You are on page 1of 4

.

Universidade Federal do Piauı́ - UFPI


Departamento de Matemática
Aula 33: Cálculo Diferencial e Integral II - M
Prof. Cı́cero Aquino

A Regra da Cadeia e suas aplicações

Nosso objetivo nesta aula é apresentar o conceito de derivada direcional e a regra da Cadeia para
funções reais de várias variáveis reais. Para este propósito, necessitamos estabelecer alguns fatos que
nos serão úteis.

1. A derivada direcional de uma função

Como antes, considere inicialmente f uma função real de n variáveis reais definida num conjunto
aberto Ω ⊂ Rn . Em seguida, fixe um certo ponto a = (a1 , . . . , an ) em Ω e um vetor não-nulo qualquer
v = (v1 , . . . , vn ) em Rn . A derivada direcional de f no ponto a e na direção v é definida por

f (a + tv) − f (a)
Dv f (a) = lim ,
t→0 t
quando tal limite existe.

Observação 1. Considere v = (0, . . . , 0, 1, 0 . . . , 0) o vetor que possui apenas a i-ésima coorde-


nada não nula. É imediato da definição acima que

f (0, . . . , 0, ai + t, 0, . . . , 0, an ) − f (a) ∂f
Dv f (a) = lim = (a).
t→0 t ∂xi
Com isto, percebemos que a noção de derivada direcional é mais geral do que a noção de derivada
parcial. De maneira similar ao que havı́amos feito anteriormente, apresentaremos agora alguns exem-
plos para funções de duas variáveis.

Exemplo 1. Calcule Dv f (a), onde f (x, y) = x2 + y 2 , a = (x0 , y0 ) e v = (v1 , v2 ).

Sol.: Inicialmente observe que a + tv = (x0 + tv1 , y0 + tv2 ). Logo,

f (a + tv) − f (a) f (x0 + tv1 , y0 + tv2 ) − f (x0 , y0 ) (x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 − (x20 + y02 )
= = .
t t t
Desenvolvendo a expressão anterior chegaremos a

f (a + tv) − f (a)
= 2x0 v1 + 2x0 v2 + tv1 + tv2 .
t
Mas então, usando a definição e a expressão anterior, concluimos que

f (a + tv) − f (a)
Dv f (a) = lim = lim (2x0 v1 + 2x0 v2 + tv1 + tv2 ).
t→0 t t→0

Portanto
Dv f (a) = 2x0 v1 + 2x0 v2 .

Exemplo 2. Para a função f (x, y) = x2 + y 2 , calcule Dv f (a), onde a = (x0 , y0 ) e v = (v1 , v2 ).

Sol.: Inicialmente vamos supor que a ̸= (0, 0). Observe que a + tv = (x0 + tv1 , y0 + tv2 ). Logo

Semestre: 2016-1 -1- Data: 06/07/2016


√ √
f (a + tv) − f (a) f (x0 + tv1 , y0 + tv2 ) − f (x0 , y0 ) (x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 − x20 + y02
= = .
t t t
Agora lembre que
√ √
(x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 − (x20 + y02 )
(x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 − x20 + y02 = √ √
(x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 + x20 + y02
Desenvolvendo a expressão anterior chegaremos a
√ √
2tx0 v1 + 2ty0 v2 + t2 v1 + t2 v2
(x0 + tv1 ) + (y0 + tv2 ) − x20 + y02 = √
2 2 √
(x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 + x20 + y02
Portanto, usando a definição e a expressão anterior, concluimos que
f (a + tv) − f (a) 2x0 v1 + 2y0 v2 + tv1 + tv2
Dv f (a) = lim = lim √ √ ,
t→0 t t→0 (x0 + tv1 )2 + (y0 + tv2 )2 + x20 + y02
donde obtemos a igualdade
x0 v1 + y0 v2
Dv f (x0 , y0 ) = √ 2 .
x0 + y02
Observe que a função f em questão, apesar de estar definida em todos os pontos do plano, não possui
derivadas direcionais na origem.

2. A regra da cadeia
Ao usarmos a definição para calcularmos a derivada direcional de uma função podemos nos deparar
com uma situação complicada como exibe o exemplo abaixo.
2 +y 2
Exemplo 3. Calcule Dv f (a), onde f (x, y) = ex , a = (x0 , y0 ) e v = (v1 , v2 ).

Sol.: Inicialmente observe que a + tv = (x0 + tv1 , y0 + tv2 ). Logo,

f (a + tv) − f (a) f (x0 + tv1 , y0 + tv2 ) − f (x0 , y0 ) − ex0 +y0


2 +(y 2 2 2
e(x0 +tv1 ) 0 +tv2 )
= = .
t t t
Portanto, usando a definição e a expressão anterior, concluimos que
f (a + tv) − f (a) − ex0 +y0
2 +(y 2 2 2
e(x0 +tv1 ) 0 +tv2 )
Dv f (a) = lim = lim .
t→0 t t→0 t
Observe que este limite nos fornece uma ideterminação. Neste ponto chamamos a atenção de que
esta situação nos coloca diante de uma escolha: lembrar das técnicas do cálculo de limites de funções
reais de uma variável real ou procurar um caminho alternativo. A segunda opção é por muitas vezes
a mais razoável.
Nesse sentido, inspirados no exemplo anterior, iremos agora tentar obter uma saı́da alternativa
para este problema. Note que sendo a = (x0 , y0 ) e v = (v1 , v2 ), da definição de derivada direcional
segue que
f (a + tv) − f (a) = f (x0 + tv1 , y0 + tv2 ) − f (x0 , y0 ).
Como a e v são fixados desde o inı́cio, as funções coordenadas dependem apenas do parâmetro t.
Escrevamos assim f (a + tv) = f (x(t), y(t)), onde x(t) = x0 + tv1 e y(t) = y0 + tv2 são funções que
dependem apenas de t. Note que

x(0) = x0 e y(0) = y0 .

Semestre: 2016-1 -2- Data: 06/07/2016


Com estas notações, podemos escrever

f (a + tv) − f (a) f (x(t), y(t)) − f (x(0), y(0))


= .
t t
Para simplificar um pouco mais a notação, considere a função real de uma variável real definida por
z(t) = f (x(t), y(t)). Com isto, reescrevemos a expressão anterior do seguinte modo

f (a + tv) − f (a) z(t) − z(0)


= .
t t
Fica claro então que

f (a + tv) − f (a) z(t) − z(0) dz


Dv f (a) = lim = lim = (0).
t→0 t t→0 t dt
dz
Ou seja, para calcularmos Dv f (a) precisamos saber calcular (0). Observe com atenção: nossa
dt
tarefa é calcular a seguinte derivada
dz d
(t) = f (x(t), y(t))
dt dt
e depois aplicar em t = 0. Nesse ponto, para que seja possı́vel calcularmos satisfatoriamente a
derivada acima, vamos atribuir uma “qualidade” à função f . Vamos supor que f seja diferenciável
em a. Isto basta como iremos ver adiante. Pela definição que apresentamos na aula anterior, sendo
f diferenciável em a segue que podemos escrever
∂f ∂f
f (a + h) − f (a) = (a)h1 + (a)h2 + r(h),
∂x ∂y

r(h)
onde lim = 0. Agora considere h(t) = tv = t(v1 , v2 ). Logo, como v é fixo, temos que h(t) → 0
h→0 |h|
se, e somente se, t → 0. Portanto, observando que as coordenadas de h(t) são h1 (t) = x(t) − x(0) e
h2 (t) = y(t) − y(0), segue da definição anterior que
( ) ( )
z(t) − z(0) f (a + tv) − f (a) ∂f x(t) − x(0) ∂f y(t) − y(0) r(h)
= = (a) + (a) + .
t t ∂x t ∂y t t

Fazendo t → 0, e lembrando que z(t) = f (x(t), y(t)), obtemos da expressão acima que

dz d ∂f dx ∂f dy ∂f ∂f
(0) = f (x(t), y(t)) = (a) (0) + (a) (0) = (a)v1 + (a)v2 .
dt dt t=0 ∂x dt ∂y dt ∂x ∂y
Portanto, desses cálculos concluimos que
∂f ∂f
Dv f (a) = (a)v1 + (a)v2 . (1)
∂x ∂y
2 +y 2
Voltando ao Exemplo 3, a função em questão é f (x, y) = ex , cujas derivadas parciais são

∂f 2 2 ∂f 2 2
(x, y) = 2xex +y e (x, y) = 2yex +y .
∂x ∂y

Pela fórmula que encontramos em (1) teremos


2 2 2 2
Dv f (x0 , y0 ) = 2x0 v1 ex0 +y0 + 2y0 v2 ex0 +y0 .

Semestre: 2016-1 -3- Data: 06/07/2016


Exemplo 4. A expressão encontrada em (1) só poderá ser usada se a função for diferenciálvel no
ponto em questão. Para isto, considere f : R2 → R a função definida por

 xy
 √ 2
 , se (x, y) ̸= (0, 0)
x + y2
f (x, y) =


 0, se (x, y) = (0, 0)

Agora vamos supor que a = (0, 0). Como antes, observe que a + tv = (tv1 , tv2 ). Logo,

f (a + tv) − f (a) f (tv1 , tv2 ) − f (0, 0) 1 (tv1 )(tv2 ) t v1 v2


= = √ = √ 2 .
t t t (tv1 ) + (tv2 )
2 2 |t| v1 + v22

Portanto, usando a definição e a expressão anterior, concluimos que

f (a + tv) − f (a) t vv
Dv f (a) = lim = lim √ 1 2 .
t→0 t t→0 |t| v12 + v22

Agora observe que 


t  1, se t > 0
=
|t| 
−1, se t < 0
Com isto, fica claro que o limite acima não existe quando as duas coordenadas do vetor v fo-
rem não-nulas, pois os limites laterais serão diferentes. Por outro lado, como vimos na aula pas-
∂f ∂f
sada (0, 0) = 0 = (0, 0). Se utilizássemos a formula (1) irı́amos concluir erroneamente que
∂x ∂y
Dv f (0, 0) = 0. O erro está no fato de que a função f em questão não é diferenciável na origem (0, 0).

Observação 2. Da fórmula (1) concluimos o seguinte


⟨ ( ∂f ∂f
) ⟩
Dv f (a) = (a), (a) , (v1 , v2 ) . (2)
∂x ∂y

O vetor gradiente de f no ponto a é definido por


( )
∂f ∂f
∇f (a) = (a), (a) .
∂x ∂y

Com essas notações, da equação (2) concluimos que


⟨ ⟩
Dv f (a) = ∇f (a), v .

Observação 3. Das contas anteriores, se supomos que f seja uma função real de duas variáveis
reais diferenciável em a = (x0 , y0 ) e que as funções coordenadas x(t) e y(t) são deriváveis em t0 , onde
(x(t0 ), y(t0 )) = a, então a função z(t) = f (x(t), y(t)) satisfaz a seguinte igualdade

dz d ∂f dx ∂f dy
(t0 ) = f (x(t), y(t)) = (x0 , y0 ) (t0 ) + (x0 , y0 ) (t0 ).
dt dt t=t0 ∂x dt ∂y dt

Escrevendo de forma mais simples, se z(t) = f (x(t), y(t)), então

dz ∂f dx ∂f dy
= + ,
dt ∂x dt ∂y dt
que é uma das primeiras versões da regra da cadeia.

Semestre: 2016-1 -4- Data: 06/07/2016

You might also like