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INTRODUÇÃO
A mecânica é uma área da física e da engenharia, que lida com a análise das forças que
agem sobre um objeto. Seja para a manutenção deste ou de uma estrutura em um ponto fixo,
como a descrição e a causa do movimento do mesmo.
Assim, a Cinesiologia deve ser capaz de aplicar leis e princípios básicos de mecânica a fim
de avaliar as atividades humanas. Essa aplicação da mecânica cai nos domínios da Biomecânica
que pode ser definida como aplicação da mecânica aos organismos vivos, tecidos biológicos, aos
corpos humanos e animais.
A postura do corpo é resultante de inúmeras forças musculares que atuam equilibrando
forças impostas sobre o corpo, e todos os movimentos do corpo são causados por forças que
agem dentro e sobre o corpo.
Em nossas atividades diárias, no trabalho, no esporte, temos que lidar com forças e os
profissionais que trabalham com lesões músculo-esqueléticas precisam compreender como as
forças afetam as estruturas do corpo e como estas forças controlam o movimento.
A biomecânica é a base da função músculo-esquelética. Os músculos produzem forças que
agem através do sistema de alavancas ósseas. O sistema ósseo ou move-se ou age estaticamente
contra uma resistência. O arranjo de fibras de cada músculo determina a quantidade de força que
o músculo pode produzir e o comprimento no qual os músculos podem se contrair. Dentro do
corpo, os músculos são as principais estruturas controladoras da postura e do movimento.
Contudo, ligamentos, cartilagens e outros tecidos moles também ajudam no controle articular ou
são afetados pela posição ou movimento.
1. CENTRO DE GRAVIDADE
A Gravidade é uma força externa que age sobre um objeto sobre a terra, e para equilibrar
essa força, uma segunda força externa precisa ser induzida - ou seja, todo o corpo recebe a ação
de uma força, reage à mesma com uma força igual e oposta.
O conceito de Centro de Gravidade é proveitoso ao descrever e analisar mecanicamente o
movimento do corpo humano e outros objetos, sabendo exatamente como a força da gravidade
atua nesses corpos.
O Centro de Gravidade é o ponto dentro de um objeto onde se pode considerar que toda a
massa, ou seja, o material que constitui o objeto, esteja concentrada. A gravidade puxa para
baixo todo ponto de massa que constitui este objeto ou o corpo. No entanto, a determinação do
Centro de Gravidade do corpo humano é muito difícil, pois este não apresenta densidade
uniforme, não é rígido e não é simétrico enquanto um objeto com todas estas características o
Centro de Gravidade em cada ponto é igual.
Existem cálculos matemáticos que analisam parte a parte o centro de gravidade de um corpo
não uniforme, de forma a adquirir um resultado médio do centro de gravidade do mesmo.
2. LINHA GRAVITACIONAL
A localização do Centro de Gravidade do corpo como um todo varia, dependendo da
posição do corpo. Numa pessoa ereta, pode-se situá-lo de forma aproximada sobre uma linha,
formada pela interseção de um plano que corta o corpo em duas metades, uma direita e uma
esquerda, e um plano que corta o corpo em metade anterior e posterior. A posição do ponto do
Centro de Gravidade ao longo desta linha imaginária, pode-se considerar que a gravidade atua
sobre esse único ponto de Centro de Gravidade, puxando diretamente para baixo em direção ao
centro da terra. Essa linha ou direção de tração é a linha de gravidade.
3. BASE DE SUSTENTAÇÃO
A base de sustentação, ou a base de apoio para o corpo é a área formada abaixo do corpo
pela conexão com a linha continua de todos os pontos em contato com o solo. Na posição ereta,
por exemplo, a base de apoio é aproximadamente um retângulo, formado por linhas retas através
dos dedos, formado por linhas retas através dos dedos e calcanhares e ao longo dos dedos de
cada pé. Quando um corpo está numa posição fixa com a linha de gravidade passando através da
base de apoio, diz-se que ele está compensado, estável ou em equilíbrio estático. Se a linha de
gravidade passar fora da base de apoio, o equilíbrio e a estabilidade são perdidos e os membros
apoiadores devem mover-se para evitar uma queda. Essa situação ocorre continuamente, quando
andamos, corremos e mudamos de direção.
5. PLANOS E EIXOS
Planos de ação são linhas fixas de referencia ao longo das quais o corpo se divide. Há 3
planos e cada um está em ângulo reto ou perpendicular com dois planos.
O plano frontal passa através do corpo de lado a lado, dividindo-o em frente e costa. É
também chamado plano coronal. Os movimentos que ocorrem neste plano são abdução e adução.
O plano sagital passa através do corpo da frente para trás e o divide em direita e esquerda.
Pode-se pensar nele como uma parede vertical cuja extremidade se move. Os movimentos que
ocorrem neste plano são flexão e extensão.
O plano transverso passa horizontalmente pelo corpo e o divide em parte superior e inferior.
É também chamado plano horizontal. Neste plano, ocorre a rotação.
Sempre que um plano passa pela linha média de uma parte, esteja ela no plano sagital,
frontal ou transverso, está se referindo ao plano cardinal, porque divide o corpo em partes iguais.
O pondo onde os três planos cardinais se encontram é o centro de gravidade. No corpo humano
este ponto é, na linha média, mais ou menos ao nível da segunda vértebra sacra, ligeiramente
anterior a ela.
Os eixos são pontos que atravessam o centro de uma articulação em tomo da qual uma parte
gira. O eixo sagital é um ponto que percorre a articulação de frente para trás. O eixo frontal vai
de lado a lado e o eixo vertical, também chamado longitudinal, vai da parte superior à inferior.
O movimento articular ocorre em torno de um eixo que está sempre perpendicular a um
plano. Outro modo de se descrever este movimento articular, é que ele ocorre sempre no mesmo
plano e em tomo do mesmo eixo. Por exemplo, flexão/extensão ocorrerá sempre no plano sagital
em tomo do eixo frontal e a adução em tomo do eixo sagital. Movimentos semelhantes como o
desvio radial e ulnar do punho também ocorrerão no plano frontal em tomo do eixo sagital.
6. TIPOS DE MOVIMENTO
Movimento linear, também chamado movimento translatório, ocorre mais ou menos em
uma linha reta, de um lugar para outro. Todas as partes do objeto percorrem a mesma distancia,
na mesma direção e ao mesmo tempo. Se este movimento ocorrer em linha reta é chamado
movimento retilíneo. Se este movimento ocorre numa linha reta mas em uma forma curva, é
chamado curvilíneo.
O movimento de um objeto em tomo de um ponto fixo é chamado movimento angular,
também conhecido como movimento rotatório. Todas as partes do objeto movem-se num mesmo
ângulo, na mesma direção, ao mesmo tempo. Elas não percorrem a mesma distância.
Falando de um modo geral, a maioria dos movimentos do corpo é angular, enquanto os
movimentos feitos fora da superfície corporal tendem a ser lineares. Exceções podem ser
encontradas. Por exemplo, o movimento da escápula em elevação/depressão e pronação/retração
é essencialmente linear. Todavia, o movimento da clavícula, que é fixada à escápula, é angular e
realizado através da articulação extraclavicular.
7. MOVIMENTOS ARTICULARES
As articulações movem-se em direções diferentes. O movimento ocorre em tomo de um eixo
e de um plano. Os termos a seguir são usados para descrever os vários movimentos que ocorrem
numa articulação sinovial. A articulação sinovial é uma articulação móvel livre, onde a maioria
dos movimentos articulares ocorrem.
- Flexão: é o movimento de dobra de um osso sobre o outro causando uma diminuição do
ângulo da articulação.
- Extensão: é o movimento que ocorre inversamente à flexão. É o endireitamento de um
osso sobre o outro, causando aumento do ângulo de articulação. O movimento, geralmente, traz
uma parte do corpo à sua posição anatômica após esta ser flexionada. A hiperextensão é a
continuação da extensão, além da posição anatômica.
- Abdução: é o movimento para longe da linha média do corpo e adução é o movimento de
aproximação da linha média do corpo. As exceções a esta definição de linha média são os dedos
e os artelhos, onde o ponto de referência para os dedos é o dedo médio. O movimento para longe
do dedo médio abduz, mas aduz somente como um movimento de volta da adução. O ponto de
referência dos artelhos é o segundo artelho. Semelhante ao dedo médio, o segundo artelho abduz
da direita para a esquerda, mas não abduz a não ser como movimento de volta da adução.
- Circundução: é a combinação de todos esses movimentos numa seqüência em que a parte
da extremidade faz um grande círculo no ar, enquanto as partes próximas à extremidade
proximal fazem um círculo pequeno.
- Rotação: é o movimento de um osso ou parte dele em torno de seu eixo longitudinal. Se a
superfície anterior se move em direção à linha média, é chamado medial ou rotação interna. Se a
superfície anterior se movimenta para longe da linha média, este movimento é chamado rotação
lateral ou externa. Alguns termos são usados para descrever movimentos específicos de certas
articulações, como:
- Pronação: é o movimento ao longo de um plano paralelo ao solo e para longe da linha
média e retração é o movimento no mesmo plano em direção à linha média. Ainda existem
alguns termos como desvio ulnar e radial, para se referir à adução e abdução do punho.
- Inclinação lateral: quando se refere ao tronco que se move para a direita ou para a
esquerda.
9. SISTEMA DE ALAVANCAS
Uma alavanca é uma barra rígida que gira em torno de um ponto fixo quando uma força é
aplicada para vencer a resistência.
Uma quantidade maior de força ou um braço de alavanca mais longo aumentam o
movimento de força.
Há três classes de alavancas, cada uma com uma função e uma vantagem mecânica
diferente.
Diferentes tipos de alavancas também podem ser encontradas no corpo humano. No corpo
humano, a força que faz com que a alavanca se mova, na maioria das vezes e muscular. A
resistência que deve ser vencida para que o movimento ocorra, inclui o peso da parte a ser
movida, gravidade ou peso externo. A disposição do eixo em relação à força e a resistência vão
determinar o topo de alavanca.
A alavanca de 3ª classe é a mais comum das alavancas do corpo. Sua vantagem é a extensão
do movimento.
10. TORQUE
Se for exercida uma força sobre um corpo que possa girar em torno de um ponto central,
diz-se que a força gera um torque. Como o corpo humano se move por uma série de rotações de
seus segmentos, a quantidade de torque que um músculo desenvolve é uma medida muito
proveitosa de seu efeito.
Para empregar o valioso conceito de torque, devem-se compreender os fatores relacionados
à sua magnitude e as técnicas para seu cálculo. A magnitude de um torque está claramente
relacionada à magnitude da força que o está gerando, mas um fator adicional é a direção da força
em relação à posição do ponto central. A distância perpendicular do pivô à linha de ação da força
é conhecida como braço de alavanca da força. Um método para calcular o torque é multiplicar a
força (F) que gerou pelo braço de alavanca (d).
T=Fxd
Peitoral maior
Deltóide medial
Abdução Deltóide anterior
Supra-espinhal
Biceps braquial
Bíceps braquial
Peitoral maior
Tríceps braquial
Adução Grande dorsal
Coracobraquial
Redondo maior
Subescapular
Deltóide anterior
Adução horizontal Peitoral maior Bíceps braquial
Coracobraquial
Deltóide médio
Supra-espinhal
Deltóide posterior
Abdução horizontal Grande dorsal
Infra-espinhal
Redondo maior
Redondo menor
Deltóide anterior
Subescapular
Rotação interna Peitoral menor
Redondo maior
Bíceps braquial
Infra-espinhal
Rotação externa Deltóide posterior
Redondo menor
Trapézio
Elevação da escápula Elevador da escápula xxxxxx
Rombóide
Trapézio
Depressão da escápula Grande dorsal
Peitoral menor
15.3. LOMBALGIA
As causas de lombalgia foram classificadas em cinco categorias principais: distúrbios intra-
abdominais, doença vascular abdominal/periférica, distúrbios psicogênicos, fontes neurogênicas
como lesões do cérebro, medula espinhal e nervos periféricos, e fontes espondilogênicas, que
estão relacionadas à coluna vertebral e estruturas anatômicas associadas.
Uma questão recorrente a respeito dos distúrbios acompanhados de lombalgia é por que a
região lombar parece predisposta a lesões. Dois fatores fundamentais são a fraqueza inerente da
estrutura e as forças ou cargas que ela enfrenta durante tarefas quotidianas e atividades
recreativas/desportivas. As fontes das cargas às quais a coluna vertebral é submetida incluem o
peso corporal, cargas aplicadas externamente e a contração de músculos.
15.3.1. Cargas aplicadas à coluna vertebral
A dor no dorso, especialmente na região lombar, é tão prevalente nos esportes, ambientes
profissionais e mesmo situações domésticas que se tem empreendido pesquisas biomecânicas
sobre este tema em todo o mundo.
O desequilíbrio entre a força da musculatura dorsal e da abdominal pode ser fonte de
problemas. Um desequilíbrio pode criar, entre outras coisas, um desvio da postura pélvica, deste
modo alterando a curva lordótica e subseqüentemente sobrecarregando o disco.
As atividades causadoras de rotação são aquelas durante as quais a coluna vertebral é
submetida a torções vigorosas.
Em análises biomecânicas simplificadas, pode-se tratar a coluna vertebral como um corpo
rígido girando em tomo de seu eixo, situado na articulação lombossacral (L5-S 1). Considere
algumas das forças que atuam sobre esse tipo de modelo durante as posturas elementares de ficar
em pé e levantar-se, dado um homem de 891 N (91 kg) na posição ereta. Se 50% do peso
corporal estiverem acima da articulação lombossacral, pode-se pressupor uma força compressiva
de 445,5 N (45,5 kg). Contudo, no indivíduo normal, a face superior de S1 é inclinada para a
frente de 30º a 40º (ângulo sacral). Essa inclinação introduz uma força de cisalhamento de até
341,25 N 934,8g). as forças compressivas atuam predominantemente sobre o anel fibroso através
da compressão do núcleo pulposo. As forças de cisalhamento afetam principalmente o forame
intervertebral, às vezes denominado arco neural, a área entre os processos articulares inferior e
superior contíguos.
Se o homem agora fletir a coluna vertebral de modo que o ângulo seja 45º, é evidente que o
braço de momento do centro de gravidade da metade superior do corpo, e o braço de momento
de qualquer peso externo nas mãos ou em outro lugar, aumenta. Isto significa que se houver
necessidade de manter a metade superior do corpo numa posição de equilíbrio estático, o torque
exercido pelos extensores vertebrais (músculo eretor da espinha) deve ser igual a essa tendência
rotacional para a frente. Observa-se que o torque necessário aumenta à medida que o ângulo do
tronco aproxima-se de 90º, quando o braço de momento atinge seu máximo.
Quando o ângulo do tronco aumenta além de 90º e o centro de gravidade é trazido mais
próximo do eixo de rotação, o braço de momento começa a diminuir. Logo, a contribuição dos
extensores do tronco necessária para se opor a esse torque também se reduz. Entretanto, após um
certo ponto na amplitude de movimento da flexão vertebral e da flexão do quadril associada,
pode-se observar "relaxamento dos flexores".
Quando ocorreu relaxamento dos flexores, disse-se que as estruturas ósseo-ligamentosas
passivas foram responsáveis pela estabilização da coluna vertebral. (No entanto, o eretor da
espinha alongado e o grupo posterior profundo criam tensão passiva, a despeito do silencio
elétrico, segundo suas propriedades de comprimento-tensão). Como o braço de momento dos
ligamentos pós-vertebrais é pequeno, a necessidade de forças dessa magnitude é potencialmente
perigosa para os ligamentos. A perda de pelo menos parte do controle muscular nas posições
extremas fornece informações biomecânicas importantes acerca de diversas tarefas de
levantamento, simétricas e assimétricas.
17. TORNOZELO E O PÉ
A articulação do tornozelo consiste nas articulações talocrural (tibiotalar e talofibular) e
tibiofibular distal. É classificada como uma sinovial em dobradiça em virtude de sua arquitetura
óssea, um sistema de ligamentos colaterais medial e lateral, a cápsula articular e a parte distal da
membrana interóssea. A articulação do tornozelo é crucial na transmissão de força do corpo e
para o corpo durante a sustentação de peso e outras cargas.
As magnitudes dessas forças podem ser tão grandes, até 10 vezes o peso corporal durante
alguns tipos de corrida, por exemplo, que até mesmo pequenos desalinhamentos estruturais, ou
lesões podem acarretar problemas ortopédicos crônicos e intensos.
A transmissão de forças se dá na junção da extremidade distal da tíbia e face superior do
tálus; a fibula exerce um papel pequeno.
Arquiteturalmente, um encaixe ou abertura provida de borda, é formado pelos maléolos da
tíbia e da fíbula no qual a face superior do tálus se ajusta.
Essa estrutura é uma importante fonte de estabilidade para a articulação do tornozelo.
Os principais ligamentos que sustentam a articulação incluem a parte distal da membrana
interóssea a cápsula articular, ligamento deltóide (medialmente) e ligamento calcaneo-fibular
(lateralmente), os quatro últimos são considerados ligamentos colaterais.
O gínglimo biaxial permite uma flexão de aproximadamente 45º conhecida como
dorsiflexão e uma extensão de 45º conhecida como flexão plantar. Várias populações obviamente
demonstram valores bem maiores. Em geral os primeiros 10 a 20º são definidos como
dorsiflexão, o movimento restante é definido como flexão plantar.
CONCLUSÃO
Sendo assim, a biomecânica é definida como a aplicação de princípios de engenharia a
sistemas biológicos, ou o estudo de forças internas e externas geradas por, e atuantes sobre
sistemas biológicos e dos efeitos dessas forças sobre cada parte do organismo humano.
A análise e avaliação do movimento humano, contudo, não necessariamente incluem
contribuições de todos esses fatores. No entanto, boa parte deles são essenciais para o bom
funcionamento das estruturas que formam o corpo lhe proporcionando um melhor desempenho e
de forma eficiente.