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RESUMO
PALAVRAS CHAVE
2
1.1 Modelo do tratamento anaeróbio num reator UASB e aeróbio em LA.
;
onde,
Rsu é a idade de lodo anaeróbio (dias).
Figura 2: Frações da DQO afluente no
efluente, no lodo e transformada em metano
em função da idade de lodo.
3
Figura 3: Representação esquemática do fluxo e Figura 4: Divisão do material orgânico do
transformações da MO em sistemas aeróbios de efluente anaeróbio no pós-tratamento na LA.
tratamento.
Na Figura 3 pode ser visualizada as interações do material orgânico e do lodo em reatores aerados
e com lodo em suspensão tais quais lagoas aeradas. Na Figura 3 podem ser identificados:
1. fus que é a fração não biodegradável e solúvel da DQO afluente e que é descarregada no efluente
sem sofrer modificações;
2. fup ou fração não biodegradável e particulada da DQO afluente que é floculada formando a fração
inerte do lodo aerado;
3. a fração biodegradável da DQO afluente que é metabolizada e parcialmente transformada em lodo
ativo (massa de bactérias vivas) enquanto que o restante é oxidado resultando numa demanda de oxigênio
(respiração exógena);
4. em paralelo à respiração exógena ocorre a respiração endógena com o decaimento do lodo ativo.
Na respiração endógena uma fração f do lodo decaído se transforma num resíduo não biodegradável
(resíduo endógeno) e a diferença (1-f) é oxidada gerando outra demanda de oxigênio.
MARAIS E EKAMA (1976) ao modelarem o sistema de lodo ativado desenvolveram expressões
teóricas para as três frações da DQO afluente que deixam o reator aerado. São elas:
em que:
mSe é a fração de DQO afluente descarregada no efluente;
mSxl é a fração de DQO afluente descarregada no lodo de excesso;
mSo é a fração de DQO afluente oxidada no reator;
mSexo é a fração de DQO afluente oxidada devido a respiração exógena;
4
mSend é a fração de DQO afluente oxidada devido a respiração endógena;
fus é a fração da DQO afluente não biodegradável e solúvel;
fup é a fração da DQO afluente não biodegradável e particulada
Yae é o coeficiente de crescimento
= 0,45 mgSSV/mgDQO (MARAIS e EKAMA 1976);
fcv é a DQO de uma unidade de massa de sólidos suspensos voláteis
é 1,5 mg DQO /mgSSV (MARAIS e EKAMA 1976);
f é a fração do lodo ativo decaído que permanece como resíduo endógeno
= 0,2 (MARAIS e EKAMA 1976);
bh é a constante de decaimento
= 0,24(1,04)(t-20) /d (MARAIS e EKAMA 1976);
Rsa é a idade de lodo.
As Equações (4, 5 e 6) só são válidas se a remoção do material biodegradável é praticamente
completa, o que depende da idade de lodo. VAN HAANDEL e MARAIS (1999) desenvolveram uma
expressão que permite estimar a idade de lodo mínima em função da temperatura Os valores são 3, 1,2 e
0,6 dias para haver 90% de remoção do material biodegradável a 14, 20 e 26 oC, respectivamente.
Geralmente a idade de lodo em sistemas de lodo ativado é maior que esses valores, de modo que
normalmente a remoção do material biodegradável será praticamente completa. Todavia, na prática pode
haver uma concentração considerável de material biodegradável no efluente, mas isto deve ser atribuída a
imperfeições na separação de fases e a conseqüente descarga de partículas de lodo.
Os valores das frações da DQO nas Equações (4, 5 e 6) dependem de vários fatores; (1) a idade de
lodo, (2) a composição da DQO no afluente (os valores numéricos das frações não biodegradáveis solúvel
(fus) e particulada (fup), (3) os parâmetros de massa do lodo ( coeficiente de rendimento, Y; razão
DQO/SVS, fcv e fração endógena, f) e (4) a constante de decaimento, bh, que por sua vez é influenciada
pela temperatura. Como exemplo, observam-se na Figura 4 os valores das frações das Equações (4 a 6)
em função da idade de lodo para fus = 0,39 e fup = 0,00 a 25 oC (encontrados na investigação experimental).
As Equações (4 a 6) definem exatamente os aspectos mais importantes do tratamento aeróbio,
quais sejam: a DQO no efluente (que estabelece a eficiência do tratamento), a fração do material orgânico
convertida em lodo (que determina a produção de lodo) e a fração da DQO que é oxidada (que determina
a demanda de oxigênio e, portanto, a capacidade de aeração a ser instalada). A validade do modelo de
MARAIS E EKAMA (1976) foi testado amplamente com esgoto bruto e sedimentado. Neste trabalho
procurou-se estabelecer se o modelo também se aplica para esgoto pré-tratado anaerobiamente.
A validade do modelo pode ser verificada experimentalmente pelas determinações experimentais
das três frações: (1) no efluente, (2) no lodo de excesso e (3) destruída pela oxidação, com as expressões:
em que:
m’Se é a fração experimental da DQO no efluente;
m’Sxae é a fração experimental da DQO transformada em lodo de excesso;
m’So é a fração da DQO que é oxidada;
Seu, Se é a concentrações da DQO no afluente e no efluente da LA;
Vl é o volume da LA;
Xv é a concentração de lodo volátil;
Qa é a vazão de esgoto e
TCOc é a taxa de consumo de oxigênio na LA.
Todos os Parâmetros das Equações (7, 8 e 9) podem ser determinados experimentalmente e,
5
portanto, podem ser calculados os valores das três fração para qualquer conjunto de condições
operacionais. Esses valores, então, podem ser comparados aos valores teóricos determinados com as
Equações (4, 5 e 6). Quando se estabelecem que os valores experimentais m’Se, m’Sxae e m’So são iguais
aos valores teóricos mSe, mSxae e mSo respectivamente, fica comprovado que o modelo descreve
adequadamente o comportamento do sistema e, assim, aspectos importantes (DQO efluente, produção de
lodo e demanda de oxigênio) do sistema podem ser calculados para qualquer conjunto de condições
operacionais.
Naturalmente a composição do material orgânico no efluente anaeróbio a ser tratado na LA é muito
diferente daquela no esgoto bruto. No esgoto bruto as frações não biodegradáveis (particulada e solúvel)
têm valores da ordem de fup = 0,06 e fus = 0,14, respectivamente (VAN HAANDEL e MARAIS, 1999). No
efluente anaeróbio a concentração do material biodegradável e solúvel é muito menor que no esgoto bruto,
sendo, no entanto, a concentração material não biodegradável e solúvel a mesma (presume-se uma
concentração constante independente dos tratamentos). Desse modo, a fração não biodegradável e
solúvel será maior. Uma vez que a eficiência do tratamento anaeróbio geralmente está na faixa de 65 a
80% (2/3 a 4/5), pode-se esperar que a fração fus no efluente anaeróbio seja 3 a 5 vezes maior que no
esgoto bruto.
Quanto ao material não biodegradável e particulado, se não houver descargas de lodo de excesso
do reator UASB, este será descarregado juntamente com o efluente. Nesse caso, a concentração do
material não biodegradável e particulado no efluente anaeróbio será igual à concentração no esgoto bruto.
Por outro lado, quando se aplica descarga de lodo de excesso do reator UASB, a concentração do material
não biodegradável e particulado será muito baixa, uma vez que o reator UASB é equipado com um
dispositivo de separação de fases muito eficiente. Na Figura 5, procura-se mostrar graficamente as frações
da MO no esgoto bruto (esquerda), no efluente do reator UASB sem descarga de lodo de excesso (centro)
e com descarga de lodo de excesso (direita).
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2 MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se uma investigação experimental para avaliar se a teoria de lodo ativado pode ser usada
para descrever o comportamento de LA’s tratando efluentes de reatores UASB. Foi montado um sistema
experimental formado por uma LA com volume de 1440 litros e alimentada com esgoto previamente
digerida em um reator UASB com tempo de detenção hidráulica, Rh de 5 horas. A LA tinha agitação
independente da aeração feita com ar comprimido. A concentração de oxigênio dissolvido (OD) era
mantida em 2 a 4 mg/L. A LA foi operada com vários tempos de detenção hidráulica (Rh) e diferentes
idades de lodo (Rsa). Os parâmetros determinados foram o consumo de oxigênio, a concentração de
sólidos suspensos voláteis e sólidos suspensos totais, bem como a DBO5 e a DQO do efluente, todos
segundo o Standard Methods (APHA et al (1995).
O sistema UASB-LA foi operado de duas diferentes maneiras. Na primeira, a LA não tinha
decantador mecanizado e não havia recirculação de lodo aeróbio para a LA de modo que a composição do
efluente era sempre igual à do conteúdo da LA. Os sólidos sedimentáveis presentes no efluente da LA
eram separados em uma lagoa de 110 litros e o efluente final quase não tinha partículas de lodo. Nessa
modalidade a LA era um reator de mistura completa, de maneira que a idade de lodo sempre era igual ao
tempo de permanência do líquido na lagoa. No segundo modo operacional um decantador foi acoplado à
LA e o lodo sedimentado era recirculado, de maneira que a LA era transformada efetivamente em um
sistema de lodo ativado. Nesse modo operacional a idade de lodo se tornou independente do tempo de
permanência hidráulico.
Realizou-se três experimentos diferentes cada um com uma duração de aproximadamente 2
meses. No Experimento 1, a LA de mistura completa foi operada com tempos de permanência diferentes e
sem recirculação de lodo (Figura 1a), enquanto o reator UASB era operado sem descarga de lodo de
excesso. No Experimento 2, a LA foi operada com um decantador final e recirculação de lodo, mantendo-
se valores diferentes da idade de lodo e do tempo de permanência do líquido na LA e o reator UASB era
operado sem descarga de lodo de excesso (Figura 1b). No Experimento 3, a LA foi operada como no
Experimento 2, mas o efluente do reator UASB era sedimentado antes de entrar na LA, simulando uma
situação que ocorreria se lodo de excesso fosse descarregado do reator UASB (Figura 1c).
No Experimento 1 a LA foi operada a seis tempos de permanência diferentes. A Tabela 1 mostra os
dados experimentais. Os seguintes parâmetros foram observados em função do tempo de permanência:
(1) DQO digerida do reator UASB, (Seu); (2) DQO na LA (e no seu efluente) (Sel) e (3) após sedimentação,
(Se), (4) DBO do efluente da LA antes (DBOel) e (5) após sedimentação (DBOe), (6) concentração dos SSV
no efluente da LA, antes Xv e (7) depois de sedimentação, Xve, (8) concentração dos SST na LA antes (Xt)
e (9) depois da decantação (Xte) e (10) a taxa de consumo de oxigênio (TCOc). Em várias ocasiões não foi
possível determinar a TCO porque seu valor era tão baixo que o resultado era influenciado
substancialmente pela absorção de oxigênio do ar que era da ordem de 0,2mg.L-1.h-1, para uma
concentração de OD de 3-4 mg/L. Por esta razão só se incluiu valores da TCO acima de 2mg.L-1.h-1. Esses
valores ocorriam somente quando o tempo de permanência era muito curto (Vide Tabela 1).
No Experimento 2 a mesma LA foi usada com um decantador mecanizado de 250 litros (taxa de
recirculação 1:1), tendo-se, portanto, uma idade de lodo independente do tempo de permanência. Uma vez
que a eficiência do tratamento é função da idade de lodo e não do tempo de permanência (Equações 4, 5
e 6) este último era mantido a um valor baixo, 12 e 6 horas, enquanto se variava a idade de lodo entre 2 e
4 dias. Para o controle da idade de lodo na LA, descarregava-se diariamente um volume igual a uma
fração 1/Rs do volume da LA. Assim por exemplo para manter uma idade de lodo de Rs = 4 dias
descarregava-se diariamente ¼ do volume da LA de 1440 litros, i.e. 360 L/d. O lodo que escapava no
efluente era retornado à LA.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2 mostra a média dos dados obtidos do Experimento 2. foram determinados os seguintes
parâmetros para diferentes valores da idade de lodo (Rsa) e tempo de permanência do líquido da lagoa
(Rh): DQO do efluente anaeróbio (Seu), e do efluente final (Se), DBO5 do efluente final (DBOe), taxa de
consumo de oxigênio (TCOc) e da concentração de lodo total e volátil na LA (Xt e Xe) e no efluente final
(Xte). Os dados mostram que é possível obter uma qualidade de efluente muito boa em termos de DBO5 e
SST, mesmo para valores baixos do tempo de permanência (6 horas). Os dados também mostram que
não havia uma relação clara entre a idade de lodo e concentração da DQO e a DBO5 no efluente final, de
modo que se deve supor que essas diferenças se devam a erros experimentais ou variações da
composição do material orgânico no afluente ou da eficiência do decantador. Para idades de lodo mais
longas a concentração de lodo na LA aumentou embora não tenham sido observados valores acima de
1000mg/L. A sedimentabilidade dos flocos era muito boa e, em nenhum momento, havia sinal de
surgimento do lodo filamentoso.
No Experimento 3 foram usados os mesmos valores de idade de lodo e do tempo de permanência
do Experimento 2, mas o efluente anaeróbio era sedimentado antes de ser encaminhado à LA. Os dados
experimentais estão na Tabela 3. Quando se compara os dados nas Tabelas 2 e 3, nota-se que a remoção
de sólidos sedimentáveis do efluente anaeróbio não afetou os valores da DQO e da DBO5 no efluente final,
mas tinha um efeito forte sobre a produção de lodo aeróbio e o consumo de oxigênio.
Tabela 1:- Resultados do experimento 1: LA sem recirculação de lodo e uma lagoa de decantação tratando
efluente de um reator UASB operado sem descarga de lodo de excesso.
Rh DQO DBO5 Lodo Volátil Lodo Total
(dias)
Seu Sel Se DBOel DBOe Xv Xve Xt Xte TCOc
(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/l/h)
0,5 221 162 76 67 42 62 28 101 55 3,2
1 187 138 45 40 16 63 17 81 37 <2
1,6 253 174 57 42 28 70 14 107 28 2,2
2,2 236 166 68 38 11 65 23 93 32 <2
3 205 135 55 22 19 48 16 76 26 <2
4 232 145 63 24 7 59 11 82 20 <2
8
Tabela 3 - Resultados de Experimento 3: LA com decantador e recirculação de lodo, tratando efluente
sedimentado de um reator UASB.
Rh Rsa Seu Se DBOe TCOc Xt Xv Xte
0,5 2 135 65 12 3,3 112 87 23
0,5 3 148 47 22 4,4 203 165 14
0,5 4 135 58 12 4,5 212 170 28
0,25 2 132 42 15 5,9 265 195 35
0,25 3 140 48 9 7,8 337 289 20
0,25 4 132 56 14 7,6 369 288 17
Tabela 4 - Valores das frações da DQO no efluente da LA, no lodo de excesso e oxidada na LA e a soma
destas três frações em função da idade de lodo para Experimento 2.
Rh Rsa m’Se m’Sxl M’So Soma
0,5 2 0,26 0,45 0,30 1,01
0,5 3 0,34 0,42 0,34 1,10
0,5 4 0,25 0,38 0,40 1,03
0,25 2 0,37 0,45 0,32 1,14
0,25 3 0,21 0,40 0,37 0,98
0,25 4 0,24 0,37 0,37 0,99
Média 1,04
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Tabela 5 - Valores das fração da DQO no efluente da LA, no lodo de excesso e oxidada na LA e a soma
destas três frações em função da idade de lodo para experimento 3
Rh Rs m’Se m’Sxl M’So Soma
0,5 2 0,48 0,24 0,29 1,02
0,5 3 0,32 0,28 0,36 0,95
0,5 4 0,43 0,24 0,40 1,07
0,25 2 0,32 0,28 0,27 0,86
0,25 3 0,34 0,26 0,33 0,94
0,25 4 0,42 0,20 0,35 0,97
Média 0,97
Tabela 6 - Valores da fração não biodegradável e solúvel no efluente dom reator UASB nos
Experimentos 1, 2 e 3
Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3
Rs (dias) fus (-) Rs (dias) fus(-) Rs (dias) fus (-)
0,5 0,34 2 0,26 2 0,48
1 0,24 3 0,34 3 0,32
1,6 0,22 4 0,25 4 0,43
2,2 0,29 2 0,37 2 0,32
3 0,27 3 0,21 3 0,34
4 0,27 4 0,24 4 0,42
Média 0,27 Média 0,28 Média 0,39
Desv. Padr. 0,04 Desv. Padr. 0,06 Desv. Padr. 0,06
A Equação (7) foi usada para estimar o valor da fração não biodegradável e solúvel no efluente
do reator UASB (fus). Na Tabela 6 se encontram os valores calculados para os Experimentos 1, 2 e 3
de condições operacionais diferentes na LA. Cada valor de fus é o resultado de um número
considerável de determinações no afluente e no efluente final da LA. Portanto, a larga variação dos
valores numéricos não pode ser atribuída somente a erros experimentais, claramente os diferentes
valores refletem variações na composição da DQO do afluente devido ‘as variações na composição do
esgoto bruto durante o ano.
Como previsto no modelo, os dados indicam que o valor de fus não muda com os diferentes
valores da idade de lodo ou tempo de permanência na LA. As médias dos valores de fus nos Experimentos
1 e 2 eram bem menores que no Experimento 3, o que deve ser atribuído à presença de lodo anaeróbio no
afluente da LA nos experimentos 1 e 2. No Experimento 3, sem essa contribuição do afluente da LA, a
fração não biodegradável e solúvel se torna maior.
Os dados da produção de lodo e do consumo de oxigênio podem ser usados para estimar a fração
não biodegradável e particulada no efluente anaeróbio, fup. A Equação (5) foi usada para calcular os
valores teóricos da fração transformada em lodo, mSxae, em função da idade de lodo na LA para vários
valores de fup. O resultado desses cálculos é uma família de curvas, cada curva para um determinado valor
de fup. Essas curvas então foram comparadas com os valores experimentais da fração experimental da
DQO transformada em lodo, calculados a partir dos dados nas Tabelas 2 e 3 com a Equação (8). Os
resultados desse procedimento estão na Figura 6a, para os Experimentos 1 e 2 e na Figura 6b, para o
Experimento 3. Para a Figura 6a foi usado fus = 0,28 para gerar as curvas e para a Figura 6b, fus = 0,39.
Os valores de fup também podem ser estimados a partir da fração oxidada da DQO na LA, usando-
se a Equação (6). Uma família de curvas pode ser gerada em função da idade de lodo para diferentes
valores de fup e estas curvas podem ser comparadas com valores experimentais de mSo. O procedimento é
exemplificado na Figura 6c para Experimentos 1 e 2 (efluente bruto do UASB) e na Figura 6d para
Experimento 3 (efluente sedimentado do UASB).
10
A comparação dos dados experimentais com as curves teóricas para mSxae e mSo sugere um valor
de fup= 0,15 para o efluente bruto do UASB (Figuras 6a e 6c) a um valor muito pequeno (fup ≈ 0,00),
quando se usa efluente sedimentado. Em todos os casos, os dados experimentais de m’Sxl e m’So tendem
a variar com a idade de lodo em conformidade com a teoria, ou seja, demonstram a aplicabilidade do
modelo de MARAIS E EKAMA (1976) para descrever o comportamento da LA tratando esgoto digerido
num reator UASB.
Figura 6 - Valores experimentais e teóricos das frações da DQO convertida em lodo, na LA, em função da
idade de lodo para os Experimentos 1 e 2 (a) e Experimento 3 (b) e da fração da DQO oxidada para os
Experimentos 1 e 2 (c) e Experimento 3 (d).
Quanto aos dados da DBO5, os valores na Tabela 1 (sem recirculação de lodo sendo, portanto, a
idade de lodo igual ao tempo de permanência do líquido) mostram que para uma idade de lodo de menos
que 1 dia a concentração da DBO5 (DBOe) aumenta o que é uma clara indicação que o metabolismo do
material orgânico do afluente da LA não é completo. A partir dos dados da Tabela 1, conclui-se que, nas
condições operacionais aplicadas, precisa-se de uma idade de lodo mínima de 1 dia para se ter remoção
11
substancialmente completa do material biodegradável na LA. Isso significa que na LA sem recirculação de
lodo o tempo de permanência do líquido deve ser no mínimo de 1 dia. Quando se aplica recirculação de
lodo na LA o tempo de permanência (e, portanto, o volume) pode ser bem menor que 1 dia como indicam
os dados nas Tabelas 2 e 3.
Pode-se calcular a área necessária para qualquer tempo de permanência ao se adotar uma
determinada profundidade. Por exemplo, para um tempo de permanência de 6 horas e uma profundidade
de 4m, adotando-se uma produção per capita de 120 L/d ou 0,12 m3/d, o volume per capita seria 0,12*0,25
= 0,03 m3, de modo que a área per capita seria 0,03/4 = 0,0075m2 ou 75cm2. Ao se adotar um tempo
adicional de 2 horas para o decantador, pode-se estimar uma área per capita total para a lagoa de 0,01m2,
o que é equivalente á área que se espera para um reator UASB (VAN HAANDEL e LETTINGA, 1994).
Comparativamente, uma lagoa de polimento sem mecanização requer uma área de 0,5 to 1,0m2/hab,
(CAVALCANTI, 2003), i.e. 50 a 100 vezes maior que a LA.
Para se obter um efluente final clarificado, o efluente da LA sem decantador mecanizado deverá ser
encaminhado para uma lagoa de decantação que ficará cheia de lodo em pouco tempo, de maneira que
será necessário construir duas unidades para que enquanto de uma está sendo removido o lodo a outra
está em operação. É bem provável que o lodo sedimentado, por não estar estabilizado, cause sérios
problemas de odor. Já na LA com decantador mecanizado, a estabilização do lodo aeróbio de excesso
pode ser realizada no próprio reator UASB. Os dados de Tabela 5 mostram que uma fração de
aproximadamente 0,35 (dependente da idade de lodo) da DQO do efluente do UASB (com descarga de
lodo anaeróbio de excesso) se transforma em lodo aeróbio e por isso deveria retornar ao reator UASB para
estabilização anaeróbia. Como a DQO do efluente do reator UASB era em torno de 140 mg/L (vide dados
de Tabela 3), a DQO que seria retornada como lodo aeróbio para o reator UASB representaria uma
concentração de 0,35*140 = 49 mg/L. Esse valor é muito baixo comparado com a DQO do esgoto bruto
que era em torno de 600 a 650mg/L. A introdução do lodo aeróbio juntamente com esgoto bruto
aumentaria a carga orgânica afluente ao reator UASB de somente 49/(600 a 650)mg/L ou 8%
aproximadamente. No caso da introdução do efluente bruto do reator UASB na LA, a produção de lodo
aeróbio é bem maior (Tabela 2): aproximadamente de 40% da DQO do efluente do reator UASB, que era
em torno de 200mg/L, são transformados em lodo aeróbio na LA (Tabela 4). Portanto, a concentração
adicional da DQO no afluente do UASB ao se adicionar o lodo aeróbio seria de 0,4*200=80mg/L, que
representaria um aumento de 20% na concentração da DQO do esgoto bruto, podendo ainda ser
considerado um aumento insignificante. Normalmente o critério de projeto do reator UASB é a carga
hidráulica e não a carga orgânica.
Demonstrou-se (NASCIMENTO et al, 2001) que o reator UASB não é eficiente como unidade de
digestão de lodo quando o lodo aeróbio é o único substrato. Todavia, quando se adiciona lodo juntamente
com esgoto o reator UASB, adições de até 60% não prejudicam o desempenho do reator (COSENTINO et
al, 2005).
Uma variável importante no sistema anaeróbio-aeróbio é o tempo de permanência do líquido (Rh) no
reator UASB. Mesmo sendo tecnicamente possível operar um reator UASB a Rh muito curto isto pode não
ser atraente do ponto de vista econômico: ao se reduzir o tempo de permanência do líquido a idade de
lodo diminui, levado a um aumento da concentração da DQO no efluente (Equação 1 e Figura 2). Portanto,
haverá um aumento no custo do pós-tratamento. O valor de Rh ótimo é determinado por um custo total
mínimo do tratamento anaeróbio e pós-tratamento aeróbio que ainda produza um efluente
substancialmente livre de material biodegradável em sólidos em suspensão.
O valor de Rh na LA também é limitado por considerações práticas. Quando o Rh é muito curto, a
concentração de lodo é alta e uma separação de fase eficiente se torna progressivamente mais difícil. Por
exemplo, na Tabela 2, a concentração de lodo é de 345mg/L para uma idade de lodo de 2 dias e um
tempo de permanência de 0,5 dias =12 horas. Para um Rh de 2 horas na LA, a concentração de lodo seria
6 vezes maior: 2070mg/L. Para altas concentrações de lodo se requer um decantador eficiente
(presumivelmente com ponte giratória). Se o Rh é mais longo, a concentração de lodo será menor e a
12
separação de fase se torna factível em um decantador não mecanizado. Assim o Rh ótimo depende de
considerações de custo e de simplicidade operacional. A Figura 7 mostra a relação entre o tempo de
permanência, Rh, e a concentração de lodo para o Experimento 2, podendo-se ver que o Rh deve ser entre
5 a 8 horas para manter a concentração abaixo de 500 a 1000mg/L, i.e. na faixa de valores onde a
sedimentação zonal ainda não se desenvolve e a separação de fases é rápida e fácil.
13
sem aeração mecânica. Os custos de uma lagoa de polimento variam muito devido a diferenças de preços
de terrenos, o tamanho da lagoa, a topografia, a natureza do solo e dispositivos construtivos
(impermeabilização, proteção de taludes), podendo estar na faixa de US$50.000 a US$250.000 por
hectare. Para uma área per capita de 1m2, estima-se um investimento per capita da ordem de US$15
(CAVALCANTI, 2003). O investimento para a LA seria na construção da lagoa+ decantador, compra e
instalação dos aeradores e possivelmente de um gerador de energia. Ao se adotar um custo de U$250/ m3
de LA ou decantador e um tempo de permanência de 6 horas na LA e 2 horas no decantador (tempo de
permanência do líquido total de 8 horas) o volume per capita seria 40L (contribuição per capita de 120 L/d).
Portanto, o custo seria 0,040*250 = US$10 per capita. Tendo-se uma demanda de potência de 0,25W per
capita e supondo um custo de instalação de US$1000/kW para aeradores e US$2000/kW para geradores,
o custo per capita de aeradores + gerador seria = 0,25 + 0,5 = 0,75US$. Portanto, o custo de investimento
total para LA + aeradores+ gerador seria US$(10 + 0,75) = 11US$/hab, o que é da mesma ordem de
grandeza que aquele de uma lagoa de polimento, mesmo se é incluído uma unidade de cloração. Conclui-
se que a diferença de custos de investimento de LA e de lagoa de polimento não é grande e em geral não
será o fator decisivo na seleção do sistema a ser adotado. Outros fatores como disponibilidade de terreno
e pessoal para operar o sistema de tratamento e uso do efluente (por exemplo, na irrigação) podem ser
mais importantes.
Quanto à possibilidade de uso do efluente para irrigação, podem-se fazer as seguintes considerações
parra os sistemas UASB+LA e UASB + lagoa de polimento:
9 em termos da concentração de nutrientes os dois sistema são equivalentes: na LA há uma
pequena perda devido à produção de lodo, mas este também pode ser usado como adubo na
agricultura;
9 a concentração de material biodegradável na lagoa de polimento (tipicamente na faixa de DBO5 =
30 a 60mg/L) é maior do que no efluente da LA sedimentado (DBO5 = 15 a 30 mg/L). Todavia, no
primeiro, grande parte do material biodegradável pode ser atribuída às algas e não ao material
orgânico de origem fecal;
9 o efluente da lagoa de polimento não terá ovos de helmintos poderá ter uma concentração de CF
de menos que 103UFC/100ml, de modo que pode ser usado diretamente para irrigação sem
restrições. No efluente da LA foram encontrados, ocasionalmente, ovos de helminto, mas a sua
concentração era menor que 1/L. As se aplicar 3ppmCl2 equivalente como cloreto de sódio a alta
concentração de CG no efluente da LA foi reduzido rapidamente para valores abaixo do padrão da
OMS.
9 a concentração dos sólidos em suspensão no efluente de lagoas de polimento é relativamente
elevada (30 a 80 mg/L), devido principalmente à presença de algas. Dependendo do sistema de
irrigação a ser aplicado, estes sólidos podem causar grandes problemas na distribuição da água.
No efluente da LA a concentração de SST á muito baixa de modo que a probabilidade de
entupimentos do sistema de irrigação será menor.
4 CONCLUSÕES
Uma investigação experimental mostrou que lagoas aeradas (LA´s) são uma opção tecnicamente
viável para o pós-tratamento do efluente de reatores UASB, quando o objetivo é a redução da
concentração residual de DBO5 e dos sólidos em suspensão do esgoto digerido.
É importante que se dêem descargas de lodo do reator UASB para evitar a entrada de sólidos
sedimentáveis na LA, que leva ao aumento do consumo de oxigênio e da produção de lodo.
O comportamento de uma lagoa aerada tratando esgoto previamente digerido é descrito
adequadamente com a teoria básica de lodo ativado.
Tanto os dados experimentais como a teoria de lodo ativado mostram que é perfeitamente factível
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obter valores da DBO5 e dos sólidos em suspensão na faixa de 20 a 30 mg/L, em sistemas compactos
com um tempo de permanência curto e consumo de oxigênio baixo, desde que se inclua na LA um
dispositivo de retenção de lodo.
É possível prever quais os valores do tempo de permanência do líquido e da idade de lodo
necessários para se obter valores desejados da DBO5.
Tendo-se os parâmetros dos fatores de custo no sistema de tratamento (volumes de UASB e da LA;
consumo de energia para aeração), pode-se otimizar o sistema UASB + LA para produzir uma
determinada qualidade do efluente desejada para um custo total mínimo.
AGRADECIMENTOS
A investigação experimental teve apoio do Governo Brasileiro através de suas agencies FINEP
(PROSAB e PRONEX) e CNPq, e foi realizado no local da Companhia de Águas e Esgoto da Paraíba-
CAGEPA.
REFERÊNCIAS
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