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VIL A CASA DOS LOUCOS No fundo da pritica cientifica existe um di que diz: * tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma a ser vista, uma verdade tah ¢ no entanto estd somente i espera de nosso olhar para aparecer, le nossa mio para ser desvelada. A nés cabe achar a boa pers- © Angulo correto, os instrumentos necessirios, pois de qui esta presente aqui e em todo li ma tao profund: ja que repugna wgares privilegiad mente se produzir. Se existe uma geogralia di espacos onde reside, e nao simplestitente a dos Tjgares 108 para melhor observé-la, Sua cronologia k € & n se produzir como in aconite no; mais tarde, a cdtedra da prédica ou do magisté- ‘eronologia) aquela que fhamos de forma de crise, e cuja nportincia se prolongou até o fim do século XVIII. A crise, tal da c exercida, é pret profuni joenga sobe a superficie ¢ se ito em que 0 proceso doentio, por sua propr is entraves, se liberta de tudo aquilo que 0 de alguma forma, se decide a ser isto e no aquilo, decide 0 ‘0 — favoravel ow desfavordvel. Movimento em certo sentido ‘do qual 0 médico pode e deve participar. Este deve dela todas as conjungdes que Ihe s rapeuta, No pensamento ¢ na pritica médica, a crise era ao mesmo tempo momento fatal, efeito de um ritual ¢ ocasido estratégica. ‘Numa ordem inteiramente diversa, a prova judiciaria tambem ‘ocasidio de se manipular a produgio da verdade. O ordilio ‘0 acusado a uma prova, 0 duelo no qual se confronta- ce acusador ou seus representantes, niio rosseira ¢ irracional de “detectar” a realmente tinha acontecido quanto a questo em Ii ram uma ira de decidir de que lado Deus colocava ‘momento 0 suplemento de sorte ou de forga que dava a vitoria a um dos adversa- se tivesse sido conquistado conforme o regulamento, indicava em proveito de quem devia ser feita a liquidagao do litigio. o do juiz nao era a de um pesquisador tentando descobrir verdade oculta e rest sua forma exata, devia sim orga- izar a sua produgio, autentificar as formas rituais na qual tinha do suscitada. A verdade era o efeito produzido pela determinagio ritual do vencedor. Podemos entdo supor na nossa civilizagdo ¢ ao longo dos séeu- los a existéncia de toda uma tecnologia da verdade que foi pouco a pouco sendo desqualificada, recoberta ¢ expulsa pela prética cientifi- cae px urso filosofico, A verdade af nao € aquilo que é mas ‘aquilo que se dé: acontecimento, Ela ndo é encontrada mas sim susci- ada: produgdo em vez de apofintica. Ela nao se dé por mediagdo de 4 yer 0 que sim provocada por rituais, atraida por meio de ar- apanhada segundo” ocasides: estratégia ¢ no método. Deste tecimento que assim se produz imprestionando aquele que o a relagio nao é do objeto ao sujeito de conhecimento. E ue luta belicosamente por contro- dominagdo ¢ vitdria: uma relagio de poder. E claro que esta tecnologia da verdade/acontecimento- ritual/prova parece ha muito ter desaparecido. Mas ela permaneceu, -0 irredutivel ao pensamento cientifico. A importancia da ala io desaparecer apesar de tantos fracassos ¢ re inio que exerceu, ~ vém sem davida do is elaboradas formas deste tipo de saber. ssada em conhecer a verdade do que produzi-la 5 ‘opicios ~ donde seu pa Tentesco com a astrologia ~ obedecendo a prescrigdes, a regras de comporiamento e a exercicios ~ donde seu parentesco com a mis ~ e se propondo mais a uma vit6ria, um controle, uma soberania um segredo, do que & descoberta de uma incdgnita. O saber al- quimico s6 é vazio ou vio se o interrogamos em termos de verdade ssentada. E pleno se 0 consideramos como um conjunto de re- ias, de procedimentos, de célculos, de articulagdes ‘tualmente a produgdo do acontecimento “ver- Dentro desta perspectiva poderiamos também fazer uma hist6- 1 confissio na ordem da peniténcia, da justiga criminal e da p Um “bom senso” que de fato repousa sobre toda uma con- verdade como objeto de conhecimento, reinterpreta ¢ jus- sca da confissio perguntando se pode haver melhor prova, indicio mais seguro do que a confissio do préprio sujeito acerca de ne, Ou Seu efro ou seu desejo louco, istoricamente, bem antes de ser considerada um teste, a era a produgio de uma verdade que se colocava no final de uma prova, e segundo formas canGnicas: confissio ritual, suplicio, jo. Nesta forma de confissio ~ tal como as praticas rel ias da Idade Média buscavam - 0 problema jo ¢ de sua integragdo como elemento suple- .ntar as outras prescrigdes; 0 problema era simplesmente que fosse a segundo as regras. A seqUiéncia interrogatorio /confissio, io importante na pratica médico-judiciaria moderna, oscila de ‘0 entre um antigo ritual da verdade/prova prescrito ao aconteci- us

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