverna”
apresentada por Platão, que é o fato de que, atualmente, existe a formação de camadas de
realidade. Isso quer dizer que, não se trata apenas, hoje em dia, de saber a verdade ou a
falsidade, mas que a própria tensão dilui-se, uma vez que os próprios meios constroem tão bem
o que seja cada uma destas, que se torna quase impossível atingir-se a verdade por trás das
construções realizadas pelas mediações. Outra característica própria do nossos tempo, que nos
diferencia do contexto analisado por Platão, é que neste, diferentemente de hoje, as pessoas
queiram saber a verdade; hoje as pessoas contentam-se com os que lhes é apresentado, que na
maioria das vezes diz respeito ao que cada um quer ver ou ouvir, fato que dificulta ainda mais
o exercício da crítica e da problematização. Ou seja, não se trata apenas de estar enganado, mas
de querer e desejar ser enganado, justamente porque isto legitima e reforça uma crença que é
conveniente para um sujeito (ou grupo) que é adepto a tal modo de pensar. Além disso, o
professor Sérgio Ramos menciona que a ciência é uma luta contra a ignorância. Por isso, em
qualquer pesquisa faz-se necessário trabalhar com fontes seguras e legitimadas pela
comunidade científica ou filosófica.
Por último, o professor Sérgio Ramos faz algumas considerações acerca da bíblia. De
modo mais preciso, ele diz que há duas leituras possíveis: 1) literal e 2) simbólica. Os alunos
se instigaram bastante para discutir sobre isso, e surgiram várias posições distintas na discussão.
Não deu tempo de avançar muito no debate, pois já estava no final da aula.
2.1.7. Aula: 25/03/19 – 2° ano A – horário: 09h20 às 11h00
O professor Sérgio Ramos iniciou esta aula com as correções das atividades que haviam
sido passadas na última aula, e na retomada da discussão sobre os grupos, a fim de esclarecer
os grupos que iam começar a apresentação, e quais eram os temas, quem eram os alunos de
cada grupo, quais eram as datas, etc.
Posteriormente, o professor Sérgio Ramos desenvolveu com a turma o que já havia
realizado, de certo modo, na aula anterior, a saber, discutir os conceitos de evidências, teorias
e hipóteses, etc. Como já dissemos anteriormente, trata-se de uma discussão acerca da temática
Filosofia da Ciência. O professor Sérgio Ramos também mencionou nessa aula o conceito de
hipótese gaia. Em seguida, o professor Sérgio Ramos introduziu em sala um debate
correlacionado à astronomia, que trata de questões relacionadas a buracos de minhoca no
universo, anos luz, buraco negro, etc. A intenção de Sérgio aqui é a de, principalmente, mostrar
que estas questões podem ser debatidas também dentro de uma perspectiva filosófica, uma vez
que a filosofia, além de tudo, é um questionar-se e uma investigação constante do real.
Após esse debate, o professor Sérgio Ramos, dando continuidade a aula, falou acerca
de modelos científicos. Ele disse que, por exemplo, o modelo matemático é diferente do modelo
físico. Nesse contexto ainda, o professor Sérgio Ramos pontuou que, apesar de toda validade e
seriedade da ciência, esta não cria verdades absolutas, mas que, pelo contrário, a atividade
científica autêntica caracteriza-se justamente por uma investigação que jamais coloca um ponto
final nas questões, mas que sempre está em busca de novas descobertas, mas não de modo
disperso, e sim com rigor e método próprios da ciência.
Retomando o debate acerca do aquecimento global, o professor Sérgio Ramos esclarece
que os grupos que negam a existência do fenômeno do aquecimento global, na verdade, são
grupos que se vinculam a teologia do arrebatamento, que concebem que os indivíduos que
serão salvos, no fim dos tempos, já estão, independentemente de qualquer ação e atitude perante
o mundo.
11
A princípio, pode parecer estranho ver um autor como Einstein ser citado. No entanto, tal como o professor
Sérgio Ramos esclareceu muito bem, as discussões em Einstein não se reduzem à questões da física, mas também
há neste autor questões filosóficas.
12
O que me chamou mais atenção nesse ponto específico foi perceber os alunos bastante interessados em Freud,
ou seja, colocando muitas questões e interagindo bastante. Acredito que isso é muito positivo, não apenas porque
Freud é um pensador central na história do pensamento ocidental, como também é muito bom já ver os estudantes
tendo acesso a uma discussão tão instigante já no ensino médio.
que surgisse um debate – sobretudo no que diz respeito à temáticas relacionadas a noções,
também centrais na obra de Freud, como histeria, trauma, regressão, psicopatologias, psicopatas
e sociopatas, etc.13
Para concluir a aula, ainda no sentido da discussão acerca de Freud – que durou bastante,
sobretudo ao levarmos em conta o interesse que os alunos demonstrar ter nessa discussão –, o
professor Sérgio Ramos apresentou que o conceito de inconsciente que Freud apresenta faz com
que a liberdade humana se torne questionável, uma vez que com tal noção a consciência torna-
se uma ponta do iceberg e, nesse sentido, nem tudo o que fazemos estar sob o nosso controle.
O professor Sérgio Ramos utilizou uma metáfora muito boa, neste momento, para explicar esta
concepção de Freud. Ele disse que em Freud o “eu” não é senhor da sua própria casa, no sentido
de que, ele não controla tudo, mas que, pelo contrário, é mais controlado do que controlador.
13
Destacaria aqui, de maneira positiva, o profundo conhecimento que o professor Sérgio Ramos demonstrou ter
aqui, pois ele lidou com todas as questões e deu respostas bastante coerentes às questões colocadas.
e Jesus da teologia14. Além disso, falou um pouco sobre a posição que defende que Jesus não
existiu, a saber, dos miticistas. Alguns destes autores são – que foram os mencionados na aula:
Volney, David Strauss e Bruno Bauer. Por último, o professor Sérgio Ramos indicou para
leitura um texto intitulado “como a indústria do cigarro usou a pós-verdade” de Lilian Milena15.
14
Onde o professor Sérgio Ramos esclareceu que ele estaria se referindo ao Jesus Histórico na aula.
15
Disponível em: https://jornalggn.com.br/midia/fatos-nao-garantem-vitoria-no-mundo-da-pos-verdade/
que faz parte deste posicionamento de modo geral, são elas: 1) o evangelho é uma fonte histórica
problemática: a) não temos as fontes, b) não conhecemos os autores, c) há contradições e d) há
informações erradas; 2) Nazaré não existiu; 3) Midrash Halacá e 4) o Jesus não histórico é uma
recapitulação dos homens divinos do paganismo.
16
Disponível em: https://jornalggn.com.br/midia/ignacio-ramonet-a-opiniao-publica-nao-quer-a-verdade-quer-
informacoes-que-confirmam-suas-crencas/
17
Achei as questões passadas pelo professor Sérgio Ramos interessantes, porque elas exigem dos alunos,
respectivamente, 1) capacidade de compreensão e interpretação de texto, 2) formação de comentário crítico e 3)
proposta de intervenção.
atualmente, para resistirmos a era da ignorância, devemos estimular a curiosidade, e não
somente o conhecimento.
18
Os hilozoístas consideram que toda a realidade, está dotada de sensibilidade e, portanto, animada por um
princípio ativo.
19
Achei esta aula bastante interessante, pois o professor Sérgio Ramos não apenas fez uma exposição em sentido
conteudista, mas também reflexiva, na medida em que, ao mesmo tempo que falava acerca do conteúdo, levantava
questões para os alunos refletirem.
Em seguida, o professor Sérgio Ramos retomou a discussão acerca do conceito de pós-
verdade. E, por fim, o professor permitiu que Thiago – que é do programa Residência
Pedagógica em filosofia – fizesse uma exposição dentro da temática de Filosofia da Linguagem,
mais especificamente, sobre a tensão que há entre duas tradições distintas, a saber, o
internalismo e o externalismo. Esta exposição teve por finalidade a orientação dos alunos do
seminário que já iriam apresentar na próxima aula acerca da temática em questão. Além disso,
vale ressaltar que o residente teve um momento de orientação mais detalhado com os alunos
em outro momento.
20
Grupo que eu, juntamente com Talles, do programa Residência Pedagógica, tivemos a oportunidade de ter um
momento de orientação, que irei me deter mais detalhadamente em outro momento do relatório.
grupo teve oportunidade de dar continuidade a sua exposição, introduziram na apresentação o
conceito de narrativa a partir da obra de Jean-François Lyotard. Dentro da perspectiva deste
autor, em um contexto pós-moderno, as narrativas se afirmam e se legitimam por si mesmas,
isto é, sem necessitarem de uma fundamentação rigorosa, o que quer dizer que bastam ser
mencionadas e virem à tona que já são logo legitimadas e sustentadas. Além disso, daria
destaque a uma discussão que surgiu, dentro da temática em questão, acerca da noção de
conhecimento. Surgiram questões como: “é possível conhecer?”, “se sim, como isso seria
possível?”, “se não há conhecimento, o que há?”, “tudo é crença, então?”, “o que é a ciência?”,
“a ciência alcança a verdade sobre as coisas?”, “o conhecimento é necessário?”, “se sim, por
quê?”21. Mais uma vez, ocorreu novamente, do grupo ter pouco tempo para fazer uma exposição
do material preparado, tendo em vista que o debate ocupou a maioria do tempo das duas aulas.
21
Interessante que todas as questões surgidas se inserem em uma longa tradição de questões filosóficas, mais
especificamente dentro de um debate em epistemologia.
22
Grupo que eu, juntamente com Talles novamente, tive a oportunidade de ter uma experiência orientação, que
será melhor comentada em outro tópico deste relatório.
– que no caso das redes sociais são celulares, computadores ou notebooks –, duas falas, ao meu
ver, merecem destaque: 1) uma com a defesa que o que determina se a ferramenta é boa ou má
é o uso que fazemos dela e 2) uma segunda colocação que diz que já existem ferramentas criadas
para o mal, como é o caso das armas, por exemplo, e, sendo assim, também poderíamos pensar
as redes sociais sob essa perspectiva. Por fim, menciono outra fala que surgiu no debate, que,
ao meu ver, merece destaque, a saber, a ideia de “somos reflexos do nosso meio” e, sendo assim,
não somos tão livres para escolher o que escolhemos. Esta fala, sem dúvidas, pode ser abordada
sob diversos ângulos teóricos, como o caso da Psicanálise ou Teoria Crítica, por exemplo.
23
Pensamos em conjunto, a incluir também o professor Sérgio Ramos, que esta seria a abordagem mais
interessante, pois chegamos a um consenso que não seria tão eficiente nem interessante chegarmos no encontro
com materiais prontos para entrega-los, pois isso não apenas poderia gerar um comodismo neles, como poderia
provavelmente até desistimulá-los, uma vez que agir deste modo seria quase que retirar a autonomia deles no
processo de pesquisa, ou pior, desencorajá-los a desenvolver tal autonomia.
O evento de orientação profissional, que foi promovido pelo próprio Colégio de
Aplicação e foi voltado para os alunos do 3° ano, ocorreu em um auditório do primeiro andar
do Centro de Educação (CE), no dia 17/04/19. Além disso, vale ressaltar que o evento foi
liderado por uma psicóloga, que foi convidada pela direção do Colégio de Aplicação.
A psicóloga inicia a sua apresentação com a seguinte questão: “quem já está decidido
quanto a profissão que irá seguir?”. Ninguém responde, e, assim sendo, ela supõe que ninguém
esteja. Do ponto de vista de sua exposição, ela iniciou apresentando que a nova revolução
tecnológica tem alterado a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Ela traz
dados de pesquisas, que apontam que novas profissões vão surgir e que, consequentemente,
outras vão desaparecer. Dando continuidade a sua exposição, ela diz que, tendo em vista o
contexto o atual, é necessário ir além do que a máquina faz, uma vez que vivemos em um tempo
extremamente marcado pela substituição do trabalho humano por máquinas dotadas de
inteligência artificial em vários casos. Outra fala dela que eu destacaria: “em um ambiente de
rápida mutação, aumentam as incertezas, as possibilidades e, naturalmente, o sentimento de
confusão”. Além disso, ela disse que é preciso ter cautela quanto a pessoas que demonstram ter
uma certeza bastante convicta do que querem enquanto profissão, pois, segundo ela, a certeza
pode ser mera defesa, que visa esconder a insegurança. Nesse sentido, ela disse que ter dúvida
não é algo ruim, mas que, pelo contrário, a dúvida mobiliza a reflexão e a investigação.24
No entanto, por outro lado, ainda na mesma exposição dela, surgem falas, que irei
apresentar de maneira mais esquemática, que julgo, no mínimo, problemáticas25, são elas: “você
não precisa errar para acertar”, “escolha acertar de primeira”, “equívocos na escolha
profissional fazem você perder tempo”.
De modo resumido, achei a dinâmica muito interessante e necessária, pois acredito que,
nesse momento da vida dos estudantes (fase de transição da escola para uma escolha mais
direcionada de que rumo irá ser seguido enquanto profissão) é importante ter uma reflexão
dessa, sobretudo com uma profissional, que como ela mesmo mencionou, já trabalha há mais
24
Destacaria esta frase em específico, enquanto positiva, pela sua natureza filosófica, uma vez que preza pela
reflexão e investigação, a partir da dúvida.
25
Não apenas de um ponto de vista filosófico, uma vez que, sem dúvidas, levo em consideração que ela, enquanto
psicóloga, não está tão atenta quanto nós da Filosofia a questões de ordem filosófica. Mas o ponto não é este.
Coloca as colocações apresentadas como a seguir como problemáticas, porque acredito que dentro de um contexto
de incerteza dos jovens, elas só pioram a situação, pois, ao menos como eu vejo, elas estimulam um ideal de ser o
melhor, o que inevitavelmente leva a formação de concepção de competividade, que, por sua vez, gera ansiedade.
Faço essas considerações a só a título de reflexão, pois ao mesmo tempo que faço as críticas concordo com ela.
Na verdade, o que vejo como mais problemático é a defesa dessas concepções sem passarem por uma atitude mais
reflexiva.
de 20 anos na área de orientação profissional. Sem dúvidas, eventos como esse evento possuem
seu valor e sua importância na vida dos alunos.
26
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto
orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica. Fonte: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
27
Nas páginas 9 e 10 do documento encontram-se as dez competências gerais que a BNCC julga essenciais para
serem desenvolvidas na educação básica. Segue o link de onde o documento pode ser encontrado:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
singularidades e diversidade existente, onde seja estimulada a relação entre conhecimento e
prática.
Segundo consta no documento legal, a BNCC tem em vista a manutenção e incentivo
de promoção de três princípios, a saber, igualdade, diversidade e equidade. Com equidade, por
exemplo, tem-se por fim sobretudo a superação das desigualdades e o reconhecimento que as
demandas não são as mesmas para cada indivíduo. O documento estabelece uma formação
ampla e diversa, que abranja não apenas a formação intelectual, mas também a física, afetiva,
social, ética, moral e simbólica.
Por último, vale ressaltar que a BNCC defende que o trabalho educacional consiste em
um regime de colaboração, onde trabalhem em diálogo constante os estados, os municípios e
a comunidade educacional juntamente com toda a sociedade.28
28
Para se ter mais detalhamento, indicaria a visualização da página 26, onde é apresentado um gráfico das
competências gerais da educação básica segunda a BNCC, a visualização da página 34 onde são apresentadas as
quatro grande áreas do conhecimento segundo a BNCC, a visualização da página 470 onde é apresentado os
itinerários formativos de cada área e, principalmente da página 561 e 570 onde a ênfase são as ciências humanas,
grande área que se insere a Filosofia.