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Coisas
NOSSGSPintores e Escultores IT
As escolas de
Mariano de Lima e
Alfredo Andersen:
Ponto de partida,
O desbravador.
Em 1884, um jovem pintor portugues (23
lanos), de nome Antonio Mariano de Lima,
Imorando no Rio de Janeiro, foi contratado pelo
Governo do Parana para decorar o Teatro Sao
|Teodoro, a primeira casa piblica de espetéculos
oo Cuririha
fo ano segumnte, quando ele ja-estava
terminando o seu trabalho, o Visconde de
Tatinay, entGo presidente da Provincia,
incencivou-o a permanecer na cidade e a fundar
Foi o que Mariano de Lima fez. Desa forma,
no dia 22 de julho de 1886, surgia a “Escola de
Artes ¢ Indiistrias”, oferecendo cursos de pintura,
desenho ¢ escultura, Era o primeiro
estabelecimento de ensino do género no Parana.
Assim, finalmente, a Provincia passava a contat
com apoio especializado para o desenvolvimento
das artes plasticas.
Tratou-se, é claro, de uma estréia modesta.
‘final, Curitiba era ainda uma pequena e
acanhada cidade, com menos de 20 mil
habirantes, e a populagio provincial nfo somava
200 mil pessoas. Mais do que isso: além da alta
taxa de analfabetismo entre os adultos, cerca de
82 por cento das criangas paranaenses em idade
escolar nfo freqiientavam as aulas.
‘A realidade do ensino secundério, por outro
lado, ndo era diferente, Nesse mesmo 1886, os
dois tinicos estabelecimentos da espécie na
capital receberam estas macriculas: Escola
Normal, trés alunas; Instituto Paranaense, 9
alunos. E mesmo que os chamados
“preparatérios” ao ensino superior registrassem
tum niimero maior de interessados, 0 toral de
escudantes desse grau niio chegava a crés dezenas.
‘Nessas circunstancias, uma “escola de artes”
fepresentava, como se comentou na Provincia,
ima “absoluta novidade”. Seja como for, aos
poucos a iniciativa de Mariano de Lima ganha
consiscéncia e comega a atrair uma boa
quantidade de alunos.
Eo progressive aumento do interesse faz
com que, trés anos depois, em novembro de
1889, logo em seguida A proclamagao da
Repiblica, o Governo Provisério do Parana a
transforme na “Escola de Belas Artes €
Indéserias”, ampliando o alcance de seu curriculo
¢ prometendo-lhe subvengoes anuais.
Com essa nova denominagio, a escola vai ser
solenemente instalada em janeiro de 1890, com
99 alunos matriculados (61 do sexo masculino €
38 do feminino), um ntimero superior & soma
dos estudantes inscritos na Escola Normal, no
Instituto de Educacao e nos “preparat6rios”.
‘Ainda: além de Curitiba, apenas Salvador e Rio
de Janeiro contavam com estabelecimento de
ensino semelhante.
No campo das ditas “belas artes”, ofereciam-
se cursos de desenho artistico, pincura, esculcura,
gravura e arquitetura; no setor das “artes
industriais”, desenho aplicado, mec&nica,
tipografia, litografia, fotografia, marcenatia,
funilacia, encardenagao e prendas domésticas.
‘Abria-se ainda a possibilidade de serem
mantidos cursos de lingua e de ciéncias
Contudo, se a procura era grande, desde cedo a
escola passou a lutar contra dificuldades
financeiras. A subvengao prometida pelo
Governo do Estado nao veio tio logo. E para quea
Escola Carvalho, onde funcionou a ‘‘Escola de Belas Artes
e Indistrias"", de Mariano de Lima.
ela fosse inaugurada e comegasse a fancionar,
Mariano de Lima organizou um espetaculo
piiblico, arrecadando ai a quantia necesséria &
instalag
Dissabores,
Além de “ponto de partida para acordar no
meio provinciano o gosto pelas artes plastic
como avaliou Silveira Netto, a escola de Mariano
de Lima distinguiu-se também (ou sobretudo)
como “escola de oficios”
A sua atuagio nesse campo é tio grande que
em 1894, por exemplo, Mariano de Lima decide
transferir as aulas de “artes industriais” para 0
periodo noturno, a fim de “melhor servir & classe
operaria”. E entre os professores dos cursos
noturnos € possivel encontrar nomes como os de
Vitor Ferreira do Amaral (um dos fundadores €
primeiro reitor da Universidade do Parana) ¢
Alfredo Andersen (jé mais tarde, em 1903),
todos eles, quase sempre, trabalhando
gratuitamente,
Essa preocupagdo com o ensino profissional,
na verdade, tinha razao de ser. Nos anos finais do
século passado, Curitiba comegava a deixar de
ser, agora sim, a “velha vila enfezada” para ir
ganhando, aos poucos, ares de metrdpole. Com
menos de 20 mil habitantes, no ano em que
Mariano de Lima montou sua escola, ela chega a
1900 com uma populagao quase trés vezes
maior.
Mas, a par das invenciveis dificuldades
financeiras para manter a escola, Mariano de
Lima enfrentou ainda nao poucos dissabores
ppessoais. Campanhas de difamacao através da
imprensa, criticas aos seus métodos, reparos 3s
suas qualidades como pintor ou a sua capacidade
como professor, corte de subvengdes, ataques
sua pretensao de construir um prédio proprio
para a escola (cujo projeto valeu a ele uma
medalha de ouro, numa exposicao de
arquitecura, em Chicago), quando nio a acusacio
de sua escola ser “misturada, porque nao faz
distingao de cor, nem de categoria” (como ele se
queixou em oficio ao Governo do Estado),
O actimulo desses contratempos leva
Mariano de Lima a deixar Curitiba, em 1901
Por 17 anos permanecera aqui, “tendo dado o
melhor de sua juventude ao Parana”, como
observa Adalice Araijo
A escola, ainda assim, sobrevive. Assume a
diego sua mulher, e ex-aluna, Maria Aguiar de
Lima, que vai, € claro, manter a luta de sempre
contra a falta de recursos.
E, pelo que € possivel concluir, depois da
partida do fundador, o estabelecimento tende a
se voltar mais as “artes industriais” que as “belas
artes". Registre-se, por exemplo, 0 que diz um
oficio de sua diretora, em 1911, pedindo mais
verbas ao governo: “Ao proletariado € que a
escola tem prestado relevantes servigos (...)
sendo maior a freqiiéncia da escola de operitios
Gy"