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TESE PARA O 57 CONUNE

POR UM PROJETO
DE EDUCAÇÃO
DOS
DOS EXPLORADOS
DOS EXPLORADOS
EXPLORADOS
E OPRIMIDOS
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
OPOSICAO
DE
DE
DE
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DEESQUERDA
ESQUERDA
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ESQUERDA
ESQUERDA
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DA
DA
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DAUNE
UNE
UNE
UNE
DAUNE
DA
DA UNE
UNE
UNE
FOTOGRAFIA: MÍDIA NINJA

EM DEFESA DA
EDUCACAO
EDUCACAO
EDUCACAO

comuna
iv internacional
SUMaRIO
SUMaRIO
SUMaRIO
_ JOVENS DA COMUNA: QUEM SOMOS? 04
_ A OFENSIVA INTERNACIONAL DO CAPITAL
E O GOVERNO BOLSONARO 06
_ A RESISTÊNCIA E A LUTA DOS EXPLORADOS
E OPRIMIDOS 09
_ A ELEIÇÃO DE BOLSONARO E NOSSAS TAREFAS 10
_ EDUCAÇÃO PÚBLICA: INIMIGO PÚBLICO? 12
_ O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 14
_ PROUNI E FIES: "DEMOCRATIZARAM" O
ENSINO SUPERIOR? 16
_ A UNE E SEU HISTÓRICO DE LUTAS 19
_ A UNE E OS G0VERNOS PETISTAS 21
_ PROJETO DE EDUCAÇÃO DOS EXPLORADOS
E OPRIMIDOS
L 24
JOVENS DA COMUNA
QUEM
QUEM SOMOS?
QUEM SOMOS?
SOMOS?
A Comuna - IV Internacional é uma tendência interna do Partido So-
cialismo e Liberdade - PSOL. Enquanto jovens, fazemos parte dessa or-
ganização, que reivindica a tradição do marxismo revolucionário. Em
nossa visão, um partido socialista deve ter sempre como sua preocu-
pação a preservação da democracia interna e a efetivação de uma po-
lítica radical. Além disso, buscamos carregar conosco as bandeiras das
lutas ecossocialista, feminista e antirracista e anti-LGBTfóbica. Para a
transformação radical da sociedade em que vivemos, nossa estraté-
gia é a revolução
. social, que será feita pelas (os) trabalhadores, mulhe-
res, LGBTs, negros e indígenas. Nossos objetivos são a libertação dos
explorados e oprimidos de todo o mundo, A construção de uma demo-
cracia ecossocialista e a emancipação humana. Diante de um presente
desigual somos jovens que ousam sonhar um futuro em comum, onde
sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes
e totalmente livres. No Brasil, estamos ao lado de
outras organizações na luta pela revolução brasileira,
tendo como horizonte a revolução mundial e a transi-
ção da sociedade de classes para uma sociedade sem
classes: o comunismo.

comuna
iv internacional
Diante de um presente desi-
gual somos jovens que ousam
sonhar um futuro em comum,
onde sejamos socialmente
iguais, humanamente diferen-
tes e totalmente livres.

comuna
iv internacional
A OFENSIVA INTERNACIONAL
DO CAPITAl e o
GOVERNO
GOVERNO
GOVERNO BOLSONARO
BOLSONARO
GOVERNOBOLSONARO
GOVERNO BOLSONARO
BOLSONARO
Estamos vivendo um governo de extrema-direita no nosso país. Após
a crise mundial do capitalismo de 2008, a luta de classes se acirrou. A
resposta das classes dominantes tem sido um brutal e sistemático
ataque contra os explorados e oprimidos pelo mundo. Nesse contexto,
há cada vez menos espaço para governos moderados ou que tentem
conciliar os interesses em conflito.
No Brasil, essa ofensiva do capital se expressa atualmente pelo go-
verno de Jair Bolsonaro: ultraliberal na economia, autoritário na política
e conservador nos costumes. Seu objetivo histórico é radicalizar os
ataques que tiveram início já em 2015 com o “ajuste fiscal” do governo
Dilma, Sendo depois aprofundados por Michel Temer. Os direitos sociais
do povo brasileiro - como educação, saúde, cultura, moradia, trabalho e
previdência - estão sendo destruídos. Mesmo após a “reforma” traba-
lhista e o congelamento dos investimentos sociais promovido pela “PEC
do Teto”, A agenda de cortes e privatizações segue a pleno vapor.
Por isso, podemos dizer que o ano de 2019 tem soado como uma
canção perversa para a classe trabalhadora, cuja letra da música já co-
nhecemos: reforma da previdência, desvinculação das receitas da
União para as mãos do mercado financeiro e cortes sistemáticos dos
investimentos públicos. Considerando o nível de renda, o percentual de
pessoas que avalia positivamente o governo federal é de 27% entre
aqueles que recebem até um salário mínimo na família por mês. As
taxas oficiais de desemprego chegam a quase 13 milhões de brasilei-
ros; a maior parte dos jovens empregados não têm carteira assinada,
dependendo mais da informalidade e do trabalho precário. A juventude
brasileira enfrenta a maior dificuldade dos últimos 16 anos para se inse-
rir no mundo do trabalho, com uma taxa de desemprego que chega a
28,8% entre a faixa etária de 18 a 24 anos (IBGE, 2017). Em suma, o que
está sendo preservado são os interesses das classes dominantes: dos
bancos, do agronegócio e do setor financeiro.
Mas essa agenda não consegue ser imposta facilmente. Ela enfrenta
a resistência, a organização e a luta dos explorados e oprimidos brasi-
leiros em defesa de seus interesses. Como o governo não tem adesão
popular em sua agenda de ataques, a sua opção passa a ser tentar
quebrar pela força a resistência popular e, para atingir esse fim, ele
precisa restringir ainda mais a democracia brasileira. Se esta já era his-
toricamente limitada, no atual cenário esses limites se aprofundam de
maneira explícita através de uma contínua investida sobre as liberda-
des democráticas. Isso é expresso pela intensificação da perseguição
e da violência contra a luta dos trabalhadores e militantes de diversos
movimentos populares. Em março de 2018, tiraram Marielle Franco de
nós. Não esqueceremos!
No plano ideológico e cultural, há ainda uma forte ofensiva conserva-
dora. A disseminação do ódio e da violência contra as mulheres, os
negros e a comunidade LGBT tem sido uma marca do governo Bolsonaro
E isso tudo se agrava quando levamos em consideração que os ata-
ques gerais à classe trabalhadora afetam de maneira ainda mais brutal
os seus setores oprimidos. Esse conservadorismo é acompanhado por
uma lógica militarista que reforça em todos os níveis, mas especial-
mente no interior das famílias, a violência sistemática contra as mulhe-
res e LGBTs; e reforça também a legitimidade da “fracassada” política
de “guerra às drogas” - que na verdade é bem-sucedida, com relação
à sua função essencial de controle social -, o extermínio e encarcera-
mento em massa do povo pobre e negro.

RETROCESSO RETROCESSO



BOLSONARO BOLSONARO
A RESISTÊNCIA E A LUTA
DOS EXPLORADOS
E
E OPRIMIDOS
E OPRIMIDOS
OPRIMIDOS
Mas essa gigantesca ofensiva do capital a nível internacional não é
o único elemento da conjuntura. No mundo inteiro, os setores populares
foram às ruas em mobilizações que, apesar de por vezes contraditó-
rias, tinham em sua raiz um questionamento tenaz da precarização da
vida e do sistema político tradicional. No Brasil, isso se expressou espe-
cialmente em junho de 2013, com a explosão de milhões de pessoas
protestando contra o aumento das passagens e a lógica mercantil que
governa as cidades, o sucateamento dos serviços públicos, a corrup-
ção e a falta de legitimidade da política tradicional brasileira.
Nesse mesmo sentido, desde a crise mundial de 2008, por todo o pla-
neta vimos a emergência de alternativas radicais, que buscaram ex-
pressar politicamente os interesses do conjunto dos explorados e opri-
midos pelo mundo. Alternativas que eram intransigentes na defesa
desses interesses; e que expressavam portanto a necessidade da ra-
dicalidade e do enfrentamento aos interesses das classes dominantes.
Essas alternativas também acompanharam fortes mobilizações dos
setores “subalternos”: o movimento feminista internacional e a luta
dos estudantes e professores em vários países foram exemplos disso.
A ELEIÇÃO DE
BOLSONARO
BOLSONARO
BOLSONARO
BOLSONARO
E NOSSAS TAREFAS
Mas então o que explica a ascensão do governo Bolsonaro? É preciso
ter clareza de que ele não se elegeu apresentando sua agenda anti-so-
cial e anti-popular para o povo brasileiro. Na verdade, Bolsonaro se pro-
jetou através de uma aparência “anti-sistema”, em cima de uma forte
rejeição ao PT e explorando o conservadorismo, ambos presentes em
parcela expressiva dos setores populares. Foi central em sua política
eleitoral esse discurso aparentemente “radical”, de ruptura - contra a
política tradicional e institucional -, que exprimiu o anseio por mudança
de amplas camadas da sociedade brasileira (“do jeito que está não
dá”). Ele vinha acompanhado de uma política conservadora e regressi-
va: militarismo como resposta para o problema da segurança pública e
capitalização do ódio contra as mulheres, negros e LGBTs e o avanço de
seus direitos. O antipetismo reacionário, vinculado à luta contra a cor-
rupção (como se ela fosse marca exclusiva dos governos petistas),
também foi um elemento fundamental a garantir o apoio de parcela dos
setores populares a Bolsonaro, ainda mais em um contexto em que a
esquerda radical se manteve acuada e hesitou se diferenciar e fazer a
crítica pela esquerda da experiência dos governos petistas e de sua
estratégia de conciliação de classes (não fosse o contexto econômico
internacional favorável, sequer as limitadas políticas sociais teriam
sido possíveis).
Diante desse cenário, temos duas grandes tarefas. Primeiro,
construir a mais ampla unidade dos explorados e oprimidos para lutar
contra a retirada de direitos sociais e os ataques às liberdades demo-
cráticas. Tal como fizemos nos dias 15 e 30 de maio, e também na
greve geral de 14 de junho, essa unidade deve se dar fundamentalmen-
te na ação: na luta e na mobilização contra as medidas desse governo.
A segunda tarefa é, ao mesmo tempo, manter viva nossa memória
sobre o passado e não abandonar as lições históricas da nossa experi-
ência recente: a estratégia de conciliação de classes levada a cabo nos
governos petistas não foi, não é e não pode ser uma alternativa para
nós. Precisamos de uma esquerda contra a ordem, com um projeto de
transformação radical da nossa sociedade. Uma esquerda que lute pela
revolução brasileira como caminho necessário para superar os proble-
mas históricos do Brasil. Nós temos a convicção de que esse lugar só
pode ser ocupado pela esquerda socialista.
EDUCAÇÃO PÚBLICA:
INIMIGO
INIMIGO
INIMIGO PUBLICO?
PUBLICO?
INIMIGOPUBLICO?
INIMIGO PUBLICO?
PUBLICO?
A crise da Nova República brasileira se refletiu em um enorme abalo
aos partidos tradicionais de direita e de “esquerda”. Esse desgaste
abriu espaço para o crescimento de uma nova direita. Assim, ideias que
eram antes ridicularizadas, passaram a ganhar cada vez mais adesão
social e, por fim, com a eleição de Bolsonaro, foram institucionalizadas.
O ideólogo Olavo de Carvalho tornou-se um guru do infame capitão. Sus-
tentado em uma teoria com fortes graus de conspiracionismo, Olavo
prega haver um “espírito do tempo” de fundo marxista dominando
todas as instituições brasileiras. Essa tese, que não se sustenta no
mundo real, é perfeita para unir o ódio (legítimo) da população à impren-
sa e às grandes corporações com o ódio conservador a negros, mulhe-
res, indígenas, LGBTs, pobres e etc. E, tal qual nos Estados Unidos e na
Europa, elege um inimigo pra chamar de seu: a educação. O governo Bol-
sonaro chega com a tese pronta: em termos de educação, o que impor-
ta é mudar o seu caráter “doutrinador” e acabar com a “balbúrdia”.
A estratégia dessa nova direita continua a ser a precarização dos
serviços públicos até não restar mais motivos para não privatizá-los. E
desde já cabe a lembrar que a irmã de Paulo Guedes - o ultraliberal Mi-
nistro da Economia de Bolsonaro, responsável pela “reforma” da previ-
dência -, Elizabeth Guedes, deixou em abril de 2019 a vice-presidência da
Associação Nacional das Universidades Privadas (ANUP). Se tornou
desde então a mais nova presidenta dessa entidade que representa os
interesses dos grandes monopólios da educação. Não por acaso, ela é
uma forte defensora da expansão do Ensino à Distância (EAD).
Mas os ataques de Olavo de Carvalho (que governa a educação atra-
vés de seus fantoches, antes Vélez Rodriguez e agora Abraham Wein-
traub) têm uma natureza ainda mais perversa: reconfigurar o espaço
da educação brasileira. Isso se dá não só por medidas de restrição or-
çamentária, mas pelo fomento da perseguição ideológica e do medo em
estudantes e educadores; medo de serem rotulados de (e, como pre-
tendem, criminalizados como) “doutrinadores”. Assim, a universidade
pública brasileira, ainda elitizada e com poucos espaços de debate efe-
tivamente críticos, torna-se a principal inimiga da "família" tradicional. O
movimento é claro no sentido de buscar colocar o povo contra a educa-
ção pública. Como mostraram as mobilizações dos dias 15 e 30 de maio,
isso não está sendo tão fácil...
Alguns projetos chegam mesmo a anteceder a ascensão do governo
Bolsonaro. É o caso do “Escola Sem Partido”, projeto que visa impedir as
discussões e a reflexão crítica nas salas de aula; um projeto que quer
a escola do pensamento único e uma formação tecnicista voltada ex-
clusivamente para atender os interesses do mercado de trabalho. Ele
segue como uma forte bandeira do atual governo, sob justificativas
como a luta contra o “Kit Gay” ou o “marxismo cultural” nas escolas.
O ENSINO SUPERIOR
BRASILEIRO
BRASILEIRO
BRASILEIRO
Para entender os ataques do governo Bolsonaro à educação, é fun-
damental reconstituir o quadro do ensino superior brasileiro, que conta
com 8,2 milhões de estudantes. Destes, a esmagadora maioria está
matriculada no setor privado (cerca de 75%). Esta hegemonia das Insti-
tuições de Ensino Superior (IES) privadas foi, infelizmente, o principal
“legado” dos governos petistas para a educação. Por meio de políticas
como o Prouni e o FIES, promoveram uma enorme expansão mercantili-
zada do ensino superior. Isto é, mais pessoas estudando, porém tendo
acesso a uma educação profundamente atravessada pela lógica da
mercantilização.
Para alguns, isso poderia parecer algo menor. Mas significou na práti-
ca a venda de uma ilusão para uma quantidade gigantesca de jovens
brasileiros. No ensino privado, a educação é uma mercadoria. Em si, isso
já é uma barreira econômica. Mas também implica um comprometi-
mento da qualidade da educação. O ensino passa a ser algo essencial-
mente voltado para o lucro dos empresários, cuja única finalidade
social é atender aos interesses do mercado de trabalho. Não há espaço
para uma educação crítica.
Além disso, o impacto do acesso a esse tipo de ensino superior nas
condições materiais de vida foi muito frágil. Muitos dos jovens forma-
dos nessas universidades precarizadas descobriram que seus diplo-
mas eram pouquíssimo valorizados, o que não lhes assegurava uma
melhoria significativa nas condições de alocação no mercado de traba-
lho. Vários desses jovens, inclusive, sequer foram trabalhar em suas
áreas de formação. Hoje, sabemos que temos uma enorme quantidade
de graduados estão trabalhando com aplicativos como o “Uber”,
“Cabify”, “99 Táxi”, “Rappi”, etc., onde as condições são sabidamente
terríveis para os trabalhadores. Ou pior, estão desempregados. Em
tempos de aprofundamento da crise econômica e social, essa situação
se torna ainda mais dramática.
É fundamental lembrar ainda que no setor privado o controle social
basicamente não existe. Assim, essas grandes empresas da educação
se sentem livres para aumentar abusivamente suas mensalidades,
cobrar indevidamente taxas dos estudantes, avançar com a lógica pre-
carizante do EAD e tudo isso sem fornecer qualquer tipo de política de
assistência e permanência estudantil (como auxílio-moradia, transpor-
te, alimentação, etc).
Os jovens dessas universidades, além de estarem submetidos a lógi-
ca mercantilizada em seu acesso à educação,
em sua maioria têm de trabalhar para se sus-
tentar ou ajudar a família. E fazem isso em
trabalhos precários, informais ou estágios de
remuneração extremamente baixa e com
péssimas condições de trabalho.
PROUNI E FIES:
‘‘democratizaram’’ o
ENSINO
ENSINO
ENSINO SUPERIOR?
SUPERIOR?
ENSINOSUPERIOR?
ENSINO SUPERIOR?
SUPERIOR?
De que forma as políticas educacionais dos governos petistas con-
tribuíram para a configuração desse quadro de enorme expansão do
ensino privado? Primeiro, é preciso deixar estabelecida a necessidade
de uma perspectiva de totalidade em nossa análise. É fato que durante
esses mesmo governos, houve expansão das universidades públicas
(muitas vezes, sem o necessário investimento correspondente). Mas, o
fundamental é compreender que isso se deu diante de um contexto
econômico internacional favorável que permitiu o crescimento da eco-
nomia brasileira e, especialmente, que essa expansão das universida-
des públicas foi mínima se comparada ao enorme crescimento dos
grandes monopólios da educação (Kroton, Estácio, etc.) - o que se deu
justamente através do Prouni e do FIES. No geral, a essência esteve na
política orientada para o fortalecimento do setor privado.
O papel histórico cumprido por esses dois programas foi desviar
para o setor privado o dinheiro público que deveria ser investido na edu-
cação pública. Foi essa injeção de dinheiro que permitiu o fortalecimen-
to desses monopólios da educação, a exemplo da Kroton Educacional,
que se tornou a maior empresa do mundo no ramo da educação; sozi-
nha, possui 2 milhões de alunos (25% dos estudantes do ensino supe-
rior). Cabe destacar ainda que, no caso do FIES, por se tratar de um fi-
nanciamento (com juros que ao final encarecem substancialmente o
valor dos cursos), e não de uma bolsa de estudos, a situação do estu-
dante é ainda mais grave. Saem endividados da sua graduação, com
uma corda no pescoço que lhes pressiona a aceitar quaisquer condi-
ções trabalho para que possam pagar suas dívidas. Na prática, inclusive
para não encontrar emprego, uma parcela expressiva fica simples-
mente inadimplente.
E a problemática que se esconde por detrás desses programas apa-
rentemente “democratizantes” é que eles operam na lógica da conci-
liação de classes. Buscam conciliar interesses contraditórios: o dos es-
tudantes de ter acesso a uma boa educação e o das empresas que
usam a educação como mercadoria para auferir seus lucros exorbitan-
tes. Tratou-se de um reflexo da estratégia geral de colaboração de
classes levada a cabo pelos governos petistas.
No momento atual, a situação é ainda mais grave. Com os cortes or-
çamentários, não só as universidades públicas estão na iminência de
não conseguirem se manter abertas como as diversos estudantes de
instituições privadas estão correndo risco de perder suas vagas e
bolsas. Seja pelo impacto direto da crise econômica e do desemprego,
seja pelos cortes de investimento afetando diretamente os mecanis-
mos de financiamento do Prouni e FIES. Se por um lado somos bastante
críticos ao legado desses programas para a totalidade do ensino supe-
rior brasileiro e não somos defensores do projeto que eles represen-
tam, por outro lado não podemos aceitar que nenhum estudante perca
sua vaga. Estaremos juntos nas lutas contra os cortes do governo Bol-
sonaro e em defesa das vagas de todos os estudantes do ensino supe-
rior brasileiro. Só a mobilização popular é capaz de barrar os ataques do
governo e, ao mesmo tempo, lutar por um projeto alternativo de educa-
ção, que sirva à emancipação dos explorados e oprimidos.
Mesmo diante desse cenário sombrio, não podemos ser derrotistas.
É hora de trabalhar para conquistar corações e mentes em defesa do
potencial transformador da educação. É hora de voltar a dialogar com
aqueles que, há muito e com boas razões, leem o movimento estudantil
como um teatro militante para cabides de cargos burocráticos. Para
isso, precisamos de um novo movimento estudantil, de novas perspec-
tivas.

PRECISA M O S D E U M
O A LT E R N ATIVO
PROJET O
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E ED
A UNE E SEU
HISTORICO
HISTORICO
HISTORICO
HISTORICO
DE LUTAS
O movimento estudantil cumpre um papel fundamental nas lutas so-
ciais e políticas. Em 1937, a partir de um acúmulo político viabilizado pelo
até então Conselho Nacional de Estudantes, surge a UNE, entidade
máxima de representação de estudantes, possibilitando uma organiza-
ção de âmbito nacional e uma atuação mais efetiva do movimento. A
UNE travou importantes embates desde o regime varguista, cobrando
do governo federal de Getúlio Vargas uma oposição ao nazi-fascismo
na Alemanha. Em 1942 a UNE ocupa a sede do Clube Germânia, na Praia
do Flamengo, no Rio de Janeiro, o que resultou na concessão pelo go-
verno do prédio ocupado para ser a sede UNE; além disso, pelo decreto-
-lei n. 4080, a UNE foi oficializada como entidade representativa de
todos os universitários brasileiros.
Como destaque na trajetória de lutas da UNE, é impossível não resga-
tarmos a atuação do movimento estudantil no período da ditadura civil-
-militar que, na madrugada do dia de instauração do regime, metralhou
e incendiou a sede da UNE na praia do Flamengo. A conjuntura se confi-
gurava como uma ostensiva perseguição à entidade, que foi colocada
na ilegalidade pela Lei Suplicy de Lacerda. As universidades estavam
sendo vigiadas a fim de identificar qualquer movimentação política, es-
tudantes foram torturados e mortos, como o caso de execução de
Edson Luís (secundarista), da militante Helenira Rezende e do presiden-
te da UNE Honestino Guimarães. No Congresso da UNE em Ibiúna (SP), es-
tima-se que pelo menos mil estudantes foram presos.
Esse histórico de lutas travadas e a repressão como resposta reve-
lam para nós como o movimento estudantil incomoda e, dentro das
suas limitações, cumpre tarefas na transformação das relações so-
ciais. Como já dizia Paulo Freire, a educação pode não transformar o
mundo, mas ela muda pessoas e as pessoas transformam o mundo.
A conjuntura política atual, de ofensiva da extrema-direita do gover-
no Bolsonaro, coloca em xeque direitos conquistados pelas mobiliza-
ções sociais, fazendo-se necessário que o movimento estudantil se or-
ganize ainda mais. A UNE que reivindicamos deve ser combativa, defen-
der de forma intransigente os direitos sociais e as liberdades democrá-
ticas e ter clareza dos limites dessas pautas por direitos no modo de
produção capitalista. Cabe a nós transpor essas limitações, negando
uma visão etapista e vinculando sempre nossas lutas ao horizonte de
uma sociedade que não opere a partir das desigualdades sociais, e sim
a partir das necessidades humanas.

A UNE DEVE SER


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A UNE E OS
governos
PETISTAS
PETISTAS
PETISTAS
PETISTAS
PETISTAS
A direção da UNE nos treze anos de governos petistas basicamente
abandonou seu papel de organizadora das lutas sociais para se tornar
um braço do governo federal. Como sua direção foi majoritariamente
composta pela União da Juventude Socialista (UJS) e outras organiza-
ções aliadas do governo federal (diversos setores do PT, e também o
Levante Popular da Juventude - LPJ), basicamente sua independência
política foi comprometida. Com essa perda de autonomia, o apoio ao go-
verno e seu funcionamento como correia de transmissão de suas polí-
ticas se sobrepuseram à defesa dos interesses gerais dos estudantes.
Como exemplos sintomáticos disso, temos o apoio desses setores às
políticas que aprofundaram a privatização e mercantilização do ensino
superior brasileiro; e também o seu silêncio quando dos cortes na edu-
cação realizados pelo então governo Dilma, em 2015, com Joaquim Levy
(o “mãos de tesoura”) à frente do Ministério da Fazenda.
Assim, a principal e histórica ferramenta de luta dos estudantes se
perdeu em meio à burocracia e basicamente se resumiu à disputa
entre as organizações pelo aparelhamento de entidades e pela hege-
monia na direção da UNE. Infelizmente, a disputa hegemonista e buro-
crática por cargos chegou até mesmo a se expressar em práticas no
interior do campo da Oposição de Esquerda, ainda que de modo bastan-
te diferente ao existente no campo majoritário e no chamado “campo
popular”.
Mas nesse período, à revelia da direção da UNE, a mobilização se ex-
pressou, principalmente, nas diversas greves contra os cortes na edu-
cação, contra o enorme investimento no setor privado e a insustentá-
vel falta de investimento nas universidades públicas.
Agora, nunca é demais questionar: como essas mesmas organiza-
ções se mantém há tanto tempo na direção da UNE? É um fruto natural
de seu “excelente” trabalho de base? Que tipo de trabalho de base é
esse? E em termos eleitorais, “vale tudo” para eleger delegados?
A degeneração acaba se manifestando em métodos e formas bur-
guesas de se fazer política. Deixa-se de disputar a consciência, mentes
e corações. Perde-se em uma disputa a qualquer custo de números e
crachás. A “grande política” é a atropelada pela pequena.
Desta forma, apesar da conjuntura que coloca na oposição os parti-
dos (PT, PCdoB) ao quais se alinham as organizações majoritárias da di-
reção da UNE, é preciso que haja nitidez em relação às nossas diferen-
ças. Nós temos projetos radicalmente distintos para a educação brasi-
leira. O que não nos impedirá de travar em unidade as mais diversas
lutas comuns na defesa dos interesses imediatos dos estudantes, da
juventude e do conjunto da classe trabalhadora - inclusive na defesa da
entidade contra as perseguições do atual governo. Mas para sermos
bem sucedidos em nossas lutas, será necessário romper com a ten-
dência ao imobilismo e também com as ilusões nas disputas institucio-
nais e parlamentares.
Cabe observar, ainda, que a participação de estudantes independen-
tes em todos esses espaços da UNE é uma raridade. A dinâmica exis-
tente dificulta muito que estudantes não vinculados ou próximos às or-
ganizações consigam se manifestar e se sintam estimulados a partici-
par mais ativamente - o que enfraquece a entidade enquanto um em-
brião do processo de auto-organização dos explorados e oprimidos.
Em nossa visão, é a auto-organização estudantil que precisa ser for-
talecida - e a esquerda radical em seu interior. Para isso, precisamos
de um campo político com um projeto de educação radical e que se ar-
ticule de maneira orgânica, democrática e pelas bases. Não se constrói
nada de cima para baixo e nem de 2 em 2 anos, em períodos congres-
suais.
Para os nossos grandes objetivos - a transformação radical da
nossa sociedade - nenhuma organização é auto-suficiente. Nós, do
campo da Oposição de Esquerda, que estamos convictos da necessida-
de de uma alternativa à direção majoritária da UNE, precisamos traba-
lhar para superar entre nós a fragmentação política e as disputas he-
gemonistas, internistas e fratricidas. Nos unificar em torno de marcos
programáticos que nos permitam nos constituir como a real alternati-
va que nos propomos a ser. Nesse sentido, a autoconstrução de cada
organização não deve ser colocada como prioridade acima de tudo;
deve ser consequência da intervenção das diversas organizações, em
uma construção coletiva, democrática e plural, porém unificada no que
é essencial: uma política educacional voltada para os interesses dos
explorados e oprimidos. Isso é parte da nova forma de fazer política
que defendemos para o movimento estudantil!
O PROJETO DE EDUCAÇAO
DOS
DOS EXPLORADOS
DOSEXPLORADOS
DOS EXPLORADOS
EXPLORADOS
E OPRIMIDOS
Diante desse cenário de massiva privatização e mercantilização do
ensino superior, o que nós propomos? Em primeiro lugar, defendemos a
formulação de uma política de transição do ensino privado para o públi-
co. É necessário combater os “tubarões do ensino” e inverter a lógica
existente no ensino superior, de forte predominância do setor privado.
Essa política de transição deve ter como objetivo a massificação do
ensino público no país: educação para nós é um direito social, e não uma
mercadoria! E também deve incluir uma rígida regulamentação do
ensino privado, já que não se pode suprimi-lo de imediato: se os empre-
sários querem lucrar com a educação, serão obrigados a garantir con-
dições mínimas de ensino.
Chega de aumento abusivo das mensalidades, cobrança indevida de
taxas, perseguição aos estudantes que se organizam politicamente
nos CAs e DCEs e basta de precarização do ensino via EAD! Nós quere-
mos mais direitos, não menos. Por políticas acesso e permanência es-
tudantil nas universidades, tais como cotas, auxílios moradia, transpor-
te, material e também por restaurantes universitários de qualidade e
de baixo preço!
Mas para nós não basta defender essa transição. Por melhores que
sejam as universidades públicas brasileiras, ainda há muito para ser
transformado nelas. Precisamos de um outro modelo de educação su-
perior. Uma educação que seja pública, mas também democrática, críti-
ca e popular.
Ela tem de criar as condições para que os estudantes, professores
e funcionários possam desenvolver e formar uma visão de mundo críti-
ca, reconhecendo seu lugar no interior de uma sociedade cindida em
classes antagônicas. Isso implica respeitar a autonomia universitária, a
liberdade de pensamento e a pluralidade ideológica. Implica também de-
mocratizar as estruturas de gestão das universidades: que elas
deixem de ser administradas por uma burocracia profissional e
passem a ser geridas coletivamente por toda a comunidade acadêmi-
ca!
E por educação popular defendemos que a universidade deve ser do
povo e para o povo. Para isso, é preciso que ele esteja dentro dela - o
que só será realidade quando ampliarmos massivamente o ensino su-
perior público no país. Se as instituições de ensino são espaços em que,
através do processo de mediação do aprendizado, se dá a transmissão
e socialização do conhecimento historicamente acumulado pela huma-
nidade, permitindo assim um amplo desenvolvimento das potencialida-
des dos sujeitos, o povo brasileiro tem direito a ter acesso a elas. E
também devem ter o direito de permanecer - por isso a urgência de
políticas de assistência e permanência estudantil.
Além disso, também é preciso enfrentar o elevado grau de alienação
presente nas universidades; elas devem se abrir para os grandes pro-
blemas populares e da realidade nacional; para isso, a universidade
deve estabelecer vínculos orgânicos com a sociedade, especialmente
com os setores populares, por meio do ensino, da pesquisa e da exten-
são. E uma questão elementar, que até hoje não foi resolvida, é o alto
índice de analfabetismo do povo brasileiro: não podemos esquecer que
isso é parte do projeto das classes dominantes!
Para levar adiante este projeto de educação, precisamos de um mo-
vimento estudantil que esteja à sua altura. Um movimento estudantil
radical, combativo e conectado com as demandas do conjunto dos es-
tudantes e também de toda a classe trabalhadora. Um movimento es-
tudantil que cumpra seu papel na luta social, política e ideológica; que
seja construído pela base desde os grêmios estudantis, CAs, DCEs,
até os grupos de estudos, coletivos de curso e de combate às opres-
sões , onde as diferentes organizações possam participar porém res-
peitando sua autonomia, elemento central quando se tem no horizonte
a construção de uma democracia ecossocialista!
Na nossa concepção, o movimento estudantil brasileiro precisa fazer
parte de um projeto político que se coloque contra a ordem dominante.
Nosso objetivo não é e nem pode ser “melhorar” esse sistema de domi-
nação, mas subvertê-lo e superá-lo por uma outra forma de organiza-
ção social. Para isso, não precisamos de uma esquerda da ordem; mas
sim uma esquerda contra a ordem, que coloque os estudantes como
parte do processo de transformação radical que será a revolução bra-
sileira, na perspectiva da revolução mundial.
comuna
iv internacional

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